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Livro_Gestão Ambiental em Bibliotecas_1ed_2012(1)

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Gestão ambiental 
em bibliotecas 
L 
~ -=-
v... UNIVERSIDADE FEDEAAL DO RIO GAANDE DO SUL 
Reitor 
Carlos Alexandre Netto 
Vice-Reitor e-Pró-Reitor 
de Coordenação Acadêmica 
Rui Vicente Oppermann 
EDITORA DA UFRGS 
Diretora 
Sara Viola Rodrigues 
Conselho Editorial 
Alexandre Ricardo dos Santos 
Carlos Alberto Steil 
lavinia Schüler Faccini 
Mara Cristina de Matos Rodrigues 
Maria do Rodo Fontoura Teixeira 
Rejane Maria Ribeiro Teixeira 
Rosa Nívea Pedroso 
Sergio Antonio Carlos 
Sergio Schneider 
Susana Cardoso 
Valéria N. Oliveira Monaretto 
Sara Viola Rodrigues, presidente 
~ 
Mil li@$ 
EDITORA Gestão ambi~ental 
em ·bibliotecas . 
Aspectos interdisciplinares 
sobre e,rgohomia, segurança, 
condicionantes ambientais 
e estética nos -espaços 
de informação 
Jussara Pereira Santos 
Organizadora 
Alexandre Rava de Campos 
Carolina Fa,uth Vassão 
. Célia Regina Simonetti Barbalho 
Cristián_ Herrmann 
Gilberto Jo.sé Corrêa da Costa 
Hanns-Peter -Struck 
Juan José-Mascará . . . ' - . . . . 
. Jussara Pereira Santos. (Org.) 
Lucia Mascará 
Maria -do-Rocio Fontoura Teixeira 
Màrília de Oliveira Santos 
Tânia Marli Stasiak Wilhelms 
( 
© dos autores 
P edição: 2012 
Direitos reservados desta edição: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
Projeto Gráfico: Carla M. Luz--.tatto 
Revisão: Fernanda Kautzmann 
Rosangela de Mello 
Renata Baum Ortiz 
Editoração eletrônica: Alexandre Giaparelli Colombo 
A grafia desta obra foi atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, que 
entrou em vigor no Brasil em 1 o de janeiro de 2009. 
G393 Gestãó ambiental em bibliotecas: aspectos interdisciplinares sobre ergonomia, segurança, condicionantes 
ambientais e estética nos espaços de informação f .organizadora Jussara Pereira Santos. - Porto 
Alegre: Editora da UFRGS, 2012 · 
128 p. : il. ; 21x25cm 
(Série Gr~duaç~o) 
Inclui figuras, quadros e tabelas. 
1. Biblioteconomia. 2. Gestão ambiental -Bibliotecas. 3. Ergonomia- Bibliotecas. 4. Leiaute-
Bibliotecas. 5. Programa de necessidades- Construção-Ampliação- Reforma- Bibliotecas. 6. Bibliotecas-
Projetos- Condicionantes. 7. Bibliotecas- iluminação. 8. Acervos- Proteção contra incêndios. 9. 
Bibliotecas -Edificações - Segurança - Immdaçóes -Ventos fortes. 1 O. Biblioteconomia - Comunicação-
Cor. ll. Bibliotecas- Sinalização. 12. Bibliotecas- Preservação- Suportes informacionais. I. Santos, 
Jussara Pereira. TI. Série. 
CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. 
(Jaqueline Trombin- Bibliotecária responsável CRB10/979) 
ISBN 978-85-386-0179-l 
CDU 025.1 
Sumário 
Apresentação I 7 
Jussara Pereira Santos 
A biblioteca e seus ritos ambientais I 9 
Célia Regina Simonetti Barbalho 
Ergonomia em bibliotecas I 23 
Tânia Marli Stasiak Wilhelms 
Leiaute de bibliotecas I 39 <-:_-
Maria do Rocio Fontoura Teixeira 
Jussara Pereira Santos 
Programa de necessidades para construção, ampliação ou reforma de uma biblioteca l 4 7 
Jussara Pereira Santos --
Tânia Marli Stasiak Wilhelms 
Condicionantes ambientais do projeto de bibliotecas I 55 
Juan José Mascará 
Lucia Mascará 
Iluminação de bibliotecas /61 
Gilberto José Corrêa da Costa 
Proteção contra incêndios em acervos /71 
A)exandre Rava de Campos 
/ ' 
A segurança das edificações de bibliotecas contra inundações e ventos fortes /85 . 
Carolina Fauth Vassão 
Jussara Pereira Santos 
A cor na BibliotecoQomia e na Comunicação /95 
Hanns-Peter Struck 
A sinalização em bibliotecas /1 O 1 
Cristian Herrmann 
\ A preservação doS. suportes informacionais em bibliotecas /113 
Marília de Oliveira Santos 
Jussara Pereira Santos 
Sobre os autores /125 
1 
1 
1 
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1 
1 
1 
1 
Apresentação 
A preservação dos acervos e a criação de ambientes de trabalho saudáveis para os trabalhadores e 
usuários de bibliotecas têm sido o foco da disciplina BIB03022 - Gestão de Recursos Informacionais, 
desde que o Currículo 2000 do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do 
Sul (UFRGS) foi implantado. Procura-se familiarizar o aluno com vários temas das áreas da Engenha-
ria, Arquitetura, Administração e Ergonomia de modo a tàcilitar-Íhe o diálogo com os especialistas 
no momento de tomarem decisões sobre o espaço físico de suas bibliotecas. Assim, os conteúdos 
como ergonomia, programa de necessidades, iluminação, condicionantes ambientais, proteção contra 
incêndios, inundações e ventos, leiaute, cor, além da preservação dos suportes informacionais, foram 
abordados neste documento. 
A ideia de sua composição nasceu antes mesmo do Currículo 2000, quando convidamos o arquiteto 
Juarez Ribeiro para ministrar uma palestra em sala de aula. Houve uma excelente recepção do tema pelos 
alunos e, por esse motivo, em vários semestres seguintes, repetimos a atividade. A partir disso, Juarez 
propôs a organização de um documento com um conjunto de textos mais específicos, suprindo assim 
uma lacuna com relação a material em língua portuguesa, para alunos de graduação. Sugeriu nomes como 
Juan José Mascará, Lucia Mascará, Gilberto José Corrêa da Costa e Hanns-Peter Struck, que prontamente 
atenderam ao chamado e escreveram os textos que aqui se encontram. 
Outros autores como Alexandre Rava de Campos e Tânia Marli Stasiak Wilhelms tornaram-se paceiros 
importantes e, semestralmente, ministram palestras para os alw1os da disciplina. 
Alguns ex-alunos do curso de Biblioteconomia da UFRGS também estão presentes nesta coletânea. 
Convidamos Marília de Oliveira Santos para escrever sobre sua especialidade, a preservação de documen-
tos, e Carolina Fauth Vassão e Cristian Herrmann para comporem capínüos a partir de seus trabalhos de 
conclusão de curso, ambos com conceito A. O primeiro versa sobre a segurança de edificações em biblio-
tecas e o segundo discorre sobre sinalização em bibliotecas. Tornar conhecidos seus excelentes trabalhos 
finais é uma grande alegria. 
Não poderíamos deixar de mencionar duas colegas professoras: Maria do RoCio Fontoura Teixeira, 
grande conhecedora da área de Administração, que compôs conosco o texto sobre leiaute e Célia Regina 
Simonetti Barbalho, professora do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Amazonas, que 
brindou-nos com o capítulo "A biblioteca e seus ritos ambientais". Sua leitura comprovará a razão de ser 
o primeiro texto da coletâneà. 
Além de agradecer ao mentor intelectual deste documento, o arquiteto Juarez Ribeiro, desejamos 
igualmente agradecer o apoio recebido pela então alw1a Sônia Brambilla, que se encarregou das primeiras 
revisões e sempre nos estimulou a prosseguir na tarefa de sua organização. É evidente que sem os autores, 
especialistas nas várias temáticas, nada teria acontecido. A qualidade dos textos e a doação de seu tempo 
serão sempre reconhecidos. 
Por último, porém não menos importante, agradecemos à Profa. Iara Conceição Bitencourt Neves, 
chefe do Departamento de Ciências da Informação (2004-2008) da Faculdade de Biblioteconomia e 
Comunicação da UFRGS, pela apresentação desta obra à Editora da UFRGS, que compreendeu sua 
importância para os alunos de graduação em Biblioteconomia. 
Da ideia inicial até sua publicação vários anos decorreram. Outras atividades exigiram nosso 
tempo e esforço e atàstaram-nos da taretà. Mas, tudo tem sua hora e agora temos a imensa alegria de 
colocar à disposição de alunos de graduação (e quem sabe até de alguns colegas bibliotecários) um 
livro com conteúdo voltado para tornar nossas bibliotecas em espaços mais prazerosos de trabalho, 
estudo, leitura e lazer. 
]ussara Pereira Santos 
Organizadora 
8 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !! 
A biblioteca e seus ritos ambientais 
Célia Regina Simonetti Barbalho 
INTRODUÇÃO 
A variedade de acepções sobre o espaço dá margem a generalizações que envolvem tanto realidades 
Hsicas, como lugares concretos, quanto abstrações metaforizadasque se reportam a sensações, qualidades 
e julgamentos que passam a compor os espaços cognitivos, ambos passíveis de apreensão pelo sujeito 
que o interpreta e lhe dá significado. Nesse contexto, tanto lugares cognitivos refletem o concreto como 
esses são influenciados por aqueles e emitem significados que podem operar uma tempestade de sentidos. 
Definir o espaço, sobretudo o concreto, é aceitá-lo pela sua materialidade, pelo que estes espaços 
concretos de fato são - como o campo, a cidade, o bairro, o edifício, a sala - e que possibilita criar uma 
linguagem espacial que permite falar de uma coisa diferente do espaço em si, da mesma forma que a lin-
guagem sonora, por exemplo, não tem a função de falar dos sons, como explica Greimas ( 1981). 
O espaço pode ser tomado, na visão semiótica, 1 como um texto, 2 uma ordenação orgânica de sentido. 
Como o texto, o espaço envolve: 
a) o fixo, que vai do mais amplo ao mais restrito, ou seja, do arranjo territorial (localização das 
cidades, dos países), passando pelo arranjo urbano (a cidade em si, seu bairros, suas regiões), 
pela aglomeração das construções, seus contextos, localizações, pela arquitetura dos aparelhos 
urbanos, sua técnica construtiva, seu estilo e, por fim, pela composição das estruturas internas, 
suas divisões, seu mobiliário; e 
b) o móvel, resultado do uso do espaço, do movimento do homem, sua circulação no elemento 
fixo, sua mobilização corporal que revela a dinâmica do espaço afetada pela intertàce das 
pessoas com seu ambiente. 
Ambos os elementos, fixo e móvel, interagem com a percepção visual, auditiva, olfativa e térmica 
permitindo àquele que o vivencia experimentá-lo e interpretá-lo. 
Ao determinar suas coordenadas pessoais dentro do espaço fiXo, o homem cria zonas de distâncias ou de 
aproximação estabelecendo o que Edward Hall ( 1966) entende ser uma dimensão oculta que delimita implicita-
mente os limites de deslocamento do corpo e sua relação com outros corpos. Desenvolvida entre as décadas de 
1950 e 1960 e denominada de proxêmica, a teoria de Hall baseia-se no estudo do território pessoal como um 
espaço mínimo onde as relações humanas se dão, de modo a permitir a interação interpessoal. O autor aponta 
quatro distintas zonas de distância em que as pessoas vivem, que são a pública, a social, a pessoal e a íntima. 
Tais zonas, quando visitadas pelos estudos de Panero e Zelnik (1996), são a soma das intenções, 
interações, conhecimentos e comportamentos sociais que regem o espaço pessoal. 
1 Há, pelo menos, três grandes teorias semióticas, atualmente. Uma, elaborada a partir dos estudos do norte-americano Charles 
Sanders Peirce; outra, gue reúne os estudos do russo Juri Lotman c da Escola de Tartu, e a última, gue se construiu na França 
a partir da obra do pesquisador lituano-francês Algirdas Julien Greimas. Para este estudo, é adotada a linha da escola francesa. 
2 Neste estudo, o cntendimenro de texto está estreitamente ligado à concepção semiótica que o vê como uma malha entrela-
çada de relações que dão sentido e que possibilitam uma comunicação, uma interação entre o que é expresso, a forma como 
é expressado c o conteúdo do que é expresso. 
Fase Distante 
Fase Distante Fase Próxima 
15cm 45cm O 
r+-..+--~ 
I 
Fase Distante Fase Próxima 
360 em 210 em O 210 em 120 em O 
r+---,+------~ ,+-------~-----------~ 
I I I 
Fase Próxima 
~~ -~ o 
r+-----------------*-------------------~ 
I I 
Fase Próxima 
750em O 
~--------------------------------------~ 
I 
Figura 1 - Zonas de distâncias propostas por Edward Hall, em 1966. 
A semiótica entende por proxêmica (Greimas; Courtés, 1989) uma disciplina que analisa a disposição 
dos sujeitos e dos objetos no espaço, bem como as significações resultantes do uso que tais sujeitos tàzem do 
10 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g 
espaço. Para explorar a linguagem espacial, ela preocupa-se em entender os critérios que organizam tais relações 
considerando que as percepções são provenientes do mundo exterior - exterioceptividade - mas, que estão 
relacionadas a pressupostos individuais de cada sujeito- interioceptividade- que são resultantes da percepção 
que ele, o sujeito, possui de seu próprio corpo no espaço- proprioceptividade (Greimas; Courtés, 1989). 
Com efeito, a relação homem-espaço é construída pelo que é visto na forma externa e interpretado a 
partir do repertório pessoal de cada sujeito, ou seja, pelo modo como ele vivencia, absorve e julga o que está 
posto no ambiente, mostrando, através de seus movimentos, os valores que o fizeram definir sua trajetória. 
Jean-Marie Floch (1995, p. 22), ao analisar os trajetos dos viajantes do metrô de Paris, afirma que"[ ... ] 
um trajeto não é uma sequência gratuita de movimentos e de paradas, uma pura gesticulação. Escolher, 
analisar do ponto de vista da semiótica os trajetos dos viajantes, é acreditar que eles têm sentidos, mesmo 
se não soubermos ainda como articulá-lo na construção do seu significado."3 
Para o semioticista francês, os trajetos são textos, semioticamente falando, e as diferentes formas de 
vivê-los constituem programas de ação que correspondem aos percursos narrativos mínimos do transeunte; 
assim visto, o trajeto é marcado pela sequência de atos do sujeito que o realiza. O sujeito transeunte deve 
obter as competências necessárias à ação e execução de suapeifonnance, fazendo coexistir um ser que vê e 
um ambiente que se propõe a ser visto. 
Os trajetos, ao se concretizarem, mostram uma sequência macrogestual (em movimento versus parado; 
lento versus acelerado) ou proxêrnica (próximo versus distante) proposta no sentido da busca de algo e, portan-
to, constituída de valores para um sujeito que os tornam objeto de valor. De fato, a escolha do trajeto indica 
táticas de uso do ambiente, movimentos/gestos próprios que a estruturação da biblioteca possibilita fazer. 
Nesse sentido, a biblioteca pode ser vista como um sujeito competente, um actante que, para a semiótica, é 
aquele que sofre ou realiza o ato (Greimas; Courtés, 1989), podendo ser tanto um ser quanto uma pessoa, 
já que participa do processo através da organização do percurso que deseja que o sujeito-usuário percorra. 
Contudo, o trajeto do usuário da biblioteca resulta de uma escolha proveniente da exterio e interioceptividade 
dele, mantendo a relação do corpo do sujeito com o espaço utilizado- proprioceptividade. Com efeito, o usuário 
ao determinar sua rota, mostra claramente o modo como ele vê e vivencia a. biblioteca, como ele a percebe, e 
ela, ao se colocar na condição de enunciadora, assume o modo como articula o que deseja q:ue o usuário faça. 
ESPAÇO DEMARCADO 
·A arquitetura, ao demarcar as fronteiras e limites do homem no espaço construído, opera de forma 
g!obalizante na relação espaço-tempo do fruidor e age ativamente sobre a sua mobilidade corporal. De 
fato, o movimento humano dentro de um determinado espaço é resultado da percepção que estabelece a 
consciência espacial e defme o deslocamento do corpo a partir, inclusive, da interpretação de característi-
cas bi e tridimensionais como extensão, tamanho, forma, profundidade, largura, distância, entre outros. 
Pode-se afirmar então que o movimento humano é um ato de comunicação instalado através de seus 
deslocamentos e efetivado pelos seus trajetos no ambiente delimitado pela obra arquitetônica. 
Uma produção arquitetônica não é ingênua, pelo contrário, ela se articula para colocar-se, de certo 
modo, no dia a dia daquele que ela abriga e que convive com suas formas interativa e subjetivamente. 
Logo, o material empregado na construção, o projeto do edifício, o estilo adotado, as cores e formas 
que compõem o conjunto arquitetônico e a localização no meio são elementos constitutivos do plano de 
expressão e de conteúdo que manifestam o sentido do texto. Este, por sua vez, possui uma complexidade 
de interpretação que não se esgota no que é visível ao olhar físico, mas revela-se também pelos sentimentos 
3 No original: "[ ... ]un trajet n'est pas une suíte graruite de mouvements et de stationnents, une pure gesticulation. Choisir 
d'analyser sémiotiquement les trajets des voyageurs, c'est postuler qu'ils ont du sens, même si l'on ne sait pas encore comment 
articuler celui -ci comment en construire la signification." 
g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 11 
e sensações que provoca no seu observador-fruidor, muito bem explorado, por exemplo, pelos parques de 
diversão através da atração Casa do Terror ou Trem Fantasma, sempre evocando através do negro da parede, 
da pouca iluminação, da textura empregada ou de outras estratégias, impressões de medo, pavor, terror. 
Efetuar estudos sobre o significado do espaço construído para bibliotecas, implica primeiramente observar 
que ela só pode ser apreendida se relacionada a um lugar diferente, ou seja, ela está colocada para ser assumida 
como espaço de informação e de conhecimento, independente das variáveis que possa apresentar - pública, 
especializada, escolar, universitária, nacional, etc.- de modo a mostrar-se como significante que, ao ser ar-
ticulado com o seu significado, estabelece urna relação de uso que lhe é próprio. De certo modo, analisar o 
espaço-biblioteca é entender os sentidos despertados no usuário e colocá-lo como um lugar de enunciação 
cuja intencionalidade das marcas intertextuais que produz são orientações construídas para o uso do ambiente. 
O edifício da biblioteca está investido de valores que são simbolicamente construídos por duas dimen-
sões que lhe dão um sentido amplo. A primeira é a de contribuir para o desenvolvimento do indivíduo 
- valor de base - e a segunda é a de proteção aos bens culturais que estão sob sua guarda, facilitando, pela 
frequência espacial, a acessibilidade ao conhecimento - valor de uso. 
Assim vistos, os prédios não são indiferentes, neutros; eles se inserem no cotidiano, influenciam o 
universo urbano, a imagem da cidade e, consequentemente, a própria imagem da biblioteca e seu interior 
tanto pode invocar um sentido de disposição, de acessibilidade, como de escolha, de exposição, de clausura. 
De fato, o edifício da biblioteca é urna manifestação de linguagem para contemplação dos transeuntes. Sob 
o olhar do usuário, essa imagem comunica sua função, seus significados plásticos e icônicos, afirmando 
sua presença no contexto no qual se insere, provocando ou não os passantes e despertando, no público, 
sentidos que variam de acordo com a aparência geral do objeto. 
Construído para abrigar um acervo que venha a ser utilizado pelo homem, os edifícios recém-construí-
dos também manipulam seus usuários, pela forma como se apresentam ou como se organizam expressando 
um conteúdo, uma harmonia, urna composição e um equilíbrio que deverão estar em conjunção com o 
todo que ele representa. 
Nesse sentido, o arquiteto inglês Faulkner-Brown (1993), em publicação da Federação Internacional 
de Associações de Bibliotecários (IFLA), recomenda que os edifícios obedeçam dez exigências para 
melhor efetivar seu uso e criar urna ambiência capaz de responder aos anseios dos que a procuram, que 
são: ser compacta, adaptável, acessível, extensiva, variada, organizada para impor uma confrontação 
máxima do leitor e do livro, confortável, com ambiência regular para uma boa conservação dos docu-
mentos, segura, econômica e conservada. 
A biblioteca é então apresentada como um código que deve ser dominado pelo usuário, pois seu uso 
não é intuitivo, mas apreendido. Ao dominar o código, ele passa a ter reais condições de uso e de captação 
dos mais variados significados produzidos. 
A localização do conjunto arquitetônico da biblioteca no espaço urbano é resultado de um projeto 
político da municipalidade, que desencadeia efeitos de sentido sobre aqueles que a usam. Quando central 
é manipulada pelos atributos de prestígio e poder que ela exerce principalmente se estiver próxima à 
Prefeitura, ao Tribunal de Justiça, à Assembleia Legislativa, por exemplo, edificações que simbolizam o 
poder constituído e legítimo de urna cidade. Quando a construção se dá em espaço periférico como bairros 
afastados, a localização é manipulada pelo sentido de ampla disseminação dos bens culturais, revestido 
da ideia de popularização do saber, como descreve Nogueira (1985, p. 66-68), na sua dissertação sobre a 
Biblioteca Pública de Santa Luzia, Minas Gerais, afirmando que"[ ... ] quanto à localização geográfica, a 
biblioteca está situada num dos pontos privilegiados da 'parte alta' da cidade, que, por sua vez, é o centro 
econômico-político do município. Fica fora da periferia, zona de concentração da classe trabalhadora 
[ ... ]".Tal assertiva também é reforçada por Anne-Marie Bertrand e Anne Kupiec (1997) para quem a 
decisão de construir um prédio de urna biblioteca é resultante de um projeto cultural, urbano e político 
12 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g 
dos governos, pois a escolha do lugar pode dotar o prédio de uma atmosfera de poder, se central, ou de 
intimidade, se instalada no bairro, o que requalifica o espaço periférico atribuindo-lhe reconhecimento. 
Já as fachadas se colocam, de certo modo, como uma fronteira que separa o interior do exterior, manifestan-
do valores que, implícitos na obra arquitetônica, criam efeitos de curiosidade, de familiaridade, de intimidação, 
de legitimidade, de abertura, de confronto, de nostalgia, de rejeição, de profanação ou ainda de inteira aceitação . 
.A5 bibliotecas chamadas por Michel Melot ( 1996) de .A5 Novas Alexandrias, como referência à grande 
biblioteca egípcia da Antiguidade, usam as suas fachadas como uma enunciação para o grande espetáculo 
que ocorre em seu interior. Não querem não ser vistas, já que são monumentos que se colocam no espaço 
urbano como uma provocação, uma ruptura, um descontinuísmo da ordem urbana, como um convite ao 
encontro com a cultura . .A5 fachadas não representam uma fronteira, uma vez que, tanto no novo edifício 
da Biblioteca Nacional da França, em Paris, quanto no da British Library, em Londres, uma praça pública 
se coloca como intermediadora entre o espaço da rua e o acesso à biblioteca, incitando o diálogo através da 
disposição de bancos postos à contemplação do suntuoso monumento, como afirma Dominique Perrault4 
(apud Blasselle; Melet-Sanson, 1990) ao definir o seu projeto para a da França como, 
[ ... J uma praça para Paris. Uma biblioteca para a França. Com seus ângulos como quatro livros abertos 
face a face e que delimitam um lugar simbólico [ ... ] A esplanada, grande como a Place de la Concorde, 
foi concebida como uma praça pública acessível por três lados por seus acessos. 5 
&sim postos, o regime de presença da biblioteca no espaço urbano a dispõe para contemplação do 
transeunte e a coloca como um convite para a entrada no seu fascinante mundo real e imaginário ou como 
uma muralha posta para a defesa do patrimônio que guarda. 
O sentido de abertura ou fechamento se prolonga para o interior, na medida em que o transeunte, ao aceitar 
o convite e entrar, depara com wnas funcionais, organizadas de modo a facilitarem ou não a determinação do 
seu trajeto. Tais wnas possuem funções e requisitos distintos, como pode ser observado no quadro a seguir. 
QUADRO 1 - Zonas físicas da biblioteca 
ZONAS DA RECOMENDAÇÕES 
BIBLIOTECA FUNÇÃO REQUISITOS ÁREAS GERAIS 
1 Fora do controle de 
ruídos 
Informação geral 
Guarda-volumes 
Banheiros 
Receber, Funcional Telefones públicos 
orientar Cafeteria 
e distribuir Expositores gerais Aclimatação adequada 
Zona de dos usuários Sinalizada Reprografia 
Acolhimento para as 
2 Dentro do controle demais 
de ruídos dependências Bom conforto 
da biblioteca ambiental Catálogo 
Balcão de atendimento Iluminação 
Expositores de novas fluorescente 
Iluminação de boa aquisições de 20 amperes 
qualidade 
Leitura informal como 
jornais, revistas 
genéricas 
Cononua 
4 Ver Perrault, D. Bibliothêque Nationale de France 1989-1995. Vis à Vis, Paris, n. 2, 1995. Apud Blasselle; Melet-Sanson, 
1990, p.99, 108. 
5 No original:"[ ... ] w1e place pour Paris. Une bibliothêque pour la F rance. Avec ses tours d'angle comme quatre livres ouverts 
se faisant face et qui délimitent un lieu symbolique. [ ... ] L'esplanade, grande comme la place de la Concorde, est conçue 
comme une place publique accessible sur trois côtés par des emmarchements." 
g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 13 
ZONAS DA RECOMENDAÇÕES 
BIBLIOTECA FUNÇÃO REQUISITOS ÁREAS GERAIS 
3 Atendimento 
Balcão de devolução e Umidade do ar: 
empréstimo em torno de 
Acolhedora Orientação bibliográfica 40 a 70% 
-··-
4 Estudo/Consulta 
Individual Iluminação: 
Grupo 100 amperes 
f--
Confortável 
5 Uso de material 
especial 
Vídeo Mesas: 
Zona de Atender Microformas 1 pessoa: 1,10 x 0,90 
Prestação de às Áudio 4 pessoas: 1,80 x 1 ,20 
Serviços demandas SI ide Redonda para 4 
informacionais pessoas: 1 ,20 cjl 
Agradável 
6 Exposição 
Fixa 
Móvel Controle do nível de -- ruídos 
7 Auditório 
8 Áreas especiais 
Infantil 
Cegos 
Outras 
9 Livros Segurança contra 
furtos e incêndios. 
Armazenar Aclimatação 10 Periódicos 
Umidade do ar em 
Zona de os recursos adequada ao 
torno de 55%. 
Estoque informacionais suporte 
Iluminação 
11 Materiais especiais fluorescente com filtro 
----·-- distante das estantes 
12 Referência entre 0,80 a 1,70. 
·- -·-
13 Recebimento e 
expedição do material 
Aquisição 
Intercâmbio Disposta de modo a 
permitir fácil acesso à 
14 Processamento coleção e ao catálogo, 
Processar Técnico quando este não for 
os recursos Controle de Registro automatizado 
informacionais 
temperatura Catalogação 
Zona de Classificação 
Serviços Indexação Umidade do ar: 45% 
Internos 
Administrar Controle do Alimentação da base de 
os serviços 
nível de dados 
necessários 
ruídos Preparo físico 
para o bom 
funcionamento 15 Direção e Secretaria 
da biblioteca 
16 Banheiros 
17 Encadernação 
fonte: Barbalho, 2000. 
A organização interna da biblioteca pode ser vista como um microuniverso urbano que se alterna 
entre wnas mais densas, como as de acolhimento- igual às áreas centrais de uma cidade -, de prestação 
14 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • fZ 
de serviço, com espaços de convívio entre o saber e o usuário que se manifestam através de um hall, um 
átrio, uma praça com cruzamentos que permitem a integração, e de zonas menos densas como as destinadas 
aos serviços técnicos, igual à periferia. A disposição do espaço interno não é ingênua; ela é, sim, carrega-
da de efeitos de sentido que manipulam o uso do espaço cultural e podem evocar o sentido de unidade, 
quando centraliza em um único lugar a coleção, ou de disponibilidade, quando, ao procurar responder à 
diversidade de públicos, setoriza seu acervo em espaços distintos, ou, ainda, de adaptabilidade, quando 
distribui sua coleção de acordo com os níveis dos usuários como o infantil, o adulto, o deficiente visual. 
Uma outra forma que expõe a intencionalidade do arranjo espacial pode ser entendida a partir da 
localização do acervo na estrutura interna: se central, mostra que ele é considerado o bem mais importante, 
o que a biblioteca possui de mais valioso, que deve ser mais bem protegido, como se fosse o seu coração 
e, ao adotar essa postura, ela assume tacitamente que valoriza mais a guarda dos artetàtos culturais e que 
sua missão é a preservação e a conservação. Já ao determinar que o uso do espaço central seja destinado a 
exposições culturais, ela indica valorizar o acesso a qualquer tipo de informação porque também distribui 
seu acervo pelo ambiente que dispõe. 
Ao analisar a disposição do acervo no interior dos edifícios, Na varro ( 1946) os classifica em: 
• Vertical: com sala de leitura iluminada por ambos os lados, onde os livros estão dispostos em estantes, 
as quais são colocadas junto às paredes, e os depósitos estendem-se perpendicularmente pelos diversos 
pavimentos, como é o caso da Biblioteca Nacional do Chile, em Santiago. O acervo é valorizado pelo 
olhar e, como no estilo boulleano, a contemplação da obra na estante conduz à ideia de relicário, posto 
para ser admirado, visto sob todos os ângulos, de modo a fazer-se presente em qualquer olhar. Assim 
colocado, o arranjo valoriza os artefatos culturais ao expô-los e desperta, no usuário, um sentimento 
de impotência de assimilação de todo o conhecimento ali armazenado. Além de reforçar a metáfora da 
biblioteca como memória do mundo, esse regime de organização da visibilidade do acervo indica que 
ele não quer não ser visto como um agente de desenvolvimento, mas sim, como um lugar de guarda. 
• Paralelo: com amplo salão de leitura, que está disposto em sala diferente da destinada ao acervo, 
embora em alguns casos esse esteja visível ao usuário, porém fora do seu alcance, como é o caso da 
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Brasil. Separado do usuário, o arranjo do acervo aponta que o 
convívio direto é algo proibido, que sua intenção é de preservar os bens culturais mostrando a biblioteca 
como uma zelosa instituição que, dado o regime como dispõe a coleção, quer não ser vista pelo leitor. 
• Circular: com o balcão de atendimento disposto em um círculo bem ao centro do salão de leitura, na 
área destinada aos leitores, e com os depósitos para o acervo postos entre o balcão e o salão, como a 
Biblioteca do Congresso, nos Estados Unidos. Valorizando a continuidade, essa exposição do acervo 
usa da estratégia de cumplicidade com o usuário, já que disponibiliza no mesmo ambiente o acervo 
que vai ser consultado e que, portanto, é organizado a partir de um querer ser visto pelo usuário. 
Vê-se, dessa forma, que a distribuição interna do espaço pode ser constituída a partir da geração de 
um sentido de convívio, de sociabilidade que se acentua quando a biblioteca mantém um cate,6 uma lan-
chonete, por exemplo, onde a conversa e a troca de ideias entre os usuários pode permitir o rompimento 
do isolamento natural da leitura ou, ainda, quando há a concepção de um ambiente destinado a debates, 
reuniões, clube de leitores, que permite a manifestação dos usuários e assim a instituição passa a ouvir o 
que o coletivo pensa sobre o assunto proposto para discussão. 
6 Na Biblioteca de Orléans, na França, a caíeteria ocupa 143m2 do mezanino- 50% do espaço- e está alocada ao lado do 
setor de cópias. 
g • GESTÃOAMBIENTALEM BIBLIOTECAS • 15 
Para facilitar o processo de distribuição interna do espaço, atentando para a relação de proximidade 
das principais áreas da rona de prestação de serviços, a Escriba Indústria e Comércio de Móveis, em seu 
Manual de planejamento de bibliotecas (1984, p. 4), sugere que se observe a seguinte orientação: 
Empréstimo 
Devolução 
Controle de saída de livros 
Orientação bibliográfica 
Fichário 
Leitura formal 
Leitura informal 
Referência geral 
Leitura geral 
Literatura clássica e moderna 
Mapas 
Periódicos 
Jornais 
Grau de proximidade: 
I 
Mais próximo 
Próximo 
Separado 
Mais separado possível 
Figura 2- Modelo Escriba para distribuição do espaço interno (Escriba ... , 1984, p. 4). 
Observa-se, pelo esquema proposto, que o empréstimo, ·a devolução e o controle de saída de livros 
devem ficar o mais próximo possível; contudo ele tem que ficar o mais separado da leitura formal. 
De fato, o lugar biblioteca deve ser apreendido como uma estrutura construída por uma relação entre 
partes, de modo que seu catálogo, por exemplo, não tenha um significado autônomo, mas sim em corre-
lação com tudo mais que constitui o ambiente. Existe, pois, uma verdádeira teia de significados expressos 
na e pela disposição espacial. 
As análises da disposição espacial de uma biblioteca permitem reconhecer a existência de uma estru-
tura elementar do destinador-produtor e do destinatário-usuário, que se inscrevem no espaço-biblioteca 
e podem ser, desse texto, depreendidos. 
Ao entrar no espaço de uma biblioteca, o usuário assume sua necessidade de contato com os artefatos 
culturais que ela aloca e espera encontrar em seuinterior a solução ou as respostas para suas inquietações. 
O seu espaço interior é criado para funcionar como um oásis de tranquilidade que se contrapõe ao 
mw1do da rua, dos carros, do barulho, ao calor do asfalto ou à umidade de dias frios e à acelerada pressa 
do transeunte. O espaço interior da biblioteca está devidamente preparado, com uma temperatura ideal, 
uma serenidade que, sem pressa, opõe-se à cidade que fervilha, provocando um isolamento ideal para a 
reflexão, para o estudo. Essa imagem é explorada pelo cinema, no terceiro filme da trilogia Indiana ]ones7 
onde o silêncio da biblioteca se contrapõe ao barulho que o herói provoca. 
Ao dirigir-se para o interior da biblioteca o usuário rompe a barreira com o mundo exterior, deixando-se 
ser manipulado pela tentação de uso de um ambiente agradável e capaz de dinamizar sua busca pelo saber. 
7 Ver Indiana ]ones and the Last Cruzade. Direção de Steven Spielberg. Produção de Robert Watts. [Los Angeles J: Paramo um 
Pictures I Lucasfllm, 1989. (126 min.), son., color. 
16 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g 
Observa-se que, em grande parte dos edifícios de bibliotecas construídos contemporaneamente, o 
primeiro espaço de contato, colocado antes mesmo do balcão de informações, apresenta -se como um 
rompimento entre o interno e o externo. Na maioria das vezes são grandes átrios que, no caso da Biblioteca 
Pública de Aichi, no Japão, permite observar, através da vidraça, o exterior. 
Quanto à organização do espaço interno, os edifícios de bibliotecas possuem uma cartografia que os 
divide em dois territórios distintos, sendo um de ampla circulação e outro restrito. Com efeito, as wnas de 
acolhimento e de prestação de serviço estão disponíveis para que rodo e qualquer indivíduo nelas circulem, 
especialmente quando são adaptadas para uso pelos deficientes nsicos, visuais ou auditivos atendendo, desse 
modo, a heterogeneidade dos públicos que a ela se dirigem. Já a zona de serviços internos só é acessível 
aos funcionários, e a de estoque pode ou não ser aberta ao público, embora as recomendações sejam para 
que a biblioteca promova o encontro do usuário com as obras através do contato direto. 
Nessa cartografia, a biblioteca opera um jogo discreto de restrições que ocorre de forma a não criar 
constrangimento ao usuário. Em sua grande maioria a zona de serviços internos está localizada após o 
acervo ou no andar mais elevado, por exemplo. Quando essas áreas necessitam interagir com o usuário, 
como o balcão de referência, elas, na maior parte das vezes, estão colocadas na entrada, propondo-se a ser 
intermediadoras entre o acervo e as necessidades ínformacionais. 
Os balcões de atendimento, por exercerem a função de ligação entre a prestação do serviço de informa-
ção e o usuário, são fartamente exemplificados na escassa literatura sobre arquitetura de bibliotecas. O da 
biblioteca de Ichikawa, no Japão, busca minimizar os impactos causados pelas restrições, apresentando-se 
como uma espécie de supermercado, local que o usuário está acostumando a frequentar, cuja intenção é a 
de criar uma intimidade com o ambiente, que se assemelha com um lugar de consumo, onde a informação 
é o objeto de valor que o usuário busca. 
Ainda quanto à zona de prestação de serviços, um outro ponto sobre a privacidade de uso chama a 
atenção. Trata-se da mesa e da cabina do salão de leitura, que convocam o usuário para escolher entre 
alojar-se em um espaço individualizado e, portanto, restrito, ou, em outro, que privilegia a convivência 
com os demais usuários. 
Um exemplo claro é o da biblioteca da Universidade de Wesleyan, em Middletown, nos Estados Uni-
dos, onde o usuário opta entre usar as cabin~s, locais reservados, ou a mesa, local coletivo. Nesse aspecto, 
o entendimento das dimensões ocultas de Edward Hall ( 1966) vistas anteriormente, permite compreender 
porque a maioria dos usuários elege as cabinas para se acomodarem, na medida em que essas representam 
o respeito ao seu espaço pessoal privado. 
Com efeito, pesquisas americanas (Veatch, 1987) indicam que a preferência por mesas coletivas se dá 
quando do trabalho em grupos e que, nesse caso, 97o/o são compostos por duas ou três pessoas. Veatch 
afirma ainda que a preferência pela privacidade em bibliotecas está relacionada com o ato isolado da leitura 
que envolve o imaginário e as emoções individuais, sendo por isso que a demanda por uma área íntima é 
tão grande, já que a solidão, a intimidade, o anonimato e a reserva passam a ser uma exigência do usuário. 
O autor finaliza afirmando que 
( ... J uma vez que a privacidade envolve o controle de acesso de uma pessoa por outra, provoca implica-
ções no design da biblioteca. Nas áreas destinadas ao público significa o oferecimento de diferentes tipos 
de acomodações de modo que os indivíduos possam fazer escolhas de acordo com suas necessidades 
e desejos por ocasião de cada visita. 8 (Veatch, 1987, p. 364). 
s No original: "[ ... J beca use privacy in volves the contrai of access to oneself by other, ir has ímplications for library designs. 
In public areas means providing different types of seating and study areas so that individua1s may make choice depending 
upon their needs and desires at the time." 
s! • GESTÃO AMBIENTAL EM BJBUOTECAS • 17 
Embora o destinatário-usuário sinta-se investido da competência moda! do querer, elegendo a cabina 
ou a mesa para seu uso, ele, de fato, é manipulado pelo destinador-biblioteca, que não lhe concede o acesso 
irrestrito ao seu ambiente e lhe exige um comportamento cujas marcas são encontradas nas placas que 
solicitam silêncio, que pedem que se desliguem os aparelhos de telefonia móvel nas salas de estudo em 
grupo - as quais são isoladas das demais para se permitir a conversa em tom mais elevado -, nos tapetes 
que abafam o som das passadas, nas luminárias com suas luzes diretas que determinam os locais de leitura, 
no carrinho colocado junto às mesas indicando que as obras não devem ser devolvidas às estantes, no 
porta-guarda-chuva posto junto à entrada para que o chão não fique molhado nos dias de chuva, entre 
outras. Todos esses exemplos são passíveis de ser encontrados em qualquer biblioteca e, especialmente, 
na da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). 
De fato, o uso do ambiente interno impõe normas de conduta e de comportamento que levam o 
usuário a manter o silêncio, por exemplo, indicando um respeito ao uso do espaço coletivo. Isso é obser-
vado pela educação (o falar alto em um ambiente de estudo representa uma má educação), sendo que sua 
ausência se coloca como um rompimento de um código de postura, de bom comportamento, de respeito 
à zona pessoal e íntima, ou seja, há um comportamento espacial (sonoro, gestual) esperado do usuário e 
que pode ser manipulado pela organização espacial. 
Assim posto, a organização espacial funciona como informadora e formadora do comportamento dos 
usuários no interior da biblioteca, fazendo-os agir de acordo com as pistas deixadas no ambiente interno 
da biblioteca. Sob este aspecto, especialmente, Coelho Netto (1979, p. 41) destaca que"[ ... ] o modo de 
disposição e de atribuição de significados ao espaço é na verdade um dos elementos da infraestrutura do 
comportamento humano." 
Ao elencar as dimensões do comportamento humano, os estudos proxêmicos de Hall ( 1966) permi-
tem entender que tais procedimentos são resultantes do respeito às zonas íntima e pessoal, apresentadas 
anteriormente. Tal procedimento social implica a não violação do espaço do outro, mostrando que um 
comportamento é esperado e, portant(), os territórios são estabelecidos para criar uma atratividade ou 
orientar o uso. Isso se dá, por exemplo, com a criação da seção ~nfantil ambientada para o uso de crianças 
com cadeiras e mesas pequenas, com a criação de áreas onde é permitido o fumo ou ainda com a colocação 
de um café que privilegia a socialização e o diálogo, lugar ideal para fluir a conversa. 
Após o usuário ter-se deixadomanipular pelo que está implícito na distribuição interna da biblioteca, o 
contato com o espaço interior apresenta novas marcas através do que está construído- espaço ocupado pela 
construção, pelo concreto ou por qualquer outro material empregado- e pelos ambientes não construídos. 
O espaço construído, edificado, representa uma ocupação, que poderá em um primeiro momento 
indicar uma privação de circulação, ou seja, o prédio da biblioteca é um território cujas fronteiras são 
delimitadas pelas paredes. Nesse sentido, o uso é estabelecido somente para o contato com os artefatos 
culturais ali dispostos, opondo-se ao espaço livre, como as praças, por exemplo, onde é possível realizar 
uma infinidade de atividades como correr, ler, brincar, descansar. 
Assim, o espaço construído, embora possua aspectos positivos como a proteção, o recolhimento, 
espera que o indivíduo nele se coloque - para fazer uso da biblioteca é necessário entrar no prédio - e faz 
com que a obra arquitetônica se apresente como uma limitação à circulação. 
Que estratégia os textos arquitetônicos das bibliotecas poderão utilizar para minimizar os impactos 
causados pela imobilidade de uso do espaço construído? 
Muitos projetos têm privilegiado a criação de áreas de vivências através de jardins internos, como o 
novo prédio da Biblioteca Nacional da França, construído às margens do rio Sena, ou salões de leitura 
voltados para uma grande área de janelas que privilegiam a visão de um bosque, como a biblioteca do 
Ninhama Municipal Besshi Cooper Nine Memorial, no Japão, ou ainda áreas para uma livraria ou um 
café como na Biblioteca N acionai do Rio de Janeiro, no Brasil. 
18 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • 2 
A adoção da estratégia dos jardins permite também a apresentação da análise de duas novas contra-
posições do espaço, que são o natural e o artificial. 
Em verdade, ao dispor elementos da natureza, a biblioteca procura deixar o usuário mais à vontade, 
disjunto da ideia de que o concreto pode esmagá-lo quer por sua verticalidade, quer por seu modo de 
aprisionamento. O espaço natural interage no espaço urbano e este busca se destacar pela imperiosa ne-
cessidade de se propor como um lugar agradável e tranquilo. 
No conjunto arquitetônico de uma cidade, as praças entrelaçam-se aos prédios, proporcionando 
agradáveis locais de descanso e de liberdade, como é o caso do parque localizado em frente ao Museu de 
Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, em São Paulo. 
Sob esse prisma é que muitos arquitetos têm privilegiado composições com a presença da natureza em 
edifícios construídos especialmente para bibliotecas. A natureza apresenta-se como elemento mais próprio 
do instinto humano. O narural aproxima o homem do que lhe é inerente e o atrai para uma atmosfera 
capaz de lhe transmitir serenidade. 
A presença da narureza nos edifícios de bibliotecas, através de jardins, reforça o discurso ecológico do 
homem contemporâneo cuja necessidade de preservar o meio ambiente tornou-se fundamental para sua so-
brevivência. Para estar em conjunto com essa nova ordem e manter uma performance competente, os prédios 
apresentam áreas verdes, com espécies em extinção, as quais mostram que a biblioteca pode e quer participar 
da conscientização preservacionista, fazendo seu usuário reconhecer sua contribuição para a manutenção 
do ambiente; o destinatário, persuadido pela presença de árvores, plantas raras e, por vezes, aves, deixa-se 
manipular por um discurso que, em alguns casos, são falsos. Destaca-se o caso do projeto da nova Biblioteca 
N acionai da França que dá destaque a um imenso jardim interno, com cento e vinte pinheiros silvestres raros 
trazidos da Normandia, mas que possui uma imensa escadaria que dá acesso do nível da rua a uma esplanada 
que serve de base para as quatro torres em formato de livro aberto, toda revestida de pau-brasil. 
Discutindo sobre o espaço da biblioteca e sua arquitetura, Michel Melot ( 1991, p. 177) afirma ser 
ele resultado de um imaginário coletivo que toma forma de um jardim pois"( ... ] ele deve ajustar vastas 
perspectivas, de cantos agrestes, de varandas, de sol. e de sombras ( ... ]"9 , ressaltando a simbologia dos 
lugares que mantêm uma pequena e representativa parcela dos artdàtos culturais produzidos pelo homem, 
tal como o que ocorre com os jardins, que reúnem parte de exemplares da narureza. 
UM REOLHAR PARA O ESPAÇO 
Os recursos informacionais dispotúveis na biblioteca são a sua prin~ipal fonte de atração dos usuários. São 
esses que dão sustentação à maioria dos serviços por ela oferecidos, de forma que o destaque à sua disposição, sua 
organização no conjunto espacial se oferece como ponto fundamental no texto arquitetônico, até porque, como 
apresentado anteriormente por Na varro ( 1946), a decisão sobre seu modo de disposição (se junto ou separado 
do salão de leitura) estabelece o tipo de biblioteca codificado, a saber, como vertical, horizontal ou cirnllar. 
No que tange à organização do acervo, pode-se afirmar que as estratégias do texto contemplam o acesso 
fechado (restrito)- modelo francês-, onde os funcionários é que retiram as obras para consulta, e o aberto 
(amplo)- modelo anglo-saxão-, que permite ao usuário manusear a obra, bem como o conduz a recuperá-la. 
Os efeitos operados pelo acesso aberto estão relacionados às ideias de amplidão, de vastidão e de imen-
sidão, causadas pelo contato direto com a totalidade dos artefatos existentes na coleção. A amplidão remete 
ao poder inferir e decidir sobre o deslocamento para esta ou aquela estante, de poder ser o possuidor/leitor 
de qualquer uma daquelas obras ali ordenadas; a vastidão, como efeito de infinidade - presente no conto do 
poeta argentino Jorge Luís Borges ( 1997), através da Biblioteca de Babel-, relaciona-se com o volume do 
"No original:"[ ... ] il doit méneger devastes perspectives, des coins bocagers, desterrasses, du solei! et de l'ombre [ ... ]". 
g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 19 
acervo, que é sempre composto de um número realmente imenso de obras, de titulas, de letras, de pensamentos 
expressados nos mais diversos suportes e que estão ao inteiro dispor do usuário; e a imensidão é causada pelo 
efeito produzido pelo próprio tamanho do espaço ocupado pela coleção da biblioteca que sempre é marcado 
por uma quantidade imensa de estantes que estão dispostas em amplos vãos livres, conforme a Biblioteca 
Pública de Imari, no Japão, onde o usuário pode ler ali mesmo a obra selecionada, junto ao acervo, sentado 
em uma confortável cadeira, com iluminação individual acionada conforme sua necessidade. 
O poder de escolher a obra, o titulo a ser lido, compara-se ao direito de transitar, de sentir-se parte do 
grupo social para o qual a biblioteca está direcionada, o que permite uma fruição quanto ao uso do material 
informacional disposto para o contato direto na estante, onde o usuário opera uma seleção em conformidade 
com a sua necessidade, seu interesse, seu nível de compreensão e sua capacidade de aquisição de conhecimentos. 
A proibição de acesso ao acervo mostra a ideia de guarda, de preservação, de proteção, uma vez que 
o fechado apresenta-se como restrito, íntimo, secreto. Associam essas marcas a uma imagem austera; 
rígida da biblioteca, que parece não estar disposta a reconhecer o direito de uso infinito dos seus usuários. 
Outra contraposição que se apresenta nas construções de uma maneira generalizada é a verticalidade 
versus horizontalidade, sendo a primeira imediatamente associada ao gótico, na arquitetura, e a segunda, 
à compactação dos ambientes. 
Analisando a ideia da verticalidade, observa-se que ela conduz a dois extremos: ao inferior e ao su-
perior, ou seja, ao início do eixo vertical, que é a base, e ao seu fim, que é o topo; e na construção civil 
podem esses representar uma garagem (inferior) e uma cobertura (superior) de um edifício, por exemplo. 
Uma garagem reporta à ideia de lugar de guarda (estacionamento, depósito); já a cobertura representaum lugar de status, de estar acima de todos, no "topo", de se ter poder. A árvore é vertical: suas raízes (o 
inferior) estão ligadas ao solo que a alimenta, e sua copa (o superior), por sua vez, é repleta de fertilidade 
e disponibiliza os frutos. 
Sob esse aspecto, Anue Kupiec (1997) destaca que a verticalidade também se faz presente, na maio-
ria dos prédios de biblioteca, por uma escada ou mezaninos instaladospara maximizar o uso do espaço. 
Em contraposição, a horizontalidade não prende nada ao solo, mas tem amplitude, infinidade - ao 
olharmos o horizonte temos a ideia de expansão, de algo que não tem fim - que, embora marcada pelos 
limites do terreno e pelos pavimentos, apresenta uma conformidade quando da utilização do espaço, uma 
vez que deve comportar as necessidades daqueles que o usam. 
Em se tratando de bibliotecas, essa contraposição se faz muito presente no novo conjunto arquitetônico 
da Biblioteca Nacional da França, projeto de Dominique Perrault, onde as categorias vertical e horizontal 
são muito marcantes e estão destacadas através da funcionalidade do espaço. O vertical- as quatro torres 
em forma de livros abertos - é o espaço de guarda do acervo, onde as obras serão armazenadas de forma 
a contemplar a necessidade de crescimento e buscam atingir o céu como a Torre de Babel; é o que se vê 
exposto ao primeiro olhar como se estivesse enraizada no solo que a nutre, que a faz produzir cultura 
representada em forma de livros. A amplidão é vista pela horizontalidade da esplanada. Na parte inferior, 
como que dando suporte à "copa", dois amplos subsolos- que não são vistos no primeiro olhar- estão 
colocados para a consulta dos mais variados suportes informacionais. Deles o usuário "retira", através da 
leitura, os "nutrientes" necessários para ampliar seus saberes, uma vez que estão submersos no universo do 
conhecimento e encravados no interior da terra, já que está edificado no subsolo. Por sua vez, a geração 
de conhecimentos implica o surgimento de novos livros, portanto, novos frutos para a copa. 
O homem percebe o meio ambiente e dele faz uso através de seus sentidos, que são comandados pelo 
cérebro, que obedece a um programa estabelecido pelos valores linguísticos e culturais que moldam a per-
cepção do ambiente circundante. Aquele que percebe defme-se como sujeito do fazer. Ele efetiva suas ações 
de acordo com as informações percebidas e operadas por sequências de enunciados de fazer. Operam esses as 
transformações necessárias para o uso adequado do espaço, alterando constantemente os enunciados de estado. 
20 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !! 
Quando se trata do meio ambiente construído, percebe-se que este é passível de ser manipulado, de 
modo a produzir os efeitos desejados para que o indivíduo sinta-se à vontade, ou não, para utilizá-lo. 
Assim, a compreensão de que as relações arquitetônicas podem ser manipuladas de forma a produzir 
os efeitos de uso desejados é, na verdade, a primeira estratégia concebida para o jogo de sedução com o 
usuário que a biblioteca faz. O segundo lance desse jogo é resultado da ambiência criada pela organização 
espacial interna- o layout- que se utiliza de muitas estratégias para criar efeitos de sentido. 
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!l • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 21 
Ergonomia em bibliotecas 
Tânia Marli Stasiall Wilhelms 
INTRODUÇÃO 
Este texto sobre Ergonomia nos ambientes de trabalho, inclusive nas bibliotecas, pretende fornecer um 
panorama geral sobre o assw1to, para que profissionais da área de Biblioteconomia possam exercer suas tarefas 
em ambientes mais saudáveis, evitando doenças relativas à função. O bibliotecário, enquanto gestor de pessoas, 
pode promover melhorias nas condições de trabalho a partir de uma perspectiva ergonômica, em busca de maior 
conforto, saúde, segurança e eficiência no trabalho, tanto para o trabalhador como para o usuário da biblioteca. 
Há tempos atrás, as condições dos ambientes de trabalho eram muito precárias e improvisadas e não 
ofereciam conforto, muito menos segurança, provocando com isso muitas doenças e acidentes. Esses fatos 
geraram muitas análises e esmdos ligados à segurança, ao conforto, à eficiência e à produtividade, tendo 
como consequência o surgimento de ambientes totalmente transformados, levando em consideração, 
inclusive, as novas tecnologias. A partir disso, o trabalho passou a ser visto de forma diferente, não como 
um sacrifkio, mas como tome de satistàção e autorrealização. 
Com essa evolução do trabalho, em que novos métodos e tecnologias são empregados, é imprescindível 
que o bibliotecário esteja atento para mudanças. Alguns conceitos básicos são necessários na vida moderna, 
para que os profissionais tenham condições de, por si só, desenvolverem um "olhar ergonômico" tanto 
nos seus locais de trabalho como no cotidiano de suas vidas, indo ao encontro dos aspectos subjetivos, 
como a qualidade de vida, o bem-estar social, e, além disso, da satisfàção dos consumidores e usuários. 
DEFINIÇÕES 
A primeira definição de Ergonomia foi formulada pela Ergonomics Research Society em 1950 e dispõe 
que a mesma é "[ ... ] o esmdo do relacionamento entre o homem c o seu trabalho e, particularmente, a 
aplicação de conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas advindos desse 
relacionamento." (Ergonomics ... , 1950). 
Contonne Ala in Wisner ( 1987, p. 12), a Ergonomia é definida como"[ ... ] o conjunto dos conhecimen-
tos científicos relativos ao homem c necess<Í.riospara a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos 
que possam ser utilizados com o máximo conforto, de segurança e de eficácia." 
No tina] do século 20, passados quase cinquenta anos do início dos esmdos sobre a nova ciência, encon-
tra-se a definição de Grandjean, o qual afirma que Ergonomia "[ ... )é a ciência da configuração de trabalho 
adaptada ao homem." ( 1998, p. 5). É, portanto, a ciência do conforto, como é popularmente conhecida. 
Existem várias dctiniçóes proferidas por autores e pesquisadores renomados. Todas são aceitas, embora 
tenham enfoques, às vezes, diferentes. 
Deprcende-se, portanto, que a Ergonomia é uma disciplina multidisciplinar, pois diferentes áreas do 
conhecimento hl1lmmo relacionam-se com ela. Não é somente a ciência da mesa, cadeira, computador e das 
Lesões por Estorços Repetitivos (LER) e Distúrbios Ósteo-músculo-esqueléticos Relacionados ao Trabalho 
(DORT), como muitas vezes é interpretada. Vai mais além ao abordar várias intertàces do tipo: o homem 
relacionado com a máquina, com o ambiente, o computador com o sistema produtivo e suas consequências na 
saúde do trabalhador. Estão incluídos em seu campo de estudos a carga de trabalho, atividade pesada, medidas 
do corpo (antropometria), estresse, fadiga, monotmúa no trabalho, trabalho muscular, o dimensionamento 
dos locais de trabalho, a atividade mental, jornadas de trabalho, alimentação e condições ambientais como 
iluminação, ventilação, ruídos, temperatura e umidade. As pessoas que desenvolvem suas atividades laborais 
nos ambientes de bibliotecas convivem com muitas dessas questões estudadas pela Ergonomia. 
O estudo da Ergonomia está baseado em conhecimentos de áreas científicas como a Fisiologia, Psi-
cologia, Antropometria, Toxicologia, Biomecânica, Medicina, Enfermagem, Arquitetura, Engenharia, 
Desenho Industrial, Informática e Administração. Desenvolve métodos e técnicas e aplica seus conheci-
mentos visando à melhoria do trabalho e das condições de vida. 
É interessante observar ainda a colocação de Darses e Montmollin (2006) sobre a existência de duas 
correntes principais da Ergonomia: a primeira, considerada a mais antiga e mais americana, entende a 
Ergonomia como a descrição das capacidades dos seres humanos de efetuar taretàs motoras e cognitivas; 
a segunda corrente, mais recente e europeia, considera a Ergonomia como a análise global das situações 
de trabalho com vistas à sua melhoria. 
O termo Ergononúa vem do grego ergo, que significa trabalho, e nomos, que significa regras, leis naturais. 
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA 
Com o passar do tempo, os hábitos, costumes e tecnologias modificaram-se, de acordo com as exigências 
humanas. A sociedade evoluiu e, consequentemente, moderniwu-se, não sendo mais aceitos deternúnados com-
portamentos até então considerados válidos. O ser humano foi-se adequando à evolução, tomando-se cada vez 
mais exigente. Esse é um processo contínuo e essas exigências implicam várias melhorias na sua forma de viver. 
A origem da Ergononúa está relacionada ao homem pré-lústórico, que escolheu uma pedra do formato 
que melhor se adaptasse à forma e movimentos de sua mão, para usá-la como arma. A preocupação em adaptar 
objetos artificiais e o ambiente natural às necessidades humanas sempre esteve presente na vida do ser htunano. 
A partir do século XVIII, quando ocorreu a Revolução Industrial, essa si mação tornou-se problemática. 
Naquele período, as primeiras fábricas surgiram de forma rudimentar, sem nenhuma valorização profis-
sional e sem oferecer condições fàvoráveis ao trabalho. Eram, geralmente, locais improvisados, escuros, 
sujos, perigosos e barulhentos. O trabalhador desempenhava suas atividades em regime de semiescravidão, 
no qual era indispensável o emprego de torça física. As jornadas de trabalho eram de até dezesseis horas 
diárias, sem nenhum direito social ou previdenciário. 
No início do século XX, nos Estados Unidos, surgiu o movin1cnto da Admi.Júsu·ação Científica, ou seja, o 
taylorismo. Esse tem1o tem origem no nome do engenheiro americano F rederick Winslow Taylor ( 1856-1915). 
Taylor ficou conhecido ao defender a tese de que o trabalho deveria ser cientificamente observado de 
modo que, para cada taretà, tosse estabelecido o método correto de execução com um tempo determinado, 
usando ferramentas adequadas. As responsabilidades deveriam ser divididas, c a gerência da fábrica determina-
ria os métodos e o tempo para a execução da cada tarefa, cabendo ao trabalhador concentrar-se exclusivamente 
em sua execução. Os operários deveriam ser controlados, medindo-se a produtividade de cada um e pagando 
incentivos salariais aos mais produtivos, sem que eles pudessem escolher um método próprio de execução 
das tarefas. Nada era livre. Foi um período em que ocorreram muitos acidentes no trabalho atribuídos à 
displicência dos empregados. A baixa produtividade era considerada apenas malandragem. 
Essas ideias eram correntes em todas as fábricas norte-americanas. Foram criados gmpos de trabalho 
para desenvolver métodos de execução e cronometragem das atividades. Daí originou-se, na indústria 
norte-americana, a produção massificada de bens. 
Os trabalhadores sentiam-se oprimidos e revoltados. Boicotavam a produção, desregulando máquinas, 
descumprindo regras estabelecidas e diminuindo a produtividade e a qualidade dos produtos. Passaram 
24 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g 
então a reivindicar melhorias nas condições de trabalho através dos movimentos sindicais exigindo trans-
formações favoráveis às pessoas. 
Em 1900, na Alemanha, na França e nos países escandinavos iniciaram-se as pesquisas na área de 
fisiologia do trabalho. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na Inglaterra, psicólogos e fi-
siologistas colaboraram no intuito de aumentar a produção de armamento, criando então a Comissão de 
Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições, transformada posteriormente no Instituto de Pesquisa 
da Fadiga Industrial, ao final do conflito. Esse Instituto teve papel importante, pois desenvolveu pesquisas 
sobre a fadiga na indústria em geral. Em 1929, transformou-se no Instituto de Pesquisa sobre Saúde no 
Trabalho. Suas pesquisas tiveram outros enfoques -como postura do trabalho, iluminação e ventilação, 
carga manual, etc. -, todos concorrendo para a melhoria das condições de trabalho. 
Durante a Segunda Guerra Mundial ( 1939-1945 ), a preocupação esteve voltada para os instrumentos 
bélicos, a fim de evitar erros, acidentes e melhorar o desempenho do operador. 
Na Inglaterra pós-guerra, surgiram reuniões com cientistas e pesquisadores para discutir e formalizar a 
existência dessa nova ciência, a Ergonomia, cuja data oficial de "nascimento" foi registrada em 12 de julho 
de 1949. Já, em 1950, foi criada a Ergonomics Factors Society (Inglaterra). A partir daquele momento a 
Ergonomia expandiu-se no mundo industrializado. 
Desde o entendimento de Ergonomia como ciência percebe-se o quanto ela se aprimorou. Sua utiliza-
. ção abrange desde o mais simples instrumento manual até as complexas máquinas eletrônicas. Atualmente, 
a aplicação dos princípios da Ergonomia está presente em todos os países do mundo por intermédio das 
instituições de ensino, de pesquisa e nas corriqueiras atividades humanas. 
Frequentemente, muitos eventos sobre esse tema são realizados em nível regional, nacional e in-
ternacional. No Brasil, existem estudiosos, pesquisadores e profissionais da área organizados através da 
Associação Brasileira de Ergonomistas (Abergo ), que é atuante, influente e inovadora. 
OBJETIVOS 
A Ergonornia tem como objetivo introduzir melhorias no sistema de trabalho, procurando a otimização 
de um sistema pela adaptação das condições de trabalho às capacidades e necessidades do homem. De forma 
geral, nada mais é do que adaptar o trabalho ao homem e não, ao contrário, adaptar o homem ao trabalho. 
Essa adaptação do trabalho ao homem nem sempre é fácil. Cada situação tem características própriase, em alguns casos, faz-se necessário empreender estudos mais complexos que exigem a contratação de 
um especialista em Ergonomia, que poderá ser médico, arquiteto, engenheiro, fisioterapeuta, enfermeiro, 
etc. Cada caso exige uma providência específica e em várias situações muitos profissionais atuam intera-
tivamente, devido ao caráter multidisciplinar da Ergonomia. 
Muitos acidentes podem ocorrer independentemente de local e hora, inclusive em atividades de prestação de 
serviços como nas bibliotecas. O manuseio de um grupo muito grande de documentos pesados, a intensa digitação 
de dados em bases eletrônicas, a postura incorreta ao abaixar-se para acessar documentos em prateleiras muito 
baixas, ou ao esticar-se para acessar prateleiras muito altas ou profundas, podem provocar acidentes e doenças 
relativas ao trabalho. Esses acidentes podem, entretanto, ser evitados desde que se leve em consideração a capa-
cidade de cada indivíduo, a concepção do leiaute, o mobiliário e os equipamentos adequados, a organização do 
trabalho, além das condições ambientais favoráveis à execução das tarefas biblioteconômicas. A prevenção impede 
que aconteça um grande número de problemas sociais relacionados a saúde, segurança, conforto e eficiência. 
Wisner (1987), classificou a Ergonomia em: 
a) Ergonomia de Concepção: quando a Ergonomia é planejada junto ao projeto das máquinas, 
equipamentos, objetos e ambientes; 
g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 25 
b) Ergonomia de Correção: quando é aplicada em situações já existentes para resolver problemas 
que se refletem na segurança, no conforto ou em outras ocorrências, como por exemplo, na 
correção de altura de urna máquina, em mudanças de posturas, etc.; 
c) Ergonomia de Conscientização: os postos de trabalho estão sempre enfrentando transfor-
mações e adaptações. Devido a esse fato, os profissionais bibliotecários devem estar sempre 
conscientes e capacitados quanto à Ergonomia para que possam reconhecer os fatores de risco 
que surgem no seu ambiente de trabalho. 
NORMATIZAÇÃO 
A questão ergonômica no Brasil está regulamentada pela Portaria Ministerial n. 3.751, de 23 de no-
vembro de 1990, sob a forma da Norma Regulamentadora NR 17: ergonmnia (Brasil, 2002). 
Essa norma visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às carac-
terísticas psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança 
e desempenho eficiente. Diz que, para avaliar as condições de trabalho às características psicofisiológicas 
dos trabalhadores, o empregador deverá realizar a análise ergonômica do trabalho, momento em que devem 
ser abordadas no mínimo as condições de trabalho estabelecidas pela NR 17, quais sejam: levantamento, 
transporte e descarga individual de materiais, mobiliário nos postos de trabalho, equipamento nos postos 
de trabalho, condições ambientais de trabalho e organização do trabalho. 
A análise ergonômica do trabalho deve ser realizada por profissional capacitado e, após, apresentada em forma 
de relatório. É um trabalho minucioso que requer dedicação e paciência além do conhecimento técnico específico, 
pois diagnosticará os problemas e suas consequências, tanto para o funcionário como para a empresa. Será neces-
sária para realizar projetos e/ou alterações, visando o bem-estar dos indivíduos e a produtividade com qualidade. 
POSTOS DE TRABALHO 
Para urna análise nos postos de trabalho das bibliotecas e na vida cotidiana, mesmo que seja elementar, 
deve-se ter conhecimento mínimo de algw1s assuntos, que serão apresentados a seguir. 
Antropometria 
A antropometria retere-se às medidas físicas do corpo humano e descreve suas diferenças quat1titativas, 
tornando como referência as estruturas anatômicas. Na Ergonomia, esses estudos são fundamentais, pois 
ela é, primordialmente, a fonte de referência para se obter conforto, segurança e produtividade nos postos 
de trabalho por intermédio de objetos e equipamentos projetados adequadamente. 
As medidas antropornétricas são variadas no homem devido a vários fatores como: sexo, idade, época, 
clima, emia e origem geográfica. 
Os mobiliários, as máquinas, os equipamentos e os ambientes tanto de trabalho como da vida cotidiana 
devem atender o maior número de usuários possível. Estará incorreto tomar como medida as médias estaósticas, 
pois o homem médio não existe, apenas algumas de suas medidas correspondem, em boa parte, às da população 
em geral. É necessário atender a todos. Existem homens e mulheres que estão na média em relação a algumas 
variáveis como peso ou estatura. Quando se planeja para a média, prejudica-se urna boa parte da população. 
Deve-se projetar sempre para usuários e:>..tremos, o maior ou o menor. Um exemplo é a altura das portas, pois 
tanto as pessoas altas como as baixas conseguem passar pelo vão. Uma prateleira ou um escaninho, a colocação 
de objetos ou documentos em lugares mais altos ou mais baixos, deve ser projetada para o menor braço, de 
26 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g 
forma que as pessoas mais baixas tenham acesso garantido. Cabe aqui salientar a existência de objetos e móveis 
com dispositivos de regulagem, de forma a acomodar os diferentes tipos físicos. 
Esses detalhes devem ser levados em consideração no momento da aquisição dos equipamentos e 
mobiliários de qualquer ambiente. 
As dimensões do espaço são outro quesito a levar em consideração. Com o conhecimento da antro-
pometria, pode-se determinar os espaços necessários para o ser humano a partir de suas características 
anatômicas e fisiológicas. Para sentir-se bem em qualquer espaço é necessário que o indivíduo tenha um 
espaço adicional em seu entorno. Existem várias referências estabelecendo essas medidas. Oborne e Heath 
( 1979) sugerem quatro zonas para esses espaços pessoais: 
a) íntimo: de O a 45 em, reservado para contatos físicos com as pessoas de maior intimidade; 
b) pessoal: de 45 a 120 em para contatos amigáveis com pessoas conhecidas; 
c) social: de 120 a 360 em para relacionamento profissional com colegas de trabalho e durante 
eventos sociais; 
d) público: acima de 360 em, distância mantida dos desconhecidos. 
Muitas referências são indicadas em metros quadrados (m2) para serem utilizadas em projetos de 
leiaute, mas não como regras e, sim, como sugestões para soluções confortáveis. 
A necessidade de espaço que os membros inferiores ejou superiores precisam para se movimentarem 
e realizarem a tarefa chama-se Espaço de Movimentação. 
A determinação das alturas de alcance é necessária para acessar prateleiras, estantes e superfícies de 
apoio do mesmo modo que se deve levar em consideração a profundidade das mesmas. 
Os alcances sobre as mesas são especialmente importantes para os bibliotecários, pois a maioria dos ser-
viços é realizada sobre elas. É necessário considerar duas áreas de alcance: a ótima e a área de alcance máximo. 
A área de alcance ótima é aquela formada pelo giro do antebraço em torno do cotovelo com o braço 
caído normalmente. Este descreve um arco de raio de 35 a 45 em. O centro, situado em frente ao corpo e 
fazendo a inserção com os dois arcos, será a área ótima para se usar as duas mãos e realizar serviços de precisão. 
A área de alcance máximo é obtida fazendo-se girar os braços estendidos em torno do ombro. Descreve 
um arco de 55 a 65 em de raio, a ser usada para atividades eventuais (lida, 1990, p. 137). 
Biomecânica 
Biomecânica é o estudo das leis físicas da mecânica aplicadas ao corpo humano. Permite estimar as 
tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante os movimentos ou posturas. 
As atividades de trabalho podem ser classificadas em estáticas ou dinâmicas: 
( ... ] o trabalho dinâmico caracteriza-se por um sequência rítmica de contração e extensão- portanto 
de tensionamento e afrouxamento - da musculatura em trabalho. O trabalho estático, em oposição, 
caracteriza-se por um estado de contração prolongado da musculatura, o que geralmente implica um 
trabalhode manutenção de postura. (Grandjean, 1998, p. 18) 
Ao manter os músculos em movimento e postura adequada, são evitados vários acidentes de trabalho, 
como também impedido o surgimento de doenças. Para os trabalhadores em bibliotecas recomenda-se a 
utilização dos princípios biomecânicos, estudados por J. Dul e B. Weerdmeester (1995): 
a) as articulações devem ocupar uma posição neutra (a posição neutra é a mais confortável); 
b) conservar pesos próximos ao corpo; 
2 • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 27 
c) evitar curvar-se para frente; 
d) evitar inclinar a cabeça; 
e) evitar torções do tronco; 
f) evitar movimentos bruscos que produzem picos de tensão; 
g) alternar posturas e movimentos; 
h) restringir a duração do esforço muscular contínuo; 
i) prevenir a exaustão muscular; 
j) executar pausas curtas e frequentes. 
Posturas no trabalho 
A postura no trabalho é determinada de acordo com a tarefa desenvolvida ejou de acordo com o posto de 
trabalho. Por exemplo, a atividade de escrita é recomendável que seja feita na postura sentada. Já aquelas a ti vida-
des que exigem esforço para baixo ou com objetos pesados com mais de 3 kg a postura em pé é a mais adequada. 
As posturas podem ser: sentada, em pé, alternada (em pé/sentado), semissentada (nádegas apoiadas), 
de cócoras. Todas elas possuem vantagens e desvantagens. É difícil apontar qual seria a postura ideal, mas 
pode-se indicar a postura recomendável para uma determinada tarefa. 
A posição sentada, por exemplo, é mais confortável que a de pé, porém, deve-se evitar longos períodos 
sentado, pois partes do corpo ficam submetidos a tensões que podem provocar dores. Ficar em pé por 
muito tempo provoca fadiga nas costas e nas pernas e deve ser intercalada com posições sentada ou em 
movimento. Sempre que possível, deve-se alternar a postura. 
Um fator que influi para uma postura adequada é a existência de um mobiliário (mesas, bancadas e 
cadeiras) que deve ser planejado de acordo com a atividade a que se destina. 
Mobiliário 
Os mobiliários estão presentes em todos os lugares, sejam eles abertos ou fechados. Pode-se classificá-los 
em dois tipos: de uso funcional e não-funcional. São funcionais quando utilizados na função para a qual foram 
projetados. Por exemplo, uma cadeira foi feita para sentar, a cama para deitar; o não-funcional é aquele que 
não está cumprindo sua atividade específica: usar o sofá como cama, a cadeira como escada, a mesa como 
cadeira, etc. Dillon (apud lida, 1990, p. 380)1 aponta outros exemplos de uso inadequado de mobiliário. 
Na vida moderna, o homem passou a ficar mais tempo sentado, principalmente com a evolução dos 
assentos e das máquinas. Pesquisas afirrriam que pessoas passam até vinte horas do dia nas posições sentada 
ou deitada, estando assim, em contato direto com algum tipo de mobiliário. 
Os móveis deveriam passar por testes, mas ainda não há normas regulamentadoras, embora alguns 
tenham selos ergonômicos. A Furniture Industry Research Association (FIRA), da Inglaterra, tem 
procurado definir normas e procedimentos para garantir a segurança e a durabilidade no uso de móveis. 
Para realizar avaliação simplificada de móveis como cadeiras e mesas, existem checklists organizados 
em algur~s documentos, como as do livro Ergonomia aplicada ao trabalho, de autoria de Hudson de Araújo 
Couto, publicado em 1995. 
1 Ver Dillon, J. The Role ofErgonomics in the Development o f Performance Tests for Furniture. Applied Ellfonomics, Guil-
dford, v. 12, n. 3, p. 169-175, 1981. 
28 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • i! 
A NR 17: ergonomia (Brasil, 2002) também apresenta algumas recomendações para os mobiliários, 
porém não estabelece medidas. 
As cadeiras para trabalho devem apresentar algumas características específicas para proporcionar 
melhor conforto e saúde aos seus usuários; devem ser previstas compondo o posto de trabalho com a 
bancada, a mesa, o computador, etc. Os pés do usuário sempre devem estar apoiados no chão ou em su-
portes adequados. Salienta-se que nenhuma cadeira é adequada para utilização em períodos muitos longos, 
por mais confortável que seja. É recomendado que para cada duas horas sentada, a pessoa levante-se no 
mínimo quinze minutos. 
As cadeiras devem ser: 
a) estofadas; 
b) revestidas com tecido; 
c) reguláveis; 
d) com borda anterior arredondada; 
e) com assento na posição horizontal e inclinação aconselhável de lO a l5o para a frente; 
f) com apoio para o dorso, regulável ou com inclinação de 100°, e forma que acompanhe as 
curvaturas da coluna; 
g) com espaço para acomodar as nádegas (abertas atrás); 
h) com 5 pés; 
i) giratória, principalmente se o posto exigir mobilidade; 
j) sem braços. 
Quando houver necessidade de braços, estes deverão ser reguláveis e estofados, com largura mínima 
de 4 em. Braços são recomendados somente para salas de reuniões e para as cadeiras de chefias. 
Para digitação os braços podem ficar apoiados sobre o tampo da mesa se esta tiver forma ideal (curvas). 
O teclado e o cursor devem ficar na mesma superficie do monitor. Caso a cadeira tenha braços, deve-se cuidar 
muito a altura, que deve formar um ângulo aproximado ou igual a 90° para estar na posição de conforto. 
Alguns requisitos básicos devem ser previstos no desenho das mesas. Primeiramente, devem proporcio-
nar espaço para as pernas das pessoas e das cadeiras de rodas. É importante citar esta recomendação, pois é 
comum os fabricantes colocarem gavetas nos lugares das pernas. Atualmente, os modelos mais usados são 
0$ que permitem postOS de trabalho em CCL'') cccn) além de modulares, para compor diversos tipos de leiaute. 
As mesas devem seguir as seguintes recomendações: 
a) espaço para pernas do interlocutor e do trabalhador; 
b) borda anrerossuperior arredondada (lado do trabalhador); 
c) nível único (admite-se dois níveis quando for para computador e teclado); 
d) altura do topo entre 65 e 85 em, sendo de 75 em a altura mais utilizada; 
e) espessura da superfície de trabalho 5 em; 
f) largura mínima de 80 em e profundidade em torno de 90 em; 
g) gavetas leves, com o último nível elevado, mais ou menos a 40 em do chão, de um só lado; 
I! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 29 
h) executadas de material não reflexivo (o ideal é fórmica fosca ou madeira); 
.( 
i) cores claras, como o bege, cinza claro, casca de ovo, verde claro, etc. (evitar o branco devido 
ao ofuscamento que pode provocar); 
j) vidro sobre a mesa não é recomendável (reflexos). 
As estantes de bibliotecas devem ser de material não oxidável com prateleiras reguláveis e uma base fixa. 
Devem ser fechadas em sua parte superior para evitar a incidência de luz diretamente sobre as obras colocadas na 
prateleira mais alta. Suas laterais devem, também, ser fechadas para propiciar uma maior proteção aos documentos. 
Atenção deve ser dada à adaptação do mobiliário e do leiaute da biblioteca às questões de acessibilidade, 
observando-se a norma NBR 9050/04: acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações> espaço> 
mobiliário e equipamentos urbanos, da ABNT (Associação ... , 2004), especialmente no tocante aos espaços 
entre as estantes, mobiliário de equipamentos eletrônicos e balcão de circulação. Os acessos devem ser faci-
litadores do ingresso de pessoas com necessidades especiais assim como as instalações sanitárias destinadas 
ao público e à equipe da biblioteca. Essa norma apresenta uma seção inteiramente dedicada às bibliotecas. 
EQUIPAMENTOS 
Todos os equipamentos dos postos de trabalho devem estar adequados às características psicofisioló-
gicas dos trabalhadores e ao tipo de tarefa a ser executada. 
Os computadores foram incorporados aos postos de trabalho e invadiram praticamente todos os se-
tores de atividades laborais, provocando mudanças. Com isso, surgiram problemas que estão ligados aos 
postos de trabalho, ao ambiente e ao modo como o trabalhador percebe a sua atividade. 
As pessoas que exercem atividades no computador, na maioria das vezes,

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