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DIREITOS-HUMANOS-FUNDAMENTAIS-E-SEGURANÇA-PÚBLICA

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS.............................................................................. 4 
1.1 Distinção direitos fundamentais e direitos humanos ......................................... 5 
1.2 Distinção direitos e garantias ............................................................................ 6 
2 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ..................................................................... 7 
2.1 Sentido material e sentido formal ..................................................................... 7 
2.2 Evolução histórica ............................................................................................. 8 
2.3 Direitos fundamentais como cláusulas pétreas ............................................... 10 
2.4 Titularidade ..................................................................................................... 12 
2.5 Características ................................................................................................ 15 
2.6 Limitações ....................................................................................................... 17 
2.7 Eficácia ........................................................................................................... 19 
2.7.1 Eficácia vertical, horizontal e diagonal ............................................................ 20 
3 DIREITOS HUMANOS E OS TRATADOS INTERNACIONAIS ....................... 21 
4 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE .................................................... 24 
4.1 Direitos Individuais e Coletivos ....................................................................... 24 
4.1.1 Direito à vida ................................................................................................... 24 
4.1.2 Igualdade ........................................................................................................ 25 
4.1.3 Princípio da legalidade.................................................................................... 26 
4.1.4 Proibição da Tortura ....................................................................................... 27 
4.1.5 Liberdade da manifestação do pensamento ................................................... 28 
4.1.6 Direito de resposta .......................................................................................... 28 
4.1.7 Liberdade de consciência, crença e culto ....................................................... 29 
4.1.8 Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação. ... 30 
4.1.9 Intimidade e vida privada ................................................................................ 31 
4.1.10 Inviolabilidade do domicílio ............................................................................. 31 
4.1.11 Inviolabilidade das Comunicações .................................................................. 32 
4.1.12 Liberdade de Profissão ................................................................................... 33 
 
 
 
4.1.13 Liberdade de Informação ................................................................................ 34 
4.1.14 Liberdade de Locomoção ............................................................................... 34 
4.1.15 Direito de reunião ........................................................................................... 35 
4.1.16 Direito de associação ..................................................................................... 36 
4.1.17 Direito de propriedade .................................................................................... 36 
4.1.18 Direito a propriedade intelectual ..................................................................... 38 
4.1.19 Defesa do Consumidor ................................................................................... 38 
4.1.20 Direito de petição e obtenção de certidões ..................................................... 39 
5 SEGURANÇA PÚBLICA .................................................................................. 40 
5.1 Segurança pública como direito ...................................................................... 41 
5.2 A segurança pública como dever estatal ........................................................ 43 
5.3 A segurança pública como responsabilidade de todos ................................... 46 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
Prezado aluno, 
 
 
 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. 
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem 
e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em 
perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que 
serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
 
 
 
 
Bons estudos! 
 
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1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 
A Teoria Geral dos Direitos Fundamentais apresenta um aspecto central, sobre 
uma dogmática constitucional ligada aos direitos fundamentais de maneira geral. O 
presente estudo dará compreensão sobre os diversos direitos fundamentais que se 
encontram elencados na Constituição Federal de 1988. 
Segundo Alexandre de Moraes, os direitos fundamentais tiveram origem “da 
fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas civilizações, até a 
conjugação dos pensamentos filosóficos-jurídicos, das ideias surgidas com o 
cristianismo e com o direito natural”. (MORAES, 1999, p. 178) 
Diferente de outras Constituições anteriores brasileiras, no qual os direitos 
fundamentais estavam sempre consagrados nos últimos artigos, na atual Constituição 
de 1988 é um dos primeiros e principal tema elaborado. 
De fato, a CF/88 inovou também sendo a primeira a utilizar as expressões 
Direitos e Garantias Fundamentais e ampliando as mais diversas modalidades de 
direitos, sendo os assim chamados direitos (e deveres) individuais e coletivos, os 
direitos sociais (incluindo os direitos dos trabalhadores), os direitos de nacionalidade 
e os direitos políticos, os quais abarcam o estatuto constitucional dos partidos políticos 
e a liberdade de associação partidária. (SARLET, 2017) 
As mudanças de nomenclatura e posição dos direitos fundamentais, 
apresentam uma mudança não somente formal, mas também empática e espiritual, 
uma vez que a pessoa humana se torna o centro da preocupação, e não é mais 
colocada apenas como organização de competência do Estado. 
Percebemos ainda mais uma inovação, quando a norma maior prevê ainda, o 
direito de informação, a defesa do consumidor etc. Ademais, ela mistura verdadeiros 
direitos fundamentais em sua essência (v. item 2), com outros, meramente 
importantes que apenas formalmente são direitos fundamentais (p. ex., o direito a 
certidões). (FERREIRA FILHO, 2012) 
 
 
5 
 
1.1 Distinção direitos fundamentais e direitos humanos 
Muitas expressões são usadas quando o autor tem intenção de se referir ao 
fenômeno dos direitos, sendo por exemplo direitos naturais, direitos individuais, 
direitos públicos, entre outros. Mas, de fato, as expressões direitos humanos e direitos 
fundamentaissão as de maior destaque e usadas no tema. 
Apesar de alguns juristas defenderem a ideia de equivalência entre os dois 
conceitos, e até mesmo desnecessário a discussão sobre o assunto, o fato é que as 
diferenças são nítidas e aceitas por grande parte da doutrina e até mesmo em 
jurisprudências. 
A expressão direitos humanos, é mais comumente utilizada pelos juristas do 
Direito Internacional, e também pelos filósofos e sociólogos. 
 
Não obstante, a própria Constituição de 1988 referiu-se aos direitos 
humanos em vários de seus dispositivos: art. 4º, II (“prevalência dos 
direitos humanos”); art. 5º, § 3º (“os tratados e convenções 
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados...”); art. 
109, § 5º (“Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o 
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o 
cumprimento de obrigações...”); art. 134, caput (“A Defensoria Pública 
é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime 
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos 
direitos humanos...”). (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
 
Em síntese, os direitos humanos são aqueles previstos nos tratados e outros 
documentos internacionais, sobre o qual ampara a pessoa humana de algumas ações 
que podem lhe causar dano, sejam elas praticadas pelo estado, ou por outras 
pessoas. 
Já os direitos fundamentais, nomenclatura de extrema relevância, é mais 
utilizada pelos constitucionalistas. São aqueles direitos incorporados ao ordenamento 
jurídico de um país. Essa é a razão pela qual, na maioria das vezes, quando o 
estudioso se refere aos direitos previstos em tratados internacionais, fala direitos 
humanos e, quando estuda a Constituição de um país, refere-se a direitos 
fundamentais. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
Portanto, o sentido atribuído a direitos humanos, compreende aqueles 
reconhecidos pela’ ordem jurídica internacional e com validade universal. E os 
 
6 
 
fundamentais, os reconhecidos e positivados no âmbito do direito constitucional. 
(SARLET, 2017) 
1.2 Distinção direitos e garantias 
O Título II da CF/88 denomina-se Direitos e Garantias Fundamentais, e muitas 
vezes existem dúvidas sobre qual seria a diferença entre os dois termos. 
Pois bem, os direitos fundamentais, além dos conceitos já elencados no tópico 
acima, são normas que possuem um conteúdo afirmativo concedidos pela lei. Como 
exemplo, temos: o direito à vida, à liberdade de religião, à honra, e outros. 
Por outro lado, as garantias fundamentais são normas de conteúdo 
assecuratório, previstas na Constituição. São instrumentos que visam garantir e 
assegurar os direitos tutelados. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
Ainda em busca dos conceitos para distinção, Flávio Martins cita os 
ensinamentos de Ruy Barbosa e diz que os direitos são as manifestações da 
personalidade humana em sua existência subjetiva e aquelas originadas do convívio 
em sociedade. As garantias são solenidades tutelares que a lei dispõe contra os 
abusos de poder. (BARBOSA, 1933. apud. NUNES JÚNIOR, 2019) 
Para um melhor entendimento, podemos citar alguns exemplos. No artigo 5º, X 
da CF/88, temos o direito à honra, e como meio de preservar este direito, a mesma 
norma traz em seu inciso V a indenização por dano moral, ou seja, uma garantia caso 
a honra sofra alguma lesão. 
Outro exemplo claro, se trata do direito da liberdade de locomoção, elencado 
também no artigo 5º, XV da CF/88. Este talvez se configure um dos mais importantes 
direitos que pode ter a pessoa, e, para assegura-lo, a Constituição fornece o 
instrumento do Habeas Corpus, como garantia nos casos em que a liberdade de 
locomoção for prejudicada. 
 
 
 
 
 
7 
 
2 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
2.1 Sentido material e sentido formal 
Direitos fundamentais em sentido material são aqueles com origem da 
dignidade da pessoa humana, das vontades e necessidades da sociedade. Este 
direito advém ainda da evolução histórica e de novas necessidades que surgem ao 
longo do tempo, eles podem ou não estar positivados no ordenamento constitucional. 
Conforme vão surgindo novos pensamentos e desejos, também surgem novos 
direitos. Quando as pretensões acabam sendo obrigatórias no âmbito de sua 
aplicação, por estarem intimamente ligadas à dignidade da pessoa humana, tem-se o 
nome de direitos fundamentais em sentido material. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
De forma geral, as Constituições acabam por reconhecer em sua estrutura 
direitos que até então eram materiais. A partir daí se origina então os direitos 
fundamentais em sentido formal, ou seja, aqueles reconhecidos pela norma 
constitucional. 
Nunes, ao citar José Joaquim Gomes Canotilho, diz que: “os direitos 
consagrados e reconhecidos pela constituição designam-se, por vezes, direitos 
fundamentais formalmente constitucionais, porque eles são enunciados e protegidos 
por norma com valor constitucional formal (normas que têm a forma constitucional) ” 
(CANOTILHO 2004, apud NUNES JÚNIOR 2019) 
Como exemplo, podemos citar os ensinamentos de Nunes: 
 
Vejamos um primeiro exemplo: uma das grandes necessidades do 
indivíduo na sociedade contemporânea é o acesso à rede mundial de 
computadores (internet). Sem sombra de dúvida, o acesso à internet 
faz com que a pessoa exerça de forma mais completa os seus direitos 
individuais e sociais. Ora, com acesso à internet, a pessoa tem melhor 
acesso à informação, através de sites de notícia (art. 5º, XIV), melhor 
qualidade de locomoção, chegando mais rápido em seus destinos, por 
meio de aplicativos que facilitam a rota (art. 5º, XV), consegue ter 
alguns momentos de lazer (art. 6º) e maior acesso às fontes da cultura 
nacional (art. 215). Em resumo, ter acesso à internet está longe de ser 
algo supérfluo, desnecessário, dispensável nos dias atuais. Indaga-se: 
o acesso à internet é, pois, um direito fundamental? Bem, 
primeiramente, não é um direito fundamental em sentido formal, pelo 
menos não o é expressamente. Por enquanto! (Tramita no Congresso 
Nacional a PEC6/2011, já aprovada na Comissão de Constituição e 
Justiça do Senado, que acresce ao rol do art. 6º da Constituição 
 
8 
 
Federal o direito ao “acesso à Rede Mundial de Computadores 
(Internet) ” (NUNES, JÚNIOR 2019) 
 
Percebemos então que o direito fundamental em sentido material, pode 
converte-se, passado algum tempo, a um direito formal, dado a sua exigibilidade do 
momento. 
2.2 Evolução histórica 
Ao longo dos anos, os direitos fundamentais passaram por intensas 
transformações. Desde o seu aparecimento, foram aparecendo novos conteúdos, 
novas nomenclaturas e efetivação. 
Na idade média, o surgimento dos direitos fundamentais surgiu através do 
jusnaturalismo. Essa corrente filosófica é adepta a ideia de que a existência de direitos 
naturais serve como pilares para a fundamentação do direito positivo. 
A partir do século XVI e XVII, a ideia sobre direito natural começou a ganhar 
outro rumo. Através de alguns autores e seus ilustres livros, como exemplo Hugo 
Grócio com "Das Leis de Guerra e Paz", e Thomas Hobbes com "O Leviatã", o direito 
natural obteve uma concepção de que todo homem tem liberdade para usar os meios 
que considerar conveniente para a preservação da própria vida. (NUNES JÚNIOR, 
2019) 
No início da Idade Moderna, surgiram algumas leis com a finalidade de limitar 
o poder do Governante. Conforme as transformações foram acontecendo, do fim se 
originou o que chamamos hoje de "Constitucionalismo Moderno", com o objetivo de 
limitar o poder do Estado através da Constituição. 
Por volta de 1789, em decorrência da Revolução Francesa, surgiram inúmeras 
reformas legislativas, como por exemplo a abolição do sistema feudal e a histórica 
promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 
Nos anos em que sucederam os séculos XIX e XX, o Constitucionalismo 
Moderno ganhou força e passou a ser visto como um modelo jurídico seguidopor 
muitos países. Muitos adotaram por uma Constituição escrita e uma intensa limitação 
de poder aos governantes. 
 
9 
 
Seguindo a evolução, surgiu então um novo paradigma jurídico após a Segunda 
Guerra Mundial, conhecido hoje como neoconstitucionalismo. 
Este novo movimento não tem o escopo de contestar as conquistas do 
Constitucionalismo Moderno (a limitação do poder do Estado), mas sim aperfeiçoar 
novas práticas, estabelecer novos paradigmas. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
 Os direitos de primeira dimensão 
 
Durante as primeiras Constituições escritas, os direitos fundamentais foram a 
base do pensamento liberal, pois possuíam características de defesa e autonomia 
individual perante o Estado. 
Pelo motivo demonstrado, eles são apresentados como direitos de cunho 
“negativo”, uma vez que dirigidos a uma abstenção, e não a uma conduta positiva por 
parte dos poderes públicos, sendo, neste sentido, “direitos de resistência ou de 
oposição perante o Estado”. (BONAVIDES 2008. apud. NUNES JÚNIOR, 2019) 
A primeira dimensão de direitos foram então os de liberdade, civis, e políticos, 
que surgiram no século VXIII após a Independência dos Estados Unidos e também da 
Revolução Francesa. 
 
 Os direitos de segunda dimensão 
 
Com o passar do tempo, as consequências da Revolução Industrial foram 
surgindo aos poucos, problemas sociais e econômicos eram evidentes. Foi-se 
percebendo então, que a expressão formal de direitos de liberdade e igualdade não 
trazia a garantia que necessitava a sociedade, o que causou grandes movimentos 
com anseios por uma atuação ativa do Estado no âmbito de justiça social. 
Os direitos que obtiveram aperfeiçoamento nesta época, ficaram conhecidos 
por uma dimensão positiva. Uma vez que se cuida não mais de evitar a intervenção 
do Estado na esfera da liberdade individual, mas, sim, na lapidar de propiciar um 
“direito de participar do bem-estar social”. (SARLET, 2017) 
 
10 
 
A segunda dimensão de direitos, ficou marcada por assegurar os direitos 
sociais, econômicos e culturais. Como exemplo, podemos citar as prestações de 
assistência social, educação, saúde, e outros elencados no artigo 6º da Constituição. 
Entretanto, foi no século XX que muitas constituições consagraram estes novos 
direitos fundamentais, que também fizeram parte de vários pactos internacionais. 
 
 Os direitos de terceira dimensão 
 
Os direitos fundamentais da terceira dimensão, são chamados também de 
direitos de fraternidade ou de solidariedade. Nesta geração, houve um 
desprendimento da ideia de o homem como ser individual, e acentuou-se uma maior 
proteção aos grupos, ou seja, direitos coletivos e difusos. 
Nas palavras de Nunes, "para outros, os direitos da terceira dimensão têm por 
destinatário precípuo “o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua 
afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta” 
(BONAVIDES, 2003. apud. SARLET, 2017) 
Como exemplo dos direitos fundamentais, podemos citar o direito a paz, ao 
desenvolvimento, conservação do patrimônio histórico, o direito de comunicação, 
entre outros. 
Atualmente, alguns juristas são adeptos a ideia de inclusão nos direitos de 
terceira dimensão as chamadas novas tecnologias. São eles por exemplo os direitos 
reprodutivos, o acesso a informática e a proteção da identidade genética. (SARLET, 
2017) 
2.3 Direitos fundamentais como cláusulas pétreas 
Podemos conceituar as cláusulas pétreas como aqueles direitos que não 
podem sofrer alterações na Constituição. Antes mesmo da CF/88, já era previsto 
algumas matérias desta modalidade, como por exemplo a Federação da República, 
consagrada nas Constituições de 1891, 1934, e 1967. 
Contudo, a CF/88 foi a primeira do Brasil a dispor sobre os direitos e garantias 
como cláusulas pétreas. Segundo o artigo 60, § 4º, IV, " não será objeto de deliberação 
 
11 
 
a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais" (BRASIL, 
1988) 
Muito tem se questionado atualmente, sobre os direitos sociais, se os mesmos 
se incluem no rol de cláusulas pétreas. A respeito deste tema, existem três teorias que 
justificam ao questionamento de maneira distintas, sendo elas: 
a) teoria restritiva, literal, adepta a ideia que somente os direitos e garantias 
notadamente individuais seriam cláusulas pétreas, ou seja, aqueles previstos no artigo 
5º da Constituição; 
 b) teoria extensiva e ampliativa. Esta argumenta que todo e qualquer direito ou 
garantia fundamental seria cláusula pétrea; 
c) teorias intermediárias. Nestas, além dos direitos e garantias individuais, 
outros direitos também poderiam ser cláusulas pétreas, em acordo com alguns 
critérios. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
A doutrina majoritária, caminha junto a teoria extensiva e ampliativa, ou seja, 
refere-se a todos os direitos fundamentais como cláusulas pétreas. 
Acerca deste assunto, temos o ensinamento de Nunes Júnior, que ao citar 
Süssekind, assevera que: 
Nesse sentido, Arnaldo Sussekind afirma que “na verdade, ao impedir 
que as emendas à Carta Magna possam ‘abolir os direitos e garantias 
individuais’ (art. 60, § 4º, IV), é evidente que essa proibição alcança os 
direitos relacionados no art. 7º, assim como a liberdade sindical do 
trabalhador e do empresário de organizar sindicados de conformidade 
com as demais disposições do artigo 8º, e neles ingressarem e 
desfiliarem-se. (SÜSSEKIND, 2001, apud, 
NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
No Brasil, além de vários juristas, até mesmo o Supremo Tribunal Federal já se 
posicionou sobre assunto, como por exemplo através da Ação de 
Inconstitucionalidade de n° 939/DF, onde o Ministro Marco Aurélio afirma a extensão 
em seu parecer. 
No Brasil, de fato, a teoria mais aceita é a extensiva ou ampliativa. Embora não 
aceita por alguns, a maioria considera sim os direitos sociais, econômicos e culturais 
também como cláusulas pétreas. 
Contudo, devemos lembrar que os direitos criados posteriormente pelo poder 
constituinte derivado reformador, não podem ser considerados como cláusulas 
 
12 
 
pétreas. Apenas ressaltando, pelo motivo de que vários direitos sociais e 
constitucionalizados foram inseridos através do poder constituinte derivado 
reformador, como por exemplo a moradia, inserida pela Emenda Constitucional 
26/2000, e a alimentação, instituída também pela EC 90/2015. (NUNES JÚNIOR, 
2019). 
2.4 Titularidade 
 Brasileiros e estrangeiros 
 
Logo de início, a constituição prevê em seu artigo 5º, caput, que “todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros 
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade”. (BRASIL, 1988) 
Desta forma, é previsto então constitucionalmente, que todos os brasileiros e 
os estrangeiros que residem no país são titulares dos direitos fundamentais. 
Ao longo do tempo, se tornou constante a indagação se então somente os 
brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil seriam titulares de direitos, se, por 
exemplo um estrangeiro em visita ao país não teria o mesmo direito. Pois bem, a 
doutrina explica, que talvez seja uma mera questão de tradição no que tange a 
legislação. 
No entendimento do Supremo Tribunal Federal, todos que se encontram dentro 
do Brasil são titulares de direitos fundamentais, baseado no princípio da 
universalidade. Portanto, o estrangeiro que resida ou não no país, poderá se 
beneficiar do direito à liberdade, bem como também os remédios constitucionais, com 
exceção apenas para a “ação popular”, que é reservada aos cidadãos brasileiros. 
(NUNES JÚNIOR 2019) 
 
 Pessoa Jurídica 
 
 
13 
 
Diferente de outras Constituições, a Constituição Federal de 1988 não 
expressou de modo taxativo os direitos fundamentais às pessoas jurídicas. Ainda 
assim, houve reconhecimento do mesmo por parte da doutrina e da jurisprudência.Todavia, o direito constitucional brasileiro é adepto a ideia de que as pessoas 
jurídicas são titulares apenas dos direitos que, de certa forma, são necessários e 
compatíveis com a sua natureza jurídica, ao contrário das pessoas naturais, que 
possuem todos eles. (SARLET, 2017) 
A doutrina e a jurisprudência, relatam que a pessoa jurídica é detentora do 
direito da propriedade, do direito à informação, e do direito a honra. Por outro lado, 
alguns direitos explícitos na CF/88, remetem exclusivamente as pessoas jurídicas, 
como por exemplo a proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, os 
nomes das empresas e outros signos distintivos. 
 
 Embrião Humano 
 
A proteção dos direitos humanos voltados para o embrião humano pode ser 
observada já a algum tempo através da Convenção Americana de Direitos Humanos, 
quando diz em seu artigo 4º que “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua 
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da 
concepção”. (COSTA RICA, 1969) 
A legislação atual do Brasil traz proteção a vida tanto do embrião, aquele que 
ainda não se encontra implantado no ventre materno, quanto do nascituro, o ente já 
concebido no ventre materno. 
Neste sentido, a Lei n. 11.804, de 2008, impõe os alimentos gravídicos devidos 
pelo provável pai, visando a proteção da vida e saúde não somente da gestante, mas 
também, e principalmente, do feto. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
Acerca deste assunto, é importante destacar que o aborto no Brasil é 
considerado crime, exceto pelas hipóteses legais que estão previstas no artigo 128 do 
Código Penal, que podem acontecer legalmente quando for para salvar a vida da 
gestante, ou quando a gravidez for decorrente de estupro. (BRASIL, 1940) 
 
14 
 
Há ainda, uma terceira hipótese, que são os casos jurisprudenciais, como por 
exemplo a ADPF de nº 54 no qual o STF decidiu que é possível a interrupção da 
gravidez quando constatada a anencefalia. 
 
 Titularidade post mortem 
 
Perante o Código Civil de 2002, percebemos que é verídico que, juntamente 
com a morte, extinguem-se todos os direitos e deveres. Ou de fato, quando acontece 
a morte do indivíduo, encerra também o seu direito de reunião, à liberdade de 
locomoção, e a manifestação do pensamento. 
Contudo, várias fontes reconhecem alguns direitos fundamentais sobre qual o 
morto tem direito. São exemplos destes, a honra e a imagem. Mesmo após a morte, 
o direito à honra e à imagem não podem ser lesados. 
Não se trata de direito dos familiares, como pensam alguns. A imagem não é 
da família, sobre a qual recairão apenas reflexos patrimoniais. (NUNES JÚNIOR, 
2019). 
No mesmo entendimento, foi o parecer do Ministro César Asfor Rocha através 
de um Recurso Especial impetrado no Supremo Tribunal de Justiça: 
 
“Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, 
guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem 
por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem de quem 
falece, como se fosse coisa de ninguém, porque ela permanece 
perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se 
prolonga para muito além da vida” (REsp n. 268.660/RJ, rel. Min. César 
Asfor Rocha). 
 
 
Por fim, temos ainda a Lei 13.188/2015 que traz regulamentação sobre o direito 
de resposta previsto no artigo 5º, V, da CF/88, dando permissão que a ação seja 
ajuizada pelo “cônjuge, descendente, ascendente ou irmão do ofendido que tenha 
falecido depois do agravo” (BRASIL, 2015) 
 
15 
 
2.5 Características 
Devido a existência de diversas culturas e momentos históricos diferentes de 
cada povo, os direitos fundamentais possuem conteúdos peculiares. Estes conteúdos, 
após aprofundados em estudo, deram origem as características dos direitos 
fundamentais. Vamos agora conhecer cada uma delas. 
 Historicidade: os direitos têm origem de uma longa evolução histórica. Conforme 
avança o desenvolvimento da sociedade, novos direitos vão surgindo. Daí o motivo 
de sempre nos depararmos com novos direitos, pois eles decorrem de uma evolução 
necessária, uma adequação ao momento em que se vive, como por exemplo os 
direitos que surgiram perante a evolução tecnológica. 
O mesmo acontece com o contrário. Com o passar da história, necessidades 
que se mostravam prementes deixam de sê-lo em novas gerações. Portanto, a 
fundamentalidade do direito se elimina com o passar do tempo, na medida em que vai 
se desprendendo das necessidades mínimas da pessoa. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 Universalidade: Mais que uma característica, a universalidade é um princípio que 
deve ser aplicado mundialmente, uma vez que encontra sua base na dignidade da 
pessoa humana. Esta característica surgiu após a Segunda Guerra Mundial, diante 
das atrocidades cometidas pelo sistema nazista, que, segundo este, somente eram 
sujeitos de direitos os que fossem de "raça ariana". 
Com toda certeza, devemos entender que, quanto a afirmação de que todos 
são titulares dos direitos fundamentais, tal expressão deve ser vista com reservas. 
Certos direitos que são reservados apenas a algumas pessoas, em razão da sua 
natureza jurídica ou em razão de suas peculiaridades fáticas 
 Limitabilidade ou relatividade: Os direitos fundamentais não são absolutos, mas sim 
relativos. Em um caso de conflito de direitos fundamentais, se tivéssemos um direito 
fundamental absoluto, qualquer outro direito que contra ele se opusesse, seria 
aprioristicamente afastado. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
Em algumas situações, as limitações já se encontram previstas na CF/88, como 
por exemplo no artigo 5º, XIII, onde temos uma afirmação que é livre o exercício de 
qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a 
 
16 
 
lei estabelecer. Isso quer dizer, que a lei tem permissão para limitar o acesso a 
algumas profissões, com base em outros direitos fundamentais. (BRASIL, 1988) 
 
Todavia, em alguns casos, inexistindo previsão legal em caso de 
conflito entre princípios juridicamente tutelados, caberá ao juiz fazer a 
análise do caso concreto, identificando qual princípio deve ser 
preservado em detrimento de outro. 
 
Inúmeros outros direitos podem ser limitados pela lei ou por outros 
direitos. A liberdade de manifestação encontra limites na intimidade, na 
honra alheia, por exemplo. A liberdade de religião igualmente não é 
absoluta, pois jamais admitiríamos uma seita que adote como prática 
religiosa o sacrifício humano etc. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
Importante salientar, que as limitações dos direitos fundamentais não são 
ilimitadas. Deve-se limitar apenas o que for realmente necessário. 
 Concorrência: os direitos fundamentais podem ser exercidos de uma forma 
simultânea, por exemplo o jornalista que transmite uma notícia, está exercendo 
tanto o direito de informação, quanto expressando também sua opinião. 
 Inalienabilidade: os direitos fundamentais são inalienáveis, uma vez que não se 
pode negocia-los ou transferi-los. Ou seja, seu titular não pode se desfazer dos 
mesmos, uma vez que não possuem valor econômico patrimonial. 
Inalienável é um direito ou uma coisa em relação a que estão excluídos 
quaisquer atos de disposição, quer jurídica – renúncia, compra e venda, doação –, 
quer material – destruição material do bem. (MENDES, 2012, apud, NUNES JÚNIOR, 
2019) 
Da mesma forma que não podem ser inalienáveis, não podem também serem 
renunciados. O que pode acontecer, é o sujeito deixar de utilizar de certo direito por 
algum tempo. 
Pode-se dizer então, que em algumas situações é admitido a autolimitação 
voluntária ao exercício dos direitos fundamentais num caso concreto, que deve estar 
sempre sujeito à reserva de revogação, a todo tempo. (CUNHA JÚNIOR, 2008, apud, 
NUNES JÚNIOR, 2019) 
 Imprescritibilidade: Esta característica sé baseada no fato de que os direitos 
fundamentais não se perdem ao longo do tempo. Ou seja, os exercícios dos direitosfundamentais acontecem pelo simples fato de existirem, não têm validade. 
 
17 
 
Ao citar José Afonso da Silva, Nunes nos ensina que 
 
“Prescrição é um instituto jurídico que somente atinge coarctando, a 
exigibilidade dos direitos de caráter patrimonial, não a exigibilidade dos 
direitos personalíssimos, ainda que não individualistas, como é o caso. 
Se são sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal 
de não exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela 
prescrição. ” (SILVA, 1991, apud, NUNES JÚNIOR, 2017) 
 
Concluímos então que os direitos fundamentais, mesmo que exercidos 
simultaneamente, não ensejam o seu desaparecimento ao longo do tempo, pois os 
mesmos estão sempre em processo de agregação para aumentar o seu núcleo. 
2.6 Limitações 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, após elencar 
um rol de direitos como a vida, a liberdade, a igualdade e etc, deixou claro ainda em 
seu artigo 29, que no exercício dos direitos e liberdades, o ser humano estará sujeito 
apenas as limitações que estiverem determinadas pela lei, com a finalidade de 
assegurar o reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades do outro, e satisfazer 
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade 
democrática. (Assembleia Geral da ONU, 1948). 
As limitações dos direitos fundamentais podem acontecer sob duas formas: as 
limitações internas e as limitações externas. 
 
 Limitações internas 
 
As limitações internas são também conhecidas como limitação imanente, que 
significa algo que está ligado, que é ínsito à alguma coisa. Nos ensinamentos de 
Nunes, ele cita que para Canotilho, elas são os limites que estão presentes dentro da 
própria Constituição, impostos por outros direitos fundamentais. (CANOTILHO, 2004, 
apud, NUNES JÚNIOR, 2017) 
Como exemplo, podemos citar o direito da liberdade de consciência e crença, 
que se encontra limitada por outros direitos, como à vida. Como já citado 
anteriormente, não é admitido o sacrifício humano por motivo de crença religiosa. 
 
18 
 
 
Exemplo emblemático é o HC 82.424, (caso “Ellwanger”), no qual o 
Supremo Tribunal Federal entendeu que o editor gaúcho Siegfried 
Ellwanger teria praticado crime de racismo em obra literária 
antissemita. Os direitos à liberdade intelectual (art. 5º, IV, CF) e 
liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV) não são 
absolutos, “não são incondicionais, razão pela qual devem ser 
exercidas de maneira harmônica, observados os limites traçados pela 
própria Constituição Federal” (voto do Min. Maurício Corrêa). Nesse 
mesmo julgamento, afirmou o Min. Celso de Mello: “aquele queofende 
a dignidade de qualquer ser humano, especialmente quando movido 
por razões de cunho racista, ofende a dignidade de todos e de cada 
um”. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
 
 
Podemos ainda dizer, que os limites internos são aqueles que estão dentro do 
próprio direito, constituídos por uma estrutura interna, e não definido nem baseado 
por fatores externos ou outros direitos. 
 
 Limitações externas 
 
As limitações externas, são aquelas impostas ao direito fundamental por outras 
normas, as infraconstitucionais. Ou seja, uma lei infraconstitucional irá limitar um 
direito fundamental. 
Vejamos um exemplo: A Lei 13.301/2016, diz que é permitido o "ingresso 
forçado em imóveis públicos e particulares, no caso de situação de abandono, 
ausência ou recusa de quem possa permitir o acesso de agente público”, quando 
houver suspeita de foco do mosquito transmissor do vírus da dengue, vírus 
chikungunya e vírus da zika. Neste exemplo, temos uma limitação infraconstitucional 
sobre um direito fundamental, que se trata da inviolabilidade do domicilio. 
Importante lembrar, que as leis infraconstitucionais que limitam as 
constitucionais, devem estar em acordo com três limites: 
a) não podem ferir o núcleo essencial dos direitos fundamentais. Estes, 
correspondem a um núcleo da norma, sob o qual não é admitido nenhuma hipótese 
de restrição. Todavia, não devemos confundir o núcleo essencial com cláusulas 
pétrea, pois essas, são matérias pelo qual somente o poder constituinte originário 
podem legislar. 
 
19 
 
Para identificar o núcleo essencial de um determinado direito fundamental, 
temos duas teorias. A primeira, trata-se da teoria absoluta, sob o qual acredita que o 
núcleo essencial do direito fundamento, pode ser encontrado através de uma análise 
abstrata da norma, sem que haja a necessidade de um caso concreto. Por outro lado, 
temos a teoria relativa, o qual o Brasil é adepto. Por ela, acredita-se que o núcleo 
essencial dos direitos fundamentais só é encontrado através de um caso em concreto, 
juntamente com a aplicação do princípio da proporcionalidade. 
b) devem ser razoáveis e proporcionais: as restrições infraconstitucionais não 
podem ser de forma excessiva. A análise de verificação parte também do critério de 
proporcionalidade. A razoabilidade, tem origem da jurisprudência norte americana, do 
devido processo legal substantivo, sob o qual (substantive due processo of law) 
conclui que será inválido, inconstitucional, o ato do poder público irrazoável. (NUNES 
JÚNIOR, 2017) 
2.7 Eficácia 
A atual Constituição traz em seu artigo 5º, § 1º, que as normas definidoras dos 
direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Se faz necessário enfatizar, 
que esta norma, apesar de estar elencada no artigo 5º, não se aplica apenas aos 
direitos e garantias individuais, mas sim a todos eles. 
Seguindo este entendimento, Sarlet assevera que “o constituinte não 
pretendeu, com certeza, excluir do âmbito do art. 5º, § 1º, de nossa Carta, os direitos 
políticos, de nacionalidade e os direitos sociais, cuja fundamentalidade – pelo menos 
no sentido formal – parece inquestionável” (SARLET, 2017) 
Contudo, existem algumas normas previstas no artigo 5º, que sua eficácia é 
limitada e necessita de outras regulamentações infraconstitucionais para validar e 
produzir seus efeitos. Como exemplo, podemos citar o artigo 5º, VII da CF/88 que 
assegura a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de 
internação coletiva, "nos termos da lei". Ou seja, a lei está afirmando, que outra norma 
em complemento a esta, fará a defesa do consumidor. 
 
20 
 
Como visto no tópico anterior, sobre as normas que têm eficácia limitada, não 
significa que são desprovidas de eficácia, mas sim, que seus efeitos plenos dependem 
de outra regulamentação. 
2.7.1 Eficácia vertical, horizontal e diagonal 
Quando falamos em eficácia dos direitos fundamentais, podemos citar 03 
teorias existentes acerca do assunto, são elas a eficácia vertical, horizontal e diagonal. 
A primeira delas, a vertical, surgiu quando as normas constitucionais impunham 
o direito do particular sobre o Estado, ou seja, uma relação de obrigação de fazer. 
Porém, ao longo do tempo, percebeu-se a necessidade de uma segunda 
eficácia, pois as lesões aos direitos fundamentais não tinham mais origem somente 
na relação do Estado contra o indivíduo, mas também dos particulares. Foi então que 
surgiu a eficácia horizontal, que resguarda a eficácia em uma relação com terceiros, 
ou seja, privada. 
Pois bem, sobre esta eficácia horizontal, é evidente uma discussão que 
prevalece diante da doutrina. Por um lado, alguns sustentam que os direitos 
fundamentais possuem uma eficácia imediata sobre as relações entre os particulares, 
e, por outro lado, outros são adeptos a uma eficácia horizontal mediata. 
 Eficácia Imediata e direta 
Por esta hipótese, a aplicação dos direitos fundamentais acontece de uma 
forma direta sobre a relação privada, sem a necessidade de uma lei 
infraconstitucional. Esta teoria tem fundamentos baseados sobre algumas 
jurisprudências do STF. 
No Recurso Extraordinário 201.819, o Supremo Tribunal Federal 
decidiu que a exclusão de um associado de uma associação depende 
do respeitoao contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV, CF). 
Historicamente, esse direito sempre foi tido apenas como eficácia 
vertical, tendo o Estado o dever de assegurar seu exercício pelas 
partes do processo. Atualmente, o Supremo Tribunal Federal reserva 
a esse direito uma outra eficácia: “a doutrina tradicional dominante do 
século XIX e mesmo ao tempo da República de Weimar sustenta 
orientação segundo a qual os direitos fundamentais destinam-se a 
proteger o indivíduo contra eventuais ações do Estado, não assumindo 
maior relevância para as relações de caráter privado. [...]. Afirmou se 
ainda que a eficácia imediata dos direitos fundamentais sobre as 
relações privadas acabaria por suprimir o princípio da autonomia 
privada, alterando profundamente o próprio significado do direito 
privado como um todo. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
 
 
21 
 
 
 
 Eficácia Mediata e indireta 
Esta teoria é a mais aderente ao direito brasileiro. Ela diz basicamente que os 
direitos fundamentais são aplicados nas relações privadas através das normas 
infraconstitucionais. Ou seja, esta, serve com um amparo e base para aplicação 
daquela. 
Temos como exemplo, o Código Civil e o Código Penal. Este último, na sua 
Parte Especial, ao prever uma série de crimes, exige que as pessoas respeitem os 
direitos fundamentais das outras, sob pena de uma sanção penal. (NUNES JÚNIOR, 
2017) 
Por fim, temos a teoria da eficácia diagonal dos direitos fundamentais. Segundo 
o autor criador desta teoria, Adolfo Ibáñez, uma relação particular entre empregado e 
empregador não pode ser vista sob a ótica da eficácia horizontal, uma vez que ambos 
os sujeitos não estão em igualdade no âmbito econômico e jurídico. (CONTRERAS, 
2009. apud. NUNES JÚNIOR, 2017) 
A relação de empregado e empregador já pressupõe uma parte com maior 
poder de negociação, no caso, o empregador. Portanto se fez necessário uma 
imposição mais intensa dos direitos fundamentais, com a finalidade de resguardar o 
trabalhador brasileiro. 
 
3 DIREITOS HUMANOS E OS TRATADOS INTERNACIONAIS 
A origem do conceito de tratados, surgiu juntamente com a Convenção de 
Viena de 1969, que segundo o seu artigo 2º, § 1º, a, dizia que tratado “significa um 
acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito 
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos 
conexos, qualquer que seja sua denominação específica” (BRASIL, 2009) 
Na definição de Paulo Henrique Gonçalves Portela, “os tratados são acordos 
escritos, firmados por Estados e organizações internacionais dentro dos parâmetros 
estabelecidos pelo Direito Internacional Público, com o objetivo de produzir efeitos 
jurídicos no tocante a temas de interesse comum”. (PORTELA, 2010) 
 
22 
 
Ademais, os tratados internacionais são também considerados uma fonte de 
Direito positivo, em face de sua natureza jurídica. Eles têm o poder de expansão no 
que tange seus efeitos jurídicos, e ainda instituem direitos e obrigações aos entes que 
lhe compõem. 
No âmbito internacional, o cenário dos direitos humanos se consolidou por volta 
do século XX. Uma série de processos e movimentos históricos trouxe a possibilidade 
de regularizar relações entre Estados que antes não havia sido possível. 
Há que se lembrar, que as atuais legislações que tratam hoje dos Direitos 
Humanos foram conquistadas através de grandes lutas históricas, desde a 
antiguidade. Ou seja, um longo processo de internacionalização e universalização 
desses direitos. (GUERRA, 2008) 
Na época do pós-guerra, surgiram os Direitos Humanitários com objetivo de 
limitar a atuação do Estado que intervinha nos conflitos internos. Neste sentido, a 
doutrina assevera que "o Direito humanitário foi a primeira expressão de que, no plano 
internacional, há limites à liberdade e autonomia dos Estados, ainda que na hipótese 
de conflito armado. ” (PIOVESAN, 2007) 
Não obstante, as Nações Unidas almejavam ainda a manutenção da paz, o 
desenvolvimento econômico, e o bem-estar do indivíduo. A segunda guerra mundial 
trouxe consequências destrutivas não só para quem lutou em combate, mas também 
a todos os países que, de certa forma, foram prejudicados físico ou psicologicamente. 
 
No momento em que seres humanos se tornam supérfluos e 
descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição, em que 
cruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se necessária a 
reconstrução dos direitos humanos, como paradigma ético capaz de 
restaurar a lógica razoável. (PIOVESAN, 1997) 
 
Após todo o tempo de guerra, os aliados vencedores se encontraram então em 
1945, e foi criado a carta da ONU - Organização das Nações Unidas. Esta carta 
carregava uma base voltada para os direitos humanos e as liberdades fundamentais. 
Mais tarde, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração 
Universal dos Direitos do Homem em dezembro de 1948, onde foi fixado de maneira 
clara e intensa os direitos que antes, ainda permaneciam um pouco vagos. 
Aos poucos, a Declaração Universal dos Direitos do Homem se tornou uma 
base de ética e princípio primordial para o Direito Internacional. Contudo, foi 
 
23 
 
necessário aprofundar ainda mais sobre os direitos elencados. A ONU criou então o 
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. 
Os dois tratados supracitados, foram os primeiros a dar norte para muitos que 
vieram a seguir. Sendo eles: 
a) Convenção que trata sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial, promulgada em 1966; 
b) Convenção sobre Eliminação de Discriminação contra a Mulher, criada em 
1979; 
c) Convenção contra a Tortura, instituída em 1984; 
d) Convenção sobre os Direitos da Criança, com origem no ano de 1989; 
e) Convenção sobre Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores 
Migrantes e suas Famílias, em 1990; 
f) Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiência, uma das mais 
recentes, em 2007; 
g) Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas contra os 
Desaparecimentos Forçados, também no ano 2007. 
Em termos de lei, os tratados e convenções estão previstos no §3º do artigo 5º 
da CF/88, e diz que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos 
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três 
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas 
constitucionais. ” (BRASIL, 1988) 
Desta forma, os referidos tratados internacionais são aceitos e aplicados em 
muitos fundamentos usados pelas cortes e tribunais do Brasil. A expansão do Sistema 
Internacional dos Direitos Humanos que a ONU proporcionou modificou todo o 
sistema jurisdicional e representa um avanço contra todos os meios e ações que 
lesam os direitos de um indivíduo. 
 
 
 
 
 
24 
 
4 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE 
4.1 Direitos Individuais e Coletivos 
4.1.1 Direito à vida 
A vida, podemos dizer que é não só o direito, como também o bem mais valioso 
que possuímos. Este direito está intimamente ligado ao princípio da dignidade da 
pessoa humana, uma vez que sem a vida, não é possível exercer os direitos que dela 
decorrem. 
Partindo desta premissa, o direito à vida segue por duas acepções, sendo elas: 
o direito de continuar vivo, e o direito a ter uma vida digna. As duas acepções, estão 
influenciadas pelo fato de o estado não fazer interferência na vida pessoal do 
indivíduo, e, respectivamente, ter o dever de proporcionar uma vida digna. 
No mesmo sentido, em decorrência do direito à vida, nos deparamos com a 
proibição da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. Portanto, nem 
mesmo com emenda constitucional é possível modificar esta imposição, uma vez que 
tal fato iria contra a cláusula pétrea do artigo 60, § 4º, IV. 
O direito à vida se encontra elencada em algumas legislações, sendo elas: 
a) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948):“todo homem tem direito 
à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (art. III); (Assembleia Geral da ONU, 1948). 
b) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966): “o direito à vida é 
inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém poderá 
ser arbitrariamente privado de sua vida” (parte III, art. 6.º); (BRASIL, 1992) 
c) Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e 
Políticos com vistas à Abolição da Pena de Morte (1989): “nenhum indivíduo sujeito à 
jurisdição de um Estado-Parte no presente Protocolo será executado. Os Estados-
Partes devem tomar as medidas adequadas para abolir a pena de morte no âmbito da 
sua jurisdição” (art. 1.º, 1 e 2). (BRASIL, 1989) 
Em relação ao direito de uma vida digna, a Constituição tratou de garantir as 
necessidades que o indivíduo precisa, como por exemplo proibir o tratamento indigno, 
seja ele a tortura, trabalhos forçados, ou penas de caráter perpétuo. 
 
25 
 
Sobre o início da proteção à vida, segundo o entendimento do artigo 4º, item 1 
da Convenção Americana de Direitos Humanos, a vida humana deve ser tutelada 
desde a sua concepção. 
Seguindo este entendimento, as leis brasileiras seguiram resguardando a vida 
antes do nascimento em alguns dispositivos. Um deles pode ser constatado no artigo 
124 e seguintes do Código Penal, onde há o crime de aborto. Outro exemplo está 
presente no artigo 6º da Lei de nº 11.804/2008, que trata sobre os alimentos 
gravídicos, que são devidos desde a gravidez pelo possível pai, com a finalidade de 
resguardar a saúde da criança ainda na barriga da mãe. 
Apenas para ressaltar, sobre o aborto é importante lembrar que no Brasil, 
existem dois casos em que o mesmo é permitido. São eles o aborto necessário, aquele 
realizado quando há risco para a vida da gestante e o aborto sentimental, quando a 
gravidez é decorrente de estupro. (BRASIL, 1940) 
4.1.2 Igualdade 
O direito da igualdade, se encontra consagrado no caput do artigo 5º da 
Constituição, e diz que todos devem ser iguais perante a lei, sem nenhuma distinção 
de qualquer natureza. 
Contudo, deve-se buscar não somente essa aparente igualdade formal, aquela 
com base no liberalismo clássico, mas, principalmente, a igualdade material, uma vez 
que o Estado social, aquele que efetiva os direitos humanos, preceitua-se sobre uma 
igualdade mais real diante dos bens da vida, diferente daquela que é apenas 
formalizada. (LENZA, 2021) 
Segundo a doutrina, quando o legislador se referência com o termo "igualdade", 
ela pode ser tanto formal, quanto material. 
A igualdade formal, pode ser resumida como aquela que fornece o mesmo 
tratamento para todos, sem distinção de raça, cor, gênero ou nacionalidade. De certa 
forma, esta foi a única adotada pelo Poder Público no Brasil. 
Por outro lado, temos a igualdade material, aquela que consiste em dar aos 
desiguais um tratamento desigual sobre a proporção de desigualdade. No Brasil, o 
polímata Ruy Barbosa foi um dos primeiros a falar sobre esta igualdade em seus 
discursos. Ele dizia que: “a regra da igualdade não consiste senão em quinhão 
 
26 
 
desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade 
social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da 
igualdade”. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
A igualdade material não está presente somente no artigo 5º, mas também em 
vários outros dispositivos da Constituição. Ademais, segundo o artigo 3º da referida 
norma, são objetivos da República construir uma sociedade solidária, erradicar a 
pobreza e reduzir as desigualdades sociais. (BRASIL, 1988) 
Como exemplo de algumas normas de igualdade material, podemos citar: 
a) a imunidade parlamentar presente no artigo 53 da CF/88, que concede aos 
parlamentares a não responsabilização penal e civil sobre suas opiniões, palavras e 
votos; 
b) o foro por prerrogativa de função, que assegura aos membros do poder 
legislativo e executivo um julgamento em instância diferente das pessoas comuns; 
c) as vagas reservadas nos concursos para pessoa com deficiência. 
d) o processo criminal contra o Presidente da República. De acordo com o 
artigo 86 da CF/88, o Presidente será processado criminalmente somente quando 
houver autorização de dois terços da Câmara dos Deputados. 
Estas e outras várias normas, são reflexos da igualdade sendo aplicada na lei 
de forma clara. O direito a igualdade gera hoje, inúmeras políticas públicas e 
instrumentos visando sempre resguardar a função social deste direito. 
O quadro abaixo deixa claro a diferença entre igualdade formal e material. 
 
4.1.3 Princípio da legalidade 
O princípio da legalidade teve seu primeiro dispositivo legal na Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão. No Brasil, está assegurado através no artigo 5º, II, 
onde diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei”. (BRASIL, 1988) 
Sobre este princípio, dentro de uma relação particular, o indivíduo pode fazer 
tudo aquilo que a lei não proíbe. Toda esta ação é caracterizada de uma junção da 
dignidade da pessoa humana, com o princípio da autonomia da vontade, e a aplicação 
dos direitos fundamentais. 
 
27 
 
Por outro lado, perante o Estado, este princípio se aplica de uma maneira 
diferente, pois ele tem o dever de fazer o que a lei determina. Trata-se do princípio da 
legalidade estrita, que, por seu turno, não é absoluto! Existem algumas restrições, 
como as medidas provisórias, o estado de defesa e o estado de sítio. (LENZA, 2021) 
 
4.1.4 Proibição da Tortura 
 
Quando a Constituição elencou os principais direitos fundamentais como 
norma, dispôs em seu artigo 5º, III, que “ninguém será submetido a tortura nem a 
tratamento desumano ou degradante”. (BRASIL, 1988) 
Em 2013, foi instituída a Lei 12.847, que trata do Sistema Nacional de 
Prevenção e Combate à Tortura. Um dos principais objetivos desta lei, é intensificar a 
prevenção sobre o crime. 
Importante ressaltar, que o crime de tortura, ainda segundo a Constituição, se 
caracteriza como um crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, uma vez 
que entra no rol dos crimes hediondos, que lesam diretamente os direitos 
fundamentais. 
Quanto a imprescritibilidade, a discussão é intensa e prevalece já a algum 
tempo entre os doutrinadores. 
A doutrina majoritária e a jurisprudência, são adeptas a ideia de que o crime de 
tortura se trata de um crime prescritível. Como argumento, eles se baseiam na 
previsão expressa da Constituição, que dispõe como crimes imprescritíveis o racismo 
e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. 
No entendimento de Paulo Bonavides: 
 
Não há direito mais sagrado do que a integridade moral e a integridade 
física do homem em toda a dimensão do princípio superlativo, que é o 
da dignidade da pessoa humana. O direito à liberdade e à inteireza do 
ser humano é inviolável. E, logo, um crime imprescritível, pois ofende 
nas suas raízes o direito natural. Uma sociedade que não se 
fundamenta no direito natural não é uma sociedade constitucional do 
ponto de vista da materialidade dos valores éticos, que devem conduzir 
sempre a conduta. (BONAVIDES, 2008, apud, NUNES JÚNIOR, 2017) 
 
 
 
28 
 
Estes e outros argumentos a favor da imprescritibilidade do crime de tortura, 
não foram motivos que influenciaram o parecer do STF sobre o assunto. A Suprema 
corte afirma que a validade de uma norma varia de acordo com o tempo, o espaço e 
a história. 
Ainda segundo a posição atual do STF, a tortura é um crime prescritível e, 
quanto às torturas praticadas durante o regime militar, praticadas entre 1961 e 1979, 
foram anistiadas, por força da Lei n. 6.683/2010. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
 
4.1.5 Liberdade da manifestação do pensamento 
 
Podemos dizer que o direito de liberdade do pensamento se trata não só de um 
direito, mas tambémuma das garantias fundamentais com maior relevância no direito 
brasileiro. 
Encontramos o direito e a garantia, respectivamente, na primeira e segunda 
parte no artigo 5º, IV, da Constituição. A primeira parte, sendo a livre manifestação do 
pensamento, se trata de um direito individual, de primeira dimensão, segundo o qual 
impede o Estado de interferir na liberdade de expressão do indíviduo. A segunda, 
"sendo vedado o anonimato", se trata de uma garantia constitucional que visa 
resguardar outros direitos fundamentais, como a honra e a intimidade. 
O direito à liberdade de manifestação do pensamento, funciona em conjunto 
com outros dispositivos, e assegura assim, a liberdade de expressão em diversas 
formas. 
4.1.6 Direito de resposta 
Este direito está ligado a possibilidade que tem o indivíduo de responder sobre 
as às ofensas que lhe são proferidas. 
Segundo Nunes, esta resposta ainda pode acontecer no mesmo veículo, no 
mesmo espaço e com o mesmo tempo onde a ofensa ou inverdade foi veiculada. Ou 
seja, se a ofensa se deu em uma página de um jornal, terá o ofendido o direito de 
responder em uma página do mesmo jornal. 
 
29 
 
Atualmente, este direito é regido pela Lei 13.188 do ano de 2015. Logo no artigo 
1º, já nos deparamos com o objetivo central, que visa disciplinar o exercício do direito 
de resposta em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de 
comunicação. (BRASIL, 2015) 
Segundo entendimento do artigo mencionado, o direito de resposta só pode 
então ser reclamado perante as matérias que circulam por meio de uma comunicação 
social, como por exemplo rádios, jornais e televisão. Ou seja, não cabe o uso do direito 
de resposta para ofensas de cunho individual, como aquelas expostas em redes 
sociais, como Instagram ou Twitter. 
É importante lembrar, que como dispõe o artigo 3º da lei supracitada, a ação 
que reclamar este direito deve ser ajuizada no prazo decadencial de 60 dias, que 
serão contados a partir da data da publicação da ofensa. 
 
4.1.7 Liberdade de consciência, crença e culto 
 
Segundo dispõe o artigo 5º, VI, da Constituição Federal, “é inviolável a 
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” 
(BRASIL, 1988) 
A primeira parte deste artigo, nos remete a uma liberdade de pensamento, pois 
ninguém poderá ser diminuído simplesmente por ter uma crença que é diversa da 
maioria. Neste mesmo sentido, sendo um direito objetivo, o poder público deve agir 
de forma quem impeça lesão ao mesmo, tanto por parte do próprio Estado, quanto 
por particulares. 
A liberdade de consciência decorre da laicidade do Estado brasileiro. O Brasil 
é um Estado laico, leigo, não possuindo religião oficial. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
A afirmação acima encontra respaldo através do artigo 19, I, da Constituição, 
onde estabelece um distanciamento entre o Estado e a Igreja. Segundo este artigo, 
os entes federativos não podem se submeter a cultos religiosos sob nenhuma forma, 
apenas colaborar com a finalidade de interesse público, como determina a lei. 
 
30 
 
Pois bem, na segunda parte do artigo 5º, VI, nos deparamos com a preservação 
do direito do exercício dos cultos religiosos. Cabe apenas um detalhe, que como 
outros direitos fundamentais, este não se trata de um direito absoluto, de forma que 
não é permitido por exemplo sacrifícios humanos, ou também cerimônias com 
utilização de drogas. 
 
4.1.8 Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de 
comunicação. 
 
Este direito anda ao lado da liberdade de expressão, e é um dos direitos 
fundamentais mais importantes decorrente da dignidade da pessoa humana. 
As liberdades previstas no artigo 5º, IX da Constituição são: 
a) A liberdade intelectual, que se traduz na possibilidade que todo indíviduo tem 
de poder escrever um livro, uma dissertação, ou outro texto, sem que necessite de 
autorização. Contudo, não é um direito absoluto. 
b) A liberdade artística, que traz possibilidade da elaboração e exibição de 
filmes, música, entre outros. Este também não se trata de um direito absoluto. Não é 
possível fazer uma peça de teatro em que, toda noite, é morto alguém da plateia ou 
do elenco, ou que sejam difundidos conteúdos racistas etc. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
c) A liberdade científica. Apesar do que dispõe o artigo 218, § 2º da CF/88, que 
“a pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos 
problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e 
regional”, a carta magna assegura a liberdade científica para também outros fins. 
Assim, poderá o cientista pesquisar temas complexos, como a existência de 
vida fora da Terra, a existência de vida após a morte, a existência de Deus, as causas 
da homossexualidade etc. (NUNES JÚNIOR, 2017) 
d) e Liberdade de comunicação. O artigo 220 da CF/88, diz em seu caput, que 
“a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer 
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto 
nesta Constituição”. (BRASIL, 1988) 
 
 
31 
 
4.1.9 Intimidade e vida privada 
 
Exposto no artigo 5º, X da Constituição, este disposto traz na verdade quatro 
direitos tutelados. O disposto diz que é inviolável a intimidade, a vida privada, a honra 
e a imagem das pessoas, e ainda assegurado o direito a indenização por dano 
material ou moral que seja decorrente de sua violação. 
Sobre a intimidade e a vida privada, são duas nomenclaturas que a princípio 
podem se confundir. De fato, são dois institutos que defendem o mesmo direito, a 
privacidade do sujeito. 
No entendimento de Nunes, a intimidade se encontra no interior do direito à 
vida privada, e corresponde às relações mais íntimas da pessoa e até mesmo a 
integridade corporal, não se admitindo as “intervenções corporais”. (NUNES JUNIOR, 
2017) 
 
4.1.10 Inviolabilidade do domicílio 
 
Em acordo com o artigo 5º, XI, 1ª parte, da Constituição Federal, “a casa é asilo 
inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do 
morador...”. (BRASIL, 1988). 
E o que devemos entender por casa? Segundo a doutrina e a jurisprudência, 
“casa” abrange não só o domicílio, mas também o escritório, oficinas, garagens etc. 
ou, até, os quartos de hotéis. (LENZA, 2021) 
As únicas hipóteses em que se pode adentrar na casa de alguém, sem o 
consentimento do morador, é através de determinação judicial, e em caso de flagrante 
delito, desastre, ou para prestar socorro. 
Da mesma maneira que os outros direitos fundamentais citados acima, a 
inviolabilidade domiciliar não é absoluta. Além das hipóteses citadas acima, a lei 
também pode impor algumas restrições a este direito. Como exemplo podemos citar 
a Lei de nº 13.301/2016, a conhecida "Lei do Mosquito", que permite o ingresso tanto 
em imóveis públicos, como em particulares, em casos de abandono ou outro motivo 
 
32 
 
que impeça o acesso do agente público quando se fizer necessário para a contenção 
das doenças. (BRASIL, 2016) 
Ainda acerca sobre a inviolabilidade do domicílio, o Estatuto da Ordem dos 
Advogados do Brasil, por meio de seu artigo 7º, § 6º, juntamente com a Lei de nº 
11.767/2008, determina que: 
 
“presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por 
parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar 
a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, 
em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, 
específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de 
representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a 
utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a 
clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos 
de trabalho que contenham informações sobre clientes” (BRASIL, 
2008) 
 
Contudo,a lei determina também que é essencial a presença de um 
representante da OAB durante a execução do mandado. Porém, o Supremo Tribunal 
da Justiça já se manifestou que a ausência do mesmo não acarreta nulidade do ato. 
 
4.1.11 Inviolabilidade das Comunicações 
 
Seguimento do direito à intimidade, o artigo 5º XII diz que é inviolável o sigilo 
da correspondência e das comunicações telegráficas, dos dados e das comunicações 
telefônicas, salvo em algumas situações, como por exemplo através de ordem judicial. 
Portanto, dentro de um mesmo artigo, temos a preservação de quatro tipos de 
comunicação. 
A primeira delas, se trata do sigilo de correspondência, que é inviolável, salvo 
em casos de estado de defesa e de sítio. Este direito não é absoluto, uma vez que em 
algumas circunstâncias pode ser quebrado, como por exemplo a interceptação de 
uma carta enviada por sequestradores. Neste caso, a suposta prova ilícita convalida-
se em razão do exercício da legítima defesa. (LENZA, 2021) 
A segunda comunicação, se trata das telegráficas. Da mesma forma que a 
interior, só poderá ser restringida em casos de decretação de estado de defesa e de 
sítio. 
 
33 
 
Já o Sigilo bancário, está atualmente regulado pela Lei Complementar de nº 
105 de 2001, que trata sobre o sigilo das operações de instituições financeiras. O 
artigo 6º da referida lei, dá permissão para que os agentes dos entes federativos 
examinem documentos, livros e registros das instituições financeiras, sempre que 
houver processo administrativo instaurado ou procedimento que justifique a ação. 
Esta regra foi devidamente regulamentada pelo decreto 3.724 no ano de 2001, 
e ficou estabelecido que o procedimento de fiscalização só se fará mediante força de 
ordem específica, a qual chama-se Mandado de Procedimento Fiscal. 
Por fim, o sigilo das comunicações telefônicas. Esta, só poderá ser quebrada 
em casos que permitir a lei, ou em investigação criminal ou instrução processual penal. 
Acerca deste assunto, o STF se manifestou da seguinte forma: 
 
“Prova emprestada. Dados obtidos em interceptação de comunicações 
telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para 
produção de prova em investigação criminal ou em instrução 
processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo 
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às 
quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos 
teriam despontado a colheita dessa prova” (Inq. 2.424/RJ, rel. Min. 
Cezar Peluso, Tribunal Pleno, j. 26-11-2008). (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
 
Ou seja, a interceptação que estiver devidamente legal no processo penal, 
poderá ser também utilizada nos processos civis e administrativos, como uma espécie 
de prova emprestada. 
 
4.1.12 Liberdade de Profissão 
 
O direito de profissão se trata de uma norma constitucional que assegura a 
liberdade de qualquer trabalho ou profissão, bem como as qualificações que dela a lei 
estabelecer. Como um direito de eficácia contida, norma infraconstitucional pode 
limitar o seu alcance e complementar requisitos para o exercício da profissão. 
Como exemplo desta limitação, podemos citar a Lei 8.906/94, o Estatuto da 
OAB, que em seu artigo 8º, faz exigência da aprovação no Exame da ordem dos 
Advogados do Brasil, como condição para o exercício da advocacia. 
 
34 
 
Devemos lembrar, que a estas leis restritivas devem ser sempre proporcionais. 
O princípio da proporcionalidade deve ser aplicado, pois estabelece critérios para 
aferição da constitucionalidade da lei que restringe normas constitucionais: 
adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. (NUNES JÚNIOR, 
2019) 
4.1.13 Liberdade de Informação 
 
Por uma decorrência natural ao Estado Democrático de Direito e a República, 
todos os cidadãos tem direito ao conhecimento sobre os atos praticados pelo poder 
público. Este entendimento encontra respaldo no artigo 5º, XIV, da Constituição 
Federal, sendo: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo 
da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. (BRASIL, 1988) 
Assim como os direitos citados anteriormente, o direito de se informar e de ser 
informado não é absoluto. Em seu artigo 5º, XXXIII, é estabelecido uma regra de 
limitação, sendo: “[...] ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança 
da sociedade e do Estado”. (BRASIL, 1988) 
O direito à informação trata-se de um direito individual de primeira dimensão, 
ou seja, o estado tem o dever de não interferir na liberdade do indivíduo. 
A lei que regulamenta este direito é de nº 12.527/2011, sendo destinada a todos 
os órgãos públicos da administração direta e indireta, e também as entidades privadas 
sem fins lucrativos que recebem recursos públicos. 
Lenza diz que quanto maior for o sigilo, mais completas devem ser as 
justificativas para que, em nome da proteção da sociedade e do Estado, tais 
movimentações se realizem. (FACHIN, 2019, apud LENZA, 2021) 
 
4.1.14 Liberdade de Locomoção 
 
Este é um dos direitos que possuí mais longa data de vigência. De fato, há 
muitos anos já era reconhecido o direito de ir e vir. A Constituição de 1988 o consagrou 
em seu artigo 5º, XV, dizendo que “é livre a locomoção no território nacional em tempo 
 
35 
 
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele 
sair com seus bens”. (BRASIL, 1988) 
Trata-se de um direito relativo, e sua restrição está clara no mesmo artigo 
supracitado, onde faz ligação ao direito de locomoção em tempo de paz. Isto significa, 
que em tempos de guerra este direito poderá sofrer limitação. 
Não obstante, a própria Constituição já impõe sobre em que ocasião este fato 
pode acontecer, sendo: 
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no 
art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes 
medidas: 
I - obrigação de permanência em localidade determinada; 
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por 
crimes comuns; 
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo 
das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de 
imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; 
IV - suspensão da liberdade de reunião; 
V - busca e apreensão em domicílio; 
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; 
VII - requisição de bens. 
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de 
pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas 
Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. (BRASIL, 1988) 
 
 
Por fim, devemos apenas lembrar que existe a garantia constitucional do 
habeas corpus, que poderá ser aplicado sempre que alguém sofrer ou for ameaçado 
de sua liberdade de locomoção, por ato ilegal ou abuso de poder. 
 
4.1.15 Direito de reunião 
 
Este é um direito que se encontra vinculado à democracia e à liberdade de 
manifestação do pensamento. Sua previsão legal esta elencada no artigo 5º, XVI da 
Constituição, e diz basicamente que toda pessoa tem direito a reunir-se, de forma 
pacífica e sem armas, em locais públicos e abertos, desde que esta ação não cause 
frustação a outras reuniões que já se encontrem programadas. 
Embora seja um direito individual, o direito de reunião é assegurado a todos, e 
acontece de modo coletivo. 
 
36 
 
Não se trata de um direito absoluto, ademais, em observância ao próprio artigo 
que o define, já está embutido algumas limitações formais, devendo ser uma finalidade 
pacífica, sem armas, etc. Outro detalhe, é que estas reuniões podem acontecer 
independente de prévia autorização, ou seja, não é necessário autorização do poder 
público para tal ato. 
Antônio Francisco de Sousa, citado por Lenza, nos lembra que a liberdade de 
reunião e manifestação é um importante tema para o Estado Democrático de Direito, 
uma vez que através dele, o cidadão exprime livremente sua opinião,criticando e 
fazendo exigências com a finalidade de erguer sua voz contra a injustiça e a opressão. 
(SOUSA, 2009. apud. LENZA, 2021) 
 
4.1.16 Direito de associação 
 
A liberdade de associação, desde que para fins lícitos, é legal. Ninguém pode 
ser privado de associar-se, e uma vez que o sujeito opte por tal ação, estará livre para 
decidir se assim o mantém ou não. 
A criação de associações e de cooperativas na forma da lei, independem de 
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. Elas 
possuem autonomia para formular seus estatutos, e a única maneira de se dissolver 
compulsoriamente uma associação já constituída será mediante decisão judicial 
transitada em julgado, na hipótese de finalidade ilícita. (LENZA, 2021) 
Quanto a suspensão das atividades, deverá se fazer por meio de decisão 
judicial, e não necessita de aguardar o trânsito em julgado, podendo ser feito através 
de medida cautelar. Ainda relacionado ao processo, as entidades associativas têm 
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. 
 
4.1.17 Direito de propriedade 
 
 
37 
 
O direito de propriedade, assim como o direito de liberdade de locomoção é 
também um dos mais antigos tutelados. Como regra geral, este direito deverá atender 
à sua função social, em acordo com os artigos 182, § 2º, e 186 da CF/88. 
Este direito não é absoluto, uma vez que a propriedade pode ser desapropriada 
por necessidade ou utilidade pública. Neste caso, e desde em cumprimento da sua 
função social, será paga justa e prévia indenização em dinheiro. (BRASIL, 1988) 
Contudo, se a propriedade não estiver atendendo a sua função social, a 
desapropriação será como forma de sanção e paga por títulos da dívida pública. Em 
casos de desapropriação para fins agrários, será pago por títulos da dívida agrária. 
Em casos de desapropriação urbana, a desapropriação-sanção é a última 
medida, já que, primeiro, procede-se ao parcelamento ou edificação compulsórios e, 
em seguida, à imposição de IPTU progressivo no tempo, para, só então, passar-se à 
desapropriação-sanção. (LENZA, 2021) 
Sobre o cumprimento da função social, a Constituição diz que “a propriedade 
urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de 
ordenação da cidade expressas no plano diretor”. (BRASIL, 1988) 
Já a propriedade rural, para o cumprimento de sua função social, deverá 
atender os seguintes requisitos: 
a) o aproveitamento racional e adequado; 
b) a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a devida 
preservação do meio ambiente; 
c) o cumprimento das disposições que regulam as relações de trabalho; 
d) uma exploração que beneficie o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores. 
Apenas para ressaltar, não devemos confundir a requisição de propriedade que 
está prevista no artigo 5º, XXV, com a desapropriação de propriedade. 
Enquanto a desapropriação consiste em uma medida definitiva, a requisição 
trata-se de uma medida temporária e transitória, que será aplicada apenas em casos 
de iminente perigo público, como por exemplo em epidemias. Outra diferença é que a 
desapropriação, em regra, faz indenização previa e justa em dinheiro, já a requisição 
haverá indenização apenas se houver dano a propriedade. 
 
 
38 
 
4.1.18 Direito a propriedade intelectual 
 
Os incisos XXVII, XXVIII e XXIX garantem o direito de propriedade intelectual, 
pelo qual se constitui pela propriedade industrial e os direitos do autor. A Constituição 
define estes direitos da seguinte forma: 
a) aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou 
reprodução de suas obras, no qual ainda poder ser transmissível aos herdeiros pelo 
tempo que a lei fixar; 
b) A lei assegura a proteção às participações individuais em obras coletivas e 
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas, e 
também o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem 
ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações 
sindicais e associativas; 
c) a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para 
sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, 
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social 
e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. (BRASIL, 1988) 
 
4.1.19 Defesa do Consumidor 
 
O direito do consumidor teve sua primeira aparição na Constituição portuguesa 
de 1976. Atualmente, a Constituição de 1988 dispõe que o estado deve promover, em 
acordo com a lei, a defesa do consumidor. Trata-se, portanto, de uma norma 
constitucional que sua eficácia é limitada, uma vez que faz remissão à legislação 
infraconstitucional. 
Neste sentido, o que a lei consumerista faz é tornar explícitos, nas relações de 
consumo, os comandos constitucionais. Dentre eles destacam-se os Princípios 
Fundamentais da República, que norteiam todo o regime constitucional e os direitos e 
garantias fundamentais. (RIZZATTO NUNES, 2002. apud. NUNES JÚNIOR, 2021). 
 
39 
 
O direito brasileiro conceitua e regulamenta a relação do consumidor e do 
fornecedor através do Código de Defesa do Consumidor, Lei de nº 8.078 de 1990. 
Contudo, o Código Civil poderá ser aplicado de forma subsidiária. 
Cumpre salientar, que as leis do direito do consumidor não podem ser 
revogadas sem que haja a substituição por outras medidas. Nunes explica esta 
imposição, que a simples revogação significaria diminuir a eficácia da norma 
constitucional, retrocedendo na tutela dos direitos fundamentais, violando o princípio 
da proibição do retrocesso. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
4.1.20 Direito de petição e obtenção de certidões 
 
A Constituição garante a todos, independentemente do pagamento de taxas: 
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra 
ilegalidade ou abuso de poder; 
b) e a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e 
esclarecimento de situações de interesse pessoal. (BRASIL, 1988) 
Este direito se trata de uma decorrência da cidadania e do Estado Democrático 
de Direito e esteve presente em todas as Constituições brasileiras. 
 
Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de 
qualquer interessado – mesmo daqueles destituídos de personalidade 
jurídica –, com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as 
instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza 
pessoal quanto de significação coletiva. (NUNES JÚNIOR, 2019) 
 
 
Por fim, não se pode confundir o direito de petição, que não depende de 
capacidade postulatória, com o direito de ação, de demandar uma prestação 
jurisdicional, e que depende de capacidade postulatória. 
Após registrado o pedido, e não havendo sido atendido de forma ilegal ou por 
abuso de poder, o remédio cabível para reclamação é o mandado de segurança., uma 
vez que se trata de direito líquido e certo. 
 
 
 
40 
 
5 SEGURANÇA PÚBLICA 
De acordo com GLINA (2020), no Brasil, a segurança pública encontra-se 
prevista no preâmbulo e no artigo 144 da Constituição da República Federativa do 
Brasil, de 1988, em tripartição de direito, dever e responsabilidade, já direcionando a 
integração de todos e divisão de ônus para a consecução do fim visado. 
Este direito humano também tem base no artigo 5º, caput, que prevê 
expressamente a segurança como direito individual, e no artigo 6º, que prevê a 
segurança como direito social. 
Ambos exigem a responsabilidade de todos e o desempenho do dever estatal, 
inclusive com a prestação de serviço de segurança pública idôneo para a sua 
concretização, sendo insuficiente a omissão estatal e inadmissível a atuação 
desviada, insuficiente ou abusiva. 
A segurança pública que visa a garantia dos direitos humanos é direito, 
obrigação e responsabilidade

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