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Material de Atualização Manual de Direito Constitucional - Natalia Masson

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Manual de 
DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
PRINCIPAIS ATUALIZAÇÕES DA 8ª PARA A 9ª EDIÇÃO 
Estimado leitor, 
Este arquivo é uma diretriz indicativa das principais modificações que estruturei no nosso 
Manual de Direito Constitucional para a 9ª edição (lançada em janeiro de 2021). 
Não é um documento exaustivo: existem alterações que aqui não foram citadas. Procurei 
sinalizar as mais notáveis e valorosas para seu estudo; aquelas que realmente impactaram 
na obra (ou na interpretação até então predominante sobre certo assunto). 
Algumas reiterações na jurisprudência do STF também foram mencionadas, em razão da 
importância do tópico e do meu desejo de lhe revelar que nossa Corte Suprema seguiu 
pacífica relativamente àquela temática. 
Me preocupei em indicar, ainda, ações cujo julgamento encontra-se suspenso: 
certamente no transcorrer deste ano o STF decidirá em definitivo algumas delas, 
promovendo viradas paradigmáticas que vão transfigurar entendimentos que 
considerávamos sólidos. Preocupe-se em acompanhá-las. 
Em suma, caríssimo leitor: utilize este material para atualizar sua edição anterior do nosso 
Manual. Esteja certo que em todos os próximos anos faremos esse mesmo trabalho, na 
tentativa de lhe manter informado das novidades fundamentais! Afinal, o desígnio central 
que orientou a produção deste documento foi o de abrir um novo canal de comunicação 
entre nós, reforçando nossa ligação mais elementar: a de estudar e pensar um Direito 
Constitucional vivo e dinâmico! 
Despeço-me desejando-lhe um ano de 2021 marcado pela dedicação, pelo esforço e pela 
vontade de realizar seus sonhos! 
Um abraço amigo, 
Nathalia Masson 
 
 
 
 
 
 
 
1ª ATUALIZAÇÃO: QUESTÕES NOVAS 
- Em todos os capítulos foram inseridas questões do ano de 2020 com o gabarito 
devidamente comentado. 
2ª ATUALIZAÇÃO: ESQUEMAS 
- Os seguintes esquemas foram atualizados: 
 Cap. 07 (“Direito de Nacionalidade”) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Cap. 08 (“Direitos Políticos”) 
 
 
 Cap. 14 (“Poder Executivo”) 
 
 
 
 Cap. 16 (“Funções essenciais à Justiça”) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Cap. 19 (“Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Cap. 20 (“Ordem Econômica”) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3ª ATUALIZAÇÃO: PRINCIPAIS INOVAÇÕES JURISPRUDENCIAIS 
- Muitas foram as decisões proferidas por nossa Corte Suprema no ano de 2020. Neste 
item do arquivo listaremos, dentre as que foram inseridas na 9ª edição do Manual, as 
que reputamos mais relevantes. 
 
 Cap. 5: (“Direitos e garantias individuais”): 
 
2. DIREITO À VIDA 
2.2. Questões controversas 
2.2.2. Aborto 
Recomendamos, pois, que o leitor siga acompanhando as decisões do STF sobre o tema, 
em especial a ADPF 442, relatada pela Min. Rosa Weber, que discute a questão relativa à 
recepção, pela Constituição Federal de 1988, dos artigos 124 e 126 do Código Penal, que 
instituem a criminalização da interrupção voluntária da gravidez. 
Nessa ADPF, a Ministra Rosa Weber convocou audiência pública (realizada em 2017), 
vez que a questão da interrupção voluntária da gravidez nas 12 primeiras semanas envolve 
diferentes valores públicos e direitos fundamentais. A discussão, no entendimento da 
Ministra relatora, é um dos temas jurídicos “mais sensíveis e delicados”, pois circunda 
razões de ordem ética, moral, religiosa e de saúde pública e a tutela de direitos 
fundamentais individuais. 
A Procuradoria-Geral da República já se manifestou pela improcedência da arguição, 
alegando que os pedidos submetidos à apreciação do STF na arguição exigem o exercício de 
funções legislativas que não foram concedidas ao Poder Judiciário: 
A Constituição Federal reservou ao Poder Legislativo as capacidades institucionais e a 
legitimidade democrática para definir, como se busca nesta ADPF, que a conduta de 
interrupção da gravidez nas 12 primeiras semanas de gestação não mereça ser tipificada 
como crime, nos termos dos arts. 124 e 126 do Código Penal. 
Desde setembro de 2020 os autos estão conclusos à relatora. Aguardemos o processo 
ser pautado, para, enfim, ser julgado e a questão decidida. 
Por fim, lembremos que na ADI 5581, relatada pela Min. Cármen Lúcia, o STF apreciaria 
a possibilidade da interrupção da gravidez de mulheres contaminadas pelo vírus zika 
(condição que pode levar ao parto de crianças com microcefalia). No entanto, em maio de 
2020, o plenário do STF, por unanimidade, julgou prejudicada a ação direta. O colegiado 
acompanhou a relatora, ministra Cármen Lúcia, pela perda do objeto da ação – diante da 
revogação (pela Medida Provisória 894/2019) do principal ponto questionado na arguição: 
a norma que institui pensão vitalícia a crianças com microcefalia decorrente do zika vírus. 
No mais, a relatora firmou que a Anadep não tem legitimidade para a propositura da ADPF, 
pois a jurisprudência do STF somente reconhece a legitimidade das entidades de classe 
nacionais para o ajuizamento de ação de controle abstrato se houver nexo de afinidade 
entre os seus objetivos institucionais e o conteúdo dos textos normativos. 
Note, estimado leitor, que a extinção dessa ação só adiou uma discussão relevante, que 
as principais supremas cortes e tribunais constitucionais do mundo em algum momento já 
enfrentaram: o tratamento constitucional e legal a ser dado à interrupção de gestação, à 
proteção jurídica do feto e aos direitos fundamentais da mulher. 
4. DIREITO À IGUALDADE 
4.2. Princípio da isonomia X ações afirmativas 
(...) 
Cumpre também apresentar a decisão proferida pelo STF, em março de 2020, na ADI 
4868. Nesta ação, a Corte concluiu que era inconstitucional a lei distrital que estabeleceu 
que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do Distrito Federal deveriam ser 
reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. Note, 
estimado leitor, que a inconstitucionalidade não deriva, por óbvio, do fato de ter sido 
estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter 
restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de 
outros Estados da Federação. Assim, por restringir a política inclusiva somente aos alunos 
que estudaram no Distrito Federal, acabou por violar o art. 3º, IV e o art. 19, III, da CF/88, 
tendo em vista que promoveu uma inaceitável diferenciação entre brasileiros. 
(C) Controvérsias em torno da incidência da liberdade religiosa 
Nossa doutrina e jurisprudência já enfrentaram interessantes casos em que essa 
perspectiva da liberdade foi debatida; vejamos os mais relevantes. 
(i) O Estado deve oferecer, sempre que possível, alternativas de datas para pessoas que 
não possam prestar concursos públicos ou atividade de serviço público em determinados 
dias por motivos religiosos 
Em novembro de 2020, o STF realizou o julgamento conjunto de dois recursos 
extraordinários (RE 1.099.099 e RE 611.874) nos quais discutiu-se a viabilidade de a 
liberdade religiosa obrigar a Administração Pública a buscar alternativas (de datas e de 
atividades) àqueles que professam fé que imponha particularidades. 
Segundo nossa Corte, em decisão proferida por maioria dos Ministros, é possível a 
alteração de datas e horários de etapas de concurso público para candidato que invoca a 
impossibilidade do comparecimento por motivos religiosos. O colegiado reconheceu, ainda, 
a possibilidade de a administração pública, durante o estágio probatório, estabelecer 
critérios alternativos para o exercício dos deveres funcionais ao servidor público em 
avaliação caso ele não possa prestar as atividades previamente delineadas por razões 
religiosas. 
Imaginemos, para ilustrar o primeiro caso, uma candidata adventista que, por razão 
religiosa, não possa trabalhar ou se esforçar do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de 
sábado. Se ela participa de um concurso e a prova de aptidão físicaé agendada para um 
sábado, ela poderá pleitear a realização da avaliação física em data, horário e local diverso 
do estabelecido no calendário do concurso público. 
Quanto à segunda situação, pense em um professor adventista que tenha sido 
reprovado no estágio probatório por ter se recusado a ministrar aulas às sextas-feiras após 
o pôr-do-sol, tendo faltado inúmeras vezes em virtude da sua convicção religiosa. Ele 
poderá pleitear atividade diversas, em horários compatíveis com sua crença religiosa. 
No final do julgamento, foram fixadas as seguintes teses de repercussão geral: 
- No RE 611874: “Nos termos do artigo 5º, inciso VIII, da Constituição Federal, é possível 
a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em 
edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivos de crença religiosa, 
desde que presente a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos 
os candidatos e que não acarreta ônus desproporcional à administração pública, que deverá 
decidir de maneira fundamentada”. 
- No ARE 1099099: “Nos termos do artigo 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à 
administração pública, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios 
alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, 
em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, 
desde que, presente a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento no 
exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à administração pública, que 
deverá decidir de maneira fundamentada”. 
Perceba, estimado leitor, que o STF reconheceu que a liberdade religiosa não é mera 
divagação acadêmica, determinando que – sempre que seja possível e razoável – o Estado 
deva promover as alterações necessárias (em datas ou atividades) para acomodar o pleno 
exercício da liberdade religiosa. 
 
3.5. Outros debates acerca da privacidade e intimidade: Direito ao esquecimento e 
proteção às mensagens de WhatsApp 
 Para finalizarmos o estudo acerca do inciso X do art. 5°, ainda existem dois importantes 
tópicos a serem enfrentados. Vejamos: 
(A) Direito ao esquecimento 
(...) 
Vale aqui um aparte na discussão sobre o ‘direito ao esquecimento’ para informar ao 
estimado leitor que essa decisão monocrática do Min. Rogerio Schietti Cruz (que se valeu 
do “direito ao esquecimento” para julgar como inadequada a exasperação da pena-base do 
paciente por considerar que a existência de condenação anterior, cuja pena houvera sido 
extinta há mais de 25 anos, impediria o reconhecimento de maus antecedentes) já não se 
coaduna com o atual posicionamento do STF sobre o tema. 
Se antes as Turmas do STF1 vinham se dividindo ao apreciar a questão, manifestando-
se ora pela caducidade dos maus antecedentes, ora pela não caducidade, essa polêmica foi 
dirimida em agosto de 2020, quando a Corte proferiu, por maioria, um pronunciamento 
definitivo a respeito no julgamento do RE 593.8182 (com repercussão geral reconhecida). 
Segundo entendeu o STF, as condenações criminais extintas há mais de cinco anos podem 
ser consideradas como maus antecedentes para a fixação da pena-base em novo processo 
criminal. De acordo com o entendimento da maioria dos Ministros, o instituto dos maus 
antecedentes não é utilizado para a formação da culpa, mas para subsidiar a 
 
1. Precedente favorável à caducidade: Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes. Condenação. 3. Aumento da pena-base. Não 
aplicação da causa de diminuição do § 4º do art. 33, da Lei 11.343/06. 4. Período depurador de 5 anos estabelecido pelo art. 64, I, 
do CP. Maus antecedentes não caracterizados. Decorridos mais de 5 anos desde a extinção da pena da condenação anterior (CP, 
art. 64, I), não é possível alargar a interpretação de modo a permitir o reconhecimento dos maus antecedentes. Aplicação do 
princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana. 5. Direito ao esquecimento. 6. Fixação do regime 
prisional inicial fechado com base na vedação da Lei 8.072/90. Inconstitucionalidade. 7. Ordem concedida. (HC 126.315, Rel. Min. 
Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 15/09/2015). Mais recentemente: HC 138.802, Rel.: Min. Ricardo Lewandowski, 
Segunda Turma, julgado em 25/04/2017. 
 Precedente contrário à caducidade: Penal. Habeas Corpus substitutivo de revisão criminal. Crime de Furto. Maus antecedentes. 
Peculiaridades da causa que autorizam a concessão da ordem de ofício. 1. A Primeira Turma do STF já decidiu que condenações 
anteriores, alcançadas pelo decurso do prazo de 5 anos, embora afastem a reincidência, não impedem os maus antecedentes . 
Precedente: ARE 925.136-AgR, Rel. Min. Edson Fachin. 2. Situação concreta em que o paciente está condenado a 2 anos, 7 meses 
e 15 dias de reclusão, em regime fechado, por furto qualificado de um botijão de gás. Nessas condições, ante o reduzido grau de 
reprovabilidade da conduta e atento à tese adotada pelo Plenário, nos HCs 123.734, 123.533 e 123.108, Rel. Min. Luís Roberto 
Barroso, a ordem deve ser concedida de ofício para, na linha de precedente recente desta Primeira Turma (HC 137.217), fixar 
desde logo o regime aberto. 3. Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para fixar o regime aberto. (HC 144209, 
Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão: Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, julgado em 27/11/2018). 
2. “Matéria penal. Fixação da pena-base. Circunstâncias judiciais. Maus antecedentes. Sentença condenatória extinta há mais de cinco 
anos. Princípio da presunção de não-culpabilidade. Manifestação pelo reconhecimento do requisito de repercussão geral para 
apreciação do recurso extraordinário. Tema 150 – RE 593818 RG, Rel. Min. Roberto Barroso. 
discricionariedade do julgador na fase de dosimetria da pena, quando já houve a 
condenação. A tese de repercussão geral fixada no julgamento foi a seguinte: "Não se aplica 
para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da 
reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal3". 
Retomando o tema central deste item, é certo que o debate referente ao “Direito ao 
esquecimento” tem ganhado destaque, sobretudo em razão dos já citados 
pronunciamentos do STJ, mas também da aprovação de um enunciado na VI Jornada de 
Direito Civil4, bem como por estar pendente de julgamento no STF a apreciação do RE 
1010606 (reconhecida a existência de repercussão geral – Tema 786), em que se discute a 
possibilidade de serem relembrados fatos criminosos do passado, já esquecidos pela 
sociedade. 
Sobre o RE 1010606, em junho de 2017 o STF realizou audiência pública para ouvir o 
depoimento de autoridades e expertos sobre (i) a possibilidade de a vítima ou seus 
familiares invocarem a aplicação do direito ao esquecimento na esfera civil e (ii) a definição 
do conteúdo jurídico desse direito, considerando-se a harmonização dos princípios 
constitucionais da liberdade de expressão e do direito à informação com aqueles que 
protegem a dignidade da pessoa humana e a inviolabilidade da honra e da intimidade. 
Realizada a audiência e colhido novo parecer da PGR, o julgamento deste recurso havia 
sido pautado para 30.09.2020, mas, como de costume, foi retirado da agenda do STF sem 
qualquer explicação consistente5 e indicação de nova data de julgamento. 
O estudo do assunto no direito pátrio, pois, ainda está em evolução; aguardemos os 
novos desdobramentos doutrinários e jurisprudenciais. 
 
 
 
Obs.: Atualização que sairá na 10ª ed. (ano 2022): 
 
3. Código Penal. Art. 64 - Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - não prevalece a condenação 
anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiverdecorrido período de tempo superior a 
5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). 
4. Enunciado 531 – A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. 
5. Em verdade, há sempre a apresentação daquela costumeira justificativa, de que os processos julgados antes na mesma sessão não 
permitiram que o caso fosse apregoado, em razão da exiguidade de tempo. 
STF conclui que direito ao esquecimento é incompatível com a Constituição Federal6 
Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação 
devem ser analisados caso a caso. 
11/02/2021 20h03 
Por decisão majoritária, nesta quinta-feira (11), o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu 
que é incompatível com a Constituição Federal a ideia de um direito ao esquecimento que 
possibilite impedir, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados 
verídicos em meios de comunicação. Segundo a Corte, eventuais excessos ou abusos no 
exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, com 
base em parâmetros constitucionais e na legislação penal e civil. 
O Tribunal, por maioria dos votos, negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 
1010606, com repercussão geral reconhecida, em que familiares da vítima de um crime de 
grande repercussão nos anos 1950 no Rio de Janeiro buscavam reparação pela 
reconstituição do caso, em 2004, no programa “Linha Direta”, da TV Globo, sem a sua 
autorização. Após quatro sessões de debates, o julgamento foi concluído hoje, com a 
apresentação de mais cinco votos (ministra Cármen Lúcia e ministros Ricardo Lewandowski, 
Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Luiz Fux). 
(B) Proteção às mensagens de WhatsApp 
No mês de outubro de 2020, A 2ª Turma do STF (por maioria) absolveu um indivíduo 
que havia sido condenado por tráfico de drogas e posse ilegal de arma depois de policiais 
terem apreendido o celular dele e acessado conversas que indicariam o cometimento dos 
crimes. Para o relator, Ministro Gilmar Mendes, todas as provas foram obtidas por acesso 
ilegal à conta de WhatsApp, já que não houve autorização judicial para tal. 
Nota-se, com o proferimento dessa decisão, o reconhecimento (por parte de alguns 
Ministros do STF) de que tais dados e informações encontram-se abrangidos pela proteção 
à intimidade e à privacidade, constante do inciso X do art. 5°, CF/88. 
Lembremos, ademais, que o próprio STJ já havia assentado – em acórdão publicado em 
5.12.2017, nos autos do RHC 89.981 – a necessidade de autorização judicial para acesso a 
dados constantes do aplicativo WhatsApp, de cujo teor podemos extrair o seguinte trecho: 
Contudo, embora a situação retratada nos autos não esteja protegida pela Lei n. 
9.296/1996 nem pela Lei n. 12.965/2014, haja vista não se tratar de quebra sigilo 
telefônico por meio de interceptação ou de acesso a mensagens de texto armazenadas, 
 
6 https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=460414&ori=1 
ou seja, embora não se trate violação da garantia de inviolabilidade das comunicações, 
prevista no art. 5º, inciso XII, da Constituição Federal, houve sim violação dos dados 
armazenados no celular de um dos acusados. De fato, deveria a autoridade policial, após 
a apreensão do telefone, ter requerido judicialmente a quebra do sigilo dos dados 
armazenados, haja vista garantia, igualmente constitucional, à inviolabilidade da 
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, prevista no art. 5º, inciso 
X, da Constituição Federal. Assim, a análise dos dados armazenados nas conversas de 
Whatsapp, revela manifesta violação da garantia constitucional à intimidade e à vida 
privada, razão pela qual se revela imprescindível a autorização judicial devidamente 
motivada, o que nem sequer foi requerido. (grifos nossos). 
 
3.6. Sigilos pessoais 
3.6.3. Sigilo de dados 
3.6.3.1. Dados bancários 
(viii) Recomendamos ao leitor que tenha também atenção à tese fixada pelo STF RE 
1.055.941, que discutia a possibilidade de o Ministério Público obter diretamente dados 
bancários e fiscais de contribuintes junto ao Fisco para fins penais. Por maioria, em 
novembro de 2019, o STF decidiu que é constitucional o compartilhamento com o 
Ministério Público, para fins penais, dos dados bancários e fiscais de contribuintes obtidos 
pelo Fisco (pela Receita Federal e pela Unidade de Inteligência Financeira - UIF) no exercício 
do dever de fiscalizar, sem a intermediação prévia do Poder Judiciário. Vejamos a tese que 
foi fixada pela Corte: 
1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e 
da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil, que define o 
lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem a 
obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das 
informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle 
jurisdicional. 
 2. O compartilhamento pela UIF e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser 
feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação 
do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de 
eventuais desvios. 
 
 
3.6.2. Sigilo de correspondência 
(...) 
Ainda sobre o tema, em agosto de 2020, o STF fixou a seguinte tese: “Sem autorização 
judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta, 
telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, 
Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin” (Repercussão Geral – Tema 1041). Neste caso, por 
maioria, os Ministros decidiram manter a posição que prevalece na Corte, no sentido de 
que é possível a abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo apenas em duas 
situações: (i) quando houver prévia autorização judicial; (ii) nas hipóteses em que a lei 
autoriza que os agentes públicos abram a correspondência (neste caso, não é exigida a 
autorização judicial porque se considera que, em razão da natureza do serviço, não há 
violação do sigilo). 
 
4. DIREITO À IGUALDADE 
4.4. Igualdade e identidade de gênero 
(v) Por último, é também importante citar uma decisão proferida pelo STF em maio de 
2020, na qual o Plenário, por maioria de votos (7x4), considerou inconstitucionais 
dispositivos de normas do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(Anvisa) que excluíam do rol de habilitados para doação de sangue os “homens que tiveram 
relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais destes nos 12 meses 
antecedentes". Prevaleceu o voto do relator, ministro Edson Fachin, no sentido de julgar 
procedente a ADI 5543, para declarar a inconstitucionalidade de dispositivos da Portaria 
158/2016 do Ministério da Saúde e da Resolução RDC 34/2014 da Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária7 – normas que relacionavam a proibição a critérios que consideravam o 
perfil de homens homossexuais com vida sexual ativa à possibilidade de contágio por 
doenças sexualmente transmissíveis (DST). Segundo a maioria dos Ministros, o 
estabelecimento de um grupo de risco com base em sua orientação sexual não é justificável. 
Os critérios para a seleção de doadores de sangue devem favorecer a apuração de condutas 
de risco, do contrário, só estarão criando um tratamento desigual e desrespeitoso com 
relação aos homossexuais, baseado no preconceito e não no verdadeiro conhecimento 
sobre os fatores de risco a que o doador foi exposto. 
 
7. Caro leitor, caso você esteja com dúvidas acerca da possibilidade de uma portaria e uma resolução poderem ser objeto deADI, cumpre 
informá-lo que o Min. relator, Edson Fachin, enfrentou a questão referente ao objeto. Segundo ele: “No que toca ao objeto impugnado, 
constato que tanto o art. 64, IV, da Portaria nº 158/2016 do Ministério da Saúde, quanto o art. 25, XXX, “d”, da Resolução da Diretoria 
Colegiada RDC nº 34/2014 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), constituem atos normativos federais que se revestem 
de conteúdo regulatório dotado de abstração, generalidade e impessoalidade, possuindo alta densidade normativa e não se 
caracterizando como simples atos regulamentares. Assim, adequado o instrumento utilizado para a aferição de sua constitucionalidade.” 
(grifos nossos). 
 
4.5. Aplicação do princípio da isonomia nos critérios de admissão em concurso público 
(...) 
É, portanto, constitucionalmente legítima a previsão em edital de requisitos 
diferenciados de admissão desde que haja: 
(a) previsão legal definindo quais são os critérios; 
(b) razoabilidade da previsão, afinal, conforme entendimento da Suprema Corte8, a 
distinção só será constitucionalmente legítima quando justificada pela natureza das 
atribuições dos cargos a serem preenchidos. 
Corroborando este entendimento, manifestou-se o STF nos seguintes termos: 
o critério de diferenciação de idade somente é autorizado pela Constituição Federal 
quando decorrer da natureza do cargo público a ser ocupado, a teor do art. 39, § 3º, sendo 
vedado nos demais casos, em obediência ao princípio da isonomia. A regra geral é o acesso 
de todos aos cargos públicos, salvo limitações decorrentes de lei. Essas ressalvas podem 
ocorrer, por exemplo, em razão da idade, altura, colação de grau em nível superior ou 
tempo de prática profissional. Entretanto, elas só são legítimas se forem fixadas, de forma 
razoável, para atender as exigências das funções do cargo a ser preenchido9. 
Outra manifestação da Corte sobre o tema que é digna de destaque foi proferida em 
dezembro de 2020, na ADI 5329. Na ocasião, foi declarado inconstitucional o requisito 
previsto no artigo 52, inciso V, da Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e dos 
Territórios (Lei 11.697/2008), que exigia a idade mínima de 25 anos e máxima de 50 para 
ingresso na carreira da magistratura do Distrito Federal e dos Territórios. De acordo com os 
Ministros, o artigo 93 da Constituição Federal prevê, como requisitos basilares para o 
ingresso na carreira inicial da magistratura, a aprovação em concurso público de provas e 
títulos, o bacharelado em Direito e o mínimo de três anos de atividade jurídica. Ademais, o 
estabelecimento de um limite máximo de idade para investidura em cargo cujas atribuições 
são de natureza preponderantemente intelectual contraria o entendimento do STF de que 
restrições desse tipo somente se justificam em vista de necessidade relacionada às 
atribuições do cargo, como ocorre em carreiras militares ou policiais. Pelas características 
próprias da atividade jurisdicional, em que a experiência profissional e o conhecimento 
jurídico acumulado qualificam o exercício da função, o atingimento da idade de 50 anos, 
por si só, não desabona o candidato (ao contrário, tudo indica que a pessoa estará no gozo 
 
8. Súmula 683, STF: “O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da CF/88, quando 
possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”. 
9. RE 523.737, Rel. Min. Ellen Gracie. 
de sua plena capacidade produtiva). 
(...) 
(v) Sobre o mesmo assunto, vale destacar a decisão do CNJ (Conselho Nacional de 
Justiça) proferida em setembro de 2020, na qual foi firmado que as candidatas ao concurso 
para magistratura no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) que estão em estágios avançados 
de gravidez podem remarcar a data da prova oral do processo seletivo. Não será permitido, 
no entanto, a realização da etapa oral por meio de videoconferência. 
 
5.5. Liberdade de profissão 
(...) 
Nota-se que na percepção do STF nem todos os ofícios ou profissões podem ser 
condicionadas ao cumprimento de condições legais para seu exercício, afinal, nos termos 
da Constituição, a regra é a liberdade profissional. Deste modo, somente quando houver 
potencial lesivo na atividade é que podem ser exigidos requisitos para a profissão ou o 
ofício serem exercitados, lembrando que referidos requisitos devem guardar nexo lógico 
com as funções e atividades a serem empenhadas. 
Para exemplificar, lembremos de algumas decisões interessantes proferidas pelo STF: 
(i) Em agosto de 2020, no RE 1156197, a Corte confirmou que a restrição imposta pela 
Lei 13.021/2014 – no sentido de que apenas farmacêuticos legalmente habilitados10 podem 
figurar como responsáveis técnicos de farmácias e drogarias – é compatível com o 5º XIII, 
da Constituição Federal. Segundo os Ministros, considerada a proteção à saúde, o objetivo 
maior da Lei nº 13.021/2014 foi o de evitar, tanto quanto possível, danos à coletividade. 
Afinal, a atividade de responsável técnico por drogaria ou farmácia é considerada de risco 
para a coletividade, caso seja prestada de modo inadequado, de modo que deve mesmo 
ser desempenhada por pessoa com conhecimento técnico suficiente. 
 
 
5.7. Liberdade de reunião 
(...) 
(iii) Insta informar o leitor que em 14 dezembro de 2020 foi encerrado no Plenário 
 
10. Em regra, será o farmacêutico (graduado no curso superior de farmácia), inscrito no Conselho Regional de Farmácia. 
Virtual do STF o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 806.339, com repercussão geral 
reconhecida. Discutiu-se a exigência de aviso prévio à autoridade competente como 
pressuposto para o legítimo exercício da liberdade de reunião, previsto no inciso XVI do 
artigo 5º da Constituição Federal. Por apertada maioria (6X5), a Corte concluiu que a 
inexistência de notificação não torna a reunião ilegal – nos dizeres de Barroso, que votou 
com esta segunda corrente, eventual ausência de prévio aviso para o exercício do direito 
de reunião não transforma a manifestação em ato ilícito pois o Poder Público pode 
legitimamente impedir o bloqueio integral de via pública para assegurar o direito de 
locomoção de todos. Fachin, que em divergência com o relator abriu a corrente vencedora, 
propôs a seguinte tese: “A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito 
de reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público zelar 
para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no 
mesmo local”. 
Até a data de fechamento desta edição (22/12/2020), os votos dos Ministros ainda não 
tinham sido disponibilizados, tampouco a decisão havia sido noticiada no Informativo da 
Corte (também não havia sido ainda disponibilizada a tese fixada). Aguardemos, pois, tais 
publicações acontecerem, para compreendermos com mais exatidão o que foi que restou 
decidido pelo STF. Infelizmente, já vislumbramos que o julgamento possa ter deixado de 
apreciar aspectos relevantes ao enfrentamento da matéria tematizada no Recurso 
Extraordinário. 
Em nosso sentir, a Corte deveria ter aproveitado o julgamento deste RE para definir 
com alguma precisão o alcance da exigência de “prévio aviso à autoridade competente”. 
Pensamos que a expressa exigência constitucional da comunicação prévia deve ser 
observada, mas nada há na CF/88 que imponha uma forma específica para que ela se 
realize. Logo, tal comunicação pode ser efetivada de múltiplas maneiras, desde que, além 
de tempestiva, efetivamente alcance a autoridade competente (ainda que de modo 
informal). Ademais, a comunicação deverá conter, no mínimo, as informações úteis sobre 
o evento, tais como, o local e horário da reunião, o número aproximado de participantes e 
alguma síntese acerca da sua forma de realização(ou seja, se a reunião contará com 
palanques ou aparelhos de amplificação sonora etc.). Referidas informações servem, tão 
somente, para auxiliar o Poder Público na tomada de providências de cunho organizacional, 
de modo a tutelar não só os direitos dos manifestantes, mas também os de terceiros alheios 
à manifestação. Em nenhuma circunstância o Poder Público poderá controlar o mérito da 
realização da reunião (os motivos ou seu objeto), justamente para não violar a previsão 
constitucional do art. 5°, XVI. Enfim, aguardemos a publicação da decisão e da tese que dela 
poderá ser extraída. 
 
6.3.2. Requisição 
A requisição é uma forma de intervenção pública no direito de propriedade em 
situações emergenciais, em que há iminente perigo público e a autoridade competente 
precisa usar temporariamente uma propriedade (ou um bem ou um serviço) particular (art. 
5º, XXV). 
Existindo na modalidade civil (art. 5º, XXV, CF/88) e na militar (art. 139, VII, da CF/88), 
na requisição não se fala em perda da propriedade (supressão de domínio), mas apenas em 
uso do bem pelo Estado visando atender o interesse público. 
Trata-se de situação de urgência em que o Poder Público não tem tempo suficiente para 
a adoção de providências alternativas que não dependam da interferência nos bens 
particulares. O Estado precisa da propriedade privada11, a utiliza (de forma compulsória) e 
a devolve ao proprietário logo após a ação. Caso o uso acarrete danos, há de ser fixada uma 
indenização. Caso contrário, não tendo ocorrido qualquer avaria ao bem utilizado, a 
indenização não se faz necessária. Vê-se, pois, que é em razão da necessária comprovação 
de existência de dano, que a indenização será sempre posterior. 
 
(...) 
O instituto da requisição administrativa foi bastante debatido no ano de 2020, durante 
o combate à pandemia da Covid-19. O STF se pronunciou sobre o tema na ADI 6362 (julgada 
em setembro/2020), determinando que os Estados-membros, o Distrito Federal e os 
Municípios podem, no exercício de suas competências constitucionais, decretar a 
requisição administrativa prevista na Lei nº 13.979/202012. Assim, restou firmado pela 
nossa Corte Suprema que os gestores locais de saúde (secretarias estaduais e municipais, 
por exemplo) façam as requisições de bens e serviços (como a utilização de leitos de UTIs 
de hospitais privados, dentre outros recursos) mesmo sem autorização do Ministério da 
Saúde. Um dos fundamentos centrais utilizados pelo STF foi o de que constitui competência 
 
11. Vale frisar que a requisição só atinge bens particulares, não bens de outros entes federados. Partindo dessa premissa, o Min. Celso de 
Mello (aposentado em outubro de 2020), em abril de 2020 (durante o combate à pandemia decorrente da Covid-19), determinou que a 
União não poderia requisitar respiradores que tinham sido adquiridos pelo governo do Maranhão (Ação Cível Originária - ACO 3385). O 
Estado do Maranhão, ao pedir a suspensão da medida que houvera sido determinada pela União, argumentou que a autonomia dos 
entes federados impediria que um deles (no caso, a União) assumisse, mediante simples requisição administrativa, o patrimônio, o quadro 
de pessoal e os serviços de outro ente público. A única ressalva seria a excepcional circunstância de se tratar de requisição federal de 
bens públicos na vigência do estado de defesa (CF, art. 136, § 1º, II) ou do estado de sítio (CF, art. 139, inciso VII). Ademais, por se tratar 
de conflito federativo, o STF era a instância adequada para decidir o tema (art. 102, I, ‘f’, CF/88). 
12. Lei federal editada em fevereiro de 2020, estabelecendo medidas para o enfrentamento do coronavírus. 
comum da União, Estados, DF e Municípios “cuidar da saúde e assistência pública” (art. 23, 
II) – o que significa que a defesa da saúde é atribuição de todas as unidades federadas, que 
será efetivada sem que os entes dependam da autorização de outros níveis governamentais 
para levá-las a efeito, cumprindo-lhes, tão somente, consultar o interesse público que, por 
obrigação constitucional, os entes têm de preservar. 
 
19. INTRANSCENDÊNCIA DA PENA 
(...) 
Sobre o tema, vale mencionar a ADI 3092, julgada pelo STF em junho de 2020. Nesta 
ação, a Corte declarou inconstitucional uma lei estadual que proíba que a Administração 
Pública contratasse empresa cujo diretor, gerente ou empregado tivesse sido condenado 
por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. Segundo 
entenderam os Ministros, a situação imposta pela lei impugnada resultava em ofensa ao 
princípio da intransmissibilidade da pena, princípio que preconiza que as restrições jurídicas 
decorrentes de processo judicial ou administrativo não podem transbordar a dimensão 
estritamente pessoal do infrator, para atingir direitos de terceiros. 
 
 Cap. 6: (“Direitos Sociais”): 
8. JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE 
(5) Em maio de 2016, no julgamento de liminar na ADI 5501, o STF se valeu do princípio 
da dignidade da pessoa humana para suspender a eficácia da Lei nº 13.269/2016, 
que permitia o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do 
câncer”. Em decisão tomada por maioria de votos, os Ministros acolheram o 
argumento apresentado pela Associação Médica Brasileira (AMB), autora da ação, 
de que em razão da ausência de testes da substância em seres humanos e do 
desconhecimento acerca da eficácia do medicamento e dos efeitos colaterais, sua 
liberação seria incompatível com alguns dos mais caros direitos fundamentais 
constitucionais, como o direito à saúde, à segurança e à vida. Em outubro de 2020, 
por maioria, o Plenário do STF confirmou a medida liminar e declarou a 
inconstitucionalidade da lei – para mais informações sobre este julgamento, veja o 
Cap. 21, Ordem Social, no item 2.5. 
(6) Em setembro de 2016, um pedido de vista do saudoso Ministro Teori Zavascki 
suspendeu o julgamento conjunto de dois importantes Recursos Extraordinários 
(REs), o 566.471 e o 657.718: 
- O RE 566.47113 trata do fornecimento de remédios de alto custo não disponíveis 
na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e estava pendente de análise. Eis que, em 
março de 2020, o STF decidiu que o Estado não é obrigado a fornecer 
medicamentos de alto custo solicitados judicialmente, quando não estiverem 
previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter 
Excepcional, do Sistema Único de Saúde (SUS). As situações excepcionais ainda 
serão definidas na formulação da tese de repercussão geral (Tema 6) – o Tribunal 
deliberou fixar a tese de repercussão geral em assentada posterior, isto é, a decisão 
sobre os critérios de excepcionalidade, foi adiada para outra oportunidade. 
Aguardemos. 
 
(7) Para finalizarmos, uma última decisão do STF, proferida em dezembro de 2020, 
referente às medidas de combate à pandemia da Covid-19. O Plenário da Corte 
Suprema decidiu que o Estado pode determinar aos cidadãos que se submetam, 
compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei 13.979/2020. De 
acordo com a decisão, o Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação 
as medidas restritivas previstas em lei (multa, impedimento de frequentar 
determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode fazer a imunização 
à força (em outras palavras: é constitucional a vacinação compulsória, mas a 
obrigatoriedade não pressupõe forçar, pois depende do consentimento do 
cidadão). Também ficou definido que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 
têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação. O entendimento foi 
firmado no julgamento conjunto das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 
6586 e 6587, que tratam unicamente de vacinação contra a Covid-19, e do Recurso 
Extraordinário com Agravo (ARE) 1267879, em que se discute o direito à recusa à 
imunização por convicções filosóficas oureligiosas. 
A tese de repercussão geral fixada no ARE 1267879 foi a seguinte: “É 
constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada 
em órgão de vigilância sanitária, tenha sido incluída no plano nacional de 
imunizações; ou tenha sua aplicação obrigatória decretada em lei; ou seja objeto 
de determinação da União, dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios com 
base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à 
liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem 
 
13. Rel. Min. Marco Aurélio, reconhecida a repercussão geral em 03.12.2007. 
tampouco ao poder familiar”. 
Nas ADIs, foi fixada a seguinte tese: 
(I) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, facultada a recusa do 
usuário, podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as 
quais compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou 
à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela 
decorrentes, e tenham como base evidências científicas e análises estratégicas 
pertinentes, venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, 
segurança e contraindicações dos imunizantes, respeitem a dignidade humana e os 
direitos fundamentais das pessoas; atendam aos critérios de razoabilidade e 
proporcionalidade; e sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente. 
(II) Tais medidas, com as limitações expostas, podem ser implementadas tanto pela 
União como pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, respeitadas as 
respectivas esferas de competência. 
 
9. VEDAÇÃO DO RETROCESSO 
Em outubro de 2020, no julgamento da ADI 2096, o STF se valeu do conceito de vedação 
ao retrocesso social para declarar a constitucionalidade do art. 7°, inciso XXXIII (com 
redação dada pela EC nº 20/1998), que proíbe qualquer tipo de trabalho a menores de 16 
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. A CNTI (Confederação Nacional 
dos Trabalhadores na Indústria), autora da ação, lembrou na petição inicial que antes da 
edição da emenda era vedado qualquer trabalho a menores de 14 anos e alegou que a 
proibição instituída pela EC nº 20 violava direitos fundamentais dos adolescentes, 
notadamente o direito básico ao trabalho. A entidade buscava, portanto, o retorno à regra 
anterior, que permitia que adolescentes com 14 anos já trabalhassem. 
O Min. Celso de Mello (aposentado no 2° semestre de 2020), relatou a ação e votou 
argumentando que retornar à regra anterior, em que menores de 16 anos poderiam 
trabalhar, significaria um retrocesso. Em suas palavras: 
O retrocesso em matéria social traduz, no processo de sua concretização, verdadeira 
dimensão negativa pertinente aos direitos sociais de natureza prestacional (como o 
direito à saúde), impedindo, em consequência, que os níveis de concretização dessas 
prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos ou suprimidos, exceto na 
hipótese – de todo inocorrente na espécie – em que políticas compensatórias venham a 
ser implementadas pelas instâncias governamentais. (grifos nossos). 
 
 Cap. 7: (“Direito de Nacionalidade”): 
(...) 
(M.3) Expulsão 
(vi) A expulsão não pode ser decretada quando (art. 55, Lei de Migração): 
(a) a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira; 
(b) o expulsando: 
(b.1) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica 
ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; 
(b.2) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação 
alguma, reconhecido judicial ou legalmente; 
(b.3) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde 
então no País; e 
(b.4) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 
(dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão. 
(vii) Acerca do item (b.1), vale mencionar uma decisão liminar no Habeas Corpus 
148.558 concedida pelo Ministro Marco Aurélio em 18.12.2017, na qual ele deferiu liminar 
para suspender a expulsão do território nacional do cidadão camaronês Lawrence Ndiefe, 
colocado em liberdade após cumprir pena por tráfico de drogas. Ndiefe tem uma filha 
brasileira, nascida após a edição da portaria do Ministério da Justiça que determinou sua 
expulsão, mas, de acordo com o que observou o relator, a nova Lei de Migração, ao revogar 
o Estatuto do Estrangeiro, afastou qualquer condicionante cronológica quanto ao 
nascimento de filhos no país, bastando a existência de descendente brasileiro que esteja 
sob a guarda ou dependência econômica ou socioafetiva do estrangeiro para impedir a 
expulsão. Em outras palavras: a lei anterior previa que não era possível proceder à expulsão 
quando o estrangeiro tivesse filho brasileiro que, comprovadamente, estivesse sob sua 
guarda e dele dependesse economicamente. Não constituíam, todavia, impedimento à 
expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que 
tivesse motivado o decreto expulsório. Já a nova Lei de Migração, que entrou em vigor no 
dia 21 de novembro, simplesmente prevê que a expulsão não ocorrerá, entre outros casos, 
“se o estrangeiro tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica 
ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela”14. 
 
14. Em junho de 2020 o STF confirmou essa hipótese, no julgamento do RE 608898/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, 
(Repercussão Geral – Tema 373; noticiado no Info 983): “O § 1º do art. 75 da Lei nº 6.815/80 não foi 
recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sendo vedada a expulsão de estrangeiro cujo filho brasileiro 
 
8. PERDA DA NACIONALIDADE 
Em 2020 foi a vez de a 2ª Turma do STF confirmar essa possibilidade: por maioria de 
votos (em fevereiro de 2020, no MS 36.359), os ministros reafirmaram que o brasileiro nato 
perde nossa nacionalidade em razão da aquisição de outra nacionalidade fora das hipóteses 
constitucionalmente previstas (no art. 12, § 4°) e, na sequência, pode ser submetido ao 
processo extradicional (em setembro de 2020, na Ext. 1630, foi concedida por unanimidade 
na 2ª Turma a extradição do empresário Carlos Wanzeler para os EUA). 
 
 Cap. 8: (“Direitos Políticos e Partidos Políticos”): 
8. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE (OU ANUALIDADE) ELEITORAL 
(iii) Um último, mas muito importante item, acerca do princípio da anterioridade eleitoral. 
Caso você se pergunte o porquê de essa norma ter sido instituída, procure notar que ela 
garante a estabilidade das normas que disciplinam a disputa pelo poder político, impedindo 
alterações casuísticas realizadas no curso do processo eleitoral. O intuito central deste 
princípio é, portanto, o de impedir que as regras do ‘jogo eleitoral’ sejam modificadas às 
vésperas do pleito, para beneficiar um grupo político (ou um partido, ou um candidato) 
específico. É a ideia da não surpresa! Há no artigo 16, CF/88 uma demonstração de nítida 
preocupação do Poder Constituinte Originário com o princípio da igualdade, visando 
assegurar que o pleito eleitoral se desenrole em perfeita harmonia com o ideal da isonomia. 
Tendo em conta, portanto, que um dos fundamentos teleológicos do dispositivo em 
análise é justamente o de assegurar a igualdade na disputa das eleições, entendemos que 
não configurou desrespeito à Constituição de 1988 a previsão do art. 2º da EC 107, de 3 de 
julho de 2020 — que expressamente determinou a não incidência do art. 16, CF/88 ao 
disposto na Emenda. Afinal, a excepcionalidade e o ineditismo da crise sanitária planetária 
ocasionada pela Covid-19, que exigiu o adiamento das eleições municipais de 2020, não 
favoreceu/beneficiou/prejudicou nenhum partido ou candidato em específico. Todos foram 
igualmente surpreendidos e atingidos pela pandemia.Destarte, quando a EC 107 determinou, em julho de 2020, o adiamento das eleições 
municipais que aconteceriam em outubro de 2020, não tivemos violação do princípio da 
anterioridade eleitoral, em razão de o art. 2º ter afastado a incidência dessa regra para este 
 
foi reconhecido ou adotado posteriormente ao fato ensejador do ato expulsório, uma vez comprovado estar 
a criança sob a guarda do estrangeiro e deste depender economicamente”. 
específico caso. E tal afastamento só foi possível por não ter colocado em risco o princípio 
da igualdade, norte central que orienta o pleito eleitoral. 
 
9. PARTIDOS POLÍTICOS 
9.6. Financiamento dos Partidos 
Ainda sobre as doações, vale mencionar que o plenário do STF, em decisão unânime 
noticiada em novembro de 2015 (Info 807), concedeu o pedido cautelar na ADI 5394-DF 
para suspender a eficácia do dispositivo da Lei nº 9.504/1997 que permitia doações ocultas 
a candidatos15. O argumento central foi o de que o dispositivo impugnado violava os 
princípios da transparência, da moralidade e favorecia a corrupção, dificultando o 
rastreamento das doações eleitorais. 
Em nossa percepção, a Corte iria mesmo referendar a cautelar (o que se confirmou em 
março de 2018), pois a concessão da medida se deu a partir de reflexões e premissas 
demasiado valorosas. Pedimos vênia, aliás, para transcrever a educativa ementa da ADI 
(MC) 5394: 
1. Os dados relativos aos doadores de campanha interessa[m] não apenas às instâncias 
estatais de controle da regularidade do processo eleitoral, mas à sociedade como um todo, 
e sua divulgação é indispensável para habilitar o eleitor a fazer uma prognose mais realista 
da confiabilidade das promessas de campanha de candidatos e partidos. 
2. O esclarecimento público da realidade do financiamento de campanhas (a) qualifica o 
exercício da cidadania, permitindo uma decisão de voto melhor informada; (b) capacita a 
sociedade civil, inclusive os partidos e candidatos que concorrem entre si, a cooperar com 
as instâncias estatais na verificação da legitimidade do processo eleitoral, fortalecendo o 
controle social sobre a atividade político-partidária; e (c) propicia o aperfeiçoamento da 
própria política legislativa de combate à corrupção eleitoral, ajudando a denunciar as 
fragilidades do modelo e a inspirar propostas de correção futuras. 
3. Sem as informações necessárias, dentre elas a identificação dos particulares que 
contribuíram originariamente para legendas e candidatos, o processo de prestação de 
contas perde sua capacidade de documentar “a real movimentação financeira, os 
dispêndios e recursos aplicados nas campanhas eleitorais” (art. 34, caput, da Lei 
9.096/95), obstruindo o cumprimento, pela Justiça Eleitoral, da relevantíssima 
competência estabelecida no art. 17, III, da CF. 
4. Medida cautelar deferida para suspender, até o julgamento final desta ação, com 
eficácia ex tunc, a expressão “sem individualização dos doadores”, constante da parte final 
do § 12 do art. 28 da Lei federal 9.504/97, acrescentado pela Lei 13.165/15. 
 
15. Art. 28, parágrafo 12, Lei nº 9.504/1997, inserido pela Lei nº 13.165/2015 (Reforma Eleitoral). 
 
Em conclusão, em março de 2018 (em decisão tomada por maioria), o Plenário do 
Supremo Tribunal Federal julgou procedente a ADI 5394 para declarar a invalidade de 
trecho da Lei das Eleições (9.504/1997), introduzido pela Minirreforma Eleitoral (Lei 
13.165/2015), que permitia “doações ocultas” a candidatos. O colegiado acompanhou o 
voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, no sentido da procedência da ADI 
(inconstitucionalidade da norma), sob o fundamento de que as doações ocultas retiram a 
transparência do processo eleitoral e dificultam o controle de contas pela Justiça Eleitoral. 
 
 Cap. 10: (“Organização Político-Administrativa do Estado”): 
4. CLASSIFICAÇÃO DAS FEDERAÇÕES 
4.6. O Pensamento do possível no federalismo cooperativo 
Para encerrarmos o estudo das diferentes classificações que cercam as federações, 
teremos este último tópico, que se conecta ao federalismo cooperativo, tipologia 
apresentada no item 4.3. 
 Em maio de 2020, na Questão de Ordem da ADO 25-DF, o Min. Gilmar Mendes 
apresentou em seu voto a expressão “Pensamento do possível no federalismo 
cooperativo”. Para que você compreenda, estimado leitor, o significado dessa locução, é 
preciso revisitarmos o contexto em que ela foi utilizada, rememorando a paradigmática 
decisão proferida pelo STF na ADO 25, em novembro de 2016. 
Naquela ocasião, o STF reconheceu haver mora, por parte do Congresso Nacional, em 
editar a lei complementar de que trata o art. 91 do ADCT (incluído pela EC nº 42/2003) – 
referida norma seria necessária para estabelecer para os Estados alguma compensação em 
razão das significativas perdas arrecadatórias que eles sofreram em decorrência da política 
econômica adotada pela União que, no intuito de fomentar as exportações, retirou-as da 
incidência do ICMS. Afinal, como essa desoneração das exportações gerou uma diminuição 
da arrecadação tributária dos Estados-membros, esperava-se que fosse editada uma LC 
que, ao regulamentar o art. 91 do ADCT, minimizasse a queda de receitas ocasionada pela 
ampliação da imunidade do ICMS. 
Enquanto essa LC nova não era editava, valia (como regra supletiva prevendo os 
critérios de compensação para os Estados) a Lei Kandir (LC nº 87/96; com a redação dada 
pela LC nº 115/2002). Como os parâmetros trazidos pela Lei Kandir não eram favoráveis aos 
Estados, com o passar do tempo a insatisfação em razão da não edição da LC (que poderia 
prever critérios mais vantajosos) foi aumentando e culminou no ajuizamento da ADO 25. 
Eis que em novembro de 2016 o STF julga procedente a ADO e reconhece a mora do 
Congresso Nacional em editar a lei complementar exigida pelo art. 91 do ADCT. Diante 
disso, o STF fixou um prazo de 12 meses para que o Legislativo fizesse a lei, determinando 
que, na hipótese de transcorrer in albis o mencionado prazo, caberia ao Tribunal de Contas 
da União regulamentar o dispositivo constitucional. 
Veja a ementa da decisão: 
Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. 2. Federalismo fiscal e partilha de 
recursos. 3. Desoneração das exportações e a Emenda Constitucional 42/2003. Medidas 
compensatórias. 4. Omissão inconstitucional. Violação do art. 91 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias (ADCT). Edição de lei complementar. 5. Ação julgada 
procedente para declarar a mora do Congresso Nacional quanto à edição da Lei 
Complementar prevista no art. 91 do ADCT, fixando o prazo de 12 meses para que seja 
sanada a omissão. Após esse prazo, caberá ao Tribunal de Contas da União, enquanto 
não for editada a lei complementar: a) fixar o valor do montante total a ser transferido 
anualmente aos Estados-membros e ao Distrito Federal, considerando os critérios 
dispostos no art. 91 do ADCT; b) calcular o valor das quotas a que cada um deles fará jus, 
considerando os entendimentos entre os Estados-membros e o Distrito Federal 
realizados no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ. STF. 
Plenário. ADO 25/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2016 (Info 849). 
Foi uma verdadeira virada paradigmática pois, pela primeira vez, a Corte 
inequivocamente tratou de estabelecer um prazo para o legislador editar a norma faltante 
e impôs uma consequência ao descumprimento deste prazo. Não há dúvidas de que essa 
decisão representou um passo adiante na natureza meramente recomendatória que se 
tinha no julgamento das ADOs. 
Mas o fato é que o prazo determinado pelo STF vencia e a lei não era elaborada. 
Mantinha-se, pois, a instabilidade político-jurídica (e o consequente abalo para o pacto 
federativo) que o tema suscitava há mais de duas décadas. O STF, tentando compor todosos interesses, acatava pedidos de prorrogação do prazo, compreendendo que fatos 
supervenientes justificariam o abrandamento do termo temporal fixado no julgamento de 
mérito em 2016. 
Eis que em julho de 2019, finalmente, os Estados e a União decidiram negociar um 
inédito acordo em âmbito federativo – homologado pelo STF em maio de 2020 e 
encaminhado ao Congresso Nacional para as providências cabíveis. Desse acordo, que 
finalizou a complexa discussão político-jurídica, nossa federação saiu fortalecida, já que foi 
construído um significativo exemplo de cooperação institucional entre os entes federados. 
E foi justamente em maio de 2020, quando o Min. Gilmar apresentou no plenário do 
STF o seu voto para que a Corte Suprema homologasse o acordo firmado entre Estados e 
União, que foi utilizada a expressão agora em análise. Segundo Gilmar, nesta ADO foi 
inaugurado o “pensamento do possível no Federalismo cooperativo”, uma das facetas mais 
formidáveis da interpretação constitucional. Em seu voto, o ministro assim se manifestou: 
Conclamei que todos os entes federativos, na linha do pensamento do possível, 
dissipassem-se de suas certezas absolutas, interesses estratificados e compreendessem 
aquela oportunidade sob o olhar do federalismo cooperativo, no afã de diminuir as 
tensões/diferenças e aproximar as convergências, chegando a bom termo conciliatório. 
(grifos nossos). 
Essa teoria do “Pensamento do Possível” tem por principal expoente o jurista alemão 
Peter Häberle, um dos mais destacados constitucionalistas contemporâneos e um dos 
doutrinadores mais influentes para o Judiciário brasileiro16. Segundo preceitua o autor, as 
Constituições não são “normas fechadas" (um texto acabado ou definitivo), mas sim um 
projeto em contínuo desenvolvimento, representativo de conquistas e experiências e 
aberto à evolução. Destarte, a interpretação da Constituição não deve ser feita segundo a 
lógica do “um ou outro”, mas consoante um pensamento permanentemente aberto a 
múltiplas alternativas e possibilidades. 
Peter Häberle explica melhor: 
O pensamento do possível é o pensamento em alternativas. Deve estar aberto para 
terceiras ou quartas possibilidades, assim como para compromissos. Pensamento do 
possível é pensamento indagativo (fragendes Denken). Na res publica existe um ethos 
jurídico específico do pensamento em alternativa, que contempla a realidade e a 
necessidade, sem se deixar dominar por elas. O pensamento do possível ou o 
pensamento pluralista de alternativas abre suas perspectivas para “novas” realidades, 
para o fato de que a realidade de hoje pode corrigir a de ontem, especialmente a 
adaptação às necessidades do tempo de uma visão normativa, sem que se considere o 
novo como o melhor.” (Häberle, Peter. Die Verfassung des Pluralismus, Königstein/TS, 
1980, p. 3 apud MENDES, Gilmar Ferreira; DO VALE, André Rufino. O pensamento de 
Peter Häberle na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Conjur/2009). 17 
Apesar de o STF já ter se valido dessa teoria do “Pensamento do Possível” em inúmeras 
outras ocasiões, na homologação do acordo referente às compensações financeiras devidas 
pela União em virtude da desoneração do ICMS para as exportações tivemos a estreia dessa 
construção teórica no âmbito da federação cooperativa. Afinal, todos os atores do pacto 
 
16. Para termos uma pequena dimensão da influência que o jurista tem no constitucionalismo pátrio, lembremos que ele é o criador da 
figura do “amicus curiae”, que atua no controle concentrado para pluralizar o debate constitucional instaurado nas ações diretas. 
17. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2009-abr-10/pensamento-peter-haberle-jurisprudencia-supremo-tribunal-
federal?pagina=3. Consulta feita em 24 de novembro de 2020. 
https://www.conjur.com.br/2009-abr-10/pensamento-peter-haberle-jurisprudencia-supremo-tribunal-federal?pagina=3
https://www.conjur.com.br/2009-abr-10/pensamento-peter-haberle-jurisprudencia-supremo-tribunal-federal?pagina=3
federativo foram chamados para, numa composição amigável, tentarem solucionar o antigo 
e complexo impasse entre as esferas federativas. E para que o consenso fosse alcançado, 
os entes foram conclamados a atuar na linha do ‘pensamento do possível’, abandonando 
certezas absolutas e interesses estratificados, compreendendo a oportunidade de construir 
uma solução sob o olhar do federalismo cooperativo, visando minimizar as 
tensões/diferenças e aproximar as convergências. 
 
5. A FEDERAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 
5.1. Introdução 
(...) 
Acerca de cada um dos entes apresentaremos, a seguir, alguns breves comentários. 
Antes, todavia, vamos comentar um pronunciamento do STF, de setembro de 2020 (na ACO 
3427 Ref-MC/BA), que reforça esse ideal de autonomia. Existe em nosso ordenamento um 
decreto (Decreto nº 5.289/2004) que determina ser de competência do Ministro da Justiça 
determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar em determinado 
Estado-membro ou no Distrito Federal. De acordo com a redação do art. 4º do decreto, a 
determinação do emprego da Força Nacional pode ocorrer de duas maneiras: (i) mediante 
solicitação expressa do Governador formulada ao Ministro da Justiça; (ii) mediante iniciativa 
do próprio Ministro da Justiça, mesmo sem solicitação do Governador. Claro que se a 
solicitação de auxílio é realizada pelo próprio Governador, não há qualquer questionamento 
referente à autonomia dos entes federados que seja digno de destaque. Agora, por outro 
lado, se a determinação de envio da Força Nacional é feita pelo Ministro da Justiça sem que 
tenha havido um prévio pedido do Governador, questiona-se: seria essa atuação 
constitucionalmente válida? Segundo o STF: “É plausível a alegação de que a norma inscrita 
no art. 4º do Decreto 5.289/2004, naquilo em que dispensa a anuência do governador de 
estado no emprego da Força Nacional de Segurança Pública, viole o princípio da autonomia 
estadual”. Assim decidiu o STF, ao apreciar medida liminar em ação cível originária. 
 
 
8.5. Competências dos Estados-membros 
(...) 
(ii) Legislativas privativas: ainda em conformidade com o disposto no art. 25, § 1º, CF/88, 
os Estados-membros poderão legislar sobre os temas que não tenham sido enunciados nem 
para a União, nem para os Municípios, tampouco estejam vedados pela Constituição da 
República. 
Para exemplificar, pensemos na edição de leis sobre transporte público. De um lado a 
Constituição da República destacou expressamente a competência municipal para tratar de 
transporte público local (intramunicipal), conforme art. 30, V, CF/88; no mesmo contexto 
determinou à União a competência para tratar do transporte público interestadual e 
internacional (no art. 21, XII, “e”, CF/88). Nada explicitou, todavia, a respeito da capacidade 
de normatização em se tratando de transporte público intermunicipal (entre Municípios). 
Ora, como os Estados detêm a competência legislativa remanescente, referida atribuição 
os pertence! 
Para exemplificar a competência dos Estados-membros para tratarem do transporte 
público intermunicipal, vejamos duas decisões do STF: 
(i) Na ADI 84518, o STF definiu que: 
Não há no texto constitucional expressa previsão em relação à competência para a 
exploração de serviço de transporte intermunicipal. A Constituição cuidou apenas de 
dispor sobre a competência para explorar os transportes terrestres rodoviários 
interestadual e internacional de passageiros – privativa da União, nos termos do artigo 
21, inciso XII, alínea “e” – e para explorar o transporte coletivo no âmbito local – do 
município, de acordo com o artigo 30, inciso V. Daí a conclusão, ante o disposto no artigo 
25, § 1º, de que a matéria é da competência dos Estados-membros. 
(ii) Em agosto de 2020, na ADI 1052, o STF nos lembrou que sendo competência 
remanescente dos Estados a prerrogativade legislar sobre transporte intermunicipal (art. 
25, § 1º), a lei estadual que concede dois assentos a policiais militares devidamente 
fardados nos transportes coletivos intermunicipais é constitucional e vai ao encontro da 
melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em benefício de 
toda a Sociedade. Nessa decisão, o STF ainda afastou qualquer alegação de desrespeito ao 
princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado é legítimo e razoável, pois 
destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à preservação da 
ordem pública. 
 
8.4. Competências da União 
8.4.2. Legislativas privativas – art. 22, CF/88 
(...) 
Inciso IV – (...) 
 
18. Nesse sentido decidiu o STF na ADI 845-AP, relatada pelo Min. Eros Grau, noticiada no Informativo 489, STF. 
(2) Também no mês de agosto de 2019, o STF declarou (na ADI 5610/BA) a 
inconstitucionalidade de uma lei estadual que proibia as empresas concessionárias de 
energia elétrica de cobrarem pela religação caso houvesse corte no fornecimento de 
energia em razão de atraso no pagamento. Considerou nossa Corte Suprema que referida 
lei estadual afrontava a competência privativa da União para legislar sobre energia, 
desrespeitando, pois, o art. 22, IV e o art. 21, XII, “b”, ambos da CF/88. Assim, se uma 
concessionária suspendeu o fornecimento do serviço de energia elétrica de um consumidor, 
em virtude do seu inadimplemento, e, posteriormente, este quita os débitos e regulariza a 
situação, pode a concessionária cobrar um valor pelo religamento do serviço, sendo 
inconstitucional a lei estadual que proibir tal cobrança. 
Obs.: Esse entendimento foi confirmado (por maioria) em setembro de 2020, na ADI 6190. 
Segundo o STF, é inconstitucional a lei do Estado de Roraima que proibia as distribuidoras 
de energia elétrica de cobrar a taxa de religação de energia depois de o fornecimento ter 
sido cortado por atraso no pagamento da fatura. A norma ofendeu a competência 
legislativa privativa da União para legislar sobre energia elétrica. O relator da ação, Ministro 
Lewandowski, lembrou precedentes do STF em que a Corte declarou a 
inconstitucionalidade de leis estaduais que concediam isenção de pagamento de energia 
elétrica por trabalhadores desempregados e proibiam o corte de energia por falta de 
pagamento sem prévia comunicação ao usuário. 
(...) 
(7) Em junho de 2020 (ADI 2902), o decidiu que é inconstitucional a lei estadual que, a 
pretexto de proteger a saúde da população, disciplina a instalação de antenas transmissoras 
de telefonia celular e, por isso, adentra na esfera de competência privativa da União. 
– Para entender melhor o caso, bem como aproveitarmos para recordar algumas 
expressões muito utilizadas pela doutrina norte-americana sobre o tema ‘repartição de 
competências no âmbito do federalismo’, vejamos com mais detalhamento o que se passou 
neste caso concreto: 
(i) Foi editada uma lei no Estado de SP que tratou da instalação de antenas transmissoras 
de telefonia celular no Estado. Em um dos dispositivos, a pretexto de proteger a saúde da 
população, a lei determinou o seguinte: “Artigo 3º Toda instalação de antenas 
transmissoras deverá ser feita de modo que a densidade de potência total, considerada a 
soma da radiação preexistente com a da radiação adicional emitida pela nova antena, 
medida por equipamento que faça a integração de todas as frequências na faixa prevista 
por esta lei, não ultrapasse 435 uW/cm2 (quatrocentos e trinta e cinco microwatts por 
centímetro quadrado), em qualquer local passível de ocupação humana (Organização 
Mundial de Saúde)”. Perceba, caro leitor, que a lei está claramente estabelecendo limites 
de radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. 
(ii) Essa lei tutela a proteção à saúde (tema de competência legislativa concorrente) ou 
invade a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações? Esse tipo 
de dúvida é muito comum quando estamos tratando da divisão de competências entre os 
entes federados. E, segundo a doutrina federalista norte-americana, sempre que a dúvida 
sobre a competência legislativa recair sobre norma que abranja mais de um tema, deve o 
intérprete acolher a interpretação que não tolha a competência que detêm os entes 
menores para dispor sobre determinada matéria (presumption against preemption - 
presunção a favor da competência dos entes menores da federação). Entretanto, por vezes, 
afastaremos essa presunção de que, diante deste cenário de dúvida acerca da competência, 
determinado tema deve ser disciplinado pelo ente menor. Quando isso ocorrerá? Quando 
a lei do ente maior (federal ou estadual) claramente indicar, de forma necessária, adequada 
e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação que detêm 
os entes menores (clear statement rule). 
(iii) Em outras palavras: a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de 
interesse comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption 
against preemption) pode ser nitidamente afastada por expressa determinação do ente 
maior (clear statement rule). 
(iv) Voltando ao caso julgado pelo STF em junho de 2020, a União, no exercício de suas 
competências constitucionais (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, 
que, de forma nítida, atribui à ANATEL a definição de limites para a tolerância da radiação 
emitida por antenas transmissoras. Ademais, a União, por meio da Lei nº 11.934/2009, fixou 
limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos, magnéticos 
e eletromagnéticos. 
(v) Desta forma, justamente porque a lei federal claramente indicou, de forma adequada, 
necessária e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação 
que detêm os entes menores (clear statement rule), o STF afastou a presunção de que o 
tema poderia ser também disciplinado pelo ente menor em razão de ele possuir 
competência concorrente que tangencia o assunto trabalhado na lei. 
(vi) Para finalizar este item, insta alertar ao leitor que essas expressões do direito norte-
americano têm sido sistematicamente utilizadas em pronunciamentos do STF sobre o tema 
‘repartição constitucional de competências na federação’. Para ilustrar, veja trecho voto do 
Min. Edson Fachin no RE 194.704 (julgado em junho de 2017): 
Nos casos em que a dúvida sobre a competência legislativa recai sobre norma que 
abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher interpretação que não tolha a 
competência que detêm os entes menores para dispor sobre determinada matéria 
(presumption against preemption). Porque o federalismo é um instrumento de 
descentralização política que visa realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou 
estadual claramente indicar, de forma adequada, necessária e razoável, que os efeitos 
de sua aplicação excluem o poder de complementação que detêm os entes menores 
(clear statement rule), é possível afastar a presunção de que, no âmbito regional, 
determinado tema deve ser disciplinado pelo ente menor. Na ausência de norma federal 
que, de forma nítida (clear statement rule), retire a presunção de que gozam os entes 
menores para, nos assuntos de interesse comum e concorrente, exercerem plenamente 
sua autonomia, detêm Estados e Municípios, nos seus respectivos âmbitos de atuação, 
competência normativa. [RE 194.704, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 29-6-2017, P, DJE 
de 17-11-2017.] 
 
Inciso XX – Relativamente a este inciso vale destacar que são inconstitucionais as leis 
estaduais, distritais que versem sobre sistema de consórcio e sorteios, inclusive bingos e 
loterias (tendo o STF editado a súmula vinculante nº 0219 a fim de firmar este 
entendimento). Vale informar que, apesar de a SV 02 somente mencionar que os Estados e 
o DF não podem tratardo tema, o STF confirmou (em outubro de 2018, na ADPF 337, 
noticiada no Informativo 920) que também é inconstitucional lei municipal que cria 
concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local. 
(1) Ainda sobre o inciso XX, cumpre relatar a decisão proferida pelo STF em setembro de 
2020, no julgamento conjunto das seguintes ações: ADPF 492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 
4986/MT. Segundo nossa Corte Suprema, a competência da União para legislar 
exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive loterias, não obsta a 
competência material para a exploração dessas atividades pelos entes estaduais ou 
municipais (em outras palavras: a competência legislativa acerca de determinado assunto 
não se confunde com a competência material, executiva, de exploração de serviço a ele 
correlato). Isso porque a exploração de loterias ostenta natureza jurídica de serviço público 
e, quando nossa CF/88 quis atribuir a prestação de determinado serviço público com 
exclusividade à União, o constituinte o fez de forma expressa. Como nossa Constituição não 
atribui à União a exclusividade sobre o serviço de loterias, tampouco proíbe expressa ou 
implicitamente o funcionamento de loterias estaduais, esse cenário atrai a competência 
residual dos estados-membros, estabelecida em seu art. 25, § 1º. 
Um detalhe adicional importante: como somente a União pode definir modalidades de 
 
19. Súmula vinculante nº 2, STF: “É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de 
consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”. 
atividades lotéricas passíveis de exploração, as legislações estaduais instituidoras de 
loterias, por meio de lei estadual ou decreto, em seus territórios, devem simplesmente 
viabilizar o exercício de sua competência material de instituição do serviço público. Tais 
normas estaduais ofenderiam a CF se instituíssem disciplina ou modalidade de loteria não 
prevista pelo própria União para si mesma. Nesta hipótese, a legislação local afastar-se-ia 
de seu caráter materializador do serviço público de que é titular e seria incompatível com o 
art. 22, XX, da CF/1988. 
 
Inciso XXIV – Tendo em conta a competência da União para legislar sobre as diretrizes e 
bases da educação nacional, foi considerada inconstitucional a lei estadual do Acre que 
tratava da revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países 
membros do MERCOSUL. A lei foi declarada inconstitucional pois obrigava que o Poder 
Público estadual aceitasse como válidos os diplomas expedidos por instituições do Mercosul 
mesmo sem procedimento de revalidação, contrariando o disposto na Lei Federal nº 
9.394/1996 e no Decreto 5.518/2005. 
(1) Ainda sobre o inciso XXIV, cumpre comentar a decisão proferida pelo STF em abril de 
2020, na ADPF 457, na qual a Corte firmou que, dada a competência privativa da União para 
legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, os Municípios não podem editar leis 
proibindo a divulgação de material com referência a “ideologia de gênero” nas escolas 
municipais. Nessa postura, há inconstitucionalidade formal. Ademais, conforme 
comentamos no cap. 5 desta obra (sobre os “Direitos e Garantias Individuais”), há também 
inconstitucionalidade material, pois tais normas municipais proibitivas afrontam (i) a 
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 
206, II, CF/88); (ii) o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III); (iii) um 
dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem 
de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88); (iv) o dever estatal de promover políticas de 
inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção da discriminação com base na 
orientação sexual e identidade de gênero. 
 
 
(2) Justamente porque é competência privativa da União legislar sobre as diretrizes e bases 
da educação, que não pode o Estado-membro, ao tratar do tema, afrontar o teor da 
legislação federal. Assim, tendo por base o inciso XXIV do art. 22, CF/88, o STF declarou (em 
março de 2020, na ADI 6073), que é inconstitucional lei estadual que afasta as exigências 
estabelecidas na legislação federal (Lei nº 9.394/1996; Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
– LDB) para que haja a revalidação de diploma obtido em instituições de ensino superior de 
outros países. Referida lei invade a competência privativa da União para legislar sobre o 
tema, desrespeitando as rigorosas determinações federais (postas no art. 48 da lei) para 
que haja o reconhecimento da validade, no Brasil, dos diplomas expedidos por 
universidades estrangeiras. 
 
Inciso XXV – Considerando este inciso, o SF decidiu que os Estados-membros não possuem 
competência legislativa para determinar a obrigatoriedade da microfilmagem de 
documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Afinal, este tema envolve 
registros públicos e responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de 
competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88 (ADI 3723, Rel. Min. 
Gilmar Mendes, julgada em março de 2020). 
 
8.4. Competências da União 
8.4.3. Materiais comuns – art. 23, CF/88 
Sobre as competências comuns listadas pelo art. 23, CF/88, vale mencionar alguns 
interessantes pronunciamentos do STF: 
(i) Em abril de 2020, durante um crítico período de combate à pandemia da Covid 19, o STF 
(na ADI 6341 MC-Ref) determinou que as providências adotadas pelo Governo Federal na 
tutela do direito à saúde não afastam atos a serem praticados pelos Estados, pelo Distrito 
Federal e pelos Municípios, considerada a competência comum na forma do artigo 23, 
inciso II, da CF/88. Por isso, foram considerados válidos, no curso da superação da crise 
decorrente do novo corona vírus, muitos decretos editados por Prefeitos e Governadores 
que, sob o argumento de estarem tutelando à saúde da população, restringiam múltiplas 
atividades (proibindo ou limitando o horário de funcionamento de estabelecimentos 
comerciais; restringindo a entrada e saída de pessoas em seus territórios). 
– Insta destacar que, em maio de 2020, no julgamento da ADI 6343 MC-Ref/DF, o STF 
confirmou que os Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização da União, 
adotar medidas protetivas à saúde da população (como isolamento, quarentena, 
exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver) e, ainda, determinação de restrição 
à locomoção interestadual e intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos – cumpre 
destacar que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras, pois sairiam de suas 
competências constitucionais. No mais, a Corte frisou que a adoção de medidas restritivas 
relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deveria estar 
embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e teria 
de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, assim definidos nos decretos 
da autoridade federativa competente. 
 
8.4. Competências da União 
8.4.4. Legislativas concorrentes – art. 24, CF/88 
(...) 
Inciso V – Em homenagem à competência legislativa concorrente da União, Estados e DF 
para legislar sobre consumo (art. 24, V, da CF/88), o STF determinou que é constitucional 
lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e 
nos estádios. A decisão foi proferida em março de 2020, na ADI 6195. Segundo nossa Corte 
Suprema, o inciso II do art. 13-A da Lei Federal nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) 
estabelece condições gerais de acesso e permanência do torcedor em recintos esportivos, 
entre as quais a de não portar bebidas proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a 
prática de atos de violência. Note, no entanto, que a lei federal citada (que representa uma 
norma geral) não particulariza

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