Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 2 SUMÁRIO 1. DEFINIÇÃO DE FEDERAÇÃO: ...................................................... 3 2. CLASSIFICAÇÃO OU TIPOLOGIA: ................................................ 3 3. CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO: ........................................... 4 3.1. CARACTERÍSTICAS DE CONSTITUIÇÃO: ................................ 4 3.2. CARACTERÍSTICAS DE CONSERVAÇÃO: .............................. 11 Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 3 TEORIA DO ESTADO: -ESTADO FEDERAL- 1. DEFINIÇÃO DE FEDERAÇÃO: Podemos definir federação como forma de Estado que tem duas grandes características: a) Na federação toda e qualquer entidade política possui autonomia e a Federação possui soberania. Unidade da soberania e pluralidade da autonomia. b) Criação a partir de uma constituição (Federal). Como exemplo temos os EUA, Alemanha, Argentina. 2. CLASSIFICAÇÃO OU TIPOLOGIA: Não há dúvidas que temos Federações distintas a exemplo da brasileira e a americana. Conforme DIRCÊO TORRECILLAS RAMOS (Federalismo assimétrico), temos que levar em conta o critério da formação histórica, propondo-se a seguinte classificação: a) Federação Centrípeta: É Aquela criada historicamente por agregação. No caso dos EUA, por exemplo, a sua origem está nos Estados. Assim, o movimento é dos Estados em direção à União, ou seja, da periferia em direção ao centro. b) Federação Centrífuga: É Aquela criada historicamente por segregação. Este é o caso Brasileiro. Tínhamos um Estado unitário e posteriormente a república. Nossa origem se dá da União em relação aos Estados, ou seja, do centro para a periferia. Essa classificação explica o motivo de o perfil da federação americana ser descentralizada e a brasileira ser uma federação centralizada, mantendo a União a concentração de poderes que sempre teve historicamente. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 4 3. CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO: O autor aqui a ser analisado é o professor MICHEL TEMER. De acordo com ele, há uma distinção entre características de CONSTITUIÇÃO e de CONSERVAÇÃO. Vamos analisar 3 características de cada uma. 3.1. CARACTERÍSTICAS DE CONSTITUIÇÃO: a) União de entidades políticas autônomas, simbolizada pelo vínculo indissolúvel entre entes federativos, revestidos de auto-organização, autogoverno e autoadministração: Deverá haver autonomia política. Autonomia quer dizer autodeterminação do Estado. É a Capacidade dada ao Estado de se autodeterminar conforme sua própria vontade. A autonomia é considerada um gênero que se divide em: i) Auto-organização: Capacidade de elaboração de constituição própria ou de instrumento análogo a ela (DF e Municípios que possuem leis orgânicas). ii) Autogoverno: Capacidade de criação dos órgãos supremos e de escolhas dos agentes públicos que irão desempenhar as atribuições. iii) Autoadministração: Capacidade de prestação de serviços públicos por órgãos próprios. ATENÇÃO: Importante destacar que a Federação não aceita a quebra do vínculo federativo (secessão). Este vínculo é eterno, indissolúvel. Podemos fazer uma correlação entre o Art. 1º, Art. 18 e o Art. 34, I da CF. Estes dispositivos, embora utilizem a mesma palavra, há sentidos distintos (relação de distinção) e, no caso do Art. 34, I uma relação de causalidade. No Art. 1º está escrito “união” (com inicial minúscula). Todavia, no Art. 18 temos “União” (inicial maiúscula). Qual a distinção? Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 5 No artigo 1º, “união” quer dizer vínculo [federativo]. No caso do artigo 18, temos a ENTIDADE. No Art. 34, I da CF temos o caso da intervenção federal para evitar o separatismo. O art. 1º da CF é a causa (o vínculo não pode ser quebrado) enquanto o art. 34, I é a consequência. b) Bicameralismo de maneira a possibilitar a participação da vontade parcial na formação da vontade geral: Vamos dividir essa característica em duas partes. i) Bicameralismo: O poder legislativo da União é dividido em 2 casas. Esta característica só se aplica à União. Nos demais entes, temos unicameralismo. Podemos separar Câmara e Senado da seguinte forma: CÂMARA SENADO: Representantes do Povo. Ou seja, Representação popular. Representantes dos Estados e DF. Temos a chamada representação FEDERATIVA Sistema Eleitoral PROPORCIONAL. Mandato alcançado pela força demonstrada pelo partido político. Ao legislativo todo se aplica esse sistema, com a ressalva do Senado. Aqui é o partido que faz o candidato eleito. Temos o quociente eleitoral e o quociente partidário. 1) O quociente eleitoral é obtido com o total de votos válidos divididos pelo total de cargos a serem ocupados; 2) O quociente partidário segue o seguinte: O partido político fará tantos candidatos eleitos quantas as vezes que tiver alcançado o quociente eleitoral. Os mais votados dentro do quociente serão eleitos. Sistema Eleitoral MAJORITÁRIO. O mandato eletivo é alcançado pelo número de votos obtidos pelo candidato. O mais votado é considerado eleito. Só é aplicado ao legislativo NESTE ÚNICO CASO, pois é um sistema aplicado no Executivo. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 6 513 membros para mandatos de 4 anos e é possível renovação total. 81 membros para mandatos de 8 anos e renovação parcial de 1/3 ou de 2/3. ii) Garantia de que a vontade regional participe de modo efetivo da vontade geral ou nacional: A garantia é justamente o Senado. Isso pelo fato de que no Senado temos composição paritária de membros. Assim, o Senado tem a missão de reequilibrar a Federação, neutralizar interesses regionais. Isso tem consequências jurídicas (Senado é a casa revisora – para que possa falar por último). Também tem consequências políticas (o domínio político da câmara pertence ao sul e sudeste, enquanto no senado o domínio político maior é norte e nordeste, pois concentra maior número de Estados). Ainda, é possível verificar uma consequência de cunho arquitetônico (câmara se volta pra cima – inovação; e senado para baixo – função de equilíbrio; além dos prédios com passarelas ao meio). c) Repartição constitucional de competências: Temos 3 grandes questões aqui: i) Definição – O que é e como definir competência: Em processo, fala-se que competência é limite ou medida. Podemos afirmar que no Direito Constitucional é limite ou medida imposta ao poder político na Federação. ii) Direito Comparado: O critério universal para repartir competência é sempre o da PREDOMINÂNCIA OU PREPONDERÂNCIA DO INTERESSE. Não se trata de exclusividade do interesse, mas sim de predominância. Matérias cujo interesse seja nacional, em princípio será da competência da União. Sendo regional, em regra será competência dos Estados e, sendo local, a competência será predominante do município. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 7 iii) Como o Brasil reparte competência: Citemos aqui FERNANDA DIAS ALMEIDA. Conforme a autora, temos 2 planos diferentes: repartição em plano horizontal e repartição vertical. O plano vertical foi criado a partir da Constituição de 1934. Vamos a cada um: a) Plano horizontal: Temos a distribuição de matérias distintas entre as entidades federativas, compreendendo as competências exclusivas e privativas de cada unidade da federação. b) Plano vertical: Temos a distribuição de matéria idêntica entre as entidades federativas, compreendendo as competências comuns e concorrentes de todas as unidades da federação. Vamos aprofundar os planos... PLANO HORIZONTAL: Dois detalhes aqui sãoimportantes: a) Que valor central esse plano congrega? O valor é o da compartimentação. Ou seja, fraciona-se o poder e divide-se entre cada ente. Esse valor é de influência americana. b) Espécies: Temos aqui as competências exclusivas e as competências privativas. O critério para distinguir essas duas competências é a delegabilidade. Competência exclusiva é INDELEGÁVEL, já a competência privativa é DELEGÁVEL. A Constituição prevê essas competências nos artigos 21 (exclusiva) e 22 (privativa). O Art. 22 exige Lei Complementar para que haja a delegação; só pode ser feita a Estado; e deve-se especificar a matéria. Como exemplo temos um único caso: LC 103/2001 (delegação para o piso salarial ao Estados). Cuidado: Nem sempre a CF utiliza as expressões “privativa” ou “exclusiva” de forma técnica a exemplo do Art. 84 da CF (onde temos atecnia grosseira). Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 8 PLANO VERTICAL: Temos aqui os mesmos pontos: a) Que valor central esse plano congrega? Aqui temos o valor do compartilhamento, valor de influência alemã. b) Espécies: Temos as competências comuns e concorrentes. A ideia aqui é de cumulatividade ou não. A competência comum é cumulativa (atuação de um ente não exclui a do outro), enquanto a concorrente é não cumulativa (atuação de um exclui a atuação do outro, um subtrai a competência do outro). Temos a regulação nos Arts. 23 (Competência comum-cumulativa) e 24 (Competência concorrente) da CF. ATENÇÃO: O Art. 24 compreende o Município ou não? Município legisla sobre meio ambiente, por exemplo (Art. 24, VI)? Na visão do STF (Art. 30, II), o artigo 24 compreende os municípios, pois detém competência suplementar. Há condomínio legislativo de todos os entes. Premissa Hermenêutica: A União edita NORMAS GERAIS. Conforme ALICE GONZALEZ BORGES, norma geral é aquela que contempla um princípio e não uma regra e tem aplicação uniforme em todo direito brasileiro. Se a União já produziu a norma geral, aplicamos o Art. 24, §2º: § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. Se a União não editou a norma geral, aplicamos os §§ 3º e 4º: § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia (não revoga!! Revogação pressupõe fontes iguais) da lei estadual, no que lhe for contrário. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 9 JURISPRUDÊNCIA: Art. 21 da CF: TELECOMUNICAÇÃO: Compete à União (Art. 21, XI): XI - explorar, diretamente ou mediante AUTORIZAÇÃO, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais Para o Direito Administrativo, temos 2 grandes importâncias aqui: a) Existe autorização de serviço público ou apenas a Concessão e a Permissão? Isso por que a somente a concessão e a permissão necessita de licitação. Aqui, perceba que a CF permite a autorização nesses casos. Como exemplo concreto, temos os serviços de Táxi. b) Regulação de serviço públicos: Temos neste dispositivo um caso previsto na CF de possibilidade de órgão regulador para estes serviços. Art. 22 da CF: MENSALIDADE ESCOLAR: Pode o Estado legislar sobre isso, reduzindo mensalidade? (INFO 1019) Conforme o STF, essa matéria está ligada ao Art. 22, I, ou seja, matéria legislativa privativa da União. Trata-se, portanto, de matéria de Direito Civil. Situação Fática: A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou no STF a ADI 6445, contra a Lei estadual 9.065/2020 do Pará, que estabelece o desconto obrigatório de no mínimo 30% das mensalidades escolares na rede privada de ensino durante a pandemia da Covid-19. A entidade, que já contestou leis semelhantes do Ceará e do Maranhão, alega que a norma viola a competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil, pois o pagamento da mensalidade é uma relação contratual entre as partes. Aponta que a lei contraria os princípios da livre iniciativa e da autonomia universitária, pois afeta também as faculdades particulares. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 10 Para a confederação, a lei paraense viola ainda o princípio da igualdade, pois os dependentes do Prouni (Programa Universidade para Todos) e do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) estão excluídos do desconto, enquanto alunos que possuem capacidade financeira melhor são contemplados pelo benefício. A norma é constitucional? NÃO! O Supremo Tribunal Federal reconheceu a natureza de direito civil das normas incidentes sobre a contraprestação de serviços de educação, por tratarem de questão relacionada aos contratos. A lei impugnada, ao dispor sobre os termos em que serão descontados valores nas contraprestações pactuadas entre as instituições de ensino e os estudantes, interfere na essência do contrato, de maneira a suspender a vigência de cláusulas contratuais que estão no âmbito da normalidade dos negócios jurídicos onerosos. Não se cuida, portanto, de típica disciplina acerca da proteção do consumidor contra eventuais ações abusivas por parte dos prestadores de serviços educacionais. De modo que caracterizada usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito civil. Ademais, além de o ato legislativo estadual contrariar disciplina federal existente sobre o assunto, não se verifica peculiaridade regional a justificar um regramento específico quanto aos efeitos da pandemia da Covid-19 em tais contratos. Sob o aspecto material, a norma impugnada contraria a livre iniciativa e interfere de forma desproporcional em relações contratuais regularmente constituídas. Art. 23: TRÂNSITO: Toda legislação deve ser Federal? A regra é o Art. 22, XI: compete à União legislar sobre trânsito e transporte. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 11 Todavia, temos uma exceção (Art. 23, XII): Estabelecer e implantar política de educação para segurança do trânsito. Os casos mais comuns são as Blitz de Lei seca ou até mesmo criação de matéria curricular em escolas sobre educação para segurança no trânsito. ATENÇÃO: O STF entendeu que os aplicativos (Uber, por exemplo) também são questões relacionadas à matéria de Trânsito e por isso são de competência da União. Art. 24: COVID-19: Enfrentamento e vacinação: O STF entendeu que a matéria está disciplinada nos Arts. 23, II (competência comum – cuidar da saúde). Ou seja, compete a todos implementar políticas públicas. Além disso também o Art. 24, XII, competindo a todos os entes (incluindo o município). Assim, temos aqui CONDOMÍNIO ADMINISTRATIVO (Art. 23, II) e CONDOMÍNIO LEGISLATIVO (Art. 24, XII). Assim, temos: MATÉRIA ADMINISTRATIVA: MATÉRIA LEGISLATIVA: Competência comum (Art. 23, II) Competência concorrente (Art. 24, XII) Lembrar: A vacinação é compulsória, mas não forçada. 3.2. CARACTERÍSTICAS DE CONSERVAÇÃO: a) Existência de órgão competente para controle de constitucionalidade de leis e atos normativos: Já tratamos de Controle de Constitucionalidade, mas aqui vale uma consideração: Quando se fala em existência de órgão competente para o controle, nem sempre será um órgão judicial ou mesmo um órgão especializado. Não há condição imposta para que a federação se conserve no sentido de o órgão ser apenas judicial. Inclusive, no Brasil temos controle político e também controle difuso (ou seja, não especializado). Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc12 b) Limitações ao poder constituinte decorrente: Aqui é importante aprofundarmos. O poder constituinte decorrente é o Estadual. Mas, qual a principal limitação imposta ao poder estadual? A principal limitação é o chamado princípio da SIMETRIA. Vamos agora abordar a simetria como essa principal limitação. O que quer dizer princípio da simetria? Quer dizer que as normas das constituições dos Estados e das Leis Orgânicas dos Municípios e do DF, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, devem repetir as normas da Constituição Federal. Vamos dividir o conceito em 3 partes: a) Normas das constituições dos Estados e das leis orgânicas dos Municípios e do DF: A simetria não é princípio constitucional implícito, pois temos previsão expressa nos seguintes dispositivos: O Art. 25, caput da CF trata da simetria nos Estados. No caso dos municípios, temos o Art. 29, caput. No caso do DF temos o Art. 32, caput; b) Na medida do possível: Simetria NÃO É REGRA, mas exceção. Isso porque quanto mais se aplica a simetria, mas se retira a autonomia dos entes, pois vão se vincular a um modelo criado para a União. Assim, a dúvida é saber quando se aplica a simetria: O critério é o EQUILÍBRIO FEDERATIVO. Se o ente ao adotar norma diversa comprometer o pacto federativo, então a matéria não está sujeita à simetria; Ex1: Igualdade entre os sexos. Caso um Estado não adotasse a regra da CF, teríamos aqui uma flagrante inconstitucionalidade e quebra do equilíbrio federativo. Ex2: Legitimidade ativa ad causam para ADI estadual. Não é matéria sujeita à simetria, desde que não seja exclusiva. c) Repetir normas da Constituição Federal: Aqui vamos utilizar da lição do professor JOSÉ ALFREDO BARACHO. Ele faz uma distinção entre normas de repetição e normas de imitação. Ambas apontam para uma identidade de conteúdo. Todavia, essas normas diferem quanto ao motivo dessa igualdade existir. Na norma de Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 13 repetição ela é igual porque não poderia ser diferente, enquanto na norma de imitação ela é igual, embora pudesse ser diferente. Ou seja, as normas de imitação não são normas passíveis de simetria, mas o Estado, DF e Município produz norma idêntica ao do texto Constitucional. 2 considerações finais sobre a simetria. Vejamos alguns casos sobre a simetria no STF: 1) Normas gerais de processo legislativo: Não podem os demais entes inovar nada sobre processo legislativo. 2) Foro especial por prerrogativa de função Pode a Constituição Estadual estabelecer foro especial no TJ a uma autoridade do Estado cujo equivalente federal não tenha foro especial? Exemplos: Vereador, Procurador da Assembleia legislativa, Defensor público do Estado etc. O STF mudou completamente sua posição pela terceira vez. A primeira posição do STF dizia que as normas eram válidas (posição adotada nos anos 90). Em 2012 o STF passou a entender que as normas estaduais seriam válidas, SALVO O DELEGADO DE POLÍCIA. ATENÇÃO: EM 2019 o STF entendeu que a norma é INCONSTITUCIONAL, aplicando-se o princípio da simetria, exceto se a CF estabeleça esse foro, mesmo em plano estadual a exemplo do juiz e do promotor. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 14 c) Intervenção Federal: Vamos trabalhar alguns pontos sobre a intervenção... 1) Fundamento: Arts. 34 e 36 da CF. 2) Definição: Trata-se do afastamento temporário e excepcional da autonomia política de uma entidade federativa. Vamos repartir o conceito... a) Afastamento temporário e excepcional: A intervenção possui duas características: a temporariedade e excepcionalidade. Durará o intervalo de tempo necessário para se reestabelecer a ordem rompida. Quanto à excepcionalidade, a intervenção só é cabível nos casos previstos de forma taxativa no texto constitucional. Assim, os Estados não podem ampliar as causas além das previstas na CF. b) Da autonomia política: O que se afasta na intervenção é autonomia política (organização, governo e administração). A intervenção, inclusive, pode ser apenas parcial desde que descreva o que se está afastando na autonomia. c) De uma entidade federativa: Quem sofre a intervenção federal? Hoje, a intervenção federal só recai sobre o Estado ou sobre o DF, não sofrendo o município tal intervenção. Se o município sofrer intervenção, será estadual. Todavia, no futuro pode ser que os municípios sofram intervenção federal se, conforme o Art. 35 da CF, tivermos: a) Território criado pela União e b) União subdivida o território em municípios. Assim, no futuro é possível a intervenção federal sobre municípios de territórios que venham a ser criados. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 15 3) Pressupostos ou causas da intervenção: Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, EXCETO para: I - manter a integridade nacional; II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. I) Manter a integridade nacional: OBS: Lembre-se que o Art. 1º da CF é a causa do Art. 34, I e já tratamos anteriormente. Vamos a todos os incisos... II) Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra: Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 16 Trata aqui da invasão EXTERNA e a invasão INTERNA. Quanto à externa, vide Art. 84, XIX da CF. Com esse dispositivo, percebemos que o presidente toma duas medidas: uma de medida interna e outra de medida externa. a) Defesa interna: Decreta a intervenção no Estado que sofrer a invasão; b) Defesa externa: Declara guerra contra o invasor. Quanto à invasão interna, vide CPP no Art. 290 (prisão em flagrante em outra unidade federativa – possível desde que haja perseguição iniciada em seu próprio Estado). Aqui temos autorização legal que não configura, portanto, invasão. Assim, se uma unidade policial inicia perseguição em seu território e continua a perseguir o suspeito ingressando em outra unidade federativa, não temos invasão interna, haja vista a permissão feita no CPP. III) Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública: Nas intervenções do RJ e de RR esse foi o fundamento. Devemos lembrar o seguinte: Em nenhum momento a CF se preocupa com a causa da hipótese, desde que seja grave. Não importa se a causa é natural ou humana. Sendo natural, teremos a CALAMIDADE PÚBLICA. Se a causa for social/humana, chamasse COMOÇÃO SOCIAL, que foi o caso do RJ e também de RR. IV) Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação: Aqui, vide o Art. 2º da CF. Temos aqui a hipótese em que há coação de um poder sobre o outro. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 17 V)Reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior: Aqui, vide LC 101/2000, Art. 29. Dívida fundada é aquela que é assim considerada por Lei. O critério é unicamente legal: Art. 29. Para os efeitos desta Lei Complementar, são adotadas as seguintes definições: I - dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei: Devemos diferenciar a repartição de competência tributária da repartição de Receita Tributária. A primeira trata-se da possibilidade de atribuição, arrecadação e cobrança de um tributo. Já a segunda é a necessidade de divisão do que foi apurado com outros entes (exemplo: IPVA arrecadado que deve ser repartido com os municípios). Nessa hipótese da CF temos relação, portanto, com a receita. Assim, ao não dividir (omissão) a receita, temos a possibilidade de intervenção. VI - Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; A questão aqui é a seguinte: Não pagar precatório, pois não tem recurso é motivo para a intervenção federal? O que o STF pensa sobre isso? Em tese, seria sim um caso de intervenção federal. Todavia, conforme o STF, se houver a alegação de falta de recursos, não será motivo para intervenção federal. Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 18 Conforme o STF, aplica-se o princípio da razoabilidade: “se o Estado dispõe de um quadro de múltiplas obrigações a cumprir, deve-se assegurar ao Estado um juízo discricionário do cumprimento de suas obrigações”. A doutrina critica fortemente esse entendimento do STF já que esse tribunal entende haver um caso fortuito ou força maior. Conforme a doutrina, não há caso aqui de força maior e mesmo que fosse não excluiria o caso de intervenção, já que a CF não faz essa ressalva. VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Temos aqui os princípios constitucionais sensíveis. Questão relevante: Um fato grave que ameace ou lese direitos humanos é motivo para intervenção federal? Esse tema foi levado ao STF na IF 114. O STF entendeu que a gravidade de um fato por si só que ameaça ou lesa direitos humanos NÃO É MOTIVO suficiente para a Intervenção. Todavia, o que pode gerar a Intervenção é se o fato demonstrar que não há condição de dar resposta proporcional a ele, ou seja, a persecução penal. Assim, não sendo possível a persecução penal, é caso de intervenção federal. Portanto, deve-se separar o fato e sua gravidade da demonstração feita através desse fato de que não há condição mínima de dar persecução a ele. Vejamos a EMENTA: Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 19 - Intervenção Federal. 2. Representação do Procurador-Geral da República pleiteando intervenção federal no Estado de Mato Grosso, para assegurar a observância dos "direitos da pessoa humana", em face de fato criminoso praticado com extrema crueldade a indicar a inexistência de "condição mínima", no Estado, "para assegurar o respeito ao primordial direito da pessoa humana, que é o direito à vida". Fato ocorrido em Matupá, localidade distante cerca de 700 km de Cuiabá. 3. Constituição, arts. 34, VII, letra b, e 36, III. 4. Representação que merece conhecida, por seu fundamento: alegação de inobservância pelo Estado-membro do princípio constitucional sensível previsto no art. 34, VII, alínea b, da Constituição de 1988, quanto aos "direitos da pessoa humana". Legitimidade ativa do Procurador-Geral da República (Constituição, art. 36, III). 5. Hipótese em que estão em causa "direitos da pessoa humana", em sua compreensão mais ampla, revelando-se impotentes as autoridades policiais locais para manter a segurança de três presos que acabaram subtraídos de sua proteção, por populares revoltados pelo crime que lhes era imputado, sendo mortos com requintes de crueldade. 6. Intervenção Federal e restrição à autonomia do Estado-membro. Princípio federativo. Excepcionalidade da medida interventiva. 7. No caso concreto, o Estado de Mato Grosso, segundo as informações, está procedendo à apuração do crime. Instaurou-se, de imediato, inquérito policial, cujos autos foram encaminhados à autoridade judiciária estadual competente que os devolveu, a pedido do Delegado de Polícia, para o prosseguimento das diligências e averiguações. 8. Embora a extrema gravidade dos fatos e o repúdio que sempre merecem atos de violência e crueldade, não se trata, porém, de situação concreta que, por si só, possa configurar causa bastante a decretar-se intervenção federal no Estado, tendo em conta, também, as providências já adotadas pelas autoridades locais para a apuração do ilícito. 9. Hipótese em que não é, por igual, de determinar-se intervenha a Polícia Federal, na apuração dos fatos, em substituição à Polícia Civil de Mato Grosso. Autonomia do Estado-membro na organização dos serviços de justiça e segurança, de sua competência (Constituição, arts. 25, § 1º; 125 e 144, § 4º). 10. Representação conhecida mas julgada improcedente (STF - IF: 114 MT, Relator: NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 13/03/1991, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 27-09-1996 PP-36154 EMENT VOL-01843-01 PP-00001) Prossigamos com os requisitos para a intervenção federal... Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 20 4) Requisitos da Intervenção: Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; III -- de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII; III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. IV - de provimento, pelo Superior Tribunal de Justiça, de representação do Procurador-Geral da República, no caso de recusa à execução de lei federal. § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. § 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvoimpedimento legal. Temos aqui o seguinte gráfico para entender o processo da intervenção: Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 21 a) Espontânea: Decretada de ofício pelo Presidente da república. Não pressupõe que ninguém o provoque. b) Provocada: depende de uma provocação externa ao presidente. OBS1: O Art. 36 não se reporta a todos os casos do Art. 34, mas apenas a alguns. Assim, todas as hipóteses que a CF traz no Art. 34 e que estiverem no Art. 36 são intervenções provocadas. Portanto, temos 4 hipóteses de Intervenção espontânea, conforme o gráfico. OBS2: Solicitação implica pedido (ato discricionário, portanto, do Presidente). Em se tratando de Requisição, temos um ato vinculado. OBS3: A solicitação se limita ao Art. 36, I, primeira parte. O restante são situações todas de requisição. Vejamos: I - No caso do art. 34, IV, de SOLICITAÇÃO do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido (...) Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 22 Temos aqui, portanto, solicitação do Poder executivo ou do legislativo. Nos demais casos, temos requisição: a) Judiciário estadual coagido comunica ao STF, que requisita a intervenção; I –(...), ou de REQUISIÇÃO do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário. b) STF, STJ, ou TSE, a depender da matéria, requisitam a intervenção: Em matéria constitucional, a requisição será do STF. Sendo matéria legal eleitoral, será do TSE. Residualmente, em matéria legal não eleitoral (por exemplo: precatório), será do STJ a competência para requisitar. II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; OBS4: Representação é ação proposta. Teremos uma ação proposta pelo PGR no STF. Sendo julgada procedente, o STF requisita a intervenção. Temos duas hipóteses: a) Art. 34, VII c/c Art. 36, III, initio; b) Art. 34, VI, initio c/c Art. 36, III, in fine. III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. ATENÇÃO: Na hipótese do Art. 34, VI, initio c/c Art. 36, III, in fine, temos a chamada AÇÃO DE EXECUÇÃO DE LEI FEDERAL. Perceba que temos aqui um caso raro de competência do STF sobre legislação federal e não constitucional. Hoje, portanto, desde 2004 temos um caso em que o STJ tem competência constitucional e dois casos em que o STF tem competência sobre matéria que envolve lei federal. Vemos a tabela: Material elaborado por Genesis da Silva Honorato @materiasdedireito.doc 23 STJ: STF: Art. 109, §5º da CF – IDC Art. 102, III, d – RE quando a decisão recorrida julga válida lei local contestada em face de lei federal Art. 36, III, in fine. É isso, meus caros. Espero que tenham gostado do material! Compartilhem e divulguem. Bons estudos!! SDG
Compartilhar