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Capítulo 1 
Filoso� a: origens e temas ................................254
Exercícios Propostos .................................... 270
Módulo 1
Do mito ao logos: origens da Filoso� a ....... 270
Módulo 2
Temas de � loso� a: conhecimento .............. 275
Módulo 3
Temas de � loso� a: ética e política .............. 279
Gabarito dos Exercícios Propostos................ 283
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1 Filosofia: origens e temas
Na mitologia grega, Atena, também conhecida como Pa-
las Atena, era a deusa da sabedoria, entre outras qualidades 
que lhes eram atribuídas pelos gregos antigos. Tales de Mi-
leto, que viveu entre os séculos VII e VI a.C., é considerado o 
primeiro filósofo ocidental. As imagens, que são idealizações 
dessas personagens, ilustram um importante momento da 
história do conhecimento: a passagem da mitologia para a 
filosofia, da cosmogonia para a cosmologia.
1. Do mito ao logos: origens da filosofia
Os estudos de filosofia são, frequentemente, antece-
didos pela seguinte interrogação: o que é a filosofia? Uma 
resposta direta a essa questão, porém, não é capaz de ofe-
recer uma definição satisfatória dessa forma de conheci-
mento. Afinal, a filosofia caracteriza-se por considerável 
amplitude e, de suas origens à atualidade, percorre uma 
história na qual se inscrevem significativas transforma-
ções, com a constituição de diferentes áreas de pesquisa 
e sucessivas reorientações das tarefas pertinentes à ativi-
dade filosófica. Sendo assim, se pretendemos atingir uma 
compreensão básica da filosofia, mais adequado do que a 
busca por sua definição preliminar é o exame gradual do 
seu surgimento, das perguntas que mobilizam a reflexão 
filosófica, da formação de seus campos temáticos e das 
relações entre o saber filosófico e as demais modalidades 
de conhecimento.
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A filosofia consiste em uma elaboração cultural da hu-
manidade. No interior do próprio processo de humanização, 
desde os seus primórdios, os seres humanos se distinguem 
crescentemente como seres socioculturais: com sua inteli-
gência, elaboram socialmente conhecimentos vinculados às 
necessidades práticas, desenvolvem recursos técnicos e pro-
jetam-se além da condição que lhes é imediatamente apre-
sentada pela natureza. Em outras palavras, produzem uma 
realidade propriamente humana, a cultura.
Cultura, em seu amplo significado antropológico, envol-
ve não apenas um segmento específico das atividades hu-
manas ou os equipamentos com os quais os seres humanos 
se relacionam com o meio natural, mas também a dimensão 
dos valores morais, dos símbolos, das normas sociais, dos 
padrões de comportamento e das visões de mundo social-
mente construídas. Como seres sociais e culturais, os se-
res humanos enfrentam questões que ultrapassam as 
exigências materiais de sua sobrevivência, perguntam-se 
sobre a origem do Universo, sobre os fenômenos naturais, 
sobre a vida.
As primeiras respostas socioculturais a essas questões 
são apresentadas na esfera do pensamento mítico, ou seja, 
nas mais remotas sociedades humanas, nas civilizações do 
Antigo Oriente – Egito, Mesopotâmia, Pérsia, dentre outras – 
e nos séculos iniciais da Antiguidade grega, em que predo-
minam as narrativas mitológicas que conferem sentido ao 
conjunto da realidade cósmica, natural e social. Os relatos 
míticos são descrições que pretendem justificar a ordena-
ção do Universo, os eventos da natureza e as relações so-
ciais em bases sobrenaturais, quer dizer, nos domínios do 
pensamento mitológico, a realidade tem seu ponto de par-
tida e fundamentação nas relações hierarquizadas entre os 
deuses e nas forças divinas que, supostamente, estabele-
cem a ordem universal.
Didaticamente, podemos dividir os mitos em teogo-
nias e cosmogonias. As teogonias, discorrendo sobre 
as genealogias dos deuses, realizam a exposição das 
relações hierárquicas entre os seres divinos, em seus 
conflitos e suas alianças, com os quais se originam os 
seres do mundo. As cosmogonias, por seu turno, relatam 
a ordenação do mundo precisamente a partir dos des-
dobramentos das relações das divindades entre si, pro-
curando, dessa forma, fundamentar os fenômenos que 
presenciamos no mundo.
Transmitidos através das gerações, os mitos são acei-
tos sob o prisma da tradição cultural amparada na crença 
na supranaturalidade. Essa aceitação de seus relatos, me-
diada por autoridades políticas e religiosas, não comporta 
atitudes críticas, pautadas por questionamentos aos seus 
conteúdos. Nesse contexto, os mitos cumprem a finalidade 
pedagógica de orientar os seres humanos, situando-os em 
um mundo presumivelmente regido por uma ordem fixada 
em planos divinos.
A prevalência sociocultural da mitologia se estende 
por muitos milênios em diferentes sociedades humanas, 
permanecendo absoluta até meados do século VI a.C., 
quando, na Grécia Antiga, desenvolveu-se uma forma de 
pensamento exterior ao mito e à religiosidade, instauran-
do uma inovação cultural cujas repercussões seriam deci-
sivas para a história da humanidade: trata-se do surgimen-
to da filosofia.
A. O surgimento da filosofia
Para entender o surgimento da filosofia no mundo 
grego, é preciso, inicialmente, examinar uma questão fun-
damental: o que caracteriza a originalidade do emergente 
pensamento filosófico? Diferentemente das narrativas mi-
tológicas, sustentadas pela crença na supranaturalidade, a 
atitude filosófica converte os temas da origem e da ordem 
do mundo à condição de problemas a serem resolvidos es-
tritamente pela inteligência humana. A atividade filosófica 
compromete-se com a busca pelo conhecimento exclusiva-
mente racional da realidade, sem recorrer, portanto, à credu-
lidade prévia nos seres divinos e à aceitação de pressupos-
tos sobrenaturais.
Os primeiros filósofos gregos dedicaram-se ao exame da 
physis, termo convencionalmente traduzido por natureza. 
Entretanto, é preciso notar que o teor semântico de physis é 
mais vasto e profundo, se comparado ao significado que nossa 
cultura contemporânea atribui à expressão ‘natureza’. Physis é 
o princípio originário, fundamento de tudo o que existe (a 
arqué), o princípio interno responsável pela geração e pela 
organização do cosmos e de seus diversos componentes. É a 
realidade subjacente à nossa experiência, ou seja, o que é pri-
mário, fundamental e persistente, contrastando, então, com 
aquilo que é secundário, derivado e transitório. É a substân-
cia de que são feitas todas as coisas, ao mesmo tempo que 
consiste no próprio processo de surgimento e de desenvol-
vimento do conjunto da realidade. É a essência presente na 
pluralidade ou, dito de outra maneira, physis é a totalidade 
daquilo que é: céu, pedras, estrelas, seres humanos, enfim, a 
multiplicidade de elementos existentes pertencem à physis, 
uma vez que são a physis.
Esse entendimento mínimo sobre a noção grega de 
physis auxilia na compreensão da originalidade da postu-
ra de Tales de Mileto (625-586 a.C.), identificado como o 
personagem inaugural da filosofia pela maioria dos histo-
riadores. Tales afirma que a água é o princípio originário, a 
unidade primordial do cosmos e da diversidade que encon-
tramos em seu interior. Para o primeiro filósofo, portanto, a 
água é a physis, o princípio fundamental, presente na tota-
lidade daquilo que existe.
Uma asserção desse tipo parece pouco relevante e mes-
mo extravagante sob o prisma contemporâneo, motivo pelo 
qual é necessário sublinhar o ineditismo de Tales. Ao declarar 
tal sentença, esse pensador esboça uma explicação racio-
nal acerca do cosmos, excluindo os pressupostos divinos 
da ordenação do mundo e inaugurando a problematizaçãofilosófica. Dessa forma, Tales inicia a filosofia ao converter os 
temas tradicionais da mitologia em problemas para os quais 
se devem oferecer soluções racionais. Sua declaração de que 
a água é a unidade fundamental do cosmos contém, implici-
tamente, a indicação de relevantes questionamentos filosófi-
cos, tais como:
• Qual é o princípio originário do cosmos?
• Como se processam a geração, o crescimento e a cor-
rupção dos seres?
• O que permanece em meio às múltiplas transforma-
ções que observamos no mundo?
Tais questões, pensadas rigorosamente como problemas 
filosóficos, exigem a elaboração de respostas demonstradas 
de modo racional e, de maneira diversa dos mitos, cujo valor 
de verdade é postulado com base na autoridade da tradição, 
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as teses autenticamente filosóficas – que pretendem se 
estabelecer como explicações racionais da realidade – são 
avaliadas de forma crítica sob a perspectiva da razão. O mito 
reivindica a veracidade de seus relatos na reverência aos an-
cestrais, em seu viés religioso e na autoridade de quem os 
pronuncia, excluindo a postura crítica daqueles que acolhem 
seus ensinamentos. Já a tese filosófica sustenta-se unica-
mente em sua racionalidade e, sendo assim, é passível de ser 
criticada de modo racional.
Uma afirmação filosófica como a de Tales, em razão de 
sua pretensão racional, é sujeita a críticas, a contra-argu-
mentações, a reformulações e correções racionalmente su-
geridas. A nascente atividade filosófica, portanto, introduz na 
cultura grega e, em sentido mais amplo, na cultura ocidental, 
um espaço crítico e racional de diálogos, debates e argumen-
tações, isto é, a filosofia ultrapassa os limites do pensamento 
mitológico e realiza-se na esfera do logos.
Logos é o vocábulo grego que, de maneira muito re-
sumida e condensada, é empregado nos dias atuais como 
sinônimo de razão. Em seu sentido originariamente grego, 
logos remete a significados diferentes e articulados entre 
si, tais como pensamento, linguagem, discurso, argumen-
to, norma, conhecimento racional e ser ou realidade ínti-
ma e essencial de algo.
A constatação das diferenças entre o mito e a filosofia 
são suficientes para concluir que entre pensamento filosó-
fico e pensamento mítico verifica-se um corte radical – ou, 
entre ambos, haveria uma espécie de linha de continuida-
de? Não há interpretação unânime ou consensual a res-
peito da transição do mito ao logos entre os historiadores 
da filosofia. Destaca-se, isto sim, a divergência: há os que 
defendem a existência de vínculos essenciais entre narrati-
vas míticas e discursos filosóficos e aqueles que atribuem 
à pesquisa filosófica uma ruptura completa em relação aos 
relatos míticos. Sob o ponto de vista da continuidade da fi-
losofia com o mito, a filosofia não surge exatamente entre 
os gregos. Ela procede das antigas civilizações orientais nas 
quais se sistematizaram extensas narrativas mitológicas. 
Sob o ponto de vista do total rompimento da filosofia com 
o mito, a filosofia corresponde a uma criação plenamente 
original da cultura grega.
Entre os estudiosos que compreendem a filosofia como 
prolongamento do mito, ainda que sob forma notavelmente 
modificada, situam-se Werner Jaeger (1888-1961) e Francis 
Macdonald Cornford (1874-1943), para os quais a filosofia 
transfere as formulações míticas para o plano do discurso 
laico, quer dizer, consiste na progressiva racionalização dos 
conteúdos da mitologia. De acordo com essa perspectiva, a 
filosofia não se diferencia essencialmente do mito, pois os 
primeiros filósofos mantêm a estrutura das narrativas míticas 
e não submetem suas teses à experimentação e à prova, limi-
tando-se a reelaborar os conteúdos míticos sob uma estrutu-
ra discursiva abstrata.
A tese que concebe o pensamento filosófico como com-
pleta ruptura em relação ao mito difunde-se amplamente com 
os escritos do intelectual britânico John Burnet (1863-1928), 
para quem as diferenças entre a mitologia e a filosofia não 
são secundárias, mas sim essenciais. Segundo essa con-
cepção, os mitos se restringem a narrativas pretéritas, pro-
curando justificar a realidade em acontecimentos que teriam 
transcorrido no passado. Já a filosofia lança-se à busca 
da identificação de princípios explicativos que continuam 
atuando no tempo presente. Distinção ainda mais essencial 
procede da observação de que os relatos míticos são reple-
tos de contradições, com as quais se reforça seu caráter 
supranatural e misterioso. A filosofia, ao contrário, procura 
suprimir racionalmente as contradições em um discurso 
coerente. Sob essa ótica, não há vínculos fundamentais en-
tre mito e filosofia. Vigora, assim, uma nítida linha de conti-
nuidade entre o conhecimento filosófico e o conhecimento 
científico, que se desenvolveria na era moderna. Além disso, 
afirma-se que a filosofia é uma criação absolutamente origi-
nal dos gregos antigos, teoria que é conhecida como tese do 
milagre grego.
Atualmente, porém, predomina uma interpretação inter-
mediária, que recusa os extremismos das teses anteriores. 
Um expoente desse pensamento é o historiador francês 
Jean-Pierre Vernant (1914-2007), que supera as concepções 
extremas com seu conceito de transformação qualitativa. Ele 
considera pertinentes os apontamentos sobre os elos entre 
mito e filosofia, bem como os registros acerca das influências 
das culturas orientais sobre os gregos antigos. Entretanto, 
rejeita a hipótese que reduz a filosofia a uma modalidade di-
ferenciada da linguagem mítica. Vernant afirma que os pen-
sadores gregos recolhem a herança mítica e cultural, trans-
formando-a qualitativamente na elaboração de uma forma 
inédita de investigação da realidade. Trata-se, segundo esse 
historiador, do pensamento filosófico, cujas principais carac-
terísticas são: a racionalidade como critério de verdade, a ne-
cessidade de o discurso demonstrar a concepção defendida, 
a exigência de pesquisa racional dos problemas teóricos, a 
busca pela explicação das causas dos fenômenos, a análise 
crítica e a tendência à generalização.
B. As condições históricas do surgimento da filosofia
Ao se considerar a origem grega da filosofia, emerge a se-
guinte questão: quais são as condições históricas que propor-
cionam o contexto sociocultural favorável ao desenvolvimen-
to do pensamento filosófico? São muitos os fatores históricos 
que costumam ser indicados como oportunos ao nascimento 
da filosofia: a humanização dos deuses gregos, as viagens 
marítimas, o desenvolvimento de uma economia comercial 
urbana, a utilização em larga escala da moeda, a criação de 
um calendário laico, o uso do alfabeto e a atividade política.
A projeção de traços humanos nas divindades gregas ou 
a concepção dos deuses à imagem dos seres humanos faci-
lita a autonomia humana em relação à religiosidade, algo que 
constituiria importante aspecto da especulação filosófica. No 
mesmo sentido, atuam as viagens marítimas, que revelam a 
discrepância entre os relatos míticos e as observações geo-
gráficas efetuadas, e a adoção de um calendário desvincula-
do da religião, organizado com base em eventos humanos e 
regularidades da natureza. A economia comercial urbana, a 
circulação generalizada da moeda e o uso do alfabeto tam-
bém contribuem para o desenvolvimento de um pensamento 
abstrato, por serem atividades que exigem, em si mesmas, 
razoável nível de abstração.
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A articulação entre esses aspectos históricos e sua participação no contexto sociocultural que explica o surgimen-
to da filosofia apenas se tornam realmente compreensíveis no universo da pólis grega. Nos reinos orientais da Antigui-
dade e no início da história antiga grega, o poder administrativoconcentra-se na figura do monarca que, legitimado por 
sua suposta descendência dos deuses, exerce verticalmente sua autoridade e representa a noção de permanência da 
ordem social tecida pelas divindades. As cidades-Estado gregas, formadas no período arcaico e consolidadas em con-
figurações democráticas ou oligárquicas na época clássica da Antiguidade helênica (séculos V a.C. e IV a.C.), instituem 
uma novidade histórica. Trata-se do surgimento da política, compreendida como corpo cívico no qual os cidadãos, em 
igualdade de condições, apresentam propostas, debatem e participam diretamente das decisões de sua comunidade.
Nas assembleias das cidades gregas, o discurso racional assume o plano principal dos debates, pois os temas da coletivi-
dade são discutidos por cidadãos que, para a defesa de seus pontos de vista, dependem apenas da qualidade de suas argumen-
tações. Neste domínio público da cidadania, com suas práticas de pensamento separadas da religiosidade, transcorre a racio-
nalização das relações sociopolíticas e a constituição de uma cultura propensa à dessacralização do saber. Pode-se constatar 
que o surgimento da filosofia – investigação racional do cosmos e, posteriormente, das questões humanas – corresponde ao 
exercício da política na dimensão do logos.
 01. Unioeste-PR
Advento da polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos, os vínculos são demasiado 
estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e 
mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na história, a filosofia despoja-se desse caráter de re-
velação absoluta que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na jovem ciência dos jônios, a razão intemporal 
que veio encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela construiu uma razão, uma 
primeira forma de racionalidade.
Jean Pierre Vernant
Sobre a filosofia, seguem as seguintes afirmações.
I. Ela foi revelada pela deusa Razão a Tales de Mileto quando este afirmou que o princípio de tudo era a água.
II. Ela foi inventada pelos gregos e decorre do advento da pólis, a cidade organizada por leis e instituições que, por meio 
delas, eliminou todo tipo de disputa.
III. Ela rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos; problematiza, discute e 
põe em questão até mesmo as teorias racionais elaboradas com rigor filosófico.
IV. Surgiu no século VI a.C. nas colônias gregas da Magna Grécia e da Jônia e apenas no século seguinte deslocou-se 
para Atenas.
V. Ocupa-se com os princípios, as causas e as condições do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; põe 
em questão e problematiza valores morais, políticos, religiosos, artísticos e culturais.
Das afirmações feitas acima:
a. I, III e V são corretas.
b. I e II são incorretas.
c. II, IV e V são corretas.
d. todas são corretas.
e. todas são incorretas.
Resolução
O texto de Jean-Pierre Vernant vincula o surgimento e o desenvolvimento inicial da filosofia às condições sócio-his-
tóricas das antigas cidades gregas, caracterizadas pela atividade política como esfera de argumentações e debates. 
As afirmações III e V versam sobre a atividade filosófica grega. A asserção IV descreve corretamente a localização geo-
gráfica do surgimento da atividade filosófica e o posterior deslocamento de seu núcleo para Atenas. Os itens I e II são 
falsos. Observamos que a afirmação II torna-se falsa quando declara que leis e instituições eliminaram as disputas nas 
cidades gregas.
Alternativa correta: B
APRENDER SEMPRE 24 
2. A filosofia pré-socrática
As especulações em torno da physis recebem o nome de cosmologia, por consistirem na investigação racional do cos-
mos, termo grego que significa o Universo ordenado, a ordem natural do mundo. Os primeiros filósofos gregos, os chamados 
pré-socráticos, pesquisam a origem do cosmos, a passagem do uno ao múltiplo, suas transformações, as causas dos fenô-
menos naturais.
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A expressão pré-socráticos, consagrada na história 
da filosofia, procede da importância central que os his-
toriadores atribuem ao ateniense Sócrates no curso do 
pensamento filosófico – alguns entendem, inclusive, que 
a filosofia realmente se inicia com a proposta socrática de 
investigação dialética da natureza humana. Cumpre des-
tacar que o prefixo pré, neste caso, não possui sentido 
exatamente cronológico, uma vez que alguns dos deno-
minados filósofos pré-socráticos foram contemporâneos 
de Sócrates.
É sabido que Tales de Mileto é considerado o fundador da 
filosofia. Ao declarar que a água é a arqué, a unidade primor-
dial da physis – presente na diversidade ordenada do cos-
mos –, Tales situa o princípio explicativo da natureza na pró-
pria natureza. Dessa forma, descarta a concepção mítica de 
que o mundo supranatural seja o suporte do mundo natural 
ordenado, a ideia de uma natureza governada pelos deuses. 
Além disso, efetua a tentativa inaugural de reduzir a multipli-
cidade percebida no mundo – os diferentes elementos e se-
res existentes – à unidade exigida pela razão, comprometida 
com a revelação da essência originária do cosmos.
NU
LL
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Ao afirmar a água como arqué, Tales atribui à própria 
natureza o seu princípio explicativo.
Por não examinar a transformação do princípio primordial 
na diversidade interna que caracteriza o cosmos, Tales de Mi-
leto não respondeu à questão: como se realiza a passagem 
da arqué para todas as coisas que existem? Compondo um 
discurso racional que contempla a totalidade da physis, de 
sua arqué ao seu vir a ser, os primeiros filósofos que apresen-
tam uma explicação sobre a passagem do uno ao múltiplo são 
Anaximandro de Mileto (620-547 a.C.), Anaxímenes de Mileto 
(585-528 a.C.) e os componentes da escola pitagórica. Para 
Anaximandro, o ápeiron, infinito espacial e qualitativo, é a uni-
dade geradora do cosmos, o princípio do qual surge o mundo 
pela separação de contrários. Conforme sua concepção, a for-
mação do cosmos inicia-se com a divisão entre quente e frio: 
dela surgem o sol, a lua a os astros, derivados do quente, e o 
céu, a terra e o mar, derivados do frio. Nesta permanente ten-
são entre contrários, desenvolve-se a vida, dos seres aquáti-
cos às suas formas mais sofisticadas. Anaxímenes de Mileto, 
por sua vez, afirma que o ar é a arqué, argumentando que 
sua ausência inicial de forma permite que se transforme na 
imensa variedade de coisas existentes, por meio da conden-
sação e da rarefação, fenômenos que constituem o Universo 
como um complexo ser vivo. Tese consideravelmente original 
é a desenvolvida pela escola pitagórica, fundada por Pitágo-
ras de Samos (570-497 a.C.), na cidade grega de Crotona. O 
pitagorismo declara a harmonia inteligível como fundamen-
to da harmonia sensível, sentenciando que o cosmos tem o 
número como arqué, ou seja, os princípios matemáticos são 
os elementos constitutivos do Universo. Para os pitagóricos, 
a arqué é o uno primordial imutável, que contém em si a pari-
dade e a imparidade, das quais desdobram-se a totalidade da 
physis e os seres em sua pluralidade.
Com Heráclito de Éfeso (540-475 a.C.) e Parmênides de 
Eleia (530-460 a.C.), a filosofia pré-socrática atinge novo pa-
tamar especulativo, estabelecendo-se o conflito entre as te-
ses heraclitianas do devir e as teses parmenidianas do ser ou 
entre ser e devir, que exerceria profunda ascendência sobre 
os caminhos posteriores do pensamento filosófico.
Em Heráclito de Éfeso, a reflexão filosófica concentra-se 
no devir, pois, de acordo com esse pensador, o conjunto da 
realidade consiste no incessante vir a ser, o fluxo universal 
que produz a mudança ininterrupta de todas as coisas. Na 
mobilidade perpétua, um ser não permanece idêntico a si 
mesmo, desloca-se necessariamente em seu contrário. O dia 
converte-se em noite, o calorconverte-se em frio, a saúde 
converte-se em doença, a vida converte-se em morte, a noite 
converte-se em dia, o frio converte-se em calor, a morte con-
verte-se em vida. O devir é eterno e a estabilidade é ilusória. 
A imagem da eternidade do vir a ser é oferecida pelo próprio 
Heráclito, ao declarar que um mesmo homem jamais poderá 
entrar no mesmo rio, porque o ser humano já não seria idên-
tico à sua anterioridade e outras seriam as águas do rio. Na 
perspectiva heraclitiana, a guerra é o fundamento de todas as 
coisas, a tensão dos contrários que se harmonizam por seus 
limites – por exemplo, a doença é que confere valor à saúde 
–, articuladas no princípio superior do fogo primordial. O fogo 
primordial é o logos, a racionalidade imanente ao Universo, 
que sustenta a multiplicidade na unidade de opostos, unida-
de do movimento universal.
Se a filosofia de Heráclito se notabiliza por sua dedicação 
em revelar racionalmente o mundo dos fenômenos, o devir, Par-
mênides de Eleia, em sentido contrário, rejeita a aparente mul-
tiplicidade do vir a ser com sua afirmação racional da realidade 
exclusiva do ser. Comparativamente aos filósofos pré-socráticos 
anteriores, que se perguntavam pelo princípio da ordenação do 
cosmos, Parmênides propõe uma indagação absolutamente ori-
ginal: o que é o ser? E sua resposta é surpreendente: o ser é. 
Em termos mais extensos, essa resposta adquire a formulação: 
o ser é (o que é é) e o não ser não é (o que não é não é).
Entende-se melhor essa solução teórica parmenidia-
na ao observar que esse filósofo, pretendendo manter-se 
nos limites fixados pela coerência da razão, pensa o ser 
em si, sentenciando sua plena positividade e recusando 
a hipótese de transição do ser ao não ser e do não ser ao 
ser. Parmênides caracteriza o ser como uno, eterno, imu-
tável, indivisível e pleno. O ser é uno, pois a admissão de 
uma pluralidade de seres implicaria a introdução do não 
ser no ser. É eterno porque a aceitação da noção de tempo-
ralidade conduziria à afirmação de seu surgimento a partir 
do não ser. Da mesma forma, é imutável e indivisível, uma 
vez que a transformação deslocaria o ser para o não ser e 
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a divisibilidade resultaria na multiplicidade no interior do 
ser. Por fim, o ser é pleno, dado que não se aceita racional-
mente a existência do não ser.
Para Parmênides, portanto, o pensamento e a linguagem, 
corretamente conduzidos, exprimem necessariamente o ser – 
não se pode pensar o não ser, o nada. E o mundo da experiên-
cia, dos fenômenos e do devir, aquilo que percebemos com os 
nossos sentidos, é desprezado por não se compatibilizar com 
o exame racional que esse filósofo realiza do ser.
Na questão proposta por Parmênides – o que é o ser? 
– e em suas teses filosóficas, anuncia-se um novo campo 
de reflexões filosóficas, antes apenas latente nos discur-
sos cosmológicos, a metafísica ou ontologia. A metafísica 
versa sobre o ser enquanto ser, o ser em geral, o ser em si, 
além das aparências e das experiências físicas.
A ontologia de Parmênides é defendida pelos procedimen-
tos argumentativos de Zenão de Eleia (490-430 a.C.), filósofo 
que refuta racionalmente os dados da experiência, preten-
dendo demonstrar aos críticos da concepção parmenidiana 
as contradições de suas teses. Os paradoxos apresentados 
por esse pensador têm o propósito de esclarecer que noções 
como divisibilidade, mobilidade e multiplicidade, ou seja, o 
devir, não se sustentam em um discurso racional. Um dos ar-
gumentos utilizados por Zenão é conhecido como o paradoxo 
de Aquiles. Aquiles é um importante personagem da mitologia 
grega e a velocidade é uma de suas importantes característi-
cas. Entretanto, observa o filósofo, Aquiles não conseguiria su-
perar uma tartaruga em uma corrida, desde que o animal saís-
se à sua frente. Considerando a hipótese do espaço divisível, 
Zenão destaca que o herói mítico, desejando alcançar sua opo-
nente, deveria, para começar, percorrer metade da distância 
entre ele e a tartaruga. Antes disso, contudo, deveria percor-
rer metade dessa metade e assim sucessivamente, ou seja, 
Aquiles jamais atingiria a mesma posição de sua adversária, 
nunca a ultrapassaria. Com a exposição de paradoxos deste 
tipo, esse pensador defende o teor ilusório dos fenômenos 
recolhidos por nossas sensações e reafirma a confluência do 
pensamento com o ser, fixada racionalmente por Parmênides.
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Outro paradoxo utilizado por Zenão é o argumento do arco 
e da flecha. Repartindo o suposto movimento da flecha 
em direção ao alvo em cada um de seus instantes, tem-se 
sempre a flecha parada. A ideia de movimento, conclui o 
filósofo, não resiste à avaliação criteriosa da razão.
01. UEL-PR
A Rainha Vermelha diz uma frase enigmática: 
“Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais 
que pode para continuar no mesmo lugar”.
CARROL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou 
por lá. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p. 186.
Já na Grécia antiga, Zenão de Eleia enunciara 
uma tese também enigmática, segundo a qual o 
movimento é ilusório, pois, numa corrida, o corre-
dor mais rápido jamais consegue ultrapassar o mais 
lento, visto o perseguidor ter de primeiro atingir o 
ponto de onde partiu o perseguido, de tal forma que 
o mais lento deve manter sempre a dianteira.
ARISTÓTELES. Física. Z 9, 239 b 14. In: KIRK, G. S.; RAVEN, 
J. E.; SCHOFIELD, M. Os pré-socráticos. 4.ed. Lisboa: 
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, p. 284.
Com base no problema filosófico da ilusão do movi-
mento em Zenão de Eleia, é correto afirmar que
a. se baseia na observação da natureza e de suas 
transformações, resultando, por essa razão, numa 
explicação naturalista pautada pelos sentidos.
b. confunde a ordem das coisas materiais (sensível) 
e a ordem do ser (inteligível), pois avalia o sensí-
vel por condições que lhe são estranhas.
c. ilustra a problematização da crença numa verda-
deira existência do mundo sensível, à qual se che-
garia pelos sentidos.
d. mostra que o corredor mais rápido ultrapassará 
inevitavelmente o corredor mais lento, pois isso 
nos apontam as evidências dos sentidos.
e. pressupõe a noção de continuidade entre os ins-
tantes, contida no pressuposto da aceleração do 
movimento entre os corredores.
Resolução
O paradoxo desenvolvido por Zenão problematiza as 
noções que nos são fornecidas pelos sentidos, concluin-
do que os fenômenos do devir devem ser descartados por 
sua irracionalidade.
Alternativa correta: C
APRENDER SEMPRE 25
O contraste entre a filosofia de Heráclito e a concepção 
eleata do ser promove um impasse no pensamento filosó-
fico e instaura um corte conceitual entre os fenômenos do 
devir e as exigências racionais do ser. Nesse contexto, os 
últimos filósofos pré-socráticos desenvolvem teses dedica-
das à conciliação da realidade heraclitiana com o conceito 
parmenidiano de ser, ou seja, à conjugação entre cosmologia 
e metafísica. Em geral, essas filosofias conservam as noções 
de eternidade e de imutabilidade do ser, mas pensam o ser 
no plural e concebem o devir como composição e decompo-
sição de seres eternos e indestrutíveis, e não como transi-
ção do não ser ao ser e do ser ao não ser. Essa orientação 
filosófica, intitulada pluralista, tem seus representantes em 
Empédocles de Agrigento (483-421 a.C.), Anaxágoras de Cla-
zômenas (500-428 a.C.) e nos atomistas Leucipo (provavel-
mente 480-420 a.C.) e Demócrito de Abdera (460-370 a.C.).
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Empédocles de Agrigento afirma que os seres primordiais 
são a água, a terra, o fogo e o ar. Essa pluralidade de seres imu-
táveis se articula sob o amor e o ódio, forças cósmicas, respecti-
vamente, de atração e de dispersão, que definemo fundamento 
do devir. Anaxágoras de Clazômenas explica a physis por uma 
multiplicidade de elementos ou sementes originais, as homeo-
merias, inicialmente agrupadas em uma totalidade que tem em 
si todos os diversos componentes do cosmos. Segundo Anaxá-
goras, um princípio inteligente, o nous, é responsável pela dis-
persão dessa unidade primordial e pelos arranjos que formam 
o Universo. Leucipo e Demócrito, por sua vez, compreendem a 
pluralidade dos seres em dimensão simplesmente quantitativa, 
e não qualitativa: trata-se de elementos indivisíveis, denomina-
dos de átomos, que não se distinguem entre si por suas qua-
lidades, possuindo apenas diferentes tamanhos e formas. Sob 
o ponto de vista do atomismo, a geração do cosmos e de sua 
diversidade interna corresponde às múltiplas combinações de 
átomos. O nascimento de algo não é a passagem do não ser ao 
ser, e a morte não é a transição do ser ao não ser: nascimento é 
reunião de átomos e morte é decomposição atômica.
Ao percorrer as origens da filosofia caracterizando-a em 
seu surgimento na Grécia Antiga como forma de pensamento 
distinta do mito, foram apresentadas, brevemente, as espe-
culações filosóficas iniciais, a filosofia pré-socrática. Em sua 
etapa inaugural, a filosofia realiza-se como cosmologia e como 
metafísica, em um debate crítico e mobilizado por diferentes 
teses filosóficas. Foi assinalada a tensão conceitual entre ser e 
devir, delineada com as filosofias de Parmênides e de Herácli-
to, e os esforços, ainda no horizonte da reflexão pré-socrática, 
de superá-la na articulação da cosmologia com a metafísica.
Esse problema filosófico, a relação entre ser e devir, pro-
longa-se muito além da fase pré-socrática, permeando a tradi-
ção filosófica até os dias atuais. Evidencia-se uma permanen-
te herança pré-socrática, com suas questões e elaborações 
racionais constituindo o pressuposto das problematizações 
e dos desenvolvimentos teóricos subsequentes da filosofia.
Tal constatação não significa que a filosofia não tenha se 
modificado no curso do tempo. O pensamento filosófico prota-
goniza sua própria história e transforma a si mesmo com sua 
história. Os filósofos de determinada época dialogam com os 
filósofos de outros períodos e dialogam também com o contex-
to sociocultural de seu tempo: a filosofia exercita consistente 
diálogo com o passado e com o presente. No interior desse de-
bate, problemas antes nucleares para a reflexão filosófica são 
transferidos para plano secundário, bem como desenvolvem-se 
diversificadas áreas temáticas para a pesquisa filosófica, susci-
tadas não somente pelas iniciativas de alguns pensadores, mas 
em igual medida pelas mudanças das sociedades humanas.
Ainda na Antiguidade, no período clássico da filosofia gre-
ga, sobrevém a primeira mudança de orientação temática no 
pensamento filosófico. Com os sofistas e, em especial, com 
Sócrates, a filosofia transita dos temas da physis para as per-
guntas centradas no ser humano. Nessa conversão filosófi-
ca, delimitam-se áreas específicas do saber filosófico, como 
a ética, a antropologia filosófica e a política, que receberiam 
tratamento sistemático nas teorias de Platão e de Aristóteles. 
Da filosofia antiga à filosofia contemporânea, prosseguem as 
transformações, consolidando-se diferentes campos da pes-
quisa filosófica, tais como a teoria do conhecimento, a filoso-
fia da mente, a filosofia da ciência, a estética, a filosofia da 
história e a filosofia da linguagem.
3. Temas de filosofia: o conhecimento 
como tema filosófico
A transição do pensamento mítico para o pensamento fi-
losófico já foi descrita, evidenciando contraste nas diferentes 
formas de explicação do mundo. Assinalou-se o surgimento da 
filosofia como atividade racional de reflexão sobre a realidade, 
caracterizada pela argumentação, pelo confronto de ideias e 
pelo debate. Enquanto o mito se oferece como um conheci-
mento pronto e definitivo sobre o cosmos, os fenômenos na-
turais e os seres humanos, a filosofia se delineia como um per-
curso reflexivo e discursivo que pretende atingir racionalmente 
o conhecimento, a verdade. No primeiro caso, não há margem 
para questionamentos; no segundo, diferentemente, a própria 
natureza racional da atividade filosófica exige uma postura crí-
tica mediante as teses apresentadas pelos filósofos.
A dimensão dialógica da filosofia e as discordâncias dos 
filósofos pré-socráticos em torno da origem e da ordenação 
do Universo autorizam a exposição da seguinte pergunta: em 
que medida seria legítimo declarar a falsidade ou a verdade 
das divergentes cosmologias pré-socráticas? Essa indaga-
ção não se limita a examinar o valor singular das diferentes 
proposições dos primeiros filósofos, ou seja, não se trata de 
inspecionar se esta ou aquela explicação sobre o cosmos é 
verdadeira ou falsa. Questiona-se, isto sim, o fundamento, a 
condição de possibilidade do conhecimento.
É imprescindível mencionar que os pensadores pré-so-
cráticos não elaboram essa pergunta, entretanto o caráter 
especulativo de sua atividade intelectual concede à filosofia 
a oportunidade de exceder os temas cósmicos, naturais e hu-
manos, problematizando a si mesma com esta interrogação: 
o que é o conhecimento?
Em sua história, a filosofia reflete sobre o conhecimento, 
transformando-o em tema específico de suas especulações, 
investigado em um horizonte de instigantes problemas como:
• O que realmente caracteriza o conhecimento?
• Como se diferencia o conhecimento da simples opinião?
• Quais critérios definem como verdadeira uma declara-
ção sobre a realidade?
• Os seres humanos são capazes de conhecer comple-
tamente a realidade?
• O conhecimento se inicia pela razão ou pelos sentidos?
OLEKSANDR TKACHUK | DREAM
STIM
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O pensador, estátua 
em bronze do escultor 
francês Auguste 
Rodin, de 1904. Na 
atividade filosófica, 
o pensamento 
questiona o próprio 
conhecimento, 
refletindo sobre suas 
possibilidades e seus 
hipotéticos limites.
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Na filosofia moderna, verifica-se a delimitação do conheci-
mento como campo particular de investigações, área denomi-
nada teoria do conhecimento, gnosiologia ou epistemologia. É 
possível observar, porém, que suas raízes remontam ao prin-
cípio da filosofia na Antiguidade, uma vez que a compreensão 
do conhecimento como construção racional desdobra-se na 
problematização filosófica do próprio conhecimento.
É muito comum a utilização dos termos gnosiologia e 
epistemologia como sinônimos, ambos nomeando a teoria 
do conhecimento. Entretanto, em sentido rigoroso, a ex-
pressão gnosiologia possui maior alcance semântico em 
relação à palavra epistemologia. Gnosiologia refere-se à 
pesquisa filosófica sobre o conhecimento em seu amplo 
conjunto de problemas, isto é, consiste na teoria do co-
nhecimento. Epistemologia designa a reflexão filosófica 
centrada na ciência, examina especificamente os funda-
mentos, os métodos e as práticas científicas.
Na filosofia pré-socrática, precisamente no discurso cos-
mológico de Heráclito de Éfeso e na ontologia de Parmênides 
de Eleia, insinuam-se as primeiras reflexões acerca do co-
nhecimento. Heráclito, assumindo o devir, fluxo de constan-
tes transformações, como a essência do real, sentencia que 
os sentidos são fonte de confusões, o que conduz à ilusão 
da estabilidade, de que os seres permanecem idênticos a si 
mesmos quando, na realidade, estão em incessante conver-
são para seus opostos. Parmênides, com sua concepção de 
que o pensamento é necessariamente pensamento do ser, 
ser uno, eterno, indivisível e imutável, declara como ilusórios 
os fenômenos de transformação identificados no mundo por 
meio dos sentidos. Tanto em Heráclito quanto em Parmênides, 
apesar do antagonismo radical entre suas teses filosóficas, 
nota-se uma dissociação entre aparência e realidade, bem 
como o desprezo pelossentidos como fonte de conhecimen-
to – e este teria seu verdadeiro ponto de partida na razão.
As questões concernentes ao conhecimento expan-
dem-se em meados do século V a.C., com os sofistas e com 
Sócrates. Sofistas e Sócrates renunciam às especulações 
cosmológicas e transferem o ser humano para o centro das 
problematizações filosóficas. Na cidade de Atenas, no auge 
de sua organização sociopolítica democrática, os sofistas 
concentram-se nas temáticas éticas e políticas. Atuam como 
professores de retórica cuja tarefa é o desenvolvimento das 
habilidades discursivas entre os cidadãos, preparando-os 
para o exercício de suas atividades cívicas. A retórica dos 
sofistas não se compromete com a identificação de critérios 
universais de distinção entre o falso e o verdadeiro, com a 
busca de verdades universais que devem ser racionalmente 
admitidas por todos os seres humanos. Exemplar a esse res-
peito são as antilogias do sofista Protágoras de Abdera. Elas 
consistem na apresentação de raciocínios diferentes e opos-
tos sobre um mesmo tema, hipóteses igualmente racionais e 
que se excluem reciprocamente, sem que exista um critério 
externo para atestar a verdade de um argumento e a falsidade 
de outro. Ainda mais incisivas são as declarações do sofista 
Górgias de Leontinos, segundo as quais o ser não existe; se 
existisse, não poderia ser conhecido; e, se pudesse ser co-
nhecido, não seria passível de comunicação pela linguagem. 
Dessa forma, os sofistas colocam em dúvida a possibilidade 
de o conhecimento encontrar verdades universalmente acei-
tas pela humanidade.
Diferente é a atitude filosófica de Sócrates. Para ele, os 
sofistas não realizam uma autêntica atividade filosófica, dado 
que esta, de acordo com a perspectiva socrática, define-se 
pela busca sistemática de verdades universais. Sua proposta 
filosófica, que articula a tentativa de readequação do logos
ao ser com o esforço pela identificação da finalidade da vida 
humana, tem na aceitação inicial da ignorância o seu pressu-
posto. Trata-se de um movimento de remoção dos falsos sa-
beres, as opiniões convencionalmente expressas pelos seres 
humanos acerca de diferentes aspectos da realidade, com a 
intenção de lançar as bases para um saber verdadeiro, cons-
truído mediante diálogos racionais.
A reflexão sobre o conhecimento recebe considerável es-
paço nas teorias filosóficas de Platão (427-347 a.C.) e de Aris-
tóteles (384-322 a.C.), filósofos que, inspirados pela propos-
ta socrática, desenvolvem complexos sistemas metafísicos 
para explicar o conjunto da realidade. Nos textos de Platão, 
o problema do conhecimento é tratado na elaboração de sua 
Teoria das Ideias, com sua concepção ontológica articulada 
em dois níveis, o plano sensível e o plano inteligível. Sob o 
prisma platônico, o conhecimento pleno requer a superação 
dos sentidos em direção à contemplação racional dos seres 
em si, das ideias. A filosofia de Aristóteles, com suas proble-
matizações sobre o conhecimento, efetua a análise metódica 
das formas de raciocínio existentes, iniciando os estudos de 
lógica, e classifica o conhecimento em ciências teoréticas (fí-
sica e metafísica), ciências práticas (ética e política) e ciên-
cias produtivas (técnicas).
As questões sobre o conhecimento persistem nas escolas 
filosóficas da época helenística e recebem nova orientação na 
filosofia medieval, sob a ascendência da cultura cristã. O pri-
mado cultural do cristianismo impõe a filósofos como Agosti-
nho de Hipona (354-430) e Tomás de Aquino (1225-1274), a 
necessidade de se examinarem as relações entre saber reve-
lado e saber racional. As teorias filosóficas medievais procu-
ram conciliar o saber revelado com o conhecimento racional, 
ou seja, as verdades da teologia com as verdades atingidas 
por intermédio da atividade filosófica.
No contexto da filosofia moderna, as interrogações filo-
sóficas em torno do conhecimento são situadas no diálogo 
com as práticas científicas dedicadas a identificar experi-
mentalmente as leis da natureza. O britânico Francis Bacon 
(1561-1626) e o francês René Descartes (1696-1650) lan-
çam-se à busca de fundamentos sólidos para o desenvolvi-
mento de conhecimentos seguros da realidade e, para tanto, 
investigam as causas dos enganos, dos apenas aparentes 
saberes humanos.
Descartes, embora reconheça o rebuscamento intelec-
tual legado pela cultura filosófica precedente, rejeita seu 
valor de verdade, diagnosticando que as diferentes filoso-
fias não produziram conhecimentos sólidos e efetivamente 
úteis para a humanidade. Segundo esse filósofo, a verdade 
não reside também nas diferentes tradições culturais das 
sociedades humanas, sendo necessário, isto sim, conduzir 
corretamente o pensamento para a obtenção de ideias cla-
ras, de conhecimentos fundamentados em certezas sobre 
o mundo.
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Bacon, por seu turno, explica os erros humanos no tocan-
te ao conhecimento em sua teoria dos ídolos, falsas noções 
sobre a realidade, discriminadas em ídolos da tribo, ídolos da 
caverna, ídolos do foro e ídolos do teatro. Os ídolos da tribo 
procedem da natureza humana, com sua inclinação a reduzir 
a complexidade à simplicidade, na suposição de que o inte-
lecto é capaz de identificar regularidades na natureza com 
base no que é imediatamente percebido pelos sentidos. Essa 
postura constitui a fonte de superstições como a astrologia, 
que submete a observação dos fenômenos da natureza à 
confirmação de suas previsões. Os ídolos da caverna reme-
tem à compreensão das coisas de forma muito particular 
pelos seres humanos individuais, com sua propensão a inter-
pretar a realidade com base em suas crenças, suas preferên-
cias, suas pré-noções e seus preconceitos, a saber, confor-
mam os objetos investigados às suas expectativas pessoais. 
Os ídolos do foro são provenientes das relações interpessoais 
e da ambiguidade imanente à linguagem: a mesma palavra 
pode ter significados distintos para sujeitos diferentes e, 
além disso, frequentemente se confunde o que se diz com o 
que existe. Quanto a esse último aspecto, o intelecto elabora 
termos abstratos que se referem a elementos inexistentes, 
imergindo em investigações que o afastam da realidade. Por 
fim, os ídolos do teatro compreendem os sistemas filosóficos, 
que, para Bacon, são abstrações conceituais sem relações 
genuínas com a realidade do mundo: são ficções intelectuais, 
assim como o são os textos teatrais. Francis Bacon propõe, 
então, a substituição dos ídolos por uma experiência escritu-
rada e metodicamente conduzida para a formação de conhe-
cimentos verdadeiros acerca da natureza.
Como destacado anteriormente, na filosofia moderna a 
teoria do conhecimento se estabelece como área própria de 
pesquisas filosóficas, à medida que, nas reflexões de muitos 
dos filósofos desse período, concede-se prioridade ao pro-
blema do conhecimento. Dito de outra forma, considera-se 
o tema do conhecimento como prioritário em relação às de-
mais questões pertencentes ao repertório investigativo da 
filosofia. De maneira geral, os filósofos especializados em 
gnosiologia afirmam que o inglês John Locke é o verdadeiro 
fundador da teoria do conhecimento porque, em seu estudo 
intitulado Ensaio acerca do entendimento humano, examina 
detalhadamente a capacidade humana de conhecimento, 
questionando seus limites e os aspectos relativos à origem, 
à essência e à certeza do conhecimento.
A. A caracterização filosófica do conhecimento
A teoria do conhecimento versa sobre o conhecimento 
propositivo, o conhecimento de algo, capaz de relatar como 
algo é, exprimindo-se, assim, em uma declaração a respeito 
do objeto do seu conhecimento. O conhecimento propositivo 
distingue-se do conhecimento referente a como fazer algo, 
que se relaciona com uma habilidade procedimental perti-
nente à realização de determinada tarefa.
No âmbitoda gnosiologia, predomina a compreensão do 
conhecimento propositivo como uma relação entre sujeito 
cognoscente e objeto cognoscível, isto é, entre sujeito capaz 
de conhecer e objeto passível de ser conhecido. O sujeito, 
pensado não sob o ponto de vista do sujeito individual, mas 
sim da consciência humana em sua capacidade de conheci-
mento, relaciona-se com objetos reais que se apresentam à 
sua experiência a partir de sua existência efetiva e exterior 
– como os seres e acontecimentos da natureza – e com ob-
jetos ideais, exclusivamente pensados como as estruturas 
matemáticas e as figuras geométricas. Em uma relação de 
conhecimento, o sujeito apreende conceitualmente o objeto, 
representa-o em seu pensamento tal como ele é. Em uma ver-
dadeira relação de conhecimento, com seus diferentes graus 
de profundidade e de extensão, o objeto é pensado pelo sujei-
to como ele efetivamente é.
Sendo assim, o conhecimento realiza-se na correspon-
dência do sujeito com o objeto, ou melhor, na concordância 
do conteúdo do pensamento com a realidade do objeto. Sob 
essa ótica, somente há conhecimento perfeito ou completo 
quando o sujeito assimila a realidade de seu objeto em sua 
máxima extensão e profundidade. Pode-se dizer que quem 
explica de maneira apropriada as razões das diferentes es-
tações climáticas tem um conhecimento parcial da natureza. 
Um conhecimento completo ou perfeito da natureza exige 
que o sujeito conheça o conjunto dos fenômenos naturais, 
a multiplicidade de seres vivos e suas relações, as supostas 
causas fundamentais de toda a dinâmica natural, a essência 
da natureza, enfim, exige a apreensão conceitual da natureza 
em sua extensão e profundidade máximas. Afirmar, portanto, 
que a humanidade conhece plenamente a natureza não é 
algo plausível, apesar da longa tradição filosófica e dos mo-
dernos conhecimentos científicos.
A concepção filosófica tradicional de conhecimento, 
amparada pelos textos de Platão sobre o tema, entende 
que crença, justificação e verdade são elementos impres-
cindíveis do conhecimento ou, em outras palavras, define o 
conhecimento como a crença justificada e verdadeira. Uma 
crença consiste em uma espécie de representação mental da 
realidade, a convicção a respeito de algo. A crença é aspec-
to indispensável do conhecimento – seria uma contradição 
afirmar, por exemplo, saber da existência da lei da gravidade 
e, no entanto, não acreditar que a lei da gravidade realmente 
exista. A crença isolada, entretanto, não proporciona garantia 
de conhecimento. Para ser conhecimento, uma crença deve 
ser justificada e verdadeira. A justificação de uma crença con-
siste em um conjunto suficiente de indícios racionais e empí-
ricos, de evidências fornecidas pela razão e pela experiência, 
que sustentem a sua validade. Uma crença justificada será 
verdadeira se o pensamento do sujeito representar correta-
mente a realidade do objeto do seu conhecimento.
A análise tradicional do conhecimento também 
admite a existência de uma crença falsa, mas justi-
ficada. Com efeito, esse tipo de crença parece mui-
to comum. No passado, era justificável que muitos 
cressem que a Terra é plana. A crença deles era 
errada, como sabemos, mas, dadas as melhores 
informações de que então dispunham, tinham ra-
zões justificadas para sustentar essa crença. [...] 
Muito embora eles atendessem à condição de 
crença e à condição de justificação, não atendiam 
à condição de verdade para terem conhecimento.
MOSER, Paul K.; MULDER, Dwayne H.; TROUT, J. D. A 
teoria do conhecimento: uma introdução temática. 
São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 19.
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A definição do conhecimento como crença justificada e 
verdadeira, embora bastante difundida nos círculos filosófi-
cos, não é unânime entre os estudiosos, inexistindo sequer 
o consenso sobre a noção de verdade. Afinal, o que é a ver-
dade? Esse problema filosófico, fundamental na gnosiologia, 
mobiliza reflexões e interpretações muito divergentes entre 
si. Correspondência, relativismo e pragmatismo são algumas 
das teses filosóficas sobre a verdade.
B. Diferentes concepções filosóficas da verdade
Na caracterização tradicional de conhecimento, a tese 
da verdade foi mencionada como correspondência entre su-
jeito e objeto. É a concepção de que a verdade se realiza na 
confluência entre o pensamento e as características reais 
do mundo, da adequação entre o intelecto e a realidade. De 
acordo com essa noção, uma proposição é verdadeira se ex-
prime uma representação mental exata do objeto, isto é, se 
retrata conceitualmente o objeto como ele é de fato. Em sen-
tido contrário, uma proposição é falsa se atribui ao objeto do 
conhecimento características que não são suas, quer dizer, 
se não apresenta de forma discursiva o objeto como ele efe-
tivamente é.
Diversa é a concepção relativista de verdade. O relativis-
mo posiciona a verdade nos sujeitos humanos individuais e 
nos grupos humanos, recusando o caráter de universalidade 
da verdade. Em termos mais claros, recusa a ideia de que as 
verdades se estabeleçam em uma dimensão universal, exi-
gindo sua aceitação por todos os seres humanos que utilizam 
apropriadamente sua capacidade de conhecimento. Sob o 
ponto de vista relativista, diferentes sujeitos, pautando-se 
pelos mesmos critérios para conhecer o mundo, podem atin-
gir diferentes conclusões sobre a realidade.
Precursor do relativismo é o sofista Protágoras, com sua 
observação de que o ser humano individual é a medida de 
todas as coisas, das que são e das que não são. Assim, uma 
única proposição é verdadeira para alguns, enquanto é falsa 
para outros. Expandida para o plano cultural, as verdades de 
uma sociedade humana podem ser falsidades para outras 
culturas. Na perspectiva relativista, portanto, não há nenhum 
elemento exterior aos seres humanos que se constitua como 
critério de verdade, ou seja, não há verdades universais e ab-
solutas, mas sim verdades relativas.
Entre filósofos contemporâneos como William James 
(1842-1910), John Dewey (1859-1952) e Richard Rorty 
(1931-2007), desenvolve-se a filosofia pragmatista, que 
desloca a verdade para a dimensão de suas consequências 
práticas na vida social. Considerando o ser humano como 
ser cuja vontade é orientada para a prática e, assim sendo, 
no qual o intelecto está subordinado à ação, o pragmatismo 
compreende a verdade na convergência do pensamento 
com o que é vantajoso, benéfico e útil à sociedade. Nesse 
sentido, algo é verdadeiro quando torna melhor a vida huma-
na, articulando os múltiplos interesses que se manifestam 
na sociedade – a verdade não tem um conteúdo eterno e 
imutável; ao contrário, é produzida e modificada na dinâmica 
social da humanidade.
C. Dogmatismo e ceticismo
As discussões filosóficas em torno da verdade relacio-
nam-se com o problema das possibilidades e dos limites do 
conhecimento humano. Pode-se conhecer efetivamente a 
realidade? Os indivíduos são capazes de conhecer total ou 
apenas parcialmente a realidade? As respostas a essas per-
guntas são diversas, compondo um arco que se estende do 
pressuposto de que a humanidade pode conhecer perfeita-
mente o conjunto do real até a concepção de que os seres 
humanos jamais atingem um conhecimento verdadeiro de 
qualquer aspecto do mundo. Entre essas posturas extre-
mas, elaboram-se perspectivas intermediárias, conforme 
as quais o conhecimento contempla alguns fenômenos do 
mundo, ao mesmo tempo que não se aplica a outros níveis 
da realidade. Por exemplo, seria possível conhecer determi-
nadas leis naturais, mas não seria possível explicar a essên-
cia da natureza.
Em seu início pré-socrático, a filosofia não conside-
ra possíveis limites para o conhecimento, depositando 
absoluta confiança na capacidade humana de conhecer 
a physis. Pode-se afirmar que os primeiros momentos da 
filosofia, em que pese sua naturezacrítica e dialógica, são 
marcados pelo dogmatismo. A atitude dogmática, no senti-
do mais usual da expressão, define-se pela noção de que 
há verdades indiscutíveis, que não se prestam ao exame 
racional – exemplares, a esse respeito, são os dogmas re-
ligiosos, pontos doutrinários de uma religião, que devem 
ser simplesmente acatados na pressuposição de sua ver-
dade. No vocabulário filosófico, o dogma consiste na pré-
via convicção de que não existem limites cognitivos para 
a humanidade. Dito de outra forma, o dogma consiste na 
ausência de problematização do conhecimento. No século 
XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant utiliza a expressão 
dogmatismo em referência a todas as filosofias que não 
examinam a própria razão e seus limites, muitas vezes ex-
trapolando para temáticas metafísicas que não se situam 
ao verdadeiro alcance do conhecimento.
Muito diferente do dogmatismo é o ceticismo, que nega a 
capacidade humana de conhecimento. Em sua versão abso-
luta, o ceticismo declara que os seres humanos jamais atin-
gem uma verdade sobre o mundo. A manifestação primor-
dial do ceticismo está nas declarações do sofista Górgias: 
o ser não existe; se existisse, não poderia ser conhecido; 
se pudesse ser conhecido, não poderia ser comunicado. 
É na época helenística da filosofia grega que o ceticismo 
se pronuncia mais claramente como pensamento de uma 
escola filosófica, destacando-se a atuação de Pirro de Élis 
(360-270 a.C.). Para o ceticismo pirrônico, as opiniões dos 
seres humanos jamais são falsas ou verdadeiras, não se 
pode atestar a verdade ou a falsidade das diferentes propo-
sições sobre o mundo. Com essa tese, a escola cética não 
apenas recusa a condição de possibilidade do conhecimen-
to, o critério de distinção entre o falso e o verdadeiro, como 
pretende, ainda, evitar a objeção apresentada ao ceticismo: 
a contestação de que a afirmação da não existência da ver-
dade implica, contraditoriamente, uma verdade: a verdade 
não existe.
Na história da filosofia, o ceticismo assume formas mo-
deradas ou parciais, como é o caso de muitos filósofos mo-
dernos que asseguram a possibilidade de conhecimento de 
determinadas dimensões da realidade – os fenômenos da 
natureza, por exemplo – e negam o conhecimento de temas 
metafísicos, situados além de nossa experiência observá-
vel, tais como as hipóteses acerca de uma causa primeira do 
mundo e de imortalidade da alma humana.
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É imprescindível notar que, independentemente de se concordar ou não com a postura cética, o ceticismo contribui para a 
atividade filosófica ao exigir dos filósofos que procuram a verdade um exame mais atento de seus métodos e o desenvolvimento 
de sólidas justificativas para suas teorias. Emblemático quanto a esse aspecto é o ceticismo metódico utilizado pelo filóso-
fo René Descartes em sua busca por verdades seguras. Com o propósito de encontrar ideias comprovadamente verdadeiras, 
Descartes exercita de forma radical a dúvida, considerando de início falso tudo aquilo que é minimamente sujeito à dúvida. 
A proposta desse filósofo, então, diferencia-se bastante do ceticismo, porque tem como fim a elucidação de conhecimentos 
autênticos e inquestionáveis. Para encontrar essas verdades, ele se apropria do ceticismo como ponto de partida, convertendo-
-o na aplicação sistemática da dúvida, procedimento este que aceita como verdade evidente aquilo que se revela indubitável. 
Com esse ceticismo metódico, Descartes observa que, inegavelmente, existe um ser que duvida de tudo, ou seja, atinge sua 
primeira verdade, expressa nos seguintes termos: penso, logo existo.
 01. UEL-PR
Leia o texto a seguir.
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões 
como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser 
senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, 
desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os funda-
mentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências.
DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 93. (Os pensadores)
O desejo de evitar o erro, o caos e buscar a certeza, a ordem, por meio de um método de conhecimento, são marcas 
distintivas da modernidade. A respeito do problema do conhecimento e do método em René Descartes, assinale a alter-
nativa correta.
a. A decisão de tentar desfazer-se das opiniões duvidosas e incertas ampara-se em uma revelação divina, pois, ao pen-
sar, o homem encontra Deus na origem do próprio pensamento, sendo Ele a primeira certeza fundadora da ciência.
b. A dúvida é uma espécie de afecção episódica que toma conta dos que pensam demasiadamente no problema dos 
fundamentos do conhecimento, mas cuja concepção e prática possuem uma importância limitada.
c. A dúvida metódica pretendia inviabilizar a metafísica, uma vez que certezas científicas e verdades metafísicas, além 
de possuírem âmbitos de vigência distintos, também dizem respeito a domínios excludentes do conhecimento.
d. O método é um procedimento por meio do qual os dados da experiência são acolhidos, tratados cientificamente 
e, após o processo de depuração e de crítica, são recolocados em sua relação com o mundo, transformando 
nossos juízos.
e. A decisão inaugural a ser radicalizada pela dúvida, tornada metódica, por meio da qual surgirá a certeza, é o ponto de 
partida da crítica à tradição, seja na figura dos conhecimentos incertos ou das falsas opiniões.
Resolução
Desapontado com os supostos saberes tradicionais, René Descartes se dedica a identificar a condução adequada do 
pensamento em direção à verdade. Em sua busca por ideias claras e distintas, ou seja, por conhecimentos verdadeiros, uti-
liza a dúvida de forma extensa e radical, aplicando-a sobre o conjunto da realidade e seus elementos. Trata-se do ceticismo 
metódico, a saber, o ceticismo que tem por finalidade encontrar algo cuja verdade seja evidente, resistente ao exercício da 
dúvida ou, em outros termos, aquilo sobre o que não se pode realmente duvidar.
Alternativa correta: E.
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D. A discussão sobre a fonte do conhecimento
Aspecto central nas reflexões gnosiológicas, a questão sobre a verdadeira fonte do conhecimento humano consiste em tema 
controverso na história da filosofia. Afinal, qual a origem do conhecimento? O conhecimento é proveniente da razão? É apriorísti-
co, anterior às experiências formadas pelos sentidos? O conhecimento procede dos sentidos? É a posteriori, necessariamente an-
tecedido pela experiência? Em torno desses problemas, desenvolveram-se concepções contrárias, o racionalismo e o empirismo.
Para o racionalismo, tese defendida por filósofos como Platão e Descartes, o conhecimento reside em princípios apriorís-
ticos da razão, ou seja, na intelecção logicamente anterior a qualquer experiência produzida pelos sentidos. Sob a ótica racio-
nalista, as ideias que contêm a realidade dos seres são inatas, estão originariamente presentes nos seres humanos e, dessa 
forma, não são aquisições da vida social ou derivações daquilo que recepcionamos com os nossos sentidos, das experiências 
proporcionadas pela visão ou pelo tato, por exemplo. Os sentidos são compreendidos, isto sim, como fonte de enganos, de 
falsas interpretações da realidade. Isso não significa que o racionalismo despreze completamente os sentidos; aliás, é muito 
comum entre os filósofos racionalistas a admissão de que os fenômenos sensoriais contribuem, de forma complementar, para 
a efetivação do saber previamente contido nos seres humanos, na mente humana.
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Para o racionalismo, os sentidos não são confiáveis, 
não são o ponto de partida do conhecimento.
Em perspectiva oposta, o empirismo rejeita a existência 
de princípios de conhecimento apriorísticos e desvinculados 
do campo sensorial, declarando que o verdadeiro conheci-
mento é necessariamente a posteriori, a saber, fundamenta-
do na experiência sensitiva. Para os empiristas, os elementos 
recolhidos do mundo pelos nossos sentidos são a base das 
ideias desenvolvidas pelo intelecto humano. Em outras pala-
vras, o empirismo reconhece nos seres humanos a capacida-
de racional de elaborar os dados provenientes dos sentidos 
em pensamentos referentes à realidade do mundo. Com sua 
origem na filosofia antiga, a tese gnosiológica empirista difun-
de-se e desenvolve-se consideravelmente na filosofia moder-
na, sendo Francis Bacon, John Locke e David Hume alguns de 
seus principais representantes.
A oposição entre racionalismo e empirismo não esgota o 
debate em torno da origem do conhecimento – o criticismo 
de Immanuel Kant (1724-1804) consiste em profundo em-
preendimento filosófico disposto a superá-la. Tampouco é 
certo dizer que essa disputa teórica esteja filosoficamente 
decidida na atualidade. Prosseguem as investigações e as 
discussões na filosofia contemporânea, não apenas a respei-
to dessa questão, mas de todos os problemas contemplados 
pela teoria do conhecimento.
4. Temas de filosofia: ética e política
Na antiga filosofia grega, em meados do século V a.C., a 
transferência dos seres humanos para o primeiro plano do 
pensamento especulativo anuncia a ética e a política como 
campos temáticos nucleares da atividade filosófica. Ética e fi-
losofia política são áreas de pesquisa diretamente vinculadas 
ao mundo da prática, à realidade dos seres humanos em so-
ciedade, com seu universo de valores, suas relações de poder, 
suas noções de justiça e suas formas de organização social.
A ética é o estudo filosófico da moral, dos seres humanos 
como seres morais. A moral é imanente à vida humana em 
sociedade, regida por valores que orientam as ações indivi-
duais e instituem normas de conduta no âmbito das relações 
sociais. Compreende valores como bem e mal, certo e errado, 
justo e injusto, valores estes que concernem aos comporta-
mentos humanos, em suas intenções e em seus desdobra-
mentos sociais. Esses princípios valorativos manifestam-se 
em juízos de valor, positivos ou negativos, acerca das práticas 
individuais em suas implicações sociais e fornecem os con-
teúdos das regras de convivência, normas que prescrevem as 
formas supostamente apropriadas de comportamento huma-
no em sociedade.
Muitas vezes utilizado como sinônimo de moral, o ter-
mo ética, em sua acepção filosófica predominante, nomeia 
a reflexão teórica sobre os problemas morais. A ética con-
siste no estudo filosófico dos fundamentos da moral, exa-
minando racionalmente as questões que lhe são pertinen-
tes. Qual a origem dos valores morais? O que é o bem? Os 
valores morais possuem existência objetiva ou são apenas 
convenções da vida em sociedade? O que caracteriza o ato 
moral? O que caracteriza a articulação entre individual e 
coletivo nos domínios da moralidade? O que é virtude? In-
dagações dessa natureza formam o repertório especulativo 
da ética.
A política, em sua definição geral, refere-se ao exercício 
do governo em uma sociedade ou, em linguagem contem-
porânea, às relações entre Estado – o poder político insti-
tucionalizado – e a sociedade. A filosofia teoriza a política 
com base no questionamento dos seus fundamentos. Os 
humanos são seres naturalmente políticos ou as sociedades 
políticas são construções artificiais de um contrato social? O 
poder político é sempre legítimo? Há formas justas e formas 
injustas de organização política? Qual a relação entre poder 
político e desigualdades sociais? A política visa ao bem co-
mum ou trata-se de atividade essencialmente regulada pelo 
domínio de determinado grupo sobre o conjunto da socieda-
de? Os conflitos sociais são inerentes à dinâmica política ou 
o poder político autêntico realiza a harmonia social? Em torno 
desses problemas, desenvolvem-se diferentes teorias no ho-
rizonte da filosofia política.
Ética e filosofia política são áreas distintas do saber 
filosófico. A filosofia moral versa sobre motivações indivi-
duais e relações pessoais, a esfera privada da vida, que 
não são, pelo menos diretamente, envolvidas pela política. 
A filosofia política, por sua vez, investiga relações de poder 
vigentes em um uma dimensão pública que não se restrin-
ge aos fenômenos da moralidade. Apesar dessas diferen-
ças, são notáveis os pontos de confluência entre esses 
campos de reflexão filosófica, a intersecção entre ética e 
filosofia política. Ambas incidem na antropologia filosófi-
ca, à medida que localizam as bases da moral e da política 
em digressões sobre a natureza humana e as possibilida-
des de realização do ser humano. Com igual intensidade, 
especulam acerca de conceitos como bem e justiça, assim 
como as recíprocas interferências entre relações pessoais 
e os círculos públicos da vida em sociedade. Em certo sen-
tido, uma concepção ética deriva em proposições acerca 
da forma justa de organização política da sociedade e, da 
mesma forma, uma teoria política implica determinadas 
noções éticas.
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Ética e filosofia política são áreas da pesquisa filosófica diretamente 
articuladas à vida dos seres humanos em sociedade.
A. A filosofia e as questões morais
Os fenômenos morais realizam-se na articulação entre 
o social e o individual, a sociedade e os indivíduos. O que 
confere teor moral à ação de um indivíduo é sua repercussão 
social, o modo como sua prática afeta, de forma positiva ou 
negativa, a vida de outras pessoas, e os comportamentos 
dos seres humanos são moralmente avaliados segundo os 
parâmetros dominantes em um grupo social ou sociedade. 
Para que uma conduta possa receber uma valoração moral, 
é necessário existir uma margem, ainda que mínima, de ini-
ciativa individual. É preciso que o sujeito que realiza um ato 
específico tenha estado, antes da efetivação de sua conduta, 
diante de alternativas, isto é, que sua ação seja resultado de 
uma escolha individual.
A liberdade, portanto, é precondição da moralidade. Na 
sua ausência, torna-se inconcebível a existência de sujeitos 
moralmente autônomos e responsáveis por si mesmos e por 
suas ações. Recusando a noção de liberdade, encontra-se o 
determinismo absoluto, teoria defendida por alguns filóso-
fos materialistas franceses do século XVIII, como D’Holbach 
(1723-1789) e La Mettrie (1709-1751). Essa versão do ma-
terialismo identifica o conjunto da realidade natural e huma-
na com uma completa e complexa conexão de causalidades, 
sucessivas relações de causa e efeito que explicam a tota-
lidade dos acontecimentos da natureza e da humanidade, 
acontecimentos, portanto, necessários, que em nada pode-
riam ser diferentes do que são. Sob essa ótica determinista, 
uma ação humana não decorre exatamente de uma decisão 
individual, sendo, ao contrário, um efeito necessário de uma 
longa série causal. Para o determinismo absoluto, então, não 
há sujeitos definidos por sua livre vontade, capazes de efe-
tuar escolhas.
A ideia de liberdade é indispensável para as teorias éti-
cas. O filósofo grego Aristóteles, em seu livro Ética a Nicôma-
co, discrimina as ações humanas em involuntárias e voluntá-
rias. Involuntárias são as ações que não têm sua causa como 
seu protagonista, ou seja, sua origem é externa ao agente – 
por exemplo, em situações em que alguém é completamente 
coagido por outras pessoas, sendo obrigado a fazer algo que 
não é consoante à sua vontade. Ações voluntárias são as que 
realmente procedem do seu agente, originam-se do sujeito 
queas pratica. Para esse filósofo, porém, nem todas as ações 
voluntárias expressam escolhas. São voluntárias as condutas 
que procedem predominantemente das paixões e dos afetos 
de um ser humano individual – por exemplo, uma conduta 
agressiva, proveniente de sua ira –, mas não são escolhas. 
Escolha, no vocabulário filosófico aristotélico, corresponde 
ao plano da racionalidade. É a ação voluntária procedida pela 
deliberação, pelo exame racional das possibilidades apresen-
tadas por uma situação particular. Dessa forma, apenas os se-
res humanos são, de fato, livres; apenas a humanidade existe 
na esfera da moralidade.
Na filosofia moderna, a teoria ética do alemão Immanuel 
Kant (1724-1804) procura conciliar determinismo e liberda-
de. Para Kant, os seres humanos, em sua condição de seres 
naturais, são parcialmente submetidos às leis da natureza. 
Com sua inteligência, porém, projetam-se além da natureza, 
afirmam sua liberdade em relação às determinações naturais. 
De forma diversa dos seres irracionais, que existem sob a he-
teronomia das leis naturais e cujos comportamentos, con-
sequentemente, são absolutamente regidos por causas que 
lhes são exteriores, os seres humanos compõem um reino 
dos fins, instituído por regras ditadas pela razão. Como seres 
racionais, os seres humanos são capazes de identificar leis 
morais de alcance universal – denominadas pelo filósofo de 
imperativos categóricos –, leis que devem prevalecer sobre 
as inclinações sensíveis do indivíduo.
No sistema filosófico de Friedrich Hegel (1770-1831), 
a liberdade não é pensada sob o ponto de vista estrito dos 
indivíduos ou da humanidade, mas sim na dimensão da tota-
lidade realizada pelo espírito, a razão. De acordo com Hegel, 
a história humana exprime o movimento dialético da razão, 
marcado por contradições e superações, em direção à sua 
forma absoluta. O Estado contemporâneo é a finalidade para 
a qual tende o espírito universal: é a explicitação da razão no 
mundo. Conjugando interesses particulares e interesses ge-
rais, a moderna forma de organização sociopolítica suprime a 
oposição entre liberdade e necessidade, estabelecendo uma 
eticidade que assegura a confluência entre vontade objetiva 
e vontade subjetiva. A liberdade efetiva-se plenamente na 
identidade entre a vontade dos seres racionais e as leis fixa-
das pelo Estado.
No século XX, a liberdade recebe um conteúdo acen-
tuadamente existencialista com o filósofo Jean-Paul Sartre 
(1905-1980). Em sua obra O existencialismo é um huma-
nismo, Sartre sentencia que o ser humano é condenado à 
liberdade. Rejeitando a concepção criacionista, segundo a 
qual o ser humano é uma criação divina, esse filósofo des-
carta também a ideia de uma natureza humana universal, 
quer dizer, uma essência ou substância previamente pre-
sente em todos os seres humanos. Em sentido inverso às 
antropologias filosóficas tradicionais, centradas na noção de 
uma essência de humanidade que se realizaria em todos os 
seres humanos individuais, Sartre declara que a existência 
precede a essência: cada ser humano é inteiramente respon-
sável por construir a si mesmo, elaborar o seu ser, em suas 
escolhas. Em relação às escolhas morais, não compete aos 
indivíduos recorrer a parâmetros exteriores, critérios exter-
nos que justifiquem suas decisões: trata-se de uma escolha 
exclusivamente sua e com a qual, porém, ele escolhe toda a 
humanidade, considerando seu projeto existencial pertinen-
te a todos os seres humanos.
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 01. UPE
Leia o texto a seguir, referente à liberdade:
Afinal, “o homem é livre ou determinado?” 
A questão assim colocada gera um falso pro-
blema. Na verdade, o homem é determinado e 
livre. É preciso considerar os dois polos contra-
ditórios, superando o materialismo mecanicista, 
bem como a tese da liberdade incondicional.
ARANHA, Maria Lúcia. Filosofando: introdução à filosofia. 
São Paulo: Moderna, 1996. p. 299. Adaptado.
Com relação a esse assunto, é correto afirmar que:
a. ser livre é agir da forma que se quer, desconside-
rando qualquer determinação causal. O homem é 
detentor do livre-arbítrio.
b. o conceito de liberdade é simples: podemos 
fazer tudo o que queremos, somos artífices de 
nossa vontade.
c. a liberdade é condicionada, é infinita ou absolu-
tamente determinada por uma série de valores 
preestabelecidos.
d. o fator preponderante que restringe a liberdade é 
ser o indivíduo criado no seu isolamento.
e. a liberdade não é gratuita. A liberdade resulta de 
uma árdua tarefa que o homem deve conquistar.
Resolução
A solução da questão deve se basear no conteúdo 
de seu texto de referência, que considera a articulação 
entre o ser humano como ser, sob certos aspectos, de-
terminado e simultaneamente capaz de projetar-se livre-
mente, acima de suas determinações específicas. Nesse 
sentido, a liberdade é pensada como permanente con-
quista humana.
Alternativa correta: E
APRENDER SEMPRE 27 
Essa posição de Sartre, que se diferencia sutilmente do 
relativismo moral, remete a um debate presente na ética des-
de suas origens gregas: os valores morais existem objetiva-
mente ou são simples convenções da vida em sociedade?
A postura sofística inicia o relativismo moral ou o subjeti-
vismo axiológico – axiologia é sinônimo de teoria dos valores 
–, conforme o qual o bom, o justo e o moralmente certo, assim 
como seus correlatos negativos, o mal, o injusto e o moral-
mente errado, são pura e simplesmente criações dos seres 
humanos em sociedade, ou seja, não existem independente-
mente dessas convenções. Em termos morais, bem e mal se 
resumem ao que é definido de forma consensual no interior 
de um grupo social e de uma sociedade e que, no curso do 
tempo, pode ser modificado pelos seres humanos em suas 
relações sociais. Práticas moralmente condenáveis em uma 
sociedade são consideradas moralmente positivas em ou-
tros povos, da mesma forma que, em uma mesma sociedade, 
condutas que recebem valor moral negativo em uma época 
determinada tornam-se moralmente positivas em um perío-
do histórico posterior. Para os sofistas, não se trata apenas 
de constatar a diversidade moral vigente nas sociedades 
humanas, mas de compreender que não há um critério exte-
rior pelo qual esses diferentes conjuntos morais possam ser 
avaliados, isto é, não se aspira a uma moral universal, única 
para toda a humanidade. Sendo assim, os sofistas entendem 
que a areté – palavra grega traduzida como virtude, excelên-
cia humana – consiste no desenvolvimento das habilidades 
argumentativas dos cidadãos e em sua atuação em um corpo 
cívico no qual se elaboram as decisões mais pertinentes às 
circunstâncias históricas da sociedade.
Afirmar filosoficamente a existência objetiva de valores 
morais significa acreditar que, apesar da diversidade que se 
constata nas sociedades humanas, nas quais historicamente 
as noções valorativas de bem e mal comportam diferentes 
conteúdos, a inteligência humana tem condições de identifi-
car princípios de moralidade imutáveis e universalmente váli-
dos, concernentes a todos os seres humanos. Segundo essa 
postura filosófica, o objetivismo axiológico, os conceitos de 
bom, de justo e de moralmente certo existem em si mesmos. 
É tarefa dos seres humanos encontrá-los de modo racional e, 
consequentemente, aplicá-los às suas condutas na vida em 
sociedade. Sócrates, com seu projeto filosófico de eliminação 
dos saberes aparentes e de persistente construção da verda-
deira sabedoria, inaugura a tradição filosófica que intenciona 
alcançar o conhecimento pleno do bem. A filosofia socrática, 
caracterizada pela proposta de identificação da finalidade da 
vida humana, atribui o erro à ignorância e situa o conhecimen-
to como condição necessária e suficiente para o ser humano 
conduzir-se de forma moralmente autônoma, em conformida-
de com sua natureza e com valores morais absolutos.

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