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PESQUISA APLICADA ÀS RELAÇÕES PÚBLICAS Fernanda Rocha de Aguiar A natureza do conhecimento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir conhecimento, a sua origem, essência e os seus tipos. Explicar a importância da produção de conhecimento e dos seus critérios de validação. Identificar a evolução do conhecimento científico. Introdução O conhecimento é uma produção de saberes da sociedade que acom- panha a sua própria evolução ao longo do tempo e do espaço, em que o homem exercita sua criatividade e os infinitos questionamentos sobre os fatos. Ao longo dos anos, o ser humano evoluiu, assim como as diferentes abordagens sobre o que lhe cerca, desde as afirmações de um conheci- mento clássico até a criação do pensamento sistêmico. Neste capítulo, você vai conhecer a origem do conhecimento e sua classificação, entenderá como ele é produzido e como ocorre sua evo- lução diante das fases pelas quais a sociedade vem passando. A origem e os tipos de conhecimento O ser humano sempre precisou empregar a sua inteligência e criatividade para vencer os desafi os impostos pela própria natureza, os quais o levaram à constante refl exão e à busca de soluções. Assim, o homem descobriu o fogo, inventou a roda e registrou a longa trajetória da sua existência em função da produção de conhecimento. O estudo que pesquisa o significado do conhecimento faz parte da abor- dagem da gnosiologia ou da teoria do conhecimento, que é formada partir do termo grego “gnosis”, que significa conhecimento e “logos”, que significa doutrina (BECK, 2017). Essa teoria reflete sobre a concordância do pensamento entre sujeito e objeto. O objeto pode ser entendido como uma ideia, um fenômeno, um conceito, que é visto de forma consciente pelo sujeito. Essa relação define o que é inato ao ser humano: refletir sobre a aparência das coisas, procurando respostas para suas inquietudes para satisfazer a sua natural curiosidade. Esse sentido gnosiológico alerta para duas necessidades prementes ao homem: a de conhecer algo sem outro interesse senão o de saber sobre o objeto: e o conhecer que objetiva uma prática, a satisfação de uma necessidade psicológica vital na sua esfera do conhecimento. Origem do conhecimento O conhecimento tem seus primórdios na Grécia antiga, com base na tríade fi losofi a-ciência-tecnologia. Os primeiros fi lósofos — os pré-socráticos — dedicavam-se a um conjunto de indagações principais: por que e como as coisas existem? O que é o mundo? Qual é a origem da natureza e quais são as causas de sua transformação? Essas indagações colocavam no centro a pergunta: o que é o ser? (CHAUÍ, 2000). As obras de Platão e de Aristóteles discutem as grandes concepções do conhecimento que, em mais de 2 mil anos, é sempre a questão central a ser discutida e que orienta os caminhos buscados pelos homens (BAZZANALLA et al., 2013). O homem apresenta admiração pelo saber e, desde a antiguidade, absorvia o seu entender a partir dos fenômenos que sentia, revelando-se um verdadeiro intérprete da realidade exterior. Mas, com o passar do tempo, ele deixou de ter essa postura contemplativa e passou a assumir uma nova atitude, tornando- -se mais ativo frente aos fatos. Esse movimento foi protagonizado por René Descartes, filósofo francês e considerado o pai da modernidade. A partir dessa abordagem, surgiu o moderno problema do conhecimento em que o homem se debruça sobre seu próprio ato de conhecer e tenta “[...] resolver a questão de como é possível haver conhecimento a partir de sua própria racionalidade” (BAZZANALLA et al., 2013, p. 33). O fato é que, em toda forma de interpretação da realidade que o homem produziu ao longo de sua história, o conhecimento apresenta-se como um dilema entre a mente e as coisas, o que denota a reflexão se o ser e o saber não serão aspectos do mesmo problema. Ou seja, a complexidade da realidade em que o homem está inserido traduz a afirmação de que não há segurança A natureza do conhecimento2 com relação ao conhecimento das coisas ou firmeza quanto à verdade do conhecimento, pois os seres humanos afetam e são afetados pelo que lhes cercam (CARVALHO, 2008). O conhecimento é útil para o homem porque o lança ao desconhecido e isso lhe traz prazer e satisfação, a partir do momento em que o instiga a pensar e a se prover de sabedoria, garantindo não apenas uma vida de fatos e experiências empíricas, mas atribuindo sentido. O conhecimento adquirido é um instrumento usado para agir, por isso, o conhecer não é apenas estar informado sobre alguma coisa, mas aplicar na prática um desafio da atualidade, a partir de tantas transformações tecnológicas. A origem do conhecimento humano é abordada de forma autêntica em um profundo estudo sobre a descoberta do fogo na Pré-história, por meio do filme A Guerra do Fogo, de 1981. Nessa abordagem, você pode observar as descobertas do pensamento humano diante da realidade que o cerca e a sua interação com essa realidade, produzindo conhecimento e novas formas de agir. Tipos de conhecimento Para que a ciência seja devidamente compreendida é preciso entender os diversos tipos de conhecimento e suas principais características. É aceitar que os diversos níveis de conhecimento se apresentam no cotidiano do ser humano, pois a ciência relaciona-se com o meio acadêmico, com a pesquisa, com a educação e com a cultura da sociedade. O senso comum O conjunto de normas e variáveis de uma sociedade produz modos de ação que correspondem à forma como se vive e as diferentes relações entre as pessoas e os fatos que as envolvem. Há que se pensar como tratar as pessoas, como se comportar nos diversos ambientes, o que é admitido, o que é proibido e quais são os aspectos da experiência prática que as pessoas ensinam umas às outras em suas formas espontâneas de saberes. O conjunto desses conhecimentos forma o senso comum. 3A natureza do conhecimento O senso comum nasce da experiência cotidiana da vida levada em sociedade. É um saber produzido por hábitos e por costumes, com práticas, tradições, regras de conduta, etc., tudo o que se necessita para orientar o dia a dia de uma pessoa. Trata-se de um saber informal, adquirido de forma natural, a partir do contato com os outros, com os aspectos que atravessam a vida e com os objetos que a envolvem. Esse tipo de conhecimento é adquirido desde o nascimento até a infância e segue pela fase adulta à medida que forma as pessoas a partir de sua interação e não requer grandes esforços, a exemplo dos saberes formais da ciência. No entanto, as certezas trazidas pelo senso comum geralmente serão questionáveis, pois são adquiridas pelas aparências e pelas formas de cultura popular, de forma subjetiva. Os ditos populares, as crenças e as tradições não apresentam um estudo científico, mas um conjunto de pressupostos básicos que acompanham a realidade da sociedade. Seu caráter é empírico, porque deriva diretamente da experiência cotidiana, assim como é assistemático, uma vez que não é estruturado de forma racional, tanto como se adquire ou quanto é formado. Além disso, o senso comum é ametódico porque não segue um conjunto de regras formais que advêm de um estudo planejado (BAZZANALLA et al., 2013). O conhecimento popular é valorativo, ele se fundamenta com base no estado de ânimo e nas emoções e implica uma dualidade de realidade entre o sujeito e o objeto. Conhecimento teológico O conhecimento teológico deriva da fé e de dogmas que fazem o indivíduo se comportar levando em conta o que aprendeu em sua natureza religiosa. Nesse contexto, há preceitos baseados no medo e na percepção de fatos espantosos que direcionam uma pessoa para o caminho em que ela acredita. Esse conhecimento baseia-se em dogmas, em leis e em fatos normalmente inquestionáveis sob o ponto de vista de quem o defende, pois foi adquirido pela fé divina ou pela crença religiosa. Assim como o senso comum, oconhecimento teológico gera questionamentos sobre os fenômenos da vida, pois surge diante de paradigmas adotados e ultrapassa os limites formais da ciência. A natureza do conhecimento4 O conhecimento teológico é valorativo e inspiracional pelo fato de as suas verdades serem reveladas pelo sobrenatural, é infalível e indiscutível (são verdades exatas), é sistemático por ser obra do Criador, então as suas evidências não são verificadas (LAKATOS, 2011). Conhecimento filosófico Esse conhecimento deriva da pura razão, um desejo natural do ser humano. Aristóteles já mencionava que o conhecimento é pressuposto natural do ser humano, pois, de fato, ele quer explicar os fatos de forma natural por fazer parte da sua essência. Para tanto, usa-se o questionamento constante no dia a dia, mas diferente do senso comum, esse preocupa-se em indagar o relacio- namento do indivíduo com o meio em que está inserido. As perguntas realizadas para proverem esses questionamentos encontram base no método socrático de questionamento constante, também conhecido como maiêutica. Por meio de perguntas sobre determinado assunto o indivíduo pode descobrir a verdade sobre algo. Para Sócrates, todo o conhecimento é latente na mente humana, podendo este ser estimulado por meio de respostas a perguntas feitas de modo perspicaz. Conforme Bazzanalla et al. (2013), a filosofia é um saber aberto, sistemático e racional que não é dogmático. Ainda que haja esse contexto um tanto quanto subjetivo, o conhecimento filosófico não tem embasamento em fatos que não sejam fundamentados na razão. Conhecimento científico A etimologia da palavra “razão” serve de orientação para a compreensão de seu sentido originário. Ela vem do grego logos, oriunda do verbo légein, que tomou o sentido de razão e palavra, linguagem, que usualmente se traduz por contar, reunir, juntar, calcular (CHAUÍ, 2000). Esse conhecimento prevê uma investigação racional a partir do uso de um método científico que avalia o conhecimento empírico. Essa ciência destacada constitui uma forma de conhecimento ativa, investigativa, mas, sobretudo crítica, à medida que avança na produção de conhecimento. Destaca-se que esse conhecimento também é fomentado pela leitura e pela reflexão, provocado intencionalmente como se apresentam os conteúdos. Mas, ao contrário do senso comum, o conhecimento científico é sistemático, pois 5A natureza do conhecimento possui um método de um saber ordenado, formado a partir de um conjunto de ideias que formam uma teoria. Além disso, o conhecimento científico pode ser comprovado, o que define seu princípio da verificabilidade, em que a ideia deve ser conferida sob a ótica da ciência. Também se menciona que o conhecimento científico é falível — não é definitivo, pois determinada ideia ou teoria pode ser substituída por outra mais atual ou mais completa. Além disso, esse conhecimento é racional, explicativo, analítico e tem investigação metódica. A produção de conhecimento e seus critérios de validação O processo de produção do conhecimento sobre o mundo social passa necessariamente pela releitura do que se vê em forma de representações. Ou seja, para tentar compreender o mundo é preciso, em um primeiro momento, desconstruí-lo, assim como o faz o mecânico de automóveis que, para compreender seu “objeto”, qual seja, o motor, precisa desmontá- -lo para depois remontá-lo, agora munido de um saber enriquecido pela prática (GOMES, 2001). Assim, quem produz o conhecimento se depara com o objeto a ser anali- sado e precisa desenvolver uma atitude crítica de forma a “desmontar” esse “objeto”, na forma de categorias conceituais, buscando o seu entendimento, também enriquecido pela atuação prática. Portanto, nesse movimento de ir e vir, produzir conhecimento científico significa fazer aproximações conceituais, de modo a compreender o objeto em sua pujança e movimento. Ciência é todo e qualquer conhecimento produzido de forma sistemática por meio de um método previamente definido, apoiado em técnicas de inves- tigação que proporcionem o conhecimento acerca de um determinado objeto de estudo. Dessa forma, valida-se que existe diferença entre o conhecimento que origina-se no senso comum e aquele produzido a partir de procedimen- tos sistemáticos que buscam o conhecimento sobre um objeto previamente delimitado (pensamento científico). O ato de avaliar, de julgar e de escolher como bom ou ruim, importante ou irrelevante, correto ou incorreto, é um comportamento ou uma ação ex- tremamente comum e habitual na vida humana, sendo ainda mais relevante na atividade científica. A avaliação é a própria atividade científica, pois, A natureza do conhecimento6 em busca de respostas aos problemas, os pesquisadores ininterruptamente avaliam conceitos, dados colhidos e teorias expostas anteriormente por seus pares (FREITAS, 1998). Na reportagem da Universidade de São Paulo (USP), que pode ser acessada pelo link a seguir, a professora Lia Queiroz do Amaral fala do processo de validação do conhecimento científico. https://qrgo.page.link/UHqMo Métodos de validação da produção de conhecimento A palavra “técnica” vem do grego tékhne e signifi ca arte. Se o método pode ser entendido como o caminho, a técnica pode ser considerada o modo de caminhar. Técnica subentende o modo de proceder em seus menores detalhes, é a operacionalização do método segundo normas padronizadas. É o resultado da experiência e exige habilidade em sua execução. Um mesmo método pode comportar mais de uma técnica (KOTAIT, 1981 apud OLIVEIRA, 2011). As escolhas metodológicas validam a descoberta científica em que podem ser utilizadas as seguintes categorias: classificação quanto ao objetivo da pesquisa; classificação quanto à natureza da pesquisa; classificação quanto à escolha do objeto de estudo. Já no que se refere às técnicas de pesquisa, os estudos podem utilizar as categorias a seguir: classificação quanto à técnica de coleta de dados; classificação quanto à técnica de análise de dados. Oliveira (2011) sintetiza, no Quadro 1, a seguir, as diferenças entre as formas de construção e a validação da produção de conhecimento. 7A natureza do conhecimento Fonte: Oliveira (2011, documento on-line). Classificação quanto aos objetivos da pesquisa Classificação quanto à natureza da pesquisa Classificação quanto à esco- lha do objeto de estudo Classificação quanto à téc- nica de coleta de dados Classificação quanto à técnica de análise de dados Descritiva Exploratória Explicativa Explorató- rio-descri- tiva Qualitativa Quantitativa Qualitativa- -quantita- tiva Estudo de caso único Estudo de ca- sos múltiplos Amostra- gens não probabilísticas Amostragens probabilísticas Estudo censitário Entrevista Questionário Observação Pesquisa documental Pesquisa bibliográfica Pesquisa Triangulação Pesquisa-ação Experimento Análise de conteúdo Estatística descritiva Estatística multiva- riada Triangu- lação na análise Quadro 1. Classificações técnicas de validação de um método Ao estabelecer a forma de construção do conhecimento a partir do objeto de estudo escolhido, a análise de dados firmará a comprovação das hipóteses ou a demonstração do novo conhecimento estabelecido. A análise dos dados é uma das fases mais importantes da pesquisa, pois, a partir dela é que serão apresentados os resultados e a conclusão da pesquisa, conclusão essa que po- derá ser final ou apenas parcial, deixando margem para pesquisas posteriores (LAKATOS; MARCONI, 2001). Existem várias técnicas de análise de dados, mas as principais são a análise de conteúdo e a estatística descritiva. Análise de conteúdo — A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações (BARDIN, 2009) que tem por objetivo enriquecer a leitura e ultrapassar as incertezas, extraindo conteúdos por trás da mensagem analisada.A autora afirma que a análise de conteúdo possui duas funções básicas: função heurística, que aumenta a prospecção à descoberta, enriquecendo a tentativa exploratória; e função de administração da prova, em que, pela análise, buscam-se provas para afirmação de uma hipótese. Assim, a análise de conteúdo trata de trazer à tona o que está em segundo plano na mensagem que se estuda, buscando outros significados intrínsecos na mensagem. A natureza do conhecimento8 Estatística descritiva — Segundo Mattar (2001, p. 62), “[...] os métodos descritivos têm o objetivo de proporcionar informações sumarizadas dos dados contidos no total de elementos da(s) amostra(s) estudada(s)”. As estatísticas descritivas utilizam as medidas de posição, que servem para caracterizar o que é “típico” no grupo, e de dispersão, que servem para medir como os elementos estão distribuídos no grupo. A necessidade de avaliação da atividade científica é também motivada pelo número crescente de publicações que estão sendo produzidas. Atualmente, há um notável aumento de trabalhos submetidos à publicação devido ao aumento do número de instituições mundialmente ativas atuando na área de pesquisa. Para avaliar a produção e a produtividade científico-tecnológica, têm-se utilizado largamente alguns indicadores de desempenho (FREITAS, 1998, documento on-line): índice de citações; prestígio dos periódicos em que os trabalhos são publicados; publicações em periódicos que fazem uso da avaliação por pares (o que valida o trabalho perante a comunidade científica); levantamento e índices de produtividade; levantamento quantitativo da produção por instituições, por áreas do conhecimento, por regiões ou por países. As análises quantitativas bibliométricas da atividade científica partem tanto da contagem da produtividade dos pesquisadores, das áreas científicas e das instituições, quanto da contagem das citações dos trabalhos dos autores ocorridas em outros textos. Essa contagem de produtividade tem a função de mapear a atividade científica e a produtividade das instituições — em geral, esses dados são utilizados por agências de fomento e por órgãos voltados à política científica. São análises quantitativas que, na maioria das vezes, não enfocam questões relativas à qualidade dos trabalhos, pelo próprio aspecto escolhido para avaliar. A análise de citações tem a pretensão de "medir" a qualidade dos trabalhos científicos via dados quantitativos, baseando-se no impacto ou na importância dada pela comunidade científica a alguns autores e seus trabalhos. No Brasil, a Plataforma Lattes é utilizada pela maioria das instituições de pesquisa. Nela, é possível registrar a vida acadêmica — progressiva e atual — de pesquisadores e de estudantes do País. Trata-se do resultado de um estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),e 9A natureza do conhecimento se constitui em uma base de dados pública no que diz respeito à inserção e à recuperação da informação por meio da internet. A Plataforma Lattes é um sistema de informação único que integra bases de dados curriculares e instituições das áreas da ciência e da tecnologia (SOUZA, 2018). Os resultados alcançados por meio da produção científica podem ser so- cializados em congressos e em publicações nos mais diversos formatos, como livros, capítulos de livros e artigos em periódicos científicos. Além disso, os programas de pós-graduação, por meio da produção científica, têm contribuído para a formação de pesquisadores, de professores e de profissionais para a melhoria da qualidade de ensino nos cursos e nas diversas áreas do conheci- mento junto ao mercado de trabalho (KUNSCH, 2015). Existe uma divindade? E ela tem ação sobre nós? Qual é a origem do mal? Assista ao vídeo do escritor e filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella sobre a filosofia no dia a dia e as perguntas que a humanidade se faz há séculos. Segundo Cortella, saber colocar um ponto de interrogação naquilo que parece óbvio é um movimento filosófico. https://qrgo.page.link/eMjyw No artigo “Sociedade e conhecimento: novas tecnologias e desafios para a produção de conhecimento nas Ciências Sociais”, é possível acompanhar o debate sobre algumas questões ligadas às relações entre sociedade e conhecimento. No artigo, os autores abordam as temáticas da sociedade da informação e da interdisciplinaridade (redes), associadas aos avanços nas tecnologias de informação e comunicação. https://qrgo.page.link/kr5mh Qual é a relação entre produção de conhecimento e poder? É possível acessar a verdade por meio do conhecimento? Essas questões foram feitas por Michel Foucault e são apresentadas, de forma crítica, na publicação a seguir. https://qrgo.page.link/RzfPU A evolução do conhecimento científico As mudanças de paradigmas ocorrem de tempos em tempos e acompanham a linha histórica da humanidade. Para melhor compreender essas mudanças, A natureza do conhecimento10 apresentamos as diferentes visões do conhecimento e sua infl uência na ciência (BEHRENS; OLIARI, 2007). Na Pré-história, a verdade era sobrenatural, revelada por inspiração divina e todos os fenômenos da natureza eram atribuídos aos deuses. A humanidade construiu seu primeiro paradigma a partir da ciência, no qual acredita ser capaz de explicar e de organizar a natureza, a vida social e o mundo psíquico, tendo como bases paradigmáticas a existência de dois mundos: o mundo real e o sobrenatural (CARDOSO, 1995 apud BEHRENS; OLIARI, 2007). Nos séculos VIII a VI a.C., na Grécia Antiga, surgiu a Era da Teoria do Conhecimento Clássico, em que tudo se explica como parte da natureza, pois a verdade está presente nela. Por isso, a busca pela verdade só se dá pela razão, que pode ser usada como instrumento de conhecimento do mundo, das coisas, da natureza. Nesse período, o conhecimento científico caracterizou-se pela abordagem racional, discursiva e demonstrativa. O objeto era focalizado a partir da visão de racionalidade. Na Idade Média, surgiu a Teoria do Conhecimento, na qual a verdade está posta: há um criador que é Deus, o máximo Bem. O homem é entendido como criatura de Deus, ele se define na relação com o absoluto. A verdade se acessa pela fé, em especial, na crença a partir das Escrituras Sagradas. A racionalidade do pensamento é aceita, mas acima dele está a fé. A partir disso, a igreja dominava e tinha o monopólio da cultura. Nesse período, ocorreram poucas inovações científicas, pois os cientistas sofriam muita repressão por parte da igreja (BEHRENS; OLIARI, 2007). Com o surgimento do Renas- cimento, o homem precisava ser liberto e “pegar nas suas próprias mãos” o processo do conhecimento. A visão teocêntrica tendia a ser superada pela visão antropocêntrica, assim, a nova cultura focalizou-se no homem, que se acreditava o senhor do cosmo e da natureza. Com a Idade Moderna e as afirmações de Descartes, nasceu o período em que o conhecimento passou a ser aceito a partir da certeza absoluta e inquestionável. Assim, o fundamento último do conhecimento foi garantido pela certeza e pela objetividade. Na segunda fase da Modernidade, no final do século XVIII até o início do século XIX, por meio de testes quantificadores matemáticos, buscou-se a compreensão da pessoa e de sua personalidade e inteligência. Nesse período, a psicologia tornou-se ciência e separou-se da filosofia, e, a partir disso, emergiram várias teorias psicológicas, entre elas, a Teoria Comportamental. Todas essas teorias tentavam explicar o comportamento humano no enquadro da simplificação de “causa e efeito”. 11A natureza do conhecimento Assim, o paradigma tradicional começou a ser questionado, no início do século XX, e a ruptura foi acelerada, quando a visão de considerar científico o que se enquadrasse dentro do modelo linear de causa-efeito proposto pela física mostrou-se insuficiente para lidar com as contradições insuperáveis, com a desordem e com a incerteza porela mesma detectadas. Essa ruptura entre o mundo moderno e o contemporâneo caracterizou o final de uma história e o começo de outra (MORAES, 1997 apud BEHRENS; OLIARI, 2007). O mundo repleto de incertezas, contradições, paradoxos, conflitos e desafios levou ao reconhecimento da necessidade de uma visão complexa. Essa visão significa renunciar ao posicionamento estanque e reducionista de conviver no universo. Significa aceitar o questionamento intermitente dos problemas e das suas possíveis soluções. Assim, busca aceitar uma mudança periódica de paradigma, uma transformação na maneira de pensar, de se relacionar e de agir para investigar e integrar novas perspectivas (BEHRENS; OLIARI, 2007). Assim, surgiu o pressuposto da complexidade que busca a contextualização dos fenômenos e reconhece as causas recursivas, em especial, apresentadas pela impossibilidade de explicação dos fenômenos pelo pressuposto da simpli- ficação. Na contextualização, amplia-se o foco dos elementos para as relações que ocorrem entre eles, sendo que nenhum dos dois desaparece, pois ambos são importantes. Percebem-se redes de interconexões, nas quais o pesquisador distingue o objeto de seu contexto, sem perder de vista sua inserção, sem isolá-lo. Passa-se do pensamento disjuntivo para o integrador, com visão de totalidade e de interconexão (BEHRENS; OLIARI, 2007). Veja como um paradigma pode ser explicado. Uma das expressões mais recorrentes no vocabulário de quem tenta falar difícil é “paradigma”. No entanto, são poucas as pessoas que conhecem o real significado dessa palavra. O termo “paradigma”, no sentido definido pelo filósofo T.S. Kuhn, está intimamente relacionado à ciência e às revoluções científicas. Ele representa um guia para análise e interpretação da natureza. Ou, como costuma-se dizer, são óculos que ajudam o cientista a ver e a compreender a natureza. Vamos a um exemplo. Durante uma aula de ciências, o professor solta uma pedra e ela cai no chão. O mestre, em seguida, explica aos alunos que o objeto despencou em decorrência da força da gravidade, que o puxou para baixo. A explicação é baseada no paradigma newtoniano, segundo o qual matéria atrai matéria. Quanto maior o objeto, mais atração ele exerce. Como nosso planeta é muito maior do que a pedra, ele a atrai e A natureza do conhecimento12 não o contrário. Assim, o paradigma estabelecido por Newton nos ajuda a observar e a entender o fenômeno das coisas que caem. A explicação pode parecer óbvia, mas não é. Os aristotélicos anteriores a Newton tinham uma maneira diferente de compreender o fenômeno. Para eles, a tendência das coisas é voltar ao seu estado natural. O estado natural dos objetos pesados são os locais baixos, assim como o estado natural das coisas leves são os locais altos. Assim, uma pedra cai pelo mesmo motivo pelo qual um balão sobe: ela está voltando ao seu estado natural. Digamos, no entanto, que, em vez de cair, a pedra fique flutuando no ar. Professores e alunos certamente ficariam estarrecidos. Por quê? Porque a natureza estaria contrariando o paradigma. A pedra voadora seria uma anomalia, um fenômeno que não se encaixa na expectativa que temos com relação à natureza. (Detalhe: um bebê não acharia nada de anormal no episódio, pois ele ainda não aprendeu o paradigma segundo o qual as coisas caem quando soltas). BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa; LDA, 2009. BAZZANELLA, A. et al. Metodologia científica. Indaial: Editora Uniasselvi, 2013. BECK, C. Ciclo gnosiológico (Paulo Freire). Andragogia Brasil, [s. l.], 2017. Disponível em: https://andragogiabrasil.com.br/ciclo-gnosiologico. Acesso em: 3 maio 2019. BEHRENS, M. A.; OLIARI, A. L. T. A evolução dos paradigmas na educação: do pensa- mento científico tradicional a complexidade. Revista Diálogo Educacional, [s. l.], v. 7, n. 22, p. 53-66, 2007. CARVALHO, J. W. S. Da teoria do conhecimento à metodologia científica: dilemas con- temporâneos da pesquisa social. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, v. 1, n. 1, p. 1-13, 2008. Disponível em: https://periodicos. unifap.br/index.php/pracs/article/view/11/n1Savino.pdf. Acesso em: 3 maio 2019. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 2000. FRAU, E. Filosofia. Aula teórica. Núcleo Pedagógico. SlideShare, [s. l.], 18 mar. 2016. Dis- ponível em: https://www.slideshare.net/ericafrau/4-filosofia-e-senso-comum. Acesso em: 3 mai. 2019. FREITAS, M. H. A. Avaliação da produção científica: considerações sobre alguns critérios. Psicologia Escolar e Educacional, [s. l.], v. 2, n. 3, p. 211-228, 1998. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/pee/v2n3/v2n3a02.pdf. Acesso em: 3 maio 2019. GOMES, A. A. Considerações sobre a pesquisa científica: em busca de caminhos para a pesquisa científica. Intertemas, Presidente Prudente, v. 5, p. 61-81, 2001. Disponí- vel em: https://www.fct.unesp.br/Home/Departamentos/Educacao/AlbertoGomes/ aula_consideracoes-sobre-a-pesquisa.pdf. Acesso em: 3 maio 2019. 13A natureza do conhecimento KUNSCH, M. M. K. Os campos acadêmicos em comunicação organizacional e relações públicas no brasil: caracterização, pesquisa científica e tendências. Revista Internacional de Relaciones Públicas, Málaga, v. 5, n. 10, p. 105-124, 2015. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MEU PENSAMENTO – conhecimento teológico. 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