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1 Eutanásia, distanásia, ortotanásia e mistanásia O direito à vida é o bem maior do ser humano, esse que tem seu fundamento jurídico na carta magna, propagando-se para os demais ramos do ordenamento jurídico. O direito à vida, previsto primordialmente, no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, é considerado um direito fundamental em sentido material, ou seja, indispensável ao desenvolvimento da pessoa humana – também pode ser considerado coo supraestatal, procedente do direito das gentes ou do direito humano no mais alto grau. De acordo com o artigo 121 do Código Penal, o significado de morte é unicamente matar alguém, de modo que a pena prevista deverá ser empregada para qualquer conduta de eliminar a vida de algum indivíduo, sendo considerado homicídio independente dos meios ou justificativas para tal ato. De acordo com os juristas Almeida Junior e Costa Júnior, o momento da morte consiste na cassação das funções vitais do ser humano (coração, pulmão e cérebro) de modo que ele não possa mais sobreviver, por suas próprias energias, terminados os recursos médicos validados pela medicina contemporânea, experimentados por um tempo suficiente, o qual somente médicos poderão estipular para cada caso isoladamente. A eutanásia é entendida como a morte provocada por sentimento de piedade à pessoa que sofre, de modo que age sobre a morte antecipando-a. Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal e movida pela compaixão ou piedade. Portanto, se a doença for curável não será eutanásia, mas sim o homicídio tipificado no art. 121 do Código Penal, pois a busca pela morte sem a motivação humanística não pode ser considerada eutanásia. Não há, em nosso ordenamento jurídico previsão legal para a eutanásia, prática que é considerada ilegal. Contudo, se a pessoa estiver com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal, dependendo da conduta podemos classificá-la como homicídio privilegiado, no qual se aplica a diminuição de pena como auxílio ao suicídio, desde que o paciente solicite ajuda para morrer. A eutanásia ativa acontece quando se apela a recursos que possam findar com a vida do doente, como injeção letal ou medicamentos em dose excessiva. A distanásia é o prolongamento artificial do processo de morte e por consequência prorroga também o sofrimento da pessoa. Muitas vezes o desejo de recuperação do doente a todo custo, ao invés de ajudar ou permitir uma morte natural, acaba prolongando sua agonia. Conforme Maria Helena Diniz, "a distanásia trata-se do prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal ou tratamento inútil. Não visa prolongar a vida, mas sim o processo de morte". De acordo com o artigo 41 do Código de Ética Médica, nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. A ortotanásia ou eutanásia passiva significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo natural. Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe uma contribuição do médico para que este estado siga seu curso natural. Assim, ao invés de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), deixa-se que este se desenvolva naturalmente (ortotanásia). A ortotanásia é conduta atípica frente ao Código Penal , pois não é causa de morte da pessoa, uma vez que o processo de morte já está instalado. Desta forma, diante de dores intensas sofridas pelo paciente terminal, consideradas por este como intoleráveis e inúteis, o médico deve agir para amenizá-las, mesmo que a consequência venha a ser, indiretamente, a morte do paciente. A palavra mistanásia advém do vocábulo grego mis (infeliz) e thanatos (morte), significando, portanto, uma morte infeliz. O termo é utilizado para se referir à morte de pessoas que, excluídas socialmente, acabam morrendo sem qualquer ou apenas uma precária assistência de saúde. Assim, podemos afirmar que as vítimas da mistanásia são as pessoas que não dispõem de condições financeiras para arcar com os custos advindos dos tratamentos da própria saúde, ficando na dependência da prestação de assistência pública. Eutanásia, distanásia, ortotanásia e mistanásia http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625629/artigo-121-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Eutanásia, distanásia, ortotanásia e mistanásia 2 A mistanásia ou eutanásia social, por sua vez, é o termo que denomina a morte de milhares de pessoas “sem nenhuma assistência, deixadas à própria sorte, em lixões, embaixo de viadutos, pontes, ruas e, principalmente, nos hospitais com corredores lotados, com pacientes moribundos e abandonados pelo Estado e por todos”. Sobre a mistanásia, Leonard M. Martin afirma que três categorias diferentes podem ser consideradas: → A primeira refere-se à massa de doentes que, por motivos políticos, sociais e econômicos, sequer chegam a ser pacientes pois não conseguem ingressar no sistema de atendimento médico; → A segunda reflete a realidade dos que, apesar de se tornarem pacientes, são vítimas de erro médico; → A terceira diz respeito aos pacientes que acabam sendo vítimas de más práticas por motivos econômicos, científicos ou sociopolíticos.
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