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1 M A R / A B R 2 0 1 8 a q u a cu lt u re b ra si l. co m IS SN 2 52 5- 33 79 EDIÇÃO 22 JAN/MAR 2021 R E V IS TA Entrevista: Cintia Nakayama - UFMG/ Aquabio Eles fazem a diferença: Vinicius Ronzani Cerqueira Coluna: A magia dos pigmentos Artigo: Profissionalização em sistema RAS na Europa A Q U A C U L T U R E B R A S I L Uma estratégia para conservação das espécies e geração de renda PANORAMA DA QUELONICULTURA NO BRASIL: C M Y CM MY CY CMY K AQU-campanha-2021-anuncio-revista-aquaculture-brasil-21x13,5cm.pdf 1 26/05/2021 10:30:48 https://www.engepesca.com.br/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ C M Y CM MY CY CMY K AQU-campanha-2021-anuncio-revista-aquaculture-brasil-21x13,5cm.pdf 1 26/05/2021 10:30:48 http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ AQUACULTURE BRASIL O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com EDITORES-ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen DIREÇÃO DE ARTE: Syllas Mariz Jéssica Brol COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aldeniza Cardoso de Lima, André Macedo Brugger, Anndson Brelaz de Oliveira, César Serra Bonifácio Costa, Cintia Labussière Nakayama, Fernanda Garcia Sampaio, Filipi Andrade, Hênio do Nascimento Melo Júnior, Hugo Ricardo Bezerra Alves, Janderson Rocha Garcez, João Alfredo da Mota Duarte, Katt Regina Lapa, Lucas Gomes Mendes, Luís Tadeu Assad, Manuel Macedo de Souza, Marco Dellian Zanetta, Paulo Cesar Machado Andrade, Pedro Henrique Magalhães Cardoso, Pedro Lindenberg, Thiago Luiz Ferreira Anízio, Vinicius Ronzani Cerqueira, Wander da Silva Rodrigues. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Artur Nishioka Rombenso Diego Maia Rocha Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Giovanni Lemos de Mello Ivã Guidini Lopes Juliana Antunes Galvão Marcela Maia Yamashita Marcelo Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores. QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação trimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000. A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros. Giovanni Lemos de Mello, Editor-chefe. Impressionante como a pandemia do Covid-19 mexeu com a vida de todos nós. Qualquer pes- soa do planeta, sem dúvidas, conhece alguém que lamentavelmente foi acometido por esta tragédia. Escrevo este editorial em 21 de junho de 2021. Primeiro dia do inverno. Recentemente, o Brasil atin- giu a triste marca de 500 mil vidas perdidas. A aqui- cultura brasileira também foi duramente atingida. Apesar de ser difícil nominar as vidas perdidas, e talvez correr o risco de cometer algum esqueci- mento ou equívoco, gostaria de destacar três pro- fissionais importantes para o nosso setor e que nos deixaram precocemente. Na carcinicultura marinha, Chung Ji Hsiung (59 anos), um dos primeiros carcinicultores a intensificar a produção de L. vannamei no Brasil e apostar em novas tecnologias e inovações, além de incentivador do cooperativismo. Na piscicultura continental, Marcelo Berriel Cardoso (53 anos), um dos maiores piscicultores do Brasil. Entusiasta da aquicultura, acreditava na atividade como fator de desenvolvimento, geração e distribuição de renda. Um homem de ação, decisão e atitudes. Compatibilizava a produção com gestão, eficiência e resultados. Um exemplo de produtor que se foi e que deixou sua marca na história da aquicultura brasileira. Na ciência, a perda que talvez mais tenha comovido o setor pesqueiro e aquícola do País, foi a do Prof. Dr. Fábio Hazin (57 anos). O Engenheiro de Pes- ca mais brilhante da história de nosso País. Uma referência mundial da Ciência Pesqueira. Nosso setor parou em 07/jun/21, consternado com a partida do Mestre Hazin. Certamente Chung, Berriel e Hazin teriam ainda muito a contribuir com o nosso setor! E claro, tantos outros que nos deixaram precocemente... De acor- do com alguns estudos, o Brasil pode ter a primeira redução da expectativa de vida desde 1940... Lamentável... Vamos trabalhar por vocês, por cada vida perdida, pelo combate ao negacio- nismo e pela valorização da ciência, das pessoas e da Aquicultura! E aqui está, mais uma edição da Revista Aquaculture Brasil. Ótima leitura! Anuncie sua empresa na A Q U A C U LT U R E B R A S I L Sua marca merece estar em destaque no maior portal da aquicultura brasileira Fale com a gente: p u b l i c i d a d e @ a q u a c u l t u r e b r a s i l . c o m www.aquaculturebrasil.com https://www.aquaculturebrasil.com/ 6 SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL - edição 22 jan/mar 2021 » p.18 » p.26 » p.10 08 FOTO DO LEITOR 10 CIRCULAÇÃO VERTICAL NA PISCICULTURA EM TANQUE-REDE DE AMBIENTES TROPICAIS E SEMIÁRIDO 18 CUIDADOS MÍNIMOS EM UM QUARENTENÁRIO CREDENCIADO PARA IMPORTAÇÃO DE ORGANISMOS AQUÁTICOS ORNAMENTAIS PARA IMPEDIR A INTRODUÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE PATÓGENOS 26 USO DE PLANTAS HALÓFITAS NA AQUICULTURA: DO TRATAMENTO DE EFLUENTE À ALIMENTAÇÃO ANIMAL 32 PANORAMA DA QUELONICULTURA NO BRASIL – UMA ESTRATÉGIA PARA CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES E GERAÇÃO DE RENDA 42 AQUICULTURA E PESCA SUSTENTÁVEIS NO INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE (IABS): ATUAIS AVANÇOS SOCIOPRODUTIVOS 48 PROFISSIONALIZAÇÃO EM SISTEMA RAS NA EUROPA 54 ESPAÇO EMPRESA - INVE 58 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 59 CHARGES 7 » p.42 » p.84 » p.90 60 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 62 ATUALIDADES DA CARCINICULTURA 64 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 66 AQUICULTURA ORNAMENTAL 68 GREEN TECHNOLOGIES 70 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA 72 VISÃO AQUÍCOLA 74 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 76 SANIDADE 78 GESTÃO DE RESÍDUOS 80 NAVEGANDO NA AQUICULTURA 82 TECNOLOGIA DO PESCADO 84 ENTREVISTA - CINTIA LABUSSIÈRE NAKAYAMA 90 ELES FAZEM A DIFERENÇA 96 DESPESCOU » p.48 8 JA N / M A R 2 0 2 1 Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata, Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri (Fortaleza, CE) Giancarlo Lavor Produção de carpa ornamental (Não-Me-Toque, RS) Cleiton Kissmann @acquadocepiscicultura Camarão da fazenda Aqualuz cultivado em baixa salinidade (Taubaté, SP) Daniel Pereira e Dalton Nielsen @aqualuzcamarao Quando se põe amor até na preparação do viveiro para a próxima safra (Laguna, SC) Clemilson de Andrade @mar.dobrasil 9 JA N / M A R 2 0 2 1 redacao@aquacu l t u reb ra s i l . com Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia e participe desta seção. >> Fazenda “Acuacultores del Mar Azul” (Sinaloa, México) Arturo Nieves @shrimpaquaculture Alevinos de Pacu (Timbó, SC) Aquacultura Nilótica @aquaculturanilotica 10 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: © D an ie la C am pe ch e https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 11 JA N / M A R 2 0 2 1 A piscicultura em tanques-rede é uma das modalida- des de aquicultura que mais tem avançado no Brasil se consolidando cada vez mais como um sistema de produ- ção. Reservatórios e açudes têm permitido o avanço da modalidade de produção que ocorre diretamente no cor- po hídrico. Apesar do cres- cimento da piscicultura em tanques rede e dos avanços tecnológicos há ainda muito a avançar em relação as es- tratégias de monitoramento ambiental e manejo eficiente para darsuporte aos sistemas de produção. Lacunas como as da influência de variações ambientais que podem resul- tar em perdas de produção e mortalidade massiva tam- bém ainda são uma área de demanda para dar suporte ao desenvolvimento desta mo- dalidade de produção. Estudos recentes indicam que variações meteorológi- cas possam influenciar direta- mente o sucesso das piscicul- turas e que o monitoramento destas pode ser uma grande ferramenta para o produtor de peixes em tanques-rede. Dentre os eventos meteo- rológicos que já estão sendo observados como de influên- cia direta aos sistemas de produção em tanques-rede estão as variações térmicas e eólicas que promovem a circulação vertical. Nos úl- timos anos a ocorrência de circulação vertical turbulen- ta têm causado eventos de mortalidade em pisciculturas em tanque-rede em açudes e reservatórios. Entre os pisci- cultores, estes eventos são conhecidos como “inversão térmica”. Circulação vertical na piscicultura em tanque-rede de ambientes tropicais e semiárido Hênio do Nascimento Melo Júnior Universidade Regional do Cariri-URCA Laboratório de Limnologia e Aquicultura-LLA henio.melo@urca.br Lacunas como as da influência de variações ambientais que podem resultar em perdas de produção e mortalidade massiva ainda são uma área de demanda para dar suporte ao desenvolvimento deste sistema de produção. Fernanda Garcia Sampaio Embrapa Meio Ambiente fernanda.sampaio@embrapa.br 12 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Figura 1. Esquema de Circulação Vertical e as condições estruturais da coluna d’água em um lago estratificado e desestratificado. Adaptado de: Saraiva e Melo Júnior (2019). Circulação vertical (CV) A Limnologia caracteriza a CV através da estratifica- ção e desestratificação da coluna d’água. Quando a co- luna de água está dividida em três estratos, o epilímnio, metalíminio e hipolímnio, o ambiente está estratificado. Quando a coluna de água está homogênea, apresen- tando características físicas e químicas semelhantes da superfície ao fundo, podemos afirmar que o ambiente está desestratificado ou homogêneo (Figura 01). Um ambiente estratificado possui condições limnológicas diferentes em cada uma das camadas e quando ocorre a desestratificação o ambiente fica misturado tendo as mesmas características limnológicas. A CV é um even- to natural fundamental para a estrutura e organização dos processos químicos e biológicos de lagos, represas e açudes, e podem ser influenciados pela temperatura atmosférica, velocidade e direção do vento (Saraiva e Melo-Junior, 2019). O que causa esse processo, quando e como ocorre? No Brasil cada região possui um comportamento climatológico diferenciado, mas os principais fenôme- nos responsáveis por originar a CV são a temperatura do ar, velocidade e direção do vento, regime de preci- pitação pluviométrica e a ocorrência de frentes frias. O aquecimento diurno da atmosfera aquece o vento que em sequência aquece a camada superficial da água, ao longo do tempo a superfície aquecida transfere calor para a meia água, a qual em dado momento também transfere calor para água profunda. Nessa transferên- cia de calor a temperatura decresce da superfície ao fundo. A diferença térmica nas três camadas altera a den- sidade da água, a qual é inversamente proporcional a temperatura. O diferencial de temperatura e densida- de impedem a mistura das camadas de água, carac- terizando a estratificação e o epilímnio, metalímnio e hipolímnio (Figura 02 A). No resfriamento atmosférico circula vento frio so- bre a superfície da água, resfriando-a e tornando-a mais densa provocando afundamento e mistura de água en- tre epilímnio e metalímnio. O contínuo resfriamento superfícial aumenta a densidade e a mistura atingindo o hipolímnio desestratificando o ambiente (Figura 02 B). O vento também desloca as águas superficiais, esse transporte chama-se circulação horizontal (CH). Quando a água empurrada atinge a margem oposta, esta empurra a água do local para baixo causando cir- culação de água (Figura 03 A e B). Circulação vertical (CV) e pisciculturas em tanques-rede Para a piscicultura em tanque-rede a CV é de ex- trema importância, pois a circulação das águas super- ficiais oxigenadas pela fotossíntese transporta O2 para as águas mais profundas permitindo maior oxigenação da água e decomposição aeróbica da matéria orgânica excedente no sedimento. Porém quando a CV ocorre de forma mais pro- nunciada ela é conhecida como circulação vertical tur- bulenta (CVT). A estratificação antecede a ocorrência de uma CVT, porém a mudanças intensas e repentinas das condi- ções físicas da atmosfera, queda de temperatura e ven- to influenciam as condições físicas e químicas da água, promovendo uma circulação de forte impacto, remo- vendo sedimento, transportando-os pela coluna de água até que se espalhem pelo epilímnio, onde estão posicionados os tanques-rede, tornando o ambiente turbulento e inadequado a sobrevivência dos peixes (Figura 4 A e B). https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 13 JA N / M A R 2 0 2 1 Figura 2. A) Variação térmica determinante da estratificação do ambiente; B) Variação térmica determinante da desestratificação do ambiente. Adaptado de: Tundisi e Tundisi (2008). Figura 3. A) Ação do vento na condição de ambiente estratificado; B) Ação do vento na formação de desestratificação. Adaptado de: Tundisi e Tundisi (2008). Figura 4. A) Variações térmicas e eólicas diurnas determinantes da estratificação da coluna de água; B) Variações térmicas e eólicas noturnas determinantes da circulação vertical turbulenta. Adaptado de: Araújo e Melo Júnior (2019) e Sistema integrado de dados ambientais - SINDA/INPE. A. B. A. B. A. B. 14 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Os impactos resultantes de CVT podem ocorrer na seguinte ordem: I. Alterações drásticas da temperatura do epilí- mio causada por resfriamento atmosférico. Estas alte- rações podem não levar a morte dos animais, mas, de- pendendo da intensidade, poderão ser extremamente prejudiciais para a saúde e desempenho dos mesmos, levando ainda a diminuição do consumo de ração en- quanto ocorrer o fenômeno; II. O transporte de sedimento até a superfície de água, promove alterações que iniciam simultaneamen- te, porém com efeitos e velocidades diferenciadas. Os peixes nos tanques-rede, sem possibilidade de fuga, es- tão submetidos a exposição prolongada desses impac- tos e a sequência de alterações metabólicas: • Alteração da cor, transparência, turbidez e odor da água, ficando amarronzada e com “cheiro de ovo podre”. Esses impactos foram verificados em even- tos de mortalidade em pisciculturas (Melo Júnior, Dias e Vasconcelos, 2019) e em reservatórios de São Paulo (Chiba et al., 2009); • (NH3) íon amônia e (NO2) nitrito, gases re- sultantes da decomposição aeróbica e importantes no ciclo de nutrientes, porém em altas concentrações são tóxicos. A NH3 também é o produto da excreção dos peixes, que ocorre por difusão, portanto, altas concen- trações de NH3 na água impedem a excreção dos pei- xes, intoxicando-os por excesso de NH3 no sangue e te- cidos. O NO2 em altas concentrações na água pode ser absorvido pelas brânquias e inibir a respiração dos pei- xes, nesse caso, é formado a metahemoglobina, “doen- ça do sangue marrom”, oxidando o ferro da hemoglo- bina e impedindo a fixação do O2 no sangue, o peixe morre por anoxia mesmo a água tendo O2 a disposição; • (H2S) gás sulfídrico ou sulfeto e (CH4) meta- no. São gases resultantes da decomposição anaeróbica, provoca “cheiro de ovo podre na água” e são potencial- mente tóxicos aos peixes, a absorção branquialresulta rápido efeito letal. • Diminuição das concentrações de O2 por decomposição aeróbica da matéria orgânica transpor- tada na CVT e, em seguida, a cor e transparência re- duzem a taxa de fotossíntese. Os efeitos da hipoxia e anoxia sobre os peixes, em maioria, ocorrem secunda- riamente às intoxicações acima mencionadas; • Sinais visuais de intoxicação dos peixes no cultivo, conforme os piscicultores: letargia, perda de apetite, natação desorientada, tentativa de respirar ar atmosférico “beber ar” e óbito (Melo Júnior, Dias e Vas- concelos, 2019); III. Fuga de peixes nativos livres, estes procuram áreas menos impactadas ou sem impactos; Registros de CVT em ambientes com cultivo de peixes em tanques-rede Eventos de mortalidade por CVT em pisciculturas em tanque-rede ocorreram em vários açudes, dos quais: Olho D’água em Várzea Alegre, Ceará (Santos et al., 2013); Rosário em Lavras da Mangabeira, Ceará (Melo Júnior, 2017); Umari em Upanema, Rio Grande do Norte (Henry-Silva, Melo Júnior e Attayde, 2019); Sítios Novos em Petencostes, Ceará (Oliveira et al., 2011; Araújo e Melo Júnior, 2019). Araújo e Melo Júnior (2019) analisaram os dados meteorológicos do evento de mortalidade em piscicul- turas do açude Sítios Novos. Por meio dos registros me- teorológicos, os autores constataram que entre a tarde e manhã dos dias 01/05/11 e 02/05/11, houve queda de 8,7°C na temperatura do ar, resfriando o epilímnio, e entre 21:00 e 00:00 ocorreu direcionamento da cor- rente de vento, em sentido semelhante e com variação da velocidade entre 3,5 a 1,0 m/s (Figura 06 A a D). Essas variações determinaram a formação da CVT, fato também confirmado pelas informações etnolim- nológicas dos piscicultores, sobre as alterações da água, relatadas em Oliveira et al. (2011). Igualmente as ocorrências verificadas nos açudes Olho D’água, Rosá- rio e Umari, citados acima. Chiba et al. (2009), Tundisi et al. (2010), Melo Júnior (2017) e Silva e Melo Júnior (2018) reconhecem que ventos de pouca velocidade, porém na mesma direção por longo tempo, contri- buem fortemente na formação da CVT. Como ocorridos em outros açudes, no açude Sí- tios Novos ficou evidenciado o efeito localizado da CVT dentre as duas áreas de cultivo, monitoradas PP2 e PC3 (Figura 06), porém só ocorreu mortalidade em uma das pisciculturas (PP2). Possivelmente o relevo e morfometria minimizaram a influência térmica e eólica na área de piscicultura que não teve mortalidade (PC3) de maneira que não sofreu os impactos ambientais cau- sados pela CVT mantendo os peixes cultivados ilesos. Na região Sudeste e Sul do país os eventos de CVT são principalmente impulsionados por passagens de frentes frias (FF), estas atuam alterando as condições térmicas e eólicas que modificam a estrutura da coluna de água nos reservatórios, os quais possuem períodos caracterizados de estratificação e desestratificação. No período de estratificação, durante a passagem da FF (Figura 7), e cerca de 2 a 3 dias após, o aqueci- mento diário das camadas superiores é enfraquecido e a coluna d’água se torna mais homogênea, com tempe- raturas aproximadas de 24°C (Figura 8). Já no período de mistura, o mesmo fenômeno ocorre, porém com menores amplitudes térmicas. Entretanto as maiores https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 15 JA N / M A R 2 0 2 1 misturas da coluna da água promovida por FF neste período podem diminuir a temperatura de superfície da água a aproximadamente 22°C (Araújo et al., 2017). O período ideal para cultivo da tilápia em Furnas parece ser o verão (período de estratificação) pois du- rante o inverno (período de mistura), as temperaturas da superfície da água chegaram a valores abaixo dos 22°C, podendo levar a mortalidade ou estressar os peixes, diminuindo a produção. O monitoramento de parâmetros meteorológicos pode ajudar no monitoramento ambiental da aquicul- tura, pois com a maior ocorrência de FF no período de mistura, flutuações térmicas tendem a ocorrer influen- ciando diretamente o desempenho dos peixes em culti- vo, evitando sobras de ração e mortalidades em massa. Apesar da ocorrência de FF ser menor no verão, os efeitos desta na qualidade da água e na mistura térmica são mais danosas. Como o verão é a época de maior produção, o monitoramento da ocorrência das FF pode ser um ótimo instrumento para apoiar o manejo adequado, diminuindo perdas no processo produtivo e evitando impactos ambientas. Por outro lado, a passagem da FF aumenta o poder de diluição nos braços do reservatório por causar uma mistura parcial da coluna d’água, beneficiando as áreas de cul- tivo (Araújo et al., 2017). Tundisi et al. (2010) relatam caso de CVT ocorrida no lago Catalão localizado em Manaus-AM em maio de 2006, sendo causado por passagem de FF ocasionando diferencial de temperatura, mistura completa da colu- na d’água, liberação de H2S, redução da concentração de O2 e provocou a mortalidade de peixes do lago. Figura 5. A) Variação de temperatura do ar e velocidade do vento na CVT; B) Direção do vento no final da tarde. Fonte: Araújo e Melo Júnior (2019) A. B. Figura 6. A) e B) Direcionamento do vento atuando na formação da CVT. Fonte: Araújo e Melo Júnior (2019) A. B. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos 16 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Conclusão A identificação e compreensão dos sistemas me- teorológicos com suas influências na dinâmica lim- nológica como circulação vertical, propriedades fí- sicas e químicas e seus resultados sobre a qualidade da água, são ferramentas importantes para o mane- jo e sustentabilidade da piscicultura em tanque-rede em ambientes como lagos, açudes e reservatórios. O verão representa a possibilidade de maior im- pacto causado por CVT, nesse período sazonal ocorre o maior diferencial de temperatura no meio aquático determinado pelos fenômenos causadores da CVT, tornando-a mais intensa, sendo essa condição comum aos açudes do Semiárido e reservatórios de todo Brasil. O monitoramento das passagens de FF, nas regiões Sul e Sudeste e a transição entre verão e inverno no Semiárido são fatores cruciais para o monitoramento da piscicultura em reservatórios e açudes. Portanto, há que haver muito investimento em estudo e tecno- logia de monitoramento que atendam às necessida- des da piscicultura em tanque-rede, tanto para gran- des, médios como para pequenos produtores. Figura 7. Realce em vermelho do reservatório de Furnas mais especificamente no município de Guapé (MG) e momento de registro da passagem da frente fria em 23, 24 e 25 de julho de 2014 (A, B e C respectivamente). Fonte: Araújo et al. (2017). A. B. C. Figura 8. Distribuição vertical diária da temperatura da água (Tw), A e C durante a passagem da frente fria e 3 dias após, e B e D sem a influência da frente fria, em período de estratificação (A e B) e mistura (C e D). Fonte: Araújo et al. (2017). A. B. C. D. https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 17 JA N / M A R 2 0 2 1 https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.textilsauter.com.br/ 18 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: © P ed ro H en ri qu e M ag al hã es C ar do so https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 19 JA N / M A R 2 0 2 1 Cuidados mínimos em um quarentenário credenciado para importação de organismos aquáticos ornamentais para impedir a introdução e disseminação de patógenos A aquariofilia é um importante segmento na indústria de animais de companhia. Países desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa apresentam um maior volu- me desse mercado, fazendo com que os peixes sejam a categoria pet mais prevalen- te nos domicílios no mundo, ficando na frente de cães, gatos e outros animais de estimação. No Brasil, o ce- nário é um pouco diferen- te, pois os peixes estão em quarto lugar na categoria de animais de estimação pre- sente nos domicílios, fican- do, portanto, atrás de cães, gatos e aves (AbinPet 2021). Em todo o mundo são em média 4500 espécies de água doce (dos quais mais de 90% já são criados em pisciculturas) e 1450 de água salgada (dos quais cerca de 95% ainda extraídos de ambientes naturais). A grande maioria dos peixes são provenientes de países em desenvolvimento como Brasil, Colômbia, Filipinas, Indonésia, Malásia, Nigéria, Peru, Quênia, Sri Lanka e outros dos quais são exportados para diversos países desenvolvidos do globo (Whittington; Chong, 2007). Esse movimento de translocação através de importação, exportação e distribuição permite que animais cheguem em uma outra região totalmente diferente da original e podendo muitas vezes se reproduzir com muito sucesso e eficiência no novo local. A exemplo no Brasil temos a Zona da Mata de Minas Gerais, que é o principal polo produtor, com quase a totalidade de animais exóticos (Cardoso; Balian, 2018) como Betta splendens, Carassius auratus, Cyprinus carpio, Puntius tetrazona, Xiphophorus maculatus, Trichopodus leerii entre inúmeros outros (figura 1). A nível mundial, os peixes são a categoria pet mais prevalente nos domicílios, ficando à frente de cães, gatos e outros animais de estimação. Pedro Henrique Magalhães Cardoso Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal Faculdade de Medicina Veterinária - FMVZ Universidade de São Paulo - USP pedrohenriquemedvet@usp.br 20 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Quarentenários credenciados para importação de peixes ornamentais Para que um peixe ornamental seja importado é obrigatório que ele seja submetido a um período mí- nimo de quarentena (figura 3) antes de serem comer- cializados para lojas e consumidores finais. No Brasil, o credenciamento de quarentenários para importa- ção de organismos aquáticos para fins ornamentais é de competência do Ministério da Agricultura, Pe- cuária e Abastecimento (MAPA) (Brasil, 2015). O quarentenário deve ter requisitos mí- nimos para a aprovação da licença e deve funcionar sob responsabilidade técnica de um médico-veterinário, que deve moni- torar os animais durante todo o período de quarentena com o intuito de impedir a introdu- ção e disseminação de doenças transfronteiriças. Até a data de redação deste artigo o Brasil possuía um total de 24 quarentenários credenciados (figura 2) para importação de organismos aquáticos com fins ornamentais distribuídos pelas regiões do Brasil (últi- ma atualização 12/06/2020) (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, 2020). A autorização para importação das espécies de peixes é de competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA), que possui legislações específicas com listas de espé- cies que são permitidas para importação. Desde 2017 o órgão também apresenta listas de peixes de água doce e peixes de água salgada cuja importação será negada com a devida justificativa como por exemplo quando se tratar de uma espécie com potencial de invasão (Ibama, 2018). Figura 1. Principais peixes ornamentais exóticos reproduzidos na Zona da Mata de Minas Gerais: Betta splendens (A), Carassius auratus (B), Cyprinus carpio (C), Puntius tetrazona (D), Xiphophorus maculatus (E) e Trichopodus leerii (F). © Pedro Henrique M. Cardoso Figura 2. Distribuição dos quarentenários credenciados para importação de peixes ornamentais com fins comerciais. 1 quarentenário 2 quarentenários 6 quarentenários 15 quarentenários https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 21 JA N / M A R 2 0 2 1 Figura 3. Peixes ornamentais de água salgada em quarentena em um quarentenário credenciado para importação.© Pedro Henrique M. Cardoso A translocação de animais aquáticos e o aparecimento de doenças A translocação de animais aquáticos permite também que outros organis- mos venham de “carona” com os pei- xes, logo, o comércio e circulação de animais vivos, sem o cumprimento de procedimentos técnicos padronizados e seguros, pode possibilitar a dissemi- nação de inúmeros agentes causadores de doenças infecciosas e parasitárias. E muitas vezes as doenças podem causar sérios problemas sanitários em regiões indenes e ser responsável por prejuízos econômicos irreparáveis (Oata, 2008). Em 2015, Cardoso e colaboradores relataram em São Paulo, a ocorrência do gênero Megalocytivirus causando mor- talidade de 94% em piranhas verme- lhas (Pygocentrus nattereri) após serem alimentadas com guppies (Poecilia reti- culata). Amostras dos mesmos guppies que não entraram em contato com as piranhas também foram submetidos para diagnóstico e positivo para o vírus. Os gupppies não manifestavam a doença, sugerindo os autores que possa ter ocor- rido transmissão horizontal da doença para as espécies nativas. Outros autores também detectaram o mesmo vírus em diversas outras espécies de peixes ornamentais cultivados aparentemente saudáveis, sugerindo desse modo que alguns peixes possam servir como reservató- rio do vírus (Cardoso et al., 2017a). O mesmo vírus foi detectado em diversas pisciculturas produtoras de tilápias em regiões do Brasil (Panorama da Aquicultura, 2020). Cardoso e colaboradores também relataram a pre- sença de Neobenedenia melleni parasitando a pele e re- gião ocular (figura 4) de Pomacanthus asfur, Pomacanthus maculosus, Pygoplites diacanthus e Chaetodon semilarva- tus; Macrogyrodactylus sp. parasitando a pele e região ocular de Polypterus palmas; Uronema sp. infectando pele e órgãos internos (figura 5) de Chromis viridis, Chro- mis vanderbilti, Heniochus acuminatus, Apolemichthys trimaculatus, Apolemichthys xanthopunctatus, Pseudan- thias squamipinnis, Pseudochromis fridmani, Chaetodon auriga, Chaetodon vagabundus, Chaetodon semilarvatus; Haliotrema aurigae parasitando brânquias de Chaetodon rainfordi; Cryptocaryon irritans parasitando pele de Ze- brasoma xanthurum. Sendo todas as espécies de pei- xes citadas acima importadas e os patógenos detectados ainda na quarentena ou pós quarentena (Cardoso et al., 2017b, 2018, 2020a, 2020b). Figura 4. Peixe Anjo (Pomacanthus asfur) apresentando opacidade de córnea (A) causado pelo parasita Neobenedenia melleni (B). © Pedro Henrique M. Cardoso 22 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Figura 5. Peixes ornamentais de diferentes espécies e famílias com lesões hemorrágicas causado pelo parasita Uronema spp. © Pedro Henrique M. Cardoso Em aquicultura, biosseguridade é um termo que se refere às medi- das aplicadas para reduzir a proba- bilidade da disseminação e impactos causados por agentes ou organis- mos biológicos a um indivíduo, po- pulação ou ecossistema, logo, a falta de biosseguridade também restringe o desenvolvimento e a sustentabilidade de setores da aqui- cultura por perdas na produção e aumento nos custos operacionais e, indiretamente, através de restrições no comércio e impactos na biodi-versidade (Cardoso; Balian, 2018). Portanto para impedir a introdução e disseminação de patógenos e do- enças é muito importante que os envolvidos na importação e expor- tação de peixes ornamentais ado- tem práticas de biosseguridade a começar pela quarentena (figura 6). Cuidados mínimos que devem ser seguidos antes e durante o período de quarentena para impedir a introdução, multipli- cação e disseminação de doenças Antes que os animais cheguem do local de origem é necessário que o importador no Brasil junta- mente com o médico-veterinário responsável técnico se certifique que a quarentena esteja cumprindo não só os requisitos mínimos exigi- dos em legislação, mas que uma sé- rie de outras medidas sejam adota- das pela empresa com o intuito de manter o mínimo de bem estar ani- mal e biosseguridade. É primordial que os equipamentos estejam fun- cionado corretamente, que a água esteja com parâmetros de qualida- de adequado às espécies que vão receber, que a alimentação já tenha sido providenciada, assim como ter em estoque bactérias benéficas do ciclo do nitrogênio, responsáveis pela remoção de amônia e nitrito, dois principais elementos respon- sáveis por intoxicação e morte. Na maioria das vezes os ani- mais chegam em embalagens com água e espaço limitado, devido o valor do frete da carga que prati- camente triplica o valor dos indi- víduos ao importador. Devido ao espaço limitado há um aumento nas concentrações de amônia na embalagem, brânquias e corrente sanguínea podendo causar into- xicação, estresse e morte. Não é raro, uma taxa de mortalidade elevada na chegada à quarentena. Na minha experiência há 10 anos como responsável técnico em qua- rentenários credenciados, vi taxas de mortalidade que variaram de 0 a 16 % em cargas liberadas em situa- ções normais e no tempo previsto. Porém em cargas com erros na documentação e indeferimento da liberação, já vi animais ficarem reti- dos por mais de 5 dias até a resolu- ção do problema, culminando em 55% de mortalidade. O restante dos animais dessa mesma carga que chegaram, muitos ficaram doentes (figura 7) devido ao severo estresse que sofreram devido às más condi- ções de qualidade de água na em- balagem que estavam acondiciona- dos. Nos dias posteriores à chegada é comum observar picos de amô- nia; por isso é necessário estar precavido de todos os problemas que possam acontecer, para que não haja surpresas desagradáveis durante o período de quarentena. O processo longo de viagem gera bastante estresse, que tem como efeito a diminuição no sis- tema imunológico dos peixes. E é https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 23 JA N / M A R 2 0 2 1 Figura 6. Exemplar de Protopterus spp. (peixe pulmonado) que sobreviveu após 5 dias retido no aeroporto. Na foto há múltiplas lesões causadas pelo fungo aquático Saprolegnia spp. © Pedro Henrique M. Cardoso desta forma que muitos patógenos, alguns com ca- ráter oportunista podem aparecer. Logo na entrada na quarentena é possível administrar banhos de água doce em peixes de água salgada, para remoção de possíveis ectoparasitas como Neobenedenia melleni e outras monogêneas. Em peixes de água doce, reco- menda-se a adição de sal para diminuir o gasto energé- tico na osmoregulação sobrando energia para o peixe se recuperar e lutar contra possíveis patógenos. Além disso o monitoramento deve ser diário para detectar possíveis agentes causadores de doenças, e caso ne- cessário o uso de agentes terapêuticos (grande desa- fio na aquicultura no Brasil) que deverá ser solicitado aprovação pelo Serviço de Saúde Animal do MAPA. A utilização de filtros de luz ultravioleta e a ozo- nização da água (figura 8), dois equipamentos que Figura 7. Peixes ornamentais de diferentes espécies e famílias com lesões hemorrágicas causado pelo parasita Uronema spp. © Pedro Henrique M. Cardoso Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos 24 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: sob meu ponto de vista são fundamentais em uma quarentena e deveriam ser obrigatórios. O filtro de luz ultravioleta tem um poder biocida e é muito eficaz para diminuir a pressão exercida pelos patógenos nos peixes, principalmente no que diz respeito às bacté- rias. O acúmulo de matéria orgânica na água, favore- ce a proliferação de inúmeros agentes causadores de doenças como os protozoários Uronema, Tetrahyme- na, Tricodina e outros que podem causar doenças em peixes. A ozonização da água é responsável por fazer a quebra da matéria orgânica, deixar a água mais lim- pa e cristalina potencializando o poder biocida do fil- tro de luz ultravioleta contra os patógenos circulantes. Conclusão A translocação de animais aquáticos possibilita a in- trodução e a disseminação de doenças em diferentes regiões do Brasil e do mundo e para que isso não acon- teça, cuidados devem ser empregados antes e durante o período de quarentena. Ações, como banhos terapêu- ticos e o tratamento da água de recirculação com filtro de luz ultravioleta e ozonização são eficazes no controle de patógenos causadores de doenças em peixes e reco- mendo fortemente a utilização. Todos os pontos discuti- dos anteriormente devem ser supervisionados pela em- presa e por seu RESPONSÁVEL TÉCNICO. Qualquer prática IRRESPONSÁVEL, ilícita e fora da lei deve ser denunciada (mediante provas e evidências) aos órgãos reguladores que poderá submeter o estabelecimento quarentenário a sanções administrativas que vai desde a suspensão ao cancelamento do credenciamento. Figura 8. Filtros de luz ultravioleta e aparelho gerador de ozônio instalados em uma quarentena credenciada para importação de peixes para desinfecção da água. © Pedro Henrique M. Cardoso Todos os pontos discutidos anteriormente devem ser supervisionados pela empresa e por seu responsável técnico. https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 25 JA N / M A R 2 0 2 1 https://altamar.com.br/ 26 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: © J és si ca B ro l | A qu ac ul tu re B ra si l https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ Uso de plantas Halófitas na aquicultura: Do tratamento de efluente à alimentação animal Já imaginou a possibilidade de tratar o efluente de cultivo, alimentar os animais, gerar energia elétrica e reduzir custos com uma cajadada só? As plantas halófitas podem tor- nar isso uma realidade. Os vegetais mais cultiva- dos e consumidos no Brasil (como a alface, a couve, a batata, o aipim, entre outros) precisam de água doce para o seu melhor crescimen- to (< 3,0 dS m-1 ou < 2 g NaCl L-1) e consequemen- te, seu cultivo. Essas plantas são classificadas como plan- tas glicófitas (Grego, glico = açúcar/doce; fitas/phyton = planta). Por outro lado, ainda não muito populares e mui- tas vezes classificadas como plantas alimentícias não con- vencionais (PANCs), existe outro grupo de plantas que consegue passar por todo o seu ciclo de vida (germinação, crescimento e repro- dução) sobre a influência de águas salinas ou salobras. Ou seja, são plantas que podem ser cultivadas com água salgada. Para essas plantas damos o nome de plantas halófitas(Grego, halo = sal) (Nikalje et al., 2018). As plantas halófitas são na- turalmente encontradas nos ambientes costeiros que sofrem influência constante ou periódi- ca da água do mar e da mare- sia (spray marinho), e em locais do interior fortemente afeta- dos pela seca (Costa; Herrera, 2016b). No Brasil, os ambientes que se destacam na quantidade e biodiversidade de plantas ha- lófitas são os manguezais (e.g. o mangue vermelho, Rhizophora mangle), marismas (e.g. Sparti- na alterniflora), dunas costeiras (e.g. Sporobulus virginicus) e pla- nos salinos do semiárido nor- destino (e.g. Sesuvium portula- *Manuel Macedo de Souza e César Serra Bonifácio Costa Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Instituto de Oceanografia (IO) Laboratório de Biotecnologia de Halófitas (BTH) Rio Grande, RS *mcsouza@furg.br O desenvolvimento de carcinicultura em águas oligohalinas, principalmente oriundas de poços e rios, forneceu novas fronteiras para a carcinicultura mundial. 28 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: castrum). Embora sejam diferentes, as plantas halófitas desses ambientes apresentam algumas características semelhantes entre si e com plantas halófitas de outras regiões salgadas do mundo, como no Oriente Médio e França (Albuquerque et al., 2014; Costa; Herrera, 2016a). Mas... Ao longo da sua evolução as plantas halófitas de- senvolveram adaptações em suas partes interna e ex- terna para tolerar o estresse salino (Rozema; Schat, 2013). Embora cada espécie tenha suas singularida- des, os mecanismos funcionais das plantas são bem semelhantes. Mas a quantidade de adaptações que essas plantas obtiveram foi dependente da salinidade do ambiente onde viviam. Ou seja, quanto mais es- tresse as plantas sofriam, maior deveria ser o número de adaptações – características favoráveis para so- brevivência e fecundidade. Era adaptação ou morte! O halofitismo, que é o grau de tolerância a sali- nidade, é bem diversificado e altamente dependen- te do ambiente de desenvolvimento dessas plantas. Assim, dependendo do grau de tolerância a salinida- de, as plantas halófitas podem ser classificadas des- de plantas halotolerantes, que toleram água com baixa salinidade, até as halófitas extremas, que tole- ram condições hipersalinas, isto é, mais salgadas que a água do mar (Costa, 2006; Duarte et al., 2013). Falamos até agora como as plantas halófitas evo- luíram. Mas... Vários compostos são produzidos pelas plantas ha- lófitas para tolerar o estresse salino, como alguns açu- cares (como o sorbitol), aminoácidos (como a prolina) ácidos graxos poli-insaturados, flavonoides, polifenóis e carotenoides. Compostos que além de serem uti- lizados pelas plantas halófitas para tolerar o estresse salino, são importantes para alimentação animal e hu- mana, além de possuírem atividades biológicas, como capacidade antioxidante, anti-inflamatória, bactericida, vermífuga, entre outras (Barreira et al., 2017; Costa et al., 2014; Costa, 2006; D’Oca et al., 2012; De Souza et al., 2018a, 2018b, 2020; Katiki et al., 2013; Ksouri et al., 2009; Tomazelli Junior et al., 2017). Como isso é possível? O quê elas têm de bom? Figura 1. Halófitas de diferentes espécies: Spartina alterniflora. © César Costa Sesuvium portulacastrum. © César Costa Schinus terebinthifolius. © Manuel M. de Souza https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 29 JA N / M A R 2 0 2 1 Na realidade, as plantas halófitas são utilizadas pelo ser humano a muitos séculos, tendo registro de uso há mais de 5000 anos na medicina indiana (Arya et al., 2019). A grande popularização destas plantas co- meçou em países com pouca disponibilidade de água doce, como os países do oriente médio. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, têm grande investimen- to no desenvolvimento da agricultura salina e produção de biodiesel a partir das sementes de Aspargo marinho (plantas dos gêneros Salicornia e Sarcocornia, também consumidas como sal-verde, vegetais frescos ou em conserva), e gramados de campos de golfe e futebol com mudas de Paspalum vaginatum. Já a Quinoa (Che- nopodium quinoa) começou a ser consumida na região dos grandes lagos salgados da América Latina (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) há mais de 4 mil anos e hoje se popularizou em dietas com baixas calorias, utilizadas para o emagrecimento (Centofanti; Bañue- los, 2019; Panta et al., 2014). Hoje, plantas halófitas são utilizadas para alimentação humana (como vegetais frescos, em conserva ou como condimentos), alimen- tação animal, na produção de biocombustíveis, como plantas ornamentais e paisagismo, na produção de me- dicamentos, na produção de bebidas fermentadas etc (Abdelly et al., 2007). Além de tudo isso, novas características e funcio- nalidades das, e para, as plantas halófitas estão sendo descobertas a todo o momento. Uma que nos deixou bastante entusiasmados é a descoberta que, embora ainda sejam resultados obtidos em experimento com ratos e ovelhas, os aspargos marinho do gênero Salicor- nia herbacea e S. neei têm a capacidade de impedir que estes animais acumulem gorduras (Pichiah; Cha, 2015; Arce et al., 2016). Sim, isso mesmo. Imagine que mes- mo comendo aquela picanha cheia de gordura no final de semana, a ingestão da planta poderia impedir que acumulemos parte dessa gordura. Isso não seria sensa- cional? Num ramo totalmente diferente, estudos ainda preliminares demostram que é possível gerar energia nas raízes de plantas halófitas cultivadas em hidroponia. Resumidamente, este sistema de geração de energia consiste na oxidação de compostos liberados pelas raí- zes das plantas por bactérias (Wetser et al., 2015). Se as plantas halófitas são tão boas, porque não as conhecemos? Figura 2. a) Cultivo de quinoa com águas salinas em área desértica do International Center for Biosaline Agriculture (Dubai, Emirados Árabes Unidos). © Kennia Doncato; b) Aspargo marinho (S. neei) produzidos com efluentes de aquicultura pelo Laboratório de Biotecnologia de Halófitas (BTH, FURG) e embalados para envio à restaurantes em Porto Alegre (RS). © César Costa a b 30 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Há algum tempo as plantas halófitas já são utiliza- das na fitorremediação dos efluentes salinos da aqui- cultura (Fierro-Sañudo et al., 2020), seja em tanques de decantação ou em wetlands, por exemplo. Sendo também utilizadas para fixação das paredes dos tan- ques de cultivo ou canais de irrigação. No entanto, utilizações mais nobres vêm sendo estudadas! Embora ainda à nível acadêmico, o extrato da grama bermuda (Cynodon dactylon) demonstrou ter a capacidade de proteger o camarão marinho Lito- penaeus vannamei contra o vírus da mancha branca (WSSV - white spot syndrome vírus). Além de auxiliar na saúde, as plantas halófitas também podem ser uti- lizadas na alimentação dos animais cultivados. Os as- pargos marinhos S. bigelovii e S. neei por exemplo, já foram utilizados para a alimentação de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) e camarões marinhos (Litope- naeus vannamei), respectivamente (De Souza, 2018; Ríos-Duran et al., 2013), alcançando desenvolvimen- to zootécnico iguais aos dos animais alimentados com uma ração tradicional. Se pensarmos que as plantas halófitas podem ser produzidas com o efluente do próprio cultivo, damos mais um passo para alcançar uma aquicultura com eco- nomia circular. E por fim, e não menos importante, o uso de aspargo marinho S. neei também proporcionou a diminuição de 40% do custo da ração (De Souza, 2018) no cultivo experimenral do camarão marinho L. vannamei. Sabendo que o custo com a alimenta- ção dos animais é muito alto, reduzir este gasto pode aumentar significativamente oslucros da produção. E como as plantas halófitas são utilizadas na aquicultura? Figura 3. Cultivo de Aspargo marinho (Salicornia neei) com água subterrânea salina no município de Ocara (CE). © César Costa Os aspargos marinhos S. bigelovii e S. neei por exemplo, já foram utilizados para a alimentação de tilápias e camarões marinhos, os quais obtiveram desempenho zootécnico igual ao dos animais alimentados com ração tradicional. https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 31 JA N / M A R 2 0 2 1 Figura 6. Paspalum vaginatum (capim arame) cultivados com efluentes de carcinicultura marinha em sistema de bioflocos (BFT).© Manuel M. de Souza Figura 4. Aspargo marinho (S. neei) cultivados com efluentes de carcinicultura marinha em sistema de bioflocos (BFT). © César Costa Figura 5. Aspargo marinho (S. neei) cultivados em sistema NFT (nutrient film technique) com efluentes de piscicultura marinha© César Costa Neste artigo falamos um pouco das caracte- rísticas excepcionais das plantas halófitas e os seus usos atuais na aquicultura. Contudo, as possibili- dades de uso futuro são infinitas. Embora pareça uma realidade distante, acredito que conseguire- mos desenvolver tecnologias que possam fitorre- mediar o efluente, alimentar os animais e gerar energia para o sistema de cultivo com as plantas halófitas de forma simultânea e integrada. Sei que pode parecer uma realidade bem distante, mas o futuro é logo ali. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos 32 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 33 JA N / M A R 2 0 2 1 Panorama da Quelonicultura no Brasil – uma estratégia para conservação das espécies e geração de renda Quelônios são um dos grupos de rép-teis mais antigos (240 milhões de anos) com uma carapaça protegendo seu corpo. Das 360 espécies atual- mente reconhecidas em todo mundo, 61% estão ameaça- das (Rhodin et al., 2018; Stan- ford et al., 2020). A criação de quelônios ou quelonicultura é uma estratégia de conserva- ção com potencial para mini- mizar o impacto da demanda comercial de quelônios sobre as populações da natureza. A criação de tartarugas de água doce é um componente importante da aquicultura de muitos países asiáticos. Pro- dutos de quelônios estão em alta demanda na Ásia, impul- sionados pela combinação de antigos hábitos arraigados as tradições orientais (culiná- ria e medicina chinesa) e a ex- pansão econômica da China. A produção de tartaruga chinesa (Pelodiscus sinensis) para abate e consumo, incrementada por novas técnicas e intensificação dos cultivos, cresceu, nos últi- mos anos, de 92 para mais de 350 mil toneladas/ano na China, equivalendo a 1% de sua pro- dução aquícola total dos cultivos em água doce. Mesmo assim, para atender a demanda, a im- portação de quelônios ou par- tes deles para consumo foi de cerca de 323-2010 toneladas/ ano de carne (2.243.100 exem- plares) e 76 toneladas de cara- paças, entre 1998 e 2004 (Hai- tou et al., 2008; Zhou e Jiang, 2008; Shao e Lucas, 2019). A quelonicultura é uma estratégia de conservação com potencial para minimizar o impacto da demanda comercial de quelônios sobre as populações da natureza. ¹Paulo Cesar Machado Andrade*, ²Janderson Rocha Garcez, ³Aldeniza Cardoso de Lima, 4João Alfredo da Mota Duarte, 4Thiago Luiz Ferreira Anízio, 4Wander da Silva Rodrigues, ²Anndson Brelaz de Oliveira e 5Hugo Ricardo Bezerra Alves ¹Universidade Federal do Amazonas - UFAM Laboratório de Animais Silvestres Manaus, AM *pandrade@ufam.edu.br ²Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) 4Universidade Federal do Amazonas - UFAM Programa Pé-de-pincha 5Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR) ³Universidade Federal do Amazonas - UFAM Instituto de Ciências Biológicas 34 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Figura 1. Criação de quelônios em canal de igarapé, Sítio 3 irmãos, Iranduba/AM. © Paulo Cesar Machado Andrade Entretanto, em todo mundo, a criação de quelô- nios se concentra mais no seu valor como animais de estimação (pet), sendo que a quelonicultura para es- ses fins se desenvolveu, inicialmente nos EUA, com a exportação de 8 milhões de tigres d’água (Trachemys scripta) principalmente para Europa e Sudeste Asiático, o que correspondia a 85% do comércio mundial de tartarugas na segunda metade do século XX. Atual- mente, os maiores exportadores de quelônios para pet são a Malásia, EUA e Indonésia, sendo os maiores importadores a China, os EUA e o Japão, com a venda de mais de 2 milhões de filhotes nos últimos 10 anos, principalmente de quelônios terrestres (Testudinidae, 35%) e semiaquáticos (Geoemydidae, 31%; Emydi- dae, 19%) – (Luiselli et al.,2016). Na América do Sul, a produção de filhotes de tracajás (Podocnemis unifilis) por manejo comunitário no Equador e no Peru tem possibilitado a venda de 30% dos animais para o mer- cado pet por U$1,5-6,0/unidade (Harju, Síren e Salo, 2017). No Brasil, 77,4% dos criadouros comerciais de fauna silvestre são para atender o mercado de animais de estimação (pet), sendo responsáveis por 69,5% das vendas legalizadas de animais silvestres (Trajano e Car- neiro, 2019). Na Amazônia brasileira, considerada uma das re- giões com maior riqueza de quelônios do mundo, com 18 espécies (Vogt, 2008; Ferrara et al., 2017), os que- lônios sempre foram recurso alimentar importante para as populações ribeirinhas (Pezutti et al., 2010; Andrade, 2017). Os índios, já exploravam esse recurso consumin- do os ovos e a carne de quelônios (Smith, 1974; Meza e Ferreira, 2015). Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, essa exploração tornou-se mais intensa, sendo abatidas milhões de tartarugas (Po- docnemis expansa) e utilizados milhões de ovos para pro- dução de óleo utilizado na iluminação pública, no pre- paro de alimentos e misturado com breu, para calafetar as embarcações (Fiori e Santos, 2015; Andrade, 2017). A captura comercial de quelônios é um dos fato- res que, ainda hoje, mais contribuem para o declínio das populações de tartarugas aquáticas e terrestres em todo mundo (Stanford et al., 2020). Em geral, na Ama- zônia, esses recursos são explorados pelas comunida- des locais para consumo de subsistência ou vendidos para as cidades próximas ou grandes centros regionais como Manaus, Santarém e Belém (Andrade, 2008; Nascimento, 2009). Apesar da captura e venda de animais silvestres, estar proibida no Brasil desde 1967 (Lei N°5.197/67), estima-se, com base nos dados dos órgãos ambien- tais, que entre 1992 e 2019, tenham sido apreendidos 98.843 quelônios e 59.031 ovos, só no Amazonas, que representam cerca de 66% de todos quelônios apreendidos, com uma média anual de apreensões de 2.068 a 4.347 quelônios/ano e mais de 2 mil ovos/ano. Tartarugas são 29% dos quelônios apreendidos e 27% são tracajás. (Nascimento, 2009; Charity e Ferreira, 2020). Em 1979, surgiu o Projeto “Quelônios da Ama- zônia” através do qual o Governo passou a proteger as áreas de reprodução de quelônios. Graças a esse https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/35 JA N / M A R 2 0 2 1 trabalho de conservação, associado às inúmeras iniciati- vas comunitárias de proteção, em 1996, a tartaruga da Amazônia, saiu da lista de animais ameaçados de extin- ção no Brasil (Cantarelli et al., 2014; Forero-Medina et al., 2019). Criação comercial de quelônios para abate e consumo: Com os programas de conservação de quelônios foi possível recuperar as populações de tartarugas. Como uma estratégia de conservação ex-situ, a partir de 1987 começaram a ser autorizados os primeiros criadores comerciais de quelônios no Brasil. A primeira portaria de criação pelo antigo IBDF foi a Portaria N°133/1988, seguida pela Port. IBAMA N°142/1992 e a de comer- cialização foi a Port.N°070/1996. Por essas portarias, as pessoas interessadas em criar tartarugas e tracajás (as espécies permitidas) se registravam apresentando um projeto técnico ao IBAMA, e recebiam a doação dos filhotes do órgão ambiental para iniciarem sua criação (4.000 filhotes/hectare de espelho d’água), num siste- ma de criação tipo Ranching. Desse plantel inicial, os criadores podiam vender os animais quando atingissem 1,5 kg de peso, mas tinham de reservar 10% para se- rem suas futuras matrizes e reprodutores, para produ- zirem seus próprios filhotes e tornarem-se criatórios de ciclo completo, passando ao sistema tipo Farming. Atualmente, a criação de animais silvestres é regula- mentada pela Instrução Normativa (IN) N°07/2015, e além de tartarugas e tracajás, podem ser criados iaçás (P. sextuberculata) e muçuãs (Kinosternon scorpioides). No auge desta atividade (1999 a 2009), o Brasil chegou a ter 135 criatórios registrados (63% no Ama- zonas) com mais de 938 mil animais em cativeiro e mais de 33 mil animais vendidos (RAN, 2009). Hoje, no Bra- sil, existem 41 criadores comerciais de quelônios regis- trados pelo IBAMA, com um plantel de 193.283 tarta- rugas (Podocnemis expansa) e 18.224 tracajás (P. unifilis) em cativeiro (Trajano e Carneiro, 2019; IBAMA, 2019). O Amazonas, é o maior criador de quelônios do Brasil, tendo atualmente 29 criatórios autorizados pelo IBAMA e IPAAM (79% do total nacional) com um plantel de mais de 155.648 tartarugas em criações co- merciais (já chegou a ter 85 criadores e mais de 215 mil animais) e mais 5.423 animais em sistemas de criação comunitários (Andrade, 2008; Trajano e Car- neiro, 2019; IBAMA, 2019). Quelônios são o quinto organismos aquático mais criado no estado, só fican- do atrás do tambaqui (Colossoma macropomum), ma- trinxã (Brycon amazonicus), pirarucu (Arapaima gigas) e pirapitinga (Piaractus brachypomus) (Peixe BR, 2019; IBGE, 2019; IPAAM, 2021). São comercializados le- galmente cerca de 2.623±561 animais/ano (12,7 a 21,6 ton/ano). Entre 1999 e 2019, os queloniculto- res do Amazonas conseguiram vender mais de 61 mil animais, produzindo mais de 302 toneladas e arreca- dando cerca de R$6.741.000,00 (US$2.075.000,00). Figura 2. Captura de matrizes e reprodutores de tartaruga no sítios 3 irmãos, Iranduba/AM. © Paulo Cesar M. Andrade Figura 3. Fêmea de tartaruga da Amazônia (Podocnemis ex- pansa) desovando em praia artificial do criatório Bicho do Rio, Iranduba/AM. © Paulo Cesar M. Andrade Figura 4. Tanque e praia artificial para matrizes de tartaruga na fazenda Coco Laka, Manacapuru/AM. © Paulo Cesar M. Andrade 36 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Em 2017, o Amazonas reconheceu oficialmente os esforços de conservação das comunidades, criando 265 áreas de proteção de quelônios e regulamentando um sistema comunitário de criação de quelônios, permi- tindo as comunidades realizarem cria, recria e engorda de um percentual dos filhotes de P. expansa (10%) e P. unifilis (20%) que protegerem (Resoluções CEMAAM Nº25 e 26/17–DOE,2017). Esta possibilidade de ma- nejo ex situ de quelônios para criá-los em condições semi-naturais para serem comercializados, parece ser uma solução, para gerar renda e cobrir parte dos gastos para proteção da espécie (Campos-Silva et al., 2018). O que parece ser promissor, não só pelo aspecto econô- mico, como pela relevância na segurança alimentar e na cultura dos povos da região (Dantas-Filho et al.,2020). Ao contrário de outros estados, os criadores ama- zonenses conseguiram vender todos seus lotes de ani- mais, com peso médio de 4,9±1,9 kg e preço atual va- riando de R$ 25 a 40,00/kg vivo. Mais de 80% deles, já conseguiram a reprodução em cativeiro, tornando-se criações de ciclo fechado e de 2002 até 2019, já pro- duziram mais de 57 mil filhotes (45.070 de tartarugas e 12.397 de tracajás) (Garcez, 2009; IBAMA, 2019). O grande avanço da quelonicultura nesse estado parece estar relacionado a alguns fatores: 1) A grande demanda do mercado local para consumo da carne de quelônios; 2) O grande interesse dos produtores para se regularizarem (mais de 198 processos em análise); 3) Ao incentivo e suporte técnico-científico (extensão e pesquisa) proporcionado pelo IBAMA/AM, fruto de uma parceria e cooperação técnica com a Universida- de Federal do Amazonas (UFAM). Entre 1996 e 2004, através de projeto conjunto foram monitorados todos os criadouros de quelônios do estado, através de visitas técnicas bimestrais, nas quais eram realizadas biometria e pesagens dos animais, analisada a alimentação fornecida e recolhida informações sobre o manejo adotado e os gastos com o custeio da atividade. Com isso, foi pos- sível sistematizar um roteiro mínimo sobre criação de quelônios, definindo tipos de instalações, densidades de cultivo, rações e níveis nutricionais, análise dos custos de produção, aspectos de sanidade e reprodução dos ani- mais em cativeiro. Após um seminário em 2004, que re- uniu os quelonicultores e técnicos do setor em Manaus, a Agência de Agronegócios do estado passou a apoiar a comercialização dos quelônios legalizados e exposições e feiras junto com pescado proveniente de cultivo ou de áreas de manejo, o que ajudou a divulgar e popularizar a venda e o consumo de quelônios de cativeiro, ajudando no marketing deste produto. Além de todo incentivo e do trabalho de extensão e apoio técnico recebido pelos quelonicultores do Ama- zonas, estes reuniam algumas características que, pos- sivelmente, podem ter favorecido o sucesso de seus empreendimentos: a) Proximidade do grande centro consumidor: A maioria dos criatórios ficava na região da metrópole Ma- naus e municípios do entorno (90,3%) – Anízio (2009). b) Pequenas e médias propriedades: A maioria entre 9–35 ha (50%), com média de 22±18,4 ha. Os tanques variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria estivesse entre 1 e 2 ha, e os berçários de 30 a 1.000 m2. A maio- n° animais n° criadores n° d e an im ai s na s cr ia çõ es n° d e cr ia do re s re gi st ra do s 63 492.813 938.691 135 41 1 10.000 398.169 Figura 5. Número de quelônios em cativeiro e número de criadores autorizados pelo IBAMA entre 1989 e 2019. Fontes: RAN, 2006; Andrade, 2008; Trajano e Carneiro, 2019; IBAMA, 2019 https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 37 JA N / M A R 2 0 2 1 ria dos empreendimentos aproveitaram as barragens e tanques já construídos para atividade de piscicultura (An- drade,2008). c) Perfil sócio-econômico do criador: A maioria dos criadores exerciam outras atividades, sendo a queloni- cultura uma atividade complementar. Em sua maioria eram comerciantes (33%) ou agricultores/produtores rurais (25%), com idade entre 40-59 anos (66,3%), ren- da familiar na faixa de 5 a 10 salários mínimos (41,7%) e nível de escolaridade entre ensino fundamental e médio (58,3%). Além disso, a maioria dos criadores detinham conhecimentos empíricos sobre características biológi- cas das tartarugas, como sua alimentação,reprodução e hábitos na natureza (Lima, 2000). d) Sistemas de produção: a maior parte dos criatórios pertencia a pessoas físicas (61,5%) e que usaram recur- sos próprios para investir. Adotaram sistemas de criação do tipo semi-intensivo ou extensivo (69%) consorciado com peixes como tambaqui, e começaram com lotes de 1.000 a 5.000 animais (60%) – o que hoje, é conside- rado um número pequeno para a atividade comercial e para criar capital de giro. e) Alimentação fornecida: Utilizaram subprodutos encontrados na região como vísceras bovinas (20%), resíduos de filetagem de pescado (40%), restos de fei- ra, frutas e tubérculos (20%), sendo que apenas 20% forneciam ração comercial peletizada para peixe tipo alevinagem com 36 a 42% proteína, reduzindo dessa forma, os custos com alimentação (Andrade, 2008; Aní- zio, 2009). Atualmente, 55% dos quelonicultores usam ração de peixe para alimentar seus animais. Nos cria- douros que forneceram alimentação com maior teor de proteína animal (peixe e sobras de frigorífico e abatedou- ros), os animais foram mais pesados do que os criados com proteína vegetal (verduras, frutos e ração a base de soja e milho) (Andrade, 2008). f) Custos de produção e comercialização: A parti- cipação dos custos fixos sobre os totais variou de 20 a 25% e os custos variáveis ficaram entre 75 a 80 %. Os maiores custos foram com alimentação e variaram entre 52,5 a 61% dos custos totais. O custo de produção gira em torno de 11 a 22% do valor de venda, sendo que atualmente os quelônios estão sendo comercializados entre R$25 a 40,00/kg de peso vivo, sendo a lucrati- vidade estimada em 158 a 582% (Lima, 2000; Anízio, 2009; IBAMA, 2019). Como os animais são vendidos vi- vos, os quelonicultores tem optado por comercializarem animais maiores com 36 meses de cultivo (4,9 a 8,2 kg), com o preço médio por animal variando de R$160,00 a R$533,00 (Garcez, 2009; Trajano e Carneiro, 2019). Os meses de maior venda são dezembro, março e maio em função das festas de Natal, fim de ano, Páscoa e dia das Mães. E os de menor venda são os meses da seca dos rios, quando quelônios capturados ile- galmente inundam o mercado regional, competindo diretamente com os animais dos criatórios autoriza- dos. Durante a enchente, ocorrem menos animais de tráfico (entressafra), ocasião em que os criatórios legalizados aumentam as vendas de suas tartarugas regularizadas. A redução no número de criações de quelônios no Brasil foi motivada entre outros fatores pelas dificulda- des de comercialização, falta de fomento e apoio técni- co, e excesso burocrático. Então, após 2010, quando o registro e controle dos criatórios de fauna passa do IBAMA para os órgãos ambientais estaduais, muitos criadores optaram por encerrar suas atividades. Apesar, disso o número de animais comercializados e a pro- dução (toneladas) aumentaram nos últimos 10 anos, passando de 152 para 190 toneladas neste período. A situação da aquisição dos lotes iniciais de filhotes pelos criadores principiantes, que parece ser um pon- to crítico no processo de criação, também tende a melhorar, com o aumento no número de nascimen- tos de filhotes de tartarugas e tracajás nos criatórios Figura 6. Exemplares de tartaruga da Amazônia (P. expansa), a) Fêmea; b) macho. © Paulo Cesar M. Andrade A. B. 38 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: mais antigos. Apesar, de a venda dos filhotes ainda não estar prevista na atual IN N°07/2015, existe o enten- dimento pelo IBAMA de que os filhotes poderiam ser vendidos entre criadores autorizados para formar no- vos plantéis de matrizes e reprodutores e para recria (COCFP/IBAMA, 2013). Criação comercial de quelônios para o mercado pet: Apesar da alta demanda do mercado mundial e na- cional por filhotes de quelônios como animais de esti- mação (pet), no Brasil, o registro de criações comer- ciais com essa finalidade está suspenso desde 2002. Mesmo com a publicação da Resolução Conama Nº 394/2007 que estabelecia critérios e competências para a publicação da lista de animais da fauna silvestre nativa, que poderiam ser criados e comercializados como animais de estimação, até hoje, essa lista não foi publicada (Trajano e Carneiro, 2019). Dessa for- ma, apenas os criatórios que foram autorizados antes de 2002 é que ainda podem atender a esse merca- do. Até 2001, haviam cinco (5) criatórios comerciais de jabutis (Chelonoidis carbonaria e C.denticulata) e um de tigre d’água brasileiro (Trachemys dorbigni). Atualmente, existem registrados no IBAMA ape- nas quatro (4) criações comerciais de jabutis, com um plantel de 2.752 animais, e uma criação de tigre d’água, com um plantel de 2.620 animais. Entre 2015- 2018, esses criadores comercializaram 5.713 jabutis (R$120,4/ animal) e 11.628 tigres d’água (R$134,59/ animal) (Trajano e Carneiro, 2019). A possibilidade legal de comercializar os filhotes de quelônios não só para novos criadores registrados, mas também para venda como animais de estimação (pet) poderia ser uma potencial opção de renda para os quelonicultores. Figura 7. a) Ninhos de tartarugas da Amazônia transferidos para “chocadeira” na criação Bicho de Rio, em Iranduba/AM; b) Arra- çoamento de matrizes de tartaruga. © Paulo Cesar M. Andrade A. B. https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 39 JA N / M A R 2 0 2 1 nascimentos vendas (n°) 498 produção (T) 19.546 33.898 37.913 41.167 n° d e an im ai s To ne la da s (T ) Figura 8. Número de filhotes (Podocnemis expansa e P. unifilis) nascidos em cativeiro, número de animais comercializados e produção em toneladas das criações comerciais de quelônios no Brasil entre 1990 e 2019. Fontes: Garcez, 2009; Trajano e Carneiro, 2019; IBAMA, 2019. Figura 9. Despesca de tartarugas de lotes comerciais em tanques da criação Bicho de Rio, Iranduba/AM. © Paulo Cesar M. Andrade Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos 40 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: A. Considerações finais: A criação comercial de quelônios no Brasil, é uma atividade que pode comple- mentar a renda de peque- nas e médias propriedades, integradas à outros cultivos aquícolas, atendendo a um mercado regionalizado (Ama- zônia) ou gourmet, com alta lucratividade, desde que, se- jam atendidas as exigências de alimentação, instalações e técnicas de manejo adequadas. Apesar da redução no número de criatórios em ati- vidade no País, o número de vendas e a produção em toneladas tem aumentado, alavancados, principalmente, pelo estado do Amazonas, que possui o maior número de criadouros e o maior plantel de quelônios em cativeiro. Isso, em função de uma polí- tica de incentivos, parcerias para assistência técnica, gera- ção de conhecimentos científicos sobre a atividade e pela alta demanda de carne de quelônios pelo mercado local. Também houve um aumento na produção de filho- tes, que poderão ser utilizados para recria e engorda nas criações, que agora são em sua maioria de ciclo fechado, ou repassados para novos criadores. Outra possibilidade, muito aguardada pelos quelonicultores, seria a comercia- lização dos excedentes desses filhotes no mercado pet. Estudos de potencial mercado e da viabilidade econô- mica da criação devem ser realizados a fim de se evitar pro- blemas com a comercialização do produto, que foi o maior fator de desistência da atividade. Entre os principais entraves encontrados por quem quer criar quelônios podemos destacar: 1) Falta de mais técnicos especializados na criação de quelônios; 2) Divul- gação e popularização dos conhecimentos técnico-cien- tíficos e sua extensão aos quelonicultores; 3) Indefinição entre os órgãos estaduais sobre a quem caberiaatender o criador de animais silvestres (Secretaria de Produção Rural ou de Meio Ambiente); 4) Adoção de políticas de incenti- vo, fomento e assistência técnica pelos estados interessa- dos em desenvolver essa atividade; 5) Reconhecimento e normatização da metodologia de abate pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 6) Organização da comercialização, divulgação e marketing;. 7) Organiza- ção dos quelonicultores em associações ou cooperativas; 8) Necessidade dos órgãos ambientais tornarem mais ágil e eficiente as atividades que envolvem desde o registro do criador até a comercialização (faltam mais técnicos e recursos para a realização de todas as vistorias). Figura 10. a) Biometria de fêmea adulta de tartaruga da Amazônia (P. expansa); b) Lacre do IBAMA aplicado a tartaruga (P. expansa) para a venda.© Paulo Cesar M. Andrade B. https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ https://www.isistlarquitetura.com.br/ 41 JA N / M A R 2 0 2 1 https://www.isistlarquitetura.com.br/ 42 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 43 JA N / M A R 2 0 2 1 O IABS nasceu em 2003, a partir de um grupo de pessoas diferentes entre si, mas com um objetivo comum: um novo mo- delo de desenvolvimento, mais justo e sustentável. Os primeiros projetos estiveram voltados para a área da Pesca – ou melhor, para as comuni- dades pesqueiras e os recursos naturais envolvidos. Entretanto, com a amplitude dos desafios e a maturidade que o Institu- to adquiriu, a partir de 2006, começaram a atuar em outras áreas, com destaque para o Tu- rismo, o Desenvolvimento Rural e o Fortalecimento Institucional. Naquela época, a parceria com a Agência Espanhola de Coo- peração Internacional para o Desenvolvimento e as relações estabelecidas com diferentes atores foram fundamentais para consolidar e ampliar essa atua- ção, o que contribuiu para o crescimento e aprendizado em diferentes áreas de cooperação para o desenvolvimento. Em 2015, o IABS já tinha executado ações em mais de 200 projetos com investimentos de diversos parcei- ros nacionais e internacionais. O trabalho se dividia em núcleos que refletiam suas principais vocações: Meio Ambiente e Áreas Protegidas; Turismo Sustentável; Aquicultura e Pesca Sustentáveis; Desenvolvimento Rural e Tec- nologias Sociais; Diálogo Social e Gestão de Conflitos; e Coopera- ção e Fortalecimento Institucional, onde, futuramente, passou a virar programas dentro de perspectivas atuais: “Cidade Inclusiva”, “De- senvolvimento Rural Sustentá- vel” e “Inserção Socioprodutiva”. Também fortalecendo parcerias estratégicas, nacionais e interna- cionais, que complementam e so- mam esforços em prol de objeti- vos e desafios ainda mais amplos. Hoje, uma das frentes tra- balhadas pelo IABS é o Núcleo de Aquicultura e Pesca, cujos especialistas trabalham com objetivo de atingir os três prin- cipais pilares que regem a sus- tentabilidade: econômico, social e ambiental, fazendo com que coexistam e traba- lhem entre si de forma plenamente harmoniosa. O IABS nasceu em 2003, a partir de um grupo de pessoas diferentes entre si, mas com um objetivo comum: um novo modelo de desenvolvimento, mais justo e sustentável. Aquicultura e Pesca Sustentáveis no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS): Atuais avanços socioprodutivos André Macedo Brugger*, Lucas Gomes Mendes, Marco Dellian Zanetta, Luís Tadeu Assad e Filipi Andrade Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) Núcleo de Aquicultura e Pesca Sustentáveis Brasília, DF *ambrugger@iabs.org.br 44 JA N / M A R 2 0 2 1 PARCEIROS NA 22 ° ED: Os Projetos de Aquicultura e Pesca Ostras depuradas de Alagoas Por meio do Projeto, as ostras são movi- mentadas de uma ponta a outra da cadeia produtiva, fortalecendo-a e gerando renda e trabalho aos(às) produtores(as) envolvidos(as). O cultivo reduz a pressão ambiental do extra- tivismo sobre os estoques naturais da espécie e promove a preservação do ambiente. Gra- ças à salvaguarda dos estuários, o turismo de base comunitária vem ganhando cada vez mais espaço na renda das comunidades envolvidas. Atualmente, beneficia cerca de 100 famílias di- vididas em cinco comunidades no litoral de Ala- goas. O modelo de gestão é participativo, com comitê gestor formado pelos(as) líderes das associações e entidades locais que participam das decisões do projeto. É importante desta- car o protagonismo feminino observado na produção de ostras, tendo em vista que 65% dos(as) beneficiários(as) são mulheres, e todas as associações têm mulheres nos cargos de liderança e organização comunitárias. Camarão do Sertão O IABS, junto a Companhia de De- senvolvimento dos Vales do São Fran- cisco e do Parnaíba (CODEVASF), tem o objetivo de imple- mentar os serviços de instalação, mon- tagem e operaciona- lização de unidade de observação e de- monstração (UOD) de cultivo do cama- rão branco do pacífi- co (Litopenaeus vannamei) em água doce, do rio São Francisco, e de poços salobros nos municípios de Petrolina, Cabrobó e Petrolândia - PE. Atualmente, o projeto encontra-se na fase Petrolina, onde já foram instalados dois berçários de 20 m³ cada; revestimento de geomembrana em dois tanques escavados, totalizando uma área de cultivo de 2.000 m²; sistema de aeração composto por sopradores de ar e mangueiras porosas; sistema de geração de energia elétrica; e um sistema de monitoramento remoto da temperatura e do oxigênio dissolvido na água do ambiente de cultivo do berçário. Foto © IABS F ot os © IA BS https://altamar.com.br/ https://www.inveaquaculture.com/ http://www.aquatec.com.br/ https://www.msd-saude-animal.com.br/especies/aquicultura/ https://www.nanoplastic.com.br/ https://trataguas.com.br/ https://www.alisul.com.br/categorias/peixes/ https://www.engepesca.com.br/ https://www.textilsauter.com.br/ 45 JA N / M A R 2 0 2 1 Melhoria da Pesca do Pargo no Norte do Brasil Projeto que visa obter a certificação MSC (Marine Stewardship Council) da pesca sustentável do Pargo no Norte do Brasil. Após ter sido submetida a uma pré-avaliação sob o standard da MSC em 2014, foi revelada inconformidade em 16 dos 28 indicadores. Para mitigá- -los, surgiu o FIP, que conta com apoio do setor privado (importadores, arma- dores e cooperativas de pescadores), dos governos (local e nacional), da aca- demia (Universidades) e do terceiro se- tor (Ongs e Oscips). O Projeto adotou a plataforma FisheryProgress.org para seguir o BMT (Benchmarking Tracking Tool), ou seja, a ferramenta de monito- ramento e acompanhamento de Projeto proposto pela MSC. Pesca de Valor Em decorrência do derrama- mento de óleo que atingiu o litoral nordeste do Brasil no final de 2019, o consumo de frutos do mar caiu drasticamente diante da descon- fiança e insegurança de seus con- sumidores acerca da contaminação que o óleo pode causar aos pesca- dos, principalmente moluscos, visto que são seres filtradores. Diante desse cenário totalmente desfavo- rável à comunidade pesqueira de Itapissuma, Pernambuco, surgiu a proposta do Projeto Pesca de Va- lor, firmado com a parceria entre a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD DIPER) e o Instituto Brasileiro de Sustentabilidade (IABS). O objetivo é auxiliar a comunidade pesqueira local a ter acesso a mais conheci- mento, alcançar novos níveis de qualidade
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