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Patrimônio - Memorial da Resistência

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS 
UNIDAS 
 
Gabriel Magno R.A: 5812956 
Otávio A. Caniato R.A: 2592933 
Caroline A. S. Silva R.A: 2407799 
 
 
 
FICHA INFORMATIVA E PROPOSTA PEDAGÓGICA: 
MEMORIAL DA RESISTÊNCIA 
 
 
 
Professor Ms. André Oliva Teixeira Mendes 
Museus, Arquivos e Patrimônio Histórico 
Turma 027208A07 
 
 
 SÃO PAULO 
2022 
 
1.0 – Identificação do estabelecimento. 
 O Memorial da Resistência foi selecionado coletivamente, devido a sua importância 
na preservação das memórias de repressão política, durante a ditadura civil-militar de 
64. 
 Entre 1940 e 1983, o prédio funcionava sob o nome de ''Departamento 
Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo'' (Deops-SP), local de permanência 
de uma das ordens policiais mais violentas e repressivas da ditadura. 
 
2.0 – Site, telefone E endereço. 
Site: http://memorialdaresistenciasp.org.br/ 
Telefone: (11) 3335-5910 
Endereço: Localizada no Largo General Osório, número 66 da Santa Ifigênia na 
grande São Paulo. 
 
3.0 – Histórico/Descrição. 
Fundado e projetado originalmente entre 1910 e 1914, visando abrigar os 
escritórios e armazéns da Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Após reformas, 
e o decreto da Lei estadual nº 2.034/1924, se torna o espaço de atuação da polícia 
política mais antiga de São Paulo, atuando como o Departamento Estadual de Ordem 
Política e Social de São Paulo (Deops-SP), de 1924 até 1983. 
O Deops-SP foi extinto para ser ocupado pela Delegacia de Defesa do 
Consumidor (Decon). Posteriormente torna-se Secretaria de Justiça para a Secretaria 
da Cultura e, em 1999 temos o tombamento do prédio pelo Conselho de Defesa do 
Patrimônio Histórico (Condephaat). 
Após 3 anos de restauração, em 2002 o ‘’Memorial da Liberdade’’ que 
apresentou ao público as antigas celas do Deops-SP. A partir de 2006 o Fórum 
Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, 
mobilizou-se para a mudança do nome, uma vez que o termo ’’Liberdade’’ não era 
adequado para a finalidade da memória do local, visto que muitos foram torturados e 
mortos no local. 
Somente a partir de 24 de janeiro de 2009, o Memorial da Resistência é 
relançado, consolidando seu compromisso com a preservação/compreensão da 
memória desse espaço, em relação com as realidades políticas do Brasil no tempo. 
Este local de memória, como antes dito, nasce na função de consolidar (e 
advertir) uma memória específica, sobre as atividades ocorridas em seu solo, em 
respeito ao período da ditadura civil-militar no Brasil. Servindo como material 
simbólico dessa narrativa sobre a ditadura, investiu-se na injeção de um acervo 
composto de testemunhos, daqueles que passaram pelo local (mais no tópico 
Acervo). 
 
4.0 – Perfil do público. 
 Estudantes dos níveis básicos, universitários, figuras públicas/artistas e, num 
geral, o público médio que compõe visitas turísticas. Famílias, jovens e pessoas de 
todos os estados do Brasil, no local, nosso grupo conheceu uma garota turista do 
Ceará e outra senhora do Rio Grande do Norte. 
 
5.0 – Acervo. 
 O prédio, conservado ao máximo para demonstrar a atmosfera e sentimento 
original de sua época, atraindo visitantes com os relatos e testemunhos daqueles que 
viveram definitivamente as experiências que ficaram em suas paredes. 
 Vale apontar que, por se tratar da unidade mais ‘’referenciada’’ do DOPS, 
muitas figuras importantes da parte da luta armada/militância, passaram pelo local. 
Sendo assim, através da visita e da consulta, foi notório perceber a criação de uma 
narrativa que dá forças (e voz) para aqueles que sobreviveram os infortúnios da 
repressão, censura e da tortura (não apenas física, mas psicológica). 
 Considerando o aparato documental levantado por trás das pesquisas e 
trabalhos acadêmicos, a seleção de entrevistados teve uma intenção específica. 
Remetendo muito àqueles que seriam ativistas de movimentos estudantis, para até 
mesmo sobreviventes de unidades armadas. É válido apontar que o Memorial levanta 
muito (também) as vozes de mulheres que sofreram as violências, que por vezes, 
teriam cunho sexual também. 
 Além disso, através das descrições e relatos, o Memorial levanta uma lista de 
lugares de memória simbólicos para esse período da Ditadura civil-militar. Tal lista se 
encontra mais acessível no próprio site da instituição e, a mesma salienta e faz 
conexões com aqueles que referenciam os locais. 
 
6.0 – Análise/Observações. 
Com o fim de sua atuação policial em 1983, podemos dizer que o prédio foi 
preservado pela sua ocupação porque continuou sendo usado para outros fins 
burocráticos. A exposição de suas celas foi um marco patrimonial e contradiz os 
discursos autoritários que possuem uma narrativa positiva sobre a ditadura. Essa 
memória construída por pessoas comuns, que nunca tiveram a dimensão da 
desumanidade a que se chegou nesse período, tende a eclipsar todo o conhecimento 
histórico e narrativas de personagens que hoje colocamos como vítimas da violência 
política. Não há dúvidas que muitos crimes cometidos de 1964 a 1988 não deixaram 
documentos para que os historiadores estudassem, contudo, essas ausências 
requerem atenção. Nora coloca que o lugar de memória, os arquivos, têm uma função 
de proteger uma memória que corre risco de ser apagada. 
“Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há 
memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter 
aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar 
atas, porque essas operações não são naturais” NORA, Pierre. Entre Memória 
e História: A problemática dos lugares. In: Projeto História. São Paulo: PUC, 
N. 10, PP. 13, dezembro de 1993. Tradução: Yara Aun Khoury 
 
Nora nos alerta sobre a importância de desnaturalizar os documentos, 
questionar suas motivações e este é o nosso objetivo com este trabalho. O Memorial 
da Resistência atualmente está mais voltado para as memórias dos presos políticos 
ligados à luta armada. Porém, documentos mais recentes que a criação deste espaço 
de memória remetem a uma outra versão sobre o fim da ditadura. Esse espaço acaba 
por valorizar e escolher a luta armada como o que nos salvou desse processo de 
repressão, quando na verdade o que derrubou esse regime foi a resistência da da 
população civil mobilizada nas ruas. Documentos como o Relatório da Comissão da 
Verdade, levantam outros crimes que esquecemos de colocar na conta da ditadura. 
Analisando o acervo principal de entrevistas do Memorial da Resistência 
podemos notar uma valorização maior da repressão política que violou direitos 
humanos em áreas urbanas. Conta com muitos relatos de como aconteciam as 
torturas e assassinatos, denotando assim as escolhas feitas pela instituição 
patrimonial em detrimento de outros crimes praticados durante a Ditadura. 
Nosso objetivo é conhecer as intencionalidades que constituíram seu 
tombamento e justificam sua função social. Um monumento histórico arquitetônico 
como o Memorial possibilita a preservação de uma memória e a continuação de sua 
problematização. Nem todas as vozes que aparecem no Relatório da Comissão da 
Verdade encontraram espaço neste hall, contudo, assim como o Museu do Ipiranga 
conseguiu se ressignificar, constantemente o Memorial também serve como ambiente 
de debates e estudos mais aprofundados de outros temas em seu site. 
A criminalização e perseguição dos movimentos políticos é algo que não pode 
ser esquecido. Investimos nesse local de memória de uma aura simbólica que está 
aliada às suas outras funções. O museu traz uma bagagem interessante de história 
oral dos combatentes permitindo uma operação dialética entre história e memória. A 
historiografia francesa e a Escola dos Annales possibilitaram ferramentas para 
interpretação de diversos tipos de fonte. Me lembram os estudos de Nora notar que o 
museu faz dessas entrevistasobjetos de ritualização quando as expõe de maneira 
permanente enquadrando esse museu como pertencente à categoria de local de 
memória. Ao mesmo tempo que a memória é afetiva e mágica, a história é fria e 
laicizante. Nora diz que a história fere a memória, é a sua deslegitimação,ao instruí-
la a destrói sendo sua antítese. É sempre bom salientar que apesar deste embate não 
queremos dizer que a história possa ser neutra, apenas que ela se coloca com 
objetivos universalizantes enquanto a memória é aquilo que é vivido. 
 “En cambio, la memoria es por completo otra cosa: es afectiva, 
psicológica, emotiva; en un principio es individual, a diferencia de la historia. 
La memoria, además, es extremadamente voluble, juega muchos papeles y 
no tiene pasado, ya que por definición es un pasado siempre presente”. NORA 
(2018) em entrevista à revista Letras Libres. Link: 
https://letraslibres.com/revista/entrevista-a-pierre-nora-el-historiador-es-un-
arbitro-de-las-diferentes-memorias/ 
Por vezes, as escolhas do Memorial podem gerar amnésia para o visitante 
casual. Seu espaço é pequeno e não tem a intenção de fornecer uma história única 
ou totalizante. Os crimes que a ditadura cometeu contra povos originários ocupam um 
pequeno espaço nos documentos e exposições do museu e esse esquecimento ou 
silenciamento sujeita quaisquer monumentos. O prédio do DOPS que abriga esse 
acervo pode ser visto como um ente vivo de pesquisa, debate e difusão. Ele se 
modifica no tempo e no espaço. Mas ainda assim podemos destacar um trecho do 
Relatório da Comissão Nacional da Verdade em que o exército aterroriza os 
Aikewara. Abaixo a transcrição: 
“Contudo, o mesmo modus operandi utilizado com os camponeses só 
foi replicado em relação aos Aikewara, povo indígena do Pará, também 
conhecido como fsuruí, que até hoje vive na região. Surpreendidos pela 
chegada do Exército, os Aikewara foram mantidos cativos em sua própria 
aldeia e submetidos às mesmas privações e torturas impostas aos 
camponeses, tanto no que diz respeito aos indivíduos como no que se refere 
à coletividade.” CNV Volume 1 (2014) 
 Saber que a resistência à Ditadura se restrinja apenas à luta armada é uma 
confusão que as narrativas mais difundidas desse período podem causar nos 
estudantes, por isso é importante que o educador produza um material que 
problematize os lugares de memória, em especial este, o que ficará evidente em 
nosso plano de aula. 
Uma das ausências encontradas, quando analisamos o ambiente que envolve 
o museu, é sobre as violações e abusos cometidos especificamente com o povo 
LGBT. É de nosso conhecimento que o Brasil é um país violento desde sua origem, 
porém essa violência caminha ao lado da homofobia e do preconceito, que resultaria 
em uma repressão muito mais forte a este grupo, no período da ditadura. 
Conseguimos encontrar este cenário, quando analisamos o segundo volume da 
Comissão Nacional da Verdade, onde a citação abaixo menciona alguns detalhes do 
que foi este período: 
“A eliminação de direitos democráticos e de liberdades públicas 
desencadeada pelo golpe de 1964, com a instauração de um regime 
autoritário e repressor, adiou as possibilidades da constituição de um 
movimento dessa natureza no Brasil, adiando-se a emergência de atores 
políticos que pautavam esses temas na cena pública. Paralelamente, a 
ditadura reforçou o poder da polícia, a censura sobre diversas esferas da vida 
e as arbitrariedades da repressão estatal, instituindo uma notória 
permissividade para a prática de graves violações dos direitos humanos de 
pessoas LGBT. ” CNV Vol 2. 
Não houve mandatos formalizados pelo Estado, onde o foco era exterminar os 
homossexuais, como por exemplo fizeram com a luta armada e militantes de 
esquerda. Todavia, é evidente que a ideologia do golpe possuía nitidamente uma 
perspectiva homofóbica, que relacionava a homossexualidade à perversão, ao “mau” 
e o que deveria ser combatido, e consequentemente era atrelado aos movimentos de 
esquerda, como se fosse mais um mau que a nação deveria combater. Devido isto, 
qualquer agressão feita contra os LGBT, era legitimada, visto que era uma ofensa à 
moral idealizada pelos líderes da ditadura, e de uma parte da população que era 
conservadora. 
Esses apagamentos, obviamente tem suas intencionalidades, e revelam a face 
de um Brasil, que não diminuiu a violência e não incluiu verdadeiramente estes povos, 
mesmo após o período ditatorial, mesmo após todas as lutas travadas. Mostram uma 
ferida que não foi cicatrizada e é latente até o momento atual, por isso é apagada. 
 
 
Bibliografia: 
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. In: Projeto 
História. São Paulo: PUC, N. 10, PP. 13, dezembro de 1993. Tradução: Yara Aun 
Khoury 
CNV Volume 1 e 2 (2014) 
 
7.0 – Proposta Pedagógica: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Proposta Pedagógica | Plano de Aula 
 Tema 
 
História e Memória em relação à Ditadura Civil-Militar pela análise crítica do 
Memorial da Resistência. 
 Problematização 
 
Discutir e entender as escolhas feitas na construção do Memorial da 
Resistência como local de memória, e identificar as ausências dessas 
escolhas. 
 Ano/Série 
 
3º ano do Ensino Médio 
 Quantidade de aulas 
 1 aula de 45 minutos e uma aula externa visitando o Memorial da Resistência. 
 Justificativa 
 
Iremos basear nossa aula nos escritos de Pierre Nora e na análise do Memorial 
da Resistência mediando um exercício de comparação com o Relatório da 
Comissão da Verdade. A aula que se realizará na escola será uma discussão 
sobre História e Memória e o conflito de narrativas sobre como transcorreu o 
período da ditadura. 
Conscientização sobre a importância da democracia e a bagagem que permitiu 
seu exercício atualmente é possibilitar que o povo se aproprie de seu passado. 
Vivemos em um país com uma democracia muito jovem e sua história está 
repleta de hiatos. Assim o objetivo de estimular cidadãos críticos, em vida 
escolar, será amparado por essa reflexão. 
Desenvolver criticidade quando se trata de Locais de Memória para a 
compreensão e prudência de que os monumentos não são neutros e, muito 
menos, janela para o passado factual. 
 Conhecimento prévio do aluno 
 
O aluno terá conhecimento sobre o processo que levou João Goulart à 
presidência do Brasil, assim como os conflitos internos dentro da nação que 
levaram ao seu golpe em 1964. Golpe esse, que fora articulado não apenas 
pelos membros do exército com apoio da elite, mas também com um vasto 
apoio da sociedade civil durante o processo. 
 Objetivos a serem alcançados 
 
Entender a importância da luta armada como forma de resistência, que é o que 
o memorial retrata bem, porém incluir e salientar outras formas de resistências 
que foram construídas no período, que também foram de grande importância. 
 Conteúdo a ser trabalhado 
 
Recorte temporal da Ditadura civil-militar de 1964-1985, dando ênfase nas 
datas que salientaram os Atos Institucionais, para desenvolver a narrativa e 
atmosfera que se estende no conceito do prédio do Memorial da Resistência, 
antigo local do DOPS de São Paulo. 
 Metodologia 
 
Iremos basear nossa aula nos escritos de Pierre Nora e na análise do Memorial 
da Resistência mediando um exercício de comparação com o Relatório da 
Comissão da Verdade. A aula que se realizará na escola, será uma discussão 
sobre História e Memória e o conflito de narrativas sobre como transcorreu o 
período da ditadura. 
Salientando-se no método ativo freiriano, estaremos lançando provocações 
aos alunos, para incentivar a discussão dos assuntos apresentados e as 
narrativas que se desenvolvem em relação à Ditadura civil-militar de 64. 
 Material a ser utilizado 
 
Obras de autores da historiografia, slides, vídeos de testemunho sobre o 
período ditatorial, e arquivos da CNV. 
 Avaliação 
 
Avaliação 1: A avaliação seria contínua, no momentoda aula externa sendo 
realizada no Memorial os estudantes seriam desafiados a formular 2 perguntas 
que poderiam fazer sobre o contexto histórico do prédio ou sobre a ditadura. 
Ser avaliado pelo seu instinto de curiosidade e criticidade seria uma forma mais 
informal de avaliação. 
Avaliação 2: Após assistir alguns testemunhos, o discente deverá escolher uma 
personalidade e fazer uma pesquisa sobre sua atuação antes e depois do 
processo de repressão. Nessa pesquisa poderão fazer, por si mesmos, uma 
crítica interna e externa dos documentos. Como são estudantes que estão no 
final do Ensino Médio é um momento oportuno para que o aluno faça uma 
autoavaliação sobre as habilidades que adquiriu em toda sua vida escolar. 
 Bibliografia 
 
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos lugares. In: Projeto 
História. São Paulo: PUC, N. 10, PP. 13, dezembro de 1993. Tradução: Yara Aun 
Khoury 
CNV Volume 1 e 2 (2014)

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