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1 Agosto de 2016 UNIZAMBEZE - FEARN DISCIPLINA DE GEOLOGIA AMBIENTAL INTRODUÇÃO À GEOLOGIA O nosso conhecimento sobre a Terra baseia-se em séculos de observações, movidas pela curiosidade nata do Homem em saber sempre mais e de ir mais além. Esta curiosidade e ânsia de saber, levaram o Homem a enfrentar mares desconhecidos séculos e milénios atrás, levaram ainda, mais recentemente, a aventurar-se pelo espaço cósmico. A atracção pelo desconhecido é a característica da espécie humana, que a distingue de todas as outras espécies animais. E é esta característica que tem levado ao avanço das ciências e da tecnologia, que nos últimos anos tem dado passos gigantescos. A Geologia, como ciência, tem obviamente beneficiado destes avanços. Como se sabe, o Homem só tem acesso a uma ínfima parte do planeta, que é a superfície terrestre. Tudo o resto está fora do alcance da vista directa. Só se pode estudar por via indirecta, por meio de vários métodos de análise e observação: as lavas que vêm à superfície, as ondas sísmicas que se comportam de modo diferente consoante as rochas que atravessam, etc. Assim, a Geologia é uma ciência com uma dose bastante grande de especulação, mas é uma especulação lógica e sã, baseada em princípios e conceitos científicos. E como em todas as outras ciências, as teorias evoluem, são comprovadas ou negadas, e aparecem outras teorias. Em que medida o ser humano altera incessantemente a face da Terra? Se bem que as nossas contribuições individuais sejam pequenas, o somatório dos milhões de seres humanos que somos é enorme. Influenciamos a atmosfera, os rios, os lagos e os oceanos; afectamos as taxas de erosão dos solos e o modo como os desertos se expandem ou reduzem; cobrimos a superfície da Terra com estradas e cidades; redistribuímos os materiais terrestres cavando-os e transportando-os para onde os queremos usar; criamos lagos artificiais com a construção 2 Agosto de 2016 de diques e barragens; em suma, estamos constantemente a alterar as condições ambientais. Nós, Humanos, tornámo-nos uma força vital na modelação do nosso ambiente. Há muitas questões que se podem levantar sobre as interacções humanas com o ambiente, para as quais ainda não há respostas definitivas. Por exemplo: Ainda não há certeza até que grau a contínua queima de combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) e a respectiva emissão de CO2 afecta o clima global hoje e afectará amanhã; Como é que a mudança climática pode influenciar a produtividade agrícola do mundo, a distribuição dos gelos polares, ou a posição do nível do mar. Nos últimos 50 anos ocorreram avanços revolucionários no conhecimento que temos da nossa Terra. Nunca na história humana ocorreram avanços tão grandes e dramáticos em tão curto espaço de tempo. A Geologia é um campo em ebulição, cheio de desafios, com novas descobertas e novas teorias a aparecer todos os dias. Há alguns anos atrás, a ideia de que a camada superficial da Terra se movia a uma velocidade anual de 10 cm/ano, defendida pela teoria da tectónica de placas, não era senão uma teoria. Hoje essa teoria já não pertence ao campo da especulação; é uma realidade, comprovada por evidências das rochas dos fundos marinhos. Em 1986, medições feitas através de satélites e de lasers, demonstraram que de facto os continentes se estão a mover. Podemos agrupar os avanços nas ciências geológicas em 3 grupos: O primeiro refere-se à nossa compreensão sobre o modo como a Terra funciona; a tectónica de placas é um produto dessa compreensão. Os avanços aconteceram com o contributo de outros estudos (aparentemente não inter-relacionados), como a exploração dos fundos oceânicos, os estudos sísmicos do núcleo da Terra, e medições a longo prazo da intensidade do campo magnético terrestre. 3 Agosto de 2016 De facto, estes estudos estão todos correlacionados entre si. Assim, o campo magnético terrestre surge do núcleo, e as rochas dos fundos oceânicos são influenciadas pelo campo magnético de formas diversas. A constatação do facto de que todos os processos terrestres, grandes ou pequenos, interagem das formas mais diversas, forçou os geólogos a reexaminar todas as evidências e a repensar as suas conclusões. O segundo avanço vem da exploração espacial, em particular das pesquisas sistemáticas da Lua, Marte, Mercúrio, Vénus e dos satélites rochosos dos planetas gigantes (Júpiter e Saturno). Todos os planetas, luas, asteróides e cometas do Sistema Solar têm uma origem comum, e se bem que cada um destes corpos celestes tenha evoluído à sua maneira, eles têm aspectos comuns ao longo das suas histórias. O estudo destes aspectos comuns levou à criação duma nova disciplina – a Planetologia Comparativa – a qual ajuda a encontrar respostas a várias questões: porque é que a Terra existe? Porque é que ela é como é? Porque é que os outros corpos do Sistema Solar não são adequados à vida humana? Haverá corpos no Universo que sejam adequados a esta vida? Etc., etc., etc. O terceiro avanço consiste no crescer da consciência do efeito da actividade humana no meio ambiente à superfície terrestre. Essa consciência mostrou que a análise desses efeitos se torna complexa porque os múltiplos processos naturais actuantes à superfície da Terra interagem de maneira muito complexa e variada. Chegámos finalmente à conclusão de que as pessoas não são só uma das forças menores da natureza, antes porém uma força maior. O que a Terra vai ser no futuro depende muito de como agirmos hoje. 4 Agosto de 2016 Então, que é Geologia? O termo Geologia deriva da junção das palavras gregas - (geo - Terra) e (lógos - Ciência) - e significa literalmente Ciência da Terra. Segundo Lapidus (1987), Geologia é o estudo da Terra em termos do seu desenvolvimento como planeta desde a sua origem. Isto inclui a história das formas de vida, os materiais de que é feita, os processos que afectam estes materiais e os produtos que deles resultam. Em várias obras se podem encontrar várias definições de Geologia mas, basicamente, a definição anterior congrega todos os conceitos que devem constar da definição deste termo. A palavra Geologia foi utilizada pela primeira vez por Jean André de Luc, cientista de origem suíça e conselheiro da Rainha Carlota de Inglaterra, e pelo químico suíço S.B. de Saussure em 1778 (Whitten & Brooks, 1972). Objectivos da geologia Os objectivos da geologia podem ser sintetizados desta forma: Estudo das características do interior e da superfície da Terra, em várias escalas; Compreensão dos processos físicos, químicos e físico-químicos que levaram o planeta a ser tal como o observamos; Definição da maneira adequada (não destrutiva) de utilizar os materiais e fenómenos geológicos como fonte de matéria-prima e energia para melhoria da qualidade de vida da sociedade; Resolução de problemas ambientais causados anteriormente e estabelecimento de critérios para evitar danos futuros ao meio ambiente, nas várias actividades humanas; Valorização da relação entre o ser humano e a Natureza. 5 Agosto de 2016 GEOLOGIA AMBIENTAL Ao se deparar com os problemas ambientais, é fundamental uma visão integrada e multidisciplinar para resolvê-los, tanto de ordem científica como técnica. A Geologia Ambiental é necessariamente interdisciplinar, envolvendo, não somente o conhecimento de várias disciplinas geológicas, mas, também, de outras áreas, tais como a biologia, a conservação dos solos, a meteorologia, a geografia, a química, a legislação ambiental, a arquitectura e a engenharia, além de aspectos culturais e socioeconómicos. Os estudos sobre geologia ambiental têm por objectivo incentivar a aplicação de conhecimento das ciências geológicas ao desenvolvimento de estudos e novos métodos e tecnologias a serviço da preservação ambiental e melhoria da qualidade devida da população. Neste sentido, vêm sendo desenvolvidas, de forma sistemática, linha de acção com enfoque na análise e redução de danos e perdas provocados por desastres naturais (em especial, desertificação, escorregamentos e inundações): avaliação de anomalias geoquímicas em sedimento de fundo, água e solo e possíveis associações com problemas de saúde pública; e análise e remediação de impactos ambientais promovidos pela actividade mineral por meio de subsídios à execução de planos de recuperação de área desagradadas pela mineração. A importância do homem como agente geológico e como modificador do ambiente é muito significativa e vários processos geológicos, distribuição e sobrevivência de espécies animais e vegetais, estão sendo directamente ou indirectamente afectados por intervenção humana. Evidentemente que a planificação e a correta gestão do território e seus recursos não pode ser feita sem um conhecimento e uma compreensão aprofundada da constituição e dinâmica da superfície da terra. Com esse objectivo, se desmembra a Geologia Ambiental nas seguintes subáreas: Zoneamento Ecológico-Económico e Apoio Técnico aos Municípios e Regiões Metropolitanas; Mineração e Meio Ambiente/Recuperação de Áreas Degradadas; Estudos Geológico-Ambientais e Geoecoturismo; Geoquímica Ambiental e Geologia Médica; e Cartografia para o Ordenamento Territorial e Meio Ambiente. 6 Agosto de 2016 Conceitos gerais O termo geologia ambiental apareceu pela primeira vez publicado por Hackett em 1967, num artigo relativo a planeamento e uso do meio físico e seus recursos. A partir dessas datas os geológicos, tradicionalmente voltados para a exploração dos recursos minerais e energéticos e ao estudo da evolução geológica, começaram a voltar sua atenção na compreensão do funcionamento actual dos sistemas terrestres de prever seu comportamento futuro e de prevenir e corrigir os danos e prejuízos que podem derivar da interacção entre processos terrestres, meio ambiente e actividade humana. (CENDRERO, A., 1990). O ramo de Geologia Ambiental tem demonstrado um crescimento considerável nos últimos anos no país, principalmente, devido às exigências legais cada vez mais restritivas em relação às obras de engenharia, mineração e meio ambiente, além do aumento dos investimentos em obras de infra-estrutura. Ela enfatiza a abordagem de soluções não estruturais, baseadas em parâmetros ambientais, com a finalidade de estabelecer impactos e indicadores de qualidade ambiental. A geologia ambiental está directamente ligada à geodiversidade, definida como o estudo da natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, composição, fenómenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o económico, o científico, o educativo e o turístico. Proveniente da ciência geológica, ela estuda e apresenta soluções para os problemas que o homem passa a enfrentar ao fazer uso do solo e para os problemas advindos da reacção do solo ao seu uso, ou seja, procura estabelecer o equilíbrio nas relações homem-habitat geológico. Nesse panorama, a geologia ambiental enfatiza a articulação de muitos campos distintos para um objectivo comum: Obter o máximo benefício do sistema natural com o mínimo distúrbio no ecossistema Terra-Água, como auxiliar naqueles estudos e decisões a fim de minimizar os impactos humanos sobre o ambiente. 7 Agosto de 2016 Como é de amplo conhecimento, actualmente têm ocorrido graves acidentes geológicos, desta forma, a prevenção e o gerenciamento de riscos se tornam essenciais para a redução da incidência de tais processos e as consequências sociais e económicas. O conhecimento prévio das fragilidades e potencialidades da superfície terrestre, destacando o conhecimento das características geológicas e pedológicas, é fundamental para subsidiar acções e tomadas de decisão para que a ocupação e o uso da terra sejam compatíveis com a capacidade de suporte do meio. GEOLOGIA E GEOLOGIA AMBIENTAL A Geologia, na qual significa estudo da Terra, é uma ciência multidisciplinar, mas que é considerada academicamente como uma ciência da área de ciências exactas. Ela tem um campo muito vasto, necessitando de muito conhecimento em química, física, matemática e até em zoobotânica. Dentro dela estão contidas diversas especializações, como a Geologia Ambiental, que é a abordada nesta pesquisa. Sendo a geologia uma ciência da terra, soa redundante colocar o termo ambiental após a mesma. A geologia chamada ambiental se caracteriza pela interacção com outras ciências como geografia, biologia, geomorfologia e etc. Ela fornece conhecimentos para a base física onde ocorrem os efeitos do impacto de aumento populacional sobre o meio ambiente, sem descuidar da parte social que envolve o meio físico. A Geologia Ambiental é um ramo da Geologia que actualmente apresenta um grande desenvolvimento graças às preocupações em relação ao meio ambiente e às legislações cada vez mais exigentes e restritivas. Os estudos sobre geologia ambiental têm por objectivo incentivar a aplicação do conhecimento das ciências geológicas no desenvolvimento de estudos, novos métodos e tecnologias a serviço da preservação ambiental e da melhoria da qualidade de vida da população. Nesse sentido, vêm sendo desenvolvidas, de forma sistemática, linhas de acção com enfoque na análise e redução de danos e perdas provocados por desastres naturais (em especial desertificação, escorregamentos e inundações); na avaliação de anomalias geoquímicas em sedimento de fundo, água e solo e possíveis associações com problemas de saúde pública; e na análise e remediação de impactos ambientais 8 Agosto de 2016 promovidos pela actividade mineral por meio de subsídios à execução de planos de recuperação de áreas degradadas pela mineração. Estuda e analisa as interacções entre o ser humano e o meio físico, dando grande ênfase para os estudos ambientais, a cartografia geológico-geotécnica (planeamento urbano), os riscos geológicos (terremotos, deslizamentos, etc) e a disposição de resíduos (lixo), sendo todos esses temas integrados principalmente aos processos geológicos. Entre as definições abaixo, podemos observar que o conceito de Geologia Ambiental sofreu poucas mudanças na sua concepção ao longo das três últimas décadas. Note que em todos os conceitos o estudo das interacções entre o meio físico e o Homem é enfatizado. "Geologia Ambiental é o ramo da Ecologia que trata das relações entre o homem e seu habitat geológico; ela se ocupa dos problemas do homem com o uso da terra - e a reacção da terra a este uso." (FLAWN, 1970). FONTE: Unesp/IGCE, 1999 Figura 1: Interação da Geologia Ambiental 9 Agosto de 2016 "Geologia Ambiental inclui os ramos tradicionais da Geologia de Engenharia e da Geologia Económica, ou uma pequena parte desta última, referente aos recursos minerais." (HOWARD & REMSEN, 1978) "A inter-relação entre o Homem e o ambiente geológico considerada em escala local e global, sendo que o ambiente geológico inclui a topografia, o manto de cobertura de solo e de outros materiais desagregados, o substrato rochoso, os processos naturais que modificam a paisagem e os factores que influenciam os processos em actividade, tais como vegetação ou subsolo congelado permanentemente." (HOWARD & REMSEN, 1978) "Aplicação prática de princípios geológicos na solução de problemas ambientais" (COATES, 1981). "Geologia é a ciência da terra. Geologia Ambiental é a área que estuda a relação daquela ciência com as actividades humanas" (COATES, 1981). "Geologia Ambiental é geologia aplicada abrangendo um amplo espectro de interacções prováveis entre o Homem e o ambientefísico. Especificamente, é a aplicação da informação geológica para resolver conflitos, minimizando a possibilidade de degradação ambiental, ou maximizando a possibilidade de adequado uso do ambiente natural ou modificado". (KELLER, 1982) "Geologia Ambiental é o domínio da geologia que aproveita os respectivos conteúdos e dados analíticos das várias ciências da terra para a protecção e melhor aproveitamento dos recursos naturais, de modo que a qualidade de vida da humanidade seja protegida e melhorada". (CARVALHO, 1982) "Geologia Ambiental é o campo do conhecimento geológico que estuda as variações (melhor: transformações) do meio físico, decorrentes da interacção entre os processos naturais e a ocupação humana. Inclui o estudo das noções fundamentais sobre o meio físico e o equilíbrio ecológico. Abrange o estudo de conservação e reciclagem de recursos naturais; a valorização económica das jazidas, incluindo os parâmetros ambiental e social, como os efeitos da mineração. Engloba também o estudo da 10 Agosto de 2016 conservação de solos, das alterações devidas aos seus diversos usos, das voçorocas e da desertificação". (SBG, 1983) "A Geologia Ambiental preocupa-se essencialmente com a aplicação prática das informações geológicas na resolução de problemas geológicos, naturalmente existentes ou artificialmente criados, durante a ocupação e exploração do meio físico pelo Homem". (BATES & JACKSON, 1987) "Geologia Ambiental é a ciência geológica fronteira com as ciências ambientais, cujo objectivo é o conhecimento dos sistemas ambientais, terras e águas continentais, com vista à compreensão do meio ambiente e, em cooperação com a geologia de engenharia e as ciências e tecnologias ambientais, ao seu aproveitamento racional e conservação. (AYALA CARCEDO, 1988) "A Geologia Ambiental consiste no estudo dos problemas geológicos decorrentes da relação que existe entre o homem e a superfície terrestre.". (LEINZ & AMARAL, 1989) "O termo Geologia Ambiental é usualmente empregado para se referir particularmente às relações directas da Geologia com as actividades humanas [...]. Geologia Ambiental é geologia aplicada à vida" (MONTGOMERY, 1992) "Os processos do meio físico são aqueles que atuam na atmosfera, na hidrosfera e na litosfera. Geologia Ambiental aborda os processos da hidrosfera e da litosfera". (PROIN/CAPES e UNESP/IGCE, 1999) Um dos mais famosos autores da Geologia Ambiental é Edward A. Keller, que já publicou uma considerável quantidade de textos e livros sobre o tema, seja como títulos inéditos ou como reedição. Desta forma, o conceito de Geologia Ambiental a ser adoptado é de Keller (1982), qual seja: "Geologia Ambiental é geologia aplicada abrangendo um amplo espectro de interacções prováveis entre o Homem e o ambiente físico. Especificamente, é a aplicação da informação 11 Agosto de 2016 geológica para resolver conflitos, minimizando a possibilidade de degradação ambiental, ou maximizando a possibilidade de adequado uso do ambiente natural ou modificado". O CONTEXTO DA GEOLOGIA AMBIENTAL Os livros didácticos que tratam a Geologia Ambiental consideram-na como uma disciplina muito ampla, com conteúdo muito semelhante ao da disciplina Geologia Geral. Coates (1981) entende que a Geologia Ambiental pode ser definida a partir da integração de três ramos da Geologia, que são: a Geologia de Engenharia, a Geologia Económica (aproveitamento dos recursos naturais) e a Geologia Geral (estudo dos processos geológicos). Para entendermos como a Geologia Ambiental está inserida neste contexto, primeiramente precisamos conhecer os conceitos desses três ramos geológicos: A Geologia de Engenharia pode ser definida como a ciência dedicada à investigação, estudo e solução de problemas de engenharia e meio ambiente, decorrentes da interacção entre a Geologia e os trabalhos e actividades do homem, bem como à previsão e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparadoras de acidentes geológicos. A Geologia Económica é definida como a geologia aplicada aos problemas económicos, sendo o ramo que estuda as matérias-primas do reino mineral que o homem extrai para suas necessidades e comodidades. A Geologia Geral é o estudo da composição, da estrutura e dos fenómenos genéticos formadores da crosta terrestre, assim como do conjunto geral de fenómenos que agem não somente sobre a superfície, como também em todo o interior do nosso planeta. Portanto, a partir da análise desses conceitos a Geologia Ambiental apresenta uma relação bem estreita com a Geologia de Engenharia, sendo difícil delinear onde começa uma e termina a outra. 12 Agosto de 2016 Já com referência à Geologia Geral e Económica, nota-se que esta relação não é tão estreita. A relação com a Geologia Geral se dá a partir do entendimento dos processos geológicos, sejam eles superficiais ou internos, entre eles podemos citar: escorregamentos, erosão, terremotos, etc. Na Geologia Económica a relação é representado pela resolução de problemas ambientais decorrentes da exploração mineral. Além dos ramos geológicos citados acima, a Geologia Ambiental apresenta ligações com diversas áreas, tais como: Biologia, Ecologia, Direito, Geografia, Engenharias, Economia, Sociologia, Medicina, entre outras. OBJECTIVOS PRINCIPAIS Segundo Suguio (1999) "as tarefas inerentes à Geologia Ambiental podem incluir, desde a avaliação de riscos naturais como enchentes, deslizamentos, terremotos e FONTE: Coates, 1981 Figura 2: resumo das relações interdisciplinares da Geologia Ambiental. 13 Agosto de 2016 actividades vulcânicas, na tentativa de mitigar as perdas de vidas humanas e as danificações de propriedades; avaliação da paisagem para a ocupação planejada do espaço com mínimo possível de impacto ambiental, até a avaliação das potencialidades dos recursos naturais (minerais, rochas, solos e água), bem como actuando na selecção de sítios mais adequados para deposição de rejeitos sem causar efeitos danosos à saúde humana.”. Neste contexto, podem-se enumerar os objectivos principais da Geologia Ambiental da seguinte forma: Reconhecer e caracterizar as feições e os processos que correspondem à contínua transformação do Planeta, considerando o Homem como um dos principais agentes dessa transformação; Realizar diagnósticos geológicos das relações de causa e efeito dos processos actuais, desencadeados no meio geológico pelas actividades humanas; Contribuir e participar da elaboração de instrumentos de gestão ambiental, como os estudos de impacto ambiental e inúmeros outros. Em complemento aos objectivos principais descritos acima, Heling (1994) e Suguio (1999) coloca de maneira mais abrangente, que a "Geologia Ambiental deve realizar prognósticos sobre o futuro da geosfera, com abordagens quantitativa e interdisciplinar incluindo, além das ciências naturais, as ciências humanas (sociologia e economia), oferecendo alternativas integradas aos tomadores-de-decisão. Para tanto, a abordagem de um fenómeno pela Geologia Ambiental, deve levar em conta aspectos como características gerais, abrangências temporal e espacial, além da ciclicidade, resistência e elasticidade do fenómeno". Suguio (1999) coloca que um dos objectivos mais importantes da Geologia Ambiental consiste em aperfeiçoar as actividades antrópicas para que os ambientes naturais possam suportar as comunidades humanas. Já outros autores ressaltam que a Geologia Ambiental busca estudar os ambientes naturais para definir suas limitações, buscando a melhor forma de uso e ocupação deste pelo Homem. 14 Agosto de 2016 O objectivo da geologia em relação ao meio ambiente é claramente o mesmo de outras ciências, ou seja, encontrar soluções para a questão ambiental, no que se refere ao objecto meio ambiente. Pode-se esboçar aquilo que, no contexto da gestão ambientalparece constituir seu principal objectivo: a identificação e caracterização das formas geológicas e dos processos naturais actuantes no subsistema físico, incluindo a compreensão de suas interacções com os demais subsistemas bem como a análise e a avaliação dos recursos minerais, hídricos e energéticos envolvidos. As condições ambientais vigentes não resultam apenas de acções humanas, mas reflectem também aspectos decorrentes de processos e fenómenos naturais actuantes, entre os quais aqueles de origem puramente geológica. Tais processos podem causar mudanças ambientais importantes sendo pouco perceptíveis ao sentido humano. Os processos geológicos que, com frequência, tem interessado à gestão ambiental, especialmente em razão da potencialidade que apresentam no sentido de influir significativamente na sustentabilidade e na qualidade ambiental de um determinado contexto associam-se especialmente ao ramo de conhecimentos da geodinâmica externa, como a erosão hídrica, erosão eólica, movimentos de massa, escoamento de águas superficiais, deposição de assoreamento, movimentação de águas subterrânea, inundação, subsidências e colapsos, processos costeiros, intemperismo, sismicidade e vibrações no solo. Em Geologia Ambiental deve-se ter sempre presente que: O Homem é totalmente dependente da Terra (p. ex.: o ar que respira, a água que bebe, o solo que utiliza para a agricultura e para edificar as suas casas, os metais que explora para construir os seus artefactos, a energia que consome no seu quotidiano,..); Utilizando os recursos terrestres o Homem torna-se parte do ciclo geológico(p.ex.: quando procede a movimentações de materiais, quando altera os produtos naturais, quando modifica os ciclos biogeoquímicos naturais, ...) 15 Agosto de 2016 A modificação do funcionamento natural dos sistemas pode ter aspectos positivos mas, com frequência, tem aspectos negativos (sobre a qualidade de vida, a saúde, os ecossistemas, etc.) O deficiente conhecimento do funcionamento dos sistemas naturais pode conduzir à indução de impactes negativos de grande magnitude. O que devemos saber na nossa interacção com a Terra? Devemos ter consciência plena de que: Viajamos através do espaço numa nave espacial natural chamada Terra, da qual estamos completamente dependentes; Os sistemas de sobrevivência (purificação de ar e de água, controlo de temperatura, sistema de estabilização, etc.) na nave espacial Terra funcionam adequadamente, mas têm capacidade limitada de regeneração / purificação dos produtos; A nave espacial Terra tem classes diferenciadas: na Europa, viajamos em 1ª classe; todavia, a esmagadora maioria dos "passageiros" viaja em 2ª e 3ª classes. Efectivamente, se o planeta Terra fosse reduzido a uma pequena aldeia de exactamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes actualmente, verificar-se-ia que: 6 pessoas possuiriam 59% da riqueza total da aldeia e 80 viveriam em condições sub-humanas; 70 não saberiam ler e 50 sofreriam de desnutrição; Só 1 (sim, só 1) teria educação universitária; Apenas uma pessoa possuiria um computador; Devemos ter sempre presente que: 16 Agosto de 2016 Não temos acesso directo aos engenheiros que construíram a nave espacial chamada Terra; Que o nosso conhecimento do funcionamento da Terra é ainda bastante deficiente; Que sempre que nela efectuamos modificações interferimos no seu funcionamento (e, nalguns casos, essas modificações podem mesmo alterar os "sistemas de sobrevivência"); Que, devido ao nosso limitado conhecimento do seu funcionamento, devemos utilizar SEMPRE o Princípio da Precaução. FUNDAMENTOS BÁSICOS MEIO AMBIENTE "Conjunto de condições, leis, influências e interacções de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" "Determinado espaço onde ocorre a interacção dos componentes bióticos (fauna e flora), abióticos (água, rocha e ar) e biótico-abiótico (solo). Em decorrência da acção humana, caracteriza-se também o componente cultural" (ABNT, 1989). Figura 4: Subdivisão do meio ambiente MEIO AMBIENTE Meio físico (ar, água, solo/rocha) Meio biológico (fauna e flora) Meio Socioeconômico (atividades antrópicas) MEIO AMBIENTE NATURAL MEIO AMBIENTE CULTURAL OU ANTRÓPICO 17 Agosto de 2016 SISTEMA TERRA Sistema é definido como conjunto de elementos que interagem entre si, realizando trocas e influenciando-se uns aos outros. Também pode-se definir como um conjunto de elementos que se relacionam entre si, que estão organizados em função de um objectivo e que estão delimitados por uma fronteira, a qual permite a troca matéria e/ou energia entre o interior e o exterior do mesmo. Assim sendo, o Planeta Terra é um sistema, sendo, por isso, um conjunto de elementos que se relacionam entre si e que estão organizados em função de um objectivo, trocando matéria e/ou energia. 18 Agosto de 2016 Tipos de Sistemas: Sistema isolado- não existe qualquer tipo de trocas com o exterior. Sistema fechado- onde ocorre trocas de energia mas não de matéria com o meio exterior Sistema aberto- onde ocorre trocas constantes de energia e matéria com o exterior. Uma pequena síntese sobre os tipos de sistemas: 19 Agosto de 2016 Que tipo de sistema é o Sistema Terra? O Sistema Terra é constituído por vários subsistemas: A Atmosfera, a Hidrosfera, a Biosfera e a Litosfera. A Atmosfera é formada pela camada gasosa que envolve a hidrosfera, a geosfera e a biosfera, podendo também penetrar nestes subsistemas, estabelecendo, com eles, continuamente, trocas de matéria e energia. Da Biosfera fazem parte todos os seres vivos que povoam a Terra. Os seres vivos interagem, de forma contínua, com os diferentes subsistemas onde estão integrados, influenciando-se mutuamente. Existem seres vivos na geosfera, na atmosfera e na hidrosfera. A Litosfera é representada pela parte sólida da Terra, quer a parte superficial (à qual se dá o nome de Litosfera), quer a parte mais profunda. As rochas e os solos fazem parte deste subsistema. A Litosfera serve de suporte a grande parte da vida terrestre, fornecendo muitos dos materiais necessários à manutenção dessa vida. As plantas terrestres, por exemplo, captam do solo grande parte dos seus nutrientes. Muitos dos produtos resultantes da decomposição dos cadáveres e restos de seres vivos ficam integrados na geosfera. A Hidrosfera é constituída pelos reservatórios de água que existem na Terra. Os oceanos, os mares, os rios, os lagos, os glaciares, e as águas subterrâneas fazem parte da hidrosfera. O planeta Terra é um corpo dinâmico composto por diversos subsistemas que estão sempre interagindo entre si e as alterações sofridas em um destes sistemas produz alterações nos demais. Podemos imaginar este integração analisando, por exemplo, uma erupção vulcânica: A partir da erupção vulcânica são lançados blocos de rocha e lava na superfície da Terra. Este material pode obstruir vales e criar lagos, modi cando o sistema de drenagem da região; Grandes quantidades de gases e cinzas vulcânicas são lançadas na atmosfera, influenciando na quantidade de energia solar que chega à superfície da Terra. Isto pode causar uma diminuição na temperatura do ar devido a pouca quantidade de raios solares que conseguem atravessar a atmosfera nestas condições; Esta mudança climática certamente afectará a biosfera, além disso, muitos organismos e seus habitats podem ser eliminados pela lava ou por cinza vulcânica. Em 20 Agosto de 2016 1864, o escritor Jules Verne imaginou, em Jornada para o Centro da Terra, um mundo subterrâneo cheio de serpentes marinhas gigantes e outras grotescas criaturas. Contudo, o que os cientistas conhecem hoje sobre o interior do planeta está muito longe da fantástica estóriade Verne: actualmente sabe-se que o interior da Terra é formado por rochas e metais, sujeitos a altíssimas temperaturas e pressões, progressivamente mais densos à medida que se chega aos níveis mais profundos. Apenas em circunstâncias muito raras (que serão discutidas no próximo item) as rochas de regiões profundas da Terra chegam à superfície ou próximo dela. Devido a essa dificuldade, os geólogos tiveram que utilizar mecanismos ou ferramentas que lhes possibilitasse inferir a composição interna da terra. A grande ferramenta utilizada para conhecer o interior da Terra é a geofísica. Os conhecimentos sobre como a Terra funciona podem causar uma modificação real nas relações que cada pessoa tem com o ambiente. Ao invés de uma visão utilitária e imediatista da Natureza e de seus recursos, a pessoa consciente do significado dos processos naturais sente que faz parte da Natureza e passa a ter um cuidado maior em suas actividades quotidianas. Todas elas interferem nos processos naturais e trazem consequências desejáveis ou indesejáveis, em prazos mais longos ou mais curtos. Antes de tratar de questões ambientais globais como poluição, efeito estufa, aquecimento global e diminuição da camada de ozónio, processos que fazem parte do cotidiano das crianças podem ter um efeito educativo maior na medida em que têm um sentido prático e imediato. Na superfície da Terra, ou seja, no ambiente onde hidrosfera, atmosfera, biosfera e litosfera interagem, ocorrem os chamados processos geológicos de superfície. Todos podem ocorrer fisicamente (nas partículas) ou quimicamente (nos materiais dissolvidos na água): Intemperismo, que transforma as rochas duras em grãos soltos; Erosão, ou seja, a retirada do seu local de formação; Transporte (pela água, na forma de rios, enxurradas, ou mesmo nos oceanos, pelas ondas, marés e correntes, vento ou geleiras); 21 Agosto de 2016 Sedimentação, que ocorre quando o agente de transporte não tem mais energia para continuar a carregar o material. No decorrer do longo tempo geológico - 4 bilhões e 600 milhões de anos, a idade da terra - os processos naturais foram acontecendo e deixando marcas em rochas e em demais formações geológicas. A Terra sendo um "sistema natural essencialmente fechado", é necessário um conhecimento mais perfeito possível das taxas de mudanças nos processos de retroalimentação, antes de se tentar resolver (prevenir ou remediar) os problemas ambientais. A Terra, até o presente momento, constitui o único planeta a apresentar habitats apropriados às vidas animal e vegetal, incluindo a humana, mas os seus recursos são reconhecidamente finitos. Os processos físicos actuantes estão modificando a paisagem terrestre, analogamente ao que aconteceu em tempos geológicos passados e, além disso, as intensidades e as frequências de ocorrência desses processos são modificadas por processos naturais e também artificiais induzidos ou exacerbados. Nas transformações que ocorreram na Terra através dos tempos geológicos, sempre houve actuação de processos geodinâmicos perigosos ao Homem e, deste modo, esses riscos devem ser identificados e, na medida do possível, evitados ou os seus efeitos minimizados como ameaças às vidas humanas ou às propriedades. Nas actividades de planeamento de usos dos solos e da água, por exemplo, deve-se ter em mente a preocupação em se obter o equilíbrio entre os custos económicos, incluindo qualidade e quantidade, além de aspectos menos quantificáveis, como a estética. Os efeitos dos usos do solo, incluindo os recursos renováveis (fauna e flora) e não renováveis (minérios e combustíveis fósseis) são cumulativos e irreversíveis e, deste modo, deve haver um firme compromisso da sociedade humana actual com as gerações futuras no sentido de não extingui-los. O cenário natural ("pano de fundo") do ambiente da vida humana mais ou menos transformado por factores antrópicos é comumente condicionado por factores geológicos, de modo que existe a necessidade 22 Agosto de 2016 de ampla compreensão dos processos geológicos e dos conhecimentos científicos afins. O principal problema ambiental é o incremento da população humana e, neste contexto, são cada vez mais frequentes as situações em que se torna bastante complicado discernir as causas socioeconómicas das ambientais. Oliveira (1990) & Suguio (1999) consideram o Homem como "o mais novo e agressivo agente geológico", devendo ser entendido como um factor importante de dinâmica externa, causando impactos locais e globais. Neste contexto, pode-se fazer as seguintes afirmações: O campo de investigação dos fenómenos ligados à dinâmica externa não pode restringir-se às pesquisas dos processos naturais, pois, as actividades humanas interferem nos cenários geológicos e climáticos da Terra. A geologia, que nos seus aspectos de aplicação, esteve ligada à prospecção e exploração de recursos minerais e combustíveis fósseis para suprir a sociedade industrial, passa agora a ter que se preocupar também com os efeitos e os impactos comumente danosos dos seus usos sobre os ambientes naturais terrestres. As mudanças químicas qualitativas e quantitativas, por conta desses efeitos e impactos podem ser comprovadas sobre os fenómenos geológicos e geodinâmicos externos, em escala global, pela exacerbação do "efeito estufa", pela depleção da camada de ozónio na estratosfera, pela ocorrência de chuvas ácidas, etc. Como já foi explicado anteriormente, o Sistema Terra realiza trocas de energia com o Universo. Relativamente à troca de matéria, há pequenas quantidades de hidrogénio e de hélio que devido à sua baixa densidade, sobem na atmosfera, escapando para o espaço. Entretanto, alguma matéria proveniente da queda de meteoritos ou poeiras cósmicas se acumula à matéria terrestre. 23 Agosto de 2016 Teoricamente, existe um intercâmbio. No entanto, estas trocas de matéria são desprezáveis, já que não afectam a massa terrestre. Por isso é que se considera a Terra um sistema quase fechado. Fig2- Representação dos quatro subsistemas Estes subsistemas são enormes reservatórios tanto de energia como de matéria e funcionam entre si como sistemas abertos, interagindo de diferentes modos e mantendo um equilíbrio dinâmico. Atenção: Quando há uma alteração num dos subsistemas, todos os restantes também serão afectados. Qualquer alteração drástica que ocorra no Sistema Terra pode conduzir a graves desequilíbrios provocando a extinção de muitas espécies. O facto de a Terra ser um sistema quase fechado implica que os recursos naturais sejam finitos e por isso, é necessário fazer uma gestão racional dos mesmos. Outra consequência de ser um sistema quase fechado é que os materiais poluentes existentes permanecem dentro das fronteiras, podendo afectar o equilíbrio do planeta.