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Hipertrofia Cardíaca OBJETIVOS 1. Conhecer os tipos de hipertrofia muscular 2. Entender o mecanismo da hipertrofia cardíaca e sua relação com a hipertensão 3. Compreender os tipos de tratamentos para hipertensão arterial (fármacos, mudanças de hábitos) - Hipertrofia representa um aumento no tamanho celular, bem como na quantidade de massa de tecido funcional. - Isso resulta de um aumento da carga de trabalho aplicada sobre um órgão ou uma parte do organismo, e é frequentemente observado em tecidos do músculo cardíaco e esquelético que não podem se adaptar ao aumento da carga de trabalho por meio de divisão mitótica e formação de mais células. - Ao longo da vida, o coração sofre transformações ligadas ao processo natural de crescimento, maturidade e envelhecimento ou como resposta a situações locais ou sistêmicas que requerem alteração na força contrátil. - Por exemplo, se o indivíduo desenvolve hipertensão arterial sistêmica é necessária maior força para impulsionar o sangue. - Quando há sobrecarga de pressão, a força contrátil precisa aumentar. Adicionalmente, há aumento da tensão na parede. Os miocardiócitos de parede cardíaca submetida maior trabalho se hipertrofiam na tentativa de manter o fluxo e, conforme a lei de Laplace (T = PR/2t, em que T = tensão, P = pressão na cavidade, R = raio da cavidade e t = espessura da parede), diminuir a tensão. - Em consequência, a parede se espessa, enquanto o volume da cavidade fica mantido ou, às vezes, discretamente diminuído. Desse modo, ocorre uma hipertrofia na qual o comprimento de cada célula não se altera muito, mas sim sua espessura, refletindo um aumento dos sarcômeros “em paralelo”. Essa situação ocorre durante a sístole (pós-carga) e é conhecida como hipertrofia concêntrica. - Se, após certo tempo, a adaptação não for mais efetiva, ou seja, o miocárdio não consegue ter força para manter o fluxo, fica mais sangue na cavidade, a qual termina sofrendo dilatação. - Esta é uma das situações em que há sobrecarga de volume, que acontece também em outras doenças com mau funcionamento do miocárdio, como bombeamento não efetivo (p. ex., miocardite) ou insuficiência valvar. - Também nessa situação as células se hipertrofiam, tentando manter o fluxo e diminuir o estresse na parede, mas a espessura desta é normal ou mesmo diminuída, assim como a dos cardiomiócitos, que sofrem aumento do seu comprimento, com predomínio de adição de sarcômeros dita “em série”. A esse tipo de adaptação, que ocorre durante a diástole (pré- carga) tem sido atribuída a denominação, não muito apropriada, de hipertrofia excêntrica. - Os melhores indicadores de hipertrofia são o tamanho dos núcleos e o peso do órgão. - Hipertrofia corresponde a uma alteração no metabolismo celular. Para que tal mudança ocorra, ainda que fatores neurohormonais interfiram, o papel principal é do estímulo mecânico, que é de algum modo convertido em sinais bioquímicos. - Nas células, ocorre reprogramação, levando a expressão coordenada de genes envolvidos na síntese de mais componentes do sistema contrátil, de modo semelhante ao que ocorre na vida fetal (contração mais lenta e prolongada e aumento do metabolismo anaeróbico). - Qualquer que seja o tipo de hipertrofia, a vascularização do órgão também aumenta, mantendo-se em geral a proporção numérica capilar/fibra miocárdica. Mesmo assim, como o volume dos miocardiócitos está aumentado, pode haver carência relativa do aporte de sangue (isquemia relativa). Assim, podem ocorrer morte de pequenos grupos de células e, posteriormente, surgir inúmeros focos de fibrose intersticial. - Em oposição à hipertrofia, pode ocorrer a hipotrofia (usualmente chamada de atrofia), quase sempre decorrente da falta de aporte de sangue. As miocélulas ficam mais finas e podem acumular, principalmente sob a forma de material acastanhado chamado lipofuscina, produtos de degradação e dano oxidativo. Hipertrofia cardíaca fisiológica e patológica - A hipertrofia cardíaca foi classificada como hipertrofia cardíaca fisiológica ou hipertrofia cardíaca patológica, e essas formas parecem depender do tipo, duração e magnitude do aumento da carga de trabalho colocada no coração. - Tanto a hipertrofia cardíacos fisiológica quanto a patológicas podem ser do tipo concêntrica ou excêntrica, dependendo da natureza do estresse da parede ventricular; no entanto, a falta de resposta inflamatória e fibrose diferencia a hipertrofia cardíaca fisiológica da hipertrofia cardíaca patológica. - A hipertrofia cardíaca é classificada como hipertrofia fisiológica quando está associada à função cardíaca normal ou aprimorada e é geralmente vista como ocorrer em resposta ao crescimento do corpo, gravidez ou exercício. - Hipertrofia cardíaca induzida por anemia e por hipertireoidismo são outras formas de hipertrofia fisiológica. - A hipertrofia cardíaca fisiológica é caracterizada pelo crescimento cardíaco leve, pois normalmente está associada a um aumento de 10% a 20% na massa cardíaca normalizada para a massa corporal. Neste estado, a hipertrofia cardíaca é considerada adaptativa por natureza e não é fator de risco para insuficiência cardíaca. - A hipertrofia cardíaca é classificada como hipertrofia patológica quando associada à disfunção cardíaca. A hipertrofia cardíaca patológica geralmente ocorre na presença de doenças cardiovasculares (DCV), e pode, em última instância, contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca. - Esta forma de hipertrofia cardíaca está associada ao aumento dos hormônios circulantes, sobrecarga hemodinâmica, perda de cardiomiócitos e redução da função sistólica e diastólica. - Outra característica típica da hipertrofia cardíaca patológica é o acúmulo e a deposição de matriz extracelular excessiva (MEC), que consiste em tecido cicatricial ou fibrose. O MEC excessivo contribui para a redução da função sistólica e diastólica, prejudicando a condução elétrica, predispondo o coração às arritmias. (A) Hipertrofia por pressão devido à obstrução do fluxo do ventrículo esquerdo. O ventrículo esquerdo está exibido no canto inferior direito desta visão apical das quatro câmaras cardíacas. (B) Hipertrofia ventricular esquerda com e sem dilatação, vista em cortes transversais do coração. Comparado a um coração normal (centro), os corações hipertrofiados por pressão (esquerda e em A) apresentam aumento da massa e da espessura da parede ventricular esquerda, enquanto o coração hipertrofiado e dilatado (à direita) apresenta aumento da massa, mas com espessura da parede normal. Angiogênese - Angiogênese é um processo fundamental pelo qual novos vasos sanguíneos são formados. - A hipertrofia cardíaca deve ser combinada com o aumento da densidade dos capilares miocárdios para garantir a adaptação à maior demanda cardíaca e preservar a função cardíaca. - A hipertrofia cardíaca fisiológica é acompanhada por um aumento significativo no número de capilares miocárdios, enquanto a densidade capilar do miocárdio é reduzida no coração patologicamente hipertrófico. - Durante o estágio adaptativo da hipertrofia cardíaca, observa-se angiogênese coronária; no entanto, há amplas evidências que indicam que a densidade capilar dentro do coração é diminuída nos estágios posteriores da hipertrofia cardíaca patológica. - A diminuição do fornecimento de sangue e a subsequente isquemia do miocárdio devido à redução da densidade capilar podem estar envolvidas na transição da hipertrofia cardíaca adaptativa para a hipertrofia cardíaca patológica. - Várias moléculas, tanto pró-angiogênicas (fator de crescimento endotelial vascular, fator básico de crescimento do fibroblasto, fator de crescimento do fibroblasto ácido e angiogenina) quanto anti-angiogênica (inibidor de crescimento endotelial vascular) foram identificadas,e seus papéis no processo de angiogênese foram avaliados em diferentes estados da doença. - Em situações que levam ao desenvolvimento da hipertrofia cardíaca fisiológica e patológica, cardiomiócitos e outros tecidos secretam moléculas pró-angiogênicas que estimulam o crescimento vascular no coração hipertrófico, fornecendo ao miocárdio maior quantidade de sangue para sustentar seu aumento da massa muscular e desempenho. HIPERTROFIA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO - A hipertrofia muscular é definida como um aumento/crescimento da massa muscular, onde ocorrem alterações estruturais reais do músculo. - O treinamento de força realizado dentro dos seus princípios (volume, intensidade, intervalo de recuperação entre as séries, ordem dos exercícios, entre outros) pode ocasionar ganhos substanciais na força e na hipertrofia muscular - O exercício de força representa um estímulo específico que normalmente resulta em aumento de massa muscular, indicando aumento de proteínas intracelulares como actina e miosina e, também de outras moléculas como creatina, glicogênio e água. TRATAMENTO HIPERTENSÂO Classes de primeira linha: - DIU tiazídicos ou similares - BCC (Bloqueadores de canal de cálcio - IECA – Inibidores da enzima conversora de angitensina - BRA - Bloqueadores dos receptores de angiotensina II IECA EXEMPLOS – Captopril e Enalapril. AÇÕES: -Diminuem a pressão arterial reduzindo a resistência vascular periférica sem aumentar reflexamente o débito cardíaco, a frequência cardíaca ou a contratilidade cardíaca. - Bloqueiam a ECA que hidrolisa a angiotensina I para formar o potente vasoconstritor angiotensina II. - A ECA também degrada a bradicinina, um peptídeo que aumenta a produção de óxido nítrico e prostaciclinas nos vasos sanguíneos. Esses últimos são vasodilatadores. - Os IECAs diminuem os níveis de angiotensina II e aumentam os níveis de bradicinina. Portanto, ocorre a vasodilatação de arteríolas e veias. Reduzindo os níveis de angiotensina II circulante, os IECAs também diminuem a secreção de aldosterona, resultando em menor retenção de sódio e água. - Os efeitos desses fármacos ainda atuam diminuindo pré-carga e pós-carga cardíaca, reduzindo, dessa forma, o trabalho cardíaco. USOS TERAPÊUTICOS - São fortemente indicados para o uso em pacientes com nefropatia diabética, pois retardam a progressão dessa entidade nosológica e diminuem a albuminúria. - São usados no cuidado de paciente após infarto do miocárdio e são fármacos de primeira escolha no tratamento de pacientes com disfunções sistólicas. - Após infarto do miocárdio, os IECAs atuam na regressão da hipertrofia ventricular esquerda e na prevenção do remodelamento ventricular. - São os fármacos de primeira escolha para tratar insuficiência cardíaca, os pacientes hipertensos com DRC e os pacientes com risco elevado de doença arterial coronariana. - Todos os IECAs são igualmente eficazes no tratamento da hipertensão em doses equivalentes. EFEITOS ADVERSOS - Os efeitos adversos mais comuns são tosse seca, erupções cutâneas, febre, alteração do paladar, hipotensão e hipercalemia. - A tosse seca ocorre em aproximadamente em 10% dos pacientes, sendo decorrente provavelmente do aumento dos níveis de bradicinina e substância P na árvore traqueobrônquica. - O aumento dos níveis de bradicinina também pode ocasionar angioedema, um evento raro. - Os IECAs ainda podem induzir malformações fetais e, por isso, são contraindicados na gravidez. BRA Existem dois subtipos distintos de receptores de angiotensina II: AT1 e AT2. - O subtipo AT1 localiza-se predominantemente no tecido vascular e miocárdico, bem como no cérebro, no rim e nas células da zona glomerulosa das glândulas suprarrenais, que secretam aldosterona. - O subtipo AT2 é encontrado na medula suprarrenal, no rim e no SNC e pode desempenhar um papel no desenvolvimento vascular. Geralmente, desencadeiam respostas anticrescimento e antiproliferativas. EXEMPLOS - Losartana, Candesartan, Eprosartan, Ibersatan, Telmisartan e Valsartana. AÇÕES - Os BRAs bloqueiam os receptores AT1, diminuindo a sua ativação pela angiotensina. Seus efeitos farmacológicos são simulares aos do IECAs por produzirem dilatação arteriolar e venosa e bloqueio da secreção de aldosterona, reduzindo, assim, a pressão arterial e diminuindo a retenção de sal e água. - A inibição das respostas biológicas à angiotensina II é máxima e não pode ser restaurada na presença de BRA, independentemente da concentração de angiotensina II. Esses fármacos inibem de maneira potente e de modo seletivo a maioria dos efeitos biológicos da angiotensina II, incluindo a contração do músculo liso vascular, as respostas pressóricas rápidas, as respostas pressóricas lentas, a sede, a liberação de vasopressina, a secreção de aldosterona, a liberação de catecolaminas pelas suprarrenais, o aumento da neurotransmissão noradrenérgica, o aumento do tônus simpático, as alterações da função renal e a hiperplasia e hipertrofia celulares. - Os BRA não aumentam os níveis de bradicinina e NÃO devem ser associados com IECA para o tratamento da hipertensão devido à similaridade de mecanismo e de efeitos adversos. EFEITOS ADVERSOS - Em geral, os BRAs são bem tolerados. - Quando ocorrem, os efeitos colaterais assemelham-se àqueles descritos sobre os IECA. - A incidência de angioedema e tosse é muito menor do que aquela observada com IECAs. - Os BRAs também têm potencial teratogênico e devem ser interrompidos durante a gravidez. BCC EXEMPLOS – Diidropiridínicos: Nifedipino, Anloodipino, Nitredipino. Não-diidropiridínicos: Verapamil AÇÃO - Os canais de Ca2+ sensíveis à voltagem (canais de tipo L ou lentos) medeiam a entrada de Ca2+ extracelular nos miócitos musculares lisos e cardíacos e nas células do nó sinoatrial (SA) e do nó atrioventricular (AV) em resposta à despolarização elétrica. - Nos miócitos tanto do músculo liso quanto cardíacos, o Ca2+ deflagra o processo de contração, embora por mecanismos diferentes. Os bloqueadores dos canais de cálcio inibem a função dos canais de Ca2+. - No músculo liso vascular, essa ação resulta em relaxamento, principalmente, nos leitos arteriais. USOS TERAPÊUTICOS - No tratamento da hipertensão, os BCCs podem ser usado como tratamento inicial ou adicional. - Os BCCs são úteis no tratamento de pacientes hipertensos que também possuem asma, diabetes ou doença vascular periférica, pois não apresentam o potencial de afetar adversamente essas condições. - Todos os BCCs são úteis no tratamento da angina. - O diltiazem e o verapamil são usados no tratamento da fibrilação atrial. EFEITOS ADVERSOS - Bloqueio atrioventricular de primeiro grau e constipação são efeitos adversos dose-dependentes do verapamil. - O verapamil e o diltiazem devem ser evitados em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou com bloqueio atrioventricular, devido aos efeitos inotrópicos e dromotrópicos negativos. - A redução da pressão arterial pela di- hidropiridinas podem ocasionar tontura, cefaleia e sensação de fadiga. - O edema periférico também é comum. A nifedipina e outras di-hidropiridinas podem causar hiperplasia gengival. ] REFERÊNCIAS • BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo - Patologia. São Paulo: Grupo GEN, 2016. • ABBAS, Abul K. et al. Robbins patologia básica. Elsevier Brasil, 2018. • OLDFIELD, C. J., DUHAMEL, T. A., DHALLA, N. S. Mechanisms for the transition from physiological to pathological cardiac hypertrophy. Canadian journal of physiology and pharmacology, v.98, n.2, p.74–84, 2020. •MANN, Johannes FE. Choice of drug therapy in primary (essential) hypertension. UPTODATE, 2021. • OLIVEIRA, Romário Araujo. Efeitos de uma dieta rica em carboidratos na hipertrofia muscular em praticantes de treinamento de força. RBPFEX- Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 8, n. 47, 2014.
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