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PROCESSO DO TRABALHO I – APOSTILA PARTE 1 – ANO: 2022 PROFESSOR EDUARDO FORNAZARI PRIMEIRO BIMESTRE I. JURISDIÇÃO E DIREITO PROCESSUAL Há conflito de interesses quando há desentendimento entre a satisfação de pretensões ou de interesses. A Lide se dá quando há resistência da outra parte (pretensão resistida) e o conflito de interesses é levado ao judiciário. Já, tem-se por jurisdição, no sentido lato, o poder de solucionar conflitos ou, ainda, o poder de dizer o direito. No sentido estrito, jurisdição é o conjunto de órgãos estatais incumbidos de solucionar conflitos. Dentre os tipos de jurisdição tratados pela doutrina, pode-se diferenciar a jurisdição voluntária da jurisdição contenciosa. Esta é a jurisdição propriamente dita. Aquela, também chamada de graciosa, tem caráter administrativo, mas é feita pelos órgãos jurisdicionais do Estado. Todavia, nesta última (na jurisdição voluntária), não se dirimem conflitos propriamente ditos, mas sim, por exemplo, homologam- se acordos, nomeiam-se pessoas para exercerem certos encargos como o depositário fiel, etc. Submetido um conflito de interesses ao pronunciamento do Estado, este tem o dever de solucioná-lo, o que o faz obedecendo a certas diretrizes, a um critério, sistema ou método, a uma ordem enfim. Esse método é o direito processual. Na aplicação do método estatal para solucionar contendas, vários atos são praticados: o autor apresenta seu pedido; o réu defende-se; provas são produzidas; o juiz profere sentença; etc... A sequência desses atos é o processo, que não se confunde, portanto, com o direito processual que é o método a ser adotado na solução do litígio. O processo trabalhista é regido pela CLT (artigos 763 e ss.) e se distingue do Processo Civil (ou Comum), regido pelo Código de Processo Civil. Entretanto, no Processo do Trabalho podem surgir muitas questões, dentre elas, algumas não previstas na CLT. Nesse caso, e somente nessa hipótese, pode-se aplicar o Código de Processo Civil como norma subsidiária (art. 769, da CLT), desde que não seja incompatível com o Processo do Trabalho. II. COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA (LEI 9958/2000) As Comissões de Conciliação Prévia foram instituídas pela Lei 9958/2000, com o intuito de tentar desafogar o judiciário trabalhista, o que, no entanto, na prática, não tem acontecido. Com o advento da Lei supra, as empresas e os sindicatos passaram a poder criar Comissões de Conciliação, de composição paritária, ou seja, com representantes de ambas as partes (empregados e empregadores) e com atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais de trabalho. Essas Comissões podem ser constituídas tanto por grupo de empresas como no âmbito intersindical. Os dispositivos que tratam das Comissões de Conciliação Prévia estão contidos nos artigos 625-A a 625-H, da CLT. Qualquer demanda de natureza trabalhista deve ser submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação dos serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do Sindicato (art. 625-D, da CLT). Em não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e à empresa um termo de negativa de conciliação. Uma vez aceita a conciliação, será lavrado termo de acordo assinado pelas partes e pelos representantes da Comissão, o qual servirá, inclusive, como título extrajudicial, caso a empresa não cumpra o acordo. Vale lembrar também que o termo de acordo terá eficácia liberatória geral (quitando todo o contrato), exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas (art. 625-E, § único, CLT). O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão, continuando a fluir após a tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no artigo 625-F, da CLT (10 dias). Caso não haja Comissão instituída, o empregado poderá propor a ação/demanda diretamente na Justiça do Trabalho. Pela CLT (art. 625-D), a submissão prévia à CCP – onde ela existir – seria obrigatória. Contudo, por decisão cautelar do STF, referido dispositivo legal encontra-se com aplicação suspensa até decisão final do mérito das ADINs (ações diretas de inconstitucionalidade) propostas em face desta obrigação legal. III. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA TRABALHISTA 1. BREVE HISTÓRICO A legislação trabalhista e a Justiça do Trabalho surgiram no Brasil como resultado do processo de luta e de reivindicações operárias que se desenrolava no exterior e no País, a partir do século XIX. No exterior, a preocupação em estabelecer normas legais de proteção ao trabalhador tomou forma na Constituição mexicana de 1917, e constou também das recomendações do Tratado de Versalhes, de 1919, do qual se originou a Organização Internacional do Trabalho - OIT. A Constituição alemã de Weimar, de 1919, modelo clássico de organização de um Estado social-democrata, também procurou garantir direitos básicos ao trabalhador. Atualmente diversos países possuem legislação trabalhista. Estudo da OIT de novembro de 1994 fala sobre a organização dos tribunais do trabalho da Alemanha, Áustria, Brasil, Costa Rica, Espanha, Finlândia, França, Hungria, México, Cingapura, Turquia e Uruguai. Na França, os Conseils de Prud´Hommes (Conselhos de Homens Prudentes) que existem desde 1426, passaram a julgar, a partir de 1806, questões entre trabalhadores e empregadores (reclamações de cunho trabalhista). Por óbvio, que no início, não existiam as figuras hoje conhecidas de empregado e empregadores, sendo que no passado distante as questões julgadas pelo Conselho eram apenas aquelas ligadas a discussões entre os fabricantes de seda e os comerciantes, além de estarem limitadas às demandas de até 60 francos. Contudo, o Conselho existe ainda hoje na França, composto de representantes de empregados e empregadores, sendo o órgão responsável por solucionar conflitos trabalhistas. Ressalte-se, apenas que o Conselho não pode executar suas decisões, sendo a execução, atribuição da magistratura comum. A Itália também havia copiado o sistema francês, com a instituição dos Conselhos de Probiviri. Em 1927, foi instituída a magistratura do trabalho como órgão administrativo do Estado e não pertencente ao judiciário. Em 1928 foi abolido esse órgão. Atualmente, as questões trabalhistas na Itália são dirimidas pela magistratura comum. No Brasil, as primeiras normas trabalhistas surgiram a partir da última década do século XIX, como é o caso do Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em 30 de abril de 1923 foi criado o Conselho Nacional do Trabalho, vinculado ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Constituído de 12 membros, era órgão consultivo para assuntos trabalhistas e previdenciários. Não decidia sobre divergências surgidas nas relações de trabalho. No Estado de São Paulo, no entanto, já funcionavam desde 1922, os Tribunais Rurais que foram criados pela Lei Estadual nº 1669/22 e que resolviam questões entre os trabalhadores rurais e os fazendeiros. A partir da Revolução de 1930 acelerou-se o processo, com a criação do Ministério do Trabalho. O Conselho Nacional do Trabalho, agora vinculado ao novo Ministério, passou, em 1931, a ter competência para opinar em matéria contenciosa (em que há divergência entre as partes interessadas) e consultiva e, em 1934, também para julgar. Em 1932, o Governo Provisório, chefiado por Getúlio Vargas, criou dois organismos destinados a solucionar conflitos trabalhistas: Comissões Mistas de Conciliação (Decreto 21364/32) e Juntas de Conciliação e Julgamento (Decretos 22132/32 e 24742/34). As primeiras tratavam de divergências coletivas, relativas a categorias profissionais e econômicas. Eram órgãos de conciliação, não de julgamento. As segundas eram órgãos administrativos, mas podiam impor a solução às partes. Só não podiam executá-las, o que era feito por intermédio dos procuradores do Departamento Nacional do Trabalho. A Justiça do Trabalho foi prevista pelaConstituição de 1934. O Congresso Nacional discutiu longamente o projeto de lei que a estruturava, e tal demora foi uma das razões alegadas para o fechamento do Congresso Nacional e a implantação do Estado Novo, em 1937. Ela foi instituída em 1º de maio de 1939, pelo Decreto-lei nº 1.237, e foi declarada instalada por Getúlio Vargas em ato público realizado no dia 1º de maio de 1941, no campo de futebol do Vasco da Gama, Rio de Janeiro. A Justiça Trabalhista estruturou-se em três instâncias. Na base, as Juntas de Conciliação e Julgamento, que mantiveram o nome e a composição, com a diferença que seu presidente passava a ser um Juiz de Direito ou bacharel nomeado pelo Presidente da República para mandato de dois anos. Os vogais eram indicados pelos sindicatos, para mandato também de dois anos. Em nível intermediário, os Conselhos Regionais do Trabalho, para deliberação sobre recursos. E em nível superior, o Conselho Nacional do Trabalho, integrado por 19 membros, nomeados pelo Presidente da República para mandato de dois anos, permitida a recondução, e assim distribuídos: quatro representantes de empregados, quatro de empregadores, quatro funcionários do Ministério do Trabalho e das instituições de seguro social, e sete pessoas de reconhecido saber, das quais quatro formadas em Direito. A Constituição de 1946 transformou a Justiça do Trabalho em órgão do Poder Judiciário, mantendo, porém, a estrutura que tinha como órgão administrativo, inclusive com a representação classista. Ela permaneceu assim nas Constituições de 1967 (alterada pela Emenda de 1969) e de 1988. Esta trocou o título do representante classista da 1ª instância (JCJ), de vogal para juiz. E estabeleceu que em cada unidade da Federação haveria "pelo menos um" Tribunal Regional do Trabalho. Hoje existem 24 TRTs. Em 9 de dezembro de 1999 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 24, que alterou dispositivos da Constituição Federal pertinentes à representação classista na Justiça do Trabalho, extinguindo-a. O TST passou então a ser composto de 17 ministros, togados e vitalícios. A emenda mudou também a denominação das Juntas de Conciliação e Julgamento, que passaram a se chamar Varas do Trabalho. Nas comarcas onde não forem instituídas, a emenda estabeleceu que a jurisdição das Varas será atribuída aos juízes de Direito. Em 21 de novembro de 2003, após alguns anos de tramitação e forte pressão da Justiça do Trabalho, foi sancionada a Lei 10.770, que permitiu a criação de 269 novas Varas do Trabalho. A criação das Varas foi iniciativa do TST, devido ao expressivo aumento do número de processos trabalhistas nos últimos anos. Em dezembro de 2004, após mais de 12 anos de tramitação no Poder Legislativo, um primeiro bloco de alterações constitucionais - sobre o qual houve consenso entre deputados e senadores após dois turnos de votações - passou a integrar o ordenamento jurídico do País. A Emenda Constitucional nº 45/04 foi publicada no Diário Oficial da União dia 31 de dezembro de 2004. Com o advento da Emenda Constitucional de nº 45/2004, que, dentre outras coisas, alterou a redação do artigo 114, da Constituição, a Justiça do Trabalho teve sua competência alterada. Em síntese, pode- se dizer que a Justiça Trabalhista teve sua competência ampliada para julgar as ações de relação de trabalho, e não mais somente as de relação de emprego regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho. Essa questão da competência da Justiça do Trabalho, será, no entanto, vista com maior destaque, mais a frente, em tópico próprio e específico sobre o assunto. 2. ESTRUTURA DA JUSTIÇA DO TRABALHO As normas legais que dispõem sobre a Organização Judiciária Trabalhista são as seguintes: - CF/88: arts. 111 a 116; - CLT: arts. 643 a 754. De acordo com o artigo 111 da Constituição da República, a Justiça do Trabalho está estruturada em três graus de jurisdição: Primeira instância - Varas do Trabalho (designação dada pela Emenda Constitucional nº 24/99 às antigas Juntas de Conciliação e Julgamento) Julgam apenas dissídios individuais, que são controvérsias surgidas nas relações de trabalho entre o empregador (pessoa física ou jurídica) e o empregado (este sempre como indivíduo, pessoa física). Esse conflito chega à Vara na forma de reclamação trabalhista. A jurisdição da Vara é local, abrangendo geralmente um ou alguns municípios. Sua competência é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado em outro local ou no estrangeiro. A Vara compõe-se de um juiz do trabalho titular e um juiz do trabalho substituto. Em comarcas onde não exista Vara do Trabalho, a lei pode atribuir a jurisdição trabalhista ao juiz de direito. Existem mais de 1.378 Varas do Trabalho no País (dados de 2018). A Lei nº 10.770/2003 permitiu a possibilidade de criação de 269 novas Varas do Trabalho nas diversas regiões da Justiça do Trabalho, que estão sendo gradativamente implementadas, de acordo com a necessidade do serviço e a disponibilidade orçamentária. Segunda instância - Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) Julgam recursos ordinários contra decisões de Varas do Trabalho, ações originárias (dissídios coletivos de categorias de sua área de jurisdição - sindicatos patronais ou de trabalhadores organizados em nível regional), ações rescisórias de decisões suas ou das Varas e os mandados de segurança contra atos de seus juízes. A Constituição Federal de 1988 estabelece que "haverá pelo menos um TRT em cada Estado e no Distrito Federal" (art.112). Atualmente, existem 24 TRTs. Em São Paulo existem dois, um na Capital, outro em Campinas. Não foram criados TRTs nos Estados de Tocantins, Acre, Roraima e Amapá. Os juízes dos TRTs (denominados “desembargadores”) são nomeados pelo Presidente da República e seu número varia em função do volume de processos examinados pelo Tribunal. Composição de cada TRT, segundo o art. 670 da CLT: 1ª Região (Rio de Janeiro) 54 juízes; 2ª Região (São Paulo) 64 juízes; 3ª Região (Minas Gerais) 36 juízes; 4ª Região (Rio Grande do Sul) 36 juízes; 5ª Região (Bahia) 29 juízes; 6ª Região (Pernambuco)18 juízes; 7ª Região (Ceará) 8 juízes; 8ª Região (Pará e Amapá) 23 juízes; 9ª Região (Paraná) 28 juízes; 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins) 17 juízes; 11ª Região (Amazonas e Roraima) 8 juízes; 12ª Região (Santa Catarina) 18 juízes; 13ª Região (Paraíba) 13 juízes; 14ª Região (Rondônia e Acre) 8 juízes; 15ª Região (Campinas/SP), 36 juízes; 16ª Região (Maranhão) 8 juízes; 17ª Região (Espírito Santo) 8 juízes; 18ª Região (Goiás) 8 juízes; 19ª Região (Alagoas) 8 juízes; 20ª Região (Sergipe) 8 juízes; 21ª Região (Rio Grande do Norte) 8 juízes; 22ª Região (Piauí) 8 juízes; 23ª Região (Mato Grosso) 8 juízes; 24ª Região (Mato Grosso do Sul) 8 juízes. Instância extraordinária (ou Instância Superior) - Tribunal Superior do Trabalho (TST) O TST, com sede em Brasília-DF e jurisdição em todo o território nacional, tem por principal função uniformizar a jurisprudência trabalhista. Compunha-se de 17 ministros, togados e vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, mas como vistos linhas atrás, por força da EC 45/04, voltou a ser composto por 27 ministros (art. 111-A, da CF/88). Julga recursos de revista, recursos ordinários e agravos de instrumento contra decisões de TRTs e dissídios coletivos de categorias organizadas em nível nacional, além de mandados de segurança, embargos opostos a suas decisões e ações rescisórias. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL é um órgão que está em posição superior ao Tribunal Superior do Trabalho, mas que não compõe a Organização Judiciária Trabalhista. O Supremo é, em síntese, o guardião da Constituição, sendo composto por 11 ministros. Veja o quadro: STF TST STJ TSE STM Órgãos da Justiça do TrabalhoÓrgãos das Justiças Federal e Comum Órgãos da Justiça Eleitoral Órgãos da Justiça Militar IV. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 1. O que é o Ministério Público? O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, sendo responsável pela defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Possui independência e autonomia, com orçamento, carreira e administração próprios. Aparece na Constituição Federal no capítulo das funções essenciais à Justiça, sem vinculação funcional com quaisquer dos Poderes do Estado. Possui como princípios institucionais a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. Abrange o Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos Estados. O Ministério Público do Trabalho / MPT é um dos ramos do Ministério Público da União, que também compreende o Ministério Público Federal, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Tem como chefe o Procurador-Geral do Trabalho, eleito em lista tríplice e nomeado pelo Procurador-Geral da República. Compõem o MPT a Procuradoria-Geral, com sede em Brasília/DF, 24 Procuradorias Regionais instaladas nas capitais dos Estados, 4 Subsedes e ofícios instalados nas cidades do interior. O MPT conta com 596 Membros e 1.679 servidores em todo o Brasil. Há dois projetos de lei em análise na Câmara dos Deputados para criação de 300 novas vagas para Procurador, de 100 ofícios que visam a interiorização do Órgão, e de 500 novos cargos de níveis superior e médio, na carreira de apoio da Instituição. 2. Como se dá a sua atuação? O Ministério Público do Trabalho atua de duas formas: Órgão Interveniente (custus legis): Como órgão interveniente o MPT desempenha papel de defensor da lei em situações referentes às relações de trabalho que envolvem interesses difusos e coletivos. Emite pareceres em processos de competência da Justiça do Trabalho, participa das Sessões de Julgamento e ingressa com recursos quando houver desrespeito à legislação. Além disso, atua como árbitro ou mediador em dissídios coletivos, fiscaliza o direito de greve nas atividades essenciais e propõe ações para declaração de nulidade de cláusulas ilegais dos contratos ou acordos coletivos. Órgão Agente (dominus litis): A partir da Constituição Federal de 1988 foi iniciada a atuação como órgão agente: recebimento de denúncias, instauração de procedimento investigatório e medidas administrativas ou judiciais, quando comprovada a irregularidade. A medida administrativa utilizada é o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, que prevê multa caso seja descumprido e pode ser executado na Justiça do Trabalho. Em termos judiciais, o MPT dispõe da Ação Civil Pública e da Ação Civil Coletiva. Foram instituídas seis áreas prioritárias de ação no âmbito do MPT: trabalho escravo; trabalho infantil; saúde e segurança do trabalhador; portos; discriminação; formalização do trabalho; e irregularidades trabalhistas no serviço público em geral. V. CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO E CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA O Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), criado pela EC 45/04, tem como função a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, atuando como órgão central do sistema. Suas decisões têm efeito vinculante, conforme estabelecido no art. 111-A, § 2º, inciso II, da Constituição Federal. Não se confunde o CSJT com o Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Este último (CNJ) foi criado em 31/12/2004, instalado em 14/06/2005 e serve como uma espécie de órgão de controle externo do Poder Judiciário como um todo. O CNJ tem uma abrangência e atuação muito mais ampla que o CSJT (restrito à JT). O CNJ possui 15 conselheiros, aprovados pelo Senado e então nomeados pelo Presidente da República. As principais competências do CNJ estão estabelecidas no artigo 103-B, da Constituição. V – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO 1. Conceito Competência é o poder conferido por lei ao órgão jurisdicional para conhecer e solucionar as lides que lhe são atribuídas pela própria lei (princípio da divisão do trabalho). 2. Tipos de Competências A Competência é, em regra, dividida em vários tipos, a saber: material, territorial, pessoal e funcional. Em alguns casos há, ainda, a competência em razão do valor ou também chamada de alçada. 3. Competência Material da Justiça do Trabalho (ratione materiae) A competência material diz respeito, como o próprio nome anuncia, à matéria, assunto ou questões que podem ser suscitados na Justiça do Trabalho. Envolve, pois, a apreciação de determinada matéria trabalhista. Até o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência material da Justiça Trabalhista, envolvia questões próprias entre trabalhadores e empregadores, ou seja, atinentes a uma relação de emprego. Também era atribuição da Justiça Laboral competência para executar suas decisões e, inclusive, as contribuições sociais delas decorrentes. Além disso, tinha competência a Justiça do Trabalho para processar e julgar os dissídios coletivos, inclusive com Poder Normativo (criar normas coletivas para serem cumpridas entre as partes). Tudo isso, conforme previsão do artigo 114 e de seus parágrafos, todos da Constituição. Com a Emenda 45/2004, publicada em 31/12/2004, o artigo 114, da Constituição, sofreu grande alteração, tendo sido ampliada substancialmente a competência da Justiça do Trabalho. A partir, de então, passou a ser atribuição da Justiça Trabalhista julgar as ações de relação de trabalho e não somente as de relação de emprego regidas pela CLT. Esclareça-se que relação de trabalho é gênero do qual relação de emprego é uma das espécies. Assim, por força do que estatui a Emenda 45, parece ser lícito afirmar que, doravante, todas as causas em que envolvam, de um lado, a figura de um trabalhador (lato sensu) que seja uma pessoa física e, de outro, um tomador de serviços que pode ser pessoa física ou jurídica, e que tenha, ainda, como escopo a prestação de um serviço, deverão ser dirimidas junto à Justiça do Trabalho que é a competente para delas conhecer e julgar. Convém assinalar que o artigo 114, da Constituição, na sua nova redação, dada pela EC 45/04, manteve o poder normativo da Justiça do Trabalho e estabeleceu, ainda, outras novas atribuições, tais como o julgamento de ações sobre representação sindical, atos decorrentes da greve, indenização por dano moral ou patrimonial resultantes da relação de trabalho e os processos relativos às penalidades administrativas impostas aos empregadores por fiscais do trabalho. A Justiça do Trabalho passou a julgar também mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. As partes continuam podendo ajuizar dissídios coletivos na Justiça do Trabalho, quando uma delas se recusar à negociação ou à arbitragem. O novo texto constitucional prevê, ainda, que o ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica é facultado às partes, de comum acordo. Foi mantida a competência para executar, de ofício, as contribuições sociais (devidas por empregadores e empregados) e seus acréscimos legais decorrentes das sentenças que proferir. Essa concepção de ampliação da competência da Justiça do Trabalho não é incontroversa na doutrina, havendo alguns juristas que entendem que a competência continuaria limitada à relação de emprego, com os quais – que são minoria – não compactuamos. A prevalecer o entendimento desses doutrinadores que têm uma concepção mais restritiva da competência trabalhista, mesmo depois da Emenda Constitucional, ter-se-ia que se admitir que nada haveria mudado com a Emenda. Para quê ela então? Talvez a resposta a essa indagação, por si só, evidencie o descrédito que essa corrente restritiva deve merecer.Temos, pois, exemplificativamente, que a Justiça do Trabalho é competente para apreciar: a) Dissídios Individuais: -entre empregados e empregadores em geral, inclusive, os de dano moral ou patrimonial decorrentes do contrato de trabalho, inclusive, se por acidente de trabalho; -entre trabalhador rural e empresa rural; -entre trabalhador doméstico e empregador; -trabalhador avulso e tomador de serviços (art. 643 da CLT); -trabalhador temporário e empresa de trabalho temporário (cedente) e também contra a cessionária (art. 19, da Lei 6.019/74); -trabalhador autônomo (pessoa física) e seu tomador de serviços; -representante comercial autônomo (pessoa física) e seu tomador de serviços; -corretores de seguros ou de imóveis (pessoa física) e a empresa para quem prestam serviços; -nas ações de cumprimento (sentenças normativas; acordos ou convenções coletivas); -empreiteiro operário e empreitador, como exceção (art. 652, a, III) (já o empreiteiro não trabalhador não pode, pois a empreitada é contrato de direito civil); -problemas pré-contratuais (por exemplo: discriminação na seleção, antes da admissão); -problemas pós-contratuais (por exemplo: comissões pendentes); -atleta profissional (de futebol e outros esportes) contra o clube que o contratou (§ único do art. 29 da Lei 6.354/76); -competência executória para as próprias execuções (feitas no próprio processo); -cobrar contribuições sociais devidas em decorrência de sentenças condenatórias trabalhistas. OBS: A ação de cobrança de um advogado (pessoa física) contra seu cliente, a quem tenha prestado serviços e não recebido por eles deveria, sim, diante dos termos do art. 114, da CF/1988, ser de competência da Justiça do Trabalho. Contudo, o Superior Tribunal de Justiça - STJ recentemente editou uma Súmula (a de nº 363 – STJ) atribuindo a competência para esse tipo de causa (ação de cobrança de honorários de profissional liberal) à Justiça Comum (Estadual). O mesmo entendimento tem sido aplicado no caso de cobrança de um médico (pessoa física) contra seu cliente. b) Dissídios Coletivos: -dissídios coletivos em geral OBS: Em decisão liminar, o STF deu interpretação, em 2005, ao inciso I do art. 114 da CF, afastando a competência da Justiça do Trabalho para julgar dissídios coletivos de servidores públicos estatutários em face do poder público. Em razão disso, os dissídios coletivos de servidores estatutários estaduais e municipais são – enquanto perdurar a liminar do STF – julgados pela Justiça Comum Estadual (TJ) e aqueles de servidores estatutários federais pela Justiça Federal (TRFs ou STJ). c) Outras Questões: -Entes de direito público externo (embaixadas/consulados): após CF/88 não há mais dúvida que sim. Mas há o problema da impenhorabilidade dos bens de embaixada estrangeira, o que dificulta, às vezes, a execução. O entendimento é de que os entes públicos externos não possuem, para efeitos trabalhistas, a chamada imunidade de jurisdição, mas apenas a imunidade de execução; -Servidores Públicos Civis: está, por enquanto, limitada àqueles que são contratados pelo regime celetista. Os demais: se federais, são submetidos à Justiça Federal; se estaduais ou municipais, à Justiça Estadual Comum; -FGTS: quanto ao depósito devido pela empresa ao trabalhador, em ação movida por este ou por seu sindicato; -Cobrar, nas execuções, os valores devidos ao INSS. -Questões possessórias, desde que decorrentes do contrato de trabalho ou de direito de greve; -Planos de Previdência Complementar (só os que envolvam natureza contratual vinculada á relação de emprego); -Execuções Títulos Extrajudiciais (acordos firmados nas CCPs, termos de ajuste de conduta do Ministério Público do Trabalho); -Complementação de Aposentadoria prevista em norma contratual (contrato de trabalho); -Ações de representação sindical; -Ações relativas a penalidades administrativas decorrentes de fiscalização do trabalho; -Ações que envolvam o exercício do direito de greve; -Mandado de Segurança, Habeas Corpus e Habeas Data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; -Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. QUADRO RESUMO – COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO ATÉ A EC 45/2004 APÓS A EC 45/2004 Relação de Emprego (Empregado X Empregador) Relação de Trabalho (Empregado, Trab. Autônomo, Rep. Comercial-PF, etc.) Pequenas Empreitadas (art. 652, a, III, CLT) Pequenas Empreitadas (art. 652, a, III, CLT) Execução de Contribuições Previdenciárias das Sentenças que proferir Execução de Contribuições Previdenciárias das Sentenças que proferir FGTS FGTS Dissídios Coletivos Dissídios Coletivos Direito de Greve Direito de Greve Execução Trabalhista Execução Trabalhista Danos Morais e Materiais (controvertido) Danos Morais e Materiais Ações de Representação Sindical Processos relativos à penalidades administrativas/fiscalização do trabalho Mandado Seg/H Corpus/H Data (Mat. Trabalhista) OBS: Advogado/Prof. Liberais (S. 363 STJ) Questões Pré e Pós-Contratuais 4. Competência Territorial (ratione loci, ou em razão do lugar ou, ainda, de foro – mas cuidado, porque a expressão “foro” pode, às vezes, ser empregado em acepção diferente) A competência em razão do lugar é um modo de delimitação territorial da jurisdição. Serve para que o jurisdicionado saiba qual o juízo competente, do ponto de vista territorial (local) em que deve propor a ação. Na esfera da Justiça do Trabalho, têm-se as seguintes regras básicas (art. 651 e §§, da CLT): a) Regra geral: a Vara do local da prestação dos serviços, ou seja, onde, de fato, o empregado tenha prestado seus serviços; b) Regra específica para viajantes e agentes: o juízo da Vara do local onde estes empregadores/trabalhadores fazem a prestação de contas perante seu superior, ou se não houver, o do seu domicílio (Lei 9581/99); c) Regra para as empresas com atuação em várias localidades (exemplo: circo): tanto a do local onde estiver exercendo a sua atividade (ou seja, onde presta os serviços) como o de onde foi firmado o contrato (via de regra, é o da sede da empresa, mas pode ser que não). Observações quanto à competência territorial: . Quando houver mais de uma Vara na localidade o processo será distribuído para uma delas (segue- se, normalmente em ordem sucessiva de entrada). . O empregado que foi contratado aqui e que foi trabalhar fora do país pode mover a ação no Brasil § 2,º art. 651, CLT, porém se houver Tratado Internacional, poderá prevalecer o foro indicado pelo Tratado. Não poderá mover duas ações. A legislação a ser aplicada no caso será a do país em que o serviço foi executado (princípio da lex loci executionis), salvo se chegou a prestar serviços no Brasil, hipótese na qual deve-se aplicar a legislação mais benéfica entre a do Brasil e a do outro país em que ele trabalhou. . Prorrogação de competência (art. 65 do CPC): como a competência territorial é relativa, pode ser prorrogada, desde que não venha a ser questionada. Prorrogar a competência quer dizer que, caso não se questione a incompetência do juízo que não era competente, este passa a ser competente para aquele caso em específico. Por exemplo: se uma ação foi proposta no RJ e o juiz competente era o de SP, se a parte não questionar a competência do juiz do RJ, ele passa a ser competente e o processo correrá normalmente no RJ. . Prevenção: significa o que veio antes. Numa mesma localidade (ou não), a Vara que primeiro conhecer a demanda será a preventa (art. 59, do CPC). . Foro de eleição: não é admitido foro de eleição (aquele convencionado pelas partes) nos contratos de trabalho. Porém, alguns julgados entendem que, se houver a previsão no contrato, só o trabalhador poderá se beneficiar dela. . Nos dissídios coletivos: quando o sindicato tem base numa das Regiões da Justiça do Trabalho não há problema, pois será nesta; caso contrário, houvermaior abrangência do que uma região, deverá ser proposto no TST (arts. 677 e 702, I, b, da CLT). Mas há uma exceção a essa regra: quando envolver os TRTs do Estado de São Paulo (de Campinas e de São Paulo). Nesse caso, em havendo um sindicato do interior que englobe jurisdição da capital, a competência será do TRT de São Paulo e não o de Campinas (art. 12 da Lei 7520/86). 5. Competência Funcional A competência funcional está ligada com a função do juízo. Por exemplo: aos Juízes das Varas cabe conduzir os processos e julgar as ações em primeira instância; aos dos Tribunais, via de rega, cabe a análise dos recursos, salvo algumas exceções (ações de competência originária dos tribunais). A competência originária dos Tribunais Regionais ocorre nos dissídios coletivos, mandados de segurança, ações rescisórias, habeas corpus e conflitos de competência. Ainda dentro da função, vamos ter, por exemplo, nos tribunais, funções específicas, como as do relator que é o responsável pela análise de cada caso. 6. Competência em razão do valor Não há na Justiça do Trabalho juizados especiais com competência específica para conhecer e julgar ações de pequeno valor, como ocorre na Justiça Comum. Assim, a questão do valor das causas, em matéria trabalhista, só influi na competência dos tribunais para efeito do julgamento de recurso. Na seara trabalhista, temos algumas ações que são de competência exclusiva da Vara do Trabalho (também chamadas de ações de instância única), que são aquelas cujo valor não supera o dobro do valor do salário mínimo legal. Nesse caso, não cabe recurso, salvo em caso de ofensa à Constituição (quando será cabível Recurso Extraordinário ao STF - Lei. 5.584/70, art. 2º, §§ 3º e 4º, este último com a redação da Lei 7.402/85). Há, ainda, aquelas ações de até 40 salários mínimos, sujeitas ao rito sumaríssimo, e que, embora não tramitem num juízo especial, sofrem algumas restrições no campo recursal. Essas ações de rito sumaríssimo, por exemplo, só admitem recurso dos TRTs para o TST no caso de violação a dispositivo constitucional ou à Sumula de Jurisprudência do TST. 7. Casos típicos de incompetência da Justiça do Trabalho a) Ações Acidentárias (não indenizatórias): são ações movidas contra o INSS questionando o pagamento de benefícios/direitos previdenciários decorrentes de acidentes de trabalho (auxílio- doença acidentário; aposentadoria por invalidez; auxílio-acidente; etc.). Essas ações são de competência da Justiça Comum (Varas de Acidente do Trabalho), por força do que dispõe o artigo 109, I, da Constituição; b) Ações Previdenciárias: são ações também movidas contra o INSS (órgão previdenciário) onde se pleiteia algum benefício previdenciário não vinculado a acidente do trabalho (auxílio-doença; aposentadoria por serviço; aposentadoria por idade; etc.), sendo ações de competência da Justiça Federal; c) Crimes cometidos por empregados ou empregadores: são, a priori, de competência da Justiça Comum (crimes em geral) ou da Justiça Federal (crimes contra a organização do trabalho). 8. Incompetência Relativa X Incompetência Absoluta Os casos de incompetência em razão do lugar ou do valor são de caráter relativo, podendo ser prorrogáveis. Além disso, alegação de incompetência relativa deveria, nos termos do art. 64 do CPC, ser suscitada pela parte como preliminar de contestação. Contudo, a reforma trabalhista (Lei 13.467/17) trouxe uma mudança nesse sentido em matéria trabalhista. Ela prevê o direito da parte reclamada (excipiente) alegar a exceção de incompetência territorial em peça apartada e antes mesmo da primeira audiência, observado o prazo limite de 5 dias após o recebimento da notificação inicial da ação (art. 800 da CLT). Superado esse prazo, haverá preclusão, não se podendo mais arguir a incompetência territorial do juizo. Protocolada a petição, será suspenso o processo e não se realizará a audiência até que se decida a exceção. Os autos serão imediatamente conclusos ao juiz, que intimará o reclamante (exceto) e, se existentes, os litisconsortes, para manifestação no prazo comum de 5 dias. Se entender necessária a produção de prova oral, o juízo designará audiência, garantindo o direito de o excipiente (reclamado) e de suas testemunhas serem ouvidos, por carta precatória, no juízo que este houver indicado como competente. Decidida a exceção de incompetência territorial, o processo retomará seu curso, com a designação de audiência, a apresentação de defesa e a instrução processual perante o juízo competente. As demais incompetências (matéria, pessoa e função) são absolutas (art. 63 do CPC), devendo ser declaradas de ofício mesmo que as partes não as aleguem (§ 1º, do art. 64 do CPC). Essas exceções continuam sendo alegadas como preliminar na própria peça de defesa. 9. Conflitos de Competência Os conflitos de competência se caracterizam pela ocorrência das hipóteses do artigo 66 do CPC, ou seja, quando: 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; ou, ainda, entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Em regra, a competência para dirimir conflitos de competência é do STJ. Contudo, na hipótese de conflitos entre varas do trabalho ou entre estas e juízes comuns investidos de jurisdição trabalhista, a competência é do Tribunal Regional do Trabalho (súmula 180 do STJ). Já, sempre que envolver conflito entre Tribunais Superiores (por exemplo: entre o TST e o STJ) a competência será do STF (art. 102, I, “o”, CF/88). VI. PRINCÍPIOS DO PROCESSO DO TRABALHO 1. Princípios gerais do processo São princípios gerais do processo: livre acesso ao Judiciário; devido processo legal; isonomia; ampla defesa; contraditório; fundamentação das decisões; duplo grau de jurisdição; publicidade; proibição do reformatio in pejus; imparcialidade do juiz; convencimento racional do juiz; preclusão; eventualidade (as partes devem, seja na inicial quanto na contestação, alegar, desde logo, tudo quanto pretendem obter da lide, ou seja, apresentar todos os seus instrumentos de ataque ou defesa). 2. Princípios específicos do Processo do Trabalho Não obstante os princípios gerais do processo, no âmbito trabalhista existem alguns princípios específicos que norteiam o processo do trabalho, a saber: a) Oralidade: a oralidade, como princípio processual, não significa a inexistência de escrita, o que seria impossível, mas apenas um conjunto de meios que possam imprimir maior rapidez ao desenvolvimento do complexo de atos processuais. b) Concentração: decorre da oralidade e significa a concentração dos atos do processo numa única audiência. Todavia, muitas vezes os juízes são levados pelas circunstâncias à desconcentração dos atos, subdividindo a audiência em duas, três ou até mais, devido a peculiaridade de cada caso. P.ex., casos em que é de rigor a realização de perícias (médicas/contábeis); adiamento por ausência de testemunhas; etc. Há ainda casos em que por conveniência do juízo e pelo acúmulo de serviço, as audiências tb. são fracionadas. Assim, a concentração é uma ideia que não encontra realização prática em determinados juízos, embora plenamente realizável em outros. c) Irrecorribilidade das decisões interlocutórias: também é um aspecto da oralidade e que está plenamente identificado com o processo trabalhista. Quer dizer que as decisões proferidas no curso do processo pelo juiz não são, em regra, recorríveis de imediato (Súmula 214, TST e art. 893, §1º, CLT). Os recursos que contra essas decisões poderiam ser apresentados são exercidos no momento do eventual recurso contra a decisão final. Esse princípio tem por finalidade, de um lado, evitar truncamentos no processo e, de outro, possibilitar um efetivo cumprimento da prestação jurisdicional no mais breve tempo possível. d) Celeridade: o processotrabalhista não pode ser demorado, até porque, na maioria das vezes a matéria tratada é de caráter alimentar, como os salários, etc. Assim, propugna-se por um processo, o quanto possível, simples e informal, para que possa se desenvolver com maior rapidez. A CLT não se afastou desse objetivo, porém sua aplicação muitas vezes é deturpada, como, por exemplo, é marcada uma audiência para três/quatro meses depois da citação (deveria ser a partir de cinco dias). Outro exemplo: os depoimentos deveriam ser resumidos em ata, não necessariamente de forma integral. A própria ata não precisaria ser redigida no ato da audiência, pois a lei dá ao órgão jurisdicional 48 horas para isso, etc. A decisão do Juiz é oral, mas deve ser reduzida a termo. Os recursos têm, em regra, efeito não suspensivo, ao contrário do que acontecia na Justiça Comum (hoje a regra é quase a mesma). Para compensar os efeitos danosos da demora, foi instituída correção monetária (como também há os juros) dos valores da condenação. e) Economia Processual: dentro do processo, significa uma adequada proporção entre meios e fins do processo; já fora do âmbito interno do processo quer dizer que se deve aproveitar ao máximo o processo para evitar a propositura de novo processo para o mesmo fim. Configura-se, ainda, num poder-dever do juiz para aproveitar os atos processuais. f) O problema da Identidade Física do Juiz – essa expressão significa que o juiz que começa a funcionar no processo deve nele prosseguir até o fim. Seria ideal, dado que um mesmo juiz participaria da colheita de provas, acompanharia o desenrolar do processo e, por óbvio, teria melhor conhecimento do caso para decidir. E é de relevada importância, já que a análise fria do papel e dos atos reduzidos a termo, nem sempre expressa a realidade do caso. Contudo, há muita dificuldade para essa vinculação no processo trabalhista, diante da limitação de recursos humanos. Havia até Súmula do TST que descartava expressamente a questão da identidade física (Súmula 136 do TST), mas que, desde de setembro/12, foi cancelada. 3. Principais diferenças em relação ao processo civil. a) Petição Inicial: Jus postulandi – é o direito da parte fazer, por si mesma, a reclamação. Na Justiça do Trabalho isso é permitido (art. 791, da CLT); no Juízo Cível não, exceto nas ações de até 20 salários-mínimos dos Juizados Especiais Cíveis. a) Citação: no processo civil, a citação é ordenada por despacho; no trabalhista a citação é automática, feita pela secretaria, por via postal, sendo que, via de regra, o juiz só toma contato com o processo trabalhista na audiência. b) Contestação: no processo civil é escrita e antecede a audiência; no processo trabalhista pode ser verbal e se dá na própria audiência. c) Saneamento do Processo: há momento próprio no processo civil (art. 347 do CPC); no trabalhista não, sendo que o juiz, na audiência e sem fase própria toma as iniciativas para regularizar o processo. d) Conciliação: no processo civil não era obrigatória, salvo em alguns tipos específicos de ação, mas passou a sê-lo com o novo CPC (art. 334 do CPC); no trabalhista o é desde sempre, inclusive, sob pena de nulidade do processo. e) Arquivamento (da ação): essa figura não é encontrada de forma geral no processo civil, mas acontece no processo trabalhista quando o empregado não comparece na primeira audiência (art. 844, parte inicial, da CLT). f) Presença das partes: na audiência cível não é obrigatória, vez que os depoimentos pessoais dependem de requerimento, resultando, portanto, da iniciativa da parte; já na audiência trabalhista a presença da parte é obrigatória (prevista em lei – arts. 844 e 820, da CLT). g) Recursos: no processo trabalhista há maior simplificação dos recursos em comparação com os do processo civil. Além disso, e como já se disse alhures, os recursos trabalhistas não têm, em regra, efeito suspensivo, ao contrário do que acontece na Justiça Comum. Também não há na Justiça do Trabalho como se recorrer de imediato de uma decisão interlocutória (Súmula 214, do TST). h) Execução: assemelha-se muito, mas o processo trabalhista tem se mostrado mais efetivo, sobretudo porque segue a diretriz de que a execução trabalhista deve se dar da maneira mais eficaz para o credor, pouco importando os impactos e as implicações da execução para o devedor. Todavia, muitas questões de processo civil são aplicadas subsidiariamente ao trabalhista, desde que este seja omisso e que não haja incompatibilidade (art. 769, da CLT). VII. ATOS DO PROCESSO DO TRABALHO 1. Conceito Ato processual é a manifestação de vontade que emana das pessoas vinculadas à relação jurídica processual. Para Moacyr Amaral dos Santos: são atos processuais aqueles que têm o efeito de constituir, conservar, desenvolver, modificar ou cessar a relação processual. Para Arruda Alvim, todo ato processual tem que ser aquele praticado no ou para o processo. 2. Classificação Os atos processuais podem ser classificados quanto aos sujeitos que os praticam em: atos do juiz, das partes e de terceiros. a) Atos do Juiz: o despacho, a autorização, o interrogatório, a advertência à testemunha, a sentença, a informação às autoridades superiores, etc; b) Atos das partes: a petição inicial, a contestação/defesa, o depoimento, as alegações, os recursos, as sustentações, etc; c) Atos de terceiros: a perícia (peritos), a diligência (oficial de justiça), a tradução (pelo intérprete/tradutor juramentado), o pregão, etc... 3. Características São características dos atos processuais: a) publicidade, pois são públicos, salvo quando em contrário determinar o interesse social; Obs.: Art. 770, CLT – devem se dar das 6 às 20hs, salvo autorização expressa em sentido contrário. b) documentação, pois são documentados nos autos (art. 771, CLT); c) certificação, pois também são certificados pelos manifestantes mediante assinatura (art. 772, CLT). 4. Formas dos Atos Por forma dos atos processuais deve-se entender a forma como eles se materializam no processo. Quanto ao modo do seu registro, pode se dar em formas: manuscritas, datilografadas, digitadas, fotocopiadas e carimbadas. Outros meios são preconizados como mais eficientes, como a gravação em fita sonora, microfilmagem, digitalização, de modo que é preciso aproveitar as conquistas da ciência no processo. Quanto à natureza do idioma: dever ser observada a língua nacional, e, se documentos estrangeiros devem ser juntados, é obrigatória a sua tradução, por tradutor oficial. Quando ao modelo, existem: petições, atas, termos, impressos, editais, boletins, guias, pautas, mandados, ofícios, requisições, etc. 5. Comunicação dos atos Como os atos devem ser revestidos de publicidade, existem meios para que sejam conhecidos pelas partes ou por terceiros interessados. Em regra, a comunicação dos atos processuais se dá por intimação ou por citação (admitindo-se, inclusive, por meio eletrônico no PJe). a) Citação: citação quer dizer a comunicação à alguém da propositura de uma ação para que venha defender-se em juízo. b) Intimação: intimar, no âmbito do processo, consiste em dar conhecimento de um ato processual a alguém, a fim de que pratique ou deixe de praticar, por sua vez, um ato processual; Obs.: A Lei Trabalhista utiliza-se também da palavra “notificação” com ambos os significados. No atual Código de Processo Civil a palavra “notificação” foi suprimida como meio de comunicação, sendo que a intimação cumpre o mesmo fim. VIII. PRAZOS DO PROCESSO DO TRABALHO 1. Conceito É o tempo no qual deve ser praticado um ato processual. 2. Tipos Os prazos podem ser: legal (decorrente de lei – p.ex. recursos); judicial (determinado pelo juiz, p.ex. X dias para a parte falar no processo); ou convencional (ajustado pelas partes, p.ex. quando elas pedem a suspensão do feito para concluírem um acordo). Podem ser, também, peremptórios (fatais,improrrogáveis), sempre os legais; ou dilatórios, que podem ser prorrogados segundo o juiz. Há prazos destinados tanto às partes, como também ao juiz (10 dias, em dissídio coletivo, para designação de audiência); ao secretário (diretor da secretaria – p.ex. de 48 hs para remessa da petição inicial ao reclamado); para os oficiais de justiça; peritos, etc. Obs.: Lembre-se, o CPC deve ser aplicado subsidiariamente quando a CLT for omissa, e desde que com ela não seja incompatível (art. 769, CLT). 3. No processo trabalhista têm-se os principais prazos: a) 48 hs para remessa de cópia da petição inicial para o Reclamado/notificação inicial (art. 841, CLT); b) 48 hs para juntada da ata de audiência nos autos (art. 851, CLT); c) 48 hs para devolução da notificação postal no caso de não ser encontrado o destinatário ou na recusa de recebimento, pelo correio (art. 774, § único, CLT); d) custas (na fase de conhecimento: após o trânsito em julgado ou dentro do prazo recursal no caso de recurso – art. 789, § 1º, da CLT; na fase de execução: ao final da execução); e) 05 dias para vistas dos autos ao exceto, nos casos de exceção de incompetência (art. 800, CLT – nova redação da reforma trabalhista – Lei 13.467/17); f) 48 hs para julgar casos de exceção de suspeição (art. 802, CLT); g) 15 minutos de tolerância para o atraso do Juiz no comparecimento à audiência (art. 815, CLT); h) 20 minutos para defesa oral em audiência (art. 846, CLT) i) 10 minutos para alegações orais finais das partes em audiência (art. 850, CLT) j) 30 dias para ingressar com inquérito judicial para apuração de falta grave, a partir do afastamento do empregado pelo empregador (art. 853, CLT); k) 2 anos para ação rescisória (art. 836, CLT); l) 8 dias para recursos (CLT, arts. 894, 895, a, 896, §§ 1º e 3 º, 897, § 1º); m) 5 dias para Embargos de Declaração (art. 897-A, da CLT); n) 10 dias para o perito apresentar laudo de avaliação (art. 888, CLT); o) 08 dias para as partes impugnarem os cálculos de liquidação de sentença (art. 879, §2º, CLT - nova redação da reforma trabalhista – Lei 13.467/17); p) 48 horas para pagamento ou garantia da execução de sentença (art. 880, CLT); q) 5 dias para Embargos á Execução (art. 884, CLT), contados da garantia da execução ou da penhora. r) 10 dias para audiência em dissídio coletivo (art. 860, CLT); s) prazo para propor ações: deve-se observar os termos da lei (sob pena de prescrição ou decadência). No caso trabalhista, o dissídio individual comum deve ser proposto pelo empregado: até 2 anos após a extinção do contrato; e/ou em 5 anos no curso deste (CF, 7º, XXIX). t) 02 anos – prescrição intercorrente (art. 11-A, CLT – novidade da reforma trabalhista) Observações: a) Os entes de direito público têm prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer (Decreto-Lei 779/69) b) O oficial de justiça tem 9 (nove) dias para cumprir os atos que lhe forem determinados (art. 721, §2º, CLT) c) Há prazos previstos no CPC aplicáveis subsidiariamente, diante de lacunas no processo do trabalho. 4. Regras dos Prazos: Os prazos na Justiça do Trabalho são contados em dias úteis, com exclusão do dia do começo e inclusão do dia do vencimento. (nova redação dada pela reforma trabalhista ao art. 775 da CLT) Os prazos podem ser prorrogados, pelo tempo estritamente necessário, nas seguintes hipóteses: (i) quando o juízo entender necessário; (ii) em virtude de força maior, devidamente comprovada. Ao juízo incumbe dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito.” (NR) O início do prazo é, como regra geral, a data do conhecimento do ato a ser praticado, a data em que é feita pessoalmente ou recebida a notificação ou a data em que é publicada no diário oficial (art. 774, da CLT). Quando se trata de afixação de edital na sede do juízo, nessa data tem início a contagem (art. 774). No caso de notificação pelo correio, o que é muito comum, presume-se entregue e recebida a notificação 48 horas após a expedição, sendo, portanto, o prazo aqui da data do recebimento presumido (Súmula 16, do TST); todavia, caso o recebimento se dê realmente depois do prazo presumido, passa a valer a data efetivamente recebida. No caso da sentença ser publicada em audiência em que deveria a parte comparecer, a data do início do prazo para recurso é a da publicação em audiência (Súmula 197, do TST); Se a publicação ou notificação se der na sexta-feira, começa a correr na segunda imediata, ou no dia útil seguinte, quando não houver expediente (Súmula 1, do TST); O vencimento dos prazos é certificado nos autos (art. 776, CLT); A superveniência de férias forense (de 20/12 a 20/01 no processo civil) suspende o curso do prazo, cuja contagem recomeça a partir do primeiro dia útil seguinte ao término das férias (art. 220, CPC). Convém, aqui, esclarecer que o recesso da Justiça do Trabalho (de 20/12 a 06/01 no processo do trabalho) não é considerado férias por boa parte da jurisprudência, sendo, sim, considerado uma espécie de feriado, quando o prazo em andamento flui normalmente, devendo, no caso de expirar-se este no decorrer do recesso, ser cumprido no primeiro dia útil subsequente. O TST, no entanto, tem entendimento que os prazos ficam suspensos também durante o recesso forense (Súmula 262, II, do TST) Intimada ou notificada a parte no sábado, o início do prazo se dá no primeiro dia útil subsequente e a contagem no dia seguinte (Súmula 262, I, do TST). Prazos anuais, ou seja, aqueles contados por anos terminam no mesmo dia do ano seguinte àquele que começam (p.ex. se o início de dá em 06/03/2014, o término será em 06/03/2015); Os prazos contados em meses obedecem ao mesmo critério, independentemente do mês ter 28, 29, 30 ou 31 dias. Quanto aos prazos por hora, praticamente se contam como os contados por dia em razão de não se poder, em geral, precisar a hora em que começam. Observação: conta-se o prazo a partir da retirada dos autos em carga se esta for feita antes da publicação no órgão oficial do ato que daria início ao prazo. Caso não se cumpra o prazo processual poderá haver sanções legais, as quais podem atingir o Juiz (art. 658, “d”, da CLT), os serventuários (art. 712, § único, da CLT) e, principalmente as partes, que podem perder, por preclusão, o direito de praticar o ato, inclusive recorrer. 5. Preclusão Preclusão é a perda da possibilidade de realizar um ato processual. Pode ser: temporal (quando decorre o prazo em que poderia ter sido praticado); consumativa (quando é praticado o ato que deveria sê-lo; p.ex. interposto uma vez o recurso, não se pode interpor novamente); lógica (quando é praticado determinado ato incompatível com a prática de certos outros; p.ex. quando há desistência do processo impedindo a interposição do recurso). A preclusão temporal e a lógica são consideradas também como impeditivas, e a consumativa também é denominada extintiva. Em algumas hipóteses a preclusão atinge o juiz, como por exemplo, quando prolata uma sentença, não podendo voltar a fazê-lo, embora em certos casos possa modificá-la, como no julgamento de embargos de declaração (ou se houver erro material). No novo processo civil, o legislador afastou a preclusão de decisões interlocutórias que não sejam passíveis, de imediato, de agravo de instrumento (art. 1009, §1º, c.c. art. 1015 do CPC). Referido entendimento, no entanto, dificilmente deve ser aplicado ao processo do trabalho, devendo-se atentar para a ocorrência sempre da preclusão nas decisões interlocutórias quando a parte não lança mão dos protestos verbais (em audiência) ou por escrito (em caso de intimação de decisão judicial não proferida em audiência). Os artigos 223, 507 e 1000, todos do CPC, também tratam do instituto da preclusão. IX. NULIDADES PROCESSUAIS (ARTIGOS794 a 798, da CLT) 1. Conceito Nulidades são vícios (irregularidades/defeitos) que os atos jurídicos podem apresentar, no caso, os atos processuais (nulidade processual). Para Sérgio Pinto Martins, nulidade é a “sanção pelo descumprimento da forma prevista em lei”. 2. Elementos dos atos jurídicos Todos atos jurídicos (inclusive os processuais) devem ter, para ser considerados válidos, os seguintes elementos: agente capaz, livre manifestação da vontade, objeto lícito e forma prescrita ou não proibida em lei. Caso não seja observado algum dos elementos, diz que o ato está acometido de nulidade. Do ponto de vista processual, a hipótese mais comum de nulidade está ligada ao descumprimento da forma prevista em lei. 3. Tipos A nulidade, conforme ensina a doutrina civilista, pode ser absoluta ou relativa. A primeira (absoluta) é ditada por questões de ordem pública, como acontece com as hipóteses de incompetência em razão da matéria ou em razão das pessoas, devendo o juiz reconhecê-la de ofício. A segunda (relativa) depende do interesse da parte, que deve provocar o juiz para declará-la. Exemplo desta última: a incompetência em razão do lugar. Na Justiça do Trabalho os vícios processuais são tratados como nulidade processual sem especificação (absoluta ou relativa) e só são reconhecidos se deles resultar algum prejuízo à parte. O prejuízo aqui é de ordem processual. 4. Reconhecimento A nulidade na Justiça do Trabalho deve ser, via de regra, sempre requerida pela parte, salvo quando for caso de incompetência de foro, quando poderá o Juiz a declarar de oficio (§ 1º, art. 795, CLT). Discute-se, porém, se os casos de nulidade absoluta deveriam ser declaradas ex officio. Contudo, por uma questão de cautela, a nulidade deve sempre ser requerida pela parte. Atenção: A incompetência de “foro” a que alude a CLT não diz respeito à incompetência territorial (relativa e prorrogável), mas à competência em relação à matéria (absoluta e improrrogável). Quis-se dizer “foro”, como modo de diferenciar “foro comum” de “foro trabalhista”. Nesse sentido são as lições de Valentin Carrion e Christovão Piragibe Tostes Malta. Já para o Prof. Amauri Mascaro Nascimento a incompetência tratada pela CLT seria aquela em razão do lugar, o que, como visto acima, não tem respaldo jurídico. 5. Momento de arguição A parte deve arguir a nulidade na primeira vez que tiver que falar nos autos ou em audiência (art. 795, CLT). 6. Hipóteses de não-declaração: a) Quando se puder decidir o mérito em proveito de quem a alega, é desnecessária sua declaração. b) A nulidade também não é pronunciada na Justiça do Trabalho quando: (i) for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato; (ii) for arguida por quem lhe tiver dado causa (art. 796, CLT). 7. Efeito/Consequência A nulidade de um ato não torna nulo todo o processo. Quando é admitida uma nulidade processual, o Juiz ou o Tribunal declara quais os atos que foram atingidos. Normalmente são atingidos os atos posteriores e dependentes daquele tido por nulo. X. PARTES, REPRESENTAÇÃO, PROCURADORES E TERCEIROS 1. Denominação Nas reclamações trabalhistas em geral (dissídios individuais), o autor da ação é denominado de reclamante e o réu de reclamado. Obs: Outras denominações para as partes: (a) nos dissídios coletivos, as partes são suscitante e suscitado; (b) no inquérito judicial para apuração de falta grave, o autor é a empresa (requerente) e o réu é o empregado (requerido); e, (c) nas ações de execução de título extrajudicial, o autor da ação é denominado de exequente (ou credor) e o réu de executado (ou devedor). 2. Representação Dá-se a representação quando alguém recebe a qualidade para agir em nome de outrem, manifestando a vontade do representado, substituindo-o. Caso típico trabalhista (tratado pela CLT como representação, mas que, tecnicamente, é assistência): o menor de 18 anos somente poderá propor reclamação trabalhista por seus representantes legais (pai, mãe, etc.) e, na falta destes, pela Procuradoria da Justiça do Trabalho, pelo Sindicato, pelo Ministério Público estadual ou curador nomeado em juízo (art. 793, CLT). Já os maiores de 18 e menores de 21 anos poderão pleitear seus direitos trabalhistas sem a assistência de seus pais, tutores, etc. (art. 792, CLT). São ainda representados em juízo (art. 75 do CPC): (a) a União, os Estados, o Distrito Federal, por seus procuradores; (b) o Município poderá tanto ser representado pelo Prefeito ou por procurador; (c) a massa falida será representada pelo síndico; (d) a herança jacente ou vacante, por seu curador; (e) o espólio, pelo inventariante (obs: em matéria trabalhista quem representa o espólio é o beneficiário - dependente - do falecido junto ao INSS e só na falta deste é que se aplica a regra de representação pelo inventariante); (f) as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou não os designando, por seus diretores; (g) as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; (h) a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil; (i) o condomínio, pelo síndico (art. 2º da Lei 2757/56); (j) o empregador doméstico pela pessoa que assina a CTPS ou pelos demais membros da família. Observações: a) Nas reclamações plúrimas, a representação pode ser feita pelo sindicato da categoria (art. 843, CLT) ou por uma comissão eleita para representá-los. b) É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer outro preposto que tenha conhecimento do fato e cujas declarações obrigarão o preponente (art. 843, §1º, CLT). O TST entendia que o preposto deveria ser empregado (Súmula 377, do TST). Mas isso mudou com o advento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17) que acrescentou o § 3º ao art. 843 da CLT e deixou expresso que “O preposto a que se refere o § 1º deste artigo não precisa ser empregado da parte reclamada”. Quer dizer, desde 11/11/2017, quando entrou em vigor a reforma trabalhista, o preposto na Justiça do Trabalho não precisa mais ser empregado da empresa. c) Se, por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente comprovado, não for possível ao empregado comparecer pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença à mesma profissão ou por seu sindicato (art. 843, § 2º, CLT). d) O sindicato representa a categoria em juízo ou fora dele (art. 8º, III, da CF/88). 3. Procuradores Como já visto anteriormente, admite-se na Justiça do Trabalho o IUS POSTULANDI, que é o direito que a pessoa tem de ingressar em juízo, praticando pessoalmente todos os atos autorizados para o exercício do direito de ação, independentemente do patrocínio de advogado. Assim, num processo trabalhista, as partes (tanto empregado quanto empregador) podem ingressar em juízo independentemente de patrocínio de advogado (arts. 791 e 839, CLT). 4. Assistência Judiciária Na Justiça do Trabalho quem presta a assistência judiciária é o Sindicato (art. 14 da Lei nº 5584/70). Ela deve ser gratuita ao desempregado ou aquele que perceber salário inferior a dois salários-mínimos ou, ainda, àquele que declare não possuir condições econômicas de prover à demanda. OBS: Figura diversa é a do Benefício da Justiça Gratuita (isenção das custas), benefício este devido àqueles que, mesmo se valendo de advogado contratado, perceberem salário igual ou inferior salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do regime geral de previdência social ou à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. Essas modificações foram trazidas pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17) que alterou a redação do § 3º e acresceu o § 4º do artigo 790 da CLT. Antes da reforma, para obter a isenção de custas bastava que os empregados declarassem, sob as penas da lei, que não estavamem condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou da sua família (declaração de escassez). 5. Substituição Processual Consiste na possibilidade de alguém postular em nome próprio direito alheio, de acordo com previsão legal (art. 6º, do CPC e art. 18 do CPC2015). No processo do trabalho, a substituição processual é feita pelo Sindicato. As principais hipóteses de substituição processual no processo do trabalho são: (a) ação de cumprimento; (b) ação para reconhecimento de insalubridade ou de periculosidade (art. 195, § 2º, CLT e OJ 121, TST); (c) questões salariais contidas em leis de política salarial; (d) ação onde se postula o recolhimento/pagamento do FGTS em nome dos funcionários da empresa. O STF tem entendimento firmado de que a substituição processual pelo Sindicato deve ser a mais ampla possível, sendo as hipóteses acima elencadas meramente exemplificativas. 6. Intervenção de Terceiros As hipóteses de intervenção de terceiros previstas no CPC, notadamente as necessárias/provocadas, como a nomeação à autoria (art. 62 do antigo CPC – indicação errada da parte legítima); denunciação à lide (arts. 125 a 129 do CPC2015 – quando há, p. ex., possibilidade de haver ação regressiva – terceirização; ou, ainda, quando se discute a sucessão de empregadores); e, chamamento ao processo (art. 130 a 132 do CPC2015– p. ex.: devedores solidários – grupo de empresas), dificilmente são admitidas no Processo do Trabalho, diante dos seus princípios (celeridade, oralidade, informalidade, economia processual, etc.). O mesmo, aliás, acontece no âmbito do próprio processo civil nos juizados especiais, onde prevalece certa informalidade, celeridade e economia processual. Na Justiça do Trabalho havia, inclusive, uma Orientação Jurisprudencial que vedava essa possibilidade (Orientação Jurisprudencial nº 227 da SDI-1 do TST). No entanto, essa orientação foi cancelada pelo TST depois da EC 45/2004, abrindo a possibilidade de aceitação da intervenção de terceiros no âmbito trabalhista. Registre-se, a despeito disso, que não há tradição na Justiça do Trabalho em admitir essas hipóteses de intervenção de terceiros, salvo em casos extremamente excepcionais. Dentre as hipóteses de intervenção voluntária, e a despeito de alguns entendimentos doutrinários em sentido contrário, tem-se que: (a) a hipótese de assistência (art. 121 a 123, do CPC – intervenção adesiva – exemplo: o empregado entra como assistente numa demanda proposta pelo Sindicato como substituto processual daquele) sempre foi normalmente aceita; (b) assim como se deve aceitar a hipótese de oposição (art. 682 a 686 do CPC, como, por exemplo, quando um empregado entra com uma ação contra seu empregador alegando que inventou um produto e pedindo uma verba por tal criação e, nesse mesmo processo, outro empregado se apresenta como opoente dizendo que ele foi quem fez a invenção). NOTAS: No novo CPC (de 2015), não há mais a nomeação à autoria como uma das formas de intervenção de terceiro (já que, nesse caso, deve-se simplesmente reconhecer a ilegimitidade de parte “ad causam” daquela parte contra a qual a ação foi movida erroneamente). Além disso, a oposição não é mais tratada como intervenção de terceiros, tendo sido alocada como um procedimento especial. Mais ainda: foram incluídos os procedimentos de desconsideração da personalidade jurídica e de amicus curiae (arts. 133 a 138 do CPC). No âmbito do processo do trabalho, o TST editou recente resolução (211/2016) na qual edita novas súmulas e ajustas outras relativas à regularidade de representação processual (Súmulas 299, 303, 395 e 456 do TST e O.J. 451, da SBDI-II, do TST), tendo basicamente ajustado o teor de referidos enunciados de jurisprudência para determinar que os juízes e relatores (em grau de recurso), ao verificarem problemas de regularidade de representação, ao invés de extinguirem o processo ou não conhecerem de recurso por esse tipo de problema, deverão conceder à parte um prazo de 5 dias para regularização da representação processual. A Reforma Trabalhista deixou expresso que o procedimento incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no CPC (arts. 133 a 137) aplica-se ao processo do trabalho. Veja o teor dos dispositivos incluídos pela reforma à CLT (art. 855-A e §§): “Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil. § 1º Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente: I - na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1º do art. 893 desta Consolidação; II - na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo; III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado originariamente no tribunal. § 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).” - Questão dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho: Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá- lo, sobre o valor atualizado da causa. § 1º Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria. § 2º Ao fixar os honorários, o juízo observará: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. § 3º Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários. § 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. (recentemente esse parágrafo foi declarado inconstitucional pelo E. STF na ADI 5766) § 5º São devidos honorários de sucumbência na reconvenção.”
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