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1 Fisiologia – Vitor Benincá CONCEITO Síndrome clinica complexa que resulta do comprometimento estrutural ou funcional do enchimento ventricular ou da ejeção sanguínea que, por sua vez, causa os sintomas clínicos cardinais de dispneia e cansaço e os sinais de IC, especificamente edema e estertores. ETIOLOGIA A etiologia pode ser qualquer condição que leve alteração na estrutura ou função do ventrículo esquerdo (VE), que possa predispor o paciente a desenvolver IC. Ainda que a etiologia da IC nos pacientes com FE preservada seja diferente daquela encontrada nos casos com diminuição da FE, há considerável sobreposição de etiologias para essas duas condições. Nos países industrializados a doença arterial coronariana é responsável por até 75% dos casos, a HAS contribui para o desenvolvimento também de 75% dos pacientes incluindo daqueles com DAC. 20-30% desconhecida Doença de chagas (geralmente inicia com aumento do VD) Infecção viral, exposição toxinas (álcool, drogas, quimioterápicos) PATOGÊNESE É um distúrbio progressivo iniciado quando um evento-índice que lesa o músculo cardíaco, resultando em perda dos miócitos cardíacos funcionantes ou, alternativamente, em diminuição da capacidade do miocárdio de gerar força, impedindo, assim, que o coração se contraia normalmente. Esse evento-índice pode ter instalação súbita, como no caso de IAM; início gradual ou insidioso, como nos casos de sobrecarga hemodinamicamente de pressão ou de volume, ou ser hereditário, como nos casos das diversas miocardiopatias genéticas e malformações cardíacas. Deve-se intervir antes de chegar os sintomas e disfunções Independentemente da natureza do evento desencadeante, o fator comum a todos esses episódios é a ocorrência, de algum modo, de declínio, na capacidade de bombeamento do coração. Na maioria dos casos, os pacientes mantêm-se assintomáticos ou minimamente sintomáticos após o declínio inicial na sua capacidade de bombear ou desenvolvem sintomas apenas algum tempo após a instalação da disfunção Uma explicação razoável é o grande número de mecanismos compensatórios ativados na presença de lesão cardíaca e/ou de disfunção do VE, permitindo aos pacientes manter e modular a função do VE por meses ou anos Insuficiência Cardíaca AULA 3 2 Fisiologia – Vitor Benincá MECANISMO DE COMPENSAÇÃO DE FRANK-STARLING PARA MANTER O DC Os mecanismos compensatórios descritos até o momento incluem: Ativação do SRAA e ativação do sistema adrenérgico Aumento da contratilidade miocárdica Além disso, há ativação de uma família de moléculas vasodilatadoras compensatórias, incluindo os peptídeos natriuréticos atrial e cerebral (ANP e BNP), a bradicinina, as prostaglandinas (PGE2 e PGI2) e o óxido nítrico, os quais compensam a vasoconstrição vascular periférica excessiva. Muitos desses peptídeos vasodilatadores, incluindo a bradicinina e os peptídeos natriuréticos, são degradados por uma Neprisilina, que é uma peptidase ligada à membrana A transição para IC sintomática é acompanhada por ativação crescente dos sistemas neuro- hormonal, adrenérgico e das citocinas, levando a uma série de alterações adaptativas dentro do miocárdio, as quais são conhecidas, em seu conjunto, como remodelamento de VE IC COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA O remodelamento do VE ocorre em resposta a uma série de eventos complexos nos níveis celular e molecular. Hipertrofia de miócitos Alterações das propriedades contráteis dos miócitos Perda progressiva de miócitos em razão de necrose, apoptose e morte celular autofágica Dessensibilização β adrenérgica Alterações energéticas do miocárdio e no metabolismo Reorganização da matriz extracelular com dissolução da estrutura organizada da trama do colágeno ao redor dos miócitos e substituição subsequente por matriz de colágeno intersticial incapaz de prover suporte estrutural aos miócitos Os estímulos biológicos para essas alterações profundas são: Estiramento mecânico dos miócitos Neuro-hormônios circulantes (noraepinefrina, angiotensina II) Ctocinas inflamatórias (TNF) Outros peptídeos e fatores de crescimento (endotelina), bem como espécies reativas de oxigênio. Acredita-se que a sobre expressão mantida dessas moléculas biologicamente ativas contribua para a progressão da IC em razão dos seus efeitos deletérios sobre o coração e a circulação. Além dos efeitos individuais no equilíbrio entre sódio e água, a angiotensina II e a aldosterona também estão envolvidas na regulação dos processos inflamatórios e de reparação que acompanham a lesão tissular. Neste cenário, elas estimulam a produção de citocinas inflamatórias (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF] e interleucina-6), atraem células inflamatórias (p. ex., neutrófilos e macrófagos), ativam macrófagos nos sítios de lesão e 3 Fisiologia – Vitor Benincá reparação, igualmente estimulam o crescimento de fibroblastos e a síntese de fibras colágenas. A deposição de fibroblastos e de colágeno resulta na hipertrofia ventricular e em fibrose da parede miocárdica, o que reduz a complacência (i. e., aumenta a rigidez), causando finalmente a remodelação inadequada do coração e a progressão tanto da disfunção ventricular sistólica como diastólica. Desse modo, a progressão da insuficiência cardíaca pode ser aumentada por efeitos mediados por aldosterona, tanto sobre a vasculatura quanto sobre o miocárdio. Além dos efeitos individuais no equilíbrio entre sódio e água, a angiotensina II e a aldosterona também estão envolvidas na regulação dos processos inflamatórios e de reparação que acompanham a lesão tissular. Neste cenário, elas estimulam a produção de citocinas inflamatórias (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF] e interleucina-6), atraem células inflamatórias (p. ex., neutrófilos e macrófagos), ativam macrófagos nos sítios de lesão e reparação, igualmente estimulam o crescimento de fibroblastos e a síntese de fibras colágenas. A deposição de fibroblastos e de colágeno resulta na hipertrofia ventricular e em fibrose da parede miocárdica, o que reduz a complacência (i. e., aumenta a rigidez), causando finalmente a remodelação inadequada do coração e a progressão tanto da disfunção ventricular sistólica como diastólica. Desse modo, a progressão da insuficiência cardíaca pode ser aumentada por efeitos mediados por aldosterona, tanto sobre a vasculatura quanto sobre o miocárdio. Para compreender como as alterações que ocorrem no miócito contribuem para a depressão da função sistólica do VE na IC, é instrutivo revisar primeiro a biologia da célula muscular cardíaca. A ativação neuro-hormonal mantida e a sobrecarga mecânica resultam em alterações nos genes e nas proteínas que regulam o acoplamento excitação-contração e a interação das pontes cruzadas. Na IC alterações que ocorrem na expressão da α-miosina de cadeia pesada, aumento de β- miosina, miocitólise e rompimento das ligações no citoesqueleto entre sarcômeros e a matriz extracelular. Em conjunto, essas alterações prejudicam a capacidade de contração do miócito, contribuindo para deprimir a função sistólica do VE observada nos pacientes com IC REMODELAÇÃO DO VE Refere-se às alterações na massa, no volume, na forma do VE e na composição do coração que ocorrem após lesão cardíaca e/ou em condições com sobrecarga hemodinâmica. O remodelamento do VE pode contribuir de forma independente para a evolução da IC em razão das cargas mecânicas produzidas pelas alterações na geometria do VE remodelado. Além do aumento do volume diastólico final do VE, observa-se afinamento da parede conforme o ventrículo se dilata. O afinamento crescente da parede, somado ao aumento da pós-carga produzido pela dilataçãodo VE, leva a um descompasso funcional na pós carga, que pode diminuir ainda mais o volume de ejeção sistólica 4 Fisiologia – Vitor Benincá O desenvolvimento de hipertrofia do miocárdio é um dos principais mecanismos pelos quais o coração compensa o aumento da carga. Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho do trabalho do coração, também é um importante fator de risco para morbidade e mortalidade cardíaca subsequente. A hipertrofia e remodelação inadequadas podem resultar em mudanças na estrutura (i. e., massa muscular, dilatação da câmara) e função (i. e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), que muitas vezes levam a maior disfunção no bombeamento e na sobrecarga hemodinâmica. A- Coração normal B- IC diastólica: hipertrofia concêntrica C- IC sistólica: hipertrofia excêntrica (dilata) Tanto B quanto C podem diminuir a FEVE, principalmente na sistólica. Não são necessariamente uma consequência da outra. A tensão elevada na parede ao final da diástole pode causar: Hipoperfusão do subendocárdico com a consequente piora da função do VE Aumento do estresse oxidativo com ativação resultante das famílias de genes sensíveis à geração dos radicais livres (p ex: TNF e interleucina 1 β) Expressão sustentada da ativação por estiramento das vias de sinalização hipertrófica. A dilatação crescente do VE também resulta em travamento dos músculos papilares e consequente insuficiência do aparelho valvar mitral e regurgitação funcional por essa valva, que por sua vez, agrava a sobrecarga hemodinâmica sobre o ventrículo. Em seu conjunto, as cargas mecânicas produzidas pelo remodelamento do VE contribuem para a progressão da IC. PEPTÍDIOS NATRIURÉTICOS O músculo cardíaco produz e secreta uma família de hormônios peptídicos relacionados, os hormônios natriuréticos cardíacos ou NP (natriuretic peptides), que têm potentes efeitos diuréticos, natriuréticos e sobre o músculo liso vascular, bem como interagem com outros mecanismos neuro-humorais que afetam a função cardiovascular. Dois dos quatro peptídios natriuréticos mais comumente conhecidos por estarem associados aos casos de insuficiência cardíaca são o peptídio natriurético atrial (ANP, atrial natriuretic peptide) e o peptídio natriurético cerebral (BNP, brain natriuretic peptide). Como o próprio nome indica, o PNA é liberado por células atriais em resposta ao estiramento atrial, pressão ou sobrecarga de líquidos. Facilitam as interações complexas com o sistema neuro-hormonal, inibindo o sistema nervoso simpático, o sistema renina-angiotensina- aldosterona, as citocinas inflamatórias da endotelina e a vasopressina. A supressão da ação do SNS provoca dilatação tanto venosa quanto arterial, com consequente redução do retorno venoso para o coração (diminuição da pré-carga) e das pressões de enchimento cardíaco e diminuição da pós-carga (vasodilatação arterial). 5 Fisiologia – Vitor Benincá A inibição da ação da angiotensina II e da vasopressina pelos PNA reduz a retenção de líquidos pelos rins. Além disso, os PNA afetam diretamente o SNC e o encéfalo, inibindo a secreção de vasopressina e a função do centro do apetite de sal e da sede. ENDOTELINAS São potentes peptídios vasoconstritores liberados por células endoteliais ao longo de toda a circulação. Do mesmo modo que a angiotensina II, também podem ser sintetizadas e liberadas por diferentes tipos de células, como os miócitos cardíacos. Foi verificado que as endotelinas induzem a proliferação de células do músculo liso vascular e causam hipertrofia de miócitos cardíacos; aumentam a liberação de PNA, aldosterona e catecolaminas; e exercem efeitos antinatriuréticos sobre os rins. A produção de ET-1 é regulada por diversos fatores, que são importantes para a função cardiovascular e têm implicações no desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
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