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Historia Moderna

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Prévia do material em texto

História ModernaHistória Moderna
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Bem vindo(a)!
Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo aos seus estudos sobre a História Moderna.
Nesta apostila você irá estudar assuntos e acontecimentos referentes a este período
da História. Só para constar, e lembrá-lo(a), a separação cronológica da ciência
histórica consiste em: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade
Contemporânea, a qual estamos presenciando. Portanto, a Idade Moderna sucede a
Idade Média e precede a Idade Contemporânea. Até os dias atuais há um debate
sobre quando se inicia o período Moderno e quando ele termina, no entanto, há o
consenso em algumas datas: a Queda de Constantinopla, em 1453, e a Revolução
Francesa, em 1789.
Mas, você pode se perguntar, por que estudar História Moderna? Neste período os
indivíduos produziram diversos avanços em várias áreas. Presenciamos o
nascimento da modernidade. Diversas instituições que até hoje existem foram
desenvolvidas e aperfeiçoadas na Idade Moderna: por exemplo, na política temos os
Estados Modernos, início dos estados nacionais, dos países e da burocracia política
que existe hoje. O Renascimento, o Iluminismo e a Reforma Protestante são o
conjunto de ideias e re�exões que irão colocar à prova muitos dos dogmas e ideias
hegemônicas da Idade Média, permitindo uma expansão do saber, da
racionalização, da espiritualidade e do intelecto humano, constituindo o nosso
modelo de pensamento até os dias atuais.
Os exemplos de algumas instituições citadas são os temas de estudo desta apostila.
Na Unidade I vamos conhecer sobre o Humanismo, Renascimento e o Estado
Moderno. O professor Herculanum Ghirello Pires explica como a leitura e o
renascimento dos clássicos, isto é, dos estudos dos antigos �lósofos greco-romanos
foi importante para a expansão das ideias e possibilidades de modelos de vida
diferentes, mais humanos, mais racionais. Essas novas formas de organização da
vida vão produzir novas formas de organização política: assim nasce o Estado
Moderno e o Mercantilismo.
Já na Unidade II você irá saber mais sobre a Reforma Protestante. O professor
Saulo Justiniano demonstra os principais aspectos das Transformações Religiosas
na Modernidade. Quais os impactos da reforma, não só no campo religioso, mas
também no social e político da Europa. Contextualizando-a com os aspectos sociais
e econômicos do �nal da Idade Média. E situando os diferentes tipos de reforma e
de religiosidade que surgiram do rompimento com a Igreja Católica.
Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do Iluminismo e a Emancipação
das Treze Colônias. O professor Willian Carlos Larini discorre inicialmente sobre os
conceitos iluministas que tiveram considerável preponderância no século XVIII e os
pensadores que as formularam. Relacionando-o ao processo de emancipação das
treze colônias inglesas que levaria a constituição dos Estados Unidos no século XVIII.
Neste tópico são abordados os diferentes acontecimentos, circunstâncias políticas e
econômicas que fariam os habitantes das 13 colônias inglesas na América
amotinaram-se em oposição a Grã-Bretanha e como se deu o êxito belicoso dos
colonos em relação à nação europeia.
Em nossa Unidade IV vamos �nalizar o conteúdo dessa disciplina com a Revolução
Francesa no �nal do século XVIII. O professor William Carlos Larini expõe a
conjuntura sociopolítica problemática da França antes do começo da insurreição
dos franceses que se opunham à monarquia e às camadas sociais que tinham
certas regalias. Assim como o período mais violento da Revolução Francesa, regido
principalmente por Maximilien de Robespierre, que levaria à morte por decapitação
vários franceses. É igualmente analisado neste tópico a etapa �nal do processo
revolucionário francês que possibilitaria a subida de Napoleão Bonaparte como
soberano.
Caro(a) aluno(a), desejamos bons estudos!
Sumário
Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que
você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da
unidade, assista ao vídeo de considerações �nais.
Unidade 1
Humanismo,
Renascimento e
Estado Moderno
Unidade 2
Transformações
Religiosas na
Modernidade
Unidade 3
O Iluminismo e
a Emancipação
das Treze
Colônias
Inglesas
Unidade 4
A Revolução
Francesa
Unidade 1
Humanismo,
Renascimento e Estado
Moderno
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Olá, caro(a) aluno(a). Nesta unidade você verá sobre Humanismo, Renascimento e
Estado Moderno. Eles são caracterizados por mudanças sociais e os primeiros
acontecimentos que traçam um hiato entre a Idade Média e a Idade Moderna. Antes
de mais nada, devemos lembrar que o período posterior à Antiguidade, conhecido
como a Idade Média (V – XV), teve uma longa duração, em quase mil anos de sua
dinâmica e queda apresentou diversos aspectos comuns em quase todos os séculos,
assim como, concomitantemente, ocorreram mudanças em sua estrutura. Na Baixa
Idade Média (XI – XV), o período medieval se viu em meio a mudanças rápidas, as
quais o poder político da Igreja não podia conter as alterações sociais, culturais, mas
principalmente as econômicas que passaram a se con�gurar, aos poucos, nas
condições que dariam forma ao Humanismo, Renascimento e o Estado Moderno.
Esses acontecimentos vão marcar a história e dar uma con�guração a novos modos
de vida e organização social. Tais acontecimentos e novas formas de vida irão
inaugurar um novo período, que denominamos de Idade Moderna. Alguns
historiadores atribuem o início desse período à queda da cidade de Constantinopla,
em 1453, até a Tomada da Bastilha durante a Revolução Francesa, em 1789.
Fato é que foi um período de intensa produção social, econômica e cultural, onde
sentimos a in�uência desses eventos até hoje: o Humanismo permitiu ao ser
humano se interrogar sobre o seu lugar na terra e os dogmas da Igreja; o
Renascimento foi um retorno aos clássicos, à �loso�a, a uma nova maneira de vida,
que permitiu um renascer social, comercial e cotidiano na Europa; e, por �m, o
Estado Moderno foi a instituição que promoveu a criação das nações, identidades
nacionais, o aperfeiçoamento da máquina burocrática estatal e organização social.
Portanto, sem eles, a concepção de vida que temos hoje provavelmente seria
diferente.
Plano de Estudo
Humanismo
Renascimento
Estado Moderno
Objetivos de Aprendizagem
Conceituar e contextualizar o
Humanismo, Renascimento e Estado
Moderno
Compreender a importância desses
acontecimentos para os dias de hoje
Estabelecer a importância
econômica, social, política e cultural
de ambos
Humanismo
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Podemos caracterizar o Humanismo em três principais aspectos:
antropocentrismo, racionalidade e o cienti�cismo. Esses aspectos só foram
possíveis graças a um retorno às obras clássicas de �loso�a e de literatura presentes
na antiguidade, na Grécia e em Roma. A partir da leitura dessas obras o ser humano
pode se distanciar cada vez mais dos dogmas da Igreja que tinham mais a função
de organizar a sociedade, pautada nas leis de tradição da Idade Média, do que uma
função espiritual.
Essas leituras não foram feitas de uma vez ou em um único período. Aos poucos, os
sábios do período medieval, principalmente monges da Igreja, foram tendo acesso a
esses manuscritos e confeccionando traduções deles. Podemos classi�car em dois
momentos: “O primeiro foi na época de Carlos Magno (747 - 814), quando autores
latinos foram muito lidos e copiados, inspirando fortemente a produção literária da
época carolíngia” (FUNARI, 2019, p. 10), principalmente para função educacional,
pedagógica (CHARLE; VERGER, 1996). O segundo, “no século XII, auge do medievo
houve novo retorno aos antigos, dessa vez com os aportes daliteratura grega, seja
de forma direta (vinda de Bizâncio), seja por meio da leitura das traduções árabes de
autores antigos” (FUNARI, 2019, p. 10).
 
E a queda de Constantinopla para os turcos, no século XV, acentuou a redescoberta
de textos gregos, pois nessas bibliotecas havia um manancial de manuscritos desses
sábios antigos. A partir daí, começam a surgir as inovações, invenções, e mudanças
que irão transformar a base do pensamento dos seres humanos e a sociedade
 
@wikimedia
E no mesmo século (XII), “esses
textos passaram a ser cada vez mais
procurados e difundiu-se, a partir da
Itália, a ideia de que eles
representavam algo diferente da
cultura contemporânea (do período):
eram a herança escrita dos antigos”
(GUARINELLO, 2018, p. 18). As
cruzadas aguçaram essa ebulição
europeia pelo saber, pois possibilitou
aos europeus o contato com os
árabes e o seu aparato intelectual.
Os árabes produziam traduções dos
antigos autores e sábios do mundo
grego. Por exemplo, Averrois (1126 -
1198), �lósofo árabe que teceu
comentários à obra de Aristóteles e
Platão, comentários que, em
seguida, foram usados na Europa e
por cristãos (LEVENE, 2013). 
Mas, essas leituras ainda �cavam sob
o conhecimento dos homens de
letras e sábios da época. Elas só vão
passar a ser do conhecimento de
todos, do povo, com o advento e a
divulgação da imprensa, no século
XIV. Assim, “os grandes livros do
‘mundo antigo’ foram reeditados e
voltaram à vida. Autores como
Homero, Virgílio, Aristóteles,
Plutarco, Tito Lívio, Tácito e muitos
outros  (GUARINELLO, 2018, p. 18)
passaram a fazer parte dos círculos e
discussões no oeste europeu. 
Antropocentrismo
O impacto dessas leituras veio com a noção de antropocentrismo, quando o
homem passa a se colocar no centro do mundo. Ele passa a ser a medida de todas
as coisas. Capaz de escolher o próprio destino. Agora, as perguntas partiam dele
para interpretar o seu ser, e não mais de um dogma, de Deus ou da Igreja. O homem
se tornará livre para pensar, mais uma vez, para fazer seus movimentos, suas
técnicas, e, de suma importância, a sua arte: o Homem Vitruviano de Da Vinci (�gura
que está no início desta seção) é um dos melhores exemplos do antropocentrismo
na arte e na sociedade.
Sendo o centro do mundo, ele consegue agora se perguntar sobre questões
relevantes a sua ocupação na sociedade. Questões que interpretem o ser humano,
não mais uma condição metafísica ou uma interpretação sobrenatural da vida. Para
alguns historiadores e psicólogos, é neste momento que nós temos a invenção do
psicológico (FIGUEIREDO, 2017), a emergência do indivíduo (DUBY, 2009)   e
aumento da individualidade e dos desejos e vontades pessoais de cada um. O
homem havia obtido sua liberdade.
Racionalidade e Cienti�cismo
Com o homem no centro do mundo e das atenções, as questões feitas sobre a
existência do ser humano passam a ter respostas baseadas na racionalidade e no
cienti�cismo, ao contrário da Idade Média, em que muitas interpretações sobre a
vida eram pautadas em dogmas e em forças metafísicas. Exemplo disso é Leonardo
da Vinci e seus estudos em diversos campos, na arte, na física, na geometria entre
outros.
@wikimedia
REFLITA
“Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”
- Sêneca
Em suma, uma interiorização maior,
daí o nome humanismo, nos
tornamos seres humanos capazes
de pensarmos sobre nós: nossas
ocupações, nossas emoções, nossos
sentimentos; criamos consciência
sobre nós e sobre os outros. Isso é
expresso na arte, como veremos. 
Portanto, podemos a�rmar que o
humanismo é um processo
intelectual e cultural que tem seu
início por volta do século VIII na
Europa medieval, com as primeiras
traduções de obras clássicas antigas,
que eclode no século XIV e XV. O
resultado da absorvição de todo esse
conhecimento são as mudanças nas
bases do pensamento e estímulos
que organizavam a sociedade
feudal, e que agora com essas
inovações, passam a organizar a
sociedade moderna. 
Renascimento
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
In�uenciados pela cultura humanista, os sábios do período interagem cada vez mais
com as obras clássicas. A Europa presencia um renascer da cultura e revalorização
da antiguidade entre os séculos XIV e XVI. Daí vem a origem do nome
Renascimento. Esse movimento artístico e cientí�co foi in�uenciado pelo
humanismo e eclodiu na Itália, em suas agitadas cidades comerciais: Milão, Gênova,
Pisa e Veneza. A obra A Criação de Adão (desenho apresentado), de Michelangelo, é
um exemplo do pensamento humanista: agora no centro do universo, o homem
passa a (quase) tocar as mãos de Deus, do criador.
Essas cidades mantinham rotas comerciais com o oriente. Como já explicado na
seção anterior, os árabes foram responsáveis por muitas traduções de textos
clássicos. Portanto, desse intenso contato entre ambos surgem novas técnicas,
processos e invenções. O resultado disso se vê na arte e na arquitetura do
renascimento.
A Perspectiva na Arte
De acordo com o historiador alemão Hans Belting (2012), os árabes, sem estarem
submetidos aos dogmas da Igreja, encontram um terreno fértil para o
aperfeiçoamento da matemática, geometria e astronomia. Ainda segundo Belting
(2012), outra justi�cativa para o avanço nos estudos árabes, que também tem a ver
com a religião, é o fato de que eles encaravam esses estudos como uma forma de
glori�car a Alá. Dessa forma, adoravam a Alá por meio da matemática, geometria,
física, isso possibilitou os enormes avanços nesses campos.
De acordo com o historiador alemão Hans Belting (2012), os árabes, sem estarem
submetidos aos dogmas da Igreja, encontram um terreno fértil para o
aperfeiçoamento da matemática, geometria e astronomia. Ainda segundo Belting
(2012), outra justi�cativa para o avanço nos estudos árabes, que também tem a ver
com a religião, é o fato de que eles encaravam esses estudos como uma forma de
glori�car a Alá. Dessa forma, adoravam a Alá por meio da matemática, geometria,
física, isso possibilitou os enormes avanços nesses campos.
Um dos estudos árabes mais profícuos e frutíferos foram os estudos sobre a
perspectiva. Para eles, não era possível prestar objetividade ou duplicar uma
representação física, isso era como se fosse um pecado. Alhacén (965 - 1040),
revolucionou a ótica antiga com a câmera escura, uma espécie de aparelho óptico,
uma caixa escura, que consiste no recebimento de luz e reprodução de uma
imagem, através dessa câmera e desses estudos Alhacén escreve seu tratado,
conhecido como perspectiva (BELTING, 2012).
Pode parecer que não, mas quando essa perspectiva veio para o ocidente, para
Florença, isso revolucionou a arte e a maneira de pensar dos renascentistas. Com a
perspectiva era possível produzir desenhos antes impensáveis. Era capaz de
produzir construções antes impensáveis. E da imagem, da arte, para sua dimensão
cultural, a perspectiva muda o pensamento. Um salto quântico que moveu seu
olhar para a imagem, como para o sujeito que a olha (BELTING, 2012). Ela, a
perspectiva, permite um dos aspectos centrais do antropocentrismo, a visão de si
como a visão do outro. Para Hans Belting (2012), tanto o humanismo quanto o
renascimento só foram possíveis com o advento da perspectiva.
Daí, nas cidades italianas, surgia a �gura dos mecenas, “burgueses ricos que
buscavam projeção social ao �nalizar e viabilizar a produção artística na região”
(ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 192). Isso possibilitou o desenvolvimento da arte
renascentista, pois esses ricos comerciantes encomendavam obras e esculturas dos
artistas, como também construção de grandes obras, como palácios e
monumentos. Até hoje, a representação do ser humano, referencial de estética, do
realismo, tem sua referência na arte renascentista, como, por exemplo, as obras de
Caravaggio (1571 - 1610).
Revolução Cientí�ca
A racionalidade característica do humanismo provocará uma revolução cientí�ca
durante o renascimento. “Entre os séculos XVI e XVII, uma série de descobertas,experiências cientí�cas e re�exões �losó�cas mudou radicalmente a maneira como
as pessoas viam a natureza e o conhecimento” (ALVES; OLIVEIRA, 2016). O diferencial
dessas descobertas era que elas eram produzidas de maneira empírica: através da
observação e de uma possível experimentação. Ao contrário dos dogmas da Igreja.
Essas descobertas formam o início da ciência moderna. Podemos citar alguns
exemplos dessas: o heliocentrismo, teoria que argumenta que a Terra gira em torno
do Sol, em contrapartida ao geocentrismo, teoria defendida pela Igreja, em que a
Terra seria o centro do universo. Foi em 1543 que o “astrônomo e matemático
polonês Nicolau Copérnico Sobre a revolução dos orbes celestes, com base em
cálculos matemáticos e observações astronômicas” (ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 193).
Com o italiano Galileu Galilei, no século XVII, esses cálculos de Copérnico puderam
ser provados de forma empírica. Isso porque Galileu aperfeiçoou o telescópio. “Com
o uso do telescópio, o alemão Johannes Kepler, na mesma época, descobriu que os
planetas se moviam em torno do Sol, em órbitas elípticas, e não circulares, e que sua
velocidade era proporcional a sua distância em relação ao Sol” (ALVES; OLIVEIRA,
2016, p. 193).
Na educação essas mudanças foram sentidas: “no Renascimento, con�gurou-se um
ideal de homem, completo, multifacetado, cujo objetivo era desenvolver
harmonicamente todas as facetas da sua personalidade. Esse homem universal
deveria ter cultura e erudição” (ALVES; OLIVEIRA, 2016, p. 191).
As Grandes Navegações
Um dos maiores re�exos dessas inovações tecnológicas foi a possibilidade de
navegar em alto mar. Os portugueses foram os primeiros a conseguir essa proeza.
Em 1415, conquistam a cidade de Ceuta, no norte da África. Ainda era uma pequena
rota, mas inaugura o período das Grandes Navegações.
Mais tarde, e por alguns motivos – como domínio do comércio mediterrâneo pelos
sagazes venezianos e genoveses (DE LEMPS, 2015) e o monopólio de produção dos
árabes em relação a esses produtos (como açúcar, canela e cravo) –, tanto os
portugueses quanto os espanhóis “desejavam encontrar um caminho alternativo
para as Índias, visando, principalmente, ao comércio de especiarias, até então
dominado pelos venezianos, afetando diretamente seus concorrentes italianos”
(MAGALHÃES, 1997, p. 193), que desde o século XIV, também passaram a apoiar e
�nanciar pesquisas e viagens ibéricas.
Neste sentido, com as Grandes Navegações e a descoberta das Índias Ocidentais, no
século XV, os europeus acabam criando laços comerciais e expandindo seu poderio
comercial ao Novo Mundo. Com a América, vieram também alguns produtos que
passaram a ser, e a oferecer, uma simbologia de distinção ao cardápio e usos dos
europeus, como o tabaco e o cacau. Logo, esse espaço recém colonizado começou a
@artista em freepik
Grande parte dos insumos, sejam
vindos do além mar ou do Oriente
Próximo e suas regiões fronteiriças,
além de servirem às mesas, aos
hábitos e usos dos europeus,
também serviam como elemento de
diferenciação social. Dessa forma, a
busca por esses artigos, seja pela
combinação de seus valores sociais
ou econômicos, passa a ser cada vez
maior. “No mundo dos ricos, porém,
a quantidade não é tudo. O
re�namento do preparo das
comidas, exóticas ou estranhas, é
acompanhado, na maior parte das
vezes, por verdadeiras arquiteturas
culinárias” (CALANCA, 2008, p. 108). 
Assim, “muitos bons historiadores
consideraram a cozinha que utilizava
a especiaria como uma forma de
distinção social” (FLANDRIN, 2015, p.
479). 
servir para atender à demanda do Velho Mundo por tais produtos. “A partir do século
XVI, mercadores, empreendedores e colonos europeus organizam no Novo Mundo
economias agrícolas orientadas para a satisfação de uma demanda crescente de
gêneros de consumo tropicais” (CALANCA, 2008, p. 108). Tais produtos iriam
corresponder às vontades e desejos da aristocracia e de parte da burguesia
europeia. Essas mercadorias passaram a ser incorporadas no dia a dia, nos usos
cotidianos dos europeus.
Em suma, temos que ter em mente, que foi um momento de ebulição e inovação
cientí�ca, diretamente ligado ao humanismo e ao antropocentrismo, do homem no
centro do mundo. Possibilitando um renascimento da cultura clássica na Europa,
provocando mudanças na organização social. Possibilitando uma civilização do
Renascimento (DELUMEAU, 1983).
REFLITA
“O objetivo mais alto do artista consiste em exprimir na �sionomia e nos
movimentos do corpo as paixões da alma”
- Leonardo da Vinci
Estado Moderno
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Podemos a�rmar que o Humanismo e o Renascimento foram processos que
classi�camos como sendo parte das mudanças na sociedade obtidas no campo da
cultura, do social, da mentalidade e do conhecimento. Já o Estado Moderno seria o
impacto dessas mudanças, mas voltado para o campo político e econômico do
período: podemos de�ni-lo como sendo a junção do rei com os comerciantes, a
burguesia nascente.
@artista em freepik
Por volta do século XI, no início da
Baixa Idade Média, a Europa
conhece um grande avanço
material, tecnológico e populacional.
O sistema trienal de plantio, o uso de
cavalos no arado e a charrua são
algumas delas. Mas, a “ética
paternalista cristã”, que era a
sociedade repartida em três ordens
(os que trabalham, os que guerreiam
e os que oram), em conjunto com as
ideias pertencentes a Igreja, não
permitiam que o lucro se colocasse
acima da caridade e das boas ações
(HUNT; SHERMAN, 2017). A usura,
que era a forma de empréstimo com
juros, não era permitida (LE GOFF,
2007). 
Mesmo, ainda, não priorizando o
lucro, essa melhora na produção
permite aos camponeses
comercializar o excedente. Poucos
eram os artefatos que precisavam
ser comprados, talvez sal e ferro
(HUBERMAN, 1980). As feiras
começam a surgir nos extraburgos
das cidades. Pois ali os mercadores
paravam para descansar e se
abastecer também. Primeiramente,
feiras semanais de troca de
excedente. Depois, grandes feiras
anuais. Passa a surgir a �gura do
comerciante e mercador. 
A Figura do Mercador e o
Consumo
Esses mercadores e comerciantes se instalam nesses extraburgos e por ali se
mantêm. As cidades começam a se tornar palco das vendas e das trocas, onde “se
concentra também os prazeres, os da festa, o dos diálogos na rua” (LE GOFF, 1998, p.
25). Fora dos burgos, a vida se torna mais �uida e dinâmica. A política do
arrendamento de terras, imposta pelos senhores feudais e pelo rei, da qual o
imposto pago pelos camponeses a esses senhores por meio das banalidades
(impostos medievais do senhor feudal sob os servos) e de uma taxa de sua produção
tem uma perda de efeito. Às margens da cidade, o dinheiro, por meio das moedas,
começa a deliberar um valor de troca.
A partir desse período, séculos XI e XII, as relações comerciais estáticas e de baixa
frequência começaram a se desenvolver. Um dos principais motivos para essa
mudança econômica medieval foi a realização das cruzadas e aumento
demográ�co da Europa no século X. As cruzadas desempenharam papel crucial no
surgimento do mercador, pois muitos europeus se lançaram em território oriental
para combater os muçulmanos e reconquistar a Terra Santa, com o objetivo, em
geral, de conquistas terras, riqueza e títulos e a remissão dos pecados e garantia de
salvação por parte da Igreja.
Todavia, ao �m de cada cruzada os soldados que voltavam almejavam o luxo e
requinte do oriente, as especiarias necessárias na preparação de alimentos mais
saborosos, adornos �nos, seda, entre outras mercadorias orientais que interessavam
aos ocidentais. Desse modo, e com excedente de produção agrícola, os séculos XI e
XII são marcados pela realização de feiras locais, geralmente anuais em centros
maiores, e semanais em localidades pequenas. Tendo um aumento considerável do
consumo.
Com o aumento da demanda de mercadorias, as feiras semanais, assim como as
anuais, passaram a ser realizadas com maior frequência. Asfeiras anuais que
duravam alguns meses, agora duravam permanentemente o ano todo, as semanais,
de dois dias na semana, realizaram-se quase durante a semana inteira. Existiam leis
próprias das feiras, tribunais especí�cos, até policiamento exclusivo para essas
eventualidades, se ocorressem con�itos nestas, eram seus policiais que levavam os
sujeitos em con�ito ao tribunal da feira, para serem julgados com suas próprias leis.
Os senhores feudais, inicialmente, não viam nas feiras algo prejudicial ao seu poder,
pelo contrário elas rendiam muito para estes. Dessa maneira, eles ofereciam aos
comerciantes alguns privilégios para comercializar no feudo/cidade sob seu
domínio. Eram ofertados aos comerciantes proteção em caso de saque, baixas ou
nenhuma taxa de transporte pelas vias comerciais, e pequenos impostos populares
entre comerciantes, os quais eram julgados justos. Mas, apesar da garantia de
passagem livre para comercializar, ocorriam furtos, tanto por senhores feudais,
quanto por ladrões comuns.
Diante das di�culdades encontradas pelos comerciantes, aos poucos, eles se
organizaram em guildas (espécie de corporações de ofício), para assegurarem sua
segurança no transporte das mercadorias até as feiras, quando eles chegavam nelas,
permaneciam em grupos, conquistando negócios mais produtivos e lucrativos. Após
a formação das corporações de mercadores, estas ganharam força considerável
dentro das cidades, quem não pertencia a uma corporação não conseguia
comercializar com sucesso. Em algumas cidades, só era permitido aos que não
pertenciam a uma guilda comercializar, quando nenhum comerciante da guilda da
cidade comercializasse mais, ou seja, quem não pertencia a uma corporação tinha
maus negócios.
ATENÇÃO
O desenvolvimento das feiras foi o ponto inicial para a criação da �gura
do mercador, que viria a adquirir considerável autonomia nos séculos
seguintes. As feiras eram realizadas nos arredores da cidade. Estas
últimas tinham forti�cações circundando-as, denominadas como
burgos, em que os mercadores se instalavam para descansar de suas
viagens, adquirir provisões, entre outras necessidades. Com a realização
de feiras com maior frequência e consequentemente com o aumento
de comerciantes nos arredores dos burgos, instituiu-se os extraburgos,
aqueles que �cavam aquém dos burgos das cidades, seus habitantes,
os comerciantes, não tardaram a ser conhecidos como burgueses, os
que vivem nos burgos.
No decorrer das atividades comerciais das feiras, as cidades, concomitantemente
ampliaram-se, muitos camponeses viam nas cidades a oportunidade de libertação
das obrigações para com os senhores feudais, pois após um ano da estadia de um
camponês ou escravo nas cidades, sem que fosse feita nenhuma reclamação de sua
posse, o camponês ou escravo passaria a ser considerado um homem livre. Dessa
maneira, houve um êxodo rural em grande escala, aumentando a extensão das
cidades crescentes, proporcionando a estas artesãos e artistas, mestres sapateiros,
ferreiros, marceneiros e �adores, que viriam, posteriormente a se organizarem em
corporações, separadas pelas funções realizadas por cada artesão (HUBERMAN,
1980).
Os comerciantes passam a exercer grande in�uência política, conquistaram,
posteriormente, papéis políticos importantes no interior das cidades. Os primeiros
direitos conquistados entre os comerciantes foram os de livre comércio, taxas
comerciais reduzidas e proteções contra furtos, como já citado anteriormente. Mas
apenas essas conquistas não atendiam à demanda econômica crescente. Além
desse fator, consideremos que os comerciantes adquiriram muitos lucros com seus
negócios, ou seja, quem detinha o poder, quanto aos tesouros, eram eles, assim, eles
detinham o controle sobre a escolha de funcionários das cidades, quando não, os
próprios comerciantes assumiram os cargos públicos.
Os senhores feudais, acostumados com o poder absoluto sobre os feudos, tentaram
resistir à concessão de direitos aos comerciantes, todavia, as corporações já
dispunham de muita in�uência, e geralmente os próprios senhores feudais
dependiam das atividades comerciais dos mercadores, principalmente a respeito
das transações bancária e aquisição de moedas para a troca nas feiras. Nessa
perspectiva, o dinheiro, a moeda, passa a ter um grande valor na sociedade, ele
passa a ser cada vez mais requisitado e exercer valor de troca (compra e venda). Em
contrapartida ao valor da terra, que era de onde o senhor feudal obtinha seu poder.
Mas de que valia tanto a terra se ele não tinha dinheiro, que é, agora, o que passa
permear as relações sociais?
Nesse cenário, os senhores feudais passaram a ser “obrigados” a vender parte de
suas terras para os cidadãos com grandes posses, possibilitando aos proprietários
usufruírem da terra a seu gosto, podendo revender ela se desejasse. Assim, os
comerciantes que já dispunham de cargos políticos nas cidades, adquiriam o poder
sobre o uso da terra.
Assim, as corporações comerciais detinham grandes poderes, elas organizavam os
setores políticos das cidades, escolhiam funcionários de con�ança, ou assumiam os
postos seus próprios “associados”. Dessa maneira, o mercador passou a ser uma
�gura essencial no joguete político e econômico do novo Estado que se con�gurava,
a burguesia emergente, posteriormente junto com a �gura do rei, dominariam o
aparelho econômico e político europeu. As grandes famílias de banqueiros
assumiram os postos de grupos cada vez mais in�uentes e ricos do período, os
governantes, como reis, condes e senhores feudais necessitavam de seus
�nanciamentos para empreender guerras ou forti�car as defesas do reino, �cando
em dívida com essas famílias. O parlamento dos países e cidades passam a ter cada
vez mais in�uência desses mercadores. Assim, o mercador emergiu como �gura
crucial na dinâmica e estrutura do Estado Moderno: em suma, o rei entrava com o
aparato e o prestígio político e o mercado com as �nanças, economias.
A Corte
Essa busca pelo novo, pelo requinte, pelo belo, que leva a individualidade teve seu
protótipo nos primórdios das cortes e nos mosteiros, no século XII (DUBY, 2009)  . Lá,
nas cortes, também se inicia o jogo da sedução, o amor cortês, que leva a
competição e dessa forma um tenta produzir um efeito melhor que o outro, para
ganhar tal concurso de amor. Esse luxo, “obreiro infatigável do primeiro capitalismo
moderno, começaria exatamente com as cortes principescas do Ocidente de que a
corte pontifícia de Avignon foi o protótipo” (BRAUDEL  , 1970, p. 147).
De acordo com Norbert Elias (2011   a) houve uma mudança nos hábitos e nos
comportamentos desde o século XII: do protótipo das Cortes cavalheirescas que vão
civilizar as pessoas do feudo. No século XII já havia manuais que indicavam decoro
social, principalmente à mesa. Esse decoro sugeria o jeito de se sentar, pegar nos
talheres e de se portar. Comer e beber passa a designar distinção social, que envolve
requinte e luxo.
Esse processo civilizador modi�ca os gestos corporais, decoro social e o luxo, que
passam a ser as marcas da distinção entre a Corte, que era constituída por membros
da aristocracia, e a plebe, constituída pela população trabalhadora e a baixa
burguesia, que eram os burgueses mais pobres. Essa Corte passa a ser o mecanismo
de diálogo do rei com a aristocracia e a alta burguesia. Através dela, o rei fazia
acordos políticos: e em troca ofertava títulos e posições de prestígio social na
sociedade cortesã. De certa forma, a Corte funciona como uma ferramenta, um
aparato que auxiliava o rei nas decisões e tomadas políticas de acordo com o
interesse das partes envolvidas (ELIAS, 2001). Daí o tripé das instituições que dará a
estrutura política. Portanto, o ideal do rei, é o rei SOL
Nascimento do Estado
De acordo com Norbert Elias (2001), o Estado Moderno surge do interesse e da
negociação entre: rei, nobreza e burguesia. O rei representa a centralização do
poder político, tomada das decisões em conjunto com os interesses da aristocracia e
alta burguesia; a nobreza, composta por antigos senhores feudais,representa os
exércitos, a força militar, a princípio, ela cedia seus homens para o rei em tempos de
guerra; e a burguesia representava o  estado, ela �nanciava as guerras, expedições e
empreitadas econômicas do Estado.
Dessa junção de interesses nasce o Estado Moderno absolutista. O maior exemplo
de estado absolutista é Luís XIV (imagem no início da seção), que reinou entre 1643 a
171. Ficou conhecido como o Rei Sol, com sua famosa frase: “O Estado sou Eu”, que
indicava que acima dele não havia ninguém, apenas o Sol.
Mas o processo de uni�cação francês começa com Luís VI, no século XII, que,
lutando contra uns senhores feudais e negociando com outros, conseguiu
concentrar o poder em suas mãos e submetê-los ao seu mando. A partir daí seus
descendentes irão cada vez mais monopolizar a força e as decisões nas mãos do rei
(ELIAS, 2001).
No século XIV, na França, a cobrança de impostos passa a ser institucionalizada.
Segundo Phillipe Wolff (1986), esse momento é importante, pois o Estado passa a
adquirir feições próprias, se constituindo como uma instituição, obtendo recursos
para gerir seus interesses, como expedições para obter lucros e um exército próprio
para as guerras, não precisando mais dos empréstimos de senhores feudais.
O Mercantilismo
O mercantilismo é o modelo econômico do Estado Moderno. As decisões comerciais
eram tomadas pelo rei, isso signi�cava que a economia se mantinha atrelada a suas
vontades, assim como a as decisões políticas.
Metalismo é a crença na qual quanto mais ouro e prata uma nação possuísse, mais
rica ela seria. Com base nessa crença, procurava-se acumular metais preciosos no
país, também conhecido como bulionismo. Balança comercial favorável é o
princípio que vinha do metalismo. Veja por que: na época, o dinheiro era feito de
ouro e prata; assim, a forma de reter ouro e prata em um país era exportar o máximo
e importar o mínimo, mantendo-se, assim, a balança comercial favorável, em suma,
precisava exportar mais do que importar manufaturados
Protecionismo é o incentivo à indústria interna, ao comércio e à manufatura
nacionais, protegendo-os da concorrência estrangeira. Deste modo, havia o
aumento dos impostos sobre os produtos estrangeiros a �m de torná-los mais caros,
favorecendo os similares nacionais. E o exclusivo colonial consistia na obrigação
que a colônia tinha de comercializar exclusivamente com sua metrópole. Por
exemplo, os colonos do Brasil podiam comercializar apenas com Portugal, que era
sua metrópole (HUBERMAN, 1980).
SAIBA MAIS
Você sabia que os gregos e os romanos já pensavam de maneira
semelhante a nós? Na verdade, esse é o re�exo da in�uência que o
pensamento deles tem sobre os dias atuais: somos nós que pensamos
de maneira similar a eles. Prova disso, é que o �lósofo ateniense
Sócrates já �losofava sobre o que é o amor, em O Banquete, durante o
século IV a. C. E o �lósofo romano Sêneca já falava sobre ansiedade e
como ter uma vida plena em, Sobre a brevidade da vida, no século I a.C.
Ao olho nu, podemos pensar que essas questões só dizem respeito a
nós, nossa sociedade e aos dias atuais. Esse é um dos motivos do
porquê essas obras foram tão importantes para o humanismo e o
renascimento.
Fonte: JAEGER, Werner, 2013
SAIBA MAIS
Hoje em dia quando pensamos em ter uma pro�ssão, seguir um
trabalho para a vida, na maioria dos casos, pensamos em estudar e nos
especializar em uma área especí�ca. Não era assim no século XVI. Por
exemplo, você conseguiria enquadrar Leonardo da Vinci em uma única
pro�ssão? Naquele momento, o ideal era o homem completo, que
entendesse das diversas áreas, diversas artes: física, química, artes,
matemática, biologia e assim por diante. Quem dominasse mais áreas
do saber estava o mais perto de se tornar o homem completo
Fonte: ROSSI, Paolo. 1997
Caro(a) aluno(a), devemos ter em mente que qualquer conclusão de�nitiva é
precipitada. Até hoje os estudos históricos sobre a Idade Moderna estão avaliando e
reavaliando o impacto do Humanismo, Renascimento e Estado Moderno para a
humanidade ocidental. Mas podemos ter a certeza de a�rmar que essas instituições
estabeleceram novas formas de pensamento e organização social.
Não é à toa que a Idade Moderna leva esse nome: moderna. A modernidade surge
neste período. A individualidade, o pensamento cientí�co e a forma de organização e
política em que as sociedades ocidentais repousam hoje em dia, são in�uenciados
por essas instituições, esses acontecimentos desse período.
 
LEITURA COMPLEMENTAR
Para saber mais sobre o Estado Moderno:
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista: São Paulo: Brasiliense
Para saber mais sobre o mercantilismo:
DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1992.
Para saber mais sobre a cultura do Renascimento:
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Editora
Companhia das Letras, 2009.
Conclusão - Unidade 1
Livro
Filme
Unidade 2
Transformações Religiosas
na Modernidade
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Introdução
Olá, aluno(a). Seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da apostila de História
Moderna. Neste capítulo intitulado Transformações religiosas na modernidade,
estudaremos questões de extrema importância para se compreender as nuances do
período da História denominado Idade Moderna.
Iniciamos a unidade fazendo uma retrospectiva sobre as questões de produção na
Europa durante a baixa Idade Média e como o renascimento comercial e urbano
ocasionou uma crise sanitária do século XIV, conhecida como Peste Negra. Apesar
de ter sido responsável pela dizimação de 1/3 da Europa, a recuperação demográ�ca
da Peste foi tão rápida, que causou outra crise, a de abastecimento. A produção de
alimentos não acompanhou o crescimento populacional e isso causou fome, miséria
e medo.
Nesse contexto de medo, a Europa passou por grandes transformações na questão
religiosa que desembocaram na Reforma Protestante, em primeiro momento
liderado pelo monge agostiniano Martinho Lutero, mas que posteriormente foi
apropriado como instrumento político contra os interesses do papado pela nobreza
da época.
Após apresentar um pequeno per�l dos reformadores e suas principais
contribuições, no �nal da unidade traçamos os principais acontecimentos envoltos à
questão política da Europa após o impacto do surgimento do protestantismo e
como a Igreja Católica Apostólica Romana restabeleceu sua superioridade no
mundo moderno.
Bons estudos!
Plano de Estudo
Economia
As transformações religiosas na
Europa e a Reforma Protestante
A reforma luterana
A “reforma inglesa”
A reforma calvinista
Situação política na Europa pós-
reforma
A contrarreforma ou reforma
católica
Objetivos de Aprendizagem
Compreender as questões econômicas
em �nais da Idade Média e início da
Idade Moderna.
Conceituar as diferentes Reformas
Protestantes.
Entender a Reforma em seu aspecto
religioso, político e social.
Economia
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Os séculos que sucederam o XI foram, historicamente, conhecidos como Baixa Idade
Média, este momento em grande medida, é marcado pelos renascimentos urbano e
comercial e pelo surgimento de um novo segmento social, a burguesia.
É nesse período que as antigas relações de servidão no interior do feudo, pautadas
no ideal de Suserania e Vassalagem, dão lugar a uma vida mercantil e pujante,
marcada pela possibilidade de ascensão econômica.
Os centros urbanos se tornaram a encarnação dessas transformações históricas,
impulsionando o renascimento comercial possibilitado pelo desenvolvimento de
técnicas produtivas fortemente marcadas pelo uso do arado de rodas e da difusão
de moinhos de vento e hidráulicos (VAINFAS, 2010).
As cidades eram verdadeiros centros mercantis, o abrigo de marcadores, artesãos e
toda espécie de gente que buscava ascensão social, impossibilitado pela antiga vida
feudal. De fato, oar da cidade libertava.
Os anos que se seguiram contaram com um impressionante aumento demográ�co.
A população europeia ocidental, que, no início do século XI, contabilizava cerca de
22,1 milhões de habitantes, saltou para 25,8 milhões (FRANCO JUNIOR; ANDRADE
FILHO, 1993), um crescimento signi�cativo que não parou, chegando a 50% entre os
anos de 1200 a 1300. Os medievalistas Hilário Franco Júnior e Ruy de Oliveira
Andrade Filho nos mostram um crescimento populacional de 34,65 milhões de
habitantes no início do XIII para 50,33 milhões, cem anos depois (FRANCO JUNIOR;
ANDRADE FILHO, 1993).
De fato, o apogeu dessa nova realidade que se descortinava diante dos europeus,
encontrou seu auge no século XIV. As estruturas sociais que engatinhavam no início
da Baixa Idade Média encontraram maturidade no XIV, que já contava com uma
burguesia que se aliava a nobreza em suas pretensões mercantis, possibilitado pelo
comércio de longa distância que desenvolveu rotas de navegação entre o
mediterrâneo e o mar negro, chegando a Constantinopla, principal acesso as
especiarias do Oriente.
Além desse pujante desenvolvimento comercial e crescimento demográ�co, o início
do XIV fora marcado pelas chuvas intensas, as quais ocasionaram perda signi�cativa
na produção alimentícia. Tais fatores elevaram, consideravelmente, o preço dos
alimentos básicos da dieta do homem medieval, como o trigo utilizado na
fabricação de pães.
Não havia oferta para suprir a imensa demanda de citadinos e camponeses
famintos, por isso, os anos de 1315 a 1317 são, historicamente, lembrados como os
anos da “grande fome” (VAINFAS, 2010), que conferiu aos que sobreviveram
enfraquecimento e baixa imunidade contra toda sorte de moléstias que pudessem
vir a atacar.
A principal moléstia desse tempo, sem dúvida, foi a Peste Negra, que dizimou parte
da população europeia daquele tempo. O comércio com o Oriente, marcado,
principalmente, pelas rotas que ligavam o Mediterrâneo ao Mar Negro,
possivelmente tenha sido o propulsor deste evento. Acredita-se que “embarcações
originárias de entrepostos comerciais genoveses no mar negro tenha trazido o mal
para a Europa” (VAINFAS, 2010, p. 143). A única certeza é que a Peste seguia as rotas
comerciais europeias, chegando a se alastrar por todo continente ainda na primeira
metade do XIV.
A contabilidade convencional sobre a Peste Negra aponta para a perda de um terço
da população europeia. A população inglesa, por exemplo, estimada em 3,7 milhões
de habitantes em 1348, caiu de forma drástica para 2,25 milhões trinta anos depois
(VAINFAS, 2010). A Peste, atenuada por curtos intervalos, prosseguiu implacável
adentrando o século XV.
Figura 1 - Homem e mulheres com a peste bubônica com seus bubões
característicos em seus corpos, pintura medieval de uma Bíblia em língua alemã
de 1411 de Toggenburg, Suíça.
Fonte: wikipedia
O crescimento demográ�co foi retomado em meados do século XV, no entanto,
ainda se via os ecos da Peste por muito tempo. A vida na Europa voltou a se
recuperar a partir da segunda metade do século XV, como mostra-nos Tom Scott
(2009, p. 18), no capítulo dedicado à Economia, na obra O Século XVI, que:
Até 1470, a vida econômica da Europa Ocidental tenha sido dominada
por fatores que determinavam uma contração, tendo como aspecto
principal o catastró�co declínio demográ�co da segunda metade do
século XIV, cuja recuperação não começou antes da segunda metade
do século XV, na melhor das hipóteses.
Como atestado por Scott (2009), a população europeia voltou a crescer durante os
períodos de calmaria da Peste, chamados de calmaria porque ainda era possível ver
alguns surtos da moléstia até meados do século XVI.
A volta do crescimento populacional ocorrida na segunda metade do XV trouxe um
saldo impressionante, segundo Jan de Vries (apud SCOTT, 2009, p. 36), de “60,9
milhões de habitantes na Europa em 1500”, no entanto, esse rápido crescimento
populacional gerou outro grande problema, a chamada Revolução dos Preços
(CAMERON, 2009).
Os anos �nais do século XV foram marcados pela escassez das terras produtivas e,
consequentemente, pelo abastecimento de alimentos que não acompanharam,
com a mesma agilidade, as transformações demográ�cas do continente, com isso,
houve um desequilíbrio entre população e recursos.
Esse desequilíbrio trouxe um aumento considerável no preço dos mais diversos
gêneros alimentícios, gerando uma grande segregação e desigualdade, dando
origem a uma massa de esfomeados, que, muitas vezes, mesmo trabalhando, não
conseguiam fazer com que os seus salários acompanhassem a alta dos preços
(SCOTT, 2009).
O que se podia observar era um crescente número de indigentes nas cidades que se
viam apegados à religiosidade como única forma de salvação, esperando dos céus a
ajuda que os tiraria daquele sofrimento.
As Transformações
Religiosas na Europa e a
Reforma Protestante
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Todos os fatos e acontecimentos, econômicos, políticos e territoriais, �zeram com
que o início da Idade Moderna fosse um período marcado também por agitações no
campo religioso. Enquanto a Idade Média foi marcada, em grande medida, pelo
poder centralizador da Igreja, detentora o�cial da religiosidade cristã, a
modernidade trouxe uma crise desses valores. Se no início do século XVI todos, ou
grande parte, dos europeus se sentiam participantes de uma única igreja que era
universal (CAMERON, 2009), na segunda metade deste mesmo século, pelo menos
três ramos a mais de pretensos cristianismos se estabeleceram no cenário europeu.
A reforma protestante empreendida por Lutero e seus seguidores coroou um
período de intensas transformações na cristandade ocidental, visto que a Igreja
Católica dos tempos modernos não tinha mais o mesmo vigor que a marcou
durante a Idade Média, quando foi conhecida como a grande senhora feudal.
O mundo em transformação era, em grande medida, consequência das alianças
entre monarcas e burgueses, que possibilitaram o surgimento de uma nova política
pouco dependente dos interesses da Igreja, a historiogra�a convencionou chamá-
los Estados Nacionais Modernos. Nos Estados Modernos, o monarca era o próprio
representante de Deus na terra, como a�rma o padre Jacques Bossuet, na França do
século XVI, minimizando o poder da Igreja e separando a Monarquia da Instituição
Igreja Católica, mas não do cristianismo que dava legitimidade às suas ações.
Podemos apontar outras questões que contribuíram para a crise da cristandade
como o cenário de profunda desesperança, marcado ainda pelos estragos
ocasionados pela moléstia da Peste Negra e a maneira como parte dos religiosos
viviam nesse contexto. Destacarei brevemente três papas que viveram entre o �nal
do século XV e início do século XVI.
Bórgia, apesar de homem da Igreja, teve ao menos quatro �lhos e usava os recursos
da Igreja para sustentá-los. Os mais famosos foram César e Lucrécia, o primeiro, tem
papel importante na história da �loso�a-política moderna, pois a famosa obra “O
Príncipe” escrita Nicolau Maquiavel foi baseada em sua postura “violenta e
inescrupulosa” (BOWN, 2013, p. 136).
Figura 2: Rodrigo Bórgia - Papa Alexandre VI | Fonte:
wikipedia
O primeiro que vamos retratar é o
aragonês Rodrigo Bórgia, arcebispo
de Valência, que se tornou Papa em
1492, com o nome de Alexandre VI,
ou Papa Bórgia, como foi chamado
por seus contemporâneos. Os
Bórgias era uma família nobre e rica
do meio rural na Espanha medieval,
que teve seu apogeu marcado pela
eleição de Alonso Bórgia, tio
materno de Rodrigo, ao papado em
1455, como o nome de Papa Calisto
III. A carreira eclesiástica de Rodrigo
se iniciou em 1456, quando seu tio o
tornou cardeal, estudou Direito na
faculdade de Bolonha, terminando o
curso em apenas um ano, diferente
dos cinco convencionais, sendo
acusado de ter comprado o diploma
(BOWN, 2013).
Rodrigo era um exímio político e
muito competente nos negócios,
fazendo aumentar ano após ano sua
fortuna, como nos relataStephen
Bown (2013, p. 135): “Em 1490, dizia-se
que Bórgia tinha mais ouro que
todos os demais cardeais somados”.
Suas habilidades �zeram com que
Pio II o ordenasse vice-chanceler, um
cargo de suma importância que só
estava abaixo do Papa. 
No famoso Palazzo Bórgia, como �cou conhecida sua mansão, eram realizadas
festas suntuosas, com banquetes, bailes e jantares marcados por talheres de ouro,
iguarias e dançarinas exóticas (BOWN, 2013). Apesar de uma amante o�cial, digo
amante porque já era vedado o direito de um clérigo se casar, Rodrigo mantinha
tantas outras, com os mesmos luxos que rodeavam seu palácio em Roma.
Em 1492, após a morte de Inocêncio VIII, Rodrigo por meio de muito ouro, que
possibilitou in�ndáveis compras de votos, se elegeu Papa, com o nome, como já
citado, de Alexandre VI. Uma das primeiras ações de Alexandre foi a nomeação de
César, seu �lho, apesar das características já destacadas, a Cardeal Arcebispo de
Valência, posto que �cara vago após sua eleição ao papado. 
Ser Papa não fez mudar a postura de Rodrigo, levando para o Vaticano suas famosas
festas e orgias. Um mestre de cerimônia escreveu em seu diário, em 30 de outubro
de 1501, que:
Figura 3: Palazzo Bórgia - Roma, Itália
Fonte. wikipedia
[...] cinquenta prostitutas divertiram Alexandre, César, Lucrécia e seu
séquito. “As mulheres depois do banquete, dançaram nuas. Em uma
dança, elas tinham de correr nuas entre as velas acesas e apanhar
nozes no chão”. Alexandre e Lucrécia, depois de assistir à dança das
participantes nuas, distribuíram prêmios de roupas de seda aos
servidores do Vaticano que tivessem mantido o maior número de
relações carnais com as cortesãs (BOWN, 2013, p. 136).
Ainda como Papa, leiloou diversos cargos da administração eclesiástica entre as
grandes famílias burguesas da Itália e deixava aos cuidados de Lucrécia, sua �lha,
“com quem se diz que Alexandre teve ligações incestuosas” (BOWN, 2013, p. 136), os
negócios da Igreja quando estava fora de Roma. Conta-se ainda que o Papa Bórgia
“mandou prender, executar e envenenar vários de seus colegas, ou suborno e pilhou
as propriedades de outros” (BOWN, 2013, p. 137).
Alexandre VI morreu em 1503 aos 72 anos de idade. Não se sabe exatamente o
motivo de sua morte, para alguns por conta da malária (BOWN, 2013), doença
comum em Roma nesta época, para outros por acidente, pois tomou o veneno que
era destinado a outra pessoa (DREHER, 2007). Após a morte de Alexandre, assumiu o
papado Francesco Todeschini-Piccolomini, como Pio III, que não permitiu “a
tradicional missa no funeral do antecessor, alegando: ‘É blasfêmia rezar pelos
condenados’” (BOWL, 2013, p. 148).
Rodrigo tinha muitos inimigos dentro e fora da Igreja, o mais famoso foi Giuliano
della Rovere, cardeal arcebispo de Avinhão. No entanto, é importante esclarecer que
sua oposição à Bórgia não se fazia pelos métodos empregados pelo Papa, mas pela
ambição que tinha de assumir o cargo.
A Igreja, sob liderança de Júlio II, assumiu características bélicas, para ele “a salvação
da Igreja estava na política e na guerra” (DREHER, 2017, p. 187). Ficou marcado nos
anais da História como o Terrível, pois agia mais como um chefe político e militar do
que um líder religioso. Sob seu comando a Igreja aumentou os territórios dos
estados pontifícios, ou seja, estados que estavam sob controle da Igreja, destruiu a
Basílica de São Pedro e iniciou a construção da atual.
Júlio II morreu em 1513, passando o centro de Roma para o cardeal Giovanni de
Médicis, que se tornou Papa, assumindo o título de Leão X.
Leão X, diferente de seus antecessores, foi um papa ligado às questões intelectuais
que circundavam a Península Itálica de seu tempo, era um defensor do Humanismo,
altamente letrado e comprometido com o desenvolvimento da cultura
Figura 4: Pio III | Fonte. wikipedia
O ponti�cado de Pio III foi
brevíssimo, tendo durado apenas 27
dias, neste mesmo ano foi eleito pelo
colégio dos cardeais Giuliano della
Rovere como Papa Júlio II. Assim
como Alexandre VI, seu cargo foi
comprado com muito ouro. 
A Igreja, sob liderança de Júlio II,
assumiu características bélicas, para
ele “a salvação da Igreja estava na
política e na guerra” (DREHER, 2017,
p. 187). Ficou marcado nos anais da
História como o Terrível, pois agia
mais como um chefe político e
militar do que um líder religioso. Sob
seu comando a Igreja aumentou os
territórios dos estados pontifícios, ou
seja, estados que estavam sob
controle da Igreja, destruiu a Basílica
de São Pedro e iniciou a construção
da atual. 
O ponti�cado de Pio III foi
brevíssimo, tendo durado apenas 27
dias, neste mesmo ano foi eleito pelo
colégio dos cardeais Giuliano della
Rovere como Papa Júlio II. Assim
como Alexandre VI, seu cargo foi
comprado com muito ouro. 
renascentista. Depois da eleição, quando foi assumir de�nitivamente o ponti�cado,
fez uma grande procissão pelas ruas de Roma e estendeu uma grande faixa, onde
podia ser lido: “Outrora governou Vênus, depois Marte; agora Palas Atenas detém o
cetro” (DREHER, 2007, p. 187). Explicando a faixa, Martin Norberto Dreher (2007)
escreveu:
Com Vênus fazia-se referência a Alexandre VI, com Marte a Júlio II, com
Palas Atenas saudava-se Leão X como mecenas e benfeitor de
humanistas e artistas. A frase também descreve o caráter mundano e a
frivolidade do ponti�cado de Leão X, durante o qual Lutero iniciou seu
movimento (p. 187).    
As analogias aos deuses da mitologia grega era uma característica marcante do
renascimento cultural, que tem esse nome pois pretendia fazer renascer a cultura
clássica, grega e romana, que, segundo seus defensores, havia desaparecido durante
a Idade das Trevas, como chamavam a Idade Média.
O mais famoso coletor de dinheiro em prol da indulgência foi João Tetzel, “um frade
dominicano que chegava às cidades alemãs saudado pelo som dos sinos das igrejas
e fazia sermões convincentes” (BLAINEY, 2012, p. 174). Como forma de coerção, Tetzel
usava peças teatrais, em que os personagens eram consumidos pelo fogo do
inferno, ou mesmo agonizando no purgatório. Sabe-se hoje que homens, como o
dominicano em questão, trabalhavam para ricas famílias alemãs, que �cavam com
parte dos ganhos e mandava outra para Roma (BLAINEY, 2012).    
Figura 5: Leão X | Fonte. wikipedia
O ponti�cado de Leão X não foi
marcado pelos banquetes e orgias
de Alexandre VI, muito menos pelas
intensas atividades bélicas de Júlio II,
mas pela “leviandade e
esbanjamento em busca de
hedonismo” (DREHER, 2007, p. 187).
Sua história papal �cou marcada
pela construção da nova Basílica de
São Pedro, que, por mais que não
tivesse começado em seu turno,
recaiu sobre si o encargo. Para tanto,
seria necessária uma quantia
signi�cativa para o término de tão
grandiosa e audaciosa obra, assim,
iniciou-se uma venda de
indulgências sem precedente.   
Foi em 1515, que Leão X lançou a bula
papal para a construção da Basílica
em Roma, mandando grandes
persuasores para as mais longínquas
regiões da Europa para a coleta das
ofertas. A liberação de Indulgência,
ou seja, perdão de pecados, foi uma
prática comum ao longo da Idade
Média, essa que geralmente era
dada a pessoas que, por algum
motivo, seja por lutas contra os
in�éis e em favor da fé, ou mesmo
benfeitorias à Igreja de Cristo, ou ao
povo de Deus, passou a ser vendida
sem a menor restrição, bastava
pagar para tirar algum ancestral do
purgatório ou se livrar dos mais
inescrupulosos pecados. 
Foi a teologia do medo pregada por Tetzel que desencadeou em um jovem padre e
professor de Teologia da Universidade Wittenberg, na Saxônia, um sentimento de
revolta sem precedentes. Esse padre, chamado Martinho Lutero, escreveu em
fevereiro de 1517: “Ah, os perigos do nosso tempo! Ah, os padres sonolentos!” e em
outubro do mesmo ano apontou ser um “absurdo que o tilintar de uma moeda na
caixa de coleta liberasse uma alma do doloroso purgatório” (BLAINEY, 2012, p. 174).
No último dia deste mês, dia de Todos os Santos, Lutero pregou 95 Teses, um
documento de argumentação geral com parágrafos numerados, na Igrejado castelo
de Wittenberg. O documento era objeções contra a cobrança de indulgência,
simonia e preceitos seguidos pela Igreja o�cial.
A Reforma Luterana
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Martinho Lutero nasceu em 1483, descendia de uma família modesta de Eisleben na
região da Saxônia na atual Alemanha, seu pai um administrador de minas, alcançou
certa prosperidade em seus negócios, fato que o fez, em um momento em que a
vida acadêmica era reservada à nobreza ou à alta burguesia, enviar seu �lho para a
Universidade Erfurt. Iniciou seus estudos aos 17 anos e aos 21 já era Mestre em
Teologia, em 1505 iniciou o curso de Direito na mesma Universidade, mas não
concluiu, optando, neste mesmo ano, pela vida monástica na Ordem dos
Agostinianos.
Em 1507 foi ordenado sacerdote e um ano depois passou a lecionar Teologia na
Universidade de Wittenberg, onde obteve, em 1512, o título de Doutor em Bíblia, dois
anos após exerceu a função de vigário agostiniano, sendo autoridade maior sobre
alguns monastérios na Saxônia.
Conta-se na história, que deve ser analisada com cuidado pelos leitores, visto que a
maioria das biogra�as são organizadas com certa passionalidade, que em 1510
Lutero foi pela primeira vez a Roma, a sede da cristandade. Diz-se que �cou
maravilhado com a formosura da cidade, seguindo todos os scripts de uma romaria
a cidade papal, visitou os lugares sagrados, pagou penitência e rezou pelas almas de
seus ancestrais no purgatório.
Conta-se, também, que a viagem o deixou perturbado, pois os vícios e a ostentação
de Roma nada tinha a ver com a devoção modesta das Igrejas que conhecia no
Norte da Alemanha, apesar de viver em um contexto em que os mosteiros "abrigava
um bocado de luxúria e excessos de comida e bebida. Em um mosteiro visitado por
ele, cada monge consumia duas canecas de cerveja e 1 litro de vinho às refeições”
(BLAINEY, 2012, p. 172). De�nitivamente, esse episódio não pode ser ignorado na
biogra�a do reformador.
Para além de uma vida religiosa pura e simples com seus afazeres diários enquanto
monge, Lutero �cou famoso por estudos bíblicos relativos às questões vinculadas ao
pecado e ao perdão. Como profundo estudante da Bíblia, o monge chegou à
conclusão de que o perdão dos pecados e a salvação da alma estava no
relacionamento sincero entre o crente e Deus, baseado na verdadeira fé,
independente das obras. Essa teologia luterana �cou conhecida como Justi�cação
pela Fé. Essa foi uma das primeiras bandeiras levantadas pelo então vigário
agostiniano e que desencadeou uma série de críticas à instituição milenar católica.
Se, para Lutero, a salvação vinha pela fé em Deus, não havia sentido algum o
pagamento pela indulgência. Diante desse contexto de extrema consonância com
os preceitos bíblicos, chegou a Saxônia Tetzel, sua oratória, seu teatro e
principalmente seu poder de persuasão. Neste contexto, para conter os ânimos da
pobre multidão que se viu obrigada a dar o que não tinha, Lutero �xou as famosas
95 teses na Igreja de Wittenburg.  
Lutero já era um famoso orador, excelente professor e um intelectual de relevância
na Europa do século XVI e depois do episódio das 95 teses sua fama alcançou
patamares ainda maiores, chegando seus escritos a serem impressos em regiões
fora da Alemanha, como a Basiléia, na atual Suíça, e Estrasburgo, na atual França.
As pregações de Martinho Lutero, cada vez mais in�amadas contra a Igreja e o clero,
trouxeram algumas consequências, como prisões e disciplinas eclesiásticas, mas ao
mesmo tempo angariavam uma imensa quantidade de seguidores, que ia das
classes baixas à nobreza, que via no discurso do monge, uma possibilidade de se
libertar dos pagamentos de dízimo a Roma, ou mesmo de se apoderar dos grandes
latifúndios que estavam sob jurisdição da Santa Sé.
Era claro no discurso de Lutero o caráter nacionalista, como em escritos em que
bradara: “Pobre de nós, alemães. Fomos enganados! [...] o glorioso povo teutônico
deve deixar de ser fantoche do pontí�ce romano” (BLAINEY, 2012, p. 175), ou ainda
colocar em xeque, a autoridade papal, alegando não ter o pontí�ce “poder sobre o
céu, o inferno e o purgatório, ou sobre a eliminação do pecado” (BLAINEY, 2012, p.
175).
SAIBA MAIS
Seguem algumas teses das 95 pregadas na Igreja do Castelo de
Wittenberg em 31 de outubro de 1517.
6. [...] O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e
con�rmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-
a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa
permanecerá por inteiro.
23. [...] Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém,
ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente
ludibriada por essa magní�ca e indistinta promessa de absolvição da
pena.
32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres,
aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de
indulgência.
81. [...] Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja
fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra
calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.
82. Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do
santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a
mais justa de todas as causas -, se redime um número in�nito de almas
por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é
uma causa tão insigni�cante?
86 [...] por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos
Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma
basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres
�éis?
Fonte: Portal Luteranos (2017).
Lutero, de um lobo solitário do interior da Europa, se tornou, em 1520, uma força
difícil de ignorar. Mas como a Igreja poderia ser tão desatenta ao avanço da
pregação luterana? A resposta poderia ser que a Igreja vivenciava uma crise político-
institucional sem precedentes, a Santa Sé estava preocupada com o avanço turco-
otomano no oriente-médio e leste europeu, com as disputas de poder entre as
famílias Valois, da França e Habsburgo, que tinha sob seu controle grande parte da
Europa e a perda signi�cativa de poder do papa nas decisões políticas, passando
paulatinamente para os reis e os príncipes. Diante destas questões globais, �ca fácil
entender a morosidade papal frente ao “problema” luterano (DREHER, 2007).
Figura 6 - Martinho Lutero (1483-1546), retrato por Lucas Cranach, 1529
Fonte. wikipedia
En�m, Lutero foi formalmente excomungado da Igreja em 3 de janeiro de 1521, pela
bula Decet Romanum Ponti�cem, expedida por Leão X. Depois da excomunhão
o�cial, Lutero foi convocado a ir a Roma para ser julgado, o que nunca aconteceu,
pois seu �el defensor Frederico III, o sábio, príncipe da Saxônia, impediu que lá fosse
julgado (BLAINEY, 2012), ao contrário foi instaurada uma reunião na cidade de
Wörms em território alemão para seu julgamento, essas reuniões aconteciam
esporadicamente, contava com representantes do clero, a nobreza da região que
envolvia o Sagrado Império Romano Germânico e era sempre presidida pelo
Sagrado Imperador, que na época era Carlos V, da casa de Habsburgo. Essas
reuniões recebiam o nome de Dieta.
Em Wörms, Lutero rea�rmou seus posicionamentos, fez sua autodefesa em latim e
terminou com as seguintes palavras, ditas em alemão: “Que Deus me ajude. Amém”
(BLAINEY, 2012, p. 176). O reformador, orientado por Frederico III, não esperou a
reunião acabar e se retirou para o palácio de Wartburg, onde passou algum tempo,
ao que parece até a poeira baixar, a questão é que não baixou, e a cada dia
aumentavam os seguidores da causa luterana.
Protegida por Frederico III, o sábio, e de forte conotação nacionalista, a reforma
empreendida por Lutero �oresceu, igrejas luteranas disseminaram na Europa ao
ponto de que em menos de 30 anos monarcas de reinos, como Dinamarca, Suécia,
Noruegae Transilvânia, já tinham aderido à causa.
Lutero casou-se com a ex-freira Catarina Von Bora, teve uma vida marcada por uma
produção literária de grandes proporções. Entre seus escritos importantes, atacou os
judeus europeus, em sua obra Sobre os judeus e suas mentiras, de 1543, defendeu a
autoridade política dos reis e príncipes, em sua obra Sobre a autoridade secular, de
1523, e traduziu a Bíblia Sagrada para o Alemão em 1534, um fato inédito, visto que
existiam algumas traduções do novo testamento em língua vernácula, mas a Bíblia
inteira era escrita em latim, fato que impedia os leigos desconhecedores dessa
língua, já considerada morta, de terem acesso às escrituras sagradas.
Até o �m de sua vida defendeu a justi�cação pela fé (salvação pela fé), o sacerdócio
universal de todos os crentes (livre interpretação das escrituras) e a famoso slogan:
solus Christus, sola Gratia, sola Fides, sola Scriptura (só o Cristo, só a Graça, só a Fé e
só a Escritura).
Lutero morreu em Eisleben, a mesma cidade onde nasceu, em fevereiro de 1546.
REFLITA
“Segundo Lutero, Deus não é um juiz in�exível. Ele doa aos pecadores a
salvação pela graça, baseada na fé e por mérito exclusivo de Cristo. Isso
exige a substituição da ritualidade descaradamente exterior pela íntima
edi�cação pessoal; do poder temporal do papado pelo poder eterno do
verbo divino, revelado através da Bíblia; da intermediação dos ministros
do culto pela leitura e interpretação individuais das Sagradas Escrituras”
(DE MASI, 2014, p.237). Na atualidade, podemos considerar as práticas
que regeram a Reforma vivas nas Igrejas protestantes brasileiras?
A Reforma Inglesa
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
Para compreender as transformações religiosas na Inglaterra no século XVI é de
extrema importância compreender a política real britânica na passagem do século
XV para o século XVI.
Ao longo e após um con�ito encarniçado entre França e Inglaterra, conhecido como
Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453, apesar do nome a Guerra durou 116 anos), as
sucessões dinásticas ao trono inglês estavam restritas a duas famílias reais,
Lancaster e York, que se alternavam no trono. Enquanto uma reclamava o direito ao
trono a outra exercia o poder de maneira a tentar eliminar seus adversários, isso se
dava de forma inversamente proporcional. Esse período da História Inglesa �cou
conhecido como Guerra das Rosas (1455 – 1485).
Enquanto os con�itos internos ocorriam, uma terceira via foi apresentada no seio da
família Lancaster, essa via foi representada por Henrique, que em 1485 derrotou o rei
Ricardo III, da dinastia de York, na batalha de Market Bosworth e, no mesmo ano,
casou-se com Elisabeth de York, sobrinha de Ricardo, se consolidou rei da Inglaterra,
inaugurando uma vertente dinástica conhecida como Família Tudor.
Henrique VII, como �cou conhecido, entendia claramente que as uniões
matrimoniais poderiam ser instrumentos diplomáticos, de expansão e coalizão
contra futuros inimigos, diante disso, casou sua �lha, Margarida, com o rei da
Escócia, Jaime IV, e Arthur, herdeiro do trono inglês, com Catarina, �lha do rei
Fernando, da Espanha.
O casamento de Arthur e Catarina, no �nal de 1501, foi recebido com grandes honras
e expectativas, tanto que o “dote espanhol atingiu a soma enorme de 200 mil
coroas” (MAINKA, 2007a, p. 131).
Apesar da grande expectativa, o casamento do herdeiro do trono inglês durou
apenas cinco meses. Arthur morreu de repente em abril de 1502, com apenas 15
anos de idade. Para não perder o acordo com o monarca espanhol Henrique VII,
tratou de buscar a anulação do casamento de Arthur e formalizar uma união com
seu �lho mais novo, Henrique, que na época tinha apenas 11 anos.
O casamento de Henrique e
Catarina foi formalizado apenas em
1509, ano em que se tornou rei da
Inglaterra, após a morte do pai, se
consolidando como Henrique VIII.
Muitas foram as tentativas de
Henrique e Catarina para consolidar
um herdeiro que pudesse assumir o
trono inglês após sua morte, no
entanto, dos cinco partos, apenas
um bebê vingou. Os cinco partos
foram de meninas, fato que
preocupava Henrique, que, como
sinal de virilidade, esperava um
herdeiro masculino. Henrique, como
convencionalmente era pensado no
século XVI, acreditava que o
“problema” do nascimento de
meninas estava na mulher, hoje a
ciência moderna avalia que a
de�nição do sexo do bebê é em
grande medida in�uenciada pelo
gene masculino. 
Outra questão que assombrava
Henrique VIII em relação ao
casamento era o fato de estar
casado com a esposa de seu irmão.
Como citado por Michael Maurer
(apud MAINKA, 2007a, p. 134) “Para
um contemporâneo teologicamente
formado, como Henrique, era quase
inevitável atribuir o trecho da Bíblia
(Lev 20) a si mesmo, no qual é
ameaçado �car sem �lhos quem
casa com a mulher do seu irmão”. 
Henrique VIII acreditava que a única
forma de dar conta desse
“problema” era a anulação do
casamento, diante disso iniciou uma
série de pedidos para a anulação do
casamento junto à Santa Sé. O papa
não pensava na possibilidade da
suspensão do matrimônio por
motivos óbvios, não queria
problemas com a Espanha e não
Enquanto o matrimônio não era suspenso, setores da burguesia e da nobreza
inglesa tomavam contato com a Reforma de Lutero e imaginavam a possibilidade
de desvincular-se da Igreja Romana, que detinha parte dos impostos pagos (no caso
da burguesia e do campesinato) e vastas extensões territoriais no reino.
Figura 7: Henrique VIII | Fonte: wikipedia
Figura 8: Catarina de Aragão
Fonte: wikipedia
queria maiores discórdias com o
Imperador Carlos V, que era
sobrinho de Catarina. 
Em 1529, o parlamento reunido em Westminster, decretou a subordinação da Igreja
ao Estado inglês. A partir de 1530, fez com que o clero jurasse �delidade ao rei acima
dos interesses de Roma, quem não jurasse seria condenado à morte. Esses
juramentos se tornaram obrigatórios depois de Thomas Cromwell, conselheiro de
Henrique VIII, que informava à câmara baixa que “havia descoberto que os clérigos
eram apenas ‘meio’ súditos, devido ao fato de eles prestarem juramento de
obediência ao papado” (MAINKA, 2007a, p. 136).
O parlamento, que �cou reunido em Westminster até 1534, ainda conseguiu abolir
as canatas, uma taxa de um terço pago a Roma pela receita anual. Em janeiro de
1533 Thomas Cranmer foi nomeado arcebispo de Canterbury, o principal da
Inglaterra. Neste mesmo mês, fez o casamento de Henrique VIII e a jovem dama de
honra Ana Bolena, que já se encontrava grávida.
Em março de 1533, uma lei
[...] proibiu, em questões referentes aos matrimônios ou aos
testamentos, recursos dos tribunais arcebispais aos tribunais em Roma.
Com essa lei, o Direito Canônico �cava subordinado à coroa inglesa. O
Arcebispo de Canterbury foi nomeado à instância mais alta para todo o
reino da Inglaterra (MAINKA, 2007a, p. 137).  
Com essa lei, chamada Act of Restraint of Appeals, em tradução livre “ato de
restrição de apelações”, os direitos da Igreja Romana foram totalmente abolidos do
território inglês. Em 23 de maio de 1533, o casamento de Henrique VIII de Catarina de
Aragão foi declarado ilegítimo e perdeu a validade. Em contrapartida, o casamento
com Ana Bolena fora considerado legítimo e o futuro herdeiro, como detentor do
direito de privilégio na sucessão do trono.
Em setembro de 1534, Henrique VIII foi excomungado da Igreja Católica pelo papa
Clemente VII e, em 30 de agosto de 1535, o papa Paulo III reforçou a excomunhão
anterior, que foi de�nitivamente publicada em 1538.
Ana Bolena deu à luz outra menina, batizada de Elizabeth, que posteriormente
reinou por 45 anos. Agora Henrique tinha duas �lhas, Maria, do casamento com
Catarina, e Elizabeth; não alcançando seu objetivo primeiro. Henrique viria a casar
mais quatro vezes, sendo que da terceira esposa, Jane Seymour, teve um herdeiro
varão, Eduardo.
Em 1534, Henrique VIII publicou o Ato de Supremacia, inaugurando de�nitivamente
a Igreja Nacional Inglesa, conhecidacomo Igreja Anglicana.
Figura 9: Ana Bolena - Elizabeth (1533-36) | Fonte:
wikipedia
Em setembro de 1534, Henrique VIII
foi excomungado da Igreja Católica
pelo papa Clemente VII e, em 30 de
agosto de 1535, o papa Paulo III
reforçou a excomunhão anterior, que
foi de�nitivamente publicada em
1538.         
Ana Bolena deu à luz outra menina,
batizada de Elizabeth, que
posteriormente reinou por 45 anos.
Agora Henrique tinha duas �lhas,
Maria, do casamento com Catarina, e
Elizabeth; não alcançando seu
objetivo primeiro. Henrique viria a
casar mais quatro vezes, sendo que
da terceira esposa, Jane Seymour,
teve um herdeiro varão, Eduardo.      
  
Em 1534, Henrique VIII publicou o
Ato de Supremacia, inaugurando
de�nitivamente a Igreja Nacional
Inglesa, conhecida como Igreja
Anglicana. 
A Igreja que nascia era na prática, “um catolicismo sem papa” (MAINKA, 2007a, p.
140), Henrique e seus seguidores mantiveram, em primeiro momento, os mesmos
princípios católicos, no entanto a historiogra�a tradicional trata o movimento inglês
como reformista, pois aconteceu como consequência da reforma iniciada nos
principados alemães.
A Igreja Anglicana, ainda sofreu algumas transformações importantes durante o
reinado da �lha de Henrique VIII, Elizabeth I, aproximando-se às perspectivas
calvinistas, mas, de forma geral, os anglicanos ainda se assemelham aos católicos
romanos. Ainda hoje a autoridade máxima da Igreja é a rainha da Inglaterra e os
preceitos religiosos são ordenados segundo a visão do arcebispo de Canterbury.
Figura 10 - REINO UNIDO - CIRCA, 1997: selo postal inglês em homenagem ao Rei
Henrique VIII
Fonte: Shutterstock
A Reforma Calvinista
AUTORIA
Prof. Dr. Saulo Henrique Justiniano Silva 
Prof. Me. Herculanum Ghirello Pires 
Prof. Me. Willian Carlos Fassuci Larini
A reforma iniciada por João Calvino, em Genebra, foi tão importante quanto a de
Lutero, mas o protestantismo calvinista imprimiu algo que o sociólogo Max Weber
(2006) chamou de “Ética Protestante”, que contribuiu para o desenvolvimento do
que o autor chamou de “Espírito do Capitalismo”, também essa modalidade
teológica protestante foi majoritária entre os colonizadores dos Estados Unidos da
América.
De forma geral, não existe uma Igreja com o nome calvinista tal como a luterana, o
próprio João Calvino não era simpático a este termo. Nos diversos países onde se
estabeleceram recebem nomes distintos, como huguenotes na França,
Presbiterianos na Escócia e Puritanos na Inglaterra.
Entre 1536 e 1537 foi convidado por um amigo, Guillaume Farel, a assumir a reforma
na cidade-estado de Genebra, na atual Suíça. Atuaram como pregadores durante
dois anos na cidade, no entanto, entre 1538 e 1541, pregara apenas para alguns,
porque foi expulso da cidade (BLAINEY, 2012; ENCICLOPÉDIA BARSA, 1995), para
outros, porém, pregou porque foi convidado por outro amigo. Se mudou para
Estrasburgo, onde foi pastor de uma pequena igreja de refugiados franceses.
Figura 11: João Calvino | Fonte: wikipedia
João Calvino nasceu em Noyon,
cidade do norte da França, em 1509,
�lho de um importante promotor da
igreja local e uma burguesia
enriquecida, em 1521, passou a
receber uma pensão da diocese
local, que lhe bene�ciou pelos 13
anos seguintes. 
Em 1523, foi para Paris estudar Latim
e Teologia e, em 1528, passou a
estudar leis, na Universidade de
Orléans. Dali segue para Bourges,
onde também estudou grego e, em
1531, ano da morte de seu pai – sua
mãe morrera quando tinha apenas 5
anos –, regressa a Paris. Seus
biógrafos atribuem sua conversão à
fé protestante em 1533 e foi acusado
de coautor do discurso proferido por
Nicholas Cop, reitor da Universidade
de Paris em favor da fé reformada,
diante do clima criado entre seus
colegas, foge para Angoulême e, no
ano seguinte, regressa a Noyon,
onde abdica do benefício
eclesiástico.
Em 1536, Calvino termina e publica
sua obra-prima, Instituição da
Religião Cristã. Conhecida como
Institutas, foi escrito primeiro em
Latim e depois ganhou uma versão
em francês, foi a principal obra da
teologia calvinista, onde se encontra
parte signi�cativa de suas
tendências religiosas. 
Retornou a Genebra em 1541 e, ao longo dos anos seguintes, tornou-se o homem
mais importante da cidade.
O temperamento de Calvino era calculista e reservado, em contraste
com o de Lutero, ardente e emotivo. Firmemente convencido de que
deveria pôr em prática sua religião, tentou transformar Genebra num
Estado onde o governo teria a exclusiva �nalidade de fazê-la observar.
Os cidadãos deveriam fazer uma pro�ssão de fé e viver de acordo com
a mesma (ENCICLOPÉDIA BARSA, 1995, p. 508).
É interessante perceber que, apesar da Reforma do século XVI ter se iniciado com
Lutero, Calvino se diferencia em questões como a extrema reverência nas
celebrações e a total não devoção a imagens e santos, além da total abdicação das
bebidas, de jogos, a assistência aos pobres, a proibição das danças e trocas públicas
de carícias e o não uso de instrumentos musicais nas celebrações. Sobre este último
ponto, Blainey (2012, p. 198) explica que “A ideia parece severa demais, mas os
visitantes estrangeiros que entravam na ampla igreja de Genebra e ouviam
centenas de pessoas cantando juntas �cavam pasmos, ao perceber tanta força e
sinceridade”.
Sem dúvida a principal marca da doutrina calvinista foi a teologia da predestinação,
pela qual atribui as ações da vida no mundo em total e absoluta vontade do criador.
Deste modo, Deus, em seu in�nito poder, já predestinou o futuro da humanidade,
sendo a vida uma corrida, cujo �m já foi decidido por Ele. O próprio Deus sabe se os
homens foram predestinados à vida eterna ou à condenação.
Não há possibilidade de saber se somos salvos, ou condenados, mas a justeza e
integridade com a qual levamos a vida nos dá pistas sobre o futuro que nos espera.
Figura 12: Max Weber | Fonte: wikipedia
Muitos burgueses aderiram à causa
calvinista, pois diferente do que era
pregado pela igreja romana que
condenava o lucro, para Calvino as
aquisições �nanceiras ou não,
advém de Deus, é Ele quem
proporciona por meio do empenho
do exercício de suas funções. 
Max Weber (2006), sociólogo do
século XIX e início do XX, em sua
obra A Ética Protestante e o Espírito
do Capitalismo, atribui ao ideal
protestante de trabalho e riqueza
como importante para o
desenvolvimento do capitalismo,
tanto que os países que adotaram o
protestantismo, baseados em uma
“ética” religiosa calvinista obtiveram
sucesso econômico, sendo hoje as
maiores potências mundiais. 
Calvino se tornou, depois da morte
de Lutero, o principal líder
protestante da Europa. Faleceu em
Genebra em 1564, foi enterrado sem
pompa e majestade, num túmulo
simples com as iniciais de seu nome. 
SAIBA MAIS
A Reforma não pode ser explicada a partir de um único acontecimento
ou a partir de um único acontecimento ou a partir da ação de uma
única pessoa. Queremos a�rmar categoricamente que a Reforma não
iniciou com a divulgação das 95 teses de Lutero, em 31 de outubro de
1517. Muito antes de Lutero haviam sido criadas situações, haviam sido
difundidas ideias, despertados sentimentos que provocaram e
possibilitaram o com o con�ito com a Igreja de então. Podemos até
dizer que tais sentimentos estavam a exigir o que acabou acontecendo
no século XVI.
Interessante é observar aqui um pequeno aspecto de grandes
consequências. Na Idade Média surgiu, nos Países Baixos, movimento
designado devotio moderna. Seus principais difusores foram os Irmãos
da Vida Comum, pessoas que queriam viver a fé cristã sem se aliarem a
Ocamismo ou a Tomismo ou à mística. Queriam ser cristãos na vida
comum, simples. Um dos mais conhecidos é Thomas Kempis (1379/80 –
1471), autor da Imitação de Cristo. Eram copistas ou, simplesmente,
professores. Entre os alunos dos Irmãos da Vida Comum encontramos
Erasmo de Roterdã, Adriano de Utrecht (1459 – 1522), preceptor de
Carlos V e mais tarde Papa Adriano VI (em 1522/23), Nicolau Copérnico
(1473 – 1543), Martinho Lutero. Inácio de Loyola foi profundamente
in�uenciado por Tomas Kempis

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