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Indaial – 2020 Manufatura Mecânica: usinageM e conforMação Prof. Francisco José Rodrigues da Silva Junior 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Francisco José Rodrigues da Silva Junior Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: J95m Junior, Francisco José Rodrigues da Silva Manufatura mecânica: usinagem e conformação. / Francisco José Rodrigues da Silva Junior. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 257 p.; il. ISBN 978-65-5663-045-8 1. Usinagem. - Brasil. 2. Conformação dos materiais. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 620 III apresentação Este livro didático tem por objetivo apresentar os conceitos iniciais da Manufatura Mecânica, mais especificamente na área de usinagem e conformação dos materiais. Esperamos que, ao fim desta disciplina, você seja capaz não apenas de trabalhar com os conceitos e fundamentos apresentados, mas também de enfrentar os desafios na área de processamento e conformação de materiais. O livro foi planejado para ser utilizado como suporte ao curso Manufatura Mecânica: Usinagem e Conformação, voltado para a graduação de formação em Engenharia Mecânica. Pode ser apropriado também para cursos de tecnologia relacionados a essas disciplinas na engenharia. O enfoque principal do livro está nos fundamentos da conformação mecânica dos metais e de ligas metálicas, além de cerâmicos e polímeros. Como pré-requisito para o curso, são necessários conhecimentos de ciência dos materiais, da resistência e propriedades dos materiais e do tratamento térmico. Assim, o leitor precisa ter condições de correlacionar o processamento do material com a estrutura e o desempenho do material nas principais aplicações dos processos de fabricação por deformação plástica. Na Unidade 1 deste livro serão apresentadas algumas definições básicas sobre o assunto, além de uma visão geral sobre os tipos de materiais existentes. Você aprenderá também os princípios da correlação do processamento do material com a estrutura, e a influência desses fenômenos no desempenho do material, considerados nas principais aplicações dos processos de fabricação por deformação plástica, além dos tipos de esforços atuantes nos processos de conformação mecânica por deformação plástica, bem como vantagens e desvantagens dos materiais processados a frio e a quente, e por fim os tipos de tratamentos térmicos e de superfície. A Unidade 2 é reservada para a apresentação dos processos de conformação plástica como: laminação, forjamento, extrusão, conformação de chapas, entre outros, de modo a compreender a conformação mecânica dos materiais, suas aplicações e classificação. Por fim, a Unidade 3 apresenta os processos com remoção de material, abordando processos de usinagem convencional, além de incluir a retificação e as tecnologias de usinagem não convencional. As demais operações de processamento, com o aprimoramento das propriedades (tratamentos térmicos) e tratamentos de superfície (por exemplo, limpeza, galvanização e pintura), serão tratados nessa unidade também. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Todas as unidades contêm exemplos e exercícios de fixação do conteúdo. Não deixe de resolvê-los, pois assim como qualquer outro ramo da engenharia, só se aprende praticando. Esperamos que você aproveite ao máximo este material. E lembre-se de que você pode contar com uma grande equipe de apoio para auxiliá-lo no estudo desta disciplina. Bons estudos! Prof. Francisco José Rodrigues da Silva Junior NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – CONCEITOS INICIAIS ................................................................................................1 TÓPICO 1 – MATERIAIS DE ENGENHARIA ....................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS ................................................................................................3 2.1 MATERIAIS METÁLICOS ................................................................................................................4 2.1.1 Aços .............................................................................................................................................5 2.1.2 Ferros fundidos .........................................................................................................................9 2.1.3 Materiais não ferrosos ............................................................................................................10 2.1.4 Superligas .................................................................................................................................13 2.2 MATERIAIS CERÂMICOS .............................................................................................................14 2.2.1 Cerâmicas tradicionais ...........................................................................................................15 2.2.2 Cerâmicas avançadas .............................................................................................................17 2.2.3 Vidros .......................................................................................................................................19 2.3 MATERIAIS POLIMÉRICOS ..........................................................................................................21 2.3.1 Polímeros termoplásticos ......................................................................................................21 2.3.2 Polímeros termofixos .............................................................................................................23 2.3.3 Elastômeros..............................................................................................................................252.4 MATERIAIS COMPÓSITOS ...........................................................................................................26 2.4.1 Tecnologia e classificação dos materiais compósitos .........................................................27 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................29 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................30 TÓPICO 2 – PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DE ENGENHARIA .......................................31 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31 2 TIPOS DE ESFORÇOS MECÂNICOS .............................................................................................32 2.1 PROPRIEDADES DE TRAÇÃO .....................................................................................................32 2.2 PROPRIEDADES DE COMPRESSÃO ..........................................................................................33 2.3 PROPRIEDADES DE FLEXÃO ......................................................................................................35 2.4 PROPRIEDADES DE CISALHAMENTO.....................................................................................36 3 RELAÇÕES TENSÃO – DEFORMAÇÃO ........................................................................................38 4 DUREZA .................................................................................................................................................39 4.1 ENSAIOS DE DUREZA ..................................................................................................................39 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................47 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................49 TÓPICO 3 – EFEITO DA TEMPERATURA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS ..................51 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................51 2 EFEITOS DA MUDANÇA DE TEMPERATURA NOS MATERIAIS .......................................51 3 TRATAMENTOS TÉRMICOS ...........................................................................................................57 3.1 RECOZIMENTO ..............................................................................................................................57 3.2 NORMALIZAÇÃO ..........................................................................................................................59 3.3 TÊMPERA .........................................................................................................................................61 3.4 REVENIMENTO ..............................................................................................................................63 suMário VIII 4 TRATAMENTOS SUPERFICIAIS .....................................................................................................65 4.1 CEMENTAÇÃO ...............................................................................................................................67 4.2 NITRETAÇÃO ..................................................................................................................................70 4.3 CARBONITRETAÇÃO ....................................................................................................................73 4.4 JATEAMENTO .................................................................................................................................77 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................79 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................81 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................83 UNIDADE 2 – PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO PLÁSTICA ..................................................85 TÓPICO 1 – PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO DE METAIS ....................................................87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 2 PRINCIPAIS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO DE METAIS ...............................................88 2.1 LAMINAÇÃO ..................................................................................................................................88 2.2 FORJAMENTO .................................................................................................................................90 2.3 EXTRUSÃO .......................................................................................................................................92 2.4 TREFILAÇÃO ...................................................................................................................................94 3 CONFORMAÇÃO DE CHAPAS METÁLICAS ..............................................................................96 3.1 OPERAÇÕES DE CORTE ...............................................................................................................96 3.2 OPERAÇÕES DE DOBRAMENTO ...............................................................................................98 3.3 ESTAMPAGEM ..............................................................................................................................100 3.4 PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO DE CHAPAS POR MATRIZES E PRENSAS ............102 3.5 OPERAÇÕES DE CONFORMAÇÃO DE CHAPAS NÃO REALIZADAS EM PRENSAS .......104 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................106 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108 TÓPICO 2 – PROCESSAMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS .............................................111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 PROCESSAMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS TRADICIONAIS ................................111 2.1 PREPARO DE MATÉRIA-PRIMA ...............................................................................................113 2.2 PROCESSOS DE MOLDAGEM ...................................................................................................115 2.3 SECAGEM .......................................................................................................................................117 2.4 QUEIMA (SINTERIZAÇÃO) .......................................................................................................119 3 PROCESSAMENTO DOS MATERIAIS CERÂMICOS AVANÇADOS ..................................122 3.1 PREPARO DOS MATERIAIS PRECURSORES ..........................................................................123 3.2 MOLDAGEM E CONFORMAÇÃO ............................................................................................125 3.3 SINTERIZAÇÃO ............................................................................................................................127 3.4 ACABAMENTO .............................................................................................................................128 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131TÓPICO 3 – PROCESSAMENTO DOS POLÍMEROS ...................................................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 PROCESSO DE CONFORMAÇÃO PARA PLÁSTICOS ............................................................134 2.1 EXTRUSÃO DE POLÍMEROS ......................................................................................................134 2.2 PRODUÇÃO DE CHAPAS E FILMES ........................................................................................137 2.3 PRODUÇÃO DE FIBRAS E FILAMENTOS (FIAÇÃO) ...........................................................140 2.4 PROCESSOS DE REVESTIMENTO ............................................................................................142 2.5 MOLDAGEM POR INJEÇÃO ......................................................................................................144 3 PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO PARA BORRACHA E COMPÓSITOS DE MATRIZ POLIMÉRICA ......................................................................................................................................145 IX 3.1 PROCESSAMENTO E CONFORMAÇÃO DE BORRACHAS ................................................145 3.2 FABRICAÇÃO DE PNEUS E DE OUTROS PRODUTOS DE BORRACHA .........................146 3.3 MATERIAIS E PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO DE COMPÓSITOS DE MATRIZ POLIMÉRICA .................................................................................................................................149 3.4 PROCESSO DE MOLDE ABERTO ..............................................................................................150 3.5 PROCESSOS DE MOLDE FECHADO ........................................................................................153 3.6 OUTROS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO PARA COMPÓSITOS DE MATRIZ POLIMÉRICA .................................................................................................................................154 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................155 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159 UNIDADE 3 – PROCESSOS DE USINAGEM .................................................................................161 TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 DEFINIÇÃO DE USINAGEM ..........................................................................................................163 3 CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE USINAGEM ............................................................165 4 VELOCIDADES DE CORTE, AVANÇO E TEMPO DE CORTE ...............................................168 5 GEOMETRIA DA FERRAMENTA ..................................................................................................170 6 GEOMETRIA DO CORTE ...............................................................................................................172 7 GEOMETRIA DA CUNHA DE CORTE ........................................................................................173 8 MATERIAIS PARA FERRAMENTAS DE CORTE ......................................................................176 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................178 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 2 – USINAGEM COM FERRAMENTA DE GEOMETRIA DEFINIDA .....................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183 2 TORNEAR ............................................................................................................................................185 3 FRESAR .................................................................................................................................................187 4 FURAR ..................................................................................................................................................190 5 ROSQUEAR .........................................................................................................................................192 6 ALARGAR ...........................................................................................................................................193 7 SERRAR ................................................................................................................................................195 8 PLAINAR ..............................................................................................................................................196 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................198 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 TÓPICO 3 – USINAGEM COM FERRAMENTA DE GEOMETRIA NÃO DEFINIDA ..........203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 RETIFICAR ..........................................................................................................................................204 3 BRUNIR ...............................................................................................................................................207 4 LAPIDAR ..............................................................................................................................................209 5 LIXAR ....................................................................................................................................................211 6 POLIR ...................................................................................................................................................212 7 JATEAR ................................................................................................................................................214 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................218 TÓPICO 4 – USINAGEM POR PROCESSOS NÃO CONVENCIONAIS .................................221 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................221 2 REMOÇÃO TÉRMICA ......................................................................................................................223 X 3 REMOÇÃO QUÍMICA ......................................................................................................................225 4 REMOÇÃO ELETROQUÍMICA ......................................................................................................227 5 REMOÇÃO POR ULTRASSOM ......................................................................................................229 6 REMOÇÃO POR JATO D’ÁGUA ...................................................................................................231 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................235AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................236 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................237 1 UNIDADE 1 CONCEITOS INICIAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer alguns conceitos básicos dos tipos de materiais de engenharia; • conceituar e diferenciar os tipos de esforços mecânicos e ensaios de dureza; • observar os efeitos da temperatura nas propriedades mecânicas dos materiais; • aprender os tipos de tratamentos térmicos e tratamentos superficiais. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – MATERIAIS DE ENGENHARIA TÓPICO 2 – PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DE ENGENHARIA TÓPICO 3 – EFEITO DA TEMPERATURA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 MATERIAIS DE ENGENHARIA 1 INTRODUÇÃO Os materiais que conhecemos nos dias atuais passaram por uma série de evoluções, em conjunto com o avanço de civilizações que dependiam desses materiais para trabalhar. Os autores Ashby e Johnson (2010) consideram que os materiais são a matéria-prima do design, e que ao longo da história, determinam as oportunidades e os limites do design. Com o avanço da ciência e da tecnologia, surgiram e continuam surgindo uma gama de novos materiais. Existem por volta de 100 mil materiais, essa variedade permite que o design seja inovador a partir da exploração imaginativa dos novos e aprimorados materiais (ASHBY; JONHSON, 2010). De acordo com Smith e Hashemi (2012, p. 4), “por questões de conveniência, a maioria dos materiais para engenharia é dividida em três categorias básicas principais: materiais metálicos, materiais poliméricos e materiais cerâmicos”. Além dessas categorias existem os materiais compósitos, que são uma combinação de materiais das outras categorias, que teve como objetivo a obtenção de um material de maior qualidade. Nos subtópicos seguintes, serão estudadas as diferenças entre a estrutura interna e aplicações destes tipos de materiais. 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS Para fazer uma escolha de qual material utilizar é necessário estabelecer uma linha de compromisso entre custo e o conjunto ideal de propriedades para um determinado fim. Portanto, os materiais devem ser escolhidos por apresentarem boas qualidades em serviço a um preço razoável. O material perfeito para um trabalho poderá ser demasiadamente caro, dependendo de suas propriedades e composição. Para realizar essa escolha é necessário entender como os materiais podem ser classificados. Tal classificação é geralmente baseada na estrutura atômica e química destes, como será visto adiante. UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 4 2.1 MATERIAIS METÁLICOS Os metais são os principais materiais que são utilizados historicamente na engenharia. Propriedades como: ductilidade, maleabilidade, brilho, boa condutividade térmica e elétrica são características dos metais. Essa categoria inclui os metais puros e suas ligas. Os metais apresentam propriedades que satisfazem uma vasta variedade de requisitos de projeto. Os processos de fabricação pelos quais os metais são conformados em produtos foram desenvolvidos e aprimorados ao longo dos anos (GROOVER, 2014). De acordo com Groover (2014), os metais possuem uma importância tecnológica e comercial devido às seguintes propriedades geralmente presentes em todos os metais comuns: • Alta rigidez e resistência mecânica: a adição de elementos de liga aos metais concedem melhorias nas propriedades desses materiais como: alta rigidez, resistência e dureza; assim, eles são usados como componentes estruturais em diversos produtos de engenharia. • Tenacidade: essa propriedade faz com que os metais apresentem uma capacidade de absorver energia ao sofrer uma deformação melhor que as outras classes de materiais. • Boa condutividade elétrica: devido às suas ligações metálicas, os metais são ótimos condutores. Essas ligações permitem a livre movimentação dos elétrons como portadores de carga. • Boa condutividade térmica: os metais são geralmente melhores condutores térmicos que as cerâmicas ou os polímeros, pois aos elétrons livres permitem o trânsito rápido de calor. Você sabia que além das características apresentadas, alguns metais possuem propriedades específicas que os tornam atrativos para aplicações especiais. Muitos metais comuns estão disponíveis a um custo relativamente baixo por unidade de peso e com frequência são escolhidos simplesmente devido seus baixos preços. INTERESSA NTE Ainda que alguns metais sejam importantes como metais puros (por exemplo, prata, ouro e cobre) grande parte das aplicações em engenharia necessitam de melhorias nas propriedades, que são obtidas adicionando elementos de liga a esses metais. Uma liga é um metal composta por dois ou mais elementos, em que pelo menos um deles seja de natureza metálica. Com essa adição é possível obter melhoria de resistência mecânica, dureza e outras propriedades interessantes (GROOVER, 2014). TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 5 Ligações metálicas são formadas quando os elétrons da camada de valência de átomos de elementos com baixa eletronegatividade formam uma “nuvem” de elétrons, envolvendo todos os átomos metálicos. Tais ligações não são direcionais e são relativamente fortes em comparação com as demais ligações químicas. A Figura 1 ilustra os átomos metálicos envoltos pela nuvem de elétrons da camada de valência (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013). FIGURA 1 – AS ESFERAS MAIORES REPRESENTAM OS ÁTOMOS METÁLICOS E AS MENORES REPRESENTAM OS ELÉTRONS DA CAMADA DE VALÊNCIA FONTE: <https://image2.slideserve.com/4848721/slide35-l.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Segundo Smith e Hashemi (2012), os metais são geralmente classificados em duas classes principais: (1) metais ferrosos – aqueles nos quais possuem uma grande porcentagem de ferro, como, por exemplo, aços e ferros fundidos; e (2) metais não ferrosos – que não contêm ferro ou que o contêm apenas em pequena quantidade. Os metais ferrosos podem ainda ser subdivididos em aços e ferros fundidos. As subseções seguintes tratam de quatro tópicos: aços, ferros fundidos, metais não ferrosos e superligas. 2.1.1 Aços Aços são ligas de ferro, carbono e outros elementos, cujo teor de carbono é inferior a 2,0% em peso. O diagrama metaestável ferro-carbono ilustrado na Figura 2 apresenta regiões em que diversas fases são estáveis, bem como os contornos de equilíbrio entre elas, de acordo com a composição e temperatura. O ferro puro tem ponto de fusão a 1539 °C (2802 °F). O ferro puro, durante a elevação da temperatura, a partir da temperatura ambiente, sofre transformações de fase no estado sólido, como indicado no diagrama. A partir da temperatura https://image2.slideserve.com/4848721/slide35-l.jpg UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 6 ambiente, a fase presente é o ferro alfa (α), também denominada de ferrita. A 912 °C (1674 °F), a ferrita é transformada em ferro gama (γ), ou austenita. Esta fase, por sua vez, se transforma em ferro delta (δ) a 1394 °C (2541 °F), que se mantém até ocorrer a fusão (FERRACINI JUNIOR, 2008). FIGURA 2 - DIAGRAMA DE FASES FERRO-CARBONO FONTE: Groover (2014, p. 32) Analisando os limites de solubilidade do carbono no ferro, tem-se que na fase ferrita, apenas uma pequena parte do carbono é solúvel. A solubilidade máxima é de 0,022% a 727 °C e diminui para 0,008% na temperatura ambiente. Esta fase é relativamente macia, pode ser magnética abaixo de 768 oC e tem densidade 7,88 g/cm³ (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013).Já a austenita pode dissolver até cerca de 2,1% de carbono na temperatura de 1130 °C (GROOVER, 2014). A diferença de solubilidade entre as fases citadas apresenta oportunidades de endurecimento por tratamento térmico, conforme será apresentado no Tópico 3. Para aumentar a resistência do ferro, sem tratamento térmico, basta elevar o teor de carbono nele. Dessa forma, quando a liga passa a ser chamada aço, significa que essa liga ferro-carbono contém de 0,02% a 2,11% de carbono. A maioria dos aços tem teor de carbono entre 0,05% a 1,1% C (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013). TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 7 Existe outra fase importante no sistema ferro-carbono denominada de cementita (Fe3C). Ela é um composto intermetálico metaestável de ferro e carbono, e é uma fase muito dura, porém frágil. Sob condições de equilíbrio e à temperatura ambiente, “as ligas ferro-carbono irão formar um sistema bifásico para teores de carbono um pouco superiores a zero. O teor de carbono nos aços tem variação desde valores baixos, a aproximadamente 2,1% C. Acima de 2,1%, até próximo de 4% ou 5%, a liga é definida como ferro fundido” (GROOVER, 2014, p. 32). Outro fator importante a ser considerado é a porcentagem dos elementos de liga que serão adicionados ao aço, tais como manganês, cromo, níquel e/ou molibdênio, mas é o teor de carbono que transforma o ferro em aço. Os elementos de liga têm grande influência nas propriedades mecânicas e na microestrutura dos materiais, no caso dos aços, dependendo do teor dos elementos de liga que este aço contenha serão verificadas diferentes características (ELISEI, 2004). De acordo com Modenesi (2004), existem diversos tipos de aços, logo foi necessário criar um sistema de classificação para esses aços, onde esse sistema é submetido periodicamente a revisões. Assim, os aços podem ser classificados em grupos com base às propriedades comuns. O Quadro 1 mostra alguns exemplos de modos de classificação: Composição química Aços carbono, aços liga ou aços inoxidáveis Métodos de fabricação Forno aberto, processo básico do oxigênio, ou métodos do forno elétrico Processos de acabamento Laminação a quente ou laminação a frio Forma do produto acabado Barras, placas, chapas grossas, chapas finas, tubulação, ou perfis estruturais Microestrutura Aços ferríticos Nível requerido da resistência Tal como especificado em padrões de ASTM ou API Descrição da qualidade Aços de qualidade do forjamento e aços qualidade comercial QUADRO 1 - MODOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS AÇOS FONTE: Ballesteros (2009, p. 33) De acordo com Caruso (2001) é interessante salientar que as diversas instituições normativas, tanto nacionais quanto internacionais, estabeleceram critérios de designação para os diversos tipos de aço utilizados na indústria. Dentre as mais importantes, encontram-se as designações ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), AISI (American Iron and Steel Institute) e SAE (Society of Automotive Engineers). UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 8 De acordo com Caruso (2001), essa designação normativa estabelece uma chave alfanumérica para a identificação dos aços, que segue o seguinte critério: • yyAxxB Em que: • yy é tipo de aço (ao carbono, ao manganês, ao cromo). • A é o acréscimo de elementos de liga especiais (acrescentar quando aplicável). • xx é o percentual de carbono contido no aço x 100. • B são requisitos adicionais de qualidade (temperabilidade) (acrescentar quando aplicável). Tipo de aço Chave numérica Aço carbono 10xx Aço carbono ressulfurado 11xx Aço carbono ressulfurado e refosforizado 12xx Aço manganês Mn 1.75% 13xx Aço níquel Ni 3.50% 23xx Aço níquel Ni 5.00% 25xx Aço níquel cromo Ni 1.25%; Cr 0.65 e 0.80% 31xx Aço níquel cromo Ni 1.75%; Cr 1.07% 32xx Aço níquel cromo Ni 3.50%; Cr 1.50 e 1.57% 33xx Aço níquel cromo Ni 3.00%; Cr 0.77% 34xx Aço molibdênio Mo 0.20 e 0.25% 40xx Aço molibdênio Mo 0.40 e 0.52% 44xx Aço cromo molibdênio Cr 0.50, 0.80 e 0.95%; Mo 0.12, 0.20, 0.25 e 0.30% 41xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 1.82%; Cr 0.50 e 0.80%; Mo 0.25% 43xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 1.05%; Cr 0.50 e 0.80%; Mo 0.25% 47xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 0.30%; Cr 0.40; Mo 0.12% 81xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 0.55%; Cr 0.50; Mo 0.20% 86xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 0.55%; Cr 0.50; Mo 0.25% 87xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 3.25%; Cr 1.20; Mo 0.12% 93xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 0.45%; Cr 0.40; Mo 0.12% 94xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 0.55%; Cr 0.40; Mo 0.12% 97xx Aço níquel cromo molibdênio Ni 1.00%; Cr 0.80; Mo 0.25% 98xx Aço níquel molibdênio Ni 0.85% e 1.82%; Mo 0.20 e 0.25% 46xx Aço níquel molibdênio Ni 3.50%; Mo 0.25% 48xx Aços cromo Cr 0.27, 0.40, 0.50 e 0.65% 50xx Aços cromo Cr 0.80, 0.87, 0.92, 0.95, 1.00 e 1.05% 51xx Aços cromo Cr 1.45%; C 1.00% min 52xxx QUADRO 2 - LISTA PARCIAL DA DENOMINAÇÃO NORMATIVA ABNT, AISI/SAE FONTE: Adaptado de Caruso (2001) TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 9 2.1.2 Ferros fundidos De acordo com Chiaverini (2008), o ferro fundido não é considerado uma liga binária, mas sim uma liga ternária de Fe-C-Si, sendo a quantidade de carbono maior que 2,0% da solução, embora a maioria dos ferros fundidos possuem entre 3,0 e 4,5%. Entretanto, dificilmente encontramos o ferro fundido composto por apenas esses dois elementos. Conforme Tânia Nogueira Fonseca Souza (2012, p. 30) “ferro fundido é uma liga constituída basicamente por carbono, silício, manganês, fósforo e enxofre”. Callister Júnior e Rethwisch (2013) também explicam que esse carbono é encontrado, ou grande parte dele, na forma livre, ou também conhecido como grafita, sendo essa grafita promovida devido à presenta do silício em concentrações superiores a 1%. Existem vários tipos de ferro fundido, as ligas mais usuais são os ferros fundidos branco, cinzento, nodular e vermicular. A Figura 3 ilustra as fotomicrografias dos tipos de ferros fundidos. FIGURA 3 - MICROGRAFIAS DOS DIFERENTES TIPOS DE FERROS FUNDIDOS FONTE: Comin (2013, p. 15) Além desses ferros, outro tipo é o ferro fundido branco, que tem na sua estrutura o carbono quase que inteiramente na forma de Fe3C, devido às condições de fabricação e menor teor de silício, o que resulta em um material de elevada dureza, resistente, porém frágil e de usinabilidade difícil (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013). UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 10 O ferro fundido cinzento é o mais antigo e comum dos tipos de ferro. Sua composição varia de 2,5% a 4% de carbono e 1% a 3% de silício. O nome foi atribuído, pois sua fratura exibe um tom acinzentado, devido ao carbono na forma de veios de grafita (carbono) distribuídos por todo o ferro fundido após a solidificação. Essa estrutura faz com que a superfície do metal tenha uma coloração acinzentada na fratura; daí o nome ferro fundido cinzento. A dispersão dos veios de grafita é responsável por duas propriedades interessantes: (1) bom amortecimento de vibrações, o que é desejável em motores e em outras máquinas; e (2) lubrificação interna, o que torna o metal fundido bastante usinável (CHIAVERINI, 2008). O ferro fundido nodular, ou ferro fundido dúctil é caracterizado pela sua alta ductilidade, alta tenacidade e resistência mecânica, entretanto, a característica mais chamativa é seu elevado limite de escoamento. Esse ferro fundido tem a composição do ferro fundido cinzento, mas o metal fundido é tratado quimicamente antes do vazamento para produzir nódulos de grafita em vez de veios. Suas aplicações incluem componentes de máquinas que requeiram alta resistência e boa resistência ao desgaste (CHIAVERINI, 2008). O ferro fundido maleável é obtido a partir do ferro fundido branco: [...] tratado termicamente para remover o carbono da solução e formar grafita, o metal resultante é chamado ferro fundido maleável. Essa nova microestrutura apresenta uma ductilidade substancial quando comparada à do ferro fundido branco. Produtos típicos fabricados com ferro fundido maleável incluemconexões de tubos e flanges, certos componentes de máquinas e peças de equipamentos de estradas de ferro (GROOVER, 2014, p. 36). 2.1.3 Materiais não ferrosos Os elementos metálicos e as ligas que não têm como elemento principal o ferro são os chamados metais não ferrosos. Alguns exemplos de metais não ferrosos são o alumínio, o cobre, o zinco, o titânio e o níquel. A distinção entre ligas ferrosas e não ferrosas deve-se ao fato de que aços e ferros fundidos são produzidos em quantidades muito maiores e são muito mais usados do que outras ligas. De acordo com Groover (2014, p. 36) Embora os metais não ferrosos, como um todo, não possam se igualar à resistência dos aços, certas ligas não ferrosas possuem resistência à corrosão e/ou razões resistência/peso que as tornam competitivas com os aços em aplicações com solicitação de tensões com intensidade de moderada a elevada. Nos parágrafos seguintes, serão demonstrados os metais não ferrosos mais importantes no que se refere aos aspectos comercial e tecnológico. TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 11 Alumínio e suas ligas: a utilização do alumínio e de suas ligas tem experimentado um constante crescimento nos diversos setores da indústria de manufatura, devido às características apresentadas por este metal. O baixo peso específico, a alta condutividade térmica e elétrica, aliado à alta resistência mecânica de algumas ligas, faz com que o alumínio seja a primeira escolha em termos de material para atender às exigências de determinadas aplicações. O alumínio tem excelente resistência à corrosão devido à formação de um filme de óxido, duro e fino, na superfície. O alumínio é um metal muito dúctil, sendo conhecido pela sua conformabilidade. O alumínio puro é relativamente pouco resistente; mas na forma de liga tratada quimicamente compete com alguns aços, em especial quando o peso é um fator importante (CAPELARI, 2006). Magnésio e suas ligas: o magnésio (Mg) possui baixa densidade, abundância natural e baixo custo, o que o torna muito atrativo para aplicações onde o peso é determinante, como na indústria automóvel e aeroespacial. Ele é relativamente fácil de usinar, por ser macio, mas como metal puro apresenta resistência mecânica insuficiente para a maioria das aplicações em engenharia. Entretanto, com o emprego de elementos de ligas e tratamentos térmicos atinge resistência mecânica comparável à das ligas de alumínio. “Um fator determinante para o emprego destas ligas é obviamente a sua resistência à corrosão” (CALDEIRA, 2011, p. 2). Cobre e suas ligas: o cobre foi um dos primeiros elementos de liga empregados e ainda tem larga utilização. Este elemento aumenta a dureza das ligas, porém, diminui o alongamento e prejudica a fluidez do material. Aumenta a resistência da liga com ou sem tratamento térmico. O cobre puro (Cu) tem uma coloração particular vermelha-rosada, mas a sua mais notável propriedade de interesse em engenharia é a baixa resistividade elétrica – uma das mais baixas entre todos os elementos. É bastante solúvel no alumínio em altas temperaturas (5,65% a 548 °C, solubilidade máxima do Cobre em Alumínio) e apenas ligeiramente solúvel em temperatura ambiente (0,5%). Essa característica torna as ligas termicamente tratáveis e permite melhoramento nas propriedades mecânicas. O cobre é um dos metais nobres (ouro e prata também são metais nobres) e por isso é resistente à corrosão. Todas as características combinadas tornam o cobre um dos metais mais importantes (FUOCO, 2001). Uma das ligas de cobres e estanho (com cerca de 90% de CU e 10% de Sn) bastante utilizada é o bronze, apesar de sua origem muito antiga, datando relatos de uso desde a Idade do Bronze, na pré-história. Outras ligas de bronze têm sido desenvolvidas, compostas com outros elementos, além do estanho, como o alumínio ou o silício. O latão é outra liga comum feita de cobre, composta de cobre e zinco (por exemplo, 65% Cu e 35% Zn) (SILVA, 2005). Níquel e suas ligas: o níquel (Ni) possui propriedade grafitizante, porém com menor intensidade, ainda assim podendo formar carbonetos (Ni3C). Em relação às características mecânicas, o níquel é magnético, e possui a rigidez semelhante à do ferro e do aço. Por outro lado, ele é muito mais resistente UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 12 à corrosão, e as propriedades a alta temperatura de suas ligas são em geral superiores (SILVA, 2005). Titânio e suas ligas: Descoberto como elemento químico em 1791 por W. Gregor no minério da ilmenita (FeTiO3 ), o titânio é um elemento de transição que apresenta excelentes propriedades físicas, dentre as quais se destacam o elevado ponto de fusão (1668 oC), o ponto de ebulição (3287 oC), a baixa massa específica (4,54 g/cm³) [...] (BRAGA; FERREIRA; CAIRO, 2007, p. 450). Sua importância tem crescido nas últimas décadas devido às aplicações aeroespaciais, em que sua baixa densidade e boa razão resistência-peso são exploradas (BRAGA; FERREIRA; CAIRO, 2007). A expansão térmica do titânio é relativamente baixa entre os metais. Ele é mais rígido e mais resistente que o alumínio e mantém boa resistência em temperaturas elevadas. Outra propriedade química muito importante é a elevada resistência à corrosão. O Ti e suas ligas têm excelente resistência à corrosão em água do mar e em soluções aquosas de cloretos. Grande parte das ligas é resistente a maior parte de meios oxidantes como HNO3 e agentes redutores como HCl e H2SO4, quando estes se encontram diluídos (BRAGA; FERREIRA; CAIRO, 2007, p. 450). As duas principais áreas de aplicação do titânio são: (1) no estado comercialmente puro, o titânio é empregado em componentes resistentes à corrosão, tais como componentes para uso em ambientes marinhos e em próteses; e (2) ligas de titânio são usadas em componentes de alta resistência em temperaturas variando de ambiente até acima de 550 °C (1000 °F), em especial quando sua excelente razão resistência-peso é importante (GROOVER, 2014). Zinco e suas ligas: o zinco (Zn) “pode ser encontrado em até 3,0% nas ligas fundidas. Quando adicionado em quantidades grandes torna a liga muito frágil a quente e produz alta contração” (MONTEIRO, 2011, p. 27). O baixo ponto de fusão do zinco (Zn) o torna atrativo como um metal para fundição. “Adições de zinco não interferem nas propriedades mecânicas, pois, o zinco aparece em solução na liga, não formando fases ou compostos” (MONTEIRO, 2011, p. 27). O zinco possui também como característica ser resistente contra a corrosão, quando é depositado na superfície do aço ou do ferro. Um exemplo clássico é o aço galvanizado, que são aços revestidos com zinco. As ligas de zinco são bastante aplicadas na fundição de matrizes para produção de componentes utilizados em indústrias automotivas e de equipamentos. TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 13 2.1.4 Superligas As superligas são um grupo de ligas que englobam ligas ferrosas e não ferrosas. O início do desenvolvimento das ligas a base de níquel começa em 1906 e é atribuído à Amborose Monnel ao receber a patente pela criação da liga cobre-níquel, conhecida como Monel®. O invento das turbinas a gás durante os anos da Segunda Guerra Mundial solicitou materiais mais duráveis capazes de resistir a altas temperaturas de serviço (PATEL, 2006 apud SANTOS, 2012, p. 28). Algumas superligas são baseadas no ferro, enquanto outras são baseadas no níquel e no cobalto. Esse grupo de ligas foram projetados para possuir elevada resistência mecânica e elevada resistência à corrosão/oxidação em altas temperaturas. “Elas combinam boa resistência à fadiga e à fluência, bem como ductilidade e rigidez. Em geral, existem três principais classes de superligas: de níquel, de ferro e de cobalto” (VALLE, 2010, p. 9). A Figura 4 ilustra a classificação das superligas. FIGURA 4 - CLASSIFICAÇÃO DAS SUPERLIGAS FONTE: Valle (2010, p. 10) UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 14 As superligas à base de ferro apresentam o ferro como o elemento principal.Já as superligas à base de níquel possuem melhor resistência a altas temperaturas que os aços-liga e seu principal elemento é o níquel. As superligas à base de cobalto contêm cobalto (40% a 50%) e cromo (20% a 30%) como principais componentes. A temperaturas mais baixas, dependendo da resistência mecânica requerida e da aplicação, as superligas de ferro são mais indicadas do que as de níquel e de cobalto, pois o custo das superligas de ferro é inferior. “As superligas de cobalto são as que possuem a capacidade de trabalhar em temperaturas mais elevadas, mas a sua utilização é mais restrita, pois são significativamente mais caras que as superligas de ferro e de níquel. As superligas de níquel são as mais utilizadas” (VALLE, 2010, p. 10). 2.2 MATERIAIS CERÂMICOS Segundo Boch e Nièpce (2007), materiais cerâmicos são materiais sintéticos, essencialmente compostos por fases inorgânicas iônica-covalente, não totalmente amorfa e, geralmente, consolidada pela sinterização a altas temperaturas de um compactado pulverulento moldado no formato do objeto desejado. As propriedades gerais dos materiais cerâmicos são a alta dureza, as boas características de isolamento elétrico e térmico, a estabilidade química e os altos pontos de fusão. Os materiais cerâmicos são classificados em três tipos básicos: cerâmicas tradicionais, cerâmicas avançadas e vidros (Figura 5). A seguir, veremos com detalhes cada um dos tipos básicos desses materiais cerâmicos. FIGURA 5 - CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS CERÂMICOS BASEADA NA APLICAÇÃO FONTE: O autor TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 15 2.2.1 Cerâmicas tradicionais As cerâmicas tradicionais são geralmente fabricadas a partir de matérias- primas naturais, baseadas em silicatos, na sílica e em óxidos, e processadas por métodos convencionais. Seus produtos principais são as argilas queimadas (produtos domésticos à base de argila, louças, tijolos e telhas), o cimento e abrasivos naturais, como a alumina (GODINHO, 2004). De acordo com Godinho (2004) as argilas são as matérias-primas mais utilizadas nas cerâmicas, e são formadas por partículas finas de silicato hidratado de alumina, tornando-se plásticas com adição de água, de modo a ficar moldáveis e conformáveis. Além da sua plasticidade quando misturada com água, uma outra característica da argila, que a torna tão útil, é que ela funde quando aquecida a uma temperatura suficientemente alta, produzindo um material denso e rígido. Esse tratamento térmico é conhecido como queima. As temperaturas adequadas de queima dependem da composição da argila. Assim, a argila pode ser moldada enquanto está úmida e macia e, então, ser queimada para se obter o produto cerâmico final, duro e rígido (GROOVER, 2014). Outra matéria-prima principal na produção de cerâmicas tradicionais é a sílica (SiO2), que é o principal componente dos vidros, e um componente de outros produtos cerâmicos tais como louças sanitárias, refratários e abrasivos. A sílica é um material muito importante para a indústria cerâmica pois é o insumo principal usado nos vidros, esmaltes e abrasivos. A formação da sílica é o resultado da combinação de silício e oxigênio, originando a segunda molécula mais abundante na terra (SiO2). Seu uso extensivo é devido a dureza, seu ponto de fusão, ao baixo custo e na habilidade de formar vidros (BRITO, 2005, p. 14). Outra matéria-prima importante para as cerâmicas tradicionais é a alumina, que é um material granular branco, corretamente chamado de óxido de alumínio (Al2O3). A maior parte da alumina é processada a partir do mineral bauxita, que é uma mistura impura de óxido de alumínio hidratado e hidróxido de alumínio, além de compostos semelhantes de ferro ou de manganês. FIGURA 6 - ILUSTRAÇÃO DA BAUXITA E ALUMINA FONTE: Adaptado de <https://www.hydro.com/pt-BR/produtos-e-servicos/bauxita-e-alumina/>. Acesso em: 15 jan. 2020. UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 16 A bauxita é também o principal minério para a produção de alumínio metálico. Uma forma mais pura, mas menos comum, de Al2O3 é o mineral coríndon, que contém grandes quantidades de alumina na sua composição. Cristais de coríndon com pequenos teores de impurezas são as pedras preciosas coloridas safira e rubi (GROOVER, 2014, p. 40). O setor industrial da cerâmica é bastante diversificado e pode ser dividido nos seguintes segmentos: cerâmica vermelha, materiais de revestimento, materiais refratários, louça sanitária, isoladores elétricos de porcelana, louça de mesa, cerâmica artística (decorativa e utilitária), filtros cerâmicos para uso doméstico, cerâmica técnica e isolantes térmicos. No Brasil existem todos estes segmentos, com maior ou menor grau de desenvolvimento e capacidade de produção (VALLE, 2010). Os exemplos apresentados a seguir abrangem as principais classes de produtos de cerâmicas tradicionais. Vasos e utensílios domésticos: essa classe de produtos é uma das mais antigas, datando de milhares de anos; no entanto, ainda é uma das mais importantes. Inclui utensílios domésticos que todos nós usamos: louças e porcelanas. “A matéria-prima para esses produtos é a argila, em geral combinada com outros minerais como sílica e feldspato. A mistura úmida é moldada e subsequentemente queimada para produzir a peça acabada” (GROOVER, 2014, p. 40). Tijolos e telhas: tijolos de construção, tubos de argila, telhas e manilhas d’água são produzidos com vários insumos à base de argila, de baixo custo, e contendo sílica e areias, disponíveis em grandes quantidades nos depósitos naturais. Esses produtos são moldados por prensagem e queimados em temperaturas relativamente baixas (GROOVER, 2014, p. 40). Refratários: são materiais que possuem elevado ponto de fusão e, quando expostos a elevadas temperaturas, mantêm as suas características físicas e químicas sem se deformar. “São produzidos com argilas cauliníticas refratárias, ricas em silicatos de alumínio e pobres em óxido de cálcio e óxido de ferro. Os materiais refratários de cerâmica mais comuns são os tijolos maciços utilizados para a execução de fornos, lareiras, churrasqueiras e chaminés” (ARAÚJO; RODRIGUES; FREITAS, 2000 apud SOBROSA, 2014, p. 33). Abrasivos: as cerâmicas tradicionais empregadas como abrasivos são classificadas em naturais (diamante e quartzo) e artificiais (carbeto de silício e alumina eletrofundida). As partículas abrasivas (os grãos da cerâmica) são distribuídas por todo o rebolo usando um material aglomerante como goma-laca, resinas poliméricas ou borracha. “As características do material correlacionam- se com as propriedades requeridas para um abrasivo, entre elas tem-se: dureza, tenacidade, refratariedade e estabilidade química” (MORAIS; SUSTER, 2001, p. 3). TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 17 2.2.2 Cerâmicas avançadas Nas últimas décadas, foram fabricados diversos materiais cerâmicos com propriedades melhoradas, como maior resistência mecânica e maior resistência ao desgaste, além de resistência à corrosão (mesmo em altas temperaturas) e a choques térmicos (advindos de exposições súbitas a temperaturas muito altas ou muito baixas). Tais cerâmicas, denominadas cerâmicas para engenharia, cerâmicas estruturais ou cerâmicas avançadas formaram famílias inteiramente nova de materiais cerâmicos de óxidos, nitretos e carbonetos. Entre os materiais cerâmicos avançados estão alumina (óxido), nitreto de silício (nitreto) e carboneto de silício (carboneto). Uma aplicação aeroespacial importante dos materiais cerâmicos avançados é o uso de placas cerâmicas para revestimento dos ônibus espaciais. As placas cerâmicas são feitas de carboneto de silício, em virtude de sua capacidade em atuar como blindagem térmica e de retornar rapidamente à temperatura usual quando é removida a fonte de calor. [...] Outra aplicação importante dos materiais cerâmicos avançados, e que evidencia a versatilidade, a importância e o crescimento futuro dessa classe de materiais, é o seu uso na fabricação de ferramentas decorte. [...] As aplicações dos materiais cerâmicos são realmente ilimitadas, pois podem ser utilizados na área aeroespacial, na fabricação de metais, na biomedicina, na indústria automotiva e em muitas outras áreas (SMITH; HASHEMI, 2013, p. 7). A Figura 7 ilustra exemplos de aplicação desses materiais. UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 18 FONTE: Smith e Hashemi (2012, p. 8) FIGURA 7 – EXEMPLOS DE MATRIAIS CERÂMICOS As cerâmicas avançadas são classifi cadas de acordo com o tipo de composição química em: óxidos, carbetos e nitretos. Óxidos cerâmicos: a cerâmica avançada à base de óxido mais importante é a alumina. Embora ela tenha sido discutida no contexto das cerâmicas tradicionais, a alumina é hoje em dia produzida sinteticamente a partir da bauxita, usando fornos elétricos. Por meio do controle do tamanho das partículas e das impurezas, de maior controle nos métodos de processamento, e pela mistura com quantidades pequenas de outras cerâmicas, a resistência e a tenacidade da alumina são substancialmente melhoradas quando comparadas com a alumina natural (GROOVER, 2014, p. 40). Carbetos: os carbetos cerâmicos incluem os carbetos de silício (SiC), de tungstênio (WC), de titânio (TiC), de tântalo (TaC) e de cromo (Cr3C2) e são reconhecidos como: (a) Exemplos de uma nova geração, recentemente desenvolvida, de materiais cerâmicos para aplicações avançadas em motores. Os componentes de cor escura são válvulas de motores, assentos de válvulas e pinos do pistão fabricados em nitreto de silício. O componente de cor clara é um material de revestimento de tubulação fabricado em um material cerâmico à base de alumina. (b) Possíveis aplicações de componentes cerâmicos em um motor turbodiesel. TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 19 [...] um dos cerâmicos mais importante devido à combinação única de propriedades que este material apresenta, tais quais, excelente resistência à oxidação, mantém a resistência mecânica mesmo em altas temperaturas, resistência ao desgaste, condutividade térmica alta, boa resistência ao choque térmico e densidade relativamente baixa quando comparada aos metais. A ampla variedade de propriedades do carbeto de silício é atribuída ao alto caráter covalente da ligação existente entre os átomos de carbono e silício. A ligação covalente é formada como resultado da sobreposição de orbitais eletrônicos de átomos vizinhos e ocorre tipicamente entre átomos não inertes de eletronegatividade similar. Sólidos covalentes, em geral, apresentam baixa densidade, isto é ocasionado pelo pequeno empacotamento oriundo da direcionalidade da ligação covalente (SILVA, 2005, p. 5). Nitretos: as cerâmicas à base de nitretos mais importantes são o nitreto de silício (Si3N4), o nitreto de boro (BN) e nitreto de titânio (TiN). Como um grupo, as cerâmicas à base de nitretos são duras e frágeis e fundem a altas temperaturas (mas geralmente não tão altas quanto os carbetos). Elas são em geral isolantes elétricos, exceto o TiN. O nitreto de silício (Si3N4) é um dos materiais estruturais mais promissores para as aplicações de altas temperaturas e apresenta uma primorosa combinação de propriedades. Ele é tão leve quanto o carboneto de silício (SiC), mas sua microestrutura lhe fornece excelente resistência ao choque térmico e sua alta resistência à quebra o torna resistente aos impactos e choques, e devido a essas vantagens justifica-se seu uso em peças sob carregamento em elevadas temperaturas. O nitreto de boro tem sua dureza é semelhante à do diamante devido à sua dureza extrema, as principais aplicações desse tipo de nitreto são em ferramentas de corte e abrasivos de rebolos. O nitreto de titânio apresenta propriedades que são similares aos outros nitretos desse grupo, com exceção da condutividade elétrica, pois é um condutor. O nitreto de titânio possui como característica ter alta dureza, boa resistência ao desgaste e baixo coeficiente de atrito contra metais ferrosos. Esse conjunto de propriedades torna esse tipo de nitreto um material ideal para revestimento de superfícies de ferramentas de corte. 2.2.3 Vidros De acordo com Souza (2013, p. 20), “o termo vidro vem do latim vitrum, que constitui um fascinante grupo de materiais intrigantes, tanto do ponto de vista fundamental quanto de suas aplicações. Na história, estão entre os materiais mais antigos já estudados, contudo, o conhecimento de sua estrutura ainda não é completo”. UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 20 Pode-se definir um vidro, como sendo uma substância vítrea ou um estado vítreo, um material formado a partir do resfriamento do estado líquido sem mudança descontínua de volume e que se torna mais ou menos rígido através do aumento progressivo de sua viscosidade. Assim, um vidro é definido como um sólido não-cristalino que apresenta uma temperatura de transição vítrea (Tg), estrutura amorfa e que se encontra no estado metaestável ou estado de não equilíbrio, além disto, possuem também propriedades típicas dos líquidos, como a ausência de uma ordenação cristalina de longo alcance (CACHO, 2005 apud SOUZA, 2013, p. 24). De acordo com Cook e Pharr (1990 apud SOUZA, 2013, p. 33) “para que ocorra a formação de um vidro é necessário resfriar um líquido suficientemente rápido de modo que não haja tempo para o mesmo cristalizar-se”. Assim, quando o líquido é resfriado sua viscosidade aumenta até uma determinada faixa de temperatura, em que nessa faixa há uma redução na movimentação das moléculas, porém tais moléculas não chegam a cristalizar. Posteriormente, nessa fase, o material vítreo chega a sua solidificação final. “A faixa de temperatura (do ponto E até o ponto F) em que este fenômeno acontece é denominada de temperatura de transição vítrea (Tg), que faz com que o líquido super-resfriado apresente mudanças em suas propriedades físicas e termodinâmicas” (MIKOWSKI, 2008 apud SOUZA, 2013, p. 33). O principal componente em quase todos os vidros é a sílica (SiO2), mais comumente encontrada como o mineral quartzo, em rochas e areias. O vidro de sílica tem um coeficiente de expansão térmica muito baixo e é, portanto, muito resistente ao choque térmico. Essas propriedades são ideais para aplicações em temperaturas elevadas; assim sendo, as vidrarias de laboratórios químicos projetadas para aquecimento são fabricadas com altas proporções de vidro de sílica (GROOVER, 2004, p. 42). Outro interessante material são as vitrocerâmicas, materiais compostos nos quais uma ou mais fases cristalinas estão envolvidas por uma fase amorfa (vidro). Elas são obtidas por meio de: [...] um processo de cristalização controlada de sistemas vítreos apropriados (pois como visto até aqui, os vidros comuns são amorfos, sem organização estrutural atômica de longo alcance), portanto são primeiramente formadas como vidros, usando rota de fabricação idêntica à dos vidros convencionais, dando-se o formato desejado, e resfriando até temperatura ambiente para posterior reaquecimento, ou então, levando diretamente à temperatura na qual a nucleação de cristais ocorre a uma taxa bem característica (KARAMBERI; ORKOPOULOS; MOUTSATSOU, 2006 apud SANTOS, 2013, p. 26). TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 21 2.3 MATERIAIS POLIMÉRICOS A origem da palavra vem de poli que significa muitos (repetição) e mero que significa partes, sendo assim a repetição de muitas partes. A maioria dos materiais poliméricos consiste em longas cadeias (macromoléculas) ou redes moleculares que normalmente têm como base materiais orgânicos (precursores que contêm carbono). Estruturalmente, a maior parte dos materiais poliméricos é não cristalina, mas alguns apresentam uma mistura de regiões cristalinas e não cristalinas. A resistência e a ductilidade dos materiais poliméricos variam muito. Devido à natureza de sua estrutura interna, estes materiais são, predominantemente, maus condutores de eletricidade. Alguns deles são bons isolantes, usados em aplicações de isolamento elétrico (SMITH;HASHEMI, 2012, p. 5). Os polímeros usualmente são divididos em plásticos e borrachas. A maioria dos polímeros são sintéticos e são obtidos através de reações (polimerizações) de moléculas simples (monômeros) fabricados comercialmente. Do ponto de vista técnico, costuma-se apresentar os polímeros em três classes que são: termoplásticos, termofixos e elastômeros (Figura 8). As duas primeiras classes são para plásticos e a terceira é para borrachas. FIGURA 8 - CLASSES DOS POLÍMEROS FONTE: <https://engenhariacivilfsp.files.wordpress.com/2014/05/aula-polc3admeros.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2020. 2.3.1 Polímeros termoplásticos Os termoplásticos são macromoléculas que formam encadeamentos lineares de átomos, podendo apresentar cadeia retas ou ramificadas, a Figura 9 apresenta o polímero linear, representado por linhas, através de cadeias independentes (FELTRE, 2004). UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 22 FIGURA 9 - POLÍMERO TERMOPLÁSTICO OU LINEAR FONTE: Peruzzo e Canto (2006, p. 258) “Os polímeros lineares são termoplásticos, [...] que podem ser aquecidos e endurecidos pelo resfriamento, repetidas vezes, sem perder suas propriedades” (FELTRE, 2004, p. 385). Nesse processo, os polímeros termoplásticos quando aquecidos amolecem, permitindo que sejam moldados, adquirindo um formato desejado. Alguns exemplos de polímeros termoplásticos são a celulose, a poliamida, o polietileno, o policloreto de vinila, o politetrafluoretileno, o propileno, o poliestireno, a poliacrilonitrila (PERUZZO; CANTO, 2006). Segundo Feltre (2004), os polímeros termoplásticos estão separados em dois grupos diferentes, os de baixa densidade e os de alta densidade. Tem-se como exemplo os dois tipos diferentes de polietileno, o polietileno de baixa densidade (PEBD) e o polietileno de alta densidade (PEAD ou HDPE). Todos os polímeros lineares ou termoplásticos exigem uma energia em forma de calor, para se tornarem moldáveis e à medida que ocorre um decréscimo desta energia, estes materiais permanecem na forma em que foram moldados. Devido a sua característica de se tornar fluído, os termoplásticos podem ser remodelados em novas formas, quando forem aquecidos por uma fonte de energia. Mesmo depois de remodelados, dificilmente estes polímeros perdem desempenho ou sua resistência mecânica (SMITH; HASHEMI, 2012 apud ROCHA; SILVA; SOUZA, 2013, p. 31). Para Junior, Nunes e Ormanji (2002) a remoldagem dos termoplásticos através do escoamento térmico, ocorre devido a características particulares das moléculas, que são unidas por atrações intermoleculares, as quais seguram as cadeias impedindo seu deslocamento. Segundo o mesmo autor, à medida que fornecemos energia na forma de calor, estas forças se enfraquecem causando a translação e um possível rearranjo das moléculas do material. TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 23 De acordo com Vollhart e Schore (2004) os polímeros lineares são parcialmente cristalinos ou totalmente amorfos, solúveis em solventes adequados e passíveis de sofrer escoamento sob a ação de calor e pressão, podendo ser reciclado, já os polímeros que assumem uma estrutura molecular tridimensional, reticulada ou com ligações cruzadas (termofixos) por serem insolúveis e infusíveis, não permitem que sejam reaproveitados, sua reciclagem provoca a danificação do material De acordo com Mortimer e Machado (2010) a transformação das substâncias poliméricas ocorre através do processamento moldável do plástico, utilizando-se polímeros, estabilizadores, corantes, plastificantes, lubrificantes e modificadores de impacto, que são transformados em objetos, como tubos, filmes, fios, tecidos, revestimentos, peças moldadas, bacias, baldes, entre outros. [...] Segundo ainda Mortimer e Machado (2010) a vantagem da utilização desses processos, nos polímeros lineares é que eles consomem pouca energia, quando se comparado aos processos produtivos de vidro, cimento, metais ou cerâmicas (ROCHA; SILVA; SOUZA, 2013, p. 32). De acordo com Santos et al. (2018, p. 5): Os polímeros termoplásticos são compostos por cadeia de moléculas, as quais quando submetidas a elevadas temperaturas tomam determinadas formas que são estabilizadas em temperatura ambiente. Verifica-se a possibilidade de serem moldados diversas vezes. Assim, realiza-se o processo de reciclagem devido às características do material que é flexível e resistente. Os polímeros termoplásticos são compostos por duas fases, dependendo do grau de forças intermoleculares: a estrutura amorfa que é responsável pelas propriedades elásticas dos materiais, e a estrutura cristalina responsável pelas propriedades mecânicas de resistência ao impacto, bem como às altas e baixas temperaturas (HAMOD, 2014). 2.3.2 Polímeros termofixos Polímeros termofixos são assim denominados devido às suas características. Estes materiais são rígidos possuindo uma estabilidade dimensional maior que os termoplásticos, e da mesma forma são mais frágeis, sendo muito estáveis a variações de temperatura. As principais matérias-primas para os polímeros termofixos são resinas oligoméricas, ainda termoplásticas, que na moldagem dos produtos, são curadas e tornam-se termofixos, insolúveis (FELTRE, 2004). Estruturalmente, os termofixos tem como componentes fundamentais polímeros com cadeias moleculares contendo muitas ligações químicas primárias entre as cadeias diferentes, ligações cruzadas, que geram o comportamento dos termofixos. “São exemplos de matérias-primas para os plásticos termofixos: resina fenólica, resina ureia-formaldeído, resina melamina-formaldeído, resina epóxi e resina de poliéster insaturado” (AMORIM, 2015, p. 11). UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 24 De acordo com Feltre (2004), o agrupamento dessas macromoléculas faz com que ocorra a formação do polímero tridimensional ou de uma rede, que apresenta uma característica rígida e resistente, a Figura 10 apresenta uma ilustração do polímero tridimensional, com suas macromoléculas interligadas através das ligações cruzadas. Essas reticulações atuam como ponto de fixação entre os monômeros, sem ela o polímero se deformaria mais facilmente. FIGURA 10 - POLÍMERO TRIDIMENSIONAL FONTE: Feltre (2004, p. 386) Os polímeros termorrígidos não são tão usados quanto os termoplásticos, talvez devido à complexidade envolvida no processamento. Os termorrígidos mais usados são as resinas fenólicas, mas seu volume anual produzido é menos de 20% do volume produzido de polietileno, que é o termoplástico mais usado. De acordo com Groover (2014, p. 46), a lista a seguir apresenta os termorrígidos mais importantes e suas aplicações típicas: • Resinas amínicas: as resinas amínicas, caracterizadas pela presença do grupo amina (NH2), consistem em dois polímeros termorrígidos, ureia-formaldeído e melamina-formaldeído, que são produzidos pela reação do formaldeído (CH2O) com ureia (CO(NH2)2) ou melamina (C3H6N6), respectivamente. A ureia-formaldeído é usada como adesivo em compensados e aglomerados. Além disso, também é empregada como composto para moldagem. O plástico melamina-formaldeído é resistente à água e é usado em pratos e como revestimento de mesas fabricadas de laminados de madeira e tampos de balcões. • Epóxis: as resinas epóxi são baseadas em um grupo químico chamado epóxi. A epicloridrina (C3H5OCl) é muito usada para produzir resinas epóxi. As resinas epóxi curadas são conhecidas por sua resistência mecânica, adesão, resistência térmica e química. As aplicações incluem revestimentos de superfícies, pisos industriais, compósitos reforçados por fibras de vidro e adesivos. As propriedades isolantes dos epóxis termorrígidos os tornam úteis como material de laminação para placas de circuitos impressos. • Fenólicos: o fenol (C6H5OH) é um composto ácido que pode reagir com os aldeídos (álcoois desidrogenados), sendo o formaldeído (CH2O) o mais reativo. O fenol-formaldeído é o mais importante TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 25 dos polímeros fenólicos. Ele éfrágil e possui boa estabilidade térmica, química e dimensional. As aplicações incluem componentes moldados, placas de circuitos impressos, tampos de balcões, adesivos para compensados e material adesivo para sapatas de freio e discos abrasivos. • Poliésteres: os poliésteres, polímeros que possuem ligações éster (CO—O), podem ser termorrígidos ou termoplásticos. Os poliésteres termorrígidos são muito usados em plásticos reforçados (compósitos) na fabricação de peças grandes como dutos, tanques, cascos de barco, partes de carrocerias de automóveis e painéis de construção. Eles também podem ser usados para produzir peças menores por vários processos de moldagem. • Poliuretanos: esses polímeros incluem uma grande família, todos caracterizados pela presença do grupo uretano (NHCOO) na sua estrutura. Muitas tintas, vernizes e revestimentos similares são baseados no uretano. Por variações na composição química, entrecruzamentos e processamento, os poliuretanos podem ser termoplásticos, termorrígidos ou elastômeros, e os dois últimos têm maior importância comercial. O maior uso dos poliuretanos é na forma de espumas. Seu comportamento pode variar entre elastomérico e rígido, e esta última possui maior quantidade de ligações cruzadas. As espumas rígidas são usadas como material de enchimento nos espaços vazios de painéis de construção e de paredes de refrigeradores. 2.3.3 Elastômeros De acordo com Amorim (2015, p. 11) os elastômeros: São polímeros que na temperatura ambiente podem ser estirados repetidamente em pelo menos duas vezes do seu comprimento original e que, após a retirada do esforço mecânico causador do estiramento, devem voltar rapidamente ao seu comprimento inicial, possuindo comportamento análogo ao das molas. Isso resulta de ligações cruzadas no polímero, que proporcionam uma força para que as cadeias retornem às suas conformações não deformadas. O termo mais popular para os elastômeros é borracha. Os elastômeros podem ser divididos em duas categorias: (1) borracha natural, derivada de plantas; e (2) borrachas sintéticas. “A borracha natural (NR) é um polímero elastomérico de poli (cis-1,4- isopreno), como na Figura 11, possuindo o isopreno como estrutura carbônica monomérica, conhecido pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) como 2-metil-1,3-butadieno” (RODRIGUES, 2012, p. 26). UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 26 FIGURA 11 - ESTRUTURA MONOMÉRICA (ESQUERDA) E POLIMÉRICA (DIREITA) DA BORRACHA NATURAL FONTE: Rodrigues (2012, p. 45) Este elastômero possui propriedades intrínsecas, como: elasticidade; flexibilidade; resistência à abrasão, ao impacto e à corrosão; fácil adesão aos tecidos e aço e impermeabilidade, baixa condutividade elétrica, impermeabilidade a líquidos e gases, capacidade de dispersar calor e maleabilidade a baixas temperaturas. Essas características se devem à sua composição química e esses elastômeros não são facilmente substituídos por outras espécies de elastômeros (RODRIGUES, 2012, p. 45). De acordo com Rodrigues (2012), outro tipo de elastômero bastante conhecido são os elastômeros termoplásticos, que são um termoplástico que se comportam como um elastômero. São tipos de polímeros que, em condições ambientes, exibe comportamento elastomérico, mas que é de natureza termoplástica. Devido à sua termoplasticidade, os elastômeros termoplásticos não atingem, em altas temperaturas, as propriedades de resistência mecânica e de fluência dos elastômeros com ligações cruzadas. Empregos típicos desses elastômeros incluem tênis, elásticos, tubos extrudados, revestimentos de fios e componentes moldados para automóveis (GROOVER, 2014, p. 48). 2.4 MATERIAIS COMPÓSITOS Os materiais compósitos são a união de dois materiais diferentes, multifásico, apresentando uma significativa proporção de fases de ambos os materiais que o constituem. Essa combinação de materiais confere aos materiais compósitos propriedades combinadas de modo a obter melhorias mecânicas desejadas, “tais como tração, flexão, dureza, impacto, resistência térmica e ao meio ambiente” (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013, p. 359). TÓPICO 1 | MATERIAIS DE ENGENHARIA 27 Os materiais compósitos apresentam propriedades específicas e incomuns, e, por conta disso, são utilizados em diversas aplicações, como: indústria aeroespacial, subaquático, bioengenharia, indústria de transporte, entre outras. Assim, tem-se combinações de propriedades de maneira engenhosa, podendo esses serem compostos por metais, cerâmicas e polímeros, que atingem faixas que nenhum material comum poderia alcançar, satisfazendo as aplicações citadas acima. Tais combinações auxiliam na manipulação de propriedades (dureza, elasticidade, condutividade térmica, densidade e resistência por exemplo) para obtenção de um comportamento adequado nas situações mais adversas de serviço (OLIVEIRA, 2018, p. 20). Veremos adiante, com maiores detalhes essa classe de material tão utilizada atualmente. 2.4.1 Tecnologia e classificação dos materiais compósitos Muitos materiais compósitos são constituídos por apenas duas fases, onde o termo fase indica um material homogêneo, tal como um metal ou uma cerâmica, no qual todos os grãos têm a mesma estrutura cristalina, ou como em um polímero que não é fabricado com cargas. Assim, uma das fases é denominada matriz, a qual é contínua e envolve a outra fase, chamada de fase dispersa (Figura 12). As propriedades dos compósitos são função das propriedades das fases constituintes, das suas quantidades relativas e da geometria da fase dispersa (CALLISTER JÚNIOR; RETHWISCH, 2013). FIGURA 12 - ILUSTRAÇÃO DA MATRIZ E FASE DISPERSA FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-VWLT_fh1fDM/ThrnerC5d9I/AAAAAAAAAro/eDRM2skB1j0/ s320/composite.JPG>. Acesso em: 15 jan. 2020. De acordo com Groover (2014, p. 48), o sistema de classificação dos materiais compósitos é baseado na fase matriz, onde as classes listadas são: https://3.bp.blogspot.com/-VWLT_fh1fDM/ThrnerC5d9I/AAAAAAAAAro/eDRM2skB1j0/s320/composite.JPG https://3.bp.blogspot.com/-VWLT_fh1fDM/ThrnerC5d9I/AAAAAAAAAro/eDRM2skB1j0/s320/composite.JPG UNIDADE 1 | CONCEITOS INICIAIS 28 • Compósito de Matriz Metálica (CMM) inclui misturas de cerâmicas e metais, tais como carbetos e outros cermetos, bem como alumínio ou magnésio reforçado por fibras resistentes e de alta rigidez. • Compósito de Matriz Cerâmica (CMC) é a categoria menos comum. O óxido de alumínio e o carbeto de silício são materiais que podem ter fibras incorporadas para melhorar as propriedades, especialmente em aplicações em altas temperaturas. • Compósito de Matriz Polimérica (CMP). As resinas termorrígidas são os polímeros mais amplamente usados nos CMPs. As resinas epóxi e poliéster são por via de regra reforçadas com fibras, e as fenólicas são misturados com pós. Compósitos termoplásticos moldados são, com frequência, reforçados com pós. É importante frisar que diante do avanço tecnológico, as propriedades exigidas aos materiais convencionais foram alteradas, levando ao aparecimento dos materiais compósitos que surgiram de combinações química e estrutural de diferentes materiais para serem capazes de responder aos requisitos pretendidos das novas tecnologias. 29 Neste tópico, você aprendeu que: • Materiais Metálicos apresentam propriedades como: ductilidade, maleabilidade, brilho, boa condutividade térmica e elétrica. Os metais são geralmente classificados em duas classes principais: (1) metais ferrosos — aqueles nos quais possuem uma grande porcentagem de ferro, como, por exemplo, aços e ferros fundidos; e (2) metais não ferrosos — que não contêm ferro ou que o contêm apenas em pequena quantidade. • Materiais Cerâmicos cujas propriedades gerais são a alta dureza, as boas características de isolamento elétrico e térmico, a estabilidade química e os altos pontos de fusão. Os materiais cerâmicos são classificados em três tipos básicos: cerâmicas tradicionais, cerâmicas avançadas e vidros.
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