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Programa Mentoria para
 a Educação Profissional
Curso: Concepções de trabalho 
e Profissionalização 
Professores: Paulo R. Wollinger e Olivier Allain
MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
Unidade O - Apresentação do MOOC
Boas-Vindas
Mentoria para a 
Educação Profissional
Olivier: Todo jovem sabe que um dia precisará trabalhar e “escolher” uma 
profissão, mesmo que, ás vezes, isto lhe pareça ainda muito distante. 
Wollinger: Mas será que ele ou ela já entende o que é ser um 
trabalhador? Sabe como nos tornamos profissionais? 
Olivier: Antes disso, será que tem consciência do quanto o trabalho nos 
define, como ser humano?
Wollinger: Afinal, nem sempre nós mesmos, educadores, damo-nos conta 
da importância do trabalho para a construção de nossa identidade, 
valores, consciência, etc., nem da importância dos outros profissionais em 
nossa vida.
Olivier: Neste curso sobre Concepções de trabalho e profissionalização, 
vamos justamente falar sobre alguns assuntos ainda frequentemente 
considerados malditos em nossas escolas: o que é a técnica? o que 
significa se tornar um “técnico”? por que somos todos “seres técnicos”? 
Wollinger:Também abordaremos o conceito de Tecnologia, não apenas 
como objetos sofisticados, ou mera aplicação da ciência, como entende o 
senso comum.
Olivier: Vamos redescobrir o trabalho: em sua riqueza cognitiva, em sua 
complexidade, em sua beleza, em sua potencialidade. O trabalho tem 
todas as dimensões da cultura! O trabalho é interprofissional, pode ser 
colaborativo, o trabalho é obra! 
Wollinger: Esta redescoberta do trabalho, da técnica, das comunidades de 
prática pode ajudar a nos tornar melhores mentores para os estudantes 
da educação básica na busca de seu itinerário formativo. 
Olivier: Então, venha conosco navegar por novas definições do mundo do 
trabalho, suas características, sua riqueza e diversidade, compreendendo 
que a técnica é nossa humanidade!
 
 
 
Mensagem de boas-vindas
� Áudio do vídeo com AD ))) � Baixe o texto do vídeo � Baixe o áudio do vídeo
Watch on
Boas VindasBoas Vindas
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Acesse o vídeo no link: https://youtu.be/gHK1dKiqEQQ ou leia a transcrição 
a seguir.
UNIDADE 0: Boas-Vindas
Mentoria para a 
Educação Profissional
Boas-Vindas
Bem-vindo ao curso Concepções de Trabalho e Profissionalização. Este é um 
curso on-line, no qual você terá acesso a conteúdos interativos, indicações 
de leituras complementares e reflexões teórico-práticas voltadas para atua-
ção do professor no processo de mentoria dos alunos para a escolha de seu 
itinerário de formação.
O curso tem 5 unidades e é formado por conceitos teóricos, atividades 
reflexivas e avaliativas. O tempo de dedicação previsto para a conclusão do 
curso é de 40 horas. É importante que você divida o seu tempo semanalmente 
durante o período do curso para a conclusão das atividades previstas.
UNIDADE 0: Boas-Vindas
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Programa Mentoria para
 a Educação Profissional
Curso: Processos de Orientação 
Educacional e Profissional
Professores: Paulo R. Wollinger e Olivier Allain
UNIDADE 1
Apresentação
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
Nossa humanidade é técnica
Pense em todas as atividades que você realiza ao longo do dia. Quais ativida-
des você realiza a partir do trabalho dos outros? Quais atividades são realiza-
das a partir de uma técnica?
Assista e interaja com o vídeo a seguir e procure identificar a técnica inserida 
em cada atividade cotidiana.
Acesse o vídeo no link: https://youtu.be/d5bBQw2qPhQ ou leia a transcrição 
a seguir
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
� Áudio do vídeo com AD ))) � Baixe o texto do vídeo � Baixe o áudio do vídeo
Watch on
O trabalho como produção da existênciaO trabalho como produção da existência
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 1 - O trabalho como produção da existência
Técnica e Cotidiano
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Olá! Vamos falar um pouco sobre alguns dos principais conceitos 
que ajudam a esclarecer o que é a Educação Profissional e sua importân-
cia em nossas vidas. 
 Vamos começar com uma “estática”.
 Concentre-se e imagine que você acabou de acordar. 
 Agora pense com detalhe nas coisas que você faz entre este 
acordar e o momento em que chega ao trabalho (ou começa a trabalhar, 
se você trabalha em casa). 
 No que você pensou?
 ( ) tomo um banho
 ( ) preparo um café
 ( ) escovo os dentes
 ( ) eu me visto
 ( ) desloco-me de carro, ônibus, bicicleta até o trabalho
 Agora, para cada uma das ações nas quais pensou, reflita: como foi 
possível você: tomar um banho, preparar um café, escovar os dentes, 
vestir-se, etc.? Tomemos dois exemplos: 
 1. Você foi escovar os dentes. De que você precisou? Isso mesmo, 
de várias coisas: escova e pasta de dente, uma técnica de escovação, 
mas também, de água corrente, a qual chega por um encanamento, pia, 
torneira… Quem fez com que tudo isso fosse possível?
 2. Agora, se você foi preparar um café, são diversas técnicas pos-
síveis, mas em todas elas foi preciso o pó de café, claro, de água aque- 
cida, de filtro e de recipientes. Por trás de cada um destes itens, há um 
conjunto enorme de técnicas e também de profissionais
 3. Isso remonta ao plantio do café, colheita, seleção dos grãos, 
torrefação, embalagem, transporte, distribuição…
 4. O mesmo vale para o gás que você usou para esquentar a água: 
extração do gás, sistema de distribuição, encanamento, fogão… 
 Tomamos apenas dois exemplos de uma quantidade gigantesca de 
atividades que, quando analisadas assim, mostram-nos que somos seres 
completamente mergulhados na técnica e também dependentes do 
trabalho de inúmeros profissionais. 
Conceituando a técnica
Dizer que somos seres “mergulhados” na técnica não seria suficiente. É mais
do que isso...
Alguns filósofos do século 19 (como Marx e Engels) já diziam que o trabalho é 
condição fundamental do nosso ser. O filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto, 
além de reconhecer o trabalho como um dos traços que melhor identifica 
nossa humanidade, vai colocar a técnica como fundamento do trabalho. 
Para ele, a técnica não é mais algo externo ao ser humano, como um objeto, 
mas sim um adjetivo que qualifica suas ações. A técnica não se confunde, 
então, com alguns de seus resultados - os produtos da técnica –, mas se 
expressa por meio deles.
Isso ocorre, em primeiro lugar, porque, diferentemente de outros animais, o 
ser humano precisa produzir sua existência pelo seu trabalho, e esta capaci-
dade de intervir no mundo para produzir sua existência chama-se técnica 
(VIEIRA PINTO, 2005).
Mas também porque a própria consciência só pode existir como efeito desta
 intervenção. A técnica, neste sentido, elemento fundamental do trabalho e 
desta produção da existência, não tem só sentido econômico ou material,
mas também perpassa a constituição de nossas identidades, nossas relações 
sociais, nossa cultura.
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Figura 01
Fonte: WaveBreakMedia/Freepick
Conceituando a técnica
Homo “sapiens sapiens” e “homo faber” (que fabrica, que trabalha) nascem jun-
tos, como um só, não só porque passou a fabricar coisas, a fazer coisas como 
instrumentos e a utilizá-los, mas também porque seus saberes, sua consciência, 
sua cognição e sua relação social se constituíram (e continuam se constituindo) 
por este fazer (SIGAUT, 2012).
Criam-se e utilizam-se, em todos as épocas e culturas, recursos e técnicas para 
produzir o alimento, a indumentária, a habitação, os remédios, também tudo 
aquilo que chamamos de arte e cultura: cinema, literatura, dança, música, etc.
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
A técnicaestá na origem de nossa consciência
Figura 02
Fonte: PvProductions/Freepik
A técnica é também transformação de nossas 
identidades, relações sociais e nossa cultura
Figura 03
Fonte: Master/Freepick
A técnica no cotidiano
Como visto nos exemplos da estática que fizemos inicialmente, os seres huma-
nos trocam suas técnicas entre si, por isso, podemos dizer que o trabalho é o 
“exercício social da técnica” (ALLAIN, GRUBER, WOLLINGER, 2020). O trabalho 
possui, assim, todas as dimensões da vida humana: ética, estética, econômica, 
ambiental, política, identitária, cultural…
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
L
A técnica no cotidiano
Em resumo: a técnica qualifica o ato humano de intervenção no mundo para a 
produção da sua existência e da sociedade. O trabalho, exercício coletivo da
atividade técnica humana, é fundamento da nossa vida.
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
Pense em seu dia a dia de trabalho
Figura 05
Fonte: Senivpetro/Freepick (editada pela produção do projeto)
Figura 06
Fonte: Gabby/Pexels (editada pela produção do projeto)
Figura 07
Fonte: ThisEngineering/Unplash (editada pela produção do projeto)
Figura 08
Fonte: Christina/Unplash (editada pela produção do projeto)
A técnica no cotidiano
Perceba que tais definições destoam de ideias correntes e do senso comum 
(inclusive presente em textos e documentos educacionais), que, ao não defini-la, 
contentam-se, ao contrário, em reproduzir um imaginário da técnica enquanto 
“mera” atividade mecânica, de reprodução, sem reflexão e pensamento, algo 
não-humano.
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
A técnica e a perspectiva cultural
A técnica, como intervenção no mundo que acontece socialmente, constitui o 
laço social e está no coração da cultura. É elemento essencial do que chama-
mos de trabalho, que definimos aqui como exercício social da técnica.
É claro que o trabalho sempre foi visto, nas sociedades ocidentais, ora como 
dignificação, ora como penosa tortura. Na cultura brasileira, no entanto, “a ba-
lança que oscila entre o seu culto e a sua repulsa (...) pendeu demasiado a um 
dos lados” (MORAES, 2016, p. 87).
Assista ao vídeo a seguir e procure refletir sobre a construção histórica e cul-
tural do conceito de técnica no Brasil.
Acesse o vídeo no link: https://youtu.be/2ud5dVKhudY ou leia a transcrição 
a seguir
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
� Áudio do vídeo com AD ))) � Baixe o texto do vídeo � Baixe o áudio do vídeo
Watch on
Perspectiva histórica e cultural da técnicaPerspectiva histórica e cultural da técnica
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 1 - O trabalho como produção da existência
Perspectiva histórico e cultural da técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Desde a colonização portuguesa e o regime escravocrata, o Brasil 
viveu uma das maiores experiências de escravidão da história da humani-
dade. Não somente o chamado trabalho braçal, mas toda atividade técni-
ca passou a ser associada à atividade escrava.
 Quem já conheceu outras culturas terá certamente percebido o 
maior valor social atribuído às diversas profissões que chamamos de 
“técnicas” (e até as “manuais”).
 Um dos maiores problemas em nossa tradição ocidental é que a 
técnica não é reconhecida como atividade reflexiva, transformadora e 
humanizante. Há quem encare a técnica como algo que não pertence à 
cultura humana.
 Pior do que isso. Frequentemente a própria cultura é definida em 
oposição à técnica. Você consegue imaginar uma cultura sem técnicas?
Como seria a técnica de fazer sapatos, sem considerar as dimensões 
culturais e sociais que envolvem o fazer-sapateiro?
 Nessa oposição, a arte torna-se superior à técnica quando, na 
verdade, estas palavras possuem origens comuns. Outra situação que 
sugere que a técnica tem menor valor é quando se opõem “formação 
técnica” e “formação humana”.
 Ora, quando passamos a entender a técnica como adjetiva do ser 
humano, ou seja, como condição de nossa humanização, passamos 
também a entender que a formação técnica é formação humana por 
excelência!!!
 É permitido pensar que esta visão distorcida da formação técnica 
em educação também é fruto da nossa secular cultura de repulsa ao 
trabalho.. Nós, educadores, podemos contribuir para superar os precon-
ceitos com relação à formação técnica e profissional mostrando seu 
poder transformador, explicitando que estão presentes nela todas as 
dimensões da cultura, que com ela empoderamos cidadãos para intervir 
no mundo e produzir a sua existência e a da sociedade. 
 
A técnica e a perspectiva cultural
UNIDADE 1: O trabalho como produção da existência
Mentoria para a 
Educação Profissional
� Áudio do vídeo com AD ))) � Baixe o texto do vídeo �
Perspectiva histórica e cultural da técnica
 Programa Mentoria para
 a Educação Profissional
Curso: Processos de Orientação 
Educacional e Profissional
Professores: Paulo R. Wollinger e Olivier Allain
UNIDADE 2
Apresentação
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Figura 01
Fonte: WaveBreakMedia/Freepick
A Técnica como Saber
Trabalho, Técnica e Tecnologia são termos chave para entender a Educação 
Profissional. No entanto, raramente são pensados como forma de saber e aca-
bam reduzidos ao senso comum. Vamos então nos debruçar um pouco melhor 
sobre o saber técnico-profissional e a tecnologia?
O primeiro ponto é incorporar os “sentidos” do saber técnico.
Um trabalhador vive esta experiência!
Acesse o vídeo no link: https://youtu.be/GuyMfTdyUYQou leia a transcrição 
a seguir
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Figura 01
Fonte: WaveBreakMedia/Freepick
� Áudio do vídeo com AD ))) � Baixe o texto do vídeo � Baixe o áudio do vídeo
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A Técnica como SaberA Técnica como Saber
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 2 - O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
A Técnica como Saber
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Mesmo aquele que consideramos como o mais “inculto”, no 
trabalho mais “simples” foi incorporando diversos saberes (e sabores) 
da sua atividade. Embora nem sempre ele consiga explicar com palavras, 
seu corpo testemunha esse saber. Claro que, para apreciar tal saber, é 
preciso primeiro deixar de lado o tradicional desprezo cultural pelo fazer, 
pela ação, pela técnica. Ora, no trabalho, como em outros momentos da 
vida, muitas vezes “a ação fala mais alto que as palavras. 
 
 
 
 
A Técnica como Saber
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Figura 01
Fonte: WaveBreakMedia/Freepick
Para entender melhor a sabedoria da ação, também precisamos suspeitar da 
insuficiência explicativa dos pares saber/fazer, teoria/prática, intelectual/ma-
nual, conhecimento/ação (BARATO, 2016). Esses pares simplesmente não são 
adequados ou suficientes para explicar nem para agir quando se trata do tra-
balho e da formação para o trabalho, mesmo que, faltando palavras, venha-
mos a recorrer a eles.
Figura 01 - Fonte: Freepick/Freepick Figura 02 - Fonte: Pixabay
Figura 03 - Fonte: Freepick Figura 04 - Fonte: Pixabay 
A Técnica como Saber
Mais do que nunca, precisamos então pensar que o saber profissional envolve 
o corpo todo, envolve todos os sentidos e que, mais do que decorado, é incor-
porado. Vamos ver como é isso?
Os sentidos do saber passam pelo corpo todo e, ao passar por ele, ganha 
vários sentidos.
Mas o saber não “passa” apenas pelo corpo, como se fosse um vento espiritual 
que arrepia e vai embora. O saber se constrói no corpo, pelo corpo, tanto quanto 
por aquilo quecostumamos chamar de “intelecto”. Isso porque corpo e mente 
não são duas coisas separadas. Em outras palavras, o “intelecto”, o pensamento, 
a reflexão, não estão situados a priori na cabeça, onde foram tradicionalmente 
circunscritos.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Um carro passa na rua. Pelas cavidades 
de seu ouvido, este trabalhador associa 
um ruído particular do motor do carro a 
uma falha mecânica. Evidentemente, ele 
não nasceu assim. Levou anos para 
incorporar a relação de tais fenômenos.
Este outro profissional franze os olhos, 
aproxima-se e toca por alguns segundos 
em seus dedo o cabelo fino de sua 
cliente para escolher a tesoura e o corte 
que lhe dará mais volume.
Esta técnica de enfermagem conversa 
um pouco com o paciente. Analisa a 
aparência do braço, tocando repetida-
mente na pele. Agora sim, escolhe 
aquele ponto preciso para fazer a 
punção e coletar sangue.
A Técnica como Saber
Seguindo esta via, podemos afirmar que a inteligência no trabalho se dá por 
diversos caminhos.?
Se não “todo”, pelo menos todos os nossos órgãos envolvidos em “operações 
pensantes”, que se conectam e se retroalimentam.
Indo mais longe, afirmamos: a não-separação mente-corpo é um pressuposto 
fundamental da formação profissional. Apesar de esta não ser uma discussão 
nova, nossos currículos, a estruturação de nossas aulas ou nosso discurso 
sobre Educação Profissional e Tecnológica - EPT continuam impregnados por 
este problema (ALLAIN, GRUBER, WOLLINGER, 2020).
.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Como aprendemos as técnicas?
Mike Rose, autor dos belos livros “O saber no trabalho” (2007) e "De volta à es-
cola: porque todos merecem uma segunda chance na educação" (2015), dá-nos 
neste último um exemplo desta inteligência na atividade do soldador (p. 125):
As regras principais da soldagem são: movimento (a velocidade com que você 
move o instrumento), a distância entre o instrumento e o metal, o ângulo do 
metal e o grau de calor dele. E você tem que ficar firme
Movimento, ângulo e os outros elementos são ainda mais dificultados em 
alguns processos pelo fato que o eletrodo que conduz a corrente está sendo 
consumido à medida que você solda, então você tem que ajustar continuamente
 a velocidade e o ângulo do seu movimento para manter as coisas constantes - 
Porque consistência é crucial para produzir uma boa solda..
Tommy está envolvido num intenso monitoramento da sua performance e realiza 
um importante trabalho intelectual ao aplicar o que aprendeu à tarefa diante dele.
.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Tommy coloca o pé na frente do outro 
e levanta a mão direita, o indicador 
esticado como se fosse uma ferramen-
ta de solda. Ele se prepara, mas não
fica duro, pois isso impediria a fluidez 
dos movimentos.
Imagine fazer tudo isso num ponto 
elevado, acima de sua cabeça. Tommy 
relaxa e olha para mim: “Há tanta coisa 
que você precisa saber”, ele diz, dando 
um tapinha na cabeça. “Tanto em que
pensar”.
 Mesmo aquele que consideramos como o mais “inculto”, no 
trabalho mais “simples”: ele foi incorporando diversos saberes (e sabores) 
da sua atividade. Embora nem sempre ele consiga explicar com palavras, 
seu corpo testemunha esse saber. Claro que, para apreciar tal saber, é 
preciso primeiro deixar de lado o tradicional desprezo cultural pelo fazer, 
pela ação, pela técnica. Ora, no trabalho, como em outros momentos da 
vida, muitas vezes “a ação fala mais alto que as palavras. 
 
 
 
 
Como aprendemos as técnicas?
Nós usamos a palavra “rotina” ou “automático” para descrever esse nível de 
competência, mas acho que esse vocabulário sugere erroneamente que num 
determinado ponto do desenvolvimento a mente desaparece da performance 
física. É verdade que o monitoramento constante diminui, mas não a consciência 
e aquela fusão de conceito e habilidade.
.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
É difícil sinalizar a separação cartesia-
na entre corpo e mente. Conceito e 
habilidade se misturam na ação.
É claro que, à medida que Tommy do-
minar sua ocupação, a resposta dele à 
variabilidade dinâmica que ele descre-
ve irá tornar-se um hábito.
Esta técnica de enfermagem conversa 
um pouco com o paciente. Analisa a 
aparência do braço, tocando repetida-
mente na pele. Agora sim, escolhe 
aquele ponto preciso para fazer a 
punção e coletar sangue.
O que é saber técnico?
O conhecimento técnico tem características próprias, com semelhanças e dife-
renças em relação ao conhecimento das outras ciências. Por assumir formas 
diferentes e ser muitas vezes incorporado pelo trabalhador de diferentes formas, 
como vimos, não sendo expresso necessariamente por meio de palavras, este 
conhecimento pode perder visibilidade e reconhecimento.
Alguns pensadores, contudo, buscaram colocar em palavras aquilo que não se 
limita a elas. Vamos lá, então.
Dissemos anteriormente que a técnica é um modo qualificado de intervenção 
no mundo e adjetiva do ser humano. Pois esta intervenção, este modo de agir, 
pode ser descrita como um processo (BARATO, 2004, 2008). O que significa isso?
Assim, pode-se qualificar a técnica com estas dimensões “epistemológicas”, que 
envolvem aspectos metodológicos, conscientes, planejados, atravessados por 
uma cultura e uma linguagem própria. Mas a intervenção é sua finalidade - para 
produzir a existência, transformar o real, inovar...
.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Como processo, a técnica envolve a real-
ização material ou simbólica da inter-
venção (o que muitos chamam de “práti-
ca”), porém é constituída de diversas 
outras “camadas” ou aspectos: os méto-
dos, os saberes técnicos e profissionais, 
teorias ou conceitos de diversas áreas e 
ciências (que servem como ferramentas 
para a intervenção), formas de comuni-
cação, crenças, valores.
Enfim, pode-se incluir neste domínio de 
conhecimento todos os desdobramentos 
do ato técnico: o impacto social e ambien-
tal do ato técnico, dimensões éticas, 
estéticas, entre outros (ALLAIN, GRUBER, 
WOLLINGER, 2019).
Figura 06 - Fonte: Imagem produzida pela 
equipe gráfica do projeto
Seguindo esta via, podemos afirmar que a inteligência no trabalho se dá por 
diversos caminhos.?
Se não “todo”, pelo menos todos os nossos órgãos envolvidos em “operações 
pensantes”, que se conectam e se retroalimentam.
Indo mais longe, afirmamos: a não-separação mente-corpo é um pressuposto 
fundamental da formação profissional. Apesar de esta não ser uma discussão 
nova, nossos currículos, a estruturação de nossas aulas ou nosso discurso 
sobre Educação Profissional e Tecnológica - EPT continuam impregnados por 
este problema (ALLAIN, GRUBER, WOLLINGER, 2020).
.
O que é saber técnico?
Qual a diferença, então, entre o saber técnico e o saber dito “científico” (seria 
melhor dizer: das outras ciências)?
O saber científico é, predominantemente, explicativo, teórico, verbal, é “discurso 
sistematizado” (BARATO, 2004). Inclui métodos e realizações materiais (técnicas, 
vale dizer), porém estes não constituem seu escopo, sua finalidade.
Infelizmente, é muito comum privilegiar-se esta forma do conhecimento em 
Educação Profissional, de modo que “qualquer experimentação, execução, mani-
pulação está fora do jogo” (BARATO, 2008, p. 8).
Pior ainda, perde-se de vista o processo de intervenção, que tem um sentidoespecial para aquele que consegue realizá-lo ou participar de sua realização.
Assim, se se reduzir a técnica à “prática”, esta virá sempre depois da “teoria”, 
como sua “ilustração”.
Resumiremos aqui estas considerações dizendo que, como forma de saber 
fundamental em nossa vida, a técnica possui diversos sentidos (ALLAIN, 
GRUBER, WOLLINGER, 2020):
.
.
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Mike Rose, autor dos belos livros “O saber no trabalho” (2007) e "De volta à es-
cola: porque todos merecem uma segunda chance na educação" (2015), dá-nos 
neste último um exemplo desta inteligência na atividade do soldador (p. 125):
As regras principais da soldagem são: movimento (a velocidade com que você 
move o instrumento), a distância entre o instrumento e o metal, o ângulo do 
metal e o grau de calor dele. E você tem que ficar firme
Movimento, ângulo e os outros elementos são ainda mais dificultados em 
alguns processos pelo fato que o eletrodo que conduz a corrente está sendo 
consumido à medida que você solda, então você tem que ajustar continuamente
 a velocidade e o ângulo do seu movimento para manter as coisas constantes - 
Porque consistência é crucial para produzir uma boa solda..
Tommy está envolvido num intenso monitoramento da sua performance e realiza 
um importante trabalho intelectual ao aplicar o que aprendeu à tarefa diante dele.
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O que é saber técnico?
:
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UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Técnica é nosso modo qualificado de intervir no 
mundo para produzir a existência
Como objeto de conhecimento
Enquanto objeto de conhecimento, já não é um "objeto" e sim um 
processo (de intervenção);
Como processo
Enquanto processo, trata-se de um conjunto não redutível a conteúdos 
cognitivos em sentido clássico, isto é, um conteúdo verbalizado e 
formalizado. Podemos, então, ir além do mito de que “saber” é “saber 
falar sobre”;
Composição
Compõe-se de: modos de ação, estruturas conceituais para cada situ-
ação de trabalho (ou classe de situação, como veremos mais adiante), 
lógicas próprias, ferramentas, sistemas, máquinas, valores, aspectos 
éticos, políticos, sociais, ambientais, econômicos;
Finalidade
Com relação a sua finalidade, busca uma efetiva intervenção no 
mundo para a produção da existência individual e coletiva;
Relação com a ciência
As relações entre técnica e demais ciências são intensas e íntimas 
(falaremos mais a respeito disso ao tratar da Tecnologia). Mas é bom 
frisar que “se o pensamento da técnica é independente do da ciência" 
e, ainda assim, "não é menos rigoroso” (MAHIAS, 2013)”.
Nós usamos a palavra “rotina” ou “automático” para descrever esse nível de 
competência, mas acho que esse vocabulário sugere erroneamente que num 
determinado ponto do desenvolvimento a mente desaparece da performance 
física. É verdade que o monitoramento constante diminui, mas não a consciência 
e aquela fusão de conceito e habilidade.
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O que é saber técnico?
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UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Validação do conhecimento técnico
Como é validado o conhecimento técnico? Valida-se tanto material 
quanto socialmente pelos efeitos produzidos, sua eficácia. Isso difere 
da epistemologia clássica da ciência, em que predomina a validação 
Técnica e cultura
A técnica está, assim, no coração do laço social (SIGAUT, 2004), e não 
mais pode ser pensada como algo externo ao ser humano e à cultura. 
A cultura não é o lado subjetivo de uma moeda com outro lado 
somente objetivo, geralmente com conotação ou valor abjeto (a repul-
sa ao trabalho, à técnica).
O conhecimento técnico tem características próprias, com semelhanças e dife-
renças em relação ao conhecimento das outras ciências. Por assumir formas 
diferentes e ser muitas vezes incorporado pelo trabalhador de diferentes formas, 
como vimos, não sendo expresso necessariamente por meio de palavras, este 
conhecimento pode perder visibilidade e reconhecimento.
Alguns pensadores, contudo, buscaram colocar em palavras aquilo que não se 
limita a elas. Vamos lá, então.
Dissemos anteriormente que a técnica é um modo qualificado de intervenção 
no mundo e adjetiva do ser humano. Pois esta intervenção, este modo de agir, 
pode ser descrita como um processo (BARATO, 2004, 2008). O que significa isso?
Assim, pode-se qualificar a técnica com estas dimensões “epistemológicas”, que 
envolvem aspectos metodológicos, conscientes, planejados, atravessados por 
uma cultura e uma linguagem própria. Mas a intervenção é sua finalidade - para 
produzir a existência, transformar o real, inovar...
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O que é Tecnologia?
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Validação do conhecimento técnico
Ora, as técnicas, como saberes fundamentais e complexos do ser humano, 
precisam ser descritas, compreendidas em sua estrutura lógica, sistematiza-
das, organizadas, lembradas, transformadas e muitas vezes inventadas 
(SIGAUT, 2009; VIEIRA PINTO, 2005; HAUDRICOURT, 1987).
 A tecno-logia (teckhne + logos) é uma ciência, no sentido amplo de estudos 
sistematizados, compartilhado por uma comunidade de praticantes e pesquisadores.
 É preciso diferenciar esta definição epistemológica de tecnologia do seu senti-
do comum de objetos tecnológicos (computador, celular, so�ware, por exemplo), pois 
este sentido não é suficiente para constituir um norte para Educação Profissional e 
o mundo do trabalho.
 Para entender a importância da Tecnologia como ciência da técnica, é preciso 
entender que a técnica não é mera “aplicação da ciência” e a tecnologia não é um 
subproduto da ciência, mais bonito, moderno e reluzente do que a técnica.
 Como ciência da técnica, a Tecnologia deixa de se confundir com uma simples 
aplicação da “Ciência” porque seu objeto de estudo, as técnicas, têm características 
próprias e envolvem um acúmulo de saberes, uma tradição, nem sempre reconhecidos 
nas demais disciplinas científicas.
 Apesar de muitas vezes se nutrirem destas Ciências que se consolidaram nos 
últimos dois séculos (Física, Química, Biologia etc.), a técnica veio muito antes da “Ci-
ência”, que, em seu sentido moderno, é muito recente se considerarmos a história da 
humanidade. Por isso, a ciência pode ser chamada de "filha da técnica" (MORAES, 2016)
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Qual a diferença, então, entre o saber técnico e o saber dito “científico” (seria 
melhor dizer: das outras ciências)?
O saber científico é, predominantemente, explicativo, teórico, verbal, é “discurso 
sistematizado” (BARATO, 2004). Inclui métodos e realizações materiais (técnicas, 
vale dizer), porém estes não constituem seu escopo, sua finalidade.
Infelizmente, é muito comum privilegiar-se esta forma do conhecimento em 
Educação Profissional, de modo que “qualquer experimentação, execução, mani-
pulação está fora do jogo” (BARATO, 2008, p. 8).
Pior ainda, perde-se de vista o processo de intervenção, que tem um sentido 
especial para aquele que consegue realizá-lo ou participar de sua realização.
Assim, se se reduzir a técnica à “prática”, esta virá sempre depois da “teoria”, 
como sua “ilustração”.
Resumiremos aqui estas considerações dizendo que, como forma de saber 
fundamental em nossa vida, a técnica possui diversos sentidos (ALLAIN, 
GRUBER, WOLLINGER, 2020):
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O que é Tecnologia?
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Validação do conhecimento técnico
Ainda assim, o privilégio dado à Ciência, em especial no Brasil, desde o século
19 (com sua notória história de proximidade com o positivismo), muitas vezes 
dificulta a compreensão desta distinção entre “Ciência” e Tecnologia.
É importante insistir: há laços estreitos, como dissemos no tópico anterior, en-
tre as ciências "explicativas"dos fenômenos físicos/sociais e a ciência das 
intervenções (a Tecnologia). Mas não há uma hierarquia, uma importância 
maior de uma em relação a outra, e, sim, possibilidades de crescimento mútuo.
conjunto de técnicas e de técnicos. Percebe-se a frequente interdependência
entre tecnologia e as demais ciências. Esta estreita relação ciências explica-
tivas/tecnologia não dispensa a distinção de objetivo das duas.
Mas nem sempre é fácil entender que as técnicas e a Tecnologia não são 
"mera aplicação" da ciência.
Vamos tomar um exemplo: as técnicas agrícolas desenvolveram-se durante 
séculos sem a constituição de uma ciência agrária prévia (SIGAUT, 1985). 
Assista ao vídeo no link: https://youtu.be/bAiE8-LJQG8 ou leia a transcrição
a seguir. 
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01
Isso é evidente na história da huma-
nidade, desde a importância da 
construção do telescópio por Galileu, 
para que pudesse alcançar os seus 
famosos avanços astronômicos, 
passando pela dependência que a
física moderna demonstrou para com 
os dados produzidos no acelerador
de partículas, o LHC (Large Hadron
Collider) - que requereu um imenso 
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O que é Tecnologia 1O que é Tecnologia 1
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 2 - O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Vídeo - O que é Tecnologia 01
Mentoria para a 
Educação Profissional
 A agricultura, este processo de intervenção no mundo para produzir
alimentos, vem ocorrendo de muitas formas e por meio de instrumentos 
dos mais diversos ao longo do tempo e das diferentes sociedades. 
 Aos poucos (na verdade muito pouco tempo atrás) a Agronomia 
surgiu e passou a conviver interativamente com as técnicas agrícolas. 
Não seria legítimo, em última análise, tratar a agronomia como uma 
Tecnologia - uma ciência das técnicas agrícolas? 
 O laço entre as ciências e as técnicas pode ser cada vez mais 
estreito, contudo, não deve apagar as especificidades mencionadas, e sim 
intensificar o diálogo. A mesma análise poderá ser feita com relação a 
diversas outras formações profissionais que se consolidaram como disci-
plina. 
 Na verdade, embora sejam geralmente tratadas como ciências, 
muitas delas se constituíram como uma formação tecnológica (que 
estuda formas de intervenção no mundo): A biblioteconomia, a gastrono-
mia, a enfermagem, e até a medicina.
 
O que é Tecnologia?
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Validação do conhecimento técnico
Sem mesmo entrar nas formações já organizadas em disciplinas, em escolas ou
na academia, muitos corpos de saberes foram se sistematizando e consolidando 
sem ter origem na filosofia, na ciência, em conhecimento formalizado/discipli-
nado, na descoberta de fenômenos, mas em outras formas de construção do 
saber. Para compreender, assista ao vídeo no link:https://youtu.be/QnYFaNl2KVw 
ou leia a transcrição a seguir.
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01
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O que é Tecnologia 2O que é Tecnologia 2
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 2 - O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Vídeo - O que é Tecnologia 02
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Em algum momento de manipulação do leite por criadores de 
animais leiteiros, percebeu-se que, sob certas condições de armazena-
mento, o leite coalhado e escoado não apodrecia, mas permanecia sabo-
roso e saudável quando ingerido... nasce o queijo.
 Um fazer produziu um saber! 
 Trata-se de outra origem do conhecimento: a atividade laboral, o 
trabalho. Aos poucos a produção de queijos foi se aperfeiçoando com 
novas experimentações, novos processos e assim por diante. 
 A técnica de fabricação de queijos evoluiu para produzir essa 
maravilha de alimento presente em todo o mundo. Muitos milênios 
depois de consolidadas as técnicas de produção de queijos é que a ciên-
cia biológica investigou que o fenômeno responsável pela transformação 
do leite em queijo é um micro-organismo, cada tipo de micro-organismo 
produz um tipo de queijo.
 Hoje a técnica de produção de queijo se vale dos saberes da ciên-
cia biológica e da ciência dos alimentos para aprimorar a produção, 
todavia a técnica de produção de queijos e todos seus milenares saberes 
ainda mantém a "independência" da ciência biológica.
 
Para concluir
UNIDADE 2: O Trabalho Como Exercício Social da Técnica
Mentoria para a 
Educação Profissional
Validação do conhecimento técnico
Ao distinguir conceitos científicos de conceitos técnicos, Vidal-Gomel e 
Rogalski (2007) mostraram outros modos de interação ainda entre ciência e 
técnica, como a possibilidade de um se tornar objeto de estudo do outro.
Contudo, deixam claro a diferença de função e intenção, ou seja, há muita 
contaminação e relações entre a ciência da técnica e as outras ciências, 
porém não se confundem.
Enfim, é importante lembrar que, a técnica sendo adjetiva do ser humano, a 
Tecnologia é antes de mais nada uma ciência humana, como colocam alguns 
autores como Haudricourt. Como ciência humana, a Tecnologia não pode 
ignorar que os fatos técnicos não podem ser isolados uns dos outros, pois 
fazem parte de uma rede que possui lógica própria. E esta lógica só pode ser 
apreendida em uma perspectiva histórica (MAHIAS, 2013).
01
Acesse em: https://wendellbg.github.io/projetomooc/img/uni2/MOOC2_UNID2_Tela09_arquivo.pdf
 Programa Mentoria para
 a Educação Profissional
Curso: Processos de Orientação 
Educacional e Profissional
Professores: Paulo R. Wollinger e Olivier Allain
UNIDADE 3
Apresentação
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
O trabalho como obra
Vamos falar agora sobre alguns aspectos do trabalho sobre os quais você tal-
vez já tenha refletido (que bom!), mas que nos parecem muito importantes 
serem aprofundados, considerando sua relevância para uma melhor com-
preensão da Educação Profissional e do papel que ela pode ter em nossas vidas.
Iniciaremos com uma ideia ainda pouco explorada: a da obra do trabalho, isto é:
Vale ressaltar que obra, aqui, é utilizada em sentido amplo, de uma realização 
de que todo trabalhador participa, com seu trabalho, mas que não é necessa-
riamente individual, embora carregue as marcas pessoais de cada trabalhador. 
Tampouco é necessariamente “material”, em sentido estrito.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
O trabalho como obra
Jarbas Novelino Barato coloca, assim, a obra do trabalho como referência 
metodológica fundamental na Educação Profissional, mas também como 
forma privilegiada de mediar a aprendizagem do futuro trabalhador.
"A 'matéria-prima' do trabalho não é, para o operador, uma 'página em branco', 
habitualmente ele lê o traço da atividade de seus colegas no 'objeto' que rece-
be, e deixa nele a marca de seu próprio trabalho. Nesse sentido, o resultado da 
atividade é sempre uma 'obra (ergon) pessoal', sinal da habilidade, personalida-
de etc., daquele que a produziu". (GUÉRIN et al, 2001, p. 18)
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
O trabalho como obra
A importância dessa dimensão é considerável para o indivíduo:
Mas, na situação de formação, como o aprendiz participa da elaboração da 
obra do trabalho?
As alternativas mais comuns na Educação Profissional (por favor, estudante, 
se conhecer outras possibilidades não deixe de compartilhar) são as oficinas, 
projetos (ensino, pesquisa) ou atividade de extensão.
A formação por meio de oficinas, segundo a experiente estudiosa da formação 
profissional nórdica, Liv Mjelde, tem propriedades “mágicas”. Em vez de apre-
sentar os argumentos da autora, vamos tentar apreendê-los a partir da des-
crição de uma cena de oficina de soldagem (ROSE, 2015, p. 124):
UNIDADE 3: Dimensões dotrabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
Figura 03 - Fonte: douradosnews.com.br
MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 3 - Dimensões do trabalho e da profissionalização
Áudio 
Narração: Quando você conversa com os alunos depois de uma 
soldagem, também percebe que eles estão construindo 
conhecimentos a respeito da eletricidade e de metais e sobre 
os prós e os contras de diferentes processos de soldagem. O 
instrutor, que passeia por entre eles, checando, dando rápidas 
demonstrações, ajuda-os a usar esse conhecimento para 
entender por que uma solda não deu certo. Além da qualidade 
técnica, os aprendizes estão desenvolvendo um senso estético 
do trabalho: eles falam sobre uma “bela” solda e estabelecem 
uma relação entre estética e funcionalidade. E desenvolvem 
também uma ética da prática; uma solda mal feita pode ter 
sérias consequências. “Uma ponte é tão forte quanto sua 
menor solda”, o outro instrutor na sala diz a seus alunos. 
“Vocês estão pegando duas entidades separadas e 
transformando-as em uma. Vocês são como um cirurgião, mas 
estão trabalhando com metal. Então, levem isso muito a sério" 
Mentoria para a 
Educação Profissional
Folheando as dimensões do trabalho: do 
cognitivo ao cultural
As dimensões introduzidas até agora com uma abordagem especial da técnica 
e da obra laboral (dimensões corporais, sensoriais, estéticas, éticas) se desdo-
bram em diversas outras dimensões do trabalho.
Vamos conhecer as dimensões cognitiva e ética.
Como continuação do tema da obra do trabalho, podemos lembrar que um 
trabalhador, antes de mais nada, é alguém que age em diversas situações, 
valendo-se de técnicas, recursos e saberes (os quais podem ser pensados 
como recursos aqui).
Partindo desta constatação, poderíamos perguntar:
Assista o vídeo no link: https://youtu.be/veCd54XTnPw ou leia a transcrição 
a seguir.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
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MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 3 - Dimensões do trabalho e da profissionalização
Roteiro - vídeo
Mentoria para a 
Educação Profissional
Como um trabalhador consegue realizar suas tarefas, resolver 
problemas, encontrar soluções? Como as pessoas aprendem uma 
profissão, como aprimoram ou inventam novas técnicas? 
A teoria da “conceituação na ação”, de Gérard Vergnaud (2011), 
oferece respostas a estas perguntas com base em elementos das teorias 
de Piaget e de Vigotski (e outros pensadores como Brousseau e Douady), 
que foram revisitadas e repensadas para o contexto da aprendizagem 
dos adultos no mundo do trabalho.
 A ideia de que a gente precisa “conceituar” para poder agir - e, de 
forma reversa, precisamos agir para melhor conceituar - permite pensar 
fora do velho modelo educacional baseado no par “teoria e prática” , 
insuficiente para explicar a “inteligência” dos trabalhadores e o “rico 
conteúdo intelectual do trabalho”.
Que tal um exemplo concreto?
Você certamente já precisou realizar uma coleta de sangue, não é 
mesmo? Para isso, um técnico em enfermagem ou enfermeiro fez em 
você uma punção venosa. Nessa situação, o técnico precisa mobilizar 
vários saberes, como os de higiene e assepsia, de segurança (com 
relação ao que está fazendo com o paciente, como armazena o sangue 
coletado, etc.), de conforto e ergonomia (tanto para a postura do paciente 
como do técnico) além de um saber-fazer relacionado à comunicação e 
psicologia do atendimento (precisará tranquilizar o paciente, distraí-lo, 
etc.). 
Mas a técnica da punção venosa será aqui fundamental. É uma 
situação crítica para este profissional, pois há uma grande variedade de 
tipos de veias, de pele, de estados de saúde dos pacientes, de situações 
de coleta, etc. Então, para o sucesso da coleta de sangue, uma etapa 
crucial é o técnico entender qual o estado das veias do paciente, o que 
analistas desta atividade chamaram de “diagnóstico do capital venoso” 
do paciente.
Este diagnóstico do capital venoso do paciente é o que os autores 
da Didática Profissional chamam de um “conceito pragmático”, isto é, um 
conceito organizador da ação do profissional, que depende da situação e 
da experiência em situação. Para o diagnóstico das veias do paciente (ou 
do chamado “capital venoso”), é preciso que o Técnico em enfermagem 
consiga distinguir quatro indicadores na hora da punção venosa: o 
calibre da veia, a espessura da pele, a mobilidade e a fragilidade da veia. 
A partir deste diagnóstico, será possível realizar a punção, com a agulha, 
ângulo e profundidade certos… 
MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 3 - Dimensões do trabalho e da profissionalização
Roteiro - vídeo
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Olá! Vamos falar um pouco sobre alguns dos principais conceitos 
que ajudam a esclarecer o que é a Educação Profissional e sua importân-
cia em nossas vidas. 
 Vamos começar com uma “estática”.
 Concentre-se e imagine que você acabou de acordar. 
 Agora pense com detalhe nas coisas que você faz entre este 
acordar e o momento em que chega no trabalho (ou começa a trabalhar, 
se você trabalha em casa). 
 No que você pensou?
 ( ) tomo um banho
 ( ) preparo um café
 ( ) escovo os dentes
 ( ) eu me visto
 ( ) desloco-me de carro, ônibus, bicicleta até o trabalho
 Agora, para cada uma das ações nas quais pensou, reflita: como foi 
possível você: tomar um banho, preparar um café, escovar os dentes, 
vestir-se, etc.? Tomemos dois exemplos: 
 1. Você foi escovar os dentes. De que você precisou? Isso mesmo: 
de várias coisas: escova e pasta de dentes, uma técnica de escovação, 
mas também: de água corrente, a qual chega por um encanamento, pia, 
torneira… Quem fez com que tudo isso fosse possível?
 2. Agora, se você foi preparar um café, são diversas técnicas pos-
síveis, mas em todas elas foi preciso: do pó de café, claro, de água aquec-
ida, de filtro e de recipientes. Por trás de cada um destes itens, um con-
junto enorme de técnicas e também de profissionais
 3. Isso remonta ao plantio do café, colheita, seleção dos grãos, 
torrefação, embalagem, transporte, distribuição…
 4. O mesmo vale para o gás que você usou para esquentar a água: 
extração do gás, sistema de distribuição, encanamento, fogão… 
 Tomamos apenas dois exemplos de uma quantidade gigantesca de 
atividades que, quando analisadas assim, nos mostram que somos seres 
completamente mergulhados na técnica e também dependentes do 
trabalho de inúmeros profissionais. 
 Desde a colonização portuguesa e o regime escravocrata, o Brasil 
viveu uma das maiores experiências de escravidão da história da humani-
dade. Não somente o chamado trabalho braçal, mas toda atividade técni-
ca passou a ser associada à atividade escrava.
 Quem já conheceu outras culturas terá certamente percebido o 
maior valor social atribuído às diversas profissões que chamamos de 
“técnicas” (e até as “manuais”).
 Um dos maiores problemas em nossa tradição ocidental é que a 
técnica não é reconhecida como atividade reflexiva, transformadora e 
humanizante. Há quem encare a técnica como algo que não pertence à 
cultura humana.
 Pior do que isso. Frequentemente a própria cultura é definida em 
oposição à técnica. Você consegue imaginar uma cultura sem técnicas?
Como seria a técnica de fazer sapatos, sem considerar as dimensões 
culturais e sociais que envolvem o fazer-sapateiro?
 Nessa oposição, a arte torna-se superior à técnica quando, na 
verdade, estas palavras possuem origens comuns. Outra situação que 
sugere que a técnica tem menor valor é quando se opõe “formação técni-
ca” e “formação humana”.
 Ora, quando passamos a entender a técnica como adjetiva do ser 
humano, ou seja, como condição de nossa humanização, passamos 
também a entender que a formação técnica é formação humana por 
excelência!!!
 É permitido pensar que estavisão distorcida da formação técnica 
em educação também é fruto da nossa secular cultura de repulsa ao 
trabalho.. Nós, educadores, podemos contribuir para superar os precon-
ceitos com relação à formação técnica e profissional mostrando seu 
poder transformador, mostrando que estão presentes nela todas as 
dimensões da cultura, que com ela empoderamos cidadãos para intervir 
no mundo e produzir a sua existência e a da sociedade. 
 
 A agricultura, este processo de intervenção no mundo para produz-
ir alimentos, vem ocorrendo de muitas formas e por meio de instrumentos 
dos mais diversos ao longo do tempo e das diferentes sociedades. Aos 
poucos (na verdade muito pouco tempo atrás) a Agronomia surgiu e 
passou a conviver interativamente com as técnicas agrícolas. 
 Não seria legítimo, em última análise, tratar a agronomia como 
uma Tecnologia - uma ciência das técnicas agrícolas? 
 O laço entre as ciências e as técnicas pode ser cada vez mais 
estreito, contudo, não deve apagar as especificidades mencionadas, e sim 
intensificar o diálogo. A mesma análise poderá ser feita com relação a 
diversas outras formações profissionais que se consolidaram como disci-
plina. 
 Na verdade, embora sejam geralmente tratadas como ciências, 
muitas delas se constituíram como uma formação tecnológica (que 
estuda formas de intervenção no mundo): A biblioteconomia, a gastrono-
mia, a enfermagem, e até a medicina.
 
 Em algum momento de manipulação do leite por criadores de 
animais leiteiros, percebeu-se que, sob certas condições de armazena-
mento, o leite coalhado e escoado não apodrecia, mas permanecia sabo-
roso e saudável quando ingerido... nasce o queijo.
 Um fazer produziu um saber! Trata-se de outra origem do conheci-
mento: a atividade laboral, o trabalho. Aos poucos a produção de queijos 
foi se aperfeiçoando com novas experimentações, novos processos e 
assim por diante. A técnica de fabricação de queijos evoluiu para produzir 
essa maravilha de alimento presente em todo o mundo. Muitos milênios 
depois de consolidadas as técnicas de produção de queijos é que a ciên-
cia biológica investigou que o fenômeno responsável pela transformação 
do leite em queijo é um micro-organismo, cada tipo de micro-organismo 
produz um tipo de queijo.
 Hoje a técnica de produção de queijo se vale dos saberes da ciên-
cia biológica e da ciência dos alimentos para aprimorar a produção, 
todavia a técnica de produção de queijos e todos seus milenares saberes 
ainda mantém a "independência" da ciência biológica.
 
 Como um trabalhador consegue realizar suas tarefas, resolver 
problemas, encontrar soluções? Como as pessoas aprendem uma profis-
são, como aprimoram ou inventam novas técnicas? 
 A teoria da “conceituação na ação”, de Gérard Vergnaud (2011), 
oferece respostas a estas perguntas com base em elementos das teorias 
de Piaget e de Vigotski (e outros pensadores como Brousseau e Douady), 
que foram revisitadas e repensadas para o contexto da aprendizagem dos 
adultos no mundo do trabalho.
 A ideia de que a gente precisa “conceituar” para poder agir - e, de 
forma reversa, precisamos agir para melhor conceituar - permite pensar 
fora do velho modelo educacional baseado no par “teoria e prática” , 
insuficiente para explicar a “inteligência” dos trabalhadores e o “rico 
conteúdo intelectual do trabalho”.
 Que tal um exemplo concreto?
 Você certamente já precisou realizar uma coleta de sangue, não é 
mesmo? Para isso, um técnico em enfermagem ou enfermeiro fez em 
você uma punção venosa. Nesta situação, o técnico precisa mobilizar 
vários saberes, como os de higiene e assepsia, de segurança (com 
relação ao que está fazendo com o paciente, como armazena o sangue 
coletado, etc.), de conforto e ergonomia (tanto para a postura do paciente 
como do técnico) além de um saber-fazer relacionado à comunicação e 
psicologia do atendimento (precisará tranquilizar o paciente, distrai-lo, 
etc.). 
 Mas a técnica da punção venosa será aqui fundamental. É uma 
situação crítica para este profissional, pois há uma grande variedade de 
tipos de veias, de pele, de estados de saúde dos pacientes, de situações 
de coleta, etc. Então, para o sucesso da coleta de sangue, uma etapa 
crucial é o técnico entender qual o estado das veias do paciente, o que 
analistas desta atividade chamaram de “diagnóstico do capital venoso” do 
paciente.
 Este diagnóstico do capital venoso do paciente é o que os autores 
da Didática Profissional chamam de um “conceito pragmático”, isto é, um 
conceito organizador da ação do profissional, que depende da situação e 
da experiência em situação. Para o diagnóstico das veias do paciente (ou 
do chamado “capital venoso”), é preciso que o Técnico em enfermagem 
consiga distinguir quatro indicadores na hora da punção venosa: o calibre 
da veia, a espessura da pele, a mobilidade e a fragilidade da veia. A partir 
deste diagnóstico, será possível realizar a punção, com a agulha certa, 
ângulo e profundidade certos… 
Agora, veja que este conceito pragmático não é algo que eu possa 
simplesmente abstrair ou dominar sem uma longa e variada experiência 
de observação e toque de diferentes veias em diferentes pessoas. Melhor 
dizendo: ele somente ganha sentido mesmo em situações reais. 
Há também outras formas de saber-fazer aqui: como há muita 
variabilidade nas situações, o técnico precisará adaptar-se (imagine 
realizar coleta em crianças ou em condições precárias), antecipar 
dificuldades, lidar com imprevistos, seja com uma mudança no 
procedimento, na forma de se comunicar, seja pedindo ajuda ou 
delegando para outro profissional… 
 Agora, perceba todas as dimensões do trabalho envolvidas nesta 
situação: a dimensão estética do fazer bem feito, evitando sofrimento ou 
dor no paciente; a forte dimensão ética, que envolve os cuidados com a 
saúde do paciente, o respeito ao seu pudor, às suas decisões (há um 
código de ética dos profissionais de enfermagem tão rico quanto sério); a 
dimensão ambiental, com o descarte correto dos resíduos contaminantes; 
ou ainda a dimensão identitária deste ou desta profissional que pode se 
reconhecer como agente da saúde do outro, como trabalhador cuja ação 
é muito importante, como aquele que possui um comportamento ético, 
ambiental, etc.
Este exemplo é apenas de uma situação de um profissional entre 
dezenas de outras situações, com outras questões em jogo, e poderíamos 
citar centenas de outras profissões, por sua vez com inúmeras situações 
típicas ou críticas. Esperamos mesmo assim que tenha sido lançada uma 
luz sobre a importância de relacionar o subjetivo e o objetivo, o dentro e 
o fora, a realidade e a conceituação, o pensar e o agir de novas maneiras, 
para novas formas de entender os fazeres-saberes dos trabalhadores. 
A teoria da Conceituação na Ação é uma delas, como veremos a 
seguir. Ela ganhou corpo na Didática Profissional, desenvolvida por 
pesquisadores como Pierre Pastré ou Patrick Mayen (2019). Ela deu lugar 
ao que Pastré e Vergnaud (2011) chamam de uma “pedagogia das 
situações”.
Cognitiva: Conceituar na ação
Para quem aprende uma atividade profissional, a relação entre saberes conso-
lidados e formalizados (as ditas “teorias”) e o conjunto de fazeres-saberes pro-
fissionais nem sempre visíveis, valorizados ou explicitados (que muitos chama-
riam - injustamente - de “prática”) a serem desenvolvidos para se tornar um 
profissional, é mais sutil e rica do que uma relação entre um modelo ideal 
(teoria) a ser imediatamente transferível e aplicável na “prática”.
Sem descartar modelos teóricos (são importantíssimos ou até essenciais em 
muitos casos), vejamos o que se ganha na compreensão da aprendizagem 
profissional que se preocupa em entender o que acontece na vida de um 
adulto e de um trabalhador.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
Figura 04 - Fonte: Freepick
MOOC 2 – Concepções de trabalho e Profissionalização
UNIDADE 3 - Dimensões do trabalho e da profissionalização
Cognitiva:Conceituar na ação
Mentoria para a 
Educação Profissional
 Olá! Vamos falar um pouco sobre alguns dos principais conceitos 
que ajudam a esclarecer o que é a Educação Profissional e sua importân-
cia em nossas vidas. 
 Vamos começar com uma “estática”.
 Concentre-se e imagine que você acabou de acordar. 
 Agora pense com detalhe nas coisas que você faz entre este 
acordar e o momento em que chega no trabalho (ou começa a trabalhar, 
se você trabalha em casa). 
 No que você pensou?
 ( ) tomo um banho
 ( ) preparo um café
 ( ) escovo os dentes
 ( ) eu me visto
 ( ) desloco-me de carro, ônibus, bicicleta até o trabalho
 Agora, para cada uma das ações nas quais pensou, reflita: como foi 
possível você: tomar um banho, preparar um café, escovar os dentes, 
vestir-se, etc.? Tomemos dois exemplos: 
 1. Você foi escovar os dentes. De que você precisou? Isso mesmo: 
de várias coisas: escova e pasta de dentes, uma técnica de escovação, 
mas também: de água corrente, a qual chega por um encanamento, pia, 
torneira… Quem fez com que tudo isso fosse possível?
 2. Agora, se você foi preparar um café, são diversas técnicas pos-
síveis, mas em todas elas foi preciso: do pó de café, claro, de água aquec-
ida, de filtro e de recipientes. Por trás de cada um destes itens, um con-
junto enorme de técnicas e também de profissionais
 3. Isso remonta ao plantio do café, colheita, seleção dos grãos, 
torrefação, embalagem, transporte, distribuição…
 4. O mesmo vale para o gás que você usou para esquentar a água: 
extração do gás, sistema de distribuição, encanamento, fogão… 
 Tomamos apenas dois exemplos de uma quantidade gigantesca de 
atividades que, quando analisadas assim, nos mostram que somos seres 
completamente mergulhados na técnica e também dependentes do 
trabalho de inúmeros profissionais. 
 Desde a colonização portuguesa e o regime escravocrata, o Brasil 
viveu uma das maiores experiências de escravidão da história da humani-
dade. Não somente o chamado trabalho braçal, mas toda atividade técni-
ca passou a ser associada à atividade escrava.
 Quem já conheceu outras culturas terá certamente percebido o 
maior valor social atribuído às diversas profissões que chamamos de 
“técnicas” (e até as “manuais”).
 Um dos maiores problemas em nossa tradição ocidental é que a 
técnica não é reconhecida como atividade reflexiva, transformadora e 
humanizante. Há quem encare a técnica como algo que não pertence à 
cultura humana.
 Pior do que isso. Frequentemente a própria cultura é definida em 
oposição à técnica. Você consegue imaginar uma cultura sem técnicas?
Como seria a técnica de fazer sapatos, sem considerar as dimensões 
culturais e sociais que envolvem o fazer-sapateiro?
 Nessa oposição, a arte torna-se superior à técnica quando, na 
verdade, estas palavras possuem origens comuns. Outra situação que 
sugere que a técnica tem menor valor é quando se opõe “formação técni-
ca” e “formação humana”.
 Ora, quando passamos a entender a técnica como adjetiva do ser 
humano, ou seja, como condição de nossa humanização, passamos 
também a entender que a formação técnica é formação humana por 
excelência!!!
 É permitido pensar que esta visão distorcida da formação técnica 
em educação também é fruto da nossa secular cultura de repulsa ao 
trabalho.. Nós, educadores, podemos contribuir para superar os precon-
ceitos com relação à formação técnica e profissional mostrando seu 
poder transformador, mostrando que estão presentes nela todas as 
dimensões da cultura, que com ela empoderamos cidadãos para intervir 
no mundo e produzir a sua existência e a da sociedade. 
 
 A agricultura, este processo de intervenção no mundo para produz-
ir alimentos, vem ocorrendo de muitas formas e por meio de instrumentos 
dos mais diversos ao longo do tempo e das diferentes sociedades. Aos 
poucos (na verdade muito pouco tempo atrás) a Agronomia surgiu e 
passou a conviver interativamente com as técnicas agrícolas. 
 Não seria legítimo, em última análise, tratar a agronomia como 
uma Tecnologia - uma ciência das técnicas agrícolas? 
 O laço entre as ciências e as técnicas pode ser cada vez mais 
estreito, contudo, não deve apagar as especificidades mencionadas, e sim 
intensificar o diálogo. A mesma análise poderá ser feita com relação a 
diversas outras formações profissionais que se consolidaram como disci-
plina. 
 Na verdade, embora sejam geralmente tratadas como ciências, 
muitas delas se constituíram como uma formação tecnológica (que 
estuda formas de intervenção no mundo): A biblioteconomia, a gastrono-
mia, a enfermagem, e até a medicina.
 
 Em algum momento de manipulação do leite por criadores de 
animais leiteiros, percebeu-se que, sob certas condições de armazena-
mento, o leite coalhado e escoado não apodrecia, mas permanecia sabo-
roso e saudável quando ingerido... nasce o queijo.
 Um fazer produziu um saber! Trata-se de outra origem do conheci-
mento: a atividade laboral, o trabalho. Aos poucos a produção de queijos 
foi se aperfeiçoando com novas experimentações, novos processos e 
assim por diante. A técnica de fabricação de queijos evoluiu para produzir 
essa maravilha de alimento presente em todo o mundo. Muitos milênios 
depois de consolidadas as técnicas de produção de queijos é que a ciên-
cia biológica investigou que o fenômeno responsável pela transformação 
do leite em queijo é um micro-organismo, cada tipo de micro-organismo 
produz um tipo de queijo.
 Hoje a técnica de produção de queijo se vale dos saberes da ciên-
cia biológica e da ciência dos alimentos para aprimorar a produção, 
todavia a técnica de produção de queijos e todos seus milenares saberes 
ainda mantém a "independência" da ciência biológica.
 
 Como um trabalhador consegue realizar suas tarefas, resolver 
problemas, encontrar soluções? Como as pessoas aprendem uma profis-
são, como aprimoram ou inventam novas técnicas? 
 A teoria da “conceituação na ação”, de Gérard Vergnaud (2011), 
oferece respostas a estas perguntas com base em elementos das teorias 
de Piaget e de Vigotski (e outros pensadores como Brousseau e Douady), 
que foram revisitadas e repensadas para o contexto da aprendizagem dos 
adultos no mundo do trabalho.
 A ideia de que a gente precisa “conceituar” para poder agir - e, de 
forma reversa, precisamos agir para melhor conceituar - permite pensar 
fora do velho modelo educacional baseado no par “teoria e prática” , 
insuficiente para explicar a “inteligência” dos trabalhadores e o “rico 
conteúdo intelectual do trabalho”.
 Que tal um exemplo concreto?
 Você certamente já precisou realizar uma coleta de sangue, não é 
mesmo? Para isso, um técnico em enfermagem ou enfermeiro fez em 
você uma punção venosa. Nesta situação, o técnico precisa mobilizar 
vários saberes, como os de higiene e assepsia, de segurança (com 
relação ao que está fazendo com o paciente, como armazena o sangue 
coletado, etc.), de conforto e ergonomia (tanto para a postura do paciente 
como do técnico) além de um saber-fazer relacionado à comunicação e 
psicologia do atendimento (precisará tranquilizar o paciente, distrai-lo, 
etc.). 
 Mas a técnica da punção venosa será aqui fundamental. É uma 
situação crítica para este profissional, pois há uma grande variedade de 
tipos de veias, de pele, de estados de saúde dos pacientes, de situações 
de coleta, etc. Então, para o sucesso da coleta de sangue, uma etapa 
crucial é o técnico entender qual o estado das veias do paciente, o que 
analistas desta atividade chamaram de “diagnóstico do capital venoso” do 
paciente.
 Este diagnóstico do capital venoso do paciente é o que os autores 
da Didática Profissional chamam de um “conceito pragmático”, isto é, um 
conceito organizador da ação do profissional, que depende da situação e 
da experiência em situação. Para o diagnóstico das veias do paciente (ou 
do chamado “capital venoso”), é preciso que o Técnico em enfermagem 
consiga distinguir quatro indicadores na hora da punção venosa: o calibre 
da veia, a espessura da pele, a mobilidade e a fragilidadeda veia. A partir 
deste diagnóstico, será possível realizar a punção, com a agulha certa, 
ângulo e profundidade certos… 
 Agora, veja que este conceito pragmático não é algo que eu possa 
simplesmente abstrair ou dominar sem uma longa e variada experiência 
de observação e toque de diferentes veias em diferentes pessoas. Melhor 
dizendo: ele somente ganha sentido mesmo em situações reais. 
 Há também outras formas de saber-fazer aqui: como há muita 
variabilidade nas situações, o técnico precisará adaptar-se (imagine 
realizar coleta em crianças ou em condições precárias), antecipar dificul-
dades, lidar com imprevistos, seja com uma mudança no procedimento, 
na forma de se comunicar, seja pedindo ajuda ou delegando para outro 
profissional… 
 Agora, perceba todas as dimensões do trabalho envolvidas nesta 
situação: a dimensão estética do fazer bem feito, evitando sofrimento ou 
dor no paciente; a forte dimensão ética, que envolve os cuidados com a 
saúde do paciente, o respeito ao seu pudor, às suas decisões (há um 
código de ética dos profissionais de enfermagem tão rico quanto sério); a 
dimensão ambiental, com o descarte correto dos resíduos contaminantes; 
ou ainda a dimensão identitária deste ou desta profissional que pode se 
reconhecer como agente da saúde do outro, como trabalhador cuja ação 
é muito importante, como aquele que possui um comportamento ético, 
ambiental, etc.
 Este exemplo é apenas de uma situação de um profissional entre 
dezenas de outras situações, com outras questões em jogo, e poderíamos 
citar centenas de outras profissões, por sua vez com inúmeras situações 
típicas ou críticas. Esperamos mesmo assim que tenha sido lançada uma 
luz sobre a importância de relacionar o subjetivo e o objetivo, o dentro e o 
fora, a realidade e a conceituação, o pensar e o agir de novas maneiras, 
para novas formas de entender os fazeres-saberes dos trabalhadores. 
 A teoria da Conceituação na Ação é uma delas, como veremos a 
seguir. Ela ganhou corpo na Didática Profissional, desenvolvida por 
pesquisadores como Pierre Pastré ou Patrick Mayen (2019). Ela deu lugar 
ao que Pastré e Vergnaud (2011) chamam de uma “pedagogia das situ-
ações”.
 
 
 
 A dimensão da cultura técnica de uma profissão, longe de ser 
fechada, é aberta e conectável aos outros planos da cultura. O registro 
identitário para o sujeito trabalhador ou aprendiz pode ser ampliado e 
alterado nessas conexões, como quando ele aprende um idioma, uma 
arte, outras formas de trabalho, outras teorias, outras culturas técnicas da 
mesma profissão em outros países etc.
 Pensar a dimensão cultural da técnica e do trabalho e sua inter-
penetração com a cultura em geral permite, ainda, vislumbrar uma pos-
sível superação da divisão entre formação humana e formação técnica, 
formação intelectual e formação prática, por ajudar a evitar o desliga-
mento do ato técnico das suas implicações sociais, éticas, econômicas, 
ambientais.
 Isso porque não se pensaria mais a técnica como separada da 
cultura ou até mesmo como oposição à cultura, um modo de pensar (e 
agir) enraizado nas sociedades ocidentais há milênios
 
 
 
 
 Como ocorrem os processos de profissionalização? 
 Neste vídeo veremos a relação do percurso biográfico do 
trabalhador em relação à sua profissionalização.
 Estes processos ocorrem ao longo do percurso “biográfico” do 
trabalhador- ou seja, por meio de um processo ao longo “de toda a vida” - 
que envolve aprendizagens, experiências etc. Isso significa que a 
experiência profissional (mesmo após completar um curso de educação 
formal em escola ou universidade) será determinante com relação ao 
“sentir-se” profissional e ser reconhecido.
 A ideia de “experiência” aqui proposta não se restringe ao conjunto 
de atividades passadas e finalizadas, ou seja, a uma concepção “fechada” 
e fixa de formação da identidade do trabalhador. Mas é concebida como 
uma elaboração, uma atividade, que retoma cada ação nova para trans-
formar os recursos anteriormente construídos”.
 Neste segundo sentido, “a experiência está no presente da enun-
ciação e da evocação, e só se manifesta na sua transformação e sua 
eventual mobilização para uma ação futura. Em geral, tais processos são 
permeados por mecanismos de interação com os grupos profissionais nos 
quais o trabalhador está inserido, como as comunidades de prática e os 
coletivos de trabalho.
 Percebe como a experiência é indissociável da profissionalização 
do trabalhador
 
 
 
 
Apresentador: Olá, bem-vindo ao nosso podcast. Hoje conversaremos um 
pouco sobre as implicações do conceito de Comunidade de Prática e para 
isso contaremos com a presença do professor Wollinger, que é docente do 
Instituto Federal de Santa Catarina e profundo conhecedor da nossa 
Educação Profissional Brasileira. Professor Wollinger,muitos estão tendo 
contato pela primeira vez com o conceito de Comunidade de Prática, você 
pode explicar o que é esse conceito e como ele se constituiu?
Wollinger: Boa tarde, professor Olivier e obrigado pelo convite. Esse é um 
tema muito importante para quem atua com a Educação Profissional, 
pois a Comunidade de Prática é uma das mais interessantes abordagens 
de aprendizagem social. Esta expressão foi cunhada na década de 1990 
por Jean Lave e Etienne Wenger, quando estudaram grupos de alfaiates do 
leste africano (e depois em vários outros âmbitos profissionais). Eles 
perceberam que havia um movimento de participação periférica dos 
aprendizes de alfaiate que ia se legitimando por meio do seu engajamen-
to em diversas tarefas do ofício e que a aprendizagem ocorria não apenas 
na relação mestre-aprendiz, mas informalmente entre diversos 
trabalhadores envolvidos nas tarefas. 
Olivier: Então podemos dizer que é uma teoria relativamente nova e 
parece que o foco é o contexto social em que o processo de aprendiza-
gem acontece. Seria isso? Quais os ganhos desta concepção para a edu-
cação?
Wollinger: Exato. O ganho principal é o olhar social para aprendizagem. 
Este olhar alavancou a crença de que para o aprendiz não ser tratado 
como um receptor passivo de um conhecimento separado do seu mundo 
de origem, é considerado fundamental que ele se engaje em uma comu-
nidade de prática, que possa agir “sobre as situações e com as situações 
acarretando recíproca mudança”. Este engajamento em situações espe-
cíficas é condição para que qualquer generalização do saber faça sentido. 
Afinal, “saber uma regra geral de modo algum assegura a capacidade de 
generalizá-la em situações específicas nas quais a mesma seja rele-
vante”. Para Lave e Wenger, estudiosos do campo da psicologia social, a 
capacidade de generalização do conhecimento “reside no poder para 
renegociar o significado do passado e do futuro quando da construção do 
significado das circunstâncias presentes. 
 
 
 
 
Wollinger: Por exemplo: quando um eletricista começa a trabalhar em 
uma instalação elétrica, junto a outros profissionais ou com um professor, 
ele vai não apenas observar e perguntar, mas ser colocado em situação 
de tomar decisões, realizar tarefas, discutir com colegas, utilizar as ferra-
mentas, os materiais, as técnicas e normas, além de analisar a atividade 
de outros colegas. Todo este contexto constitui elementos de uma comu-
nidade de práticas. Ela tem vínculos com outras comunidades de prática 
(por exemplo, os representantes de materiais elétricos, concessionária de 
energia, usuários, etc.).
Olivier: Interessante, mas como podemos cultivar uma comunidade de 
prática?
Wollinger: Para responder a essa pergunta vamos voltar à teoria. Em 2002, 
Etienne Wenger se junta a McDermott e Snyder para formular as 
condições que permitem cultivar comunidades de prática. Algumas 
destas formulações são muito inspiradoras para o contexto da formação 
de trabalhadores. Para começar, identificam uma Comunidade de Prática 
como sendo um “grupo de pessoas que compartilham preocupações, um 
conjunto de problemas ou uma paixão sobre um assunto e que aprofun-
dam seus conhecimentos eexpertises nessa área ao interagirem de 
maneira contínua”. Não é uma comunidade idealizada: há conflitos, 
relações de poder, divergências nos grupos. Contudo, há nelas uma estru-
tura básica que faz com as Comunidades de Práticas nasçam, se desen-
volvam, se transformem ou, eventualmente, desapareçam.
Olivier: Então a comunidade de prática surge a partir do compartilhamen-
to de um grupo. Mas todo grupo é uma comunidade de prática? Como 
especificar?
 
 
 
 
Wollinger: A principal diferença é que a comunidade de prática tem uma 
estrutura que é composta por três elementos. 
O primeiro é um domínio, ou seja, o corpo de técnicas e saberes, que gera 
um senso de responsabilidade, define o compromisso, a identidade do 
grupo, a sua motivação em participar. Não são um grupo de amigos 
reunidos apenas.
O segundo é a comunidade, interessada no domínio, interage, com base 
em relações de respeito e confiança, sem o que dificilmente compartilha-
riam suas experiências, dúvidas, anseios. A comunidade é a trama social 
da aprendizagem, enriquecida pelas contribuições diversificadas dos 
indivíduos, os quais, por sua vez, compartilham uma visão geral, um 
senso de pertencimento. Esta riqueza de visões individuais e compromis-
so mútuo é um campo fértil para a aprendizagem e a criatividade;
O terceiro são as práticas, que se referem aos modos de agir da comuni-
dade no domínio que a une e pode incluir experiências, ferramentas, 
histórias, modelos, manuais, entre outros - abrangendo aspectos tácitos e 
explícitos. Esse conhecimento não é estático, ele evolui ao longo do 
tempo e à medida que novas situações e novos conhecimentos são 
apresentados, a atividade também evolui. Ela é um currículo vivo e uma 
espécie de mini cultura que une a CoP, incorporando comportamentos e 
posturas éticas, por exemplo. 
Olivier: Então temos três elementos que caracterizam uma comunidade 
de prática: o domínio ou corpo de saberes e técnicas; a comunidade; e as 
práticas ou modos de agir da comunidade. Com certeza não é um grupo 
qualquer que compartilha os mesmos interesses. Professor Wollinger, 
mais uma pergunta, o conceito de comunidade de prática pode nos reme-
ter, em primeiro momento, a uma comunidade presencial, é possível 
criarmos comunidade de práticas virtuais? 
Wollinger: Sem dúvida! Há hoje muitos CoPs virtuais além daquelas que 
se formam por meio de atividades presenciais. 
 
 
 
 
Narração: Em sua ação individual e (no mais das vezes) na interação com 
outros, o trabalhador (aprendiz ou experiente) desenvolve esquemas para 
dar conta de compreender e organizar a atividade em determinadas 
situações de trabalho. Tais situações podem apresentar semelhanças em 
sua estrutura (com variações, é claro) ou grandes diferenças e por isso se 
fala aqui na existência, para cada atividade profissional, de diferentes 
“classes de situações”. Assim, a noção de esquema, que aponta para a 
forma que toma nossa conceituação nestas situações, “é a pedra funda-
mental da análise da atividade” do trabalhador e é importante para com-
preender a sua aprendizagem. 
 
 
 
 
Cognitiva: Conceituar na ação
O esquema se forma “no decorrer de uma atividade e de uma experiência, no 
encontro com uma variedade de situações, cujas propriedades são diferentes” 
(PASTRÉ; MAYEN; VERGNAUD, 2019, p. 18)
01) O esquema se forma “no decorrer de uma atividade e de uma experiência, no 
encontro com uma variedade de situações, cujas propriedades são diferentes”.
02) Não é exatamente um "conceito" no sentido de um conteúdo do pensamento 
ou conhecimento, e, sim, um modo de organizar a ação (mental e fisicamente) 
por parte do trabalhador.
03) Tais esquemas se constituem desde o desenvolvimento de atividades gera-
lmente associadas às capacidades sensório-motoras - como quando aprende-
mos a subir uma escada.
04) Mas esquemas também são fundamentais em atividades e situações mais 
complexas: um atendimento hospitalar, o desenvolvimento de um so�ware, a 
modelagem de uma roupa, uma mediação professor-aluno
05) Esquemas integram um “modelo operativo” que o trabalhador vai construin-
do ao longo do tempo.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
01
02
0304
05
Figura 05 - Fonte: Imagem produzida pela equipe gráfica do projeto.
Narração: Em sua ação individual e (no mais das vezes) na interação com 
outros, o trabalhador (aprendiz ou experiente) desenvolve esquemas para 
dar conta de compreender e organizar a atividade em determinadas 
situações de trabalho. Tais situações podem apresentar semelhanças em 
sua estrutura (com variações, é claro) ou grandes diferenças e por isso se 
fala aqui na existência, para cada atividade profissional, de diferentes 
“classes de situações”. Assim, a noção de esquema, que aponta para a 
forma que toma nossa conceituação nestas situações, “é a pedra funda-
mental da análise da atividade” do trabalhador e é importante para com-
preender a sua aprendizagem. 
 
 
 
 
Dimensões ética, estética, pessoal e outras
Vamos, então, para finalizar este tópico de estudos, lançar agora um olhar um 
pouco mais global sobre estas dimensões que, vale repetir, estão intimamente 
imbricadas no ato técnico-profissional.
Dimensão estética
Comecemos pela dimensão estética do trabalho. Ela se relaciona, em primeiro 
lugar, com a obra do trabalhador, como vimos anteriormente.
Vamos analisar alguns exemplos elencados por Jarbas Novelino Barato (2015)
Evidentemente, você poderá apreciar melhor o valor estético de determinado 
trabalho (ou seja, da aplicação de um conjunto de técnicas) se você participar
 ou se sentir envolvido naquela cultura profissional.
Pense na beleza que atividades na área de gestão possam ter para aqueles 
que atuam na área ou se relacionam com ela.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
Um aluno do curso de eletricidade num 
canteiro de obras de habitações populares. 
Após finalizar a instalação elétrica, o 
aluno informa ao professor que vai refazer 
toda a instalação, o que surpreende o 
docente, já que tudo estava funcionando 
normalmente. Mas o aluno avaliou que 
estava "feia", apesar de correta, e quis 
alcançar o que considerava seu "padrão 
de beleza", digamos, da obra.
O pedreiro leva a família para ver a casa 
que estava construindo para eles, desta-
cando a beleza dos detalhes de aca-
bamentos etc. Em ambos, constatamos 
uma dimensão estética e pessoal na 
realização do trabalho.
Figura 06 - Fonte: PvProductions
Figura 07 - Fonte: Freepick
Dimensão ética e pessoal
A dimensão pessoal, isto é, a singularidade com que cada profissional atua, 
poderá, na verdade, ser apreciada em qualquer atividade, esteticamente ou não, 
como lembram Guérin et al (2001, p. 18).
O caso do eletricista ou do pedreiro revela ainda um aspecto moral ou ético de 
compromisso com sua prática, que também caracteriza a identidade do t
rabalhador.
Ambas dimensões dizem respeito a um “sentimento de autoafirmação” do 
sujeito (BARATO, 2015, p. 21), que ganha o seu reconhecimento enquanto autor 
da obra de seu trabalho e enquanto sujeito ativo na construção da sociedade.
UNIDADE 3: Dimensões do trabalho e da profissionalização
 
Mentoria para a 
Educação Profissional
Dimensão ética e pessoal
Podemos associar a dimensão pessoal ao que chamaremos aqui de um “em-
poderamento técnico” do sujeito aprendiz, isto é, a aquisição de uma forma 
organizada e individual de intervir no mundo e de produzir sua existência.
A dimensão ética evocada se desdobra nos valores que a ação do trabalhador 
envolve, que vão desde aqueles de uma ética profissional típica de determina-
da categoria, passando por práticas educacionais (no âmbito da formação), até 
valores sociais mais gerais.
Observe mais alguns casos ilustrativos.
Entra em discussão, pois, a dimensão identitária do trabalho e da formação 
para o trabalho, que não pode ser abordada sem ser relacionada com a 
dimensão cultural do fazer

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