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Política da Comunicação – Luciana Varga Tema 1 - Comunicação e Política A política moderna – uma construção surgida de quatro grandes inovações. O conceito contemporâneo de política, e a própria política moderna, tal como é praticada pela maior parte dos países atualmente, envolve quatro inovações ou quatro origens: Todas essas diferentes origens, mescladas entre si no mundo moderno, dão forma à realidade política que vivemos. Poliarquia é um sistema mais igualitário ou com um melhor funcionamento da representatividade. Várias garantias institucionais desse modelo estão relacionadas ao papel da mídia, como veremos nos módulos a seguir. MÓDULO 1 - Identificar as origens da noção de política moderna A Construção do Conceito de Política A maioria dos regimes se autoproclama democrático, e mesmo regimes ditatoriais se apropriaram de uma parte ou outra da linguagem democrática como forma de legitimar seu poder. Política é uma mistura de ideias, experiências, instituições e práticas que se formaram ao longo de mais de dois mil anos de história. A Democracia da Grécia Clássica Há cerca de dois mil e quinhentos anos (no século V a.C.) ocorreu uma grande transformação entre os gregos antigos na sua forma de se organizar. Muitos estudiosos marcaram como a invenção da política. A História trata esse momento como uma transição importante de modelos palacianos – representados por lideranças familiares – para modelos políticos, adotados pela interação entre grupos aristocráticos diversos. Podemos afirmar que a ideia de Ocidente passa pela admiração e reinvenção daquilo que aconteceu na Grécia. Leve essa informação com você para fazer todo o trajeto histórico sobre política. O que ocorreu nesse período foi a invenção de uma forma de governo que até então era incomum. Predominavam governos compostos por reis ou famílias, que muitas vezes se comparavam a deuses (como no caso do Egito Antigo). No século V a.C., os gregos inventaram uma nova forma de organizar o poder: a maioria dos homens livres e adultos podia decidir os assuntos mais relevantes de sua comunidade e escolher aqueles que exerceriam cargos importantes na direção da cidade-estado. A essa forma de organização política deu-se o nome de “democracia”, que em grego significa “governo do povo” ou “governo popular”. A democracia era baseada em duas importantes ideias que possuem forte influência até os dias atuais: a isegoria (o direito igual de fala para todos os cidadãos nos debates sobre os assuntos políticos) e a isonomia (igualdade de todos os cidadãos perante a lei – ideal que ainda encontra eco nos Estados democráticos de direito modernos). A religião não exercia autoridade nem tornava o poder legítimo. Sobre a democracia ateniense, é importante sabermos que: É importante destacarmos estas três características da democracia grega para compreendermos o quanto ela se distingue das atuais democracias: A tradição republicana A mais longa, diversificada e rica é, sem dúvida, a tradição do pensamento republicano. É uma tradição que surge no auge da antiguidade clássica e reaparece com força na Europa da Idade Moderna. De maneira simplificada, é como se o governo misto juntasse a democracia (governo do povo), a aristocracia (governo dos melhores) e a monarquia (governo de um rei) numa mesma forma de governo. Em tese, isso eliminaria os defeitos e as instabilidades de cada uma das formas descritas, seus riscos de degeneração e desequilíbrio, produzindo uma forma de governo estável, equilibrada e ordenada. Filósofos políticos que enriqueceram a tradição republicana nos tempos modernos: Nicolau Maquiavel (1469-1527), John Locke (1632-1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Montesquieu (1689-1755) e Immanuel Kant (1724-1804), por exemplo. Desse modo, o povo e os aristocratas participavam do governo, e estavam amalgamadas as três formas clássicas de governo: a democracia (representada pelos tribunos da plebe), a aristocracia (representada pelo Senado) e a monarquia (representada pelos cônsules). Essa breve exposição da tradição republicana e da noção de governos mistos pode lembrar bastante as democracias modernas – sobretudo aquelas que são repúblicas federativas presidencialistas – como é o caso do Brasil e dos Estados Unidos da América. Podemos dizer que as democracias contemporâneas são mais democráticas que as repúblicas antigas e modernas. Além disso, elas possuem uma institucionalidade capaz de representar muito mais que apenas dois interesses opostos (povo versus aristocracia). O Governo Representativo No taxation without representation! Essa sentença – traduzida para o português como: “Não pagaremos impostos se não tivermos representação!” – foi o slogan de uma das mais importantes revoluções dos tempos modernos: a Revolução Americana (1776-1783). Antes da invenção da Câmara dos Comuns, era corriqueiro que a realeza e os nobres aumentassem os impostos sobre esses grupos mercantis e de negociadores para seus próprios fins. Assim, eram poucos os que, sob o domínio do governo londrino, tinham meios de defender seus interesses: sendo que aqueles que viviam nas longínquas colônias do nordeste da América do Norte sequer tinham suas vozes ouvidas no recém-criado Parlamento de Londres. O Parlamento inglês aberto aos “comuns” foi produto de um intenso conflito ocorrido na Inglaterra do século XVII, marcado por uma guerra civil – a Revolução Inglesa (1640-1651) –, uma ditadura – o período do Protetorado (1653-1659) – e uma ampla conciliação entre os grupos em conflito durante a Revolução Gloriosa (1688-1689). Com o fim dos conflitos ingleses, o governo britânico começou a reorganizar seus interesses nas suas colônias do outro lado do Atlântico mediante taxações e outras intervenções nos assuntos das colônias. Tais taxações – entre outras – eram consideradas abusivas para os colonos da América do Norte, que viam isso como uma situação injusta por não terem seus interesses representados no Parlamento britânico. Daí o slogan da Revolução Americana ter sido “No taxation without representation”. O desenvolvimento desse conflito culminou com a Independência Americana. Apesar da representação americana ter sido, historicamente, um elemento inovador nas práticas de governo e um diferencial com relação à tradição republicana europeia, ela padecia de grandes limitações quando comparada às nossas democracias modernas por três motivos centrais: Apenas em 1965 que o direito ao voto universal (aberto a todos e sem nenhuma restrição) foi adotado nos Estados Unidos. A Lógica da Igualdade Suas origens são modernas e podem ser reconduzidas ao humanismo e aos movimentos puritanos do século XVI que resinificaram todo um conjunto de ideias religiosas. O humanismo clássico que surgiram as discussões filosóficas sobre tolerância religiosa e da dignidade humana como valor civilizacional de importância. Já o puritanismo as ideias religiosas de igualdade entre os homens pregadas pelos puritanos tiveram bastante impacto na Inglaterra e nos Estados Unidos e influenciaram muitos movimentos políticos entre os séculos XVII e XVIII. O iluminismo teve uma influência mais radical nesse processo de defesa da igualdade entre os homens, trazia em sua bagagem uma forte crítica ao Antigo Regime, ao clero e ao obscurantismo, forças que submetiam a maioria dos homens ao poder de poucos: os aristocratas e o clero. Na França, as ideias dos filósofos iluministas (principalmente de Jean-Jacques Rousseau) inspiraram os revolucionários de 1789 a derrubar o regime monárquico existente. O lema da Revolução Francesa (1789-1799), “Igualdade, Fraternidade e Liberdade”, tinha como inspiração o iluminismo francês. Os movimentos sufragistas do século XIX que expandiriam o voto e os direitos de cidadania às mulheres e,posteriormente, no século XX, sob a rubrica dos direitos humanos universais, a lógica da igualdade se expandiria a outros povos e etnias. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Política contemporânea é uma ideia herdeira conceitual de importantes processos históricos. A afirmativa que faz a relação correta é: a. A Grécia Clássica – ateniense – inaugura a ideia de democracia representativa, em que todos os cidadãos tinham direito à voz. b. República é um fenômeno especialmente romano e com base em seus preceitos foi difundido no Ocidente. c. A noção contemporânea de política baseia-se em dois pilares históricos fundamentais: república e democracia. Esses pilares são historicamente construídos e reafirmados ao longo do tempo. d. A tradição iluminista inaugura princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, sendo o mais importante na relação política do século XX. Parabéns! A alternativa "C" está correta. O princípio contemporâneo da política é entendido como a junção de conjuntos históricos e filosóficos. Destaca-se, nesse processo, a tradição discursiva, adaptada, reformulada, mas recorrente de que os conceitos atuais são tributários dos conceitos de democracia e república. 2. Ao identificarmos a tradição iluminista relacionada à política, precisamos falar em: a. Liberdade, igualdade e fraternidade b. Democracia e república. c. A lógica da igualdade. d. A representatividade democrática. Parabéns! A alternativa "C" está correta. Apesar do valor dado ao lema da Revolução Francesa, o Iluminismo, como movimento intelectual, debatia sobre aspectos diversos da sociedade e entre os conceitos em que se ancoravam e discutiam a igualdade como uma operação intelectual lógica, como fundamento político – para várias direções do movimento – tornando-se a base. MÓDULO 2 - Definir a gênese da esfera pública A Gênese da Esfera Pública A participação física em espaços públicos foi uma grande limitação da experiência republicana ao longo da história, sendo o alargamento da participação política ligado, nos últimos duzentos anos, a um fenômeno singular que trataremos aqui – a gênese da esfera pública. Arena da discussão e do debate público nas sociedades modernas, podendo ser espaços formais e informais. (GIDDENS, SUTTON, 2017) Ela se desenvolveu nesses últimos quatro séculos até adquirir as características que atualmente podemos destacar. Newsletters, Salões, Cafés e Filósofos: A Emergência da Esfera Pública Clássica O surgimento da esfera pública é singular na história e tal fenômeno se desenvolveu apenas nos últimos quatro séculos. Tem correlação com uma série de invenções técnicas: da tipografia de Gutenberg às novas embarcações que permitiram viagens e comércio pelas regiões “descobertas” do século XVI em diante. Porém, o mais importante disso tudo não foram as invenções tecnológicas apenas, e sim a profunda transformação ocorrida com o surgimento de um público leitor. Um público leitor é uma grande população de leitores – seja de que gênero de texto for. Esse público discute, comenta e escreve também, expressando-se de modo a conferir ainda mais dinamismo a esse movimento de circulação. Durante a maior parte da história, apenas uma minúscula parcela de pessoas dominava a técnica de ler e escrever: somente uma limitada aristocracia governante e seus funcionários (escribas, secretários etc.) era alfabetizada. Ainda assim, as tipografias, recém-inventadas por Gutenberg, imprimiam sobretudo Bíblias – não jornais, livros e revistas. E mesmo com essa restrição, a Reforma Protestante foi um poderoso agente alfabetizador: como acreditavam que todos os homens eram dotados de uma luz natural e, por isso, capazes de acessar a palavra divina dos Testamentos, tratou-se de alfabetizar as massas conforme o protestantismo se disseminava. Newsletters e Praças de Comércio As primeiras circulações de periódicos estiveram profundamente ligadas à ampliação das atividades mercantis entre a Europa e outros continentes, aos interesses dos mercadores e às bolsas de valores primitivas que surgiram nas grandes cidades europeias. Nos primeiros jornais desse gênero – surgidos em Amsterdã –, já havia críticas à Igreja e ao governo. O espaço das praças de comércio era o local da reunião de muitos leitores de “ouvido”. O termo em inglês – clássico entre os estudiosos de comunicação – fundamenta-se na tradição das cartas medievais. Cartas que uma vez recebidas eram lidas de forma pública. A Esfera Literária O surgimento de gêneros literários novos como o romance de sentimentos (como A Nova Heloísa, de Jean-Jacques Rousseau) e o romance de formação (como Os anos de aprendizado do Jovem Wilhelm Meister, de Johann Wolfgang Goethe), de ampla circulação no século XVIII entre a população letrada, estimulou novas formas de identificação entre os leitores. Por se identificarem com os personagens, os leitores sentiam empatia por eles para além da língua, classe social, sexo e país. Entre os séculos XVII e XVIII, foi extremamente comum a formação de círculos literários nos salões das casas de senhoras abastadas, que reuniam pessoas em discussões sobre esses livros e promoviam debates e reflexões que abarcavam a vida cotidiana, a realidade sentimental e a noção de igualdade produzida pela leitura desses escritos. As Ideias Filosóficas e Políticas - Clubes, Cafés e Salões A ampla circulação de livros fomentaram as discussões ao redor de tratados filosóficos e políticos (gênero filosófico propriamente moderno) e de troca de opiniões sobre os acontecimentos fermentaram com grande força em países como a Inglaterra e a França. Na Inglaterra, alguns dos primeiros jornais ingleses, como o Spectator, que começou a ser publicado em 1711, tinha como objetivo explícito trazer a Filosofia para fora das instituições acadêmicas a fim de ser tratada em clubes, assembleias, mesas de chá e cafés. As monarquias e os governos da época impunham uma forte censura aos escritos filosóficos (esta era menor na Inglaterra porque, após o período revolucionário de 1640 a 1688, criou-se um ambiente de maior tolerância e ampliação dos debates acerca dos assuntos de governo em função da criação do Parlamento), uma vez que estes eram considerados subversivos, ou seja, afetavam a ordem estabelecida por promoverem a agitação e o descontentamento. A censura estimulava uma circulação extremamente importante de correspondência privada entre intelectuais de diferentes nações da Europa, o que foi um poderoso fator de circulação das ideias políticas da época. Os Primeiros Jornais A princípio, não eram grandes veículos de discussões políticas diretas, tratavam de manifestações artísticas (peças de teatro, literatura), publicavam contos, retratavam acontecimentos da vida cotidiana europeia, curiosidades etc. O conteúdo dessas manifestações pode parecer um tanto trivial, contudo, seus editores demandavam de seus leitores uma ampla participação: pedindo que cartas com opiniões sobre todos esses assuntos fossem enviadas, sendo a maioria publicada. Já os acontecimentos políticos ganhariam destaque com os eventos efervescentes da Revolução Francesa: pelo menos 250 jornais foram fundados nos últimos seis meses do ano de 1789 na França. Todos esses fatores foram fundamentais para emergência do que chamamos de esfera pública. Essa esfera, abstrata por ser discursiva (independente do meio pela qual se propaga) e se situando no espaço onde discussões e debates ocorrem (formais ou informais), é o que chamamos de esfera pública – sendo que a sua formação teve uma imensa influência e importância para o desenvolvimento das democracias como as conhecemos atualmente. Atualmente, poderíamos dizer que as fronteiras entre entre a esfera pública e a esfera íntima se tornaram muito mais difusas. Habermas e o Debate Contemporâneo sobre a esfera pública No textoMudança estrutural da esfera pública (1962), Habermas preocupa-se em reconstituir a gênese histórico-sociológica da esfera pública e percebe que, em suas origens, ela envolvia a reunião de indivíduos igualitariamente como em um fórum para o debate público. Esse período inicial de desenvolvimento da esfera pública é chamado por Habermas de esfera pública burguesa. Entretanto, em sua perspectiva, essa promessa inicial de desenvolvimento da esfera pública não se cumpriu: a emergência da mídia comercial, com uma linguagem de massa e baseada no entretenimento, teria feito a esfera pública definhar gradualmente. Assim, a esfera pública deixa de ser uma arena de debates e torna-se uma esfera onde o consenso é fabricado pela publicidade. Mudanças na relação entre as esferas íntima e pública: Richard Sennet e as Tiranias da Intimidade O sociólogo Richard Sennett, no livro O declínio do homem público: as tiranias da intimidade (1977), ressalta que a distinção entre as esferas pública e íntima tem se tornado cada vez mais tênue e diluída, sendo que nas últimas décadas podemos falar de uma “colonização da esfera pública pela esfera íntima”. Isso se daria em função do fenômeno midiático da excessiva publicidade ao redor das grandes personalidades, o que afetaria a vida pública no sentido de as características pessoais e sentimentais dos homens públicos (sua vida privada, honestidade e sinceridade) terem ganhado mais importância do que características fundamentais em outros períodos, como o comprometimento público, a dedicação aos assuntos políticos etc. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Um dos mais importantes autores é Habermas. Ao caracterizar a esfera pública, ele a define como: a. Tendo origem na esfera pública aristocrática. b. Uma tradição histórica iluminista que perdeu sentido conceitual na contemporaneidade. c. Tendo origem na esfera pública burguesa. d. Debates públicos que geram interesse para a maioria. Parabéns! A alternativa "C" está correta. Como crítico da modernidade, Habermas afirma que o mundo é construído a partir dos discursos. O conceito de discurso de Habermas é considerado um prenúncio da pós-modernidade, que de alguma forma desconstrói as verdades do mundo burguês. Para tal, ele recupera a história da formação da burguesia e sua mudança de perspectiva social, que tem com pedra fundamental a criação da esfera pública. 2. Sobre a construção da esfera pública moderna, podemos afirmar que: a. Emerge das práticas da Revolução Industrial. b. Passa pela negação completa da religião, abandonada naquele momento. c. É construída como ideia pelos salões das cidades no século XVIII, em especial franceses. d. Os jornais alemães, a partir de Gutenberg, criam um público leitor ativo e político, construindo a noção de esfera pública. Parabéns! A alternativa "C" está correta. A esfera pública é modificada com o tempo. A modernidade cria o modelo francês de público como espaço de troca e circulação pelo Iluminismo, por isso a ideia dos salões será vital. MÓDULO 3 - Reconhecer a relação entre poliarquia e novas mídias POLIARQUIA Em função de nenhum país contemporâneo conseguir encarnar em níveis absolutos a ideia de uma democracia plena, Dahl concebeu seu conceito de poliarquia como um modo de categorizar e nivelar o quanto os regimes políticos existentes se aproximam de um regime mais ou menos democrático. Características das Instituições e os Direitos Necessários à Existência de uma Poliarquia Para Dahl (2005), a democracia é um sistema político que tem, como uma de suas características, a qualidade de ser inteiramente, ou quase, responsivo a todos os seus cidadãos. Para que um sistema seja considerado democrático sob as condições delimitadas, todos os cidadãos devem ter oportunidades plenas de: Outros fatores que propiciam a formação e estabilidade de uma poliarquia Sociedade Moderna, Dinâmica e Pluralista (MDP): De acordo com Dahl (2012), pode-se perceber que, historicamente, as sociedades associadas ao desenvolvimento de uma poliarquia plena são marcadas por uma série de fatores interrelacionados: modernidade, dinamismo e pluralismo social. Sobre a ideia de modernidade, ampla gama de empregos diversificados; aumento da população urbana em proporção à rural; diminuição crescente da importância econômica da agricultura em função de setores econômicos que agregam maior valor à produção. Sobre a categoria do dinamismo, podemos compreender fatores como o crescimento econômico, a competição empresarial e a possibilidade da ascensão do padrão de vida. E, por fim, sobre o pluralismo, seriam fatores como uma ampla gama de associações, grupos e organizações relativamente autônomos, particularmente no âmbito da esfera econômica. Essas três ideias condensam uma série de fatores econômicos, sociais e técnicos que formam o que Dahl conhece por países ou sociedades modernas, dinâmicas e pluralistas (o que o cientista político chama de MDP). De acordo com Dahl (2012), uma sociedade ou um país com os fatores agregados ao MDP é marcado pelas seguintes características: ◦ A dispersão dos recursos políticos, tais quais o dinheiro, o conhecimento, o status e o acesso às organizações; ◦ ◦ A dispersão das localizações estratégicas, particularmente em assuntos econômicos, científicos, educacionais e culturais; ◦ ◦ A dispersão das posições de negociação, tanto manifestas quanto latentes, nos assuntos econômicos, na ciência, nas comunicações, na educação e em outras áreas. ◦ ◦ ◦ Uma sociedade com essas características tende a promover a inibição da concentração de poder em poucas pessoas ou grupos, dispersando-o entre uma série de grupos e pessoas independentes. ◦ Mídia e Poliarquia: Alfabetização, Educação, Informação e Pluralismo O conjunto de oportunidades plenas que os cidadãos devem ter em um sistema considerado como uma poliarquia (formular, exprimir e ter preferências igualmente consideradas na conduta do governo) depende de várias garantias institucionais, entre elas duas que são interrelacionadas à mídia: a liberdade de expressão e o acesso a fontes alternativas de informação. O direito protegido por lei à liberdade de expressão, particularmente à expressão política, incluindo a crítica às autoridades, à conduta de governo, ao sistema político, econômico, social e à ideologia dominante. (DAHL, 2012) O acesso à informação plural por um público alfabetizado e que tenha ao menos um nível de instrução médio é um fator muito mais importante para a formação de uma poliarquia que outros fatores elencados. O Controle Civil da Coerção Violenta Nos parâmetros de uma poliarquia, duas condições são necessárias para o exercício democrático: 1) Que o poder civil seja capaz de efetivar o controle das forças de coerção (militares e policiais); 2) Que os próprios civis que controlam as forças de coerção estejam sujeitos ao processo democrático. Lideranças militares podem também, se não são devidamente doutrinadas pelo profissionalismo militar na crença e no dever de proteger o governo ao qual devem se submeter, ameaçar a estabilidade de uma poliarquia plena. Novas Mídias, Novos Atores: a Esfera Pública Contemporânea Nos últimos 30 anos, com a expansão da internet e de outras redes de computadores, atividades econômicas, sociais, políticas e culturais têm sido cada vez mais estruturadas ao redor dessas novas redes informacionais, transformando nesse processo muitos modos tradicionais de nos relacionarmos, trabalharmos, produzirmos e a maneira como a esfera pública funciona. Apesar dessa ampla difusão e popularização tecnológica sem precedentes, a lógica, a linguagem e os limites da internet ainda não são completamente compreendidos pelas disciplinas acadêmicas que não pertencem diretamente a essa esfera tecnológica. Movimentos sociais e políticos A partir de 2010, houve a emergênciade movimentos sociais e políticos que aparentavam ter três características gerais: 1) Busca por uma ação política direta; 2) Espontaneidade e abertura participativa; 3) Reivindicações específicas no início que se desenvolvem em pautas mais gerais. Quando observamos certos movimentos, como o Occupy Wall Street (EUA, 2011), a Primavera Árabe (Oriente Médio e Norte da África, 2010), o movimento dos coletes amarelos (França, 2018) e as chamadas Jornadas de Junho (Brasil, 2013), é possível dizer que se trataram de movimentos de cunho social e político, manifestados de modo imediato e direto. Isso quer dizer que tais movimentos não eram condicionados pelo intermédio de partidos políticos ou sindicatos – que até então se estruturavam como os próprios mediadores entre os indivíduos que possuíam demandas e os representantes nas instituições políticas. Mídias alternativas Observa-se a eclosão de grupos que se propõem a comunicar estando fora de grandes corporações que até então ditavam o modo como a informação deveria ser veiculada. Um grande exemplo disso são revistas eletrônicas, sites de notícias e canais no YouTube que funcionam a partir de autogestão colaborativa (caso da Mídia Ninja) ou financiamento digital (crowdfunding) – como é o caso do The Intercept, que já se ramificou globalmente por meio desse tipo de financiamento. O maior apelo desses canais midiáticos ditos alternativos é a recusa de estar refém de interesses. Minorias e representatividade Há uma crescente democratização que, justamente, abre espaço para protagonistas que até então eram social e politicamente negligenciados. Em termos políticos, essas mesmas minorias acumulam certas exigências no que se refere ao seu lugar na participação política, exigindo uma democracia que não seja apenas formal, buscando uma expansão do sentido de representação e uma democracia real. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Sobre as relações entre a esfera pública e as novas tecnologias informacionais, qual das alternativas abaixo está correta? a. As redes sociais e a internet afastam as pessoas do contato pessoal e são poderosas forças de alienação em nossa sociedade. b. Tal relação produz efeitos ambivalentes, que podem reforçar movimentos populares ao mesmo tempo que podem prejudicar o funcionamento das democracias instituídas. c. O aumento do acesso à internet poderá produzir o surgimento de uma aldeia global, onde todos estarão integrados a uma esfera pública renovada e aberta, fortalecendo a democracia e os direitos humanos. d. Temos grande conhecimento sobre a interação entre a ampliação das redes de computadores. Uma ampla gama de trabalhos acadêmicos extremamente rigorosos tem sido produzida nos últimos anos explicando a interação entre a esfera pública e as novas tecnologias informacionais. Parabéns! A alternativa "B" está correta. O debate atual sobre a tecnologia e os sistemas políticos passa pela necessidade de entender que vivemos um momento de reinvenções de práticas, sem que saibamos claramente para onde estamos indo. No entanto, é certo que os modelos tradicionais perderam seu sentido. Então, a resposta certa passa pela desestruturação de modelos tradicionais. Esse novo padrão, que emerge quando as velhas formas perderam o sentido, gera uma ambivalência por permitir a luta de grupos que viviam sob controle de forças e que veem eco para se unirem e lutarem e a ascensão de forças e práticas de negação do outro, pregando inclusive sua destruição, e da mesma forma encontrando ecos e parcerias. 2. Acerca das relações entre as forças de coerção (policiais e militares) e a estabilidade de uma poliarquia, qual das respostas abaixo está correta? a. Os militares e policiais devem ser os guardiões da ordem e da estabilidade social, devendo interferir na ordem política sempre que esta for ameaçada. b. Os militares devem estar subordinados ao Poder Executivo, que está acima de todas as leis. c. As forças de coerção (policiais e militares) devem ser subordinadas a uma autoridade civil, que deve estar acima de qualquer lei. d. A profissionalização das forças militares e policiais, sua subordinação a um poder civil que esteja sujeito ao processo democrático e a doutrinação de oficiais nas crenças democráticas e deveres de manutenção relativos ao sistema político (que tem o dever de defender) são fatores que tornam uma poliarquia estável. Parabéns! A alternativa "D" está correta. Ainda que o conceito de poliarquia pareça abstrato, ele aumenta a responsabilidade ampla social, tirando os focos de determinação do Estado. Nessas respostas, nós percebemos a mudança da dinâmica das relações de poder relativizando a ação do Estado. Quando grupos que têm o monopólio da força passam a estar subordinados a um poder eleito pelo coletivo, há um alívio desse poder, mas só isso não basta. Para a poliarquia ser eficiente, ela precisa de uma ação educacional, plural, marcada pelo compromisso público. A formação do militar ao defender a democracia e não a sua própria força ou território. Tema 2 - Mecanismos de Controle na Sociedade Industrial e Pós-Industrial Por séculos, pensadores se perguntam e elaboram teorias a respeito da atuação do poder. E um dos caminhos possíveis para esse estudo passa pelos mecanismos de controle dos indivíduos e das sociedades. Sociedade disciplinar: Michel Foucault - tendo inspiração inicial o claustro monástico, mas também reproduzida tendo a prisão, a escola e a fábrica como modelos. Sociedade de controle: Gilles Deleuze - um desdobramento no século XX da sociedade de controle. Sociedade de espetáculo: Guy Debord - também iniciada no fim do século XX, mas com características muito mais marcantes no século XXI. MÓDULO 1 - Definir características da sociedade disciplinar Uma história Política do Corpo a partir do Século XVII As chamadas sociedades disciplinares, na forma como as entende Michel Foucault, podem ser identificadas a partir do século XVII e nascem no contexto da Modernidade. Podemos entender a palavra Modernidade segundo a definição de Max Weber (1864-1920), a de que era o produto de um processo de racionalização ocorrido no Ocidente desde o final do século XVIII e implicou a modernização da sociedade e a modernização da cultura (ROUANET, 1987). Para Foucault, as sociedades disciplinares são as sociedades burguesas com os seus horários rígidos, seus exames, e tudo isso convergindo para a formação de “corpos dóceis” aptos para trabalharem em fábricas com jornadas absurdas. O personagem de Charles Chaplin (1889-1977), no filme Tempos Modernos, é exatamente o homem da “sociedade disciplinar”, representado em seu modelo mais clássico: o trabalho mecanizado que também mecaniza o homem e suas relações. Daí a importância econômica e política do controle sobre a população com seus fenômenos específicos: ◦ Natalidade; ◦ ◦ Mortalidade; ◦ ◦ Expectativa de vida; ◦ ◦ Fecundidade; ◦ ◦ Estado de saúde; ◦ ◦ Formas de alimentação e de habitat. ◦ ◦ O Olhar Esmiuçante No século XVIII, segundo Foucault (1997), aparece a ideia de “homem-máquina”, pensada em dois registros diferentes: Registro anátomo-metafísico: fundamentação era cartesiana e buscava regulamentar o corpo e a alma. Registro técnico-político: constituído por um conjunto de regulamentos militares, escolares, hospitalares e por processos empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações do corpo. O que estava sendo construído era uma redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento. A ideia era produzir um “corpo dócil” que pudesse ser submetido, utilizado e manipulado. A Cidade Pestilenta Foucault nos diz que, no século XVII, foi para erradicar a peste que a “disciplina” fez valer o seu poder. Quando se declarava que a peste estava numa cidade, todos eram proibidos de sair de casa sob pena de morte, cada rua eracolocada sob a autoridade de um síndico. Foucault afirma que foi o “dispositivo da peste” que fez emergir a universalidade dos controles disciplinares e todos os conjuntos de técnicas e de instituições que nos permitem medir, controlar e corrigir os ditos anormais. Foi o medo da peste que possibilitou “os mecanismos de poder que, ainda em nossos dias, são dispostos em torno do anormal, para marcá-lo, como para modificá-lo” (FOUCAULT, 1997, p.165). É nesse sentido que ele usa o exemplo de uma doença epidêmica – a hanseníase (lepra) – e a própria peste (bubônica) para tais mecanismos de poder: A Idade de Ouro da Ortopedia Social Foucault nos diz que a reorganização do sistema judiciário e penal nos diferentes países da Europa e de outros países no mundo foi importante para a emergência dessa perspectiva de controle social. A Inglaterra e a França sofreram modificações distintas: O direito penal inglês apresentava um dos sistemas mais sangrentos e selvagem que a história das civilizações conheceu. Na França, algo inverso aconteceu. Profundas modificações ocorreram. Beccaria e Brissot (revolucionários do Direito no século XVIII) redefiniam o princípio fundamental do sistema teórico da lei penal: a infração deixou de ter relação com a falta moral ou religiosa. O problema da lei penal não era mais a vingança ou a redenção de um pecado, mas a reparação da perturbação causada à sociedade. A lei penal deveria reparar o mal ou impedir que males semelhantes pudessem ocorrer. Nesse sentido, basicamente quatro penas foram previstas: deportação, trabalho forçado, vergonha (escândalo público) e pena de Talião. Contudo, o funcionamento das penalidades adotadas pelas sociedades industriais em vias de formação foi inteiramente diferente. A Polícia das Virtualidades O foco da criminologia passou a ser a periculosidade: não se tratava mais de uma reação penal ao que foi feito, mas do controle do comportamento no instante em que ele se esboça. Com isso, o poder judiciário deixou de ser uma instituição penal autônoma. Já que se inicia um controle penal punitivo ao nível das virtualidades, esse não pode ser efetuado pela própria justiça. Surgem poderes paralelos ao judiciário: o poder policial (para vigilância); os poderes criminológicos e pedagógicos (para correção). O Poder do Espírito sobre o Espírito O “panóptico” era uma arquitetura que permitia o poder do espírito sobre o espírito; ou seja: o poder da subjetividade. Mais que vigiar o corpo do indivíduo (ou a ação realizada), era possível vigiar seu espírito (a ação virtual). Por isso, o panóptico deveria valer para hospitais, prisões, casas de correção, escolas, hospícios, fábricas etc. Ele era a utopia de uma sociedade e de um poder que pretendia manter sob vigilância permanente todos os indivíduos. A Lettre-De-Cachet Tratava-se de uma utilização do poder real feita espontaneamente por grupos. Quando uma lettre-de-cachet era enviada contra alguém, esse não era enforcado, nem multado, nem marcado, mas preso numa cela por um tempo não estabelecido, previamente, até nova ordem do rei. A ideia era aprisionar para corrigir. O Lirismo e a Obsessão No panóptico de Bentham, no centro da construção, há uma torre projetada de tal forma que se pode vigiar sem que o vigilante seja visto. O vigilante pode até ser virtual, mas o indivíduo que está na cela tem a impressão de ser vigiado e de poder ser punido. Foucault denuncia que o modelo da vigilância e da punição foi um coeficiente de efetuação que atravessou todos os dispositivos institucionais. Em outras palavras, a família passou a ser uma espécie de prisão, assim como a fábrica etc. Claro que isso se dava em graus diferentes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Em sua obra Vigiar e Punir, Foucault nos diz que as sociedades disciplinares são as sociedades burguesas com os seus horários rígidos e seus exames para a formação de corpos dóceis. Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa com as opções corretas: I. As sociedades disciplinares objetivavam tornar o homem racional, eficiente, dócil e trabalhador. II. As sociedades disciplinares não desenvolveram processos empíricos para uma teoria geral do adestramento. III. As sociedades disciplinares se distinguem de outras formas de controle como a escravidão, a vassalagem, o ascetismo, a domesticidade. IV. A coerção disciplinar estabelece um elo entre a aptidão aumentada e a dominação acentuada. V. Não há nenhuma relação entre o controle da peste e a sociedade disciplinar. a. I, II e IV. b. II e V. c. I, III e IV. d. I e V. Parabéns! A alternativa "C" está correta. As sociedades disciplinadas, através de formas racionalizadas, se distinguiam de outras formas de controle por conjugarem, por meio da coerção, o estímulo aumentado e a dominação acentuada. 2. Segundo Foucault, no século XVII, surgiu um novo Newton, não da imensidão dos céus, mas do controle dos pequenos movimentos. Analise e assinale a questão em que duas respostas estão ERRADAS: I. Em período de quarentena, só o proprietário tinha autorização para fechar as portas das casas. II. No século XVII, no período de quarentena, todos eram proibidos de sair de casa. III. As instituições disciplinares não eram espaços fechados. IV. A peste suscitou grandes esquemas disciplinares. V. O modelo de exclusão da lepra era distinto dos procedimentos utilizados na quarentena. a. I e V. b. I e III. c. II e III. d. III e IV. Parabéns! A alternativa "B" está correta. Foucault, em Vigiar e Punir, nos diz que a quarentena era forçada. Havia um síndico para cada rua, e para quem saísse de casa a pena era a morte. Os síndicos ficavam encarregados de fechar por fora todas as casas. A quarentena como resposta à peste possibilitou a emergência das sociedades disciplinares cujo modelo comum é o confinamento e o controle em espaços fechados. MÓDULO 2: Identificar aspectos da sociedade de controle Sociedade de Controle Gilles Deleuze percebe que as instituições que constituíam a sociedade disciplinar – escola, família, hospital, prisão, fábrica – estão todas em crise. Essas instituições estão desmoronando de tal maneira que suas lógicas disciplinares se tornam ineficazes. Saímos de um modelo de sociedade e entramos em outro. A sociedade disciplinar forjava moldagens fixas, diferentemente da sociedade de controle, que funciona por modulações auto deformantes que mudam continuamente. Nesse sentido, é necessário apontar algumas diferenças entre a sociedade disciplinar e a sociedade de controle. Máquinas As sociedades disciplinares tinham como equipamento máquinas energéticas, desenvolvidas com o advento da termodinâmica. O perigo que ameaçava essas máquinas era a sabotagem. As sociedades de controle operam por máquinas de informática, computadores, cujo perigo, além da interferência direta, apresenta-se também na pirataria e na introdução de vírus. Fronteiras O homem não é mais o homem confinado (na fábrica, nos hospitais, no asilo). O controle não necessita mais dos espaços fechados. Com as novas tecnologias, o controle tornou-se contínuo e aberto: somos controlados a qualquer hora e em qualquer lugar. O problema maior das sociedades de controles é o desaparecimento das fronteiras: o crescimento incontrolável das favelas, dos guetos, dos bandos. Escolas Nas escolas, as recompensas e punições disciplinares são substituídas pelo controle contínuo: a avaliação contínua diferenciada e a formação permanente (como os estágios, por exemplo). As sociedades disciplinares possuem dois polos: a assinatura, que indica o indivíduo, e o número de matrícula, que indica o indivíduo na massa. As massas tornaram-se “amostras”, dados, mercados ou “bancos”. Deleuze busca encontrar um elemento-chave que possa melhor diferenciar esses pontos: Saímos das sociedades dos homens confinados e entramos nas sociedades dos homensendividados. O serviço de vendas tornou-se o centro ou a “alma” da empresa. Informam-nos que empresas têm uma alma, o que é efetivamente a notícia mais terrificante do mundo. O marketing é agora o instrumento de controle social e forma a raça impudente de nossos senhores. O controle é de curto prazo e de rotação rápida, mas também contínuo e ilimitado, ao passo que a disciplina era de longa duração, infinita e descontínua. (DELEUZE, 2008, p.224) O Panóptico Digital A Implantação das Sociedades de Controle Félix Guattari (Filósofo, França, 1930 – 1992) imaginou uma sociedade do futuro em que cada um só pudesse deixar o seu apartamento, a sua rua, o seu bairro, graças a um cartão eletrônico (individual). O cartão abriria barreiras ou bloquearia; sendo assim, um computador detectaria a posição de cada um lícita ou ilícita, operando uma modulação universal. Guattari nomeou esses cartões de coleiras eletrônicas (DELEUZE, 2008, p.224). O mais estranho é que isso já não parece uma ficção futurista. A manifestação das sociedades de controle em contexto pós-industrial também era preocupação de Deleuze. Na década de 1990, alertava que deveríamos fazer um estudo categorial e descritivo dos mecanismos que estavam e ainda estão em vias de serem implantados pelas sociedades de controle. Ele imaginava, nas prisões, as penas alternativas e o uso de coleiras eletrônicas que obrigariam os indivíduos a ficarem em casa em determinadas horas. Nas escolas, o controle contínuo, a avaliação contínua, a formação permanente e a introdução do espírito empresarial em todos os níveis escolares. Nos hospitais, “a medicina sem médico e sem doente” preventiva, que substitui o corpo individual ou numérico por uma cifra “dividual”. Segundo Deleuze, o novo ideal da medicina não é curar, mas tornar as doenças insensíveis. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Deleuze, em seu livro Conversações, fala do surgimento das sociedades de controle. Esses tipos de sociedades emergiram após a Segunda Grande Guerra. Analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa com as opções INCORRETAS. I. As sociedades de controle surgiram após a crise das sociedades disciplinares. II. Nos dias atuais, as instituições que têm como base o confinamento estão em crise. III. As prisões, os hospitais psiquiátricos, o modelo da fábrica, enquanto instituições de confinamento, serviram de modelo para as sociedades de controle. IV. O confinamento faz parte das estratégias de moldagem nas sociedades disciplinares; as sociedades de controle visam ao controle em espaço aberto através da modulação. V. O confinamento é uma das estratégias das sociedades de controle. VI. Nas sociedades disciplinares não se para de recomeçar; nas sociedades de controle nunca se termina nada. a. I e II. b. II e IV. c. IV e VI. d. III e V. Parabéns! A alternativa "D" está correta. As sociedades de controle não tiveram como modelo as instituições que se objetivam ao confinamento. As sociedades disciplinares pressupõem espaços fechados e atuam por moldagem; as sociedades de controle querem gerenciar a sociedade em espaço aberto e exercem o poder através de estratégias de modulações. 2. Eric Alliez e Michel Feher nos dizem que mudanças significativas ocorreram na passagem do capitalismo clássico para a sociedade da informação. Tendo isso em vista, assinale a única opção incorreta. a. Na sociedade da informação, o trabalho se libertou de suas ligações com um tempo e um espaço determinado. b. Na sociedade da informação, os trabalhadores rebeldes à forma-mercadoria podem ser “desativados”. c. No capitalismo clássico, o trabalhador tornava-se um empreendedor e o capital pretendia tornar rentável a totalidade de seu tempo. d. O trabalhador na sociedade da informação, alienado de seu próprio tempo, acredita possuir uma identidade formal com os empresários. Parabéns! A alternativa "C" está correta. No capitalismo clássico, a separação entre trabalhador e empreendedor era clara e distinta. A sociedade da informação obscurece isso na medida em que faz o trabalhador acreditar que possui uma identidade formal com os empresários. Sendo assim, a sociedade da informação visa a explorar o trabalhador em tempo integral. MÓDULO 3: Reconhecer os paradigmas da sociedade do espetáculo Sociedade Do Espetáculo É o termo cunhado por Guy Debord (Escritor, França, 1931-1994), em 1967, para definir os novos arranjos sociais, nos quais a importância das relações entre pessoas se dá através da mediação de imagens. Para ele, o espetáculo não se constitui como um complemento do mundo real, mas sim o modelo socialmente dominante na vida contemporânea. Inicialmente, a dominação da economia se inseriu pela degradação de um modo de vida que (antes) valorizava o ser, mas passou a almejar o ter. Posteriormente, o modo ter deu vez ao parecer, em que o aspecto mais valorizado do sujeito se fundamenta em uma vida de aparências. Ser: consequentemente, o poder social que um indivíduo tem passa a ser a máxima relevância que sua vida possui. A espetacularização transcende o meio artístico e surge como o próprio real. Ter: com o advento dos meios de comunicação de massa, atrelado à lógica capitalista de determinação do indivíduo a partir de suas condições materiais, a realidade tornou-se submetida à aparência, e a aparência se tornou o produto a ser vendido e consumido por cada um. Parecer: o desempenho individual nesse mercado de imagens passa a determinar o posicionamento na cultura, e bens materiais determinam a superioridade do ser. Tal perspectiva pode relacionar-se ao conceito de fetichismo de mercadoria, cunhado por Karl Marx (1818-1883), pois a mercadoria passa a ser objeto de adoração e sua produção excede às necessidades individuais. O consumidor real toma-se um consumidor de ilusões. A mercadoria é esta ilusão efetivamente real, e o espetáculo a sua manifestação geral. (DEBORD, 2003a, p.36) Para manter o ciclo capitalista funcionando, investiu-se em tecnologias de dominação do ser humano, mantendo-o eternamente desejante. Ao adquirir os produtos que possuam natureza espetacular e promessas de satisfação, o indivíduo nota seu caráter falho de conseguir satisfazer seu desejo. A publicidade é permeada de ilusões e, de alguma forma, o consumo dos essenciais não é mais satisfatório, pois a acumulação de supérfluos se alinha à perspectiva existencial do indivíduo. E o proletariado, que anteriormente tinha um caráter essencialmente operário, passou a ser inserido também como consumidor. Os critérios para definir o que é essencial à sobrevivência se tornam difusos e facilmente confundidos com o que é satisfação pessoal. A partir dos diferentes arranjos sociais presentes no século XX, Debord caracteriza dois tipos de espetáculo, sendo eles: Espetáculo Concentrado É o que estaria nas sociedades burocráticas, pelas quais a economia dissemina sua propaganda de controle por meio da criação de imagens heroicas como, por exemplo, a China e o culto à personalidade de Mao Tsé-Tung. Espetáculo Difuso Está presente nas sociedades do capitalismo moderno alinhadas à democracia, que possuem uma abundância de mercadorias e proporcionam ao indivíduo uma ilusória liberdade de escolha. Apesar de o homem agir, e de suas ações poderem estar presentes no espetáculo, esse parece externo ao homem, como se seus próprios gestos já não fossem seus, mas de outra pessoa que lhe apresente. É por isso que, segundo Debord, o espectador não se sente em casa em parte alguma: porque o espetáculo está em toda parte. Tal passividade relaciona-se às influências das práticas de desinformação propagadas pelo Estado. Debord discorre acerca do poder da dissimulação como arma para combater o que se considera “perigoso” para a sociedade. A imbecilidade crê que tudo é claro quando a televisão mostrou uma bela imagem e a comentou com uma audaciosa mentira.(DEBORD,2003b, p.68) A Cultura do Narcisismo Em sua obra A Cultura do Narcisismo, Christopher Lasch (Historiador, EUA, 1932-1994) fala sobre a dificuldade, cada vez mais comum, por parte das pessoas, de aceitar a banalidade da existência cotidiana. Segundo o autor, a mídia intensifica os sonhos narcisistas de fama e glória, e os cultos às personalidades transformam o indivíduo em fã que, ao se ver refletido na imagem dos ídolos, ilude- se com a perspectiva de que também irá superar a anonimidade da vida. A indústria cultural estimula a identificação do indivíduo com seus “heróis”, passando a enxergá-los como uma extensão de si mesmo. Curiosamente, a vida torna-se uma obra de arte, ao passo que, como pontuou Norman Mailer (Escritor e Jornalista, EUA, 1923-2007), a primeira obra de arte de um artista é a modelagem de sua própria personalidade. O narcisismo descreve uma condição que é ao mesmo tempo psicológica e cultural. Os narcisistas preocupam-se mais com a sua aparência do que com seus sentimentos. Socialmente, porém, está relacionado ao momento que a cultura sobrevaloriza a imagem, a riqueza, o progresso e a notoriedade ao invés das necessidades humanas. (LOWEN, 1983, p.9) Sintoma de uma sociedade que estimula incessantemente a apresentação de si mesmo como um produto a ser vendido e aprimorado, mesmo que isso lhe proporcione sofrimento psíquico. O Espetáculo No Século XXI Andy Warhol (Pintor, EUA, 1928-1987) já afirmava, em meados dos anos 1960, que no futuro “todos teriam seus quinze minutos de fama”. Com a ascensão da internet, uma nova gama de possibilidades adentrou na sociedade espetacularizada. Os meios de comunicação passaram por uma revolução que transformou seu caráter passivo em ativo. A construção da subjetividade se tornou permeada pela ampla possibilidade de se expor e usufruir da exposição dos outros. A intimidade tornou-se um produto vendável. Estamos agora na era do hiperespetáculo. O espetáculo era uma imagem do mundo. O hiperespetáculo é uma imagem de si mesmo. Entretanto, o hiperespetáculo não é o fim do espetáculo, mas sua aceleração. É um dispositivo aprimorado de controle total, em que todos se controlam a partir do olhar imaginário (ou nem tanto) de um Outro. No final do ano de 2006, a renomada revista “Time” escolheu “você” como a personalidade do ano. Sim, você. Tal escolha se deveu à ascensão, quase que megalomaníaca, da exposição de cada um na internet. O mundo e o espetáculo agora pertenciam às pessoas comuns. O valor expositivo de algo se torna sua máxima importância, e a coação passa a ser por desempenho, mediado pela aparência. Não há lugar para a negatividade, que desafia a lógica da espetacularização. O narcisismo passa a ser um imperativo cultural, não mais uma falha da personalidade. A criação de um mundo que despreza a alteridade e de indivíduos que se fecham em narrativas ilusórias de felicidade pautadas no consumo e na exibição de transparência exacerbada, no entanto, se relaciona a um vazio de sentido. Pois, a vida na internet surge como um simulacro do imaginário, permeado por fantasias e idealizações de si mesmo e do outro. O real, porém, mostra-se cada vez mais atravessado pelas angústias e pelos sintomas de uma sociedade cansada da performance ininterrupta e do esforço para caber nos moldes de sucesso e admiração. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. De acordo com o que você aprendeu a respeito da obra de Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, assinale a alternativa INCORRETA: a. O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens. b. A realidade surge no espetáculo e o espetáculo no real, constituindo uma alienação recíproca que sustenta a sociedade existente. c. O espetáculo se encontra presente apenas nos meios de comunicação e manifestações artísticas como, por exemplo, o rádio, a televisão e o teatro. d. O espetáculo se apropria do fetichismo de mercadoria para fundir o que é excedente ao que é essencial às necessidades humanas. Parabéns! A alternativa "C" está correta. O espetáculo excede os palcos e os meios de comunicação e passa a se consolidar como o formato das relações sociais contemporâneas. 2. Sobre os desdobramentos do espetáculo no século XXI, assinale a alternativa que contém as afirmações verdadeiras: I. O valor expositivo substituiu o valor cultural. As coisas atualmente têm de ser expostas para ser. II. A sociedade da transparência caminha passo a passo com um vazio de sentido. III. A coerção na contemporaneidade se dá pela ode à transparência e à glamourização do olhar do outro. IV. A exposição excessiva contribui para o conhecimento do real da vida humana, possibilitando conhecer os seres humanos além do espetáculo. a. I, II e IV. b. I, II, III e IV. c. I e II. d. I, II e III. Parabéns! A alternativa "D" está correta. Embora a transparência exacerbada possibilite uma nova forma de espetáculo, diferente do século XX, a proposta de uma verdade exposta é ilusória, pois os indivíduos, em suas redes sociais, continuam performando um modo de agir espetacular. Tema 3 – Teorias da Globalização MO ́DULO 1: Definir o conceito de globalização na construção da Nova Ordem Mundial É o processo de integração de pessoas, de mercados e de culturas, por meio da tecnologia e da comunicação. Podemos perceber os efeitos da globalização na nossa vida pessoal pelas possibilidades de criarmos laços afetivos com pessoas ao redor do mundo usando as redes sociais. Ao mesmo tempo que estamos fisicamente muito distantes, o acesso a ̀ informação e a possibilidade de comunicação nos aproxima. Da mesma forma que isso ocorre em nossa vida pessoal, as tecnologias da comunicação também são aplicadas as questões econômicas, financeiras e de produção, gerando muitos impactos no mundo dos negócios. Informações privilegiadas nas bolsas de valores, assinaturas digitais, transações bancarias com um click, contratos firmados por e-mail, a forc ̧a da robótica na produção industrial gerando desemprego estrutural, as possibilidades de armazenamento e disponibilidade de dados na nuvem, dentre tantas outras facilidades remodelaram o sistema de produção na era digital (ou era da informação) e modificaram profundamente a forma de organização da vida em sociedade. Desemprego Estrutural Causado por reestruturações da economia. O trabalhador perde sua função seja devido a uma nova tecnologia que tornou seu trabalho obsoleto ou por um redirecionamento econômico que acabe com a sua função. Era Digital Iniciado na década de 1970 com as transformações das telecomunicações e se consolida nos anos de 1990. As câmeras de segurança, o reconhecimento facial, os detectores de metais, a possibilidade de rastreio de celulares e cartões de credito, sob o signo da segurança, colocam-nos em uma situação bastante controversa entre a privacidade e as facilidades do universo digital. Os aparatos tecnológicos e virtuais ganharam tamanha importância na sociedade contemporânea que se constitui ́ram como instrumentos fundamentais para os indivíduos se entenderem na coletividade. Após os desastres nucleares, o uso de armas químicas e biológicas, que foram dramaticamente acompanhadas através de programas de radio, fotos e ate ́ vídeos, era tempo de pensar novas formas de cuidar do habitat humano. Aprofundava-se amplo debate publico mediado por oligopólios (grandes grupos empresariais), representantes de comunidades, ativistas, poderes públicos, minorias, entre outros agentes sociais. Pensamento Decolonial Exercício de desconstrução dos valores europeus, cristãos e ocidentais, substituindo pela reconstrução de tradições, outras formas de poder e organização social. Como um desdobramento no campo intelectual das demandas dos países não alinhados, na segunda metade do século XX as universidades dos EUA e da Europa começarama trazer pensadores de espaços considerados periféricos. Foi nessa conjuntura que Edward Said publicou seu livro Orientalismo, que e ́ uma referencia para os estudos subalternos. Paulatinamente, pensadores da África, como Frantz Fanon e Achille Mbembe, e da América Latina, como Fernando Henrique Cardoso, Ne ́stor Canclini e Angel Rama também ganharam fama internacional e levaram para o cenário intelectual mundial os questionamentos e os conceitos construídos a partir de seus olhares na periferia do globo. Na década de 1990, muitos blocos econômicos criavam regras especiais para os países membros no que dizia respeito a ̀ circulação de pessoas e de mercadorias, criando múltiplos centros de poder. Blocos Econômicos Grupos de países que, através de pactos, passam a compartilhar fronteiras, acordos econômicos e ate ́ cidadania. Ex.: União Europeia e Mercosul. MERCOSUL Mercado Comum do Sul e ́ uma organização intergovernamental fundada a partir do Tratado de Assunção de 1991. Os países vão e vem, tem ate ́ núcleos duros, como o Mercosul tem Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. NAFTA Acordo de Livre Comercio da América do Norte e ́ um acordo econômico e comercial formado por Estados Unidos, Canada ́ e México. Criado em 1994, tem como objetivo o fortalecimento das relações comerciais entre esses países. União Europeia Maior bloco econômico do mundo, conhecido pela livre circulação de bens, pessoas e mercadorias e pela adoção de uma moeda única: o euro. Reúne 27 países, tem Franca, Alemanha e Itália como seu núcleo mais histórico. ECO-92 Foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento que se realizou entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro. Debateu-se sobre o aquecimento global e foi afirmada a importância da sustentabilidade. Como resultado, foi aprovada a Agenda 21, que consistia em um plano de ação internacional para os países membros da ONU, que orientava o desenvolvimento para o século. Organizacoes Intergovernamentais Organizac ̧o ̃es criadas por países mediante a tratados internacionais. Terceiro Setor Organizac ̧a ̃o de atividades sem fins lucrativos. Consumo Consciente Ao invés de estimular o consumo como forma de crescimento econômico, ter como foco o sujeito, o meio ambiente e a mediac ̧a ̃o de excessos para garantir que mais gente tenha acesso aos bens de consumo. Influencers E ́ a pessoa capaz de influenciar o comportamento e opinia ̃o de milhares de pessoas por meio do conteu ́do que publica em seus canais de comunicac ̧a ̃o, como Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Aculturação Conceito que nega ao outro a sua cultura. Quando e ́ entendido que indi ́genas esta ̃o em territo ́rio nacional (comum a todos os nativos e habitantes) e sera ́ dado a eles aquilo que e ́ previsto pela cidadania no territo ́rio, com o argumento de que todos sa ̃o iguais e de que eles precisam se integrar, esta ́-se retirando deles o direito de comungar uma cultura diferente. Isto e ́ aculturac ̧a ̃o. Apropriação Cultural Tomar a cultura do outro de forma descontextualizada para autopromoc ̧a ̃o ou modismo. Quando eu me visto de indi ́gena, sem perceber o que aquelas representaço ̃es significam para aqueles grupos, estou fazendo uma apropriac ̧a ̃o cultural. Contudo, um dos pontos fra ́geis desse conceito esta ́ na necessidade de na ̃o negligenciar a existe ̂ncia de grupos hegemo ̂nicos que provocam certa desigualdade nesse processo de troca. Ou seja, entendendo a hibridizac ̧a ̃o como uma criac ̧a ̃o em ma ̃o dupla entre diversos grupos sociais com poderes econo ̂micos diferentes, o fluxo resultante dessas trocas e ́ desigual. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A GLOBALIZAC ̧A ̃O E ́ UM FENO ̂MENO QUE INCIDE EM ELEMENTOS SOCIAIS, ECONO ̂MICOS, POLI ́TICOS ENTRE OUTROS. ESSA INSERC ̧A ̃O TENDE A SER SUBESTIMADA. ASSINALE DENTRE AS OPC ̧O ̃ES ABAIXO AQUELA QUE CONTE ́M UMA AFIRMAC ̧A ̃O FALSA SOBRE O TEMA DA GLOBALIZAC ̧A ̃O. A) Globalizac ̧a ̃o e ́ intimamente ligada com a tecnologia da informac ̧a ̃o promovendo maior integrac ̧a ̃o entre pessoas e mercados, ainda que marcados por pole ̂micas, acabaram por modificar as dina ̂micas mundiais de consumo. B) A era digital e ́ marcada pelo uso da internet e do ciberespac ̧o como forma de conectar pessoas e empresas e se integraram a movimentos mais antigos, mas que tinham o mesmo sentido, como jornais, ra ́dios, televisa ̃o, sendo considerados uma continuidade da revoluc ̧a ̃o da informac ̧a ̃o. C) Meios de entretenimento como Facebook, WhatsApp, Instagram e outras mi ́dias sociais na ̃o participam economicamente da integrac ̧a ̃o de mercado global, uma vez que visam o sujeito e na ̃o a economia. D) O processo de globalizac ̧a ̃o tem sido estudado por muitos pesquisadores das cie ̂ncias humanas na tentativa de entender as transformac ̧o ̃es do mundo contempora ̂neo, apesar de serem entendidos como um novo meio, na pra ́tica a dina ̂mica social permanece viva sobre as interac ̧o ̃es humanas. A alternativa "C " esta ́ correta. As mi ́dias sociais citadas te ̂m grande importa ̂ncia econo ̂mica, seja do ponto de vista da propaganda de produtos e servic ̧os, como tambe ́m para forjar modelos de consumo e identidades. Apesar de muitas vezes ter sido negada a ideia de que o entretenimento tenha participado dessa inserc ̧a ̃o, na pra ́tica ele acaba sendo um dos mais pole ̂micos aspectos por fornecer informac ̧o ̃es e dados de consumo atuais. 2. A NOVA ORDEM MUNDIAL E ́ UMA TERMINOLOGIA ASSUMIDA EM ESPECIAL APO ́S A QUEDA DO MURO DE BERLIM. SUAS MUDANC ̧AS DIALOGAM FORTEMENTE COM A GLOBALIZAC ̧A ̃O. ASSINALE O CONCEITO ABAIXO QUE NA ̃O E ́ CARACTERI ́STICO DA TEORIA DA GLOBALIZAC ̧A ̃O NOS ANOS 1990. A) Aldeia Global B) Hibridizac ̧a ̃o C) Sustentabilidade D) Modernidade A alternativa "D " esta ́ correta. Apesar da existe ̂ncia de conflitos, as premissas teo ́ricas apontavam para uma progressiva abertura a ̀ liberdade e a ̀ convive ̂ncia paci ́fica com as diferenc ̧as. A modernidade e os preceitos histo ́ricos vinculados a modernidade passam a ser entendidos como velhos e precisam ser abandonados. De fato, ela dialoga com o processo, mas e ́ sua antagonista, o conjunto de pra ́ticas e ideias a ser superada. Módulo 2: As Fronteiras Do Mundo Digital As redes de comunicac ̧a ̃o que passaram a conectar as pessoas, criando uma ideia de aldeia global, afetaram de forma avassaladora os nego ́cios, os mundos do trabalho e os relacionamentos interpessoais e afetivos. No entanto, a falta de acesso a ̀s tecnologias da informac ̧a ̃o de uma grande massa da populac ̧a ̃o acaba por aumentar o abismo social, dificultando o acesso a ̀ empregos, benefi ́cios sociais e uma se ́rie de outras oportunidades. Nota-se que, da mesma maneira que na era digital as dista ̂ncias foram estreitadas, houve segregac ̧a ̃o daqueles que na ̃o conseguiram ter acesso a ̀s transformac ̧o ̃es informacionais e tecnolo ́gicas que agilizavam o tempo e mudavam as lo ́gicas de coesa ̃o social. Dados de 2017 mostram um grande avanc ̧o no nu ́mero de usua ́rios, sobretudo por causa dos telefones mo ́veis. A maior func ̧a ̃o da internet para eles seria a troca de mensagens. Apesar do incremento, nas a ́reas rurais e nas regio ̃es mais carentes do norte e nordeste, ainda ha ́ um grande trabalho a ser feito, e e ́ necessa ́rio na ̃o apenas democratizar o acesso, mas tambe ́m promover educac ̧a ̃o digital com a finalidade de ensinar os novos usua ́rios como atuar de forma segura e diversificada na rede. Assim, sem o contradito ́rio, anulado por nossas pro ́prias ac ̧o ̃es, acabamos vendo nos que esta ̃o a ̀ nossa volta um espelho de no ́s mesmos, fazendo as relac ̧o ̃es pessoais efe ̂meras e descarta ́veis. O Sistema e o Mundo da Vida – Ação Comunicativa Quando problematizamos a sociedade em que vivemos, percebemos que as horas gastas no celular produzem certoisolamento, que na ̃o lembramos do rosto da atendente da padaria onde vamos todos os dias ou mesmo que, tal como muitas outras pessoas, pegamos o transporte pu ́blico no mesmo hora ́rio para ir para o trabalho e na ̃o nos conhecemos. Atrave ́s dos estudos do socio ́logo alema ̃o Ju ̈rgen Habermas, e ́ possi ́vel indicar que a anomia entre os indivi ́duos, tal como as reflexo ̃es sobre como as redes sociais operam para o isolamento social — ao contra ́rio de contribuir contundentemente para a integrac ̧a ̃o dos indivi ́duos —, e ́ resultado de uma interfere ̂ncia sistema ́tica dos nego ́cios e do dinheiro nas relac ̧o ̃es que deveriam ser intermediadas por valores morais, pela cultura e pela tradic ̧a ̃o. Anomia Termo cunhado pelo socio ́logo E ́mile Durkheim (1858-1917). Ause ̂ncia de lei ou de regra, desvio das leis naturais; anarquia, desorganizac ̧a ̃o. O Sistema Colonizou O Mundo Da Vida. O sistema tem a ver com a produc ̧a ̃o material de riqueza, como uma forc ̧a que impulsiona ao sucesso e a ̀ competic ̧a ̃o, sendo estes corporificados no dinheiro e nos nego ́cios. Por outro lado, o mundo da vida e ́ o espac ̧o da interac ̧a ̃o humana, mediada pela cultura, pela vida comunita ́ria e pela capacidade dos indivi ́duos de argumentarem racionalmente. Quando e ́ colocado que “o sistema colonizou o mundo da vida”, significa dizer que o dinheiro, os nego ́cios e a visa ̃o para o sucesso deixaram de ser pressupostos do espac ̧o pu ́blico e adentraram as relac ̧o ̃es e as esferas privadas, fazendo com que o mundo da vida, ou seja, nossas questo ̃es enquanto seres humanos em coletividade, passassem a responder como demandas de cunho econo ̂mico e produtivo. A soluc ̧a ̃o proposta por Habermas (1989) para solucionar esse problema, que também aparece no trato com o Estado — uma vez que as tomadas de deciso ̃es na ̃o se baseariam em um acordo mu ́tuo, mas na imposic ̧a ̃o — esta ́ no estabelecimento de diretrizes no dia ́logo racional, sime ́trico e honesto entre os indivi ́duos. O entendimento entre os sujeitos na comunidade seria o pressuposto fundamental para a democracia. Essa conversa intermediada pela raza ̃o e pelo abandono das paixo ̃es na ̃o inviabiliza as redes sociais, mas reivindica que o ser humano — seja como indivi ́duo ou como representante de Estados Nacionais nas relac ̧o ̃es entre pai ́ses — mantenha uma postura e ́tica. Essa conversa em busca do entendimento mu ́tuo, que pode se dar por quaisquer meios, e ́ o que se chama de agir comunicativo. Ação Comunicativa (Conceito De Habermas) Na ideia de Habermas, e ́ preciso pensar ac ̧o ̃es no sentido de separar essas duas esferas, devolvendo aos indivi ́duos a coesa ̃o social e a capacidade de se comunicar mediante a raza ̃o. O feno ̂meno da proliferac ̧a ̃o de enunciados distorcidos com o objetivo de moldar a opinia ̃o e a percepc ̧a ̃o dos indivi ́duos, ao serem compartilhados sistematicamente, mobilizam a opinia ̃o pu ́blica causando impactos na economia, na poli ́tica, na sau ́de e na vida social. Esse processo e ́ ta ̃o alarmante, que o termo po ́s-verdade, que caracteriza esse feno ̂meno, foi escolhido pela Universidade de Oxford como a palavra do ano de 2016. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MARQUE A ALTERNATIVA QUE NA ̃O CONTE ́M UMA CARACTERI ́STICA DE PO ́S-VERDADE A) E ́ conseque ̂ncia da legislac ̧a ̃o em prol da liberdade de expressa ̃o B) Pode ser fruto da manipulac ̧a ̃o de uma informac ̧a ̃o C) Tem impactos nas instituic ̧o ̃es pu ́blicas e privadas D) Mobiliza a opinia ̃o pu ́blica com base na inseguranc ̧a e na incerteza 2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTE ́M UM CONCEITO QUE NA ̃O AJUDA A EXPLICAR A ORGANIZAC ̧A ̃O SOCIAL NO CONTEXTO DA PO ́S- MODERNIDADE: A) Mundo da vida B) Estabilidade C) Redes Sociais D) Na ̃o lugares A alternativa "B " esta ́ correta. A estabilidade seja do ponto de vista emocional ou de planos profissionais para o futuro e ́ algo extremamente difi ́cil no contexto de muitos fluxos de informac ̧a ̃o e mobilidade gerando corriqueiramente diferentes expectativas pessoais. O modelo de trabalhar a opc ̧a ̃o excludente vem da ideia de fortalecer os elementos que norteiam o estudo sobre o assunto descrito. Módulo 3: Reconhecer os Efeitos da Globalização no Tempo Presente Mundos do Trabalho e a Economia no Contexto Digital Tanto os trabalhadores qualificados quanto aqueles que exercem funções que não demandam muita instrução têm lidado com questões como insegurança, falta de perspectivas para planejar o futuro e por um processo de se transformar em empresa. Ou seja, o indivíduo passa a administrar por sua conta e risco o oferecimento de suas habilidades, serviços e saberes no mercado. Baseado na ideia de que esses sujeitos não participam do processo de produção como subordinados, como também considerando que o mundo ocidental vem passando por um processo de desindustrialização que abriu espaço para o setor de serviços, enquanto o produtivo sofre decréscimo significativo, alguns sociólogos defendem a ideia do fim do trabalho. Os trabalhadores fordistas teriam sido substituídos pelos novos proletariados de serviços. Da Precarização à Necropolítica – As Mobilizações a Luta pela Visibilidade Embora atualmente haja muitas interpretações sobre a Primavera Árabe, para seus contemporâneos ele foi inspirador e indicava uma nova possibilidade de agir e organizar-se coletivamente usando as redes sociais. Os compartilhamentos em tempo real de fotos, vídeos e comentários direto das rebeliões arregimentaram apoiadores e críticos ao redor do mundo. O movimento “occuppy consistia em ocupar, ou seja, fazer-se presente e visível nos espaços públicos, sobretudo no coração do sistema financeiro. A Ocupação de Wall Street foi um movimento que denunciava a desigualdade econômica e social, atribuindo suas mazelas à ganância do sistema financeiro. Ele foi composto por pessoas muito diferentes entre si, negros, mulheres, homossexuais, que compunham uma multidão diversa que materializou suas insatisfações através do ato de colocar os seus corpos no espaço público. Essas formas repentinas de reunião no espaço público, fomentadas como uma ação orgânica de insatisfação coletiva e extremamente multifacetada, têm início nas redes sociais e transbordam para os espaços visíveis ou extremamente significativos das cidades e das instituições. Tais assembleias públicas causaram para uns esperança e para outros medo da ação descoordenada e inesperada da multidão. O conceito de precarização é fundamentalmente importante, pois ele vai se tornar transversal para pensar a existência humana e a possibilidade de reprodução da vida cotidiana no contexto em que o emprego, a assistência médica, a moradia e a alimentação básica se tornam objetivos diários a serem perseguidos com dificuldades e muitas vezes não alcançados. A desumanização das relações econômicas e nos leva a pensar em outro conceito fundamental que, coligado ao da precarização, tem fornecido uma base de reflexão crítica do mundo atual, a necropolítica. A morte deixa de ser uma tragédia e passa a ser parte da reprodução do sistema. Aqueles que não teriam como pagar por serviços de saúde, por comida, pela água potável, entre outros serviços fundamentais, não teriam serventia, logo, poderiam (ou até deveriam) morrer. Da denuncia das ações que levam à precarização e à necropolítica surgem tentativas de refinar as pautas de lutas dos amplos movimentos de ocupação por todo mundo. A descrença com a política institucional, a alta taxa de abstenções e a crise econômica levaram ao crescimento da extrema direita. Nesse cenário, começamos a assistir a uma nova forma de ação coletiva baseada na construção de movimentos identitários, como grupos feministas, LGBTQ+, indígenas, negros, entre outros. Os grupos citados anunciam, respectivamente, propostas de lutas centralizadas, como o combate ao feminicídio,a criminalização da homofobia, contra a expansão de madeireiros e seringueiros e de combate ao racismo. Claro que o universo de pautas é muito maior e mais diversificado do que citamos aqui, mas a intenção é perceber que não se trata mais simplesmente de lutar contra o capitalismo. As Guerras Híbridas e os Novos Desafios para a Segurança Nacional no Ciberespaço Se por um lado, o monitoramento da população poderia identificar com antecedência atos terroristas ou até mesmo evitar crimes. Por outro, nossos dados, desejos e preferências são materiais importantes para aqueles que vendem serviços e mercadorias. Legislações nacionais e internacionais têm sido criadas para regular essas questões que se mostram muito problemáticas, seja por pontos mais simples e pessoais, como clonagens de cartões de crédito ou por graves problemas diplomáticos. A dramática crise migratória pela qual passamos tem suas raízes nos desdobramentos desses conflitos. Recentes estudos feitos na Rússia apontam que os eventos da Primavera Árabe teriam sido mais do que uma manifestação espasmódica da população cansada do autoritarismo e que pela primeira vez podia ser observada por todo o mundo através das redes sociais. O intelectual russo, Andrew Korybko, cunhou o termo Guerras Hibridas, ou Revoluções Coloridas, para caracterizar o esforço de setores da inteligência dos EUA de incentivar, através das redes sociais, convulsões que viessem a desestabilizar governos que não fossem de sua simpatia, com vista em sua troca. Atualmente, analistas políticos usam o conceito de Guerra Híbrida para explicar uma série de convulsões sociais e políticas também fora do mundo árabe. Do movimento que levou à caída de Evo Morales na Bolívia até os recentes protestos em Hong Kong, a coisa tem sido interpretada a partir dessa lente de análise. O uso da internet e da inteligência artificial não é um privilégio de um ou outro país, tal como os meios empregados para monitorar a população. Sabemos que por meio de rastreamentos de celulares, câmeras com reconhecimento facial e outros aparatos tecnológicos, a privacidade dos indivíduos sofre fortes interferências. Contudo, no que diz respeito a Estados e relações internacionais, o que se coloca em debate é a viabilidade do próprio sistema democrático. Hábitos simples como fazer compras, estudar, conversar com amigos, fazer reuniões de trabalho, ganharam novas dimensões, e seus impactos, ao mesmo tempo que são calculados, passam por processos constantes de crítica e redefinições. VERIFICANDO O APRENDIZADO Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das seguintes questões. 1. Selecione a expressão que preenche corretamente a lacuna do texto: “-------_______________________ é um conceito desenvolvido pelo filósofo negro, historiador, teórico político e professor universitário camaronense Achille Mbembe que, em 2003, escreveu um ensaio questionando os limites da soberania quando o Estado escolhe quem deve viver e quem deve morrer. Segundo Mbembe, quando se nega a humanidade do outro, qualquer violência se torna possível, de agressões até morte.” (FERRARI, 2019) a. Agir Comunicativo b. Revolução Colorida c. Necropolítica d. Empreendedorismo 2. “A escravidão foi abolida há dois séculos, mas de fato nunca tivemos tanta escravidão como hoje, e nunca os escravos custaram tão pouco; a vida humana vale menos.” (BOTTANI, 2017) Qual conceito é mais bem adequado para explicar a frase acima?
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