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FISICO-QUIMICA: DAS FALHAS ATÉ NOSSO DIA A DIA No início do século XX a física clássica começou a apresentar algumas falhas e as leis newtonianas já não conseguiam explicar com clareza os fenômenos das escalas microscopias. Algumas das falhas notáveis da física clássica foram o espectro de radiação do corpo negro, o efeito fotoelétrico, a capacidade calorifica dos metais e os espectros eletrônicos. A resolução de todas estas falhas pela mecânica moderna foi de grande valia para a evolução da ciência e das tecnologias que conhecemos hoje, mas primeiramente vale destacar o espectro do corpo negro. O corpo negro era constituído de um corpo metálico oco contendo apenas um orifício aberto, de maneira em que a temperatura ambiente tal orifício aparecia negro, dai o nome. No entanto, quando este corpo é aquecido ele começa a irradiar luz, se tornando vermelho, após fica amarelado e depois disso se torna branco. Cada temperatura corresponde a uma coloração de luz emitida, que resulta em uma mistura de irradiações luminosas de diferentes frequências, e cada uma destas frequências contribui com uma parcela de energia para a energia total emitida pelo corpo negro. Estas emissões de luz podem então ser medidas por um espectrômetro e gerar um gráfico de intensidade versus comprimento de onda. A figura 1 traz o espectro característico de um corpo negro. Figura 1: Radiação do corpo negro. O padrão de espectro é similar para todos os metais, se apresenta com uma calda vindo da região dos comprimentos de onda infravermelho, atinge seu pico na região da luz visível e decai drasticamente na região do ultravioleta. Este era o espectro observado experimentalmente, porém a grande falha da física clássica se dá quando os físicos lorde Rayleigh e Sir James jeans desenvolvem uma explicação para essa irradiação baseada nas leis newtonianas, onde chegaram na chamada equação de Rayleigh-Jeans (equação 1). Equação 1: Equação desenvolvida por Lorde Rayleigh 𝜌(𝜆, 𝑇) = 8𝜋𝑘𝑇 𝜆4 ( 1) Porém está equação somente conseguia descrever adequadamente a irradiação de luz nos grandes comprimentos de onda, e falhava vergonhosamente nos baixos comprimentos de onda, tal formula sugeria que o espectro deveria ser exponencial e alcançar elevadas frequências na região de ultravioleta, ou seja, todos os corpos deveriam irradiar energia mesmo em baixas energia, o que faria com que não existisse escuridão. Está falha foi tão grande que recebeu o título de “a catástrofe do ultravioleta”. Mas por que está falha da física clássica merece tanto destaque? Pois foi tentando resolve-la adequadamente que em 1900 o físico Max Planck fez uma descoberta que revolucionaria como a física da época era vista. Planck mostrou que a equação de Rayleigh-James não ajustava a curva espectral de todos os comprimentos de onda porque admitia que os osciladores irradiavam qualquer quantidade de energia, Planck então sugeriu uma nova abordagem, no qual impunha uma restrição, isto é, os osciladores só podiam emitir energia em determinadas quantidades e estas deveriam ser múltiplos inteiros de hf, como mostra na equação 2, h recebeu o nome de constante de Planck e possui o valor de 6,626x10-34, enquanto f é a frequência de radiação emitida. Está suposição ficou conhecida como a quantização de energia. Equação 2: Quantização de Planck 𝐸 = 𝑛ℎ𝑓 (2) Agora com a quantização de energia era possível descrever adequadamente a emissão de luz do corpo negro com a equação 3. Equação 3: Quantização de Planck 𝜌(𝜆, 𝑇) = 8𝜋𝑘𝑇 𝜆5(𝑒 ℎ𝑐 𝜆 −1) (3) A quantização de energia não foi importante apenas para explicar adequadamente a irradiação do corpo negro, mas também para inserir a ideia de energia quantizada, ser quantizado significa não ser continuo, ou seja, variar segundo valores discretos (o quantum). Um ponto importante a destacar é que essa descoberta também serviu para a evolução dos modelos atômicos da época, onde a partir deste momento temos conhecimento dos níveis energéticos. FENOMENO FOTOELETRICO E SUA APLICAÇÃO HOJE EM DIA Outro ponto importante da descoberta de Planck foi a resolução do efeito fotoelétrico. O efeito foto elétrico é um experimento desenvolvido por Heinrich Rudolf Hertz, no qual para gerar ondas eletromagnéticas, hertz produzia descargas entre dois eletrodos. Em alguns casos ele observou que, quando a luz incidia sobre os catodos, a descarga ficava mais intensa. Este ficou conhecido como o efeito fotoelétrico, uma emissão de rádios catódicos – elétrons - induzida pela luz. Segundo as leis da física clássica, a luz possuía uma natureza eletromagnética e não era surpreendente que ela pudesse provocar a ejeção de elétrons. Um campo eletromagnético oscilante aplica a uma força também oscilante sobre as partículas que constituem o material, e se a força for suficientemente intensa e atuar durante um tempo suficiente, ela poderá produzir trabalho suficiente para liberar as cargas do material. Porém, assim como na radiação do corpo negro a física clássica cometeu alguns erros, era esperado que o efeito fotoelétrico possuísse as seguintes características: O efeito deveria ocorrer para qualquer frequência de radiação; A energia dos elétrons arrancados deveria aumentar com a intensidade da radiação aplicada, pois esta intensidade é proporcional ao quadrado do campo elétrico, e um campo maior aplica uma força maior. E um elétron seria liberado quando tiver acumulado energia suficiente para romper as ligações com o material. Então uma intensidade de luz baixa deveria levar mais tempo para arrancar os elétrons. Um sistema de efeito fotoelétrico pode ser esquematizado como mostrado na figura 2. A luz penetra no tubo evacuado através de uma janela de quartz. Os elétrons emitidos pelo cátodo são acelerados pela diferença de potencial ajustável V. O amperímetro pode então medir a corrente I. A chave de inversão permite aplicar valores negativos de V, para que os elétrons sejam freados após a emissão. Figura 2: Esquema de um sistema fotoelétrico. Os resultados típicos são mostrados como no gráfico abaixo: Figura 1: Radiação do corpo negro. Com uma determinada intensidade de luz L, pode ser observado que a corrente aumenta com a voltagem, até alcançar seu valor de saturação. Esse resultado pode ser interpretado como se a voltagem for suficiente, todos os elétrons, até mesmo aqueles que saem do catodo com pouca energia conseguem chegar até o coletor. Agora algumas discrepâncias em relação ao que se pensava com as leis da física clássica começam a aparecer. Se a intensidade da luz for aumentada, sem modificar sua frequência, a corrente de saturação aumenta na mesma proporção, porém, o valor do potencial de corte V0 permanece o mesmo. E outro fato que difere do que se pensava antes é de que não se observa nenhum atraso no estabelecimento da corrente em relação ao começo da exposição do material à luz, mesmo para intensidades muito baixas. Entendido como o efeito funcionava experimentalmente, como as previsões feitas pela física clássica estavam erradas e agora com a quantização de energia elaborada por Planck, Einstein conseguir desenvolver a resolução correta para este efeito. Einstein interpretou a hipótese de Planck como indicando que a radiação era composta de pacotes de energia, ou quantas, que hoje em dia são conhecidos como fótons, propagando-se como partículas, e a cada uma destas partículas ele atribuiu uma energia relacionada com a frequência v da radiação. 𝐸 = ℎ𝑣 (4) O estado de energia prevista por Planck é então interpretado como um estado de n fótons. 𝐸𝑛 = 𝑛ℎ𝑣 (4.1) As interações entre radiação e matéria passam a ser consideradas como processos de emissão e absorção de fótons. Em especial, o efeito fotoelétrico passou a ser interpretadocomo a absorção de um fóton pela matéria, levando à ejeção de um elétron. A energia neste processo permanece conservada, de maneira que w é o trabalho necessário para liberar o elétron do material e a energia cinética do elétron após a ejeção é: 𝐾 = ℎ𝑣 − 𝑤 (4.2) O trabalho w não é o mesmo para todos os elétrons, onde o valor de w0 é um valor característico das ligações moleculares de cada material. Este trabalho mínimo leva a máxima energia cinética do elétron mínimo, para uma dada frequência. 𝐾𝑚𝑎𝑥 = ℎ𝑣 − 𝑤0 (4.3) E se o lado direito desta equação for negativo, não haverá possibilidade de o efeito ocorrer. Ou ainda, o efeito ocorrerá somente em uma frequência especifica superior a um valor v0 dado por: ℎ𝑣0 = 𝑤0 (4.4) Com isso, em valores menores de frequência, o fóton não traz energia suficiente para vencer a função trabalho e o elétron não se desprende do material. Concluindo toda a descoberta de Einstein, a energia cinética máxima dos elétrons, e, portanto, o v0, depende da frequência da radiação, mas não da sua intensidade. Na visão corpuscular, aumentar a intensidade da radiação significa aumentar a quantidade de fótons incidente por segundo. O número de elétrons liberados por segundo, ou seja, a corrente elétrica aumenta na mesma proporção, como observado experimentalmente. Agora com o efeito fotoelétrico experimentalmente e teoricamente perfeitamente entendido começaram as aplicações em diversas áreas da tecnologia, como por exemplo, em Televisões de LCD e plasma, nos controles remotos, em diversos sensores, dispositivos de visão noturna, etc. Uma das aplicações mais interessantes do efeito fotoelétrico é nas câmeras digitais, como as que carregamos diariamente em nosso smartphones. Como vimos anteriormente a luz é uma onda eletromagnética caracterizada por um comprimento de onda. Essa radiação eletromagnética é quantizada e, por isso, pode ser interpretada como pacotes de energia, fótons. Nas câmeras fotográficas existem um sistema possuindo um semicondutor, isto é, um material que não é nem condutor e nem isolante. Ele está entre estes dois citados. Além disso, é um material que pode ser modificado de forma a torna-lo mais condutor. Uma forma de fazer com que este semicondutor se torne mais condutor, ou seja, conduza mais eletricidade, é fazer com que ele possua uma quantidade maior de elétrons para serem conduzidos. Quando dois tipos de semicondutores P e N (os quais possuem diferenças nas suas estruturas cristalinas) é formada uma região de depleção, o que cria uma barreira de potencial impedindo os elétrons de se transportarem para o semicondutor, podemos então incidir luz sobre essa região e, através do efeito fotoelétrico, fazer com que os elétrons de bande de valência dentro da região de depleção ganhem energia suficiente para passarem pela banda de condução e, então, serem transportadas pelo campo elétrico gerado pela barreira de potencial. Essa mobilidade de cargas através da região de depleção gera uma diferença de potencial nas extremidades do semicondutor. Um dos métodos que é utilizado para saber a intensidade da luz que está excitando esses elétrons é a DDP (diferença de potencial). E esse método de operação com qual é detectado a luz é chamado de fotovoltaico. Sabendo como a intensidade da luz pode ser detectada são utilizados filtros e detectores capazes formar e distinguir diversas cores advindas te todos os lados, tornando possível gerar uma imagem na câmera. Tudo isso não seria capaz sem a utilização do efeito fotoelétrico. REFERÊNCIAS ATKINS, Peter; PAULA, Julio de; FRIEDMAN, Ronald. Quanta, Matéria e Mudança - Uma Abordagem Molecular para a Físico-Química v. 2 - 1. ed, Rio de Janeiro: LTC, 2011, p. 22. Efeito fotoelétrico. Física moderna – if – UFRGS, 2009?. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/tex/fis142/fismod/mod03/m_s02.html. Acesso em: 13, ago de 2022. CHIBENI, S. SILVIO.O surgimento da física quântica. IFCH – INICAMP. Disponível em:< https://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/fisquantica.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2022. Foto diodo e o armazenamento de imagens em uma câmera digital. ENFITEC – UFRGS, 2016?. Disponível em: https://www.ufrgs.br/enfitecjunior/blog/o-fotodiodo-e-o- armazenamento-de-imagens-em-uma-camera-digital/. Acesso em: 15, ago de 2022.