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Sociologia Jurídica: Estudo das Ciências Sociais

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Prévia do material em texto

PROFESSOR
Me. Gilson Costa de Aguiar
Sociologia 
Jurídica
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
DIREÇÃO UNICESUMAR
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head 
de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e 
Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela 
Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital 
Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design 
Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino 
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. AGUIAR, Gilson Costa de.
Sociologia Jurídica. 
Gilson Costa de Aguiar.
 
Maringá - PR.: UniCesumar, 2021. Reimpresso em 2022. 
184 p.
“Graduação - EaD”. 
1. Sociologia 2. Jurídica I. Título. 
CDD - 22 ed. 340 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-65-5615-551-7
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Coordenador(a) de Conteúdo 
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e 
Matheus Silva
Editoração
Produção Digital
Fotos
Shutterstock
FICHA CATALOGRÁFICA
A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história 
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, 
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria-
mente para que nossa educação à distância continue 
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre 
quatro pilares que consolidam a visão abrangente 
do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o 
profissional, o emocional e o espiritual.
A nossa missão é a de “Promover a educação de 
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for-
mando profissionais cidadãos que contribuam para o 
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. 
Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor-
tante para o cumprimento integral desta missão: o 
coletivo. São os nossos professores e equipe que 
produzem a cada dia uma inovação, uma transforma-
ção na forma de pensar e de aprender. É assim que 
fazemos juntos um novo conhecimento diariamente.
São mais de 800 títulos de livros didáticos como este 
produzidos anualmente, com a distribuição de mais 
de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos-
sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 
polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, 
Ponta Grossa e Corumbá), o que nos posiciona entre 
os 10 maiores grupos educacionais do país.
Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima 
história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem 
muda o mundo são as pessoas. Os livros só 
mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu-
nidade de fazer a sua mudança!
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a 
nossa missão, que é promover 
a educação de qualidade nas 
diferentes áreas do conhecimento, 
formando profissionais 
cidadãos que contribuam para 
o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária.
Me. Gilson Aguiar
O estudo da teoria das ciências sociais é fundamental 
para a formação do jurista, porque se o direito é o mun-
do dos fatos, para considerar uma visão reducionista do 
direito, mas de larga aderência no mundo jurídico, os fa-
tos existem em função da existência de fatos sociais, ou 
ainda, fatos naturais combinados com fatos sociais.
Os séculos XX e XXI são marcados no campo das teorias 
das ciências sociais, como tempos de formação de uma 
sociedade muito complexa, com diversidades ideológicas, 
sociais, filosóficas e outros, ora de muita divergência e em 
outros momentos, com muitos campos de aproximações.
A proposta de estudo de deste Curso é o de construir uma 
visão sobre os problemas e as formas de ser predomi-
nantes em nossa sociedade, e sua relação com o Direito.
É preciso compreender que os problemas de uma socie-
dade complexa em que vivemos, não nasceram necessa-
riamente, de um momento para outro, em bora este tipo 
de situação possa ocorrer, mas são resultados de questões 
que foram e continuam sendo gestadas a partir das rela-
ções que naturalmente constituem a vida em sociedade.
Se na medievalidade a questão da pobreza estava normal-
mente associada as questões da fé, pois é um desejo do 
criador que alguns poucos homens sejam afortunados e a 
maioria seja sofredor, esta visão de pensamento é rompida 
já na modernidade, principalmente com o pensamento de 
Karl Marx e Friedrich Engels, que introduzem as questões 
de ordem material, tendo a economia como principal su-
porte para a construção existencial dos homens.
UNICESUMAR
5
Do feudalismo e suas relações de submissão pelo poder do Senhor Feudal em conluio 
com a religião, passando pela medievalidade e a predominância das questões de ordem 
religiosa, que norteavam a vida de praticamente todas as pessoas, ao mercantilismo com 
no surgimento do liberalismo e o reconhecimento dos direitos individuais, e finalmente, 
chegando à modernidade com o capitalismo, o neoliberalismo e outros neos, a socieda-
de vai sendo formada, reformada, construída e reconstruída, com o entrechoque dos 
valores, da moral, da ética e do próprio Direito.
Esta é a jornada que iremos percorrer e ao mesmo tempo, procurando conhecer e 
compreender algumas questões essenciais para a formação do Acadêmico de Direito.
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do 
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
Ao longo do livro, você será convida-
do(a) a refletir, questionar e trans-
formar. Aproveite este momento.
PENSANDO JUNTOS
NOVAS DESCOBERTAS
Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos 
de maneira interativa usando a tec-
nologia a seu favor.
Sempre que encontrar esse ícone, 
esteja conectado à internet e inicie 
o aplicativo Unicesumar Experien-
ce. Aproxime seu dispositivo móvel 
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex-
plore as ferramentas do App para 
saber das possibilidades de intera-
ção de cada objeto.
REALIDADE AUMENTADA
Uma dose extra de conhecimento 
é sempre bem-vinda. Posicionando 
seu leitor de QRCode sobre o códi-
go, você terá acesso aos vídeos que 
complementam o assunto discutido.
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
OLHAR CONCEITUAL
Neste elemento, você encontrará di-
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos, 
esquemas e fluxogramas os quais te 
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara
Professores especialistas e convi-
dados, ampliando as discussões 
sobre os temas.
RODA DE CONVERSA
EXPLORANDO IDEIAS
Com este elemento, você terá a 
oportunidade de explorar termos 
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881
APRENDIZAGEM
CAMINHOS DE
1
3
5
2
4
UM ESBOÇO SOBRE 
A FORMAÇÃO
DA SOCIEDADE 
COMTEMPORÂNEA
9
POSITIVISMO E 
ESTRUTURALISMO 
COMO RESPOSTA
47
A LÓGICA DO 
PODER
99
UM RETORNO 
NO TEMPO: AS 
ORIGENS DA 
SOCIEDADE 
CAPITALISTA
27
A CRÍTICA AO 
CAPITALISMO 
E O DILEMA DA 
SUBJETIVIDADE
71
6
8
7
MOLÉCULAS DA 
REDE MUNDIAL
121
FORMAÇÃO A 
DEFORMAÇÃO155
MOVIMENTOS E 
TENSÕES
141
APRENDIZAGEM
CAMINHOS DE
1Um Esboço Sobre a Formaçãoda Sociedade 
Comtemporânea
Me. Gilson Aguiar
Em suma, segue os objetivos de aprendizagem a serem obtidos ao fim 
deste capítulo:
• Entender os dilemas da sociedade atual que colocam a Sociologia 
como campo de conhecimento necessário para entender os conflitos 
sociais e sua dinâmica. 
• Relacionar estes conflitos sociais com as condições em que a 
sociedade atual está organizada estruturalmente (sociedade, economia 
e cultura). 
• Perceber a crise de identificação entre a produção do indivíduo e a 
sociedade em que ele está inserido.
UNIDADE 1
10
Antes de qualquer análise mais profunda sobre a sociedade em que estamos inseri-
dos é fundamental que você entenda a complexidade das relações sociais das quais 
estamos sujeitos. Nós somos, antes de tudo, um ser que define sua existência pela 
convivência com os demais seres humanos. Por mais que está não tem sido a com-
preensão que a grande maioria tem feito ao seu respeito e da sociedade em que vive.
Por isso, meu aluno. Este material tem como desafio, em seu capítulo inicial, 
permitir um entendimento prévio do homem contemporâneo. Um homem que 
vive o dilema: ele é exaltado como a peça mais importante da vida social, mas 
faz parte de uma cadeia de relações dependentes de um conjunto mundial de 
produção de sua vida. Ele é massificado, mas se sente tratado como um ser único.
Esta percepção contraditória é que dá o alimento para o capítulo que você irá 
ler. Ele foi desenvolvido esclarecendo inicialmente o processo de industrialização 
UNICESUMAR
11
e as transformações que a sociedade viveu e vive a partir destas mudanças, o 
que chamamos de divisão internacional do trabalho. Uma condição necessária 
para a confecção de boa parte dos bens que temos ao dispor para o consumo na 
sociedade. Esta divisão vem sofrendo mudanças e se aprimorando ao longo da 
história do capitalismo. A cada transformação ela altera também nossas vidas, 
nossas particularidades. 
Parte considerável dos conflitos que estamos assistindo advém desta relação 
de organização mundial complexa e de seus desdobramentos nas diversas regiões 
do mundo. Desta forma, temos que rever o papel de instituições que no passado 
se constituíam como autônomas, soberanas, como o próprio estado nacional.
Neste capítulo, consideramos fundamental apontar algumas das caracterís-
ticas da sociedade atual que demonstram a crise entre o indivíduo e a coletivi-
dade. Entre estes conflitos ganha corpo a relação de consumo e a cidadania. Os 
produtos planetários disponíveis no mercado mundial e a particularidade que é 
expressa na relação que estabelecemos com estes bens. 
Outro ponto que consideramos necessário abordar está a perda ideológica 
dos movimentos sociais. A falta de orientação que define um projeto de sociedade 
não se apresenta dentro das manifestações coletivas. Mesmo os estados nacionais 
que se justificam dentro deste plano não apresentam uma coerência em sua rela-
ção com a sociedade a qual está vinculado. Em todas as suas instâncias, o poder 
se direciona para atender ao interesse particular, formular medidas imediatas 
para regular um determinado comportamento sem considerá-lo como parte de 
uma totalidade lógica.
Um dos pontos de partida deste capítulo é o estudo das cidades. O espaço 
determinante do convívio social na atualidade. Os dilemas da humanidade se 
confundem com as questões urbanas. Violência, saúde pública, produção econô-
mica, vida política, produção cultural, são alguns dos exemplos dos fenômenos 
sociais que tem nas cidades seu palco. 
Esperamos que este capítulo instigue o desejo de conhecer melhor a sociedade 
e de entender o papel das ciências jurídicas na vida social. Ela também está em crise. 
Ela também vive a contradição entre o projeto coletivo que justificou sua existência 
e as particularidades que dominam os interesses dos que procuram a aplicação da 
norma, sua interpretação e, até mesmo, a manipulação de suas brechas.
UNIDADE 1
12
Um ser coletivo e solitário
Há uma intensa concentração humana nas cidades, o espaço urbano concentra 
a maioria da população do planeta. Nada mais lembra o mundo em movimento 
do que os luminosos, marcas espalhadas pelas avenidas e ruas. Nas roupas, nas 
telas, outdoors e por todos os cantos há a imagem e a mensagem propagada. São 
nas megalópoles que o movimento se expressa de forma mais intensa. As cidades 
que “nunca dormem”. 
Mas quem é este ser humano cada vez mais urbano? Uma das primeiras afir-
mações que vamos entender com mais profundidade é que são construídos por 
“inúmeras mãos”. Nunca, em toda a história da humanidade, a vida foi construída 
por tantas relações. Uma coletividade complexa que produz condições em massa 
que passa, quase sempre, despercebida. 
Todas as condições que constroem a possibilidade da existência em sua par-
ticularidade e intimidade são uma construção de uma cadeia econômica e so-
cial de proporções planetárias. Poucos são os produtos e serviços que atendem 
nossos interesses que sejam uma obra de relações regionais. Há um Planeta em 
movimento, cada vez mais integrado, mas também em conflito. A integração se 
faz sentir, muitas vezes, no que nos parece pessoal e privado.
O celular, o automóvel, a casa, ou o pacote de macarrão na prateleira do 
mercado são bens mundiais. São também fruto de uma produção em cadeia 
internacional a roupa, a geladeira, o televisor, o aparelho de micro-ondas e o 
revolucionário computador, em suas mais diferentes versões. É uma obra plane-
tária, na tecnologia que os produz, nos equipamentos e nos componentes que lhe 
dão origem, o que chamamos de insumos. Há um planeta se relacionando para 
a existência dos bens que atendem a nossa particularidade.
É exatamente esta cadeia de produção a nossa ponto de partida para enten-
der a sociedade contemporânea. Esta cadeia de dependência que se expressa em 
nosso dia a dia e atinge diretamente cada um de nós. Despertar um olhar mais 
atento a esta dependência é nosso primeiro passo para a introdução de nosso 
leitor (aluno) ao conhecimento da vida em sociedade e sua complexidade. 
O dilema que trataremos ao longo deste capítulo, e será ponto central neste 
livro, é que se a cadeia de produção mundial nos coloca em dependência direta 
com um número imensurável de outros seres humanos, nós não conseguimos 
perceber ou reconhecer esta dependência nos bens e serviços que atendem os 
UNICESUMAR
13
nossos interesses. Temos uma percepção de solidão e forte sentido individual de 
uma vida que é resultado de uma imensa coletividade.
A fábrica mundial
A produção industrial, desde o século XVIII, quando foi estabelecida com a 
maquinofatura, na Inglaterra, promoveu uma divisão internacional de produção, 
também chamada de divisão internacional do trabalho. Esta divisão determinou 
a centralização da produção de bens industriais em terminadas partes do Planeta, 
inicialmente a Europa, depois outras partes do mundo. Mas a grande maioria dos 
territórios integrados a produção industrial se transformaram em dependentes-
das áreas industriais com um perfil agroextrativista e exportador 1. 
Em diversas nações da Europa ocidental ocorreu um crescimento urbano 
significativo. Cidades como Londres, Manchester, Paris, Frankfurt viveram um 
crescimento ligado a multiplicação das empresas produtoras de bens industria-
lizados. Conseqüentemente um grande número de habitantes das áreas rurais 
migrou para a cidade. O êxodo urbano provocou as primeiras tensões sociais 
relacionadas com a violência do ambiente urbano, principalmente de trabalho. O 
alcoolismo, prostituição, assassinatos, suicídios são alguns dos comportamentos 
que se multiplicaram nas cidades que cresciam ligadas a industrialização.
Os produtos gerados pela rede de produção nos séculos XVIII e XIX eram 
limitados na condição, proporção e acesso ao consumo. A restrição quantitativa 
de produção atendia a mercados determinados por uma presençarestrita de uma 
economia capitalista2 . O número de consumidores no mundo era pequeno. Nem 
1 A produção industrial em sua origem centralizou no mesmo espaço a produção e o centro financeiro e tecnológi-
co. As chamadas grandes potências industriais foram os países que, com forte apoio estatal, formaram um extenso 
parque industrial que abastecia diversos pontos do Planeta. Contudo, a produção de bens necessitava de insumos 
oriundos de diversas regiões agrícolas ou extrativas. Estes territórios produtores do que chamamos de bens primá-
rios estavam ligadas diretamente as áreas centrais pela necessidade de seus bens industriais ou pelo controle militar 
que as grandes potências exerciam sobre os territórios que ainda mantinham a condição de colônias. 
2 Quando falamos de uma economia capitalista em sua forma plena, temos que nos reportar as condições em que 
a produção se estabelecia em diversas partes do mundo. Não tínhamos ainda no século XVIII e XIX rompido com 
o escampo ou com a relação escravista de trabalho em diversas regiões do mundo. O mercado consumidor, para 
se estabelecer em diversas partes do Planeta necessitou romper com as formas tradicionais de produção que pre-
valeciam em territórios fornecedores de matéria prima. Não foi por acaso que a pressão inglesa, e de outros países 
UNIDADE 1
14
todos tinham acesso aos bens de consumo seja pela falta de oferta ou por não 
estarem intermediados pela monetarização das relações de consumo. 
A expansão das relações de produção capitalistas pelo ocidente europeu foi 
um desdobramento de mais de quinhentos anos.
 A implantação de uma economia em rede mundial foi um processo marcado 
por conquistas e transformações, submissão por violência, geração de dependên-
cia e mudança de hábitos sociais. Uma alteração a qual ainda estamos assistindo 
e demonstra seus efeitos nos dias atuais.
Os produtos que se propagaram nesta economia mundial são diversos. Ao 
mesmo tempo em que produtos europeus atingiram diversas partes do Planeta, 
produtos industrializados passaram a fazer parte dos objetos do dia-a-dia de 
inúmeros habitantes do planeta. O tabaco, a laranja, a banana, o açúcar, o café, 
o milho, o trigo, a soja, o algodão, a batata, etc. Estes são alguns exemplos dos 
bens que se propagaram no mundo pelas mãos do mercado. Além disso, novos 
produtos surgiram, frutos do desenvolvimento científico e tecnológico aprimo-
rados de forma singular ao longo de cinco séculos. 
A expansão da economia mundial, da produção e do mercado que atinge 
praticamente todos os cantos do Planeta, acelera a transformação do ambiente, 
a mudaram os hábitos alimentares, as ferramentas de trabalho, a vestimenta, a 
cultura, em muitos casos, as relações sociais e seus valores foram transformados. 
A economia mercantil que deu início ao processo de integração da economia 
mundial foi seguida por uma aproximação das áreas produtivas e, posterior-
mente, interligou as redes de fornecimento de matéria prima e industrialização.
A expansão da economia mundial, da produção e do mercado que atinge 
praticamente todos os cantos do Planeta, acelera a transformação do ambiente, 
a mudaram os hábitos alimentares, as ferramentas de trabalho, a vestimenta, a 
cultura, em muitos casos, as relações sociais e seus valores foram transformados. 
A economia mercantil que deu início ao processo de integração da economia 
mundial foi seguida por uma aproximação das áreas produtivas e, posterior-
mente, interligou as redes de fornecimento de matéria prima e industrialização.
O processo de integração da economia mundial pela Europa ocidental e, 
posteriormente, pelas nações que se industrializaram, não foi pacífico. Marcado 
industrializados da Europa, para romper com o trabalho escravo em antigas colônias ou em países como o Brasil e 
Estados Unidos foi uma constante. 
UNICESUMAR
15
por guerras constantes entre as nações industrializadas, a economia mundial se 
formou com continuidades e descontinuidades. Mesclou os interesses locais com 
o processo de desenvolvimento da economia mundial. Se o investidor estrangeiro 
pode se apoderar da riqueza local, teve que manipular e for manipulado pelos 
interesses regionais .3 Áreas aparentemente dominadas se fizeram impérios eco-
nômicos que se rivalizaram com as potências industriais européias. Foi o caso 
do Japão e dos Estados Unidos.
Ao mesmo as áreas coloniais se mantiveram, foram transformadas em uma 
expansão dos interesses das potências. Algumas destas colônias se emanciparam 
e se transformaram em estados nacionais autônomos, continuando a desempe-
nhar o papel de fornecedoras de bens primários.
Alguns destes territórios, transformados em nações autônomas, conheceram 
uma industrialização irregular que se consolidou ao longo do tempo e constituí-
ram dentro da economia agrária um bolsão de industrialização.
Justificadas pelo discurso da civilidade como uma carga ideológica que bus-
cava superações locais ou um projeto político e social em escala mundial, os 
conflitos deixaram marcas, mudou o curso do desenvolvimento das sociedades 
ligadas a rede de produção mundial, mas nunca o interrompeu de forma defini-
tiva. Somos hoje, o resultado destas transformações ocorridas ao longo de cinco 
séculos, o que denominamos de “Ocidentalização Planetária”.
3 Um dos exemplos mais emblemáticos da relação entre as forças locais e os interesses das nações que dominaram 
o cenário da economia mundial está o Japão. A economia agrária e semifeudal nipônica foram transformadas pelo 
contato com a economia dos países industrializados no século XIX. Mesmo tendo tido contato anteriormente com 
os impérios colonial ibérico e holandês, a economia nipônica resistiu as transformações. Contudo, a conhecida 
Era Meiji alterou o destino do país nipônico, mas deixou claro o traço nativo. Eles, por sinal, foram fundamentais 
para o sucesso da economia capitalista na “terra do Sol nascente”. Iniciada em 1868 e se estendendo até 1912, sob o 
comando do Imperador Mutsuhito, o Império Japonês rompeu com o xogunato. O regime destituído era dominado 
pelos nobres tendo nos samurais sua 
(...) “foi um processo marcado por conquistas e transfor-
mações, submissão por violência, geração de dependência 
e mudança de hábitos sociais.”(...)“
UNIDADE 1
16
Vamos nos dedicar, e muito, a trabalhar este processo de oci-
dentalização ao longo desta obra.
 Por isso, nossa a produção dos bens de consumo na atualidade é o resultado desta 
condição criada pela integração mundial e que atinge seu mais alto grau na atua-
lidade. Em nenhum outro momento da vida humana nossa existência, por mais 
particular que seja, esteve tão dependente de uma cadeia mundial de produção. 
Literalmente, em nossa existência, não sobre obras de nossos atos como um ser 
autônomo. O que temos é uma liberdade cravada nas relações de dependência 
com toda a humanidade que nos cerca.
Por contradição, e aqui vamos tratar apenas superficialmente desta questão, o 
homem nunca se sentiu tão senhor de si como em nossos dias. Ele se considera o 
supremo detentor de seu destino. Vive rodeado de discursos de autossustentação. 
Não é por acaso que os livros de maior vendagem nas livrarias em todo o mundo 
são os que têm como tema a “autoajuda”. Como se pode acreditar em superação 
das crises humanas tirando dentro de si a resposta quando se é fruto de uma 
coletividade complexa?
Ao que parece, estamos a procura de respostas simples por não entendermos 
as relações complexas que determinam nossas vidas. Como falamos na introdução, 
este trabalho se propõe a muitos desafios, um deles é questionar a lógica “rasa” que 
se tenta abordar a complexa sociedade contemporânea. O desdobramento de um 
pensamento ilusório está expresso na mídia, na construção da imagem espetacular 
dos produtos oferecidos no mercado mundial. A mesma rede complexa de produ-
ção contribui para a ilusão dos homens que consomem seus produtos.
A rede mundial de produção que gera os bens com os quais nos relacionamos 
e consumimosnão se denuncia em sua obra, o bem de consumo.
Os objetos produzidos em escala mundial são apresentados com uma aura 
de singularidade, de pessoalidade.
Um sentimento de existência desvinculada por um valor superior dos demais 
seres humanos nos toma. Uma mensagem publicitária dá aos seus espectadores 
a mensagem de que são escolhidos para uma jornada única, onde o que importa 
é a vontade do ser em si, não mais da condição que o produz, a relação com os 
demais seres, o nós. 
Esta procura de simplificar o sentido das relações que estabelecemos se cons-
titui pela complexidade da cadeia econômica, sem dúvida. Contudo, há outros 
UNICESUMAR
17
elementos a serem considerados. Um deles é a condição em que nos relacionamos 
com os demais elementos sociais. O sentido do convívio coletivo. A resposta que 
damos ao sentido da existência e as associações dos rituais sociais ao “prazer” da 
existência humana. O sucesso, o reconhecimento, o desejo associado a sexuali-
dade, estão associados a produtos, não aos atos de civilidade.
O que já foi determinante ao homem como condição de diferenciá-lo das 
civilizações que tinham no instinto o condutor único de seus atos, não diferencia 
mais em muitos casos. A relação com o produto também deixou de ser lógica, 
agora é instintiva. Os rituais primários de conquista já não obedecem mais ao 
critério civilizador. Mas do que estamos falando?
Em nossa civilização compreendemos ao longo de sua formação a necessida-
de de valorização da lógica científica associada a racionalização da convivência. 
Fez-se fundamental garantir ao homem a compreensão de seu papel em uma 
sociedade organizada. Não foi de “rituais místicos” que aprendemos a justificar o 
estado, a nos organizarmos economicamente ou a criarmos as instituições sociais 
que temos. A família, o trabalho, a educação são elementos fundados em uma 
razão social para a nossa civilização. Estas instituições existem por desempenha-
rem um papel na vida social. Entender este papel contribui significativamente 
para aprimorar a vida em sociedade.
Temos hoje uma névoa sobre a compreensão racional dos fenômenos que 
nos cercam e nosso papel com uma civilização fundada na ciência. A organi-
zação social que permitiu o desenvolvimento e a conquista das mais diferentes 
partes do mundo, a que alterou os elementos da natureza por muitas vezes para 
conseguir garantir a adaptação do homem aos mais diferentes ambientes, agora 
vê dentro de suas estruturas a propagação do culto a banalização. Na mesma 
proporção que as igrejas se multiplicam também se multiplicam os temas tolos 
que envolvem a vida pública. 
Muito do que vivemos com a crise da democracia em nossos dias pode 
estar relacionado a deterioração da compreensão da ordem social. Podemos 
estar vivendo um imediatismo propagado pela mídia de massas, mas também 
por não compreendermos os fenômenos em nosso dia-a-dia como o resultado 
desta organização. Nos espaços onde deveríamos estabelecer a racionalidade 
como condição vital das relações sociais, nós estamos associando a lógica su-
perficial, a banalização.
UNIDADE 1
18
Da propaganda ao representante público, da série sobre ciência na mídia aos 
temas de uma parte considerável das obras literárias, expressamos o empobre-
cimento da análise dos temas referentes ao homem. Receitas prontas para uma 
sociedade com dilemas e complexidades. A ciência que se desenvolveu ao longo 
de tantos anos não pode ficar desprezada pela simplificação das relações sociais 
que ganham cada vez mais espaço no cotidiano social.
Em sua lógica mais profunda, a vida social nunca se organizou em uma cadeia 
tão ampla de possibilidades e com uma dificuldade imensa de determinar seus 
rumos. A economia mundial que assistimos desfila a nossa frente em forma de 
noticiários na mídia é uma demonstração desta complexidade. Mesmo as marcas, 
símbolos de produtos que se expressam na publicidade das revistas, sites, jornais, 
pelos outdoors nas ruas denunciam muito além das fronteiras das regiões e dos 
estados nacionais. O mundo está a nossa volta.
Mas se estamos rodeados de elementos produzidos e propagados mundial-
mente, somos capazes de perceber esta condição? Temos o entendimento de 
nosso papel em uma sociedade global? Acredito que não. Hoje nos consideramos 
senhores de uma vida centrada na particularidade, como afirmamos anterior-
mente. Estes mesmos elementos mundiais chegam até nós em um movimento 
aparente de busca de nos alimentar, de nos colocar no centro das discussões ou 
da atenção de tudo o que existe.
O que mais assistimos no perfil dos produtos que estão nas prateleiras dos 
mercados em todo o mundo são bens de consumo individual. O que em gerações 
passadas já foi produzido para atender a vários indivíduos componentes de um 
grupo determinado agora está a serviço de um único ser. As gôndolas da sessão 
de alimentos dos mercados é uma bela expressão. Nunca se produziu tanto para 
satisfazer o desejo alimentar de um ser. As porções de macarrão, arroz, tortas, 
carne, conservas, enfim, todo o tipo de alimento que antes eram matéria prima 
de um preparo para muitos agora se vende pronta para um só.
A telefonia móvel e o automóvel são bons exemplos, também, da particulari-
zação. O que já foi um bem para atender um grupo agora é personalizado e não 
pode estar a serviço do outro. Descobrimos que há um mercado consumidor 
apaixonado pelo amor próprio decorado com objetos. Em shopping o bem raro 
é cercado por um altar e destacado com luzes. Impossível não notar a raridade. 
Ele é adquirido como uma preciosidade que destaca a singularidade em plena 
indústria de massas.
UNICESUMAR
19
Enquanto nos hipermercados se trabalha com a lógica da abundância, no 
shopping se destaca a raridade. Mas em todos os lugares a felicidade está à es-
pera de cada um e respeita, acima de qualquer coisa, o desejo mais íntimo do 
ser único. Esta semeadura da particularidade satisfeita nas mínimas vontades já 
está disponível nos primeiros anos de vida. Ainda no berço somos um objeto de 
decoração rodeado de mimos, todos adquiridos para dar sentido a paternidade 
e maternidade. Ter um filho não pode trair a satisfação de consumir 1. 
Ao longo da trajetória de cada indivíduo, e como uma condição coletiva, a 
particularização da vida agrada, essencialmente por não questionar nossos de-
sejos e interesses. “Não” é uma palavra proibida na formação do homem atual. É 
claro que há a negatividade, mas se anunciada pode gerar um encontro prejudi-
cial ao desejo mais pueril. Lembrando que ele, o desejo pífio, pode ser atendido 
pelo mercado através do consumo. Este é um ato que as mensagens massificadas 
buscam garantir. Para tanto é preciso evitar o “Não”. 
O resultado é que geramos seres mimados, mesmo quando já estão em uma 
fase e idade em que se espera maturidade e não “birra”.
Não por acaso os educadores, os médicos, os engenheiros, os psicólogos, os 
advogados, os publicitários e tantas outras profissões, estão à procura de atender 
as particularidades. A resposta para o indivíduo de seu significado coletivo nun-
ca esteve em alta como agora. Um homem precisa de respostas para continuar 
vivendo, e ela tem que se dada para cada um, em um encontro íntimo e com 
significado único . 
Nas pesquisas e publicações que as academias investem, nos diversos ramos 
das ciências humanas principalmente, a particularidade é um campo e tema fértil. 
Não é à toa que o “Direito da Personalidade” tem sido valorizado. A artimanha do 
sentido pessoal está quase se transformando em norma. A psicologia e o direito 
nunca foram tão íntimos, não para descobrir um sentido comum no ato, mas 
para dar a cada ato um sentido próprio.
Todo o esforço que determinados campos do conhecimento ciência tem tido 
na busca de mecanismo de estímulo ao consumo canaliza na particularidade a 
lógica de compreensão da totalidade humana. Diante do drama da economia 
1 Mais uma vez a proliferação dos objetos na particularidade pode nos dar a dimensão do que se tornou a infân-cia. O pequeno rebento tem ao seu dispor uma gama imensa de acessórios. Nos hipermercados a sessões inteiras 
expondo produtos para alimentar o bebe de mimos. Nas ruas, nos shoppings se multiplicam as lojas especializadas 
em roupas e outros acessórios para transformar o recém-nascido em um objeto de exposição.
UNIDADE 1
20
que atravessa a crise é o comportamento individual que pode dar respostas. Da 
mesma forma a epidemia por um vírus ou bactéria que se alastra em uma co-
munidade tem no comportamento pessoal a chave para se resolver o problema. 
Na questão ambiental não é diferente.
Esta valorização da particularidade precisa ser considerada e revista. Não 
significa anulada, pois ela tem um valor fundamental na busca de posicionar o 
indivíduo diante da sociedade. Destituir a análise individual de valor seria de-
cretar o fim de um engajamento consciente que desse sentido a particularidade e 
promovesse a satisfação pessoal.O ser humano precisa se sentir bem com a ação 
que promove. Sem ela, ele se tornaria um robô diante do movimento maciço que 
conduz também seu ato. Podemos resumir que ninguém quer ser apenas mais 
um, mas ninguém tem a condição de ser único.2
Esta é a nossa busca neste capítulo, compreender a responsabilidade da so-
ciologia de dar ao ser humano a compreensão da necessidade da vida em coleti-
vidade. Estabelecer o grau de relação entra a condição de existência da totalidade 
na construção da vida particular.
O que não pode, e faz bem lembrar aqui, acreditar que somos constantemente 
determinados pela coletividade. Em nós repousa elementos fundamentais que 
orientam nossa ação em sua relação com o conjunto social. Buscamos uma sa-
tisfação na vida em coletividade porque temos a nossa existência constituída na 
condição com os outros. Mas em nós há uma diferenciação entre o que somos e 
o que os outros são, essa fronteira existe e precisa ser trabalhada.
A busca da compreensão racional da existência coletiva é fundamental. Este 
sentido é que faz da ciência no mundo ocidental um dos principais elementos que 
permitiram a transformação da sociedade humana e sua condição na atualidade.
Tanto para as condições “boas” ou “ruins” que a caracterizam hoje. Se ela é este 
instrumento necessário, por que abandoná-la quando mais precisamos superar 
os problemas que abalam a sociedade humana? Hoje estamos assistindo a mul-
tiplicação de lógicas místicas, de noções ilusórias sem respaldo da razão. Fazer 
2 Enquanto as igrejas se multiplicam em bons negócios, elas também traduzem a forma como a religiosidade se 
propaga. Não basta uma ética para todos, tem que se personalizarem os atos de fé, associar a vitória do indivíduo 
à vontade divina de sua salvação. Estamos assistindo a pessoalidade do que seria a resposta universal da verdade. 
A origem do homem, sua relação com um suposto criador, agora está centrada na existência única, de um único 
ser. A lógica de Adão e Eva nunca esteve tão presente e o “paraíso” pode ser encontrado quando as portas dos 
shoppings se abrem. 
UNICESUMAR
21
o caminho de desmonte desta onde de misticismo seria fundamental. Estamos 
nos propondo aqui um pouco a isso.
Temos que dar mais atenção ao peso que o ambiente da sociedade de consu-
mo tem nos problemas da contemporaneidade. Onde o crescente movimento na 
busca de satisfazer a particularidade está gerando um comportamento coletivo 
de proporções preocupantes na vida social.3 
Temos que ter um olhar atento ao crescimento do uso de drogas, dos proble-
mas ambientais, das guerras civis que tem crescido em diversas partes do Planeta. 
Muitas destas guerras são urbanas, se traduzem em violência relatada nos meios 
de comunicação “as migalhas”, mas que no fundo são conflitos de grandes pro-
porções que em sua totalidade desenham uma violência maior que as guerras 
que marcaram a história como grandes catástrofes.
Se analisarmos os números de mortos nos conflitos urbanos que assistimos 
quando se deparam em disputa as facções do que chamamos de “crime organi-
zado”, ou no embate destes grupos com o aparato de segurança, os números de 
mortos são maiores do que as guerras convencionais que a humanidade já presen-
ciou. Logo, se fosse pelos números e não pelas formas, poderíamos afirmar que 
estamos em uma guerra permanente. Com uma diferença crucial, as guerras da 
atualidade não têm o interesse político ideológico e nem apresentam um projeto 
de governo como bandeira de luta.
Como diz Enzensberger:
 “ Lancemos um olhar sobre o mapa-múndi. Podemos localizar as guerras em regiões longínquas, principalmente no Terceiro Mun-do. Falamos de subdesenvolvimento, anacronismo, fundamenta-
lismo. Parece-nos que a incompreensível luta transcorre a grande 
distância. Mas isso é engano. Há muito que a guerra civil penetrou 
nas metrópoles. Suas metáteses pertencem ao cotidiano das gran-
des cidades, não só de Lima e Johannesburg, de Bombaim e rio 
3 Considero aqui importante relatar o que entendo por “vida social”. Para mim ela tem como conceito o cotidia-
no, o movimento social em suas relações mais simples das mais complexas. A condição de existência que implica 
na forma organizada em que a sociedade e também no sentido que gestam o movimento de cada um e, por 
consequência, do ambiente coletivo em que vivemos. Este movimento diário é a condição social se organizando e 
produzindo o que nossas relações que se mantém no tempo e se transformam ao longo dele. 
UNIDADE 1
22
de Janeiro, mas de paris e Berlim. Detroit e Birmingham, Milão 
e Hamburgo. Dela não participam apenas terroristas e agentes 
secretos, mafiosos e skinheads, traficantes de droga e esquadrões 
da morte, neonazistas e seguranças, mas também cidadãos dis-
cretos que a noite se transformam em hooligans incendiários, 
dementes violentos e serial killers. Como nas guerras africanas, 
esses seres mutantes são cada vez mais jovens. Enganamo-nos em 
acreditar que vivemos em paz só porque podemos ir a padaria 
sem que sejamos atingidos pelos disparos de um franco-atirador 
(ENZENSBERGER, 1995 p.15).
Esta guerra civil tende a crescer, no mundo urbano, nas grandes cidades, ago-
ra chamadas de megalópoles, as contradições sociais se agravam e geram um 
ambiente favorável para a violência.Esta guerra civil tende a crescer, no mundo 
urbano, nas grandes cidades, agora chamadas de megalópoles, as contradições 
sociais se agravam e geram um ambiente favorável para a violência.
Se considerarmos a análise que Enzensberger faz acima, os agentes da violência 
não são exclusivamente os elementos que costumamos ter como autores. Eles, os 
agressores, são cada vez mais pessoas ligadas ao nosso cotidiano. Estão próximos e 
tendem a agir com agressividade com quem não espera deles uma agressão.
Hoje, a maioria dos casos de vandalismo e agressividade extrema se dá entre 
agentes e vítimas que vivem a mesma realidade. O que os separa é a intenção 
e não uma contradição extrema que envolva o ambiente onde foram criados. 
Depredação de prédios públicos, estupro, assassinatos, guerras entre gangs, nada 
disso ocorre distante demais da origem dos elementos que praticam este tipo de 
violência. Os agressores e os agredidos têm mais em comum do que se imagina. 
Um dado importante a ser considerado nesta análise é a condição em que a 
sociedade em que vivemos se organizou. As relações que se estabeleceram até 
atingirmos o grau que vivemos hoje de complexidade nas relações de produção 
da vida social e particular, em todas as suas dimensões. Para isso, vamos dedicar 
o nosso próximo capítulo.
Reflita
Hans Magnus Enzensberger é um dos principais pensadores da atualidade. Sua 
obra tem se mostrado importante como ponto de reflexão da violência que esta-
UNICESUMAR
23
mos assistindo na atualidade. Neste trecho de seu livro “Guerra Civil” ele expressa 
o quanto a violência está mais próxima do que consideramos comumente:
A guerra civil não vem de fora; não é um vírus adquirido, mas um processo 
endógeno. É sempre desencadeada por uma minoria; provavelmente,basta que um 
cidadão em uma centena a deseje para tornar impossível a vida civilizada em coleti-
vidade. Ainda prevalece nos países industrializados uma grande maioria que prefere 
paz. Nossas guerras civis ainda não chegaram a comover as massas: elas são molecula-
res. Mas. Como mostra o exemplo de Los Angeles, podem alastra-se repentinamente.
Mas pode-se comparar o tchetnik ao dono de um brechó texano que, armado 
de uma pistola automática, sobe numa torre e dispara sobre a multidão? Pode-se 
comparar o líder de uma quadrilha na Libéria a um skinhead que destroça uma 
garrafa de cerveja na cabeça de um passivo aposentado, ou um membro autôno-
mo de Berlim a um guerrilheiro das selvas do Camboja? Ou, ainda, a máfia da 
Tchetchênia ao Sendero Luminoso? E, finalmente, pode-se comparar tudo isso à 
normalidade de uma cidadezinha da Alemanha, França ou Suécia? É o discurso 
sobre a guerra civil uma generalização vazia, um mero disseminador de pânico?
Temo que, apesar das diferenças, haja um denominador comum a essas ma-
nifestações. O que nos chama a atenção em todas elas são o caráter autista dos 
criminosos, assim como sua incapacidade de distinguir entre destruição e auto-
destrui ção. Nas guerras civis do presenteesvaiu-se a legitimidade. A violência 
libertou-se completamente de fundamentações ideológicas.
(ENZENSBERGER: 1995: p.15-6)
Leitura Complementar
Este trabalho é uma análise da sociedade mundial após 
a Guerra Fria (1945-1989). Nela, Ianni analisa a orga-
nização da economia mundial e seus diversos aspectos. 
Faz uma análise mais pontual sobre a organização da 
economia mundial, da vida urbana, das mudanças no 
mundo agrário, da propagação da cultura de massas 
e das diferenças profundas que assistimos no quadro 
econômico internacional.
IANNI, Octávio. “A Era do globalismo”. 4ª Edição. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
UNIDADE 1
24
Considerações finais
Espero que este módulo tenha despertado em você a necessidade de entender 
com mais profundidade as relações que nos cercam e as condições em que nos-
sa vida é produzida. A relação complexa da organização social contemporânea 
deixa marcas e interfere em praticamente todos os lugares do mundo. Não existe 
isolamento para a maioria das regiões do mundo.
Esta condição, infelizmente não está sendo percebida pela maioria das pes-
soas. Ao contrário do que imaginamos, uma grande parte dos seres humanos tem 
a sensação que a particularidade é o caminho mais lógico para a explicação dos 
fenômenos sociais, o que é um engano. 
Na sua formação com bacharel em Direito é fundamental compreender que 
parte considerável dos temas que a ciência jurídica tenha se debruçado tem uma 
relação direta com esta sociedade integrada a uma economia planetária. Por isso, 
para sua formação, conhecer estes temas é fundamental.
25
1. O desenvolvimento da sociedade capitalista ganhou conotações complexas após a 
Revolução Industrial (1750). O que nós convencionamos chamar de Divisão Interna-
cional do Trabalho. Hoje, esta divisão se aprimorou ainda mais. Para Octávio Ianni, 
ela se transformou em uma “fábrica mundial”. O surgimento das multinacionais, as 
chamadas empresas transnacionais, dispersaram suas redes de produção e passa-
ram a ter unidades fabris em países tradicionalmente de economia agrária. O Brasil 
foi um deles. Qual o significado destas mudanças para a sociedade?
2. Estamos vivendo uma contradição entre a forma como a economia se organiza mun-
dialmente e a compreensão que os indivíduos têm de sua realidade. A relação que 
estabelecemos com os objetos de consumo dizem muito sobre esta contradição. 
Esclareça como a relação entre o bem de consumo encobre as condições em que 
é produzido.
3. No final do capítulo falamos sobre a perda de ideologia. O desaparecimento de um 
projeto social de longo prazo. Esta perda estaria ligada ao desenvolvimento da eco-
nomia mundial? Justifique.
2Um Retorno no Tempo: As Origens da Sociedade 
Capitalista
Me. Gilson Aguiar
Em suma, segue os objetivos de aprendizagem a serem obtidos ao fim 
deste capítulo:
• Entender o contexto histórico da formação da sociologia com ciência 
se reportando a formação da sociedade industrial e sua complexa rede 
de produção.
• Compreender o desenvolvimento da sociedade capitalista além da 
Europa e os efeitos da mundialização da economia e a necessidade 
na formação de uma ciência que tem como objeto de análise os 
fenômenos sociais.
• Associar os primeiros movimentos sociais que expressavam a crise da 
sociedade com a necessidade de mudança na relação que o estado 
estabelecia com o corpo social.
Por fim, concluir que o surgimento da sociologia foi uma resposta a crise 
estabelecida com o advento da sociedade capitalista.
UNIDADE 2
28
A sociologia não nasce do nada, da simples especulação. É importante que você 
entenda que ela surge da crise. Exatamente quando estamos necessitando de 
respostas é que o conhecimento científico aponta caminhos, foi assim com o 
nascimento da Sociologia.
Os conflitos sociais que você irá analisar neste módulo vão te lembrar de 
alguns que vivemos ainda hoje. Eles podem não ter o mesmo fundamento, mas 
muitas vezes podem estar alicerçados em fatores parecidos. 
Ainda assistimos ao alcoolismo, ao suicídio, ao homicídio, a prostituição e 
ao furto. Ainda temos uma série de dilemas que não conseguimos superar den-
tro do corpo social. Podemos até considerar que muito do que chamamos de 
problema pode ser um comportamento constante, presente desde a origem da 
espécie humana. Assim, o que temos não é um problema, mas uma adequação 
de sua existência dentro do corpo social.
Entender a necessidade de uma ciência que trate de forma lúcida destas 
questões se tornou fundamental. A necessidade de compreender que a vida em 
UNICESUMAR
29
sociedade necessita de uma organização lógica, de um projeto maior, de uma 
ideologia, isto nem sempre é percebido pela maioria dos elementos sociais.
Neste capítulo, o que desejamos é que você compreenda o quanto a sociedade 
industrial apresenta uma dinâmica constante de conflitos e superações. O porquê 
que a vida social nas cidades levou a necessidade de um campo de conhecimento 
específico. A ciência, seja ela qual for, tem que dar subsídios a ação do homem 
para a superação de seus problemas. O conhecimento cumpre com eficiência esta 
função. Quando não o faz é pela interferência do homem e de seus interesses.
Certas preocupações com os fenômenos sociais é, ao longo da história da 
sociedade industrial, uma questão de todos e um problema coletivo. Neste mó-
dulo vamos observar que o alcoolismo que se propagou nas primeiras sociedades 
industriais ameaçou não só a produção, mas a vida doméstica, a segurança pú-
blica, a saúde coletiva. Solucioná-lo gerou ações das mais diferentes instituições. 
A jornada da sociologia não para e está cada vez mais intensa com as condi-
ções que a sociedade atual apresenta, mas esta é uma questão para os próximos 
módulos. Boa leitura!
O começo de tudo
Há uma intensa concentração humana nas cidades, o espaço urbano concentra 
a maioria da população do planeta. Nada mais lembra o mundo em movimento 
do que os luminosos, marcas espalhadas pelas avenidas e ruas. Nas roupas, nas 
telas, outdoors e por todos os cantos há a imagem e a mensagem propagada. São 
nas megalópoles que o movimento se expressa de forma mais intensa. As cidades 
que “nunca dormem”. 
Mas quem é este ser humano cada vez mais urbano? Uma das primeiras afir-
mações que vamos entender com mais profundidade é que são construídos por 
“inúmeras mãos”. Nunca, em toda a história da humanidade, a vida foi construída 
por tantas relações. Uma coletividade complexa que produz condições em massa 
que passa, quase sempre, despercebida. 
Todas as condições que constroem a possibilidade da existência em sua par-
ticularidade e intimidade são uma construção de uma cadeia econômica e so-
cial de proporções planetárias. Poucos são os produtos e serviços que atendem 
nossosinteresses que sejam uma obra de relações regionais. Há um Planeta em 
UNIDADE 2
30
movimento, cada vez mais integrado, mas também em conflito. A integração se 
faz sentir, muitas vezes, no que nos parece pessoal e privado.
O celular, o automóvel, a casa, ou o pacote de macarrão na prateleira do 
mercado são bens mundiais. São também fruto de uma produção em cadeia 
internacional a roupa, a geladeira, o televisor, o aparelho de micro-ondas e o 
revolucionário computador, em suas mais diferentes versões. É uma obra plane-
tária, na tecnologia que os produz, nos equipamentos e nos componentes que lhe 
dão origem, o que chamamos de insumos. Há um planeta se relacionando para 
a existência dos bens que atendem a nossa particularidade.
É exatamente esta cadeia de produção a nossa ponto de partida para enten-
der a sociedade contemporânea. Esta cadeia de dependência que se expressa em 
nosso dia a dia e atinge diretamente cada um de nós. Despertar um olhar mais 
atento a esta dependência é nosso primeiro passo para a introdução de nosso 
leitor (aluno) ao conhecimento da vida em sociedade e sua complexidade. 
O dilema que trataremos ao longo deste capítulo, e será ponto central neste 
livro, é que se a cadeia de produção mundial nos coloca em dependência direta 
com um número imensurável de outros seres humanos, nós não conseguimos 
perceber ou reconhecer esta dependência nos bens e serviços que atendem os 
nossos interesses. Temos uma percepção de solidão e forte sentido individual de 
uma vida que é resultado de uma imensa coletividade.
A revolução industrial
O desenvolvimento da indústria capitalista foi resulta de uma concentração de 
investimentos no setor produtivo industrial na Inglaterra. Fenômeno que teve 
seu início em meados do Século XVII, durante as revoluções liberais inglesas: 
Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688). Estes dois movimentos 
levaram a superação do Estado Absolutista, o fortalecimento do poder parla-
mentar e o aumento da influência da empresa capitalista sobre o poder britânico.
No setor produtivo, as revoluções liberais significaram investimentos por parte 
dos empresários e do próprio estado para garantir condições de crescimento da eco-
nomia industrial, ampliação das áreas coloniais e aumento do poder naval inglês1 .
1 Quando se fala da expansão da economia inglesa, no Século XVII, temos que considerar as conquistas que o 
Estado promoveu com o domínio sobre territórios, ampliação da frota naval e intensificação, por consequência, do 
UNICESUMAR
31
Em 1603, vale destacar a política econômica da Rainha Elizabeth I. Ela con-
solidou o desenvolvimento das relações capitalistas de produção ao decretar a 
Lei de Cercamento e a Lei dos Miseráveis. As duas medidas transformaram a 
propriedade agrária regida pelo “estatuto feudal” em propriedade regida pelas 
leis de mercado. Foi a instituição da propriedade privada favorável a produção 
de gêneros agrícolas em grande escala. A produção de lãs e algodão marcou a 
economia agrária voltada à indústria têxtil.
Não foi por acaso que a Revolução Industrial teve seu início exatamente com 
a maquinofatura de tecidos. A máquina a vapor e o tear mecânico, assim como 
o uso do carvão mineral, são símbolos do processo de transformação pelo qual 
passou a indústria inglesa e marcou todo o ocidente com o desenvolvimento da 
produção em massa e a proliferação do trabalho assalariado.
Inclusive, a classe operária, ou também chamado de proletário, foi a força de 
trabalho vital para o desenvolvimento da economia. O trabalhador remunerado 
mensalmente tinha que transformar o seu ganho em produtos necessários para 
sua sobrevivência que eram adquiridos no mercado. Logo, o trabalhador que 
produzia mercadorias se via obrigado, para sobreviver, a ser consumidor. Logo, 
o operário gerava riqueza produzindo bens, mas também consumindo. Através 
da moeda, trocava seu trabalho por produtos2 .
Esta massa de trabalhadores que se formou nas cidades era fruto do êxodo 
rural. Este deslocamento acontece pela transformação da propriedade agrária 
(Lei de Cercamento). Com ela, o proprietário da terra não tinha obrigação de 
manter as famílias de camponeses e servos em suas terras, com o fim do estatuto 
feudal que falamos anteriormente. Com isso, uma leva imensa de trabalhado-
res, sem condições de sobrevivência, se deslocou para a cidade a procura de 
sobrevivência através do assalariamento.
A grande leva de trabalhadores que se concentraram na cidade foi funda-
mental para o investimento na produção industrial. Uma disponibilidade de mão 
de obra barata, parcialmente qualificada3 e que se via sem alternativa estava 
comércio ultramarino. Importante lembrar de temas desenvolvidos pelos professores de história ao falarem sobre a 
política dos corsários ingleses e a vitória sobre a Holanda na “Guerra do Mar do Norte” (1652-1654). 
2 É fundamental para entender a dinâmica do capitalismo, entender a formação da classe operária. Ela é a força 
de trabalho principal da economia de mercado capitalista, mas é, também, o principal consumidor dos bens que 
as relações de produção da qual participa produz. Para o proletário se colocar a disposição de ser assalariado, é 
necessário não lhe permitir nenhuma condição de sobrevivência que não seja vender a sua força de trabalho, seja 
ela braçal ou intelectual.
3 Quando falamos em qualificação, estamos nos referindo ao conhecimento que todo o trabalhador agrícola inglês 
UNIDADE 2
32
disponível para o empresário industrial capitalista.
Esta massa de trabalhadores se concentrou em núcleos urbanos sem planeja-
mento. O crescimento rápido de cidades na Inglaterra, como também em outros paí-
ses onde a industrialização se processou, trouxe o surgimento de novos problemas 
sociais, alguns deles em larga escala, para os quais o estado não estava preparado.
 e que se via sem alternativa estava disponível para o empresário industrial 
capitalista.
Esta massa de trabalhadores se concentrou em núcleos urbanos sem planeja-
mento. O crescimento rápido de cidades na Inglaterra, como também em outros paí-
ses onde a industrialização se processou, trouxe o surgimento de novos problemas 
sociais, alguns deles em larga escala, para os quais o estado não estava preparado.
Alcoolismo, suicídio, prostituição, homicídios, epidemias, greves e revoltas 
generalizadas. Em alguns casos, como em cidades como Londres, Nova York e 
Liverpool, o surgimento de uma violência promovida por gangs. Os problemas 
sociais se generalizaram e colocaram em dúvida a capacidade do homem indus-
trial urbano conviver dentro uma ordem civilizada para a vida social. Ou mesmo, 
uma dúvida anterior se colocava: Que sociedade era esta que se estabelecia nas 
cidades europeias com a industrialização?
A classe operária que se formou nas cidades industriais se concentrou 
em periferias, passou a viver em condições insalubres, e viu decompor a 
organização social que tinha convivido durante séculos no mundo agrário. 
As famílias de operários se desintegravam com o índice de mortalidade de 
adultos. O número de órfãos nas cidades industriais fez surgir albergues, os 
quais não escaparam da utilização das crianças nas fábricas em condições 
extremas de violência. Empresários “adotavam” um grande número delas, 
tinha sobre o tear manual. Esta especialidade era necessária para o trabalho nas maquinas de tear das primeiras 
unidades têxteis inglesas. 
“A grande leva de trabalhadores que se concentraram na ci-
dade foi fundamental para o investimento na produção indus-
trial. Uma disponibilidade de mão de obra barata, parcialmen-
te qualificada e que se via sem alternativa estava disponível 
para o empresário industrial capitalista.”
“
UNICESUMAR
33
ganhando o direito total sobre suas vidas, explorando-as na produção, mui-
tas vezes, até a morte.
Do ludismo ao cartismo
Ned Ludd é uma figura mais lendária que real. Mas teria sido o líder 
do movimento dos “quebradores de máquinas”, na Inglaterra, no 
início do SéculoXIX (1801-1803).
Ação dos operários era contra a substituição dos seres humanos pelas máquinas. 
O que ocasionou em muitos o temor de terem suas vidas condenadas a miséria. 
Para eles, a violência nas relações de trabalho era consequência da introdução de 
uma produção organizada da maquinofatura. 
O movimento cresceu, mas foi duramente reprimido pela o estado inglês. 
Pena de morte e deportação para as colônias passou a serem medidas adotadas 
contra os ludistas. Em 1721 e 1812, leis foram adotadas para conter os revoltosos. 
A estabilidade se fazia necessária para continuar o processo de propagação das 
máquinas nas indústrias. A repressão foi uma medida comum diante da busca de 
controle dos trabalhadores que, mais tarde, passaram a se organizar em uniões 
de trabalhadores e, posteriormente, em sindicatos.
A organização política da sociedade urbana deu um salto importante com a 
formação de organizações que defendia os interesses da classe operária. A demo-
cracia teve um ganho fundamental quando os movimentos sociais ligados aos 
trabalhadores, ou as classes populares de uma forma geral, geraram uma pauta 
de reivindicações e buscaram participação dentro do estado. Seria impossível 
considerar que a democracia se estabeleceria em países europeus sem a presença 
destes movimentos.
Inicialmente, as Uniões de Trabalhadores – Trates Unions– eram organizadas 
para garantir benefícios aos operários com seus próprios recursos. Parte dos salá-
rios dos trabalhadores era convertida para a criação de fundos de auxílio doença, 
funeral, desemprego, além de escolas para seus filhos. Muitas destas pautas foram 
adotadas, mais tarde, pelo estado e se transformou em um direito do cidadão.
O Cartismo foi o movimento que deu início a organização política dos tra-
balhadores ingleses à procura de participarem dos órgãos representativos do 
UNIDADE 2
34
estado. Nascido em 1830, tinha entre suas reivindicações a busca de participação 
no parlamento britânico.
O movimento tem seu nome originado da “Carta do Povo”, elaborada pelos 
liberais radicais Willian Lovett e Feargus O’Connor. O documento foi enviado 
ao Parlamento Inglês e tinha como principais pontos:
Voto universal para todos os homens, sem restrição de renda ou credo (na 
Inglaterra, assim como nos demais países europeus).
Voto secreto com a implantação de cédulas, o direito de livre associação.
Remuneração aos parlamentares, principalmente aos de baixa renda4 .
O movimento cartista organizou os trabalhadores, mas não conseguiu man-
ter-se diante da repressão das forças militares inglesas. As manifestações foram 
duramente reprimidas. Contudo, muitas vitórias obtidas posteriormente foram 
derivadas das reivindicações iniciadas pela “carta do povo”. Entre elas, podemos 
citar a regulamentação da jornada de trabalho (10 horas diárias) e o trabalho de 
mulheres e crianças. A liberdade de associação e a participação dos operários no 
Parlamento se concretizaram no final do Século XIX.
As mudanças ocorridas com o processo de industrialização não ocorreram 
exclusivamente na Inglaterra. Em todos os países onde a maquinofatura se pro-
cessou e a vida urbana se intensificou, a tensão social se fez presente. As for-
ças sindicais também se organizaram e passaram a trazer a tona propostas de 
mudanças na organização do estado. Os movimentos políticos e ideológicos se 
intensificaram. 
Na Alemanha e França os movimentos sociais foram analisados por corren-
tes teóricas que buscavam entender a nova organização da sociedade industrial 
urbana. De muitas delas surgiram as teses que levaram ao desenvolvimento do 
socialismo científico e utópico. Outros movimentos científicos voltados a análise 
dos fatos sociais surgiram de um desdobramento das ciências naturais. 
Temos que considerar que a mudança que a industrialização promoveu na 
Europa ocidental afetou diversos países. Os movimentos sociais que advieram 
destas transformações se fez sentir nos países industrializados nos espaços urba-
4 Um dos fatos que ainda hoje gera polêmica quando se fala em representação política é a remuneração dos repre-
sentantes públicos. Um dos teóricos que discute esta questão é Max Weber. Ele considera que a remuneração ao 
mesmo tempo em que permite que a representatividade se dê com uma dedicação maior de quem pode abandonar 
seu trabalho para atuar intensamente na vida pública, pode se transformar na finalidade da atuação política. Por 
isso, que muitos acabam transformando a vida pública em profissão. 
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nos. A concentração de operários gerou condições de tensão que os estados não 
estavam preparados, muitas vezes, para administrar. 
Doenças, por exemplo, se propagaram pelas cidades industriais na proporção 
em que a população se espraiava desordenadamente. Ruas tortuosas, becos e 
quedos se multiplicaram em diversas cidades. Londres, Paris, Manchester, Li-
verpool, Berlin, Frankfurt tiveram seu cotidiano alterado pela industrialização. 
As epidemias se multiplicavam diante da falta de esgoto, moradias insalubres, 
alimentação precária5 . 
Outro problema que se acentuou durante o processo de urbanização promo-
vido pela industrialização foi o alcoolismo. Uma prática entre os trabalhadores 
que queriam aliviar a intensidade da exploração à que estavam sujeitos ou buscar 
um contrapeso para a depressão que a vida urbana lhes causava.
Hoje não é diferente o uso do álcool, mas o peso do que leva a consumir não 
é o mesmo do passado.6 
Quem tratou do tema ao discutir os problemas da classe operária na Europa, 
durante a Revolução Industrial, foi Eric Hobsbawm, descrevendo as condições 
em que a classe operária se via inserida na vida urbana e adotava o alcoolismo 
como fuga:
“Por outro lado, havia muito mais pobres que, diante da catástrofe social que 
não conseguiam compreender, empobrecidos, explorados, jogados em cortiços 
5 Importante lembrar que o custo de vida aumentou na Europa no Século XIX. O atendimento as necessidades 
básicas da população urbana foram limitadas. Os alimentos eram direcionados para o consumo em feiras abertas 
ou estabelecimentos que especulavam as condições de vida dos trabalhadores. Não havia regulamentação sobre 
preços de produtos. A regra para o estabelecimento dos preços era fundada no desespero pela sobrevivência em um 
ambiente de produção de alimentos escassa. O desespero sempre é um aliado da inflação.
Durante a Revolução Francesa (1789-1815) e na sua segunda etapa (1848) os preços dos alimentos se elevaram. 
Uma das pautas do movimento popular era o combate a carestia. Em determinados momentos dos governos revo-
lucionários se estabeleceu o preço mínimo, por exemplo, Durante o Governo Jacobino (1792-1795). Uma tentativa 
de aliviar o custo de vida para as classes populares. O problema foi que os camponeses também tinham seus limites 
para ampliar a produção, dificuldades técnicas e instabilidade social
6 Se no passado o alcoolismo significou uma “fuga” para quem se sentia deprimido diante da vida urbana que 
se mostrava avessa as relações agrárias cujo sentimento era bucólico. O consumo de álcool na atualidade está 
associado a um prazer sem função. Propagamos a bebida como meio de aproximação e rituais de convivência. Por 
sinal, ela, a bebida alcoólica, ganhou destaque nos eventos. Acredito que, na maioria deles, nos reunimos para a 
embriaguez e não para conviver com outras pessoas. O silêncio entre as pessoas se daria se elas não tivessem um 
copo com bebida alcoólica nas mãos. 
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onde se misturavam o frio e a imundice, ou nos extensos complexos de aldeias 
industriais de pequena escala, mergulhavam na total desmoralização. Destituí-
dos das tradicionais instituições e padrões de comportamento, como poderiam 
muitos deles deixar de cair no abismo dos recursos de sobrevivência, em que as 
famílias penhoravam a cada semana seus cobertores até o dia do pagamento, e 
em que o álcool era “a maneira mais rápida para se sair de Manchester” (ou de 
Lille ou de Bornage). O alcoolismo em massa,companheiro quase invariável de 
uma industrialização e de uma urbanização bruscas e incontroláveis, disseminou 
“uma peste de embriaguez” em toda a Europa. Talvez os inúmeros contempo-
râneos que deploravam o crescimento da embriaguez, como o da prostituição 
e de outras formas de promiscuidade sexual estivesse exagerando. Contudo, a 
repentina aparição, até 1840, de sistemáticas campanhas de agitação em prol da 
moderação, entre as classes médias e trabalhadoras, na Inglaterra, Irlanda e Ale-
manha, mostra que a preocupação com a desmoralização não era nem acadêmica 
nem tampouco limitada a uma única classe. Seu sucesso imediato teve pouca 
duração, mas durante o restante do século a hostilidade à embriaguez perma-
neceu como algo que tanto patrões quanto movimentos trabalhistas tinham em 
comum.” (HOBSBAWM: 1982: p,223-4)
O homicídio aumentou. Também o suicídio e a loucura. A dificuldade de 
manter um princípio moral que desse sentido a vida urbana foi determinante 
para as ações destrutivas que se estabeleceram no primeiro século após o pro-
cesso industrial maquinofatureiro. As relações que eram estabelecidas no campo, 
fundadas no trabalho familiar onde a subsistência era o princípio fundamental 
da produção da vida se romperam na cidade.
Estes distúrbios passaram a constituir a preocupação também das correntes 
teóricas que deram orientação às práticas públicas e aos movimentos sociais 
organizados. Nas academias se discutiam a crise das relações sociais como um 
fenômeno a ser compreendido e combatido. Para alguns, o desenvolvimento 
social deveria ser promovido e fundado pela orientação do Estado. Outros viam 
na luta contra a economia capitalista e o estado uma forma de libertar o homem 
urbano (operário) do ambiente de violência.
Independente da maneira como se iria entender e enfrentar a tensão urbana, 
ela se tornava uma questão urgente.
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De alguma maneira as organizações sociais tinham que reagir. Entidade como 
a organização dos operários, as chamadas Trade Unions 7 
Elas emergiram inicialmente como uma saída do próprio operário a suas 
condições de trabalho. Organizando um fundo de ajuda, um valor descontado 
do salário, ajudavam financeiramente trabalhadores desempregados, tratamento 
de saúde e enterro de familiares ou do próprio trabalhador. 
Desta organização, inicialmente voltada a filantropia com a classe operária, 
nasceu a organização para reivindicar as melhoras nas condições de trabalho, do 
salário e a participação política da classe operária. 
O crescimento do movimento sindical pela Europa industrializada não trou-
xe superação dos problemas sociais com facilidade, mas com tensão. A organiza-
ção dos trabalhadores aumento o embate entre os aparatos de segurança públicos 
e as manifestações dos trabalhadores. Se por um lado os trabalhadores buscavam 
atender seus interesses e desejavam o reconhecimento de suas instituições pelo 
poder estabelecido, os empresários buscavam mecanismos de garantir o funcio-
namento de seus empreendimentos e condições cada vez mais favoráveis ao lucro. 
O estado seria o campo em que este embate se realizou também.
As cidades industriais viram se multiplicar manifestações com um grande 
número de participantes. A violência do trabalho estava quase sempre no centro 
destes movimentos de massa. Os manifestantes tomavam as ruas, promoviam a 
paralisação de diversas indústrias e marchavam pelas principais vias das cidades. 
O resultado era o embate com o aparato de segurança público, o qual, inclusive, 
foi aprimorado para enfrentar este tipo demanifestação social 8. 
7 Fruto dos movimentos sindicais, a “União de Trabalhadores” foi o embrião dos sindicatos. Na Europa, nos países 
que iniciaram o processo de industrialização. A organização dos trabalhadores teve como ponto de partida as con-
dições de trabalho que deveriam ser amenizadas pela cooperação entre os próprios operários. Uma consequência 
das corporações de ofício. Contudo, foi a violência no processo de industrialização que levou ao surgimento das 
primeiras organizações de trabalhadores do mundo. 
8 Na Inglaterra, assim como na França, o surgimento de um aparato policial urbano que pudesse controlar o mo-
vimento das massas e garantir o funcionamento das cidades está diretamente ligado a industrialização. A busca 
de manter a ordem dentro das cidades levou a formação de grupos militares especializados na opressão aos civis. 
A força repressiva teria um papel central na sociedade industrial. Outras formas de controle também ganharam 
prioridade neste contexto, o planejamento urbano, a política de saneamento, hospitais, sanatórios e presídios estão 
entre as medidas tomadas pelo poder público para garantir o controle social. 
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A vida degradante do operário
Não se pode negar a decadência da vida do operário durante o processo de in-
dustrialização. As condições precárias em que se deu o êxodo rural que deslocou 
a massa de trabalhadores do campo para a cidade foram deploráveis. Não foi 
uma escolha, mas uma imposição. As medidas tomadas pelo estado durante a 
industrialização foram no sentido de garantir as condições de desenvolvimento 
econômico para as nações. E este objetivo teve um preço social elevado para a 
massa de camponeses que se viu alijada das relações agrárias. 
Não foi só a transferência do ambiente de trabalho, mas das relações que se 
estabeleceram no mundo urbano industrial. 
Na miséria que se estabeleceu dentro do ambiente doméstico, familiar do 
operário, ao ambiente de trabalho marcado pela extrema violência, como tam-
bém da vida urbana em geral onde a vida das classes mais populares passou a 
ser desprezada. 
O enriquecimento de determinados grupos sociais por causa da industriali-
zação, mas também os que detinham a riqueza por tradição, contracenavam com 
a miséria absoluta de uma massa de trabalhadores que se tornava impossível de 
não perceber. Em sua obra “A Era das Revoluções”, Eric Hobsbawm (1982: p.227) 
relata a concentração de riqueza expressa nas joias que a Baronesa de Rothschild 
usou em uma festa, em, no valor de um milhão e meio de francos. No mesmo 
período eram distribuídos pães aos miseráveis que eram capazes de comê-los 
mesmo que estivessem com lama. 
Temos que considerar neste quadro da miséria as condições epidêmicas que 
abalaram o mundo europeu com o processo de industrialização. A concentração 
urbana e a circulação mundial de mercadorias e pessoas fizeram com que vírus e 
bactérias se movimentassem cada vez mais em escala intensa e extensa. Portos e 
falta de uma rede de esgoto foram os fatores da proliferação. Higiene é algo que 
não existia no mundo do nascimento da indústria.
O preço seria epidemias urbanas difíceis de serem controladas. Políticas de 
saneamento passaram a ser programadas pelos governos municipais e, até mes-
mo, faziam parte de programas nacionais. Não se pode desconsiderar o cresci-
mento da ciência biológica e em especial da infectologia durante a industriali-
zação. A medicina teve um salto qualitativo em 150 anos que não se deu nos mil 
que a antecederam. 
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Um dos exemplos do avanço do combate a doenças infecciosas foi Edward 
Jenner (1749-1823), médico inglês, que desenvolveu a vacina contra a varíola. 
Ele estudou a doença em animais, como a vaca, e sua diferenciação em humanos.
Promoveu experiências que demonstraram que os elementos que compunha 
a doença poderiam ser usados para combatê-la e garantir a imunidade. Na obra 
de Roberto de Andrade Martins, “Contágio: História da Preservação das Doenças 
Transmissíveis”, há o relato das experiências de Edward Jenner:
“Em 1796, Jenner se sentiu suficientemente seguro para fazer a sua primeira 
experiência. Atualmente, qualquer teste deste tipo seria feito primeiramente 
com animais, mas não existiam estes cuidados no século XVIII. Assim, ele re-
solveu fazer o experimento diretamente com seres humanos. Nessa época, ele 
cuidou de uma empregada de uma fazenda, chamada Sarah Nelmes, que havia 
acidentalmenteadquirido a varíola da vaca. Seu braço apresentava grandes 
ferimentos produzidos pela enfermidade. Jenner utilizou o pus destas feridas 
para tentar transmitir a doença a um menino de 8 anos de idade, da mesma 
fazenda, chamado Phipps.
Alguns dias depois da inoculação com a cow-pox, surgiram erupções, Phipps 
se sentiu indisposto e teve uma leve dor de cabeça, mas se recuperou depressa, 
sem cicatrizes. Esse era o primeiro passo: tinha sido possível transmitir a doença 
da moça para o menino, artificialmente, e a enfermidade tinha sido bastante 
suave. Mas era preciso verificar se essa varíola artificial de vaca protegia contra 
a varíola humana. Um mês e meio depois do primeiro experimento, Jenner fez 
outro teste, 
e novamente não surgiram efeitos. Phipps parecia estar permanentemente 
protegido contra a varíola.
(MARTINS: 1997: p. 102-3)
Não podemos desconsiderar que o que está relatado acima é uma condição que 
a própria movimentação humana fez surgir, a proliferação de doenças. Foi assim 
com as Cruzadas, no período medieval, como também o é em nossos dias. Hoje 
com mais intensidade pelo número de movimentações de seres humanos que a 
economia necessita. 
A indústria farmacêutica se transformou em um campo lucrativo da econo-
mia mundial. A proliferação de doenças fez emergir a industrialização de medi-
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camentos e ter uma relação direta como os subsídios dos governos para a compra 
de medicamentos e políticas de saneamento. As doenças que se proliferam na 
atualidade têm foco em países com falta de estruturas básicas de saúde e circulam 
rapidamente em todos os lugares do mundo. 
As mudanças no campo jurídico
A convivência com as tensões sociais urbanas implica na mudança de regula-
mentos jurídicos para o controle da população. Não é apenas a regulamentação 
do trabalho, mas das consequências que a vida social nas cidades passa a exigir. 
O controle sobre a rebeldia que ameaça a constituição da propriedade privada e 
pública. A submissão a uma regra que combata a ociosidade, esta quase sempre 
considerada a condição para o surgimento de demais práticas de violência, como 
ao assassinato e o roubo.
Em um dos seus trabalhos sobre o controle do corpo no desenvolvimento 
da sociedade industrial, “Vigiar e Punir”, Michel Foucault sobre a necessidade do 
controle social do homem urbano. Separar as regras patrimoniais (a propriedade 
sobre as coisas) das regras comportamentais (a ilegalidade pessoal):
É portanto necessário controlar e codificar todas essas práticas ilícitas. É 
preciso que as infrações sejam bem definidas e punidas com segurança, que nessa 
massa de irregularidades toleradas e sancionadas de maneira descontinua com 
ostentação sem igual seja determinado o que é infração intolerável, e que lhe 
seja infligido um castigo de que La não poderá escapar. Com as novas formas 
de acumulação de capital, de relações de produção e de estatuto jurídico da 
propriedade, todas as práticas populares que se4 classificam, seja numa forma 
silenciosa, cotidiana, tolerada, seja infligido um castigo de que ela não poder 
escapar.
(FOUCAULT: 1987: p.80)
O teórico francês analisa nesta mesma condição das necessidades das leis, a puni-
ção. Como ela deve ser praticada e a quem direcionada com mais rigor. É contra 
o ocioso que gera o ladrão e o assino que a repressão deve ser implacável:
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“Contra eles, pede as mais severas
“Contra eles, pede as mais severas penas (e estranha, significativamente, que 
se tenha mais indulgência para com eles que para com os contrabandistas); quer 
que a polícia seja reforçada, que a cavalaria os persiga ajudada pela população 
vítima de seus roubos; pede que essas pessoas inúteis e perigosas sejam adqui-
ridas pelo Estado e lhe pertençam com escravos a seus senhores; e se for o caso, 
que se organizem batidas coletivas nos bosques para desentocá-los, sendo dado 
um salário a cada um que fizer uma captura.”
(FOUCALT: 1987: p.81)
A garantia da propriedade e a caça a aquele que perturba a estabilidade dos ne-
gócios urbanos entrou na mira das normas e das ações do Estado. A constituição 
de mecanismo para prender e punir estes elementos ganhou força na Europa. Os 
presídios ganharam novas dimensões e foram redesenhados para dar a sensação 
de vigilância constante, assim como os hospitais e escolas. Seria uma arquitetura 
voltada ao controle, fazer como que os indivíduos se sintam vigiados a todo o 
tempo. Ter controle absoluto para evitar desvios.
O que nos interessa aqui é demonstrar o quanto as condições em que vi-
viam a classe operária no ambiente urbano industrial foram fundamentais para 
a emergência de medidas de controle. Entender esta realidade se colocava como 
condição fundamental para a tomada de decisões do poder público. O desenvol-
vimento da economia de mercado dependeu destas decisões. Muitas delas foram 
resultados da própria ação dos trabalhadores.
A organização operária influenciou pensadores no desenvolvimento de teses 
que buscassem superar as condições de produção promovidas pela sociedade 
industrial. Transformar a ordem estabelecida pelo capitalismo ou amenizar seus 
efeitos. Nesta tentativa é que se formou o socialismo, tanto o utópico como o 
científico. Mesmo as concepções religiosas que se desenvolveram tinham como 
busca a amenização da miséria social, seja pela filantropia ou pela consciência 
da ética humanista cristã.
A RerumNovarum, implantada pelo Papa Leão XIII foi a primeira busca de 
um reconhecimento da importância do trabalho e do papel do trabalhador na 
sociedade. Ela tentou trazer para dentro das defesas da Igreja Católica a luta pela 
qualidade de vida do trabalhador e a harmonia entre patrões e empregados. Esta 
defesa teve raízes no socialismo utópico de Saint-Simon e Charles Fourier, os 
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quais buscavam na justiça social pela intermediação do estado a forma de resolver 
o conflito promovido pelo desenvolvimento do capitalismo 9.
Outra tendência seria o socialismo o socialismo utópico, o qual já foi aborda-
do anteriormente. Nele há a busca de conciliar os conflitos sociais através do esta-
do e garantir a submissão dos interesses econômicos da classe burguesa industrial 
aos da sociedade. O estado seria o guardião destes interesses. Ele determinaria 
limites para a ambição do lucro, a regulamentação de preços e juros seriam alguns 
destes mecanismos, assim como, o direito dos trabalhadores.
Um pacto social de caráter humanista poderia ser considerado o elemento 
básico para dar diretriz a esta corrente de pensamento que procura conciliar as 
divergências. Mesmo tendo surgido no final do Século XVIII e início do XIX, ela 
ainda é defendida por muitos. A concepção de que a conduta humana pode ser 
orientada por uma diretriz ética que selasse um acordo entre as forças sociais.
Outras correntes de análise social buscaram nas ciências naturais em de-
senvolvimento o entendimento da mecânica social. Estas não se fundavam na 
crítica de negação do sistema econômico, mas na sua organização e eficiência. 
Consideravam que o desenvolvimento do capitalismo necessitava de uma organi-
zação social que levasse ao progresso material e intelectual do homem. A ciência 
se constitui como condição fundamental para dar respostas a este problema. Em 
especial as ciências naturais.
Reflita
Esta é uma leitura para ser feita sobre o alcoolismo no Brasil, nos dias atuais. As 
mulheres estão bebendo tanto quanto os homens. No princípio, na Revolução 
Industrial (1750) o alcoolismo estava associado a vida violenta que o operário 
vivia. As condições desumanas de trabalho nas fábricas durante o processo de 
implantação das maquinofaturas justificaram o aumento do consumo de álcool. 
9O que parece importante considerar é o papel que a Igreja Católica desempenhou em boa parte da Europa quando 
se manteve como instituição fundamental para a manutenção do regime monárquico associando-se ao poder esta-
belecido. Com o advento da revolução industrial a áurea de instituição do estado

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