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Nota de Aula: Equações Diferenciais Ordinárias de 2° Ordem ( Aplicações ) Vamos nos ater a duas aplicações de grande interesse na engenharia: Sistema massa-mola-amortecedor ( Oscilador Mecânico ) O Sistema massa-mola-amortecedor representa um conceito aplicável a várias situações, desde suspensão de veículos, mesas vibratórias, análise de vibração em estruturas e componentes mecânicos, vibrações de moléculas, enfim... Vamos considerar o sistema massa-mola-amortecedor, representado pelo esquema idealizado: Com base na figura temos: f(t) = Força motora; m = Massa; k = Constante elástica; b = Constante de amortecimento; y(t) = Deslocamento a partir da posição de equilíbrio. Diante do sistema acima, podemos aplicar a segunda lei de Newton para massa constante. .m a F ( na forma escalar por ser numa única direção ) Considerando F como força resultante, temos: F = f(t) – força elástica – força de amortecimento . . . ( )m y b y k y f t 2 2 ; d y dy a v dt dt . . . 0m y b y k y É fácil ver que, quando a força f(t) promove o movimento para cima, existe uma reação contrária ao movimento, exercida pelas forças da mola e do amortecedor. Assim, vamos analisar a natureza dessas forças. Força elástica (da mola) Segue a lei de Hooke, ou seja, a força é proporcional a deformação da mola. Como a deformação da mola é exatamente igual ao valor de y(t), temos: .molaf k y Força de amortecimento O amortecimento se baseia no conceito de força viscosa que surge na transferência de um fluido entre duas câmaras dentro do amortecedor. A força viscosa, a rigor, é proporcional a velocidade ao quadrado, porém, isso provocaria uma não linearidade inviabilizando a solução analítica da equação diferencial em questão. Então, vamos considerar uma força proporcional a velocidade, isto é: . .amortf b v Podemos agora, rescrever a equação proposta: .m a F . . ( ) . .ma f t k y b v . . . ( )ma bv k y f t Mas: ficando: Portanto uma equação diferencial linear de segunda ordem com coeficiente constante. A ausência da força motora f(t) nos leva a uma EDO homogênea Como equação característica associada dada por : 2. . 0m b k com solução: 2 4 2 b b mk m (Bháskara) Do ponto de vista da mecânica, a análise do termo b2 - 4mk pode originar 3 tipos de movimentos : b2 - 4mk > 0 Condição superamortecida b2 - 4mk = 0 Condição criticamente amortecida b2 - 4mk < 0 Condição subamortecida Agora, vamos ver 2 exemplos que devem ilustrar as condições anteriores. Considere a mesa vibratória especial munida de 4 molas , 2 amortecedores e um motor com massa excêntrica que gera uma força oscilante f(t). A massa do conjunto em movimento corresponde a 5 kg. Nossa análise será feita com motor desligado f(t) = 0 (equação homogênea) , com condição inicial : y(0) = - 0,02 m e y’(0) = 2 m/s Ex1. Considere k = 1000 N/m e b = 150 N s/m Equação: 5 (2 150) (4 1000) 0y y y 5 300 4000 0y y y Equação característica: 25 300 4000 0 1 2{ 20 40 }e Portanto: 20 40 1 2( ) t ty t C e C e Considerando a condição inicial temos: 1 2 3 2 50 25 C e C Portanto: 20 403 2( ) 50 25 t ty t e e com gráfico Neste caso o sistema é superamortecido e, portanto, não tem oscilação periódica, em função do forte amortecimento. No exemplo 2, vamos preservar o exercício do exemplo 1, porém, com um amortecimento mais brando. Ex2. Considere k = 1000 N/m e b = 50 N s/m Equação: 5 (2 50) (4 1000) 0y y y 5 100 4000 0y y y Equação característica: 25 100 4000 0 { 10 10 7 }i Portanto: 10 1 2( ) [ (10 7 ) (10 7 ) ] ty t e C cos t C sen t Considerando a condição inicial temos: 1 2 1 9 7 50 350 C e C Portanto: 10 1 9 7 ( ) [ (10 7 ) (10 7 ) ] 50 350 ty t e cos t sen t , com gráfico Veja, que nesta condição aparece uma oscilação periódica, o que caracteriza o movimento subamortecido. Obs.: Considerando que o argumento do seno e cosseno obtido da parte imaginária da solução complexa, representa fisicamente “ 2 f t “ , onde f é a frequência, então: 2 10 7f t t 5 7 4,21f Hz Chamada de frequência natural. Obs.: O caso de amortecimento crítico é de difícil ocorrência. Quando o motor com massa excêntrica é ligado, a oscilação é obtida por sobreposição da solução homogênea com a particular. Vamos considerar o motor gerando força modelada pela função ( ) 20 (24 )f t sen t N , ou seja, apresenta uma amplitude de 20N com frequência de 12 Hz. Agora a condição inicial para nosso estudo será y(0) = 0 e y’(0) = 0. Ex3. Dados: m = 5kg , k = 1000 N/m e b = 150 N s/m Equação: 5 300 4000 20 (24 )y y y sen t Solução: 20 40( ) 0,00248 0,00207 0,000408 (24 ) 0,000441 (24 )t ty t e e cos t sen t Solução Homogênea Solução Particular Seu gráfico: Ex4. Dados: m = 5kg , k = 1000 N/m e b = 50 N s/m Equação: 5 100 4000 20 (24 )y y y sen t Solução: 10( ) [0,000231 (10 7 ) 0,002218 (10 7 )] 0,000231 (24 ) 0,000748 (24 )ty t e cos t sen t cos t sen t Seu gráfico: Solução Homogênea Solução Particular Circuito RLC O circuito RLC representa uma unidade básica para construção de diversos sistemas elétricos imprescindíveis no nosso dia a dia: televisão, rádio, controle remoto, máquina de lavar roupa, elevadores, GPS e por aí vai. Vamos fazer o modelamento matemático apoiados na lei de Kirchoff que diz: Num circuito elétrico fechado, a tensão aplicada é igual à soma das quedas de tensão dos componentes. Então, vamos entender a quantificação da queda de tensão em cada componente: Obs.: Usaremos I(t) no lugar de i(t) para não confundir com a unidade imaginária. Resistor No resistor, a queda de tensão é proporcional à intensidade da corrente. Em simbologia matemática fica: .RE R I , onde R = Resistência elétrica (Ω) Ohm Indutor No indutor, a queda da tensão é proporcional à taxa de variação da corrente em função do tempo. Matematicamente pode ser representada por: .L dI E L dt , onde L = Indutância (H) Henry i(t) = corrente (A) E(t) = fonte de alimentação (V) Capacitor No capacitor, a queda de tensão é proporcional à carga elétrica armazenada. Em termos matemáticos: 1 .CE Q C , onde C = Capacitância (F) Farad Pela Lei de Kirchoff: EL + ER + EC = E(t) 1 ( ) dI L R I Q E t dt C Como por definição: ( ) dQ I t dt logo Q I dt Gerando a equação íntregro-diferencial 1 ( ) dI L R I I dt E t dt C Derivando toda a equação em relação ao tempo t, temos: 2 2 1 ( )d I dI dE t L R I dt dt C dt Resultando numa equação diferencial similar ao sistema mecânico, gerando os mesmos tipos de soluções com as mesmas classificações,apenas com diferença na escala de valores. Isso é impressionante, pois são aplicações físicas tão diferentes, e que do ponto de vista matemático são de mesma natureza. A analogia entre o sistema mecânico e sistema elétrico representa um conhecimento fundamental para a engenharia. Muitas simulações mecânicas foram feitas através de circuitos elétricos análogos, em função do custo de construção e da dificuldade de fazer aquisição de dados do ponto de vista mecânico (posição e velocidade em função do tempo). O circuito elétrico é de fácil construção, de baixo custo e de simples aquisição de dados. Analogia entre os sistemas mecânico e elétrico Sistema Mecânico Sistema Elétrico Massa (m) Indutância (L) Constante de amortecimento ( b) Resistência elétrica (R) Constante de elasticidade (k) Recíproco da capacitância (1/C) Força motora Derivada de força eletromotriz Deslocamento Corrente elétrica Ex5. Achar a corrente elétrica num circuito RLC com R = 10 Ω , L = 0,1 H e C = 10-3 F. O circuito está ligado a uma fonte de tensão E(t) = 150 sen (120π t ). Considere a corrente e variação desta, nulas como condição inicial. 0,1 10 1000 150.120 . (120 ) 0,1 10 1000 56548,668. (120 ) I I I cos t I I I cos t EDO homogênea: 0,1 10 1000 0h h h { 50 86,603 }i Solução homogênea: 50 1 2( ) [ (86,603 ) (86,603 )] th t e C cos t C sen t A solução particular será do tipo: ( ) (120 ) (120 )p t Acos t Bsen t { 3,958 1,129 }A e B Solução particular: ( ) 3,958 (120 ) 1,129 (120 )p t cos t sen t Solução geral : I(t) = h(t) + p(t) 50 1 2( ) [ (86,603 ) (86,603 )] 3,958 (120 ) 1,129 (120 ) tI t e C cos t C sen t cos t sen t Com base nas condições iniciais I(0) = 0 e Q(0) = 0 ou I’(0) = 0 , temos: 50( ) [ 3,958 (86,603 ) 2,631 (86,603 )] 3,958 (120 ) 1,129 (120 )tI t e cos t sen t cos t sen t Veja o Gráfico: Prof. Rebello abr/2012 (rev. 2015)