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1 M A R / A B R 2 0 1 8 a q u a cu lt u re b ra si l. co m IS SN 2 52 5- 33 79 EDIÇÃO 24 JUL/SET 2021 R E V IS TA Coluna: O cooperativismo pode auxiliar a cadeia ranícola? Despescou: Tambaqui - Piscicultura Rio Taboca Artigo: Viabilidade econômica para o cultivo de pirarucu Artigo: Maricultura da macroalga Kappaphycus alvarezii no RJ A Q U A C U L T U R E B R A S I L O MERCADO CONSUMIDOR DE PRODUTOS DA AQUICULTURA NO BRASIL https://www.engepesca.com.br/ 2498A_Brasil__21x27.pdf 1 04/10/21 16:06 https://www.vaxxinova.com.br/secoes/aquacultura/ AQUACULTURE BRASIL O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com EDITORES-ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen DIREÇÃO DE ARTE: Jéssica Brol COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alexandre Augusto Oliveira Santos, André Batista de Souza, Antônia Benedita da Silva Bronze, Bruna Larissa Meganhe, Carlos Alberto Martins Cordeiro, Henrique David Lavander, Kárcio Rimes Araújo, Laura de Oliveira Camilo, Manoel Xavier Pedroza Filho, Marcelo Fanttini Polese, Miguel Sepulveda, Roberto Manolio Valladão Flo- res, Sarah Mayumi Kato da Silva, Thaís Castelo Branco e Victor Tiago da Silva Catuxo. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves André Camargo Andre Muniz Afonso Artur Nishioka Rombenso Diego Maia Rocha Eduardo Gomes Sanches Fábio Sussel Giovanni Lemos de Mello Ivã Guidini Lopes Marcela Maia Yamashita Marcelo Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores. QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação trimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000. A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros. Giovanni Lemos de Mello, Editor-chefe. Escrevo este artigo no intervalo de um Flamen- go x Vasco, pela semifinal do Campeonato Cario- ca de 2022. O resultado até aqui? Previsível e sem surpresas. A soberania rubro-negra mais uma vez fala mais alto! Mas de longe esta não pode ser a notícia da se- mana, muito menos de um editorial. Uma dica do nosso grande Diego Molinari (outro rubro-negro e agora californiano) e lá vamos nós mergulhar em águas internacionais. Aliás, precisamos viajar até o Estado de Mas- sachussetts, nos Estados Unidos, “atracando” em Boston. Boston é um dos principais polos educacionais dos Estados Unidos, destacando-se instituições de educação superior tais como a Universida- de de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge. Contudo, para nós, carinhosamente referenciados como o “povo das águas”, o mais importante em Boston é a tradicional Seafood Expo North America. A edi- ção de 2022 terminou ontem (15/mar/2022), contando com uma participação expressiva de empresas brasileiras da pesca industrial, processamento do pesca- do e, obviamente, da aquicultura. Preciso fazer um parêntese na aquicultura, para cumprimentar a Cais do Atlântico, empresa de processamento de pescado com fortes raízes em Laguna/ SC (assim como eu e como a Aquaculture Brasil, genuinamente lagunenses!), participando pela 4ª vez da Feira de Boston. Voltando ao Aquanegócio, foi bonito de ver as empresas brasileiras da aqui- cultura participando (algumas debutando) em uma das principais feiras de pes- cado do mundo. Talvez nas primeiras edições um pouco perdidos ou deslocados, hoje os em- presários brasileiros mostram sua marca, força, potencial e, O QUE É MAIS IM- PORTANTE, seus PRODUTOS para os Estados Unidos e o restante do mundo conhecer e consumir! Como exemplo, a Zaltana Pescados, de Ariquemes (Rondônia), noticiou du- rante a Feira que o martelo foi batido! Os tambaquis amazônicos vão invadir a América do Norte. A empresa anunciou a primeira venda de um contêiner de 40 pés para os Estados Unidos. Que venham muitos outros contratos! E como será o pós-evento? Um ponto crucial é o câmbio favorável à exportação. O segundo ponto é aquilo que já combinamos com o restante do mundo: nós vamos ser a nova China em termos aquícolas e é preciso mostrar ao mundo os nossos produtos e o nosso VALOR. O Tio Sam está querendo conhecer a nossa “peixarada”. O meu Flamengo o mundo inteiro já conhece bem! Agora o seu pescado, o que falta para o mundo conhecer, saborear e comprar? Anuncie sua empresa na A Q U A C U LT U R E B R A S I L Sua marca merece estar em destaque no maior portal da aquicultura brasileira Fale com a gente: p u b l i c i d a d e @ a q u a c u l t u r e b r a s i l . c o m www.aquaculturebrasil.com https://www.aquaculturebrasil.com/ 6 SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL - edição 24 jul/set 2021 » p.18 » p.38 » p.10 08 FOTO DO LEITOR 10 PISCICULTURA MARINHA ORNAMENTAL: EMPRESA BRASILEIRA REPRODUZ O ANTHIAS CAUDA DE LIRA Pseudanthias squamipinnis (PETERS, 1855) EM CATIVEIRO 18 MARICULTURA DA MACROALGA Kappaphycus alvarezii COMO SUPORTE AO DESENVOLVIMENTO SÓCIO ECONÔMICO NO LITORAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 26 O MERCADO CONSUMIDOR DE PRODUTOS DA AQUICULTURA NO BRASIL 38 VIABILIDADE ECONÔMICA PARA O CULTIVO DE PIRARUCU (Arapaima gigas) EM TANQUES SUSPENSOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM 46 PANORAMA DA MARICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: ATUALIDADES E DESAFIOS 54 ESPAÇO EMPRESA: SOCIL 58 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 59 CHARGES 7 » p.70 » p.76 » p.90 60 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 64 ATUALIDADES DA CARCINICULTURA 66 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA 68 AQUICULTURA ORNAMENTAL 70 GREEN TECHNOLOGIES 72 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA 74 RANICULTURA 76 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 77 VISÃO AQUÍCOLA 78 SANIDADE 80 TECNOLOGIA DO PESCADO I 82 TECNOLOGIA DO PESCADO II 84 GESTÃO DE RESÍDUOS 86 ESPAÇO EMPRESA: ENGEPESCA 90 DESPESCOU » p.74 8 JU L/ S E T 2 0 2 1 Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata, Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri (Fortaleza, CE) Giancarlo Lavor Macho do cavalo-marinho Hippocampus reidi em gestação (Botucatu, SP) Isabelle Leite Bayona Perez Povoamento realizado na fazenda PRIMUS (Morada Nova, CE) Francisca Gomes Maia Final no dia na Piscicultura Maschio no Rio Paranapanema (Candido Mota, SP) Mateus Henrique 9 JU L/ S E T 2 0 2 1 redacao@aquacu l t u reb ra s i l . com Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia e participe desta seção. >> Escama de tilápia (Jatobá, PE) Joiciane G Cruz Povoamento realizado na fazenda PRIMUS (Morada Nova, CE) Francisca Gomes Maia Camarão marinho com mutação yellow - Litopenaeus vannamei (Parnaíba, PI) Adriano Pessoa do Nascimento 10 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: © B io m ar in e https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 11 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Piscicultura marinha ornamental: empresa brasileira reproduz o anthias cauda de lira Pseudanthias squamipinnis (Peters, 1855) em cativeiro A espécie anthias cauda de lira An-thias squamipinnis ( Pe t e r s , 1855) é um peixe recifal que apresenta ocor- rência no oceano Pacífico e no Mar Vermelho. Desperta grande interesse dos aqua- ristas devido a sua intensa coloração e o hábito repro- dutivo de formar haréns. São hermafroditas protogínicos da família Serranidae (a mes- ma do mero e da garoupa- -verdadeira) (Allsop & West, 2003). Exemplares desta espécie inicialmente matu- ram como fêmeas e como resultado de complexas re- lações sócio-demográficas, algumas fêmeas invertem o sexo para machos. A co- loração dos machos é bem distinta das fêmeas, o que facilita a diferenciação sexual. Apresentam desova pelágica, tais como outras espécies de interesse no aquarismo tais como o blue tang (Paracan- thurushepatus) e o yellow tang (Zebrasoma flavences). A família Serranidae con- tribui com 2% do total de peixes marinhos ornamentais comercializados no mundo. Maldivas e Arábia Saudita são os maiores exportadores de Pseudanthias squamipinnis. A comercialização da espécie depende totalmente da cap- tura de exemplares nos reci- fes de corais. Poucos estudos existem sobre a reprodução da espécie em cativeiro. Ain- da existem muitas lacunas no conhecimento para a defi- nição de um “pacote tecno- lógico” para produção des- ta espécie, diferentemente, por exemplo, da produção Espécies com desova pelágica produzem larvas muito pequenas implicando na utilização de técnicas complexas de larvicultura. Eduardo Gomes Sanches1*, Flavio Félix Bobadilha2*, Adilson Ramos Santos2, Bruna Larissa Meganhe1, Laura de Oliveira Camilo1 ¹Laboratório de Piscicultura Marinha Instituto de Pesca/APTA/SAA Ubatuba, SP *egsanches@sp.gov.br ¹Biomarine Aquicultura Ornamental São Paulo, SP * flaviobobadilha@gmail.com https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 12 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: do peixe-palhaço (Amphiprion sp.) e do neon goby (Elacatinus figaro). Cabe ressaltar, entretanto, que estas espécies apresentam desova demersal, cuidado parental e larvas de maior tamanho, reduzindo so- bremaneira a dificuldade da larvicultura em cativeiro. Espécies com desova pelágica produzem larvas muito pequenas implicando na utilização de técnicas comple- xas de larvicultura, uma vez que a metodologia con- vencional de cultivo de larvas baseada no emprego de rotíferos com primeiro alimento seguido do uso de náuplios de Artemia sp. não se mostra apropriada para estas espécies ornamentais de desova pelágica. Os anthias podem formar grupos de mais de 2.000 peixes nas faces dos recifes de coral. Estes grupos são formados por machos territoriais, fêmeas e machos não territoriais. Os machos territoriais realizam per- formances acrobáticas (natação em “U”) e permane- cem o tempo todo defendendo uma área do recife associada a seu harém (Lieske & Myers, 1994; Myers, 1999). Dentre as fêmeas também se estabelece uma hierarquia de dominação por tamanho. Quando o macho territorial morre, a fêmea dominante inverte o sexo, e assume o harém (Popper & Fishelson, 1973; Shapiro, 1988). A mudança de sexo é controlada pela presença ou ausência do macho, que inibe a tendên- cia da fêmea em trocar de sexo através da agressivida- de de dominação (Shapiro, 1981a). A reversão sexual é completada em duas a quatro semanas quando o macho é removido ou em 170 a 280 dias em grupos onde somente ocorrem fêmeas (Shapiro, 1981b; Sa- dovy & Shapiro, 1987). O Laboratório de Piscicultura Marinha (Lapim) do Instituto de Pesca, em Ubatuba/SP, vem desenvolven- do, desde 2005, estudos sobre o cultivo de peixes marinhos como alternativa ao extrativismo e como instrumento de conservação destes recursos pesquei- ros. Mais recentemente, a equipe vem utilizando este conhecimento para aplicação em peixes marinhos ornamentais, visando desenvolver protocolos para produção em cativeiro destas espécies, com o objeti- vo de contribuir na redução da extração das mesmas na natureza e auxiliar na preservação dos recifes de corais. Em 2020 o Lapim iniciou uma parceria com a empresa Biomarine Aquicultura Ornamental, visan- do otimizar esforços para o avanço na reprodução de peixes marinhos ornamentais com foco em espécies hermafroditas de elevado valor. A Biomarine é uma empresa do ramo de criação de peixes ornamentais marinhos. Encontra-se estabe- lecida na cidade de São Paulo/SP desde 2018. Vem atuando na produção de di- versas espécies marinhas, em especial os peixes-palhaços, e empreendendo esforços para o desenvolvimento de novas técnicas de larvicultura, com foco na produção de novos organismos como alimento (principalmente copépodes) e na diversificação de espécies produzidas em cativeiro. Os esforços da Biomarine já resultaram no isolamento e produção do copépode Bestiolina similis c.f., (Sewell, 1914) e Pseudodiaptomus richardi (Dahl F., 1894). Estas cepas vêm sendo testadas com sucesso na reprodução em cativeiro de algumas espécies de peixes marinhos or- namentais, a exemplo do peixe mandarim Syncyrou- pus splendidus, neon goby azul Elacatinus evelynae, orquídea dottyback Pseudochromis fridimani entre ou- tras ainda em desenvolvimento. Assim, o presente artigo tem o objetivo de descre- ver a tecnologia utilizada na reprodução em cativeiro da anthias cauda de lira Pseudanthias squaminipinis, a partir dos esforços dessa parceria público-privada. Parceria Público - Privada O presente artigo tem o objetivo de descrever a tecnologia utilizada na reprodução em cativeiro da anthias cauda de lira Pseudanthias squaminipinis. https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 13 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Figura 1. Comparação entre ovos de Blue tang Paracanthurus hepatus (esquerda e acima) e ovos de anthias cauda de lira Pseu- danthias Squamipinnis, (direita e abaixo). © Biomarine Os trabalhos foram conduzidos nas instalações da Biomarine Aquicultura Ornamental entre agosto e novembro de 2021. Os reprodutores de anthias cauda de lira foram adquiridos no comércio especia- lizado, sendo compostos por exemplares maduros em maio de 2021. Foram adquiridos 01 macho e 02 fêmeas, sendo em seguida submetidos ao processo de quarentena por 20 dias com objetivo de evitar a introdução de patógenos, visto que a Biomarine tra- balha em sistemas de recirculação de água salgada. Nessa etapa, os exemplares receberam banhos de água doce (3min) e foram mantidos continuamente em difosfato de cloroquina (15mg/L). A observação diária não identificou manifestações sintomáticas de qualquer patógeno ou mortalidade. Finalizada a quarentena, os reprodutores fo- ram transferidos para um tanque de reprodução. Este tanque possui um volume de 1.700L, for- mato circular (com 1,35m de diâmetro e coluna d’água de 1,20m), montado com várias rochas e cascalho ao fundo com objetivo de simular o am- biente natural e oferecer abrigo aos peixes. O sis- tema é recirculante, com a salinidade mantida em 34, temperatura em 26º C e fotoperíodo 12C/12E (12 horas de iluminação e 12 horas de escuro). Os reprodutores foram alimentados de três a quatro vezes ao dia. A dieta consistiu no ofereci- mento de patê congelado (preparado com base em frutos do mar), vôngole (Anomalocardia brasiliana) congelado picado, camarão congelado e ração co- mercial Tetra Marine flakes. As primeiras desovas foram observadas cerca de trinta dias após a soltura dos exemplares no tanque de reprodução (Figura 01). Os ovos foram coleta- dos usando um dispositivo cilíndrico, com malha de retenção de polyester e abertura de 200 micras, instalado na saída da água do tanque. O coletor é instalado antes da desova, permanecendo por até três horas após a mesma. Os ovos são coletados e imediatamente passam por um processo de limpe- za, para separação de impurezas e desinfecção. Os ovos de anthias cauda de lira foram coletados entre os dias 31/08 e 01/09 de 2021 e transferidos para o tanque de larvicultura. Material e Métodos Primeiras desovas https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 14 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: O processo de larvicultura foi conduzido com água natural marinha originária do Litoral Norte do esta- do de São Paulo. Todas as atividades de reprodução e larvicultura da Biomarine são conduzidas com água marinha natural. O tanque de larvicultura consiste emuma caixa d’água de 500L (polietileno azul), com foto- período de 15C/9E fornecido por três luminárias LED de 80w (6000k e 3.500 lux na superfície). A tempe- ratura da água foi mantida em 28,5º empregando-se termostato digital associado a aquecedor (250W) e a salinidade mantida em 33. A alimentação das larvas consistiu no fornecimento de náuplios de copépodes Bestiolina simili c.f, que fo- ram obtidos a partir de uma cultura pré-existente na Biomarine. Esta cultura foi constituída em dezembro de 2020 a partir de amostras de zooplâncton naturais extraídas com redes de arrastos no litoral Sul do es- tado de São Paulo e posterior seleção e isolamento em microscópio estereoscópio (20x). Os náuplios de copépodes foram concentrados no tanque de culti- vo de copépodes e selecionados com uso de malha de 80 micra, sendo então, fornecidos às larvas a par- tir do 3º dia contado a partir da desova. A reposição dos náuplios foi efetivada três vezes ao dia até o 15º dia. O tanque de larvicultura utilizou a técnica de “água verde”, recebendo diariamente a adição de microalgas Tetraselmis sp. com objetivo de manter a qualidade de água, fornecer turbidez e servir de alimento para os náuplios de copépodes. Inicialmente o tanque de larvicultura foi prepara- do utilizando-se de um povoamento simultâneo de copépodes adultos (aproximadamente 1/10mL) e microalga Tetraselmis sp.. O povoamento simultâneo dos copépodes e microalgas foi realizado por ocasião da colocação dos ovos no tanque, tendo como ob- jetivo de que estes copépodes adultos, embora não servissem como presas imediatas, pudessem se re- produzir no tanque ao longo do processo e, assim, fornecer uma quantidade de náuplios em fase n1 às larvas. Essa técnica foi utilizada visando mitigar os efei- tos do rápido crescimento dos náuplios de copépo- des e a dificuldade de volume de náuplios n1, uma vez que a estratégia de concentração e seleção de náuplios a partir do cultivo oferece baixo percentual de náuplios n1, mesmo com adoção de malha apro- priada, em razão da rápida taxa de crescimento da es- pécie Bestiolina simili sob condições ideais de cultivo. Sete dias após a desova (Figura 02) era possí- vel observar expressivo desenvolvimento das larvas, com abertura mandibular, intensa pigmentação cor- poral e forte resposta de caça às presas (náuplios de copépodes). Larvicultura Figura 2. Larva de anthias cauda de lira Pseudanthias Squamipinnis sete dias após a desova, exibindo expressiva pigmentação. © Biomarine https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 15 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Inicialmente, não houve recirculação de água no tanque de larvicultura, o que permitiu o crescimento dos náuplios de copépodes até a fase adulta. Notada- mente, esses copépodes adultos e copepoditos tor- naram-se o alimento base das larvas após a segunda semana de vida, ao passo que a alimentação, neste estágio, foi migrada para copépodes da mesma es- pécie, porém selecionados com uso de malha entre 80 a 100 micras. A abertura do sistema recirculante somente foi iniciada após o 15º dia com objetivo de reduzir a carga de alimento vivo excessiva disponível no tanque de cultivo, sendo intensificada a partir do 26º dia (Figura 03). Nesta larvicultura de anthias cauda de lira não fo- ram utilizados rotíferos. Entendemos que o reduzido tamanho da larva impediria a predação dos rotíferos. A introdução de náuplios de Artemia sp. foi realizada a partir do 30º dia com as larvas já em processo de metamorfose. A utilização de Artemia sp. foi alternada com o fornecimento de náuplios do copépode Bes- tiolina simili. O alimento inerte (ração) foi utilizado após a me- tamorfose. Inicialmente os juvenis exibiram forte re- jeição a qualquer alimento inerte. Esse cenário co- meçou a se modificar quando o alimento inerte foi associado ao zooplâncton congelado Zoo P (Aquas- mart). Passadas duas semanas de adaptação, os juve- nis aceitavam alimentos inertes (ração Tetra Marine Flakes e Dr. Bassleer Baby Nano), quando então pu- deram ser disponibilizados para a comercialização. Figura 3. Larva de anthias cauda de lira Pseudanthias Squa- mipinnis 26 dias após a desova. © Biomarine Figura 4. Desenvolvimento do anthias cauda de lira Pseudanthias Squamipinnis até a etapa de comercialização. https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 16 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Muitos desafios e ajustes ainda precisam ser feitos para que a pro- dução do anthias cauda de lira possa permitir o fornecimento regular de quantidades expressivas de juvenis para comercialização. Nossos resultados reforçam o pioneirismo e o comprometimento da Biomari- ne em promover a produção sustentável de peixes ornamentais mari- nhos, contribuindo na preservação dos recifes de corais e na promoção de um aquarismo marinho consciente e responsável. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos Conclusão © m ae us es ch ne ck e https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 17 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://altamar.com.br/ 18 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: © m ho lla en | p ix ab ay https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 19 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Maricultura da macroalga Kappaphycus alvarezii como suporte ao desenvolvimento sócio econômico no litoral do estado do Rio de Janeiro O século XXI tem sido marcado por desafios no plano social e ambiental que colocam a humanidade frente à necessidade emi- nente de revisão no seu modo de vida, que tornou- -se insustentável. Portanto, urge transformar a matriz produtiva e energética, hoje baseada na extração de recursos naturais finitos e geradora de resíduos po- luentes com impacto desas- troso no meio ambiente, bem como, superar a ex- ploração exaustiva da mão de obra que delineia um cenário de extrema desi- gualdade sócio-econômica. No Brasil, particular- mente no Estado do Rio de Janeiro, carece de ati- vidades produtivas que venham na contramão da história a demonstrar que é possível realizar um ne- gócio rentável, sustentável e em harmonia com o meio ambiente onde to- dos os atores envolvidos se beneficiem, rompendo a barreira ideológica que coloca o ganho financei- ro como contraditório ao bem-estar social, econô- mico e à saúde ambiental. Dentro deste concei- to, o Cultivo de Macroal- gas (Maricultura de Algas Marinhas) surge como al- ternativa atraente e de im- plementação factível para o desenvolvimento susten- tável, que pode contribuir para melhorar de forma sig- nificativa as condições so- ciais em que se encontram as comunidades pesqueiras e ribeirinhas do estado, englobando, sobretudo, os jovens e as mulheres. Sendo assim, esse artigo foi dividido em dois capítulos que irão abordar de forma geral os principais aspectos do cultivo de macroalgas. O cultivo de Macroalgas surge como alternativa atraente e de implementação factível para o desenvolvimento sustentável. Miguel Sepulveda Biólogo Marinho CEO Seaweed Consulting Ilha Grande, RJ seaweedconsulting@gmail.com www.seaweedconsulting.com P A R T E 01 https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 20 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: O potencialdo uso das algas marinhas é conhe- cido mundialmente devido à grande variedade de usos e aplicações industriais que vão desde a alimen- tação direta em humanos, em animais, em coloides, cosméticos, medicamentos e biofertilizantes agrico- las. Além destes usos, as algas do gênero Kappaphy- cus também podem produzir Biocombustível, eta- nol de terceira geração e posteriormente Créditos de Carbono, mais um produto a ser explorado, a médio ou longo prazo por esta cadeia produtiva. Entretanto, a Macroalga Kappaphycus alvarezii é principalmente utilizada como fonte de matéria- -prima para a produção de ficocolóides conhecidas como Carragenas, utilizadas como estabilizantes e espessantes na indústria alimentícia (produtos cár- neos, bebidas, chocolates, rações, cosméticos, etc), representando um mercado mundial da ordem de US$ 6,00 milhões anualmente (FAO 2006). A K. alvarezii também é conhecida comercialmen- te como Eucheuma cottonii ou simplesmente “Cot- tonii”, e teve cerca de 11.6 milhões de toneladas vi- vas ou molhadas produzidas em 2019 (FAO, 2021), principalmente em fazendas marinhas nas Filipinas, Indonésia, Malásia, Tanzânia e Zanzibar (Philp & Cam- pbell 2006, Pickering et al. 2007, McHugh 2003). Nessas regiões são gerados milhares de empre- gos e benefícios diretos para centenas de famílias, diversificando as atividades tradicionais, diminuindo a Figura 1. Exemplares de Kappaphycus alvarezii © Miguel Sepulveda pressão ambiental sobre os ecossistemas e melhorando a economia de áreas deprimidas e populações vulneráveis. K. alvarezii já foi introduzida intencionalmente para fins de maricultura em mais de 20 países como a Oce- ania, Panamá, Cuba, Caribe, Equador, Brasil, Índia, Sri Lanka, Camboja, Vietnã, Mianmar e África Oriental (Quênia, Tanzânia, Moçambique e Madagascar) (Ask 1999, Pickering et al. 2007). Em 1998 a empresa Seaweed Consulting (www. seaweedconsulting.com) introduziu a macroalga Kappaphycus alvarezii no Rio de Janeiro, mais especifi- camente na Ilha Grande – Angra dos Reis, para estudos de ecologia e cultivo experimental. Os exemplares (20 quilos) foram trazidos da Vene- zuela (“Ilhas Coche”) gentilmente fornecido pelo Dr. Raul Rincones da empresa Biotecmar C.A e com Cer- tificado Fitossanitário do governo Venezuelano. Após a chegada no Brasil, as algas passaram por uma breve quarentena no Laboratório de Camarões Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) onde também foram deixados alguns exempla- res para o cultivo unialgal para o professor Dr. Ro- berto Derner do Laboratório de Microalgas desta instituição. 1.Introdução 1.1 Histórico do cultivo e introdução da ma- croalga Kappaphycus alvarezii no estado do Rio de Janeiro https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 21 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: ambiental como segura para o cultivo desta espécie, principalmente no litoral do Rio de Janeiro. Recentemente em 2021, a empresa Seaweed Consulting (www.seaweedconsulting.com), obteve do Governo Federal (MAPA) a primeira concessão de área especifica para o Cultivo da macroalga K. alva- rezii no Brasil através de um contrato de cessão de uso do imóvel situado no mar territorial, na baía de Ilha grande, no município de Angra dos reis, no estado do Rio de janeiro, como outorgante cedente a união, por intermédio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e, como outorgado cessionário Miguel C. Sepulveda Jr. (CEO Seaweed Consulting). Em seguida as algas foram levadas para o litoral sul do estado do Rio de Janeiro, mais precisamente para a Enseada de Aracatiba na Ilha Grande, Angra dos Reis - RJ e partir daí, esta região foi cenário durante vários anos com o primeiro projeto de cultivo piloto e comercial da macroalga K. alvarezii no Brasil. Em 2002 a Seaweed Consulting iniciou o primeiro cultivo em grande escala para a empresa Sete Ondas Biomar culminando na instalação de mais de 100 bal- sas de 450 m2 de cultivo de Kappaphycus na Restinga da Marambaia, sendo que após alguns anos esta em- presa se transformou na atual AlgasBras, a qual vem fomentando a atividade no litoral do Rio de Janeiro para os produtores na região da Baia da Ilha Grande. Em 2003, o IBAMA – RJ (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) – através de sua Gerência Executiva, emitiu para a Se- cretaria Especial de Aquicultura e Pesca – RJ, a primei- ra anuência para o Cultivo de K. alvarezii e com reco- nhecimento da introdução destas algas provenientes da Venezuela, para a região da Baía da Ilha Grande – RJ. Entretanto, somente em 2008 o IBAMA - DF atra- vés de uma Instrução Normativa publicada em diário oficial, autorizou o cultivo comercial da macroalga K. alvarezii na faixa entre Mangaratiba – RJ e Ilha Bela – SP após vários estudos comprovando a viabilidade Figura 2. Exemplares adultos de Kappaphycus alvarezii © Miguel Sepulveda 1.2 Regulamentação dos Cultivos da macroalga K. alvarezii no Rio de Janeiro Figura 3 . Mapa da área liberada pelo IBAMA entre RJ e SP https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 22 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Algumas características são fundamentais para es- colha do local a ser implantado o cultivo de algas, as principais seriam: Temperatura da água do mar acima de 20°C du- rante todo o ano; Salinidade acima de 25 ppt; Zonas protegidas do embate de ondas fortes (preferencialmente devem ser escolhidas enseadas protegidas); Profundidade máxima de 20 metros; Áreas livres do tráfego de embarcações e turismo. A reprodução sexuada desta macroalga é bem difícil de se encontrar no ambiente natural, portan- to, essa espécie se reproduz quase que exclusiva- mente por meio de reprodução vegetativa (cresci- mento com fragmentos vegetativos). Devido a esta característica, os cultivos de K.alvarezii tiveram um grande sucesso em mais de 20 países onde foram introduzidas, devido a técnica de propagação ser re- lativamente simples. K. alvarezii é uma espécie de alga robusta, que possui flutuabilidade negativa, por- tanto, é incapaz de crescer livremente na coluna de água e se mover por longas distâncias sem a ajuda do homem, e também não possui a capacidade de se fi- xar ao substrato (Russell 1983, Pickering et al. 2007, Oliveira & Paula 2003). Estas algas dependem de sua pouca capacidade de se enredar em substratos du- ros ou de seu peso para ficar em um local específi- co, pois a maioria dos talos que se desprendem dos locais de cultivo são transportados pelas correntes para profundidades maiores onde acabam morren- do devido às condições desfavoráveis para seu cres- cimento, como a falta de luz, baixa temperatura ou a presença de predadores (Pickering et al. 2007, Sulu et al. 2004, Ask et al. 2003, Salazar 2000, Oliveira & Paula 2003). 2.1 Parâmetros para escolha da instalação do Cultivo 2.Metodologia para instalação do cultivo de K. alvarezii 2.2 Biologia da Macroalga Kappaphycus alvarezii 2.3 Método de cultivo Atualmente o método tradicionalmente utilizado pelos produtores no Rio de Janeiro é conhecido como “Balsas Flutuantes”, trazido pelo pioneirismo da Se- aweed Consulting em 1998, após alguns anos testando o sistema mais eficiente em locais com profundidade acima de 5 metros. Basicamente este sistema consiste em estruturas flutuantes confeccionadas com Tubos de PVC 100 mm ou 75 mm com 3 metros de compri- mento, fechados em suas extremidades com tampas, funcionando como flutuadores. Os tubos são unidos entre si com cabos de Polipropileno ou Polietileno de 8mm. Dependendo da região de cultivo as Balsas podem variar de 75, 100 até 150 metros de compri- mento, onde também pode ser necessária a utilização de uma rede de nylon naparte inferior da estrutura para proteção contra herbívoros como peixes e tar- tarugas, embora este aparato seja uma exigência do IBAMA de cordo com a instrução normativa de 2008. 2.3.1 Balsas Flutuantes de PVC Figura 5. Balsa flutuante de Cultivo (150m x 3m). https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 23 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Este método é tradicionalmente utilizado no mundo para o plantio das macroalgas do gênero Kappaphycus, conhecido como “Tie Tie”, foi criado na década de 70 nas Filipinas e largamente utilizado até hoje em diversos países. Neste sistema, as algas são amarradas em um pequeno cabo ou fitilho de plástico através de um nó de “forca” na linha prin- cipal de cultivo fazendo com que as mudas fiquem mais livres e com maior facilidade e rapidez para seu crescimento. 2.3.2 Método de plantio “Tie-die” Figura 6. Metodo de Amarração “tie-tie” das mudas de algas no cabo e detalhe da rede de proteção abaixo do cultivo para proteção contra herbivoria. © Miguel Sepulveda https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 24 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Este método foi trazido para o Brasil em 2001 pelo empresário Alexandre Feder (CEO da empre- sa AlgasBras (www.carragenabrasil.com.br) ficando conhecido como “Plantio em Rede Tubular” o qual vem sendo largamente utilizado até o momento pe- los produtores. Embora as redes tubulares sejam tradicionalmente utilizadas em cultivo de mexilhões na Europa, estas podem ser adaptadas para o culti- vo de diversas espécies de macroalgas. Atualmente este método está sendo utilizado em diversos paí- ses como o Equador, Panamá, Índia, Moçambique, Tunísia, Quênia e Caribe. Neste sistema, as mudas de algas são inseridas na rede tubular através de um tubo de PVC 75mm com 1 metro de comprimento, sendo que, apesar de ser bastante eficiente e mais rápido, as algas demoram mais a responder em seu crescimento, pois ficam presas dentro das redes. 2.2.3 Redes “tubulares” 2.3.3 Produtividade nas Fazendas de Algas Kappaphycus Em vários Países que tradicionalmente cultivam a macroalga K. alvarezii, o ciclo de cultivo é de 45 a 50 dias desde do início do plantio até a colheita. Entretanto vários fatores precisam ser levados em consideração durante o processo de avaliação da produtividade, como o método de cultivo aplicado, o manejo, a temperatura da água do mar local, a salinidade, a velocidade das correntes marinhas, turbidez da água, herbivoria (peixes e tartarugas) e qualidade das mudas selecionadas para o plantio. No litoral sul do Rio de Janeiro, mais especificamen- te em Angra dos Reis (Ilha Grande) a produtividade em média obtida nestes últimos 20 anos de cultivo, tem sido de 6 a 7 toneladas frescas em Balsa de 450 m2 a cada 45/50 dias em sistema de cultivo “Tie – Tie” (método de amarração das mudas de algas). Este dado pode ser menor quando se cultiva as algas no sistema de Redes Tubulares com tempo de cultivo de pelo menos 60 dias. Além disso, vale res- saltar que o produtor, para iniciar seu cultivo, adquira por uma única vez apenas um lote de mudas e daí em diante a propagação é vegetativa permitindo que ele não precise mais comprar novas mudas, sendo apenas necessário manter um estoque para o replan- tio. A compra das mudas pode ser feita entre os pró- prios produtores com valores entre R$ 5,00 o quilo. No artigo da próxima edição iremos abordar as doenças e pragas nos cultivos, os subprodutos obti- dos, aspectos ambientais, custos de instalação de uma fazenda marinha de macroalgas e as estratégias de in- tervenção para o fomento da maricultura de macroal- gas no estado do Rio de Janeiro. 3.Conclusão Vista de uma fazenda de K. alvarezii – Ilha Grande - RJ © Domingos Sávio https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 25 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 26 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 27 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: A Embrapa Pesca e Aquicultura, por meio do Projeto BRSAqua¹ , vem desenvol- vendo pesquisas junto a con- sumidores de pescado, de forma a gerar subsídios de in- formações, tanto para o setor privado como para a pesquisa e políticas públicas. Neste sen- tido, os resultados aqui apre- sentados visam contribuir para o entendimento do mercado de peixes de cultivo no Brasil, a partir de informações coleta- das em 2020 junto a mais de 1.500 consumidores de todos os estados do país. O estudo apresentado a seguir é uma complemen- tação de outra pesquisa realizada pela Embrapa em 2019 junto a consumidores de pescado no segmento de supermercados, tendo os resultados disponíveis em Pedroza Filho et al. (2020) e Flores et al. (2021). Des- se modo, os resultados aqui apresentados permitem um olhar ampliado e atualizado sobre o mercado de peixes de cultivo, levando em con- sideração os efeitos da pan- demia. O mercado consumidor de produtos da aquicultura no Brasil Manoel Xavier Pedroza Filho1 *, Thaís Castelo Branco2 e Roberto Manolio Valladão Flores3 1 Doutor em Economia Pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas, TO *manoel.pedroza@embrapa.br 2 Doutora em Ciência Animal Tropical Bolsista DTI-A CNPQ Projeto BRSAqua, Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas, TO 3Doutor em Economia Agrícola Pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas, TO 1 Projeto de pesquisa coordenado pela Embrapa Pesca e Aquicultura e financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Embrapa. Os resultados aqui apresentados visam contribuir para o entendimento do mercado de peixes de cultivo no Brasil, a partir de informações coletadas junto a mais de 1.500 consumidores. https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 28 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: A pesquisa foi realizada no formato online e as en- trevistas foram aplicadas em dezembro de 2020, tota- lizando 1.509 respondentes distribuídos em todas as unidades da federação. Antes da aplicação definitiva, o questionário foi submetido a um pré-teste visando va- lidar e aprimorar sua estrutura. Em média, a duração da aplicação de cada questionário foi de 10 minutos. A amostragem e seleção dos entrevistados, feitas por uma empresa especializada em pesquisa online, consideraram uma distribuição proporcional dos en- trevistados de acordo com o tamanho da população de cada estado. Os principais critérios utilizados foram: Classes sociais dos respondentes: A, B e C; Perfil dos respondentes: consumidores que tenham consumido peixe pelo menos uma vez nos últimos 12 meses; Idade dos respondentes: Mais de 18 anos; e Sexo: homens e mulheres. Cerca de 91% dos entrevistados dizem que o prin- cipal local de consumo do pescado é o preparado em seu próprio domicílio, como observado na Figura 1. Vale lembrar que a pesquisa foi feita durante a situação de pandemia da Covid19 e, assim, um maior índice de preparo e consumo em domicílio é esperado, visto que locais públicos – bares, restaurantes, entre outros – foram temporariamente fechados e, em sua maioria, permanecem com taxas de atendimento reduzidas. No que se refere ao pescado preparado em casa,os supermercados e peixarias representam, respecti- vamente, 47% e 32% dos locais de preferência para compra do pescado (Figura 2). Esse predomínio dos supermercados na venda de pescados é uma tendên- cia mundial, já reforçada por autores como Anderson et al (2010), Engle e Neira (2003) e Murray e Fofana (2002). As feiras livres (14%) e os atacados (5%) são respectivamente o terceiro e quarto principais locais de compra. Material e métodos Resultados e discussão Preferência por local de consumo do pescado https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 29 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Preparado em casa FIGURA 1. PRINCIPAL LOCAL DE CONSUMO DE PESCADO. 4,6 % 3,8 % 0,3 % 91,2 % Delivery (entrega a domicílio) Outros Restaurante FIGURA 2. LOCAL DE COMPRA DO PESCADO PREPARADO EM CASA. 47% Supermercado 02 % Outro 05 % Atacado 14 % Feira livre 32 % Peixaria Frequência de compra de pescado No que se refere à frequência de compra de pescado por espécie (Figura 3), embora todas as espécies sejam consumidas principalmente oca- sionalmente, vale ressaltar que a espécie mais popular ou mais consumida é a tilápia. Dos en- trevistados, 12% compram tilápia duas ou mais vezes por semana e 25% compram ao menos uma vez por mês. Devemos considerar que pre- ferência pela tilápia está relacionada com a gran- de difusão de conhecimento sobre a espécie, inclusive técnicas de cultivo e de preparo. Além disso, a tilápia é o peixe mais produzido no Brasil, sendo nacionalmente conhecida, e considerada a espécie mais importante da aquicultura brasi- leira (Peixe BR, 2019; Pedroza Filho et al., 2020). Em contraste, quase metade dos entrevis- tados afirma nunca ter comprado Garoupa e somente 3% consomem esta espécie mais de duas vezes por semana. A baixa preferência dos consumidores em relação à Garoupa está re- lacionada à menor popularidade desta espécie no âmbito nacional, apesar de ser uma espé- cie nativa. A Garoupa é uma espécie marinha encontrada em todo o litoral brasileiro, prin- cipalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, porém é mais conhecida em mercados locais destas regiões. A produção em cativeiro, por sua vez, ainda está em estágio inicial de pesqui- sa (Sanchez et al., 2007; Kerber, 2011). Apesar dos resultados promissores observados para o cultivo da espécie, a produção comercial da Garoupa ainda é pouco expressiva no Brasil. Já o pintado e o pirarucu obtiveram resul- tados bastante semelhantes, ambos com 25% das respostas para a compra ocasional e taxas de 16% e 14%, respectivamente, para a com- pra pelo menos uma vez por mês. O Pirarucu, apesar de ser uma espécie nativa, também tem forte influência da regionalidade no consumo. Nativo do bioma amazônico, o Pirarucu é mui- to valorizado na região norte, mas pouco di- fundido para o restante do país. No entanto, a maior parte da carne ofertada é de origem da pesca e a produção em cativeiro ainda é pe- quena considerando o potencial da espécie. A produção comercial do Pirarucu não possui uma tecnologia bem estabelecida, tendo como https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 30 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Na fase inicial da pandemia da Covid19, o fechamento de bares, restaurantes e hotéis – principal mercado consumidor de camarão – causou grande perda para o setor, motivando produtores a tomarem medidas para se adaptar à nova realidade. principal barreira a falta de domínio nas técnicas de reprodução em cativeiro, além da baixa oferta de alevinos no mercado, o que causa aumento do preço final do produto ao consumidor e reduz o lucro na produção (Rebelatto Junior et al., 2015). O camarão é, depois da tilápia, a espécie com maior frequência de compra. Apenas 15% dos en- trevistados responderam nunca comprar camarão e, assim como o tambaqui, 8% dos entrevistados disseram comprar duas ou mais vezes por semana. O camarão é um dos pescados mais importantes para a aquicultura nacional, com uma produção na- cional de mais de 63 mil toneladas em 2020 (IBGE 2021). No entanto, na fase inicial da pandemia da Covid19, o fechamento de bares, restaurantes e hotéis – principal mercado consumidor de cama- rão – causou grande perda para o setor, motivan- do produtores a tomarem medidas para se adaptar à nova realidade. Uma das soluções foi a busca por novos nichos de mercado como a venda direta ao consumidor final através do sistema de delivery, bem como vendas em supermercados locais, tornando o preço mais atrativo para o consumi- dor e para o produtor (Rocha e Teixeira, 2020). Quanto ao tipo de conservação, o pescado fresco foi o que apresentou maior frequência de compra, com 19% das respostas para compra duas ou mais vezes por semana e 20% compram pelo menos uma vez por semana (Figura 4). O pescado congelado segue a mesma tendência, onde 29% dos respondentes compram pelo me- nos uma vez por mês, enquanto 10% duas ou mais vezes por semana. Já o pescado defumado apresentou menor frequência de compra, onde 52% dos entrevistados dizem nunca comprar e somente 4% compram pescado defumado duas ou mais vezes por semana. Resultados semelhan- tes foram observados para o pescado conservado em sal, com 40% de resposta para nunca com- prar e 26% compram somente ocasionalmente. 0% Pintado 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Pirarucu Garoupa Camarão Tilápia Tambaqui FIGURA 3. FREQUÊNCIA DE COMPRA DE PESCADO, POR ESPÉCIE. https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 31 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Fresco Congelado Conservado em sal Defumado FIGURA 4 . FREQUÊNCIA DE COMPRA DE PESCADO, POR TIPO DE CONSERVAÇÃO. Fatores determinantes na decisão de compra do pescado Para mais da metade dos entrevistados, o sa- bor é o principal fator na decisão de compra do pescado (Figura 5). Com 18% das repostas, o preço é o segundo fator mais importante na esco- lha, seguido do valor nutricional (11%) e o aspec- to visual (10%) do pescado. Opções de variação culinária foi um dos fatores de menor influência com apenas 6% das respostas. Da mesma for- ma, o fator de disponibilidade nas prateleiras se mostrou quase que irrelevante para a frequên- cia de consumo em relação aos outros fatores. FIGURA 5. LOCAL DE COMPRA DO PESCADO PREPARADO EM CASA. 54 % Sabor 01 % Outro 02 % Disponibilidade na gôndola 06 %Opções de variação culinária 11 % Valor nutricional 18 % Preço 10 %Aspecto visual do produto Preferência por origem do pescado Em relação à preferência de acordo com o habitat do pescado (Figura 6), apesar da pequena diferença, a maior parte (45%) dos entrevistados prefere pescado de água doce em detrimento dos marinhos (30%). Podemos observar uma interes- sante mudança de hábito quanto ao consumo de pescado, visto que peixes de água doce tinham maior rejeição por parte dos consumidores, prin- cipalmente de regiões litorâneas, mais adaptados ao sabor dos pescados do mar (Pedroza Filho et al., 2020). No entanto, vemos que, no âmbito nacional, a preferência por pescado de água doce superou o pescado de origem marinha, possivelmente impul- sionado pelo maior consumo de tilápia (Figura 6) ob- servado neste grupo de entrevistados. Certamente a evolução da aquicultura brasilei- ra tem grande influência nesta mudança de hábito, através da oferta de produtos de melhor qualidade. https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 32 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: FIGURA 6. PREFERÊNCIA DO PESCADO, POR HABITAT. 45% De água doce 30% Do mar 25 % Indiferente Apesar da preferência por pescados de água doce e do mar ser superior numerica- mente, uma parcela considerável dos respon- dentes (25%) deste estudo se mostra indife- rente ao habitat de origem do pescado. Em outras pesquisas os resultados mostram que a maioria dos entrevistados, era indiferente ao habitat do pescado, em todas as regiões do país (Pedroza Filho et al., 2020; Flores et al., 2021) o que demonstra não haver uma prefe- rência definida, visto que os resultados são si- milares em diferentes grupos de entrevistados. No entanto, tratando-se da preferência do pescado por tipo de produção (Figura 7), observamos uma clara preferência (56%) pela pesca, enquanto que apenas 19% dos respon- dentes preferem o pescado da aquicultura ou não apresentam uma preferência sendo indi- ferentes (21%) ou não souberam responder (4%). Em outros estudos também observa- mos a preferência pela pesca, Pedroza Filho et al. (2020) sugere que medidas sejam toma- das para melhorar a imagem da piscicultura, através da divulgação de informações sobre os benefícios e as qualidades do peixe cultivado. FIGURA 7. PREFERÊNCIA DO PESCADO POR TIPO DE PRODUÇÃO. 56% Pesca 04 % Não sabe 19 % Aquicultura 21 % Indiferente A preferência por pescado de água doce superou o pescado de origem marinha, possivelmente impulsionado pelo maior consumo de tilápia. https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 33 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Períodos de maior compra de pescado Quando os consumidores foram perguntados sobre os períodos de maior compra de pescado (Figura 8), os resultados mostraram que a frequên- cia de consumo de peixes é muito influenciada pela ocasião ou festividades. A semana santa é o perío- do de maior compra de pescado de quase 70% dos entrevistados. No entanto, outras datas come- morativas como Natal e a semana do peixe (setem- bro) foram citadas por aproximadamente de 10% dos consumidores entrevistados. Desta forma, é possível observar variações sazonais nos padrões de consumo de peixe, visto que fatores culturais / religiosos influenciam a frequência do consumo. Afirma-se que as influências sazonais foram regis- tradas em vários campos da psicologia do consumi- dor (Spence, 2021). https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 34 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: FIGURA 8. PERÍODOS DE MAIOR COMPRA DE PESCADO. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Semana do pescado (setembro) Natal Outra data Semana Santa Nenhum Principais barreiras à compra de pescado O alto preço foi apontado por 57% dos entrevistados como a principal barrei- ra à compra do pescado (Figura 9). Apesar do mercado consumidor de pescado ter apresentado um crescimento constante em 2020, ainda é um crescimento limita- do pela recuperação do crescimento eco- nômico do país pós pandemia da Covid19 (Peixe BR, 2020), visto que muitos brasilei- ros ainda não recuperaram totalmente seu poder de compra. Os outros fatores limitantes à compra de pescado observados nesta pesquisa fo- ram menos relevantes para os entrevista- dos, tais como a falta de espécie desejada (16%), dificuldade no preparo (11%), falta de confiança na qualidade sanitária (9%) e não encontrar a apresentação desejada (6%). Entretanto, mesmo que menos rele- vantes, estas barreiras à compra de pescado foram reconhecidas como pontos a serem melhorados por 42% dos entrevistados, e apontam potenciais nichos de crescimento para o mercado do pescado. FIGURA 9. PRINCIPAIS BARREIRAS À COMPRA DE PESCADO. 57 % Altos preços 01 % Outras 06 % Não encontrada a apresentação desejada 11 % Dificuldade no preparo (ex: pre- sença de espinhas) 16 % Falta da espécie desejada 09 % Não confia na qualidade sanitária dos produtos https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 35 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Considerações finais O objetivo principal deste estudo foi inves- tigar as características do consumo de peixes da aquicultura no segmento de consumidores de pescado no Brasil e com base nos resulta- dos obtidos, foi possível observar uma mudança de comportamento por influência da pandemia da Covid19, como nas preferências do local de consumo e do local de compra do pescado. Destaca-se também a influência dos hábitos re- gionais, mesmo com as restrições causadas pela pandemia, houve uma clara preferência pela compra em feiras livres na região Norte do país. O alto preço do pescado foi apontado como a principal barreira à compra do pescado, segu- ramente por interferência da pandemia na si- tuação econômica do país. Esta situação, apesar temporária, trouxe grandes perdas para o setor da aquicultura, o que deve motivar produtores a tomarem medidas para se adaptar à nova rea- lidade buscando novos modelos de comerciali- zação e divulgação de seus produtos. Outro aspecto importante foi a frequência de escolhas muito semelhantes entre o pescado fresco e o congelado, que não foi observado em pesquisas anteriores, certamente por influência da faixa etária de jovens adultos predominante na pesquisa. Observamos também que algumas tendências foram confirmadas, como a tilápia e o camarão consolidados como espécies mais consumidas e a preferência pelo consumo de filé em relação a outros tipos de apresentação de pescado. Assim como as variações sazonais nos padrões de consumo de peixe, influencia- dos por fatores culturais e religiosos, também observado em outros estudos. Estes resultados podem ajudar produtores e distribuidores a di- recionar a comercialização de seus produtos. Podemos também, atentar para uma interessan- te mudança de hábitos quanto ao consumo de pescado, onde a maioria dos consumidores es- colheu pescado de água doce em detrimento dos marinhos, provavelmente impulsionados pelos crescentes investimentos na aquicultura brasi- leira, principalmente na produção de Tilápia. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 36 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ 37 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: SAIS BALANCEADOS PARA CARCINICULTURA Desenvolvidos para utilização em tanques de carcinicultura em suas características físico-químicas e balanço iônico - específicos para a produção de camarões marinhos Para 1L de água: 1 parte de VEROMIX 2 partes de sal sem iodo Preparam de água salinidade 10 PPT 2 kg D E SAL SE M IOD O + 1 kg D E VERO MIX VeroMix é um concentrado dos principais constituintes do sal marinho, para uso em carcinicultura, com excelente relação custo/benefício. 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Tel.: 19 99214-1827 E-mail: contato@veromar.com.br veromar.com.br https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ http://marechalredes.com.br/ http://veromar.com.br/sais_para_aquarismo/veromix 38 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: © F lá vi o C on te nt e https://altamar.com.br/http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 39 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: O cultivo de pirarucu em cativeiro é uma alternativa para di- minuir sua pesca predatória e, apesar do alto potencial, seu cultivo ainda é incipiente no Brasil, com uma produção de 1.892.65 t, ao qual o Pará ocu- pa a 2ª posição de maior produ- tor da Região Norte, com uma produção de 272.321 t (IBGE, 2020). Em cativeiro sua produ- ção é comumente realizada em viveiros escavados e barragens, apresentando iniciativas de cul- tivo em tanques rede e tanques suspensos, sendo esta uma alternativa de criação sustentá- vel, necessitando maiores de estudos sobre a sua viabilidade econômica no estado do Pará. Considerando a importân- cia econômica do pirarucu e o potencial para desenvolvimen- to da piscicultura na região, o presente estudo teve por objetivo avaliar a viabilidade econômico-financeira do cul- tivo de Pirarucu em tanques suspensos, na Região Metro- politana de Belém (RMB), no estado do Pará, visando nortear tomadas de decisões para in- vestimentos na implantação da atividade, bem como estimu- lar a expansão do seu cultivo, promovendo uma maior oferta nos mercados interno e exter- no e, a expansão da piscicul- tura sustentável na Amazônia. Viabilidade econômica para o cultivo de pirarucu (Arapaima gigas) em tanques suspensos na região metropolitana de Belém Sarah Mayumi Kato da Silva¹, Victor Tiago da Silva Catuxo², Antônia Benedita da Silva Bronze¹, Kárcio Rimes Araújo¹ e Carlos Alberto Martins Cordeiro³ O presente estudo teve por objetivo avaliar a viabilidade econômico-financeira do cultivo de Pirarucu em tanques suspensos, na Região Metropolitana de Belém. ¹Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) Residência Profissional Agrícola Belém, PA *mayumikato94@gmail.com ²Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) Benevides, PA ³Universidade Federal do Pará (UFPA) Campus Bragança Instituto de Estudos Costeiros (IECOS) Bragança, PA https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 40 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Caracterização do Sistema de Produção de Pirarucu em Tanques Suspensos O estudo foi realizado no município de Benevides- -PA, em um sistema produtivo composto por dez (10) tanques suspensos de 6m de diâmetro e capacidade de 30m³, revestidos com geomembrana PEAD (Figu- ra 1) abastecidos a partir de um igarapé localizado ao final da propriedade. O cultivo abrange as fases de pré-engorda (ale- vinagem + crescimento) e engorda, apresentando uma densidade inicial de 1000 alevinos por tanque, distribuídos na fase de engorda a uma densidade de 200 alevinos por tanque. Durante o ciclo produtivo, são fornecidas Ração extrusada contendo 46% PB e Grãos de 1-2mm e 40% PB e Grãos de 3-5mm (pré engorda – 120 dias de cultivo) e Ração extrusada con- tendo 40% PB e Grãos de 8 -10mm e com 40% PB e Grãos de 12 -15mm (engorda – 240 dias de cultivo). Na fase inicial, reforça-se o treinamento alimentar de forma a evitar a heterogeneidade do lote. Ao iden- tificar a presença de animais extremamente magros, os mesmos são transferidos para uma caixa d’agua para recuperação e posterior retorno ao tanque. Para manter a qualidade da água nos tanques, rea- liza-se uma renovação ao dia, processo com duração de 4h10min. Inicia com a ligação da bomba d’água e abertura do registro de água do tanque, criando um vórtice que ocasionará o revolvimento dos dejetos para seu centro, onde serão retirados pelo sistema overflow (Figura 2). As sujidades das paredes dos tanques são retiradas mecanicamente com escovão, estando atento para que o nível da água se mantenha acima dos peixes. Finalizado o manejo, o registro de saída do tanque é fechado para que o mesmo encha novamente. Ainda na propriedade, os animais são submetidos ao abate e filetagem aos 360 dias e com um peso médio de 10 kg por animal, podendo atingir um ren- dimento de carcaça de 40-50%. Sua carne é comer- cializada em rede de supermercados e restaurantes e a pele enviada para uma comunidade localizada em Bragança-PA para curtimento artesanal e, depois de curtido, o couro é transformado em acessórios (Figura 3) em uma fábrica localizada em Ananindeua-PA. Figura 1. Tanque circular revestido com geomembrana para produção de pirarucu em Benevides - PA. © Sarah Kato https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 41 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Foram realizadas visitas in loco junto ao produtor e ao assistente técnico da extensão rural, para coleta dos dados acerca da implantação e manutenção do sistema produtivo, obtendo-se informações sobre a infraestrutura de produção, itens, quantidade, preço e vida útil, bem como manejo, operações, mão de obra, insumos utilizados e manutenção da infraes- trutura. A coleta de dados, realizada por meio de plani- lhas, e cálculos para verificação da viabilidade eco- nômica, como os de Custos de Produção (CP) por meio do Custo Operacional Efetivo (COE) e Cus- to Operacional Total (COT); Fluxo de Caixa (FC), considerando um horizonte produtivo de dez (10) anos, sendo este utilizado nos cálculos dos índices econômicos Taxa Interna de Retorno (TIR); Va- lor Presente Líquido (VPL) e Payback, foram reali- zados e analisados no software Microsoft Excel®. O cultivo em estudo é dividido em duas fases e compreende um total de 360 dias (120 dias na pré- -engorda + 240 dias na engorda). Desta forma, o número de ciclos anuais é calculado pela fórmula: Figura 1. Tanque circular revestido com geomembrana para produção de pirarucu em Benevides - PA. © Sarah Kato Figura 2. Sistema overflow do tanque suspenso para produção de pirarucu em Benevides - PA. © Sarah Kato Figura 3. Acessórios produzidos a partir do couro de pirarucu cultivados em tanques suspensos em Benevides - PA. © Sarah Kato Material e métodos 360 dias anuais 360 dias de cultivo+15 dias de vazio sanitário = 0,96 Resultados O custo de implantação estrutural do sistema de cultivo, descrito na Tabela 1, foi estimado em R$80.822,44. Dentre os itens descritos, o siste- ma de abastecimento e drenagem apresentou um valor de R$10.962,44, destinado à escavação da canaleta de drenagem e à tubulação. Os tanques em lona e suas estruturas apresentam vida útil de 10 anos, se caracterizando como os custos mais onerosos na implantação, representando 74,24% dos gastos. Quanto aos custos de ração por tanque (Tabe- la 2), considerando 0.96 ciclo produtivo ao ano – nas fases de pré-engorda e engorda, a estimativa por tanque foi de R$19.467,47 e, para os 10 tan- ques implantados no sistema, encontrou-se o valor R$194.674,69. Nos cálculos foram considerados uma mortalidade aproximada de 10% do lote e destinou-se uma reserva técnica de ração de 10%. https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 42 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Discriminação Unidade Quantidade Valor unitário (R$) Valor Total (R$) % Obras Civis Tubulações de abaste- cimento m 214,28 3.237,50 6.475,00 8,01 Tubulações de drena- gem m 72 2.243,72 4.487,44 5,55 Subtotal 10.962,44 Estudos Preli- minares un 1.000,00 1,24 Projeto Técnico e Legalização un 4.000,00 4,95 Equipamentos Tanques em lona de PEAD, com 6m de diâmetro, e estruturas un 10 6.000,00 60.000,00 74,24 Bomba de 5 CV un 1 4.860,00 4.860,00 6,01 Subtotal 64.860,00 TOTAL 80.822,44 100,0 Tabela 1. Custos de implantação estrutural do sistema de cultivo de pirarucu em tanques suspensos em Benevides - PA * Fonte: Dados da pesquisa (2021). https://altamar.com.br/http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 43 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Tabela 1. Custos de implantação estrutural do sistema de cultivo de pirarucu em tanques suspensos em Benevides - PA Fase Tipo de ração Dias de cultivo Ração (kg) Preço da ração (R$) Custo da Ração (R$) Pré-engorda Ração extrusada - 46% PB e Grãos de 1-2mm 30 77,63 10,24 794,93 Ração extrusada - 40% PB e Grãos de 3-5mm 90 330,30 4,8 1.585,44 Subtotal 120 407,93 2.380,37 Engorda Ração extrusada - 40% PB e Grãos de 8 -10mm 150 1.517,71 4,8 7.285,01 Ração extrusada - 40% PB e Grãos de 12 -15mm 90 1.673,40 4,8 8.032,32 Subtotal 240 3.191,11 15.317,33 TOTAL 360 3.599,04 17.697,70 Reserva Técnica 10% 359,90 - 1.769,77 Total de ração por ciclo 3.958,94 - 19.467,47 Tabela 2. Custos de ração por tanque em 0,96 ciclo produtivo de 360 dias, sendo 120 na fase de pré-engorda e 240 na fase de engorda. Discriminação Unidade Quantidade Valor unitário (R$) Valor Total (R$) % Alevinos milheiro 2 20.000,00 40.000,00 16,89 Ração kg 36.500 - 180.640,00 76,26 Mão de obra permanente un 1 3.000,00 3.000,00 1,27 Mão de obra temporária diária 3 80,00 240,00 0,10 Energia elétrica bomba kwh 8.514,02 0,58 4.909,44 2,07 Outros 4.515,79 1,91 COE 233.305,23 98,49 Depreciação 3.571,87 1,51 COT 236.877,10 100,00 Tabela 3. Custos Operacionais Efetivos (COE) e Custos Operacionais Totais (COT) por ciclo de produção de pirarucus em tanques suspensos em Benevides - PA * Fonte: Dados da pesquisa (2021). * Fonte: Dados da pesquisa (2021). https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 44 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Para calcular o fluxo de caixa do sistema pro- dutivo (tabela 4) consi- derou-se um horizonte produtivo de 10 anos, com início da produção no Ano 0, totalizando um investimento ini- cial de R$328.990,66. Os rendimentos anu- ais foram calculados em R$324.000,00 e o lucro operacional em R$87.122,90, contan- do com uma produtivi- dade de 18.000 kg de peixe ao ano, comer- cializada a R$18/kg. Para avaliação da viabilidade econômica do sistema produtivo (tabela 5) utilizou-se a taxa Selic (mai/2021), de 3,4% a.a. como taxa de atratividade. A TIR avalia o percentu- al de retorno de um projeto, igualando a VPL a zero (0). Levan- do em consideração esta taxa, a VPL apre- sentou um retorno de R$399.241,96, a TIR se apresentou superior à Taxa Mínima de Atra- tividade, calculada em 23,19% e um Payback descontado de 4 anos e 3 dias, demonstrando o cultivo do pirarucu nes- se sistema de criação ser um projeto viável. Ano Receita (R$) Custos (R$) Fluxo de Caixa Líquido (R$) Fluxo de Caixa Acumulado (R$) 0 - 328.990,66 -328.990,66 -328.990,66 1 324.000,00 236.877,10 87.122,90 -241.867,76 2 324.000,00 236.877,10 87.122,90 -154.744,86 3 324.000,00 236.877,10 87.122,90 -67.621,96 4 324.000,00 236.877,10 87.122,90 19.500,94 5 324.000,00 236.877,10 87.122,90 106.623,84 6 324.000,00 236.877,10 87.122,90 193.746,74 7 324.000,00 236.877,10 87.122,90 280.869,64 8 324.000,00 236.877,10 87.122,90 367.992,54 9 236.877,10 87.122,90 455.115,44 Tabela 4. Fluxo de caixa do sistema de produção de pirarucus em tanques suspensos em Benevides - PA Indicador Total Valor Presente Líquido (VPL) R$ 399.241,96 Taxa Interna de Retorno (TIR) 23,19% Payback Simples 3 anos, 9 meses e 9 dias Payback Descontado 4 anos e 3 dias Tabela 5. Indicadores de Viabilidade Econômica do sistema produtivo de pirarucus em tanques suspensos em Benevides - PA * Fonte: Dados da pesquisa (2021). * Fonte: Dados da pesquisa (2021). © F lá vi o C on te nt e https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 45 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Conclusão Diante do exposto, o modelo de produção de pirarucus em tanques suspensos – considerando 10 tanques de criação com densidade de 60kg/m³ – mostrou-se, além de sustentável, economicamente viável com uma taxa de retorno de 23,19% e evidenciando a ração como o item que mais influenciou no investimento. A atividade se apresenta como uma ótima alternativa para expansão da piscicultura sustentável na Amazônia, uma vez que necessita de menores espaços para alta produtividade. Do ponto de vista zootécnico, quando comparada a outras espécies em sistemas superintensivos, o pirarucu apresenta grande potencial econômico. Recomenda-se ao produtor e aos novos empreen- dimentos a utilização de um tanque exclusivo para a fase de pré-engorda, possibilitando assim o es- calonamento da produção com a saída de ciclos anuais de 0,96 ano para ciclos anuais de 1,41 ano. https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 46 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ Panorama da maricultura no Estado do Espírito Santo: atualidades e desafios A produção mundial de pescado em 2018 foi cor-respondente a 178,5 mi- lhões de toneladas, sendo que 96,4 milhões de toneladas foram oriun- das da pesca e 82,1 milhões de to- neladas oriundas da aquicultura. Do total da aquicultura, 30,8 mi- lhões foram produzidas pela mari- cultura (FAO, 2020). Dada a impor- tância dessa atividade, esse artigo buscou traçar um panorama geral da maricultura do Espírito Santo, estado da região sudeste do Bra- sil, abrangendo os principais tipos de cultivo em águas marinhas: pei- xes, camarões, moluscos bivalves e macroalgas. Alexandre Augusto Oliveira Santos*, Marcelo Fanttini Polese, André Batista de Souza e Henrique David Lavander Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifes) Laboratório de Aquicultura Piúma, ES *alexandre.santos@ifes.edu.br Em 2018 a produção aquícola mundial foi de 82,1 milhões de toneladas. Desse total, 30,8 milhões foram produzidas pela maricultura (FAO, 2020). 48 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: – LANPOA, as pesquisas mais recentes foram realiza- das com o beijupirá, garoupa, tainha e peroá, focan- do no desenvolvimento de tecnologias para a produ- ção, manejo e nutrição dessas espécies (Figura 1 e 2). Assim como no Brasil, os desafios para o desenvol- vimento da piscicultura marinha no Estado do Espíri- to Santo, não são muito diferentes, pois estão ligados diretamente ao ordenamento de políticas públicas, le- gislações, acesso a linhas de financiamentos, tecnolo- gias mais acessíveis, oferta regular de insumos (rações e alevinos) em quantidade e qualidade, da determina- ção de áreas para cultivos (parques aquícolas), mão de obra qualificada contratada pelos municípios e estado, de infraestrutura de apoio ao mercado, alinhamento de grupos e instituições de pesquisa e extensão evitando sombreamentos de esforços, e a dificuldade de licen- ciamento ambiental e autorização do uso de água da união, dificultando os investimentos na atividade no Es- pírito Santo e no Brasil. Uma importante ação que poderia ser desenvolvida seria a criação de uma rede no Espírito Santo, pois com a união de esforços e otimiza- ção de recursos humanos e financei- ros, alguns gargalos, como exemplo, nu- trição, sanidade e disponibilidade de formas jovens, poderiam acelerar o desenvolvi- mento da piscicultura marinha no Estado. Figura 1. Produção experimental de beijupirá em mar aberto. © Marcelo Fanttini Polese 1. Piscicultura marinha Não diferente dos demais Estados litorâneos, o Es- pírito Santo possui grande potencial para piscicultura marinha, com extensão de 411 km, a qual correspon- de a 5 % da costa brasileira, com cerca de 46 mil km² de terras e 450 mil km² deZona Econômica Exclusiva marítima, e ainda sua localização estratégica próximo aos grandes centros comerciais do país. Porém a pro- dução de peixes oriundos dessa atividade é nula, exis- tem apenas algumas iniciativas de Instituições públicas e privadas de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação tecnológica, com projetos financiados, principalmente, pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultu- ra e Pesca (Seag), por editais ou descentralização de recursos para o fomento do desenvolvimento sus- tentável da aquicultura no Estado do Espírito Santo. Atualmente os esforços da piscicultura marinha es- tão concentrados nas pesquisas com diversas espécies, como: tainha (Mugil liza), vermelho (Lutjanus sp.), ga- roupa (Epinephelus marginatus), robalo (Centropomus sp.), beijupirá (Rachycentron canadum) e peroá (Ba- lites capriscus). No IFES (Instituto Federal de Educa- ção, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo) - Campus Piúma (Campus que forma profissionais do ensino técnico, graduação e pós-graduação na área de aqui- cultura, pesca e processamento), através do Laborató- rio de Nutrição e Produção de Organismos Aquáticos https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 49 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: 2. Carcinicultura marinha O Estado do Espírito Santo tem um histórico na pro- dução do camarão de água doce (Gigante da malásia - Macrobrachium rosenbergii) com fazendas com mais de 30 anos produzindo estes camarões, principalmente no norte do estado (São Domingos do Norte e Gov. Lin- denberg). Porém, uma grave crise hídrica assolou o es- tado entre 2014 a 2017 decaindo a produtividade desta espécie e despertando a curiosidade dos produtores para sistemas de produção que não dependessem de muita água para produzir. Em meados de 2000 o ES teve sua primeira tentativa de produção de camarão-cinza (Litope- naeus vannamei) no norte do Estado, com o conhecido “Condomínio do camarão”. Estes sistemas extensivos de- mandaram grandes áreas de produção e dependência de água, tendo a produção encerrada. Inovações tecnológi- cas foram trazidas/aprimoradas por cientistas em aquicul- tura, especialmente sistemas de troca mínima de água e intensificação. Em 2017, a primeira fazenda de carcinicultura ma- rinha intensiva foi inaugurada em Piúma, porém por al- guns problemas técnico-financeiros teve as atividades paralisadas, mas em 2021 foi reativada. Em 2019, uma fazenda foi totalmente licenciada e as atividades se inicia- ram na cidade de Fundão, com um volume de produção de aproximadamente 1 ton/mês. Neste mesmo ano, outra fazenda foi licenciada e opera na cidade de São Mateus, esta encontra-se em fase de ampliação e pro- duzirá até 20 ton/mês de camarão-marinho (Figura 3). Figura 2. Produção experimental de beijupirá e garoupa pelo IFES. © Leonardo Demier Cardoso https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 50 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: Figura 3. Fazenda de produção de camarão-marinho “Pescados capixaba”, localizada no município de São Mateus, ES. © Thalles de Sá Lima A fazenda encontra-se em fase de ampliação e produzirá até 20 ton/mês de camarão- marinho. https://altamar.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.engepesca.com.br/ 51 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: 3. Malacocultura O estado do Espírito Santo é composto por 14 municípios litorâneos, abrangendo vários ecossiste- mas costeiros, como estuários, manguezais, restingas, praias e ilhas, mas atualmente apenas três desenvolvem a atividade de malacocultura. Desde 1987 que a malacocultura é uma alternativa sustentável para extração dos bancos naturais de me- xilhões no Espírito Santo. A Ilha dos Cabritos, litoral de Piúma, é um local tradicional da maricultura capixaba e próximo das áreas de extração de mexilhão (Figura 4). Inicialmente a Escola de Pesca apoiou a maricultura por muitos anos, o que permitiu o fortalecimento da atividade, que se desenvolveu nos municípios vizinhos. Em Guarapari a produção de moluscos começou em 1997, a mitilicultura foi incentivada nas comunida- des do Perocão, Meaípe e Concha D’ostra. E poste- riormente a ação apoiou o cultivo de moluscos na Praia da Cerca (Sodré, 2008). Assim, no ano 2000 surgiu a Associação dos Maricultores de Guarapari – AMAG. Em Anchieta foi criada em 1999 a Associação de Armadores, Maricultores e Pescadores do Município de Anchieta, quando a produção de mexilhões foi fo- mentada pela prefeitura. Os maricultores coletam as sementes nos costões rochosos e realizam o povoa- mento em mexilhoneiras de forma artesanal até os dias atuais. Somente em 2014 surgiu a Associação dos Ma- ricultores de Piúma – AMPI. Ao longo desses anos, o mexilhão Perna perna ainda é a espécie mais cultivada pela malacocultura capixaba. Outras espécies de bivalves como, vieiras Nodipecten nodosus e ostras Crassostrea gigas e Crassostrea gasar foram fomentadas desde o final da década de1980, mas apenas recentemente voltaram a ser cultivadas. A produção de ostras e vieiras em Piúma foi reto- mada em 2017 com apoio do Laboratório de Malaco- cultura do IFES, Campus Piúma, e Fundação de Am- paro à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo - FAPES, Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo – SEAG. Em 2018 a AMAG também voltou a diversificar a produção com o cultivo de vieiras N. nodosus, ostras C. gigas, e beijupirá R. canadum. Atualmente a atividade é desenvolvida por aproxi- madamente 30 famílias no Estado. O cultivo de ostras e vieiras é realizado em longlines duplos e/ou simples, os animais são colocados em lanternas circulares em diferentes andares. As sementes de ostras são obtidas nos laboratórios de Santa Catarina, já as vieiras no Ins- tituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG), Rio de Janeiro. Figura 4. Área de cultivo de mexilhões, ostras e vieiras da Associação de Maricultores de Piúma – AMPI. © Malacolab https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ 52 JU L/ S E T 2 0 2 1 PARCEIROS NA 24 ° ED: 4. Macroalgas A produção de macroalgas no litoral do Espírito Santo é a menos desenvolvida, as iniciativas para o cultivo de algas marinhas começaram no final da dé- cada de 1980, essas foram propostas por meio de projetos com as comunidades tradicionais, onde os maricultores produziam moluscos e algas. Contudo, a algicultura não prosperou em águas capixabas, mes- mo diante de boas condições e disponibilidade de es- pécies nativas com potencial para aquicultura. 5. Iniciativa SEAG A Secretaria de Estado de Agricultura, Abasteci- mento, Aquicultura e Pesca (SEAG) vem fomentan- do a maricultura de forma consistente desde 2015. Naquele ano, foi lançado o programa Pesquisa Apli- cada a Políticas Públicas Estaduais Agropecuárias no Estado do Espírito Santo – PPAgro, o qual investiu 10 milhões de reais em pesquisas passíveis de serem aplicadas nos diversos setores da agropecuária, da aquicultura e da pesca. Entre estes projetos, foram desenvolvidos e executados 11 projetos exclusiva- mente direcionados para a maricultura, especialmen- te para o setor de piscicultura marinha, juntamente com o Ifes Piuma. Em novembro de 2021, através do incentivo da gestão do atual secretário de estado Sr. Paulo Foletto, a SEAG promoveu o Congresso Capixaba de Pesquisa Agropecuária, oportunidade em que puderam ser apresentados ao grande públi- co, os resultados alcançados por esses projetos. Em 2020,
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