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Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Anemia Ferropriva Conceitos gerais Anemia é um termo que se aplica a uma síndrome clínica/quadro laboratorial caracterizado por diminuição do hematócrito, da hemoglobina no sangue ou da concentração de hemácias por unidade de volume. Podem ser classificadas em: hiperreativas (cursam com aumento de reticulócitos), normorretativas ou hiporreativas (diminuição do número de reticulócitos). A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia no mundo. Metabolismo do ferro A hemoglobina é a principal molécula transportadora de oxigênio, e sua produção é dependente da proteína globina, do anel profirínico do heme e da disponibilidade do ferro. A deficiência de um desses três componentes causa uma anemia microcítica e/ou hipocrômica A maior parte do ferro do corpo humano adulto (4g) está incorporado à hemoglobina e à mioglobina. O restante está principalmente nos depósitos de ferro do fígado e no interior dos macrófagos da medula óssea e do baço. Apenas uma pequena quantidade de ferro circula livremente no plasma ligado à transferrina (2%). Existem diversos mecanismos de reciclagem de ferro, sendo que a perda diária é de, em média, 1 a 2mg. Esses valores refletem a necessidade de consumo de ferro diário. A transferrina é a principal proteína associada ao ferro plasmático circulante, e a ferritina (ou apoferritina quando não ligada ao ferro) é a principal proteína associada ao ferro armazenado no interior das células, tanto no citoplasma, quanto nas mitocôndrias. Esta última é sinteizada pelo fígado e sua concentração é diretamente proporcional às reservas de ferro do organismo. O controle da absorção do ferro é feito pelas criptas duodenais e é de fundamental importância, uma vez que quantidades elevadas desse elemento são deletérias. O ferro não hêmico da dieta é dissolvido em parte pelo pH baixo do conteúdo estomacal. Após sofrer redução ao estado ferroso pela ferro-redutase, o ferro atravessa a membrana apical das células das criptas com a ajuda do transportador divalente de metais de tipo 1 (DMTI). Uma vez no interior da célula absortiva intestinal, o ferro é armazenado ligado à ferritina. Quando necessário, o ferro é excretado pela ferroportina e liga-se a transferrina plasmática. O complexo transferrina-ferro é captado pelos precursores eritroides, que possuem uma Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ alta afinidade por essa substância, o que explica o porquê da eritropoese prosseguir normalmente até que ocorra uma deficiência crítica de ferro ligado a transferrina, que reflete uma depleção total de ferro no organismo OBS! Hepcidina é um regulador central da homeostase do ferro, que atua sobre a absorção intestinal, a reciclagem do ferro proveniente dos eritrócitos senescentes e a mobilização do ferro depositado no fígado. • Produzida no fígado • Atua como um regulador negativo da absorção intestinal e da liberação do ferro armazenado através da sua ligação com a ferroportina (principal transportador de ferro das células das criptas intestinais), impedindo a incorporação do ferro a transferrina. Ciclo do ferro O ferro entra no organismo por meio de alimentos, ferro medicinal e por meio de transfusão sanguínea. Sua absorção ocorre no duodeno e jejuno proximal. No entanto, a quantidade absorvida depende do tipo de ferro ingerido: o subtipo Heme é 30% absorvido, enquanto o Não-Heme (ou íon Fe2+) tem sua absorção beirando os 10%. Alguns alimentos podem estimular a absorção do ferro não-heme; são eles: ácido ascórbico e outros ácidos (cítrico, málico) e as proteínas da carne. Por outro lado, fitatos (fibras dietéticas e cereais), fenólicos (mate, chá-preto, café e refrigerante), proteína do ovo (albumina) e do leite (caseína), além de minerais (Ca, Zn, Cu, Co, Mn) podem inibir essa absorção. Etiologia A anemia ferropriva, resulta de um desequilíbrio entre a quantidade de ferro corporal disponível para a produção de hemoglobina e as quantidades mínimas necessárias para manter a produção normal de hemoglobina durante a eritropoiese. A anemia ferrorpriva pode ser causada por: • Perda de sangue: o Principal causa de anemia ferropriva o Sangramento gastrointestinal o tipo mais comum, o Mas pode ocorrer também por outros meios, especialmente pelo trato genitourinário • Outras causas: o Aumento da demanda de ferro: Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ ▪ Crescimento rápido durante a infância e adolescência, gravidez e lactação. o Ingestão inadequada: ▪ Seja por não ingestão alimentar ou má absorção o Uso crônico de alguns medicamentos OBS! OS Bloqueadores dos receptores de histamina H2 ou inibidores das bombas de prótons não parece acarretar deficiência de ferro. Manifestações clinicas Os pacientes com anemia ferropriva de grau leve podem ser assintomáticos e o diagnóstico ser feito ao acaso durante os exames de rotina. O encontro de microcitose e hipocromia ocorre somente após o hematócrito ter caído para aproximadamente 30%, por essa razão pode não haver sinal da doença nas fases iniciais. A anemia ferropriva, como outras anemias, manifesta-se por meio de sintomas inespecíficos, como: • Fraqueza • Palidez • Tontura • Diminuição da intolerância aos exercícios físicos • Irritabilidade. OBS! O grau de fadiga e fraqueza pode ser desproporcional ao nível da hemoglobina. OBS! Em casos raros, mais frequentemente em mulheres idosas, pode haver disfagia pela presença de estreitamento ou membrana esofagianos (síndrome de Plummer-Vinson – pré-maligno). (Prova) OBS! A pica (alotriofagia) é uma manifestação clínica exclusiva da deficiência de ferro e consiste em um desejo intenso e incomum de comer determinadas substâncias não nutricionais, como: gelo, terra ou amido. (Prova) OBS! Em crianças, valores de hemoglobina menores que 5 podem cursar com irritabilidade, anorexia, sopro sistólico, alterações cognitivas e motoras. Os achados físicos que podem ser (Prova): • Glossite Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ • Estomatite angular • Esplenomegalia • Coiloníquia e tonalidade azul nas escleras o Achados menos comuns, porém altamente específicos Estágios de deficiência Diagnóstico É feito por meio de exame laboratorial hemograma e exames de quantificação das reservas de ferro total do organismo: • Hemograma o Níveis de hemoglobina o Volume corpuscular médio (VCM) o Hemoglobina corpuscular média (HCM) o Índice de variabilidade na distribuição de glóbulos vermelhos (RDW) o Reticulócitos: é um importante marcador da capacidade funcional da medula óssea diante da anemia. ▪ Valores normais variam de 50 a 100 mil reticulócitos/mm3 de sangue. ▪ Quando aumentado, indica atividade proliferativa compensatória por parte da medula óssea (como nas anemias hemolíticas) e quando diminuídos indicam medula hipoploriferativa (como nas anemias carenciais). ▪ A taxa de reticulócitos corrigida é o melhor parâmetro para a classificação fisiopatológica das anemias. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ o Esfregaço de sangue periférico: é um excelente indicador de anemia ferropriva. ▪ Os achados incluem: • Diâmetro eritrocitário diminuído, área da região central pálida maior que metade do diâmetro total do eritrócito e anisocitose na fase inicial da anemia ferropriva. o Achados compatíveis com produção de células vermelhas com deficiência de ferro no hemograma: • VCM e HCM normais (fase inicial normo-normo) • VCM e HCM baixos (fase micro-hipo) • RDW aumentado (variabilidade de tamanho celular)• Reticulócitos reduzidos OBS! Índice de Green e King – útil para diferenciação de microcitose por anemia ferroprova daquela característica das talassemias. O diagnóstico definitivo é feito por meio da quantificação das reservas de ferro total do organismo. Os níveis de transferrina e de ferro ligado à transferrina não são indicadores confiáveis da carência de ferro. • Ferritina sérica: Níveis abaixo de 10-15ng/dL são típicos na anemia por deficiência de ferro, refletindo a redução do ferro corporal total. • Transferrina sérica: Encontra-se elevada na deficiência de ferro. o Valor normal: 200-400mg/dl. • Capacidade total de ligação do ferro (TIBC) e saturação da transferrina: A capacidade de ligação do ferro reflete a capacidade total de transferrina disponível no sangue. o Normalmente varia de 300-390mg/dLl. o Um aumento na capacidade de ligação do ferro é visto com frequência na deficiência de ferro. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ OBS! O nível sérico de ferritina é mais confiável, menos invasivo e de melhor custo- benefício. (PROVA) OBS! O padrão-ouro para diagnóstico de deficiência de ferro é o aspirado de MO com coloração azul da Prússia (ferro corável), que se apresenta diminuído – raro ser necessário. (PROVA) OBS! São achados da anemia ferropriva: ferro baixo, capacidade total de ligação ao ferro aumentada e ferritina baixa. (PROVA) Diagnósticos diferenciais • Talassemia: valor normal ou aumentado do ferro sérico e saturação da transferrina. • Anemia da inflamação crônica: valor diminuído da saturação da transferrina e TIBC. • Síndromes mielodisplásicas: alteração da incorporação do ferro ao heme. Tratamento O tratamento da anemia ferropriva consiste na restauração das reservas de ferro do organismo. Entretanto, a causa subjacente sempre deve ser investigada antes de o tratamento ser iniciado Em geral, a resposta à terapia é bastante rápida, sendo os sintomas eliminados em alguns dias. O aumento da reticulocitose começa em 4-5 dias e, se houver reposição adequada de ferro, o nível de hemoglobina subirá em uma semana atingirá o nível normal após 6 semanas de terapia. Na maioria das vezes, a meta do tratamento (ferritina superior a 50mg/L) é alcançada após 4-6 meses. Se a causa da deficiência de ferro não for reversível, será preciso manter a terapia, mesmo após a restauração adequada das reservas de ferro. O nível sérico de ferritina geralmente não se eleva até que os níveis de hemoglobina estejam normalizados. • Uso oral o É a via preferida. o A administração experimental de ferro é um modo alternativo de confirmar o diagnóstico de anemia ferropriva. o Sulfato ferroso 325mg, 3x/dia, diariamente – preferencial. o Gluconato ferroso 300mg 2-3x/dia, diariamente ou Fumarato ferroso 325mg 2-3x/dia, diariamente Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ ▪ Menos efeitos colaterais, porém sua absorção é bem menor, não sendo vantajosa sua administração, exceto em pacientes que não toleram o sulfato ferroso. • Uso parenteral o Tratamento alternativo eficaz para as situações nas quais não se consegue controlar a perda de sangue primária, ou o ferro não é absorvido por causa de uma má absorção acentuada, ou o ferro administrado oralmente não é bem tolerado. o A administração intramuscular limita-se a 100mg/injeção ▪ Recomenda-se a administração intravenosa em uma dose de 125mg de gluconato férrico de sódio durante 10 minutos (forma preferida pela baixa incidência de reações adversas). OBS! A transfusão de hemácias deverá ser reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual.
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