Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/308740248 Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação Book · May 2009 CITATIONS 113 READS 7,031 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NO ATELIER DE PROJETO DE ARQUITETURA: em busca de uma metodologia de ensino fundamentada no paradigma da complexidade View project ARQUITETURA ESCOLAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: abordagem transdisciplinar para a avaliação e a concepção de creches para a Prefeitura Municipal de Pelotas e Região Sul do Rio Grande do Sul, (2) View project Paulo Rheingantz Federal University of Rio de Janeiro 80 PUBLICATIONS 229 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Paulo Rheingantz on 22 March 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/308740248_Observando_a_Qualidade_do_Lugar_procedimentos_para_a_avaliacao_pos-ocupacao?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/308740248_Observando_a_Qualidade_do_Lugar_procedimentos_para_a_avaliacao_pos-ocupacao?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/A-CONSTRUCAO-DO-CONHECIMENTO-NO-ATELIER-DE-PROJETO-DE-ARQUITETURA-em-busca-de-uma-metodologia-de-ensino-fundamentada-no-paradigma-da-complexidade?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/ARQUITETURA-ESCOLAR-PARA-A-EDUCACAO-INFANTIL-abordagem-transdisciplinar-para-a-avaliacao-e-a-concepcao-de-creches-para-a-Prefeitura-Municipal-de-Pelotas-e-Regiao-Sul-do-Rio-Grande-do-Sul-2?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Paulo-Rheingantz?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Paulo-Rheingantz?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Federal-University-of-Rio-de-Janeiro2?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Paulo-Rheingantz?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Paulo-Rheingantz?enrichId=rgreq-0b4b82d5ffe4746303a973df63c57b1c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwODc0MDI0ODtBUzo0NzQ3MDU3MzcwNjQ0NDhAMTQ5MDE5MDA3NTE5MA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Paulo Afonso Rheingantz Alice Brasileiro Denise de Alcantara Giselle Arteiro Azevedo Mônica Queiroz Observando a qualidade do lugar Procedimentos para a avaliação pós-ocupação Rio de Janeiro Proarq/FAU/UFRJ O PÓS - GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA FAU UFRJ Coleção Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação Universidade Federal do Rio de Janeiro Reitor: Prof. Dr. Aloísio Teixeira Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa Pró-reitor: Prof. Dr. Ângela Uller Decano do Centro de Letras e Artes Decano: Prof. Léo Affonso de Moraes Soares Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Diretor: Prof. Dr. Gustavo da Rocha-Peixoto Programa de Pós-graduação em Arquitetura Coordenador: Prof. Dr. Cessa Guimaraens Coleção Proarq Coordenação Editorial: Prof. Dr. Luiz Manoel Gazzaneo Títulos publicados: DEL RIO, Vicente.(Org.) Arquitetura-Pesquisa e projeto. São Paulo: ProEditores: PROARQ/FAU-UFRJ, 1998. MARTINS, Ângela; CARVALHO, Miriam de. Novas Visões: Fundamentando o Espaço Arquitetônico e Urbano. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2001. GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A Monarquia no Brasil. Vol. I - As Artes. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ , 1ª edição: 2001 e 2ª edição: 2003. GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A Monarquia no Brasil. Vols. II - As Ciências. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ , 1ª edição: 2001 e 2ª edição: 2003. DEL RIO, Vicente; DUARTE; Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso. (Org.). Projeto do Lugar . Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ , 2002. GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. I - A Arquitetura. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2003. GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. II – Urbanismo. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2003. GAZZANEO, Luiz Manoel; SARAIVA, Suzana Barros C. (Org.). A República no Brasil, Vol. III – Artes, Ciências e Tecnologias. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2003. GUIMARAENS, Ceça (Org.). Arquitetura e Movimento Moderno. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2006. GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. I – Arquitetura. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. II – Urbanismo. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). 200 Anos: da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil; da abertura dos portos às nações amigas e seus reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro. Vol. III – Espacialização, Patrimônio e Sociedade. Rio de Janeiro: Four Print e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. DUARTE, Cristiane R.; RHEINGANTZ, Paulo A.; AZEVEDO, Giselle A. N.; BRONSTEIN, Lais. (Org.). O Lugar do Projeto no ensino e na pesquisa em arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa e PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. TÂNGARI, Vera R.; SCHLEE, Mônica Bahia; ANDRADE, Rubens de; DIAS, Maria Ângela. (Org.). Águas urbanas: uma contribuição para a regeneração ambiental como campo disciplinar integrado. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2007. OLIVEIRA, Beatriz S. de O.; LASSANCE, Guilherme; ROCHA-PEIXOTO, Gustavo; BRONSTEIN, Lais (Org.) Leituras em Teoria da Arquitetura: 1 - Conceitos. Rio de Janeiro: Ed. Viana & Mosley, 2009 RHEINGANTZ, Paulo A.; AZEVEDO, Giselle; BRASILEIRO, Alice; ALCANTARA, Denise de; QUEIROZ, Mônica. Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2009 [livro eletrônico] TÂNGARI, Vera R.; SCHLEE, Mônica Bahia; ANDRADE, Rubens de (Org.). Sistemas de espaços livres: o cotidiano, apropriações e ausências. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ, 2009. GAZZANEO, Luiz Manoel. (Org.). Ordem, Desordem, Ordenamento: Arquitetura; Urbanismo; Paisagismo; Patrimônio e Cidade. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU-UFRJ,2009. Proarq Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro Av. Pedro Calmon, 550 Prédio da FAU/Reitoria - sala 433 Cidade Universitária, Ilha do Fundão CEP 21941-590 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil + 55 + 21 2598-1661/1662 - proarq@ufrj.br www.fau.ufrj.br/proarq Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação Paulo Afonso Rheingantz Giselle Arteiro Azevedo Alice Brasileiro Denise de Alcantara Mônica Queiroz Universidade Federal do Rio de Janeiro / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Coleção Rio de Janeiro/RJ 2009 Observando a Qualidade do Lugar © 2009, dos autores Revisado em novembro de 2009 Capa e projeto gráfico: Mônica Q. Araújo www.fau.ufrj.br/prolugar O14 Observando a qualidade do lugar : procedimentos para a avaliação pós-ocupação / Paulo Afonso Rheingantz ... [et al.]. -- Rio de Janeiro : Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Pós- Graduação em Arquitetura, 2009. 117 p. : il. color. ; 21 cm. – (Coleção PROARQ) Bibliografia: p. 111-117. ISBN 978-85-88341-17-3 1. Avaliação pós-ocupação. I. Rheingantz, Paulo Afonso. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-Graduação em Arquitetura. III. Série. CDD: 721 Apoio UFRJ Dados dos autores Paulo Afonso Rheingantz Arquiteto, Doutor, Professor Associado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ. Giselle Arteiro Nielsen Azevedo Arquiteto, Doutor, Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ Alice Brasileiro Arquiteto, Doutor, Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ Denise de Alcantara Arquiteto, Doutor, Pesquisador do Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ, Professor Visitante (2009-2010) Center for Iberian and Latin American Studies, University of California, San Diego Mônica Queiroz Arquiteto, Doutor, Professor da Faculdade SENAI/CETIQT do Rio de Janeiro, Pesquisador Grupo Pro-LUGAR/PROARQ/FAU/UFRJ (Página intencionalmente deixada em branco) SUMÁRIO Agradecimentos 09 Apresentação 11 Glossário 15 1. Walkthrough 23 2. Mapa Comportamental 35 3. Poema dos Desejos 43 4. Mapeamento Visual 50 5. Mapa Mental 56 6. Seleção Visual 63 7. Entrevista 71 8. Questionário 79 9. Matriz de Descobertas 91 10. Observação Incorporada 103 11. Referências 111 (Página intencionalmente deixada em branco) AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq e à Capes pelo apoio através de bolsas e de recursos concedidos aos seguintes projetos de pesquisa: CNPq: Bolsa de produtividade nos projetos Projeto do Lugar para o Trabalho: Cognição e Comportamento Ambiental na Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritório; Qualidade do Lugar e Cultura Contemporânea: uma proposta de revisão conceitual na perspectiva das redes de fluxos. Edital Universal 19/2004, Projeto e Qualidade do Lugar: Cognição, ergonomia e Avaliação Pós-ocupação do Ambiente Construído. Capes: Bolsa de Doutorado e de Estágio ao Doutorado na San Diego State University, que resultaram na tese Abordagem Experiencial e Revitalização de Centros Históricos: os casos do Corredor Cultural no Rio de Janeiro e do gaslamp Quarter em San Diego, Tese de Doutorado, de Denise de Alcantara. 9 (Página intencionalmente deixada em branco) 11 APRESENTAÇÃO Com a publicação deste livro, pretendemos contribuir para a consolidação das pesquisas e estudos sobre as relações pessoa-ambiente e sobre a avaliação de desempenho do ambiente construído, ou avaliação pós-ocupação (APO). Nosso principal objetivo é disponibilizar uma publicação de cunho didático contendo a revisão de um conjunto de oito instrumentos e ferramentas de avaliação consagrados - walkthrough, mapa comportamental, poema dos desejos, mapeamento visual, mapa mental, seleção visual, entrevista e questionário – complementados por outros dois, produzidos pelos pesquisadores envolvidos com a avaliação pós-ocupação (APO) do grupo Qualidade do Lugar e Paisagem (ProLUGAR) do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da FAU/UFRJ1 - a matriz de descobertas e a observação incorporada – e relacionados com três projetos de pesquisa: • Projeto do Lugar de Trabalho: cognição e comportamento ambiental na avaliação de desempenho de edifícios de escritório2, • Projeto e Qualidade do Lugar: Cognição, Ergonomia e Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído3, e • Cognição, comportamento ambiental e identidade do lugar: avaliação de desempenho ambiental do Centro Histórico da cidade do Rio de Janeiro.4 Seguindo a recomendação de Hazel Henderson (apud Capra 1991)5, ao disponibilizar o conjunto de procedimentos utilizados em nossos trabalhos de campo, estamos colocando nossa fala para andar. Além dos instrumentos e ferramentas, o livro apresenta os fundamentos da abordagem experiencial (AE), que se baseia no entendimento de que a percepção é um conjunto de “ações perceptivamente guiadas” (Varela 1992: 22) e focaliza a experiência vivenciada por um observador em um determinado ambiente em uso – que muda de significado conforme mudam as circunstâncias6; e um glossário de termos e conceitos-chave. Na abordagem experiencial, o observador se transforma em sujeito ou protagonista de uma experiência produzida no processo de interação com o ambiente e com seus usuários, a ser explicada com base na subjetividade7. Sua atenção ou percepção consciente (Vygotsky) se volta, principalmente, para o entendimento das razões, nuanças e significados da experiência vivenciada no cotidiano de um determinado ambiente em uso. A observação incorporada se configura como uma 1 Além dos autores, o grupo de APO do ProLUGAR contou com a parceria dos professores Rosa Pedro, Vera Vasconcellos, Ligia Leão de Aquino, Vera Tângari, Cristiane Duarte e Mario Vidal; dos doutorandos Fabiana dos Santos Souza, Iara Castro, Luiz Carlos Toledo; dos mestrandos Monique Abrantes, Ana Claudia Penna, Ana Paula Simões, José Ricardo Flores Faria, Helena da Silva Rodrigues, Michael Dezan Alvarenga, Heitor Derbli, Marcelo Hamilton Sbarra e Hélide Steenhagen Blower; dos estudantes de graduação e bolsistas de iniciação cioentífica Aldrey Cavalcante, Henrique Houayek, Tatiana Ferreira, Lina Correa, Gilmar Guterres, Alexandre Melcíades, Aline Fayer e Aline Rita Laureano. 2 Contemplado com bolsa de produtividade do CNPq. 3 Contemplado com recursos do Edital Universal 19/2004 do CNPq. 4 Contemplado com uma bolsa de doutorado da Capes e uma de iniciação científica do CNPq. 5 Economista autodidata, autora dos livros Creating alternative futures (1978) e The politics of the Solar Age (1988) e titular da página Hazel Henderson - Celebrating cultural and biodiversity - and a new "earth ethics" beyond "economism." <http://www.hazelhenderson.com/ >. 6 Esta natureza dinâmica da atividade humana, caracterizadapor Newman e Holzman (2002: 61) como algo, “que está sempre mudando o que está mudando, que está mudando o que está mudando.” 7 Subjetividade – segundo Guattari, a subjetividade é o efeito das conexões de uma rede, e é preciso ter cuidado para não confundi-la com “individualidade” (Castro 2008: 49). Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 12 atividade “ao mesmo tempo processo e produto, instrumento-e-resultado” (Newman; Holzman 2002: 79). Ao procurar integrar a bagagem sócio-histórica do observador e dos usuários, as observações realizadas tanto em ambientes internos quanto urbanos, a abordagem experiencial modifica o significado e a compreensão da qualidade do lugar. A abordagem experiencial implica em (1) uma visão crítica não dualista, mas somativa; em uma postura aberta e atenta ao ambiente ou “coletivo” (Latour 2001) composto de homens, coisas e técnicas cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1998); (2) aceitar a indissociável e interdependente relação pessoa-ambiente; (3) reconhecer a impossibilidade de representação de um ambiente que é independente e pré-existente e do entendimento de “uma mente lá dentro” observar “um mundo lá fora” (Latour 2001: 338); (4) atentar para a inadequação do distanciamento crítico e sua pretensa neutralidade. Ela também baseia-se no pressuposto da cognição atuacionista de que a “cognição não é formada por representações, mas por ações incorporadas. [E que] ... o conhecimento é sempre um saber-fazer modelado sobre as bases do concreto” (Varela 1992: 27)8. Não é possível ter acesso a uma realidade independente do observador, uma vez que ela não é algo pré-determinado, estático e imutável, mas o resultado de uma explicação que também não é independente do observador. A “realidade é uma proposição explicativa.” (Maturana 2001: 37)9 “Explicar é uma operação distinta da experiência que se quer explicar ... O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica. [...] mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador” (Maturana 2001: 28-29). Assim, um relato de APO é uma tradução10, termo mais adequado para caracterizar a negociação ou a comunicação entre o observador e o usuário, que também pressupõe a possibilidade dela vir a ser recusada, negociada ou até mesmo ser novamente traduzida. Por fim, a abordagem experiencial caracteriza a experiência do homem no lugar, ou o modo como a um só tempo cada lugar influencia a ação humana; como a presença humana dá sentido e significado a cada lugar. Dessa forma, faz emergir descobertas e significados da interação que é produzida nos lugares e “se configura como uma transformação qualitativa ... do conjunto de técnicas e instrumentos para a Avaliação do Ambiente Construído” (Alcantara, 2008: 05).11 Em relação ao conjunto de instrumentos elencados neste o livro, inicialmente se apresenta a walkthrough. Originária da Psicologia Ambiental, pode ser definida como um percurso dialogado complementado por fotografias, croquis gerais e gravação de áudio e de vídeo, abrangendo todos os ambientes, no qual os aspectos físicos servem para articular as reações dos participantes em relação ao ambiente. Criado por Kevin Lynch, é um instrumento de grande utilidade tanto na APO quanto na programação arquitetônica, uma vez que possibilita que os observadores se familiarizem com a edificação em uso, bem como que façam uma identificação descritiva dos aspectos negativos e positivos dos ambientes analisados. 8 Segundo Maturana e Varela (1995), homem e meio são faces de um mesmo processo vital, onde o homem cria uma relação de circularidade na forma como vê o mundo e age nele num processo contínuo de produção de si mesmo. 9 Segundo Latour (2001), este processo contínuo de produção não se restringe ao homem, uma vez que o ambiente também se produz continuamente na relação com o homem. 10 Traduzir, segundo Law (2008), é fazer conexão, é “se ligar a”, e também supõe percepção, interpretação e apropriação. Cf. Law (2008), “a tradução também supõe percepção, interpretação e apropriação [...] estão envolvidas nesta dinâmica tanto a ‘possibilidade de equivalência’ quanto a ‘transformação’ ”. 11 O grifo é nosso. Apresentação 13 A seguir é apresentado o mapa comportamental, também originário da Psicologia Ambiental, concebido para o registro gráfico das observações relacionadas com as atividades dos usuários em um determinado ambiente, este instrumento possibilita: (a) identificar os usos, os arranjos espaciais, os fluxos e as relações espaciais observados; (b) indicar as interações, os movimentos e a distribuição das pessoas em um determinado ambiente. Desenvolvido por Henry Sanoff, o poema dos desejos ou wish poem permite que os usuários de um determinado ambiente declarem, por meio de um conjunto de sentenças escritas ou de desenhos, suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou ambiente analisado. É um instrumento que se baseia na espontaneidade das respostas de fácil elaboração e aplicação que, de um modo geral, produz resultados ricos e representativos das demandas e expectativas dos usuários. Por sua vez, o mapeamento visual, concebido por Ross Thorne e J. A. Turnbull, possibilita identificar a percepção dos usuários em relação a um determinado ambiente, com foco na localização, na apropriação, na demarcação de territórios, nas inadequações a situações existentes, no mobiliário excedente ou inadequado e nas barreiras, entre outras características. Apesar de concebido para ser utilizado em ambientes internos, o mapeamento visual pode ser aplicado com facilidade em ambientes urbanos. Formulado nos anos 50 por Kevin Lynch, o mapa mental ou mapeamento cognitivo consiste na elaboração de desenhos ou relatos de memória representativas das idéias ou da imageabilidade que uma pessoa ou um grupo de pessoas têm de um determinado ambiente. Os desenhos tanto podem incorporar a experiência pessoal como outras informações, quanto experiências relatadas por outras pessoas, pela imprensa falada e escrita, ou pela literatura. Valendo-se de um conjunto de imagens referenciais pré-selecionadas, a seleção visual ou visual preferences é um instrumento concebido por Henry Sanoff adequado para identificar os valores e os significados agregados pelos usuários aos ambientes analisados. Ele possibilita fazer emergir o imaginário, os símbolos e aspectos culturais de um determinado grupo de usuários, bem como avaliar o impacto causado por determinadas tipologias arquitetônicas, organizações espaciais, cores e texturas sobre a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Muito utilizada no campo das ciências sociais, a entrevista pode ser definida como um relato verbal ou uma conversação voltada para atender a um determinado objetivo, que resulta em um conjunto de informações sobre os sentimentos, crenças, pensamentos e expectativas das pessoas. O sucesso de sua aplicação depende tanto da qualificação e da competência dos pesquisadores – que precisam ter agilidade para informar sua avaliação e reconhecer a contribuição daqueles que colaboraram com o trabalho – quanto da sua sensibilidade e capacidade de interação com o respondente. Largamente utilizado nas avaliações de desempenho, o questionário, por sua vez, é um instrumento de grande utilidade quando se necessita descobrir regularidades entre grupos de pessoas por meio da comparação de respostas relativas a um conjunto de questões (Zeisel 1981), que contém um conjunto de perguntas relacionadas a um determinado assunto ou problema. As perguntas devem ser respondidas por escrito sem a presença do pesquisador e os questionários podem ser entregues pessoalmente, enviados por correio, por e-mail, ou ainda disponibilizados em páginas de internet. A matrizde descobertas é um instrumento de análise que permite identificar e comunicar graficamente as descobertas, especialmente aquelas relacionadas com: (a) as adaptações e improvisações decorrentes de falhas de projeto ou de execução; (b) a incompreensão e o desconhecimento dos seus diversos grupos de usuários, que dificultam a operacionalidade necessária no dia-a-dia de um ambiente. Concebido por Helena Rodrigues e Isabelle Soares (Rodrigues, Castro, Rheingantz 2004) e aperfeiçoada pela equipe técnica do Programa de APO da Dirac/Fiocruz (Castro, Lacerda, Penna 2004). Por reunir e apresentar graficamente um resumo das principais descobertas Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 14 de uma avaliação de desempenho, facilita a leitura e a compreensão dos resultados por parte dos clientes e usuários. Seu sucesso depende da hierarquização das informações e descobertas produzidas em uma avaliação de desempenho. Desdobramento prático da abordagem experiencial , a observação incorporada, procura lidar com os aspectos subjetivos das observações, ao incorporar as emoções e reações dos lugares, entendidos como “coletivos” (Latour 2001) que são configurados pela mistura de homens, ambiente contruído e técnicas, cujo movimento “apaga” as fronteiras entre sujeito e objeto (Pedro 1996)12 presentes em qualquer experiência vivenciada da realidade. Além de uma mudança de atitude do observador em relação ao ambiente observado, incorpora a experiência humana aos instrumentos e procedimentos tradicionalmente utilizados em uma APO. Ao assumir uma postura menos distanciada e neutra, o observador passa a ter consciência da subjetividade das emoções e reações que são vivenciadas com os usuários no ambiente, que também devem ser considerados como sujeitos ou protagonistas da experiência. * * * Cabe observar que, por mais bem elaborados e aplicados que sejam, os instrumentos não garantem o sucesso de uma avaliação de desempenho, uma vez que são incapazes de, por si só, apreender a experiência que é produzida em um mundo que não é pré-definido e que não depende do observador. Acreditamos que a realidade de uma experiência no mundo relevante ou percebido é o produto inseparável do entrelaçamento do observador imerso na situação ou experiência que ele se propõe a relatar ou traduzir. Assim, os resultados da aplicação de um conjunto de instrumentos devem ser vistos como complementos capazes de corroborar a experiência reflexiva e intuitiva vivenciada durante a observação. Conforme lembra Francisco Varela (1992: 95), “a reflexão [o relato de uma APO] não é apenas sobre a experiência, mas que ela própria é uma forma de experiência e que é possível realizar semelhante forma reflexiva de experiência graças à consciência intuitiva.” 12 Cf. Latour (2001: 29), “em lugar de três pólos – uma realidade “fora”, uma mente “dentro” e uma multidão “embaixo” –, chegamos por fim a um senso que chamo de coletivo”. 15 GLOSSÁRIO DE TERMOS E CONCEITOS CHAVE Abordagem Atuacionista – abordagem proposta por Francisco Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosch (2003), que entende a cognição como ação incorporada e que conjuga a percepção e suas capacidades sensório-motoras embutidas num amplo contexto biológico, psicológico e cultural, com a ação perceptivamente orientada. Esta proposta recupera a consciência como um problema da ciência cognitiva, questionando a idéia de representação objetiva e puramente mental, supondo-se que tem a ver com algo externo e independente da experiência. Enfatiza ainda que a cognição emerge das interações indissociáveis e intersubjetivas do cérebro, do corpo e do ambiente, ou seja, a mente e o mundo atuam um sobre o outro, interferindo e influenciando-se mútua e reciprocamente. “O ponto de partida da abordagem atuacionista é o estudo de como o observador pode orientar suas ações em sua situação local.” (Varela; Thompson; Rosch 2003: 177). Abordagem Experiencial – designação adotada a partir de 2004 pelo ProLUGAR, por sugestão de Rosa Pedro para caracterizar as observações que incorporam as interações homem-ambiente – alinhada com a abordagem atuacionista – em sua experiência de viver (habitar, trabalhar, consumir, lazer, etc.), enriquecendo e conferindo novo significado ao entendimento do lugar. Ação Incorporada – cf. Varela, Thompson e Rosch (2003: 177), “Usando o termo incorporada queremos chamar a atenção para dois pontos: primeiro, que a cognição depende dos tipos de experiência decorrentes de se ter um corpo com várias capacidades sensório-motoras, e segundo, que essas capacidades sensório-motoras individuais estão, elas mesmas, embutidas em um contexto biológico, psicológico e cultural mais abrangente. Utilizando o termo ação queremos enfatizar novamente que os processos sensoriais e motores – a percepção e a ação – são fundamentalmente inseparáveis na cognição vivida. De fato, os dois não estão apenas ligados contingencialmente nos indivíduos: eles também evoluíram juntos.” Os autores também observam que “o mundo e a pessoa que o percebe, especificam-se mutuamente.”(Varela; Thompson; Rosch 2003: 176) Acoplamento estrutural – v. Entrelaçamento Estrutural Ambiente – cf. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2001-2002), palavra derivada do Latim ambìenséntis particípio presente de ambíre 'andar ao redor, cercar, rodear'; ver ambie, meio em que se vive, que rodeia ou envolve os seres vivos e as coisas; meio ambiente; recinto, espaço, âmbito em que se está ou vive. Palavra mais abrangente e adequada do que espaço, “atualmente mais utilizada, para fazer referência ao espaço sideral interplanetário” (Santos 1997), pois traduz com maior propriedade o meio no qual todos os coletivos compostos por seres humanos e não- humanos estão imersos. Como seu significado inclui o conjunto de condições materiais, históricas, sociais e culturais, o ProLUGAR utiliza a palavra ambiente em lugar de espaço – cuja conotação abstrata ajusta-se perfeitamente para a afirmação dos propósitos e ideais modernistas cuja concepção de futuro separa humanos e não-humanos (Latour 2001) – para traduzir com maior propriedade o espaço significante ou meio no qual todos os coletivos compostos por seres humanos e não-humanos estão imersos. Ambiente construído – cf. Ornstein et al (1995: 7), “todo o ambiente erigido, moldado ou adaptado pelo homem. São artefatos humanos ou estruturas físicas realizadas ou modificadas pelo homem.” Ambiente natural – é o meio pré-existente envolvente dos homens, artefatos e objetos, ou que ainda não sofreu as conseqüências da ação humana. Análise de Conteúdo – cf. Bardin (1995: 31), “conjunto de técnicas de análise de comunicações” cujos princípios se originam na lingüística e na psicologia social. Visam obter indicadores quantitativos ou qualitativos, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 16 conteúdo das mensagens, para a inferência dos conhecimentos relativos às condições de sua produção e/ou recepção. APO – avaliação pós-ocupação; é um processo interativo, sistematizado e rigoroso de avaliação de desempenho do ambiente construído, passado algum tempo de sua construção e ocupação. Focaliza os ocupantes e suas necessidades para avaliar a influência e as conseqüências das decisões projetuais no desempenho do ambiente considerado, especialmente aqueles relacionados com a percepção e o uso por parte dos diferentes grupos de atores ou agentes envolvidos. APP – avaliação pré-projeto; é um processo sistematizado de simulação do desempenho do ambiente construído realizado ao longo do processo decisório do projeto (Ornstein et al, 1995) ou após a sua conclusão, com o objetivo de identificar, com a ajuda dos futuros ocupantes, possíveis falhas ou problemas, tanto para a vida dos ocupantescomo para o desempenho do ambiente considerado. Muito utilizada pelos ergonomistas, a APP ainda carece de reconhecimento por parte dos arquitetos. Atenção ou Consciência – método proposto por Varela, Thompson e Rosch para examinar a experiência humana inspirado na meditação atenta da filosofia budista Abhidharma, que reconhece a tendência da mente em divagar quando as pessoas estão tentando desempenhar alguma tarefa – inclusive durante a observação em uma APO. “As pessoas que meditam descobrem que a mente e o corpo não são coordenados. O corpo está parado, mas a mente é com freqüência surpreendida por pensamentos, sentimentos, conversas internas, sonhos diurnos, fantasias, sonolência, opiniões, teorias, julgamentos sobre pensamentos e sentimentos, julgamentos sobre julgamentos – uma torrente interminável de eventos mentais desconectados que aqueles que meditam nem mesmo percebem que está ocorrendo, exceto naqueles breves instantes quando se lembram do que estão fazendo.” (Varela; Thompson; Rosch 2003: 41) Integrando corpo, mente e ambiente, o observador deve esvaziar a mente dos pensamentos e se deixar levar com atenção e naturalidade pelo fluxo das sensações e emoções que são experienciadas durante a observação. A experiência do observador que experiencia seu corpo, sua mente, os objetos e artefatos e suas relações no ambiente deve ser destituída (esvaziada) de qualquer influência da existência real, independente ou permanente, e a sua “descrição também funciona como uma recomendação e uma ajuda para a contemplação” (Varela; Thompson; Rosch 2003: 231). As técnicas de atenção são projetadas para deslocar a mente das amaras da atitude abstrata relacionada com suas teorias e preocupações, para uma situação de consciência ou atenção para a própria experiência vivenciada por uma determinada pessoa. Atuação – termo proposto por Varela, Thompson e Rosch para caracterizar uma nova abordagem para as ciências cognitivas que questiona “explicitamente a pressuposição, prevalente nas ciências cognitivas como um todo, de que a cognição consiste na representação de um mundo que é independente de nossas capacidades perceptivas, por um sistema cognitivo que existe independente desse mundo. Ao invés disto delineamos uma visão de cognição como ação incorporada... “; (Varela; Thompson; Rosch 2003: 17). Autopoiético – aquilo que nós produzimos, de criação contínua, sendo feito o tempo todo na relação com o mundo (Maturana; Varela 1995). Cognição – “campo que trata do sujeito cognoscente e da possibilidade de conhecer o/no mundo" (Pedro 1996: 5); o termo é usado num sentido amplo como a ação de conhecer ou conhecimento, porém seu sentido varia conforme diferentes perspectivas e contextos (neurologia, filosofia, psicologia, inteligência artificial) sendo também tradicionalmente aceito como processamento de informações sob a forma de computação simbólica ou manipulação de símbolos baseada em regras. A evolução dos estudos da mente, ou das ciências cognitivas, a partir dos anos 1950, apresenta três principais abordagens que, apesar de terem se desenvolvido em diferentes momentos e de forma seqüencial, permanecem coexistindo na pesquisa contemporânea: Glossário de termos e conceitos chave 17 • Cognitivismo – o modelo da mente computacional considera o cérebro como um computador, um sistema físico de símbolos, no qual processos mentais ocorrem pela manipulação de representações simbólicas no cérebro. O cognitivismo funcionalista, em seu lado mais extremo, sustenta que a incorporação é essencialmente irrelevante na natureza da mente. • Conexionismo – surge nos anos 1970 como um desafio à abordagem cognitivista, e tem como ferramenta principal a auto-organização da rede neural – não mais símbolos no sentido tradicional da computação, mas sistemas dinâmicos não lineares, nos quais ocorrem os processos mentais através da emergência de padrões globais de atividades. Como herança do cognitivismo, a mente ainda é a região das rotinas inconscientes e sub-pessoais, e a experiência humana continua não tendo lugar nesta abordagem. • Emergência – o mesmo que conexionismo. • Cognição atuacionista – ver abordagem enativa ou atuacionista da cognição. Comunicação – cf. Maturana e Varela “como observadores, designamos como comunicativas as condutas que ocorrem num acoplamento 13 social, e como comunicação a coordenação comportamental que observamos como resultado dela” (1995: 217) ... “da perspectiva do observador, sempre há ambigüidade numa interação comunicativa. O fenômeno da comunicação não depende do que se fornece, e sim do que acontece com o receptor. E isso é muito diferente de ‘transmitir informação’.”(1995: 219). Conduta – cf. Maturana e Varela (1995: 167) denominam “as mudanças de postura ou posição de um ser vivo que um observador descreve como movimentos ou ações em relação a um determinado meio.” Deriva Natural – proposição de Maturana e Varela (1995: 147) que se contrapõem à “visão popularizada da evolução como um processo em que seres vivos se adaptam progressivamente a um mundo ambiental, otimizando sua exploração.” Os autores propõem “que a evolução ocorre como um fenômeno de deriva estrutural sob contínua seleção filogênica, em que não há progresso nem otimização do uso do meio. Há apenas conservação da adaptação e da autopoiese, num processo em que o organismo e meio permanecem em contínuo acoplamento estrutural.” (Maturana; Varela 1995: 147). Ecosofia – frente à sensação de crise ecológica mencionada na introdução, Félix Guattari (2004) propõe uma revolução eco-lógica – política, social e cultural – e uma reorientação dos objetivos da produção material e imaterial e sugere o conceito de ecosofia, que congrega três ecologias – a social, a mental e a ambiental. Segundo Guattari, não é só o planeta que está doente: as relações sociais em todos os âmbitos – familiar, trabalho, contexto urbano, etc. – e as do sujeito com sua mente e do corpo, com sua identidade e subjetividade, também estão doentes. Para fazer frente à uniformização e a banalização promovidas pelas mídias e modismos junto com as manipulações da opinião pela publicidade amplificam os efeitos deste contexto globalizante e criam um paradoxo: enquanto o desenvolvimento produz novos meios técnico-científicos potencialmente capazes de resolver as problemáticas ecológicas dominantes e de re-equilibrar das atividades socialmente úteis, aumenta a incapacidade das forças sociais organizadas se apropriarem desses meios para torná-los operativos. Em contrapartida, as culturas particulares e outros contatos de cidadania devem ser desenvolvidos. A singularidade, a exceção e a diversidade devem agir em uníssono com uma ordem estatal menos opressiva e limitante, pois, é “na articulação da subjetividade em estado nascente, do 13 Apesar de considerarmos a palavra entrelaçamento (ver verbete) mais adequada para expressar o significado pretendido pelos autores, nesta citação foi mantida a palavra acoplamento, utilizada pelo tradutor da edição brasileira. Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 18 socius em estado mutante, do meio ambiente no ponto em que pode ser reinventado, que estará em jogo a saída das crises maiores de nossa época” (Guattari 2004: 55). EDRA – Environment Design Research Association - Associação profissional multidisciplinar criada com o propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho ambiental, melhorar o entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os ambientes construído e natural, ajudando a produzir ambientes responsivos para as necessidades do homem.” Informação disponível na página da EDRA, em <http://www.telepath.com/edra/>. Empatia cognitiva – relação dinâmica indissociável do ser no mundo integrado ao ambiente natural e ao mundo humano social. Tipo singular de experiência direta, na qual os indivíduosse relacionam e entendem suas experiências e sua compreensão por meio da linguagem (verbal ou não verbal). Na empatia entendemos as experiências do outro intersubjetivamente – não uma representação delas – sem, entretanto, passarmos pela experiência diretamente. Entrelaçamento estrutural – reconhecendo a crítica de Vicente del Rio sobre a inadequação da designação acoplamento estrutural utilizada na edição brasileira de A Mente Incorporada (Varela; Thompson; Rosch 2003) para traduzir a palavra inglesa coupling – que também significa acoplamento, acasalamento – tem um forte caráter funcionalista, o ProLUGAR passou a utilizar a palavra entrelaçamento estrutural. Enquanto sistemas estruturais complexos, o cérebro se entrelaça estruturalmente ao corpo que, por sua vez, se entrelaça estruturalmente ao ambiente, produzindo interações que desencadeiam mudanças determinadas em cada sistema estrutural em si. Maturana (2001:75) propõe a seguinte analogia para seu melhor entendimento: “a cada um de nós acontece algo nas interações que diz respeito a nós mesmos, e não com o outro. E o que vocês escutam do que digo tem a ver com vocês e não comigo. Eu sou maravilhosamente irresponsável sobre o que vocês escutam, mas sou totalmente responsável sobre o que eu digo”. Espaço – cf. Corona e Lemos (1972: 198), “em arquitetura, expressa antes de tudo sua condição tridimensional ou seja, a possibilidade do homem participar de seu interior.” Os autores reportam a Bruno Zevi, que considerava espaço como o verdadeiro campo da arquitetura que possibilitou à arquitetura moderna afastar a preponderância decorativa, escultórica, etc. Cf. Dicionário Houaiss Eletrônico, “extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os corpos ou objetos existentes ou possíveis”. Palavra de uso generalizado (e impreciso) entre os arquitetos para caracterizar o meio envolvente dos homens, artefatos e objetos. Em nossos trabalhos, utilizamos a palavra ambiente, mais apropriada para caracterizar o meio envolvente das relações entre homens, artefatos e objetos, inclusive sua espacialidade. Explicação – cf. Maturana (2001: 29), “nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador.” Explicar – cf. Maturana (2001: 28-29) “O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica, mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador.” Imagem Ambiental – cf. Lynch (1982: 149) “a imagem ambiental é um processo bilateral entre observador e observado. O que ele vê é baseado na forma exterior, mas o modo como ele interpreta e organiza isso, e como dirige sua atenção, afeta por sua vez aquilo que ele vê. O organismo humano é extremamente adaptável e flexível, e grupos diferentes podem ter imagens muitíssimo diferentes da mesma realidade exterior.” Imageabilidade – cf. Lynch (1980), qualidade ou força evocativa da imagem de um edifício ou ambiente e de seu entorno, em termos de aparência, legibilidade e visibilidade. Glossário de termos e conceitos chave 19 Impregnação – cf. Cosnier (2001), período inicial da pesquisa de campo, quando o pesquisador permanece no ambiente apenas observando, se familiarizando e permitindo que o ambiente também se “familiarize” com a sua presença, a exemplo do que foi utilizado por Brasileiro (2007), no âmbito das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas Arquitetura, Subjetividade e Cultura (ASC ), <http://www.asc.fau.ufrj.br>. Intencionalidade – ou direcionamento da ação, é fundamental para compreender a cognição como ação incorporada. Cf. Varela, Thompson e Rosch (2003: 209), “a intencionalidade tem dois lados: primeiro, ... inclui como o sistema produz o mundo que vem a ser (especificado em termos de conteúdo semântico dos estados intencionais); segundo, ... inclui como o mundo satisfaz ou deixa de satisfazer esse constructo (especificado em termos das condições de satisfação dos estados intencionais).” Intersubjetividade – relação indissociável e subjetiva que ocorre nas interações homem-ambiente (Thompson 1999). Interação – cf. Morin (1996), conjunto de relações, ações e retroações que se efetuam e se realizam em um sistema; Cf. Damásio (1996: 255), “o organismo inteiro, e não apenas o corpo ou o cérebro, interage com o meio ambiente ... quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou cheiramos, o corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.” Interpretação – em lugar de representação, a abordagem experiencial trabalha com a idéia de interpretação, atividade de configuração em que alguns aspectos se tornam relevantes porque nós os fazemos emergir de nossa experiência que, para ter validade, deve ser confrontada com o senso comum (Pedro 1996). Linguagem – cf. Maturana e Varela (1995: 235), ”operamos na linguagem quando um observador vê que os objetos de nossas distinções são elementos de nosso domínio lingüístico.” Lugar – ambiente ou espaço físico ocupado pelo homem e por objetos que adquire significado a partir da experiência, da memória, da história, das inter-relações sociais e humanas; base existencial humana, também considerado lugar fenomenológico. Meio – cf. Milton Santos, vocábulo relativamente abandonado pela geografia que, com “os progressos no conhecimento das galáxias, a palavra ‘espaço’ passou a ser utilizada com maior ênfase para o espaço sideral interplanetário. Também nesta fase da pós-modernidade, a mesma palavra ‘espaço’ ganhou um uso crescentemente metafórico em diversas disciplinas.” (Santos 1997:1) “O meio resulta de uma adaptação sucessiva da face da Terra às necessidades dos homens. Nos primórdios da história registravam-se alterações isoladas, ao sabor das civilizações emergentes, até que o processo de internacionalização cria em diversos lugares feições semelhantes. Agora, conhecemos uma tendência à generalização à escala do mundo dos mesmos objetos geográficos e das mesmas paisagens.” (Santos 1997:1). Método dialético – proposto por Sandra Corazza, o método considera que “o processo de construção do conhecimento é um processo de transformação da realidade que se dá em três diferentes etapas: (1) parte do conhecimento prático ou empírico (síncrese), (2) teoriza sobre esta prática (análise), e (3) volta à prática para transformá-la (síntese)” (Rheingantz 2003). Narrativa imagética – narrativa da experiência através de imagens, desenhos ou modelos tridimensionais. Objetividade entre parênteses – no caminho da objetividade entre parênteses, o observador não pode fazer referência a entidades independentes de si na construção do seu explicar, pois "a explicação é uma reformulação da experiência com elementos da experiência" (Maturana 2001: 36). Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 20 Objetividade sem parênteses – no caminho da objetividade sem parênteses as coisas e os fenômenos ocorrem independentemente do observador – ou seja, a existência precede à distinção. Nele só há uma realidade que é objetiva, independente e requer obediência e aceitação. (Maturana 2001: 36). Observação incorporada – modo de operacionalização e aplicação da Cognição Experiencial; pode ser definida como um encadeamento de associações dependentes do contexto que, em conjunto, configuram um ponto-de-vista aproximado e particular da experiência vivenciada por um observador ou grupo de observadores em um determinado ambiente ou conjunto de ambientes. O observador no ambiente "torna-se" um mundo que não pode ser “representado” a priori. O sucesso de uma experiência vivencial e local não deve ser entendido como uma verdade que possa vir a ser estendida a contextos diferentes e mais amplos. Como o observador está sempre imerso no ambiente, sua compreensão será sempre local ou situada. A atividade dos homens no mundo possibilita que eles criem padrõesque são comparados aos já existentes (senso comum). Esta operação modifica tanto os padrões iniciais, quanto as próprias operações de comparação que acontecem durante a observação e, assim, indefinidamente. Nesse sentido, a observação, por ser um ato cognitivo, é sempre criadora (Pedro 1996). Olhar Compartilhado - conjunto de concepções, valores, percepções e práticas compartilhadas por um determinado grupo que dá forma a uma visão particular da realidade; configuração multidimensional do paradigma pós-moderno de Boaventura Santos (1995), de modo a assegurar maior coerência e racionalidade na definição dos atributos e do seu grau de importância. Percepção – diferentemente do que sugerem autores alinhados com o pensamento de Gibson (1979) – que o ambiente é independente e que a percepção é detecção direta, as abordagens atuacionista da cognição e experiencial consideram que o ambiente é atuado por histórias de entrelaçamento, e que “a percepção é atuação sensório-motora” (Varela; Thompson; Rosch 2003), ou seja, é uma ação orientada perceptivamente. Modo como o observador orienta suas ações em situações locais, por meio de sua estrutura sensório motora; princípios comuns ou conexões lícitas entre os sistemas sensorial e motor que explicam como a ação pode ser orientada perceptivamente em um mundo dependente de um sujeito percipiente. (in Cadernos de Subjetividade: O reencantamento do concreto). Percepção ambiental – processo recursivo de interação homem-ambiente que permite ao homem influenciar ou atuar sobre o ambiente como ser por ele influenciado ou atuado. Os homens, os artefatos e os ambientes são sujeitos que se co-produzem cotidianamente. PROARQ-FAU-UFRJ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal do Rio de Janeiro. ProLUGAR – sigla do grupo de pesquisas certificado pelo CNPq Qualidade do Lugar e Paisagem; vinculado à linha de pesquisa Cultura, Paisagem e Ambiente Construído do Programa de Pós- Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROARQ-FAU-UFRJ), que desenvolve pesquisas relacionadas com a percepção e a cognição ambiental, a qualidade do lugar e com seus reflexos na arquitetura e no urbanismo. Psicogeografia do lugar – na Teoria da Deriva, a psicogeografia do lugar é constituída pelo relevo das cidades com correntes, pontos fixos e turbilhões e que relata as emoções do observador de um percurso qualquer. Qualidade do lugar – cf. del Rio (2001), principal atributo ou conjunto de atributos de um ambiente construído que atrai as pessoas, sejam elas moradores, usuários ou visitantes. Numa cidade, a qualidade do lugar determina preferências e expectativas, atratibilidades variadas, inserções em guias turísticos, valorizações fundiárias e comerciais. O autor também observa que o ser humano sempre Glossário de termos e conceitos chave 21 atentou para a qualidade dos lugares e, desde a antiguidade, busca explicações mágicas ou científicas. Segundo Norberg-Schulz (1980), os antigos romanos acreditavam que todo lugar era possuído por um genius loci – espírito próprio que o animava e protegia – que representava a energia, o princípio de unidade e a continuidade do lugar. A dificuldade de explicar a qualidade do lugar em toda a sua plenitude levou Christopher Alexander (1979) a designá-lo qualidade sem nome. Representação - a idéia de representação presente nos estudos das relações homem-ambiente implica no entendimento de um mundo pré-determinado e incompleto, uma vez que deixa de fora justamente a possibilidade de formular questões relacionadas com a experiência que é produzida nestas relações. A noção de representação, entendida como constructo pelos cognitivistas – que subentende a possibilidade de construir ou representar o mundo de determinada forma, como um padrão ou sistema que age com base em imagens mentais internas, independentes do mundo vivido – é questionada pela proposta atuacionista da cognição (Varela et al 2003). Em lugar da representação, a abordagem experiencial trabalha com a interpretação. Representação mental – cf. Damásio (1996: 259), resposta construída pelo cérebro humano para descrever uma determinada situação e os movimentos formulados como resposta a esta situação, que dependem de interações mútuas cérebro-corpo. Segundo as abordagens atuacionista da cognição e experiencial, esta resposta ou idéia é imperfeita e incompleta para caracterizar as relações homem-ambiente, uma vez que o corpo e o ambiente passam a ser tratados como simples coadjuvantes. Ambos são, na verdade, sujeitos que se co-produzem cotidianamente. Requalificação – atribuição de uma nova qualidade ao ambiente ou “rosário de intervenções de diferentes naturezas que conferem uma nova qualidade urbana.” (Yázigi 2006: 19). Subjetividade – cf. Guattari (apud Castro 2008: 49) efeito das conexões de uma rede. É importante frisar que a “subjetividade” aqui não se confunde com “individualidade”. Topofilia – palavra cunhada por Tuan (1980) para traduzir o sentimento ou o grau de familiaridade que faz com que as pessoas se afeiçoem e sejam atraídas por um determinado lugar , diretamente relacionado com seus afetos, valores, emoções e com a sua condição sócio-histórica-cultural. Traduzir – cf. Law (2008) é fazer conexão, é “se ligar a”, e também supõe percepção, interpretação e apropriação. Estão envolvidas nesta dinâmica tanto a ‘possibilidade de equivalência’ quanto a ‘transformação’(Castro 2008). Foi utilizada neste livro por ser mais adequada para caracterizar a negociação ou a comunicação entre o observador e o usuário, uma vez que ela também pressupõe a possibilidade de vir a ser recusada, negociada ou até mesmo ser novamente traduzida. Walkthrough - palavra da língua Inglesa que pode ser traduzida como passeio ou entrevista acompanhado. Em função do reconhecimento mundial, inclusive por parte dos pesquisadores brasileiros, foi mantida a sua designação original em Inglês. Alguns autores acrescentam a palavra Entrevista – Walkthrough-Interview (Brill et al, 1985), Avaliação – Walkthrough-Evaluation (Preiser et al 1988), Análise (Rheingantz 2000), ou ainda Passeio (del Rio 1991). Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 22 (Página intencionalmente deixada em branco) 23 WALKTHROUGH14 Introdução Método de análise que combina simultaneamente uma observação com uma entrevista, a walkthrough tem sido muito utilizada na avaliação de desempenho do ambiente construído e na programação arquitetônica. Possibilita a identificação descritiva dos aspectos negativos e positivos dos ambientes analisados. Segundo Preiser (in Baird et al 1995), em uma walkthrough os aspectos físicos servem para articular as reações dos participantes em relação ao ambiente. O percurso dialogado abrangendo todos os ambientes, complementado por fotografias, croquis gerais e gravação de áudio e de vídeo, possibilita que os observadores se familiarizem com a edificação, com sua construção, com seu estado de conservação e com seus usos. Fundamentos Segundo Zeisel (1981), a primeira Walkthrough foi realizada por Kevin Lynch (1960) em Boston, quando convidou os grupos de respondentes voluntários para um passeio-entrevista pela área central da cidade. Esses mesmos voluntários foram levados a campo para fazerem um dos primeiros trajetos imaginários: aquele que vai do Hospital Geral de Massachusetts à Estação Sul. Estavam acompanhados pelo entrevistador, que usava um gravador portátil. Pedia-se ao entrevistado que seguisse à frente, discutisse por que escolhera determinado caminho, relatasse o que via ao longo do trajeto e indicasse os pontos onde se sentia seguro ou perdido (Lynch 1997: 164). Durante os anos 60 seguiram-se algumas experiências acadêmicas com grupos de alunos, emsua maioria não publicadas (Bechtel 1997), mas seu reconhecimento científico ocorreu nos anos 60 e 70 com o advento da Psicologia Ambiental e com a organização, em 1968, da EDRA – Environment Design Research Association15 – acompanhando a consolidação conceitual e de procedimentos da APO. Aplicações e limitações Por ser relativamente fácil e rápida de aplicar, a walkthrough tem sido muito utilizada em APOs. Em geral, ela precede a todos os estudos e levantamentos, sendo bastante útil para identificar as principais qualidades e defeitos de um determinado ambiente construído e de seu uso. Sua realização permite identificar, descrever e hierarquizar quais aspectos deste ambiente ou de seu uso merecem estudos mais aprofundados e quais técnicas e instrumentos devem ser utilizados. Além disso, ela também permite identificar as falhas, os problemas e os aspectos positivos do ambiente analisado. Inicialmente deve-se formar uma equipe composta por especialistas e por representantes dos diversos grupos de usuários do ambiente construído. Munidos de plantas e fichas de registro (Figs. 1 e 2), os observadores realizam uma entrevista-percurso de reconhecimento ou ambientação, abrangendo todos os ambientes considerados no estudo. Para registrar as descobertas, podem ser utilizadas diversas técnicas de registro, como por exemplo, mapas, plantas, check-lists, gravações de áudio e de vídeo, fotografias, desenhos, diários, fichas, etc. 14 Palavra da língua Inglesa que pode ser traduzida como passeio ou entrevista acompanhado. Em função do reconhecimento mundial, inclusive por parte dos pesquisadores brasileiros, foi mantida a sua designação original em Inglês. Alguns autores acrescentam a palavra Entrevista – Walkthrough-Interview (Brill et al 1985), Avaliação – Walkthrough- Evaluation (Preiser et al 1988), Análise Walkthrough, (Rheingantz 2000), ou ainda Passeio Walkthrough (del Rio 1991). 15 Associação profissional multidisciplinar criada com o propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho ambiental, melhorar o entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os ambientes construído e natural, ajudando a produzir ambientes responsivos para as necessidades do homem.” Informação disponível na página da EDRA, em <http://www.telepath.com/edra/ >, consulta realizada em 20 abr. 2000. Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 24 SETORES ATRIBUTOS (Ambiente único) ÁREAS ÁREAS DE TRABALHO ÁREAS DE APOIO 1. GERAL [g] 1.1 SINALIZAÇÃO - - - - - - - - - - - B - B - 1.2 CONFORTO TÉRMICO B B B A B B C A A A A D B D D 1.3 CONFORTO AERÓBICO A A A A A B A A A B A B B B B 1.4 ILUMINAÇÃO NATURAL C B B A A B A B A D A - C - - 1.5 ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL A A A A A A A A A C A B A B B 1.6 ACÚSTICA AMBIENTE D D D D D C D D D C A C C C B 1.7 APARÊNCIA B B B A A A C B B B A C A B A 2. PAREDES / DIVISÓRIAS 1-Inexist. 2-Divisória 3-Madeira 4-Lamin. 5-Papel 6-Pintura 7-Azulejo 2.1 MAT. REVESTIMENTO 2 6 6 2 2 2/6 2 1 8 1 6/ 8 6 2/ 6 7 6/ 7 2.2 APARENC. / CONSERV.[g] A A A A A A A - A - A A A B A 2.3 ADEQUAÇÃO [g] A A A A A A A - A - A A A C A 3. TETOS 2-Gesso 3-Pacote 4-Colméia 5-Pintura 3.1 MAT. REVESTIMENTO 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2/4 2 2 2 2 2 3.2 APARÊNC. / CONSERV.[g] A A A A A A A B A C A A A A A 3.3 ADEQUAÇÃO [g] A A A A A A A A A C A A A A A 4. PISOS ACABADOS 1-Taco 2-Vinílico 3-Cerâmico 5-Carpete 9-Fórmica 4.1 MAT. REVESTIMENTO 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4.2 APARÊNC./ CONSERV. [g] A A A A A A A A A A A A A A A 4.3 ADEQUAÇÃO A A A A A A A A A A A A A A A 5. INSTALAÇÕES ELÉTRICAS 1=Embutida 2=Aparente 3=Mista 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 5.1 TOMADA/INTERRUP. [g] B B B B B B B B B B A A B A A 5.2 LUMINÁRIAS [g] A A A A A A A A A A A A A A A 6. INSTALAÇÕES TELEFÔNICAS 1=Embutida 2=Aparente 3=Mista 2 2 2 2 2 - 2 2 2 2 2 1 - - - 6.1 APARÊNC./CONSERV. [g] A A A A A - A A A A A A - - - 7. REDE DE COMPUTADOR 1=Embutida 2=Aparente 2 2 2 2 2 - 2 2 2 2 2 - - - - 8 . ESQUADRIAS 8.1 PORTAS - APARÊNC. [g] A - - - - B - A A A A A B B A 8.2 JANELAS - APARÊNC. [g] A A - A A - A A A A A - - - - 9. EQUIPAMENTOS (QUANTIDADE) 9.1 TELEFONE 2 4 2 1 3 - 2 1 1 2 1 1 - - - 9.2 FAX - - - - - - - - - 1 - - - - - 9.3 COMPUTADOR 2 4 2 1 3 1 3 1 1 2 1 - - - - 9.4 IMPRESSORA - 1 - - - 1 - - - 1 1 - - - - 9.5 COPIADORA - 1 - - - 1 - - - - 1 - - - - 9.6 TELEVISÃO - 1 - - - - - - - - - - - - - 9.7 GELADEIRA - - - - - - - - - - - 1 - - - 9.8 APARELHO AR COND. - 1 - - - - - X - X X - - - - 9.9 MÁQUINA DE ESCREVER - - - - - - - - - - - - - 1 - 9.10 SCANNER - - - - - - - - - - - - - - - Grau de Avaliação [g]: A = Muoito Bom B = Telativ. Bom C = Relativ. Ruim D = MUitp Ruim X = não se aplica OBS: X → saída do ar condicionado central Usuários por área: Administrativo → V.T., V.M. e F.A Área V. → V., M.F., A.L. e S. Jurídico → F.C. (adv.), C. e T. Cobrança (sala de reunião) → C.N. e H. Financeiro → N. e A.R. Copa → G Figura 1 - Ficha de Avaliação Fatores Técnicos. Fonte: Abrantes (2004: 185) Walkthrough 25 Figura 2 – Ficha de Inventário Ambiental preenchida – APO Colégio Aplicação da UFRJ. Fonte: del Rio et al (1999) Por ser um instrumento flexível, a walkthrough possibilita o emprego de diversas abordagens ou procedimentos. Em sua forma mais estruturada (Brill et al 1985), são utilizados dois tipos de grupos: grupos de tarefas e grupos de participantes. Os grupos de tarefas são compostos pelos líderes de grupo que planejam, conduzem e relatam o processo da walkthrough. Estes grupos têm como objetivos motivar os participantes a discutirem questões que forem surgindo durante a walkthrough, bem como propor recomendações e ações para resolvê-los. Durante a walkthrough, um membro conduz o trajeto pelo edifício e faz perguntas geradoras de comentários sobre o edifício e as suas características, sobre sua operação e uso. Um segundo membro registra os comentários e notas, bem como onde cada problema se localiza (Fig. 3). O terceiro fica responsável pelas fotografias e pela ordenação e registro dos comentários. Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 26 Figura 3 - Ficha de Observação Walkthrough preenchida. Fonte: Souza (2003: Anexo) Walkthrough 27 Já nos grupos de participantes, cada grupo tem funções e interesses diversos com relação ao edifício, à sua operação e uso. Os grupos de participantes mais comuns são formados por gerentes, funcionários, visitantes, pessoal de manutenção e de reparo, pessoal de segurança, projetistas, de proprietários e administradores do edifício. Se o número de participantes for pequeno (seis ou menos), um grupo walkthrough único pode incluir todos eles. Se for muito maior, pode ser conveniente formar outros grupos mais representativos do total de participantes. Uma segunda abordagem (Baird et al 1985) subdivide a tarefa em quatro procedimentos que, tanto podem ser aplicados em conjunto, como isoladamente: Walkthrough Geral, Walkthrough de Auditoria de Energia, Walkthrough de Especialistas e Passeio Walkthrough. Em uma Walkthrough Geral são utilizados grupos de técnicas da Walkthrough de edifícios ou ambientes. Esta técnica pode ser utilizada de diversos modos, tanto na avaliação de edifícios como de lugares urbanos e, a exemplo do grupo de participantes, pode envolver os usuários ou outros grupos de interesses mais específicos, como especialistas, ou administradores. Eles utilizam o próprio ambiente físico como estímulo para auxiliar os respondentes a articularem suas reações a este ambiente. Sua finalidadetípica inclui a escolha de informações dos participantes da Walkthrough e de outros usuários, bem como levar a efeito avaliações técnicas do referido ambiente. Walkthroughs gerais podem servir de base para a construção de questionários ou outros tipos de observações mais específicas. Já uma Walkthrough de Auditoria de Energia, de um edifício, por exemplo, tem como propósito específico avaliar seu desempenho energético e de identificar oportunidades para o gerenciamento e a conservação de energia.16 Já em uma Walkthrough de Especialistas, conforme o próprio nome sugere, organiza-se um grupo de especialistas cuja composição tanto pode ficar em aberto como ser previamente definida para examinar um conjunto determinado de aspectos de um ambiente ou edifício, tais como condições físicas, utilidade de algum aspecto, fator ou atributo específico. Em geral, nestas walkthroughs são utilizadas check-lists (Fig. 4), bem como entrevistas formais ou informais com os usuários no próprio local. 16 Baird et al (1995) indicam um documento do Ministério de Energia da Nova Zelândia: Ministry of Energy, Energy Management Group. Public Organization Energy Audit Manual. Wellington, Nova Zelândia: Ministtry of Energy, 1988. Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 28 2 DIVISÕES INTERNAS A B C D ALVENARIA DIVISÓRIA ALTA DIVISÓRIA BAIXA NENHUMA 2.1 JUNTAS E FIXAÇÕES 2.2 APARÊNCIA 2.2.1. DESGASTE / ARRANHÕES / MANCHAS 2.2.2. ESTADO DE CONSERVAÇÃO 2.3 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO 3. TETOS A B C D 3.1 NIVELAMENTO 3.2 APARÊNCIA 3.2.1. ARRANHÕES / MANCHAS 3.2.2. PARTÍCULAS/PELÍCULAS DESCASCANDO 3.2.3 ESTADO DE CONSERVAÇÃO 3.3 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO 3.4 ACESSO AO VÃO INTERNO 4. PISOS A B C D MADEIRA CARPETE VINÍLICO CERÂMICO PEDRA 4.1 NIVELAMENTO 4.2 APARÊNCIA 4.2.1. ARRANHÕES / MANCHAS 4.2.2. PARTES SOLTAS 4.2.3 ESTADO DE CONSERVAÇÃO 4.3 RESISTÊNCIA A CIGARRO 4.4 DESGASTE 4.5 ADERÊNCIA 4.6 FACILIDADE DE MANUTENÇÃO 4.7 SEGURANÇA CONTRA ESCORREGÕES Avaliação: A = MUITO BOM B = BOM C = RUIM D = MUITO RUIM Figura 4 - Checklist de fatores funcionais – divisões internas, tetos e pisos) Fonte: Adaptado de Preiser et al (1988) Por fim, o Passeio Walkthrough – modalidade mais utilizada nas APOs realizadas pelos integrantes do grupo APO/ProLUGAR – baseia-se no uso do ambiente físico como elemento capaz de ajudar os respondentes – tanto pesquisadores e/ou técnicos, quanto os usuários – na articulação de suas reações e sensações em relação ao edifício ou ambiente a ser analisado. Inspirados em del Rio (1991), os Passeios Walkthroughs realizados pelos integrantes do APO/ProLUGAR (Rheingantz et al 1998) têm adotado a abordagem de Zube (1980), que considera as experiências e emoções vivenciadas pelos usuários e pesquisadores como “instrumentos de medição” e de “identificação da qualidade” dos ambientes. Este procedimento simplifica e agiliza as walkthroughs em relação às recomendações de Brill et al (1985) e Baird et al (1995). De um modo geral, estas walkthroughs são realizadas por duplas de pesquisadores. Antes de ir a campo, são preparadas plantas baixas em escala 1/50 impressas em papel sulfite formato A3 ou A4, para facilitar seu manuseio em campo – em edificações com plantas muito extensas, as plantas são seccionadas em setores; eventualmente podem ser necessários cortes esquemáticos. Durante os percursos, enquanto os dois observam e analisam entre si os ambientes, um deles tira fotografias e/ou grava em áudio os comentários; o outro anota nas plantas baixas as observações e visadas das fotografias. Quando o percurso é realizado por um único pesquisador, recomenda-se a realização de dois percursos em sequência, um para anotar os resultados das observações e/ou gravar em áudio os comentários, outro para fazer as fotografias. Depois do trabalho de campo, as observações são lançadas em uma matriz composta de plantas baixas, fotografias e comentários (Fig 5). Esta simplificação de procedimentos torna-se particularmente importante nos trabalhos acadêmicos, cujos interesses e demandas emergem dos próprios pesquisadores, e não de uma demanda real e Walkthrough 29 concreta dos usuários dos ambientes observados. Como resultado, surge uma espécie de “consentimento tolerante” por parte dos usuários, que disponibilizam seus ambientes para as avaliações de desempenho, mas que dificilmente se envolvem eles próprios com os trabalhos de campo, se caracterizando numa das primeiras limitações da walkthrough. Outra limitação muito comum em uma walkthrough se deve a eventuais restrições de acesso dos pesquisadores aos ambientes, seja por riscos de contaminação – tanto do ambiente (centros cirúrgicos, laboratórios, centros de pesquisa das áreas biomédicas) quanto dos próprios pesquisadores (laboratórios e alas de doenças infecto-contagiosas em hospitais) – seja por receio de espionagem industrial. De mesma origem é a dificuldade, nestes trabalhos acadêmicos, de se formar equipes multidisciplinares ou de especialistas, uma vez que, em geral, são os próprios pesquisadores – estudantes de mestrado, de doutorado e/ou bolsistas de iniciação científica – que realizam as observações. Apesar destas limitações, deve ser mencionado que os resultados das observações realizadas pelo APO/ProLUGAR têm sido ricos e significantes em informações. Com relação à postura dos observadores, existem duas vertentes distintas: a primeira, alinhada com a abordagem clássica, que recomenda distanciamento crítico do observador com relação ao ambiente, e a segunda, alinhada com a abordagem experiencial, se baseia na impossibilidade do distanciamento crítico e recomenda que os observadores atentem e anotem as próprias emoções e reações experienciadas durante suas interações com o ambiente. Para melhor ilustrar a diferença entre as duas posturas e seus reflexos nos resultados, a seguir são apresentados dois relatos, respectivamente alinhados com a primeira abordagem, Condicionada pela aparência e pelo estado geral de aparente abandono, e apesar do evidente afeto expressado pelos funcionários com relação ao edifício – especialmente por seu reconhecido valor histórico, sua solidez e sua localização – a imagem percebida, por parte dos funcionários, é negativa e pouco condizente com a natureza e a importância estratégica do INPI; outro aspecto evidenciado foi o ceticismo dos funcionários com relação à quantidade de projetos de modernização e de reforma contratados e não implementados – a esperança de melhorias mistura-se com a descrença e a reserva e/ou o receio com a possibilidade de mudança para um outro local (Rheingantz 2000: 09).17 e com a segunda abordagem: Levando em consideração que o setor de Informática ainda não está funcionando, e portanto, não há um fluxo grande para lá, fui pesquisar como seria o visual do canto entre a porta e a janela; tenho visão parcial de [A] e total de [B], mas pelas suas costas, fato que o incomodou bastante, eu noto. Só de eu me deslocar para lá sem nada, sem material, só eu, e ter ficado lá perto de um minuto, já foi suficiente para ele olhar para trás para ver o que eu estava fazendo. Logo depois, [A] reclamou da organização das pastas sobre o arquivo metálico, falou com [C] que não podia ficar desse modo; [A] fala de forma ríspida, causa um ‘clima’. [C], embora tenha se mantido respeitoso todo o tempo, foi incisivo também, ajudando a intensificar o clima. [B], lá de trás, faz ssshhh com os lábios, e eu lamento, sei que minha presença ainda os inibe, fato que não gostaria que acontecesse... ai, estou com dor nas costas, hoje tomei cataflan mas não adiantou muito, vou comprar um dorflex mesmo, assim também serve para a dor muscular (Brasileiro, 2006: não paginado).17 Este exemplo foi intencionalmente transcrito da tese de Rheingantz (2000) para reforçar que os pesquisadores do ProLUGAR, em diversas situações, e em função da natureza das demandas, como por exemplo as APOs com ênfase nos aspectos funcionais e técnicos adotam em parte ou totalmente a abordagem clássica. Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 30 Figura 5 - Análise Walkthrough: Síntese das observações – Creche no Rio de Janeiro. Fonte: Santos et al (2005) Recomendações e cuidados Para que membros dos grupos de tarefa possam conduzir adequadamente uma walkthrough, é preciso que se submetam a um treinamento com especialistas familiarizados com o método. Inicialmente o treinamento deve cobrir duas áreas: (a) objetivos, contexto e assuntos ou tópicos prováveis para o evento; (b) a natureza real da walkthrough e do treinamento, técnicas para fazer perguntas e registrar respostas, e o desenvolvimento e uso das fichas e formulários necessários. Os ministrantes devem simular a condução de um passeio tendo como participantes os membros dos grupos de tarefas, para que eles possam praticar e testar suas habilidades. A primeira Walkthrough , por sua vez, deve ser conduzida com a orientação de um pesquisador experiente, seguida de uma revisão, para auxiliar os grupos de tarefas a melhor conduzirem os trabalhos subsequentes. Walkthrough 31 Planejamento No planejamento e na montagem de uma walkthrough, Brill et al (1985: 242) indicam alguns procedimentos ou cuidados importantes: • Definir o grupo de trabalho. • No caso de mais de um edifício ou ambiente, selecionar os edifícios e ambientes a serem percorridos, bem como definir a ordem sequencial dos percursos. • Informar os departamentos ou setores envolvidos com a walkthrough, buscando a sua cooperação e consentimento/permissão. • Verificar a disponibilidade de recursos para realizar as melhorias e reformas necessárias para implementar os benefícios de modo a que os usuários ou respondentes percebam e se beneficiem desta experiência/participação. A concretização destes benefícios possibilita que os participantes acreditem nas vantagens de participar do processo de avaliação. • Treinar o grupo de trabalho na preparação e na programação da walkthrough. • Propor os grupos de participantes; em geral, seis a dez grupos de até cinco pessoas cada são suficientes. Quando a população envolvida for muito grande, são utilizados múltiplos grupos. Neste caso, são constituídos dois a três grupos para cada 100 pessoas, tais como: pessoal de suporte, funcionários de escritório, pessoal de segurança, etc. • Explicar aos participantes o que se espera deles em termos de melhorias, de feedback ou resultados, de oportunidade de comunicar-se e de serem ouvidos e, se necessário, a sua remuneração durante o trabalho. • Determinar/estimar o tempo de realização da própria walkthrough e quantos grupos vão realizar o percurso – recomendável de 6 a 10 – e quanto tempo cada um deve durar. Para edifícios ou ambientes maiores, mais complexos e/ou mais populosos, será necessário mais tempo. • Prever e incluir o tempo necessário para fotografar e medir – entre 2 e 6 horas. Isto pode ser realizado durante a própria walkthrough, ou por cada participante ou grupo, imediatamente após a mesma. • Prever e incluir o tempo necessário para preparar os arquivos e registros dos métodos, dos participantes e dos resultados – em geral, em uma walkthrough de pequeno porte, a previsão é de duas pessoas por dia. • Verificar limitações e impedimentos (datas, tempo, acesso a ambientes, disponibilidade dos usuários, etc.). • Preparar um plano ou roteiro de trabalho que explicite: quem faz o que, quando e onde. Organização dos participantes: • O objetivo é poder contar com as pessoas certas no lugar certo e no momento oportuno. Também é conveniente ter como exemplo um relatório já concluído, com o objetivo de orientar passo-a- passo o processo da Walkthrough – esta medida é particularmente eficaz quando os grupos de participantes são formados exclusivamente por usuários. • Na composição dos grupos de participantes, é conveniente contar com a ajuda da instituição contratante, para evitar a participação de pessoas com tendência a dominar ou a interromper Observando a Qualidade do Lugar: Procedimentos para a Avaliação Pós-Ocupação 32 desnecessariamente os outros nos trabalhos de grupo, bem como para assegurar a variedade de experiências, contextos e opiniões em cada grupo. • Confirmar com alguns dias de antecedência a presença das pessoas nos encontros ou reuniões de trabalho. • Finalizar o programa e compartilhar as descobertas e resultados com a administração e com os usuários dos edifícios/ambientes afetados. Preparativos (Daish et al 1982 apud Brill et al 1985: 243): • Conseguir plantas dos pavimentos e outros documentos significantes e/ou informativos que possam auxiliar na análise e/ou diagnóstico. • Os participantes de um Grupo de Tarefa devem saber os nomes de seus colegas, conhecer suas tarefas e ter à mão os formulários e o equipamento necessário. É conveniente preparar uma listagem do equipamento necessário para avaliar o exterior e/ou o interior do edifício ou ambiente. Conduzindo uma walkthrough Nesta fase do trabalho, os resultados e as atividades e intenções dos participantes, suas avaliações e as características dos ambientes, fotografias, medições e recomendações devem ser registrados e devidamente arquivados. Torna-se importante: • Verificar a organização dos planos e arranjos – se as salas de reunião são suficientemente grandes e com um nível adequado de privacidade. • Planejar os trajetos a serem percorridos, para otimizar o tempo e, quando possível, preparar uma análise gráfica das informações que possa ser consultada durante o percurso com o objetivo de alimentar os debates e discussões na reunião de avaliação. • Durante a reunião introdutória (duração máxima de 30 minutos), os participantes dos grupos devem ser esclarecidos sobre (a) os objetivos e benefícios da walkthrough; (b) os procedimentos para registro de comentários, fotos e medições; (c) as atividades e responsabilidades de cada participante, quais registros devem fazer, em que instrumentos, com que notação e simbologia gráfica. O objetivo desta reunião é ressaltar a importância das suas atividades, sua utilidade/importância para o trabalho, bem como esclarecer sobre o que se pretende realizar com o edifício/lugar com que intenções. • Conduzindo uma walkthrough (de 30 a 60 minutos), inicialmente é conveniente esquematizar o percurso e estimular o grupo a acrescentar seus percursos paralelos. Enfatizar as questões mais importantes relacionadas com a avaliação de cada ambiente ou lugar a ser visitado. Durante a walkthrough, Brill et al (1985: 243) sugerem algumas perguntas para motivar a discussão com vistas a explicitá-las com mais detalhes: O que você considera importante neste ambiente ou lugar? O que parece estar funcionando? O que parece não estar funcionando? O que acontece ali? O que deve ser mantido como está? O que deve ser modificado? Walkthrough 33 Também deve ser perguntado: "Você pode dizer-me mais alguma coisa sobre...?" . Registre a essência do que está sendo dito em folhas especialmente preparadas - e evite fazer interpretações. Considere ainda: • Fazer fotografias para ilustrar questões e recomendações, especialmente relacionadas com o percurso. Se forem necessárias fotos adicionais, elas devem ser feitas posteriormente. • Neste primeiro percurso, não são realizadas medições de qualquer natureza; em princípio, considera-se que um avaliador experiente pode utilizar seu conhecimento e seus sentidos como “instrumentos” de medição das condições de conforto e bem estar (Zube, apud del Rio 1991). • Quando forem identificados ambientes ou lugares que necessitem medições complementares
Compartilhar