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HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORANEA

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História da Filosofia 
Contemporânea
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco. 
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites.
História da Filosofia Contemporânea
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• Democracia para “ocidental ver”
• História e Filosofia a um passo de se tornarem Ciência
• Um Nostradamus científico?
 · Compreender os preceitos de Marx e Engels sobre o desenvolvimento histórico 
como base filosófica e científica.
 · Contextualizar as consequências sociais, políticas e econômicas.
Para que você aproveite ao máximo o estudo e aprenda de maneira significativa é importante tomar 
alguns cuidados:
Em primeiro lugar seja organizado(a). A disciplina em ensino a distância pode ser realizada em 
qualquer lugar que você tenha acesso à Internet e em qualquer horário. Dessa forma, normalmente com 
a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, 
o que implicará no não aprofundamento do material trabalhado, ou ainda, na perda dos prazos para o 
lançamento das atividades solicitadas ao longo da disciplina, atividades essas que constituirão sua nota 
final. Então organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá 
escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determiná-lo 
como o “momento do estudo desta disciplina”.
Leia atentamente todo o conteúdo de cada Unidade, pois há indicações de materiais complementares 
que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o entendimento do tema abordado.
Concluída a leitura do conteúdo teórico, realize a atividade de aprofundamento, que associa os assuntos 
estudados à vida prática ora por meio de reflexão e produção textual de sua própria autoria, ora através 
de debates mediados em fóruns de discussão.
Encontrará também atividades de sistematização que lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu o 
conteúdo: são questões objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no conteúdo da 
respectiva Unidade. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, 
volte a consultar o material teórico para sanar tais incertezas.
É importante reforçar que em cada uma das seis unidades desta disciplina essas atividades devem ser 
realizadas e entregues dentro dos prazos determinados. Caso você perda tais datas-limite, não terá mais 
chances de registrá-las no Blackboard, o que resultará na ausência de nota dessas atividades, prejudicando 
seu desempenho final.
Se ao longo deste percurso houver alguma dúvida sobre o conteúdo ou uso do Blackboard, não hesite 
em contatar seu tutor ou registrá-la no local criado para esse fim no ambiente virtual de aprendizagem. 
Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo!
História da Filosofia Contemporânea
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
Contextualização
Ao final de 2014 houve a publicação no Brasil de um livro que, já pelo título, ressuscitava 
uma outra obra, essa escrita há mais de cem anos pelo filósofo analisado nesta Unidade:
Indo além da familiaridade do título, essa publicação 
representa mais de dez anos de pesquisas a partir de 
dados europeus e posteriormente norte-americanos desde 
o século XVIII para concluir uma tese corretora à de Marx, 
mas... possível e futuramente tão impactante quanto.
Se o desenvolvimento fabril – e consequentemente 
econômico – impediu até então a explosão violenta e 
proletária nos grandes centros industriais como Marx 
achara que aconteceria, a desigualdade social imposta pelo 
capitalismo contemporâneo pode apenas ter retardado 
esse desfecho.
Afinal, o regime monetário ao qual estamos atualmente 
submetidos gera mais juros – que equivale a dívida sobre 
dívida – do que crescimento econômico, o que em si figura 
um círculo autodestrutivo, dado que acentua a riqueza 
de uma minoria cada vez mais restrita em função da 
generalização de pobreza e miserabilidade de uma massa 
em constante expansão.
Note que, se até então a intervenção política “segurou a barra” dessa contradição insolúvel 
entre baixo crescimento econômico e crescente retenção do capital, talvez esse paliativo não 
amenize o aumento da insatisfação social frente a cada vez mais abismal desigualdade, podendo, 
a médio prazo, colocar em risco os próprios princípios democráticos discorridos no início do 
material teórico desta Unidade.
Daí a explicação do frisson que esse livro causou em leigos e especialistas, quando todos achavam 
que Marx e sua engajada teoria jazia sepultada há algumas décadas, quando supostamente fora 
derrubada com o muro de Berlim.
Pois sim, como se a teoria filosófica fosse “responsável à irresponsabilidade” política, social e, 
principalmente, econômica que fizeram dessa.
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Trad. Monica 
Baumgarten de Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
O capital [em letras garrafais] no século XXI [trecho esse bem 
discreto], escrito pelo economista francês Thomas Piketty.
Fonte: Editora Intriseca, 2014.
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Democracia para “ocidental ver”
Prosseguindo em nossa viagem histórica ao longo do roteiro turístico-filosófico, deparamo-
nos com uma circunstância inédita até então: desde o auge e declínio das cidades-estado da 
Antiguidade grega a humanidade não havia experimentado um processo democrático – ou e 
ao menos algo que se aproximasse do sentido desse termo.
Foi somente no século XVIII – pasme, perspicaz aluno(a), quase dois mil anos depois – que 
reapareceram comunidades que ousaram se levantar e fazer-se reconhecer democráticas para 
os demais cantos do Mundo. 
Você sabia?
Que foram os Estados Unidos da América os precursores ocidentais do processo 
democrático? Em 1776 – treze anos antes da Revolução Francesa de 1789 –, os 
EUA debutaram o princípio nacional amparado no voto popular, até então masculino 
e de posses – inclusive sobre outros humanos, esses chamados de escravos –, para 
eleger seus dirigentes por meio de eleições periódicas.
Somado ao estabelecido do padrão revolucionário-industrial de produção – cada vez mais 
evoluído mecanicamente e involuído nas relações humanas de trabalho – esse “processo 
dominó” na mudança paradigmática de governo, onde o povo – ou melhor, parte privilegiada 
e burguesa desse – passava a exercer a soberania, demarcava o crepúsculo do período 
moderno para a, até então chamada, Era Contemporânea de nossa raça humana, com suas 
características, mentes pensantes e ideias, inclusive filosóficas.
Ideias essas que desempenharam uma importante função nessa mudança cronológica, 
principalmente o inusitado conceito de associar liberdade individual com a igualdade social. Ou 
seja, “todos” passariam a ter o direito de serem equivalentes coletivamente, ao mesmo tempo 
em que lhes era facultada a abertura para a prática de sua religião, uso de seus costumes e, 
principalmente, garantia à propriedade privada.
Todavia, como daqui – sentados no século XXI – já sabemos que a história não acabou 
ali no final do XVIII com um cinematográfico happy end, torna-se importantíssimo saber o 
porquê, dado que será também a deixa para a seara teórica desta Unidade.
Como toda ação gera uma reação, a ascensão burguesa, impondo Estados-Nações de 
regime pseudodemocrático amparado na equivalência social e liberdade individual – tudo isso 
em meio a uma rotação industrial cada vez mais rápida –, ocasionou problemas subsequentes, 
especialmente sobre como reconciliar essa nova ordem político-social com a integração e 
prosperidade econômica de seus partícipes, problemas que protagonizaram as discussões 
filosóficas à época.
Sobressaindo-se entre tantas teorias, houve a de um alemão antirreligioso, mas que repousava 
sua crença na ideia de que, tornando-se possível explicar cientificamente o desenvolvimento 
humano – portanto, histórico –, tornar-se-ia possível não apenas compreender a sociedade na 
qual estamos inseridos, assim como poderíamos antever o futuro dessa mesma coletividade 
com uma precisão,
novamente, científica!
Tratava-se de Karl Marx formulando o materialismo histórico, nome que deu à sua 
principal teoria filosófica.
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
História e Filosofia a um passo de ser tornarem Ciência
Nascido na Alemanha em 1818, Karl Marx teve pais judeus que em nada influenciaram 
sua orientação religiosa. Pelo contrário, acreditava e militava que a crítica primeira deveria 
se voltar contra toda forma condicionadora, o que para esse pensador era o cerne da ação 
religiosa – “A religião é o ópio do povo”, dizia. Talvez por isso, Marx teve poucas oportunidades 
profissionais, o que lhe fez optar por viver para refletir e escrever – ou lhe relegou a uma vida 
extremamente modesta pela sua postura radical.
A falta de oportunidades profissionais e recursos financeiros fizeram de Marx um costumas 
inadimplente, obrigando a si e à sua família a uma constante emigração domiciliar, até que, 
em tentativa de fixar residência em Paris, conheceu o, então jovem, Friedrich Engels (1820-
1895), quem encantara-se com a teoria que Marx desenvolvia e que, para manter-se próximo 
– inclusive no âmbito de suas próprias ideias, porque Engels também as tinha –, passou a 
colaborar literária e financeiramente com o legado filosófico de Marx.
Fonte: Wikimedia Commons
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Figura 1 – Fotografia de Karl Marx (1818-1883) 
e sua esposa, Jenny von Westphalen, filha de um 
barão da Prússia. 
Expulso também da França – como o fora da 
Alemanha e posteriormente da Bélgica – por 
atividades tão secretas quanto revolucionárias –, 
Marx retirou-se para a Inglaterra com sua família 
e às custas de Engels, onde passou o resto de seus 
anos na sala de leitura da Biblioteca Britânica – 
certamente os mais produtivos, dado que foi onde, 
além de escrever de forma panfletária e já tendo 
publicado seu testamento filosófico, A pobreza da 
Filosofia (1847), escreveu sua principal obra, O 
capital (1867).
A biografia – resumida – desse pensador se faz aqui importante para melhor compreender 
suas ideias por duas razões, a saber:
 �Ativista que era, a ponto de ser expulso de mais de um país, incluindo aquele onde nascera, 
Marx – assim como alguns filósofos franceses à época da primeira Revolução daquele 
país – desacreditava na Filosofia meramente interpretativa, ou seja, que conjecturava 
realidades – ou mundos de ideias – sem necessariamente vivê-las, experimentá-las, enfim, 
sofrê-las. Nesse sentido, esse pensador acusava “os filósofos [que] se limitaram apenas 
a interpretar o mundo de diversas maneiras; [quando] trata-se, porém de transformá-lo” 
(MARX apud MAGGEE, p. 167); e
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 � Seu pensamento ineditamente se desvencilhava da tradicional Filosofia de questões 
puramente subjetivas, metafísicas, oníricas ou mesmo e simplesmente políticas, para 
“tentacular” três âmbitos tão imateriais quanto concretos e manifestos na sociedade 
turbilhonada em que vivia a:
 · Política francesa, que postulada por pensadores livres e engajados como 
Rousseau, Diderot, Montesquieu e imposta à base de sangue e decapitações reais, 
trazia um paradigma quase que inédito – como dito, como se vira algo semelhante 
apenas na Antiguidade grega –, dando uma lufada de ar fresco nas expectativas da 
descentralização de poder a um grupo específico e privilegiado;
 · Economia inglesa, local onde Marx escrevera na sua maturidade teórica e que 
prosperava com os ganhos de seu jogo político desde a época das navegações, 
mas agora absurdamente desenvolvida – na acepção positiva quanto à técnica, 
e negativa quanto às relações de trabalho – por conta das sucessivas revoluções 
industriais. Por exemplo, o aumento industrial cobrando melhorias em sistemas 
como o de transporte para fazer chegar mais depressa sua produção, propiciou a 
vanguarda inglesa nos sistemas ferroviário e marítimo;
 · Filosofia alemã, que na áurea safra dos séculos XVIII e XIX frutificou pensadores 
como Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Fichte, Schelling, principalmente Hegel e 
Feuerbach, entre tantos outros.
Observador(a) que é, você percebeu o grifo no termo principalmente que antecede Hegel, 
isso porque é importante frisar que o legado filosófico de Marx está quase que completamente 
alicerçado na herança hegeliana, por isso que para muitos pensadores desde então na árvore 
genealógica da Filosofia, marxismo é filho legítimo do hegelianismo, basicamente pelos 
seguintes DNA (Determinantes Nomográficas Análogas – sigla de brincadeira! [risos]):
 · Para ambos a realidade não é um estado do ser ou da coisa, mas um processo histórico 
constante (lembra-se do zeitgeist hegeliano?);
 · De modo que o entendimento da realidade cobra não a observação da natureza humana 
em si, mas a mudança in/evolutiva dessa, ou seja, as alterações históricas;
 · Quando se der conta disso, segundo ambos os autores, você perceberá que essas mudanças 
humanas não são aleatórias. Ao contrário, seguem um padrão que também poderia ser 
chamada de regra ou lei;
 · Novamente testando sua memória sobre Hegel: lembra-se que esse pensador chamava 
esse padrão/regra/lei de constante mudança de dialética? Pois é, Marx também acreditava 
teoricamente nessa dança entre tese, antítese e síntese;
 · O combustível dessa triangulação para ambos é a alienação, embora aqui – nesse conceito 
– ambos começam a divergir o entendimento. Enquanto Hegel o compreendia como a 
dinâmica de desapropriação do meio ou dos recursos para que outro elemento o fizesse e 
se tornasse apto (a antítese sempre se apropria do que antes era domínio da tese), Marx 
foi além de propor essa “engrenagem roda”, porque a tese desmorona por suas próprias 
contradições, ainda que haja elemento externo (antítese). Um exemplo prático e rasteiro 
bem à moda de Marx: O Império romano (tese) ruiu não por causa da invasão bárbara 
(antítese), mas pela sua própria forma administrativa, que inflada, extensa e custosa, 
tornou a manutenção territorial, taxativa e, portanto, imperial impossível;
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
 · Ambos voltam a concordar quando creem que – tal qual Chico Buarque musicou – essa “roda 
viva” está acima de qualquer controle humano. É um “tornado” que vem, arrasta pessoas, 
sociedades, sistemas, paradigmas sociais sem que se tenha qualquer refúgio ou subterfúgio;
 · A “roda viva”, ou o processo, perderá força e se desanuviará quando não houver mais 
alienação, contradição ou qualquer força de tese e/ou antítese, restando o caos que, 
perceba, aqui significa o vazio de influência, herança, dito de outra forma, um novo 
paradigma a ser construído;
 · Nesse “novo de novo”, os indivíduos, as sociedades e os sistemas são reconstrutores e 
reconstruídos, assim como tomam novos juízos de valores e, consequentemente, viram 
novos juízes, garantindo uma fase harmoniosa de liberdade – porque até aí não há a 
prescrição do erro ou do errado, proibido – e autogestão;
Como são todos reconstrutores e juízes, trabalharão conjuntamente nesse novo paradigma 
de forma orgânica, de modo que não se verá ações, interesses ou desempenhos apartados, 
porque todos o farão por um propósito maior que si, individualmente. Até que novas 
contradições apareçam – determinado o vencimento da validade desse ciclo –, executarão a 
nova realidade de forma coletiva, comunitariamente – troque a o sufixo mente por ismo e verá 
o que fizeram com essa linha de pensamento.
Fonte: iStock/Getty Images
 Figura 2 – Formigas trabalhando. 
Qualquer pessoa, inclusive você, já se pegou observando o modus vivendi 
de formigas que invadiram a cozinha para coletar migalhas, ou que 
pacificamente coabitam o quintal com os humanos. Já percebeu a sincronia 
entre as envolvidas e suas atividades? Esforço grupal em coletivamente levar 
aquela folha mais pesada ao formigueiro? Resiliência em, mesmo após uma 
catástrofe natural ou proposital – caso do seu pé, por exemplo –, retornarem 
às mesmas posições, atividades que anteriormente executavam? Finalmente, 
vê alguma similaridade com os itens acima formulados? Vê mesmo?!
Não 
estariam as formigas reconstruindo a mesma realidade, mesmo após as 
adversidades? Ou no novo paradigma passaram a tomar outras ações ao 
invés de pegar o alimento e voltar à comunidade?
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Para prosseguirmos, cabe aqui a correção a um lapso proposital!
No tocante a Marx, risque a palavra dialética, dado que essa representa a grande cisão 
entre as filosofias desses dois pensadores. A saber:
Diferente de Hegel, Marx entendia a realidade acima esquematizada de forma concreta, 
ou seja, muito longe do geist (espírito) hegeliano. De modo que toda a dinâmica que até 
então chamamos de dialética para que lhe ficasse rememorado o percurso filosófico de 
Hegel, Marx ressignificou com outro nome: materialismo, dado que o processo é envolvido 
por coisas humanas, tais como a necessidade de existência materializada em indumentária, 
alimentação, abrigo, etc.
Daí que, considerando a concretude e o imediatismo tão característico e específico a Marx, 
associado à realidade humana observada em ciclos históricos, entendemos o batismo de sua 
teoria em materialismo histórico.
Portanto, tal qual os pesquisadores modernos compreendiam a natureza, em seus padrões e 
ciclos naturais a partir de um método específico, Marx acreditava que, sob o procedimento do 
materialismo histórico, tornar-se-ia possível ponderar probabilidades das consequências que o 
ciclo humano vigente – à época de Marx – teria no por vir e, acredite, para esse pensador não 
se tratava de um futuro harmonioso.
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
Um Nostradamus científico?
Talvez profecia não seja um termo adequado para um material acadêmico que se propõe 
a apresentar o legado de um entre os maiores filósofos que já existiram... todavia, usaremos 
mesmo assim. Até porque, nas palavras do próprio, já subentendia-se uma predição de mau 
agouro: “O que a burguesia produz... são seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do 
proletariado são igualmente inevitáveis” (MARX apud MAGGEE, 2000, p. 168). Cabe, 
contudo, contextualizar essa previsão.
Acreditar que sua tese tinha embasamento científico e que, por isso, tal qual as leis newtonianas, 
poderiam compreender o estado tanto atual quanto futuro dos movimentos humanos, fez com 
que Marx reincidentemente também nominasse sua literatura de Socialismo científico, porque 
via que esse movimento cíclico estava orquestrado por leis econômicas, que teriam a mesma 
legitimidade – em função de sua onipresença histórica e padrões verificáveis em todas as épocas 
passadas – que as leis físicas outrora sistematizadas pelo citado Newton. Vejamos:
Se todo indivíduo precisava garantir a provisão de certas coisas – como a citada alimentação, 
vestimenta, moradia –, os meios pelos quais os produziria ao longo da história se transformarão 
em aquisição da maioria dessas coisas, ao passo que também passou a produzir para outros, 
desenvolvendo uma relação de contribuição social. Vínculo que desenvolveu não apenas os 
produtos em si, mas a estrutura de produção desses – metodologia, logística, tecnologia, cultura 
e, o mais importante aqui, relações interpessoais representadas em grupos sociais (classes) e, 
com essas, oposições de interesses grupais, ou os conflitos entre as classes sociais, razão 
pela qual a lógica materialista ciclicamente alternava relações sociais e grupos no poder.
Seguindo a “espiral histórica”, a sociedade descrita no início deste texto era considerada por 
Marx como o penúltimo estágio do desenvolvimento histórico/humano para uma Era destituída 
de contradições e conflitos. Tratava-se da constatação de um desenvolvimento maquinal 
sem precedentes somado a um movimento liberalista também há muito suplantando por 
autoritarismos diversos e que ineditamente pregava – ao menos em nível discursivo – liberdades 
individuais nunca vistas, inclusive o direito à propriedade privada e ao enriquecimento lícito 
não apenas permitido, mas sugerido e oprimido divinamente.
 Saiba Mais
Para o sociólogo Max Weber (1864-1920), o princípio alienante no trabalho 
diferia-se de Marx e Hegel, por Weber o entender como uma jaula religiosa 
– cujos barramentos eram forjados em uma ética protestante, especialmente 
calvinista –, que incutia no operariado a crença de que o lucro advindo do 
trabalho era um meio de glorificar Deus e garantir espaço no paraíso cristão, já 
que a predestinação da danação de muitos obrigava a cada indivíduo a trabalhar 
incessantemente a fim de mudar sua sorte com o Criador à época do Juízo Final.
A atual orientação evangélica, presbiteriana e calvinista reitera a premissa de que 
o trabalho duro e incessante agrada a Deus, como ilustradamente é explicado 
na seguinte paródia do jogo Super Mario Bros, à luz teórica desse sociólogo e 
disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=JvJTUZaivCI
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Todavia, restava ainda a tese de uma lógica econômica-capitalista pautada exclusiva e 
excessivamente no lucro que trazia sua própria contradição interna: aumento demográfico 
urbano, contingente cada vez mais destituído de postos de trabalho justamente pela cada vez 
mais desenvolvida mecanização industrial e alienação dos meios de produção, o que mais e 
mais aumentaria a miserabilidade – no abismo entre proletários e capitalistas – e a pressão 
pela mudança do statu quo, provavelmente similar à brutalidade do caso francês de 1789 – 
esse episódio como passagem de um ciclo anterior.
Glossário
Alienação para esse pensador significa o processo em que o indivíduo é 
apartado de sua real natureza, tornando-se estranho a si e à sociedade – 
enquanto identidade –, pois os objetos que produzia – e que não apenas 
garantiam sua subsistência, mas também lhe conferiam tal identidade 
(sapateiro, ferreiro, ourives, agricultor, etc.) – passam a adquirir existência 
própria – fabril –, independentemente de seu poder e interesses.
Dito de outra forma e olhando o padrão social histórico, Marx acreditava que a tese capitalista 
explodiria pelas próprias contradições acima relacionadas, aumentando a opressão sobre o 
operariado, esses que em uma maioria numérica esmagadora – muito mais pobres que ricos 
– provocariam uma nova “Revolução à Francesa”, na qual os trabalhadores derrubariam seus 
opressores, tomariam os meios de produção para si e imporiam uma “ditadura do proletariado” 
– termo em aspas que representaria um extremismo às avessas para que, conforme a Teoria 
da Curvatura da Vara, desse-se o fim da história, afinal, não haveria mais classes ou castas 
sociais, o que destituiria a humanidade do “carma cíclico” de coação de forças históricas além 
de seu controle, fosse orquestradas por um governo ou fatores e grupos específicos.
 Diálogo com o Autor
Eu não sei se a Teoria da Curvatura da Vara é conhecida. Ela foi enunciada 
por Lênin ao ser criticado por assumir posições extremistas e radicais. Lênin 
responde o seguinte: “quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se 
você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-
la para o lado oposto” (SAVIANI, [19--], p. 40, grifo nosso).
A previsão equivocada em sua teoria e que Marx não viveu o suficiente para ver foi ter a ideia 
antecipada de que a Revolução pelo fim da história aconteceria no epicentro da onda sísmica 
industrial, a Inglaterra. Afinal, faria todo o sentido científico que o esgotamento humano fosse 
inflamável justamente onde sua essência e forças eram mais oprimidas.
Todavia, enquanto alguns acreditavam ser o marxismo a consequência natural da 
humanidade, outros – esses detentores do poder estabelecido – rechaçaram toda tentativa de 
difusão das ideias socialistas de Marx ao longo da segunda metade do século XIX e início do 
XX, até que sua propagação se tornou impossível de controlar e atingiu contextos imprevistos.
Assim, a deflagração de um movimento abrupto social se deu mais de trinta anos depois 
de sua morte e em um local inusitado para o próprio teórico alemão: a industrialmente 
subdesenvolvida – quase que feudal, se então comparada ao
ocidente europeu – Rússia!
Estado-Nação que, em meio à Primeira Guerra Mundial, em março de 1917, 
revolucionariamente deixara de ser tzarista – imperial –, em outubro do mesmo ano foi 
controlado pelos bolcheviques de Lenin no que ficou historicamente marcado como o 
Movimento de Outubro, ou a Revolução Russa. Agentes que, em um revisionismo das teorias 
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
marxistas, pregavam todo o poder aos sovietes – conselhos constituídos por trabalhadores, 
camponeses e soldados – como um estágio socialista intermediário para o discursado patamar 
comunista, no qual – em tese marxista, ao mesmo – não haveria mais a necessidade de um 
governo sobre as pessoas, mas apenas da administração executada pelos próprios cidadãos.
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 3 – Estátuas de Karl Marx (à frente) e 
Friedrich Engels em Szoborpark – Memento Park 
–, Budapeste. 
Depois de O Capital, a obra que imortalizou Marx, 
agora junto de Engels, foi o Manifesto comunista 
(1848), obra mais celebrada da história do 
movimento socialista, esse ensaio teórico forneceu 
as bases para a implantação do regime socialista na 
Rússia e posteriormente em outros países, como 
China, Cuba e Hungria.
Todavia, o que se constata atualmente é que os governos socialistas deram aos seus povos 
autoritarismo, miserabilidade e violência. Mais um exemplo de como teorias filosóficas possuem 
influência suficiente para, se mal utilizadas, transformarem-se em cartilhas de poder e servirem 
aos mesmos preceitos condenados pelo mesmo filósofo lá atrás, quando formulou justamente 
essa teoria.
Marx não fora a primeira, muito menos a última vítima desse tipo de apropriação indevida 
e deturpação política, mas talvez o caso desse pensador tenha sido a ocorrência mais 
emblemática. Afinal, desde a pedra basilar do cristianismo com Jesus de Nazaré, nenhum 
outro tenha influenciado tanto a humanidade até Marx, dado que ambos – Jesus, então Cristo, 
e Karl Marx, ambos engajados – bipartiram este Planeta.
Retomando a menção sobre usurpação filosófica, ocorre outro filósofo alemão – quase que 
contemporâneo a Marx – que, ao atestar a morte dos valores religiosos ocidentais em função 
de um “super-homem” nascente, teve também seu legado teórico roubado pelo autoritarismo 
hitlerista. Trata-se da Filosofia de Friedrich Nietzsche, tema de nossa próxima conversa!
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Material Complementar
Para ler:
A entrevista fictícia que, em 2007, Rodrigo Cavalcante conseguiu com o defunto Karl 
Marx para a revista Aventuras na História e está disponível em:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/cafe-marx-435310.shtml
Ainda que se trate de um exercício imaginativo, é interessante ver como esse ilusório Marx 
vê sua teoria no contexto atual e sob o lastro histórico de mais de um século, onde, por 
exemplo, o proletariado substituiu as ações mais radicais por estratégias de negociação e 
outras formas de representação social de classes.
Para assistir:
Outubro, de Sergei Eisenstein. Filme produzido em 1927 por um grupo de cineastas 
soviéticos liderados por Eisenstein para comemorar os dez anos da Revolução Russa. 
Trata-se da tentativa de recriar os eventos de outubro de 1917 descritos no material 
teórico e, segundo os produtores à época, “com o mais grandioso realismo possível”. Por 
isso, assista-o criticamente em: 
https://www.youtube.com/watch?v=2vvOf9QuvVM
Lembrando-se que a história costuma ser contada pelo vencedor. Logo, enviesada por 
quem ficou de pé para a narrar.
Para ouvir:
Desde a popular Admirável gado novo, notória na voz de Zé Ramalho e disponível em:
http://www.vagalume.com.br/ze-ramalho/admiravel-gado-novo.html
Perpassando pela desconhecida A peleja de Karl Marx contra o Império do Kapital, da 
banda Acidente e disponível em: 
http://www.kboing.com.br/acidente/1-5001067
Até paródias, como a elaborada pelo projeto educacional Dom Quixote, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=LKHPYw3gnqw
Há resquícios críticos e bem-humorados – ainda que anacrônicos – sobre o legado teórico 
do pensador analisado nesta Unidade.
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Unidade: História da Filosofia Contemporânea
Referências
GIACOIA JR., Oswaldo. Pequeno dicionário de Filosofia Contemporânea. São Paulo: 
Publifolha, 2006.
HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.
MAGGEE, Bryan. História da Filosofia. 2. ed. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 2000.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do 
capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
______.; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. 
SAVIANI, Dermeval. A Teoria da Curvatura da Vara. In: Escola e democracia. 4. ed. São 
Paulo: Cortez, [19--]. (Col. Polêmicas do nosso tempo; 5). p. 39-41. Disponível em: <https://
gepelufs1.files.wordpress.com/2011/05/escola-e-democracia-dermeval-saviani.pdf>. Acesso 
em: 13 mar. 2015.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1993. (Col. Magistério 2º Grau; 
Série Formação Geral).
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Anotações
História da Filosofia 
Contemporânea
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco 
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites 
Individualismo, moral e poder em Nietzsche
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• Filosofia estridente
 · Compreender a moral e os valores do homem ocidental a partir da visão 
de Nietzsche como crítica ao legado religioso cristão.
 · Contextualizar as consequências sociais e políticas.
Leia atentamente todo o conteúdo de cada Unidade, pois há indicações de materiais complementares 
que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o entendimento do tema abordado.
Concluída a leitura do conteúdo teórico, realize a atividade de aprofundamento, que associa os 
assuntos estudados à vida prática ora por meio de reflexão e produção textual de sua própria autoria, 
ora através de debates mediados em fóruns de discussão.
Encontrará também atividades de sistematização que lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu o 
conteúdo: são questões objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no conteúdo da 
respectiva Unidade. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, 
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Individualismo, moral e poder em Nietzsche
6
Unidade: Individualismo, moral e poder em Nietzsche
Contextualização
Tal qual aconteceu com Karl Marx em relação ao comunismo soviético, vários aspectos da 
Filosofia de Nietzsche foram usurpados e distorcidos por autoritarismos – como o nazismo e 
fascismo – e (pasme!) pela própria Ciência.
Sobre os primeiros, antes da deflagração da Segunda Grande Guerra, tanto a Itália quanto 
a Alemanha tiveram governos autoritários porque, entre outras razões políticas, esses se 
aproveitaram da pobreza e do temor daqueles que viviam um período democrático frágil na 
recente conclusão do traumático processo de unificação das duas, então, jovens nações.
Daí que conceitos nietzschianos como super-homem e vontade de poder foram usados nas 
propagandas de Mussolini e Hitler como, respectivamente, pureza ariana e predisposição dos 
mais fortes a suprimir os mais fracos. Um exemplo prático pode ser visto no documentário O 
triunfo da vontade1 – percebe agora o motivo dos sublinhados? –, que Hitler encomendou 
à cineasta Leni Riefenstahl,
tendo por propósito de “narrar” visualmente os acontecimentos 
durante o sexto Congresso de Nuremberg e a tentativa de instituição do terceiro Reich – 
império alemão.
Por sua vez, a Ciência também teve seu quinhão de (i)responsabilidade quando, em 
outro exemplo, tais postulados filosóficos foram ressignificados em questionáveis teorias. 
Caso emblemático foi o do italiano Cesare Lombroso (1836-1909), pesquisador, professor 
de Medicina, Psiquiatria e Antropologia criminal e quem advogava que os indivíduos com 
tendências e ações criminosas o eram por características físicas, tais como o tamanho e 
formato do crânio, nariz, sobrancelha, etc.
Além de Lombroso, no final do século XIX e início do XX, surgiu e se desenvolveu nos 
círculos científicos um “credo” de higiene genética, cuja teoria ficou conhecida como eugenia. 
Tratava-se da tentativa de podar e cultivar uma civilização biologicamente entendida como 
superior, onde se questionava e experimentava a herança genética como moldável, assim 
como o ambiente e a educação corporal, argumentos que posteriormente se fundiram com o 
contexto político-totalitário aqui desenhado.
Nesse sentido, o documentário de Peter Cohen, intitulado Homo Sapiens 19002, torna-se 
muito esclarecedor sobre como o legado filosófico de Nietzsche foi injustamente reclamado por 
políticos e cientistas quando, sabe-se, esse pensador ridicularizava qualquer forma de nacionalismo, 
considerando o alemão, ou depreciação humana qualquer que fosse, inclusive antissemita.
1. Documentário – O Triunfo da Vontade:
https://www.youtube.com/watch?v=55mClZIxRjg
2. Homo Sapiens 1900
https://www.youtube.com/watch?v=TPSjjElIIZM
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Filosofia estridente
Tal qual o som agudo e penetrante que a palavra sugere, Friedrich Wilhelm Nietzsche 
(1844-1900) fora na História da Filosofia talvez o pensador mais digno de tais características, 
inclusive e principalmente nos dias atuais, de modo que caberá aqui argumentar o porquê.
Detentor de uma escrita vigorosa, desenvolveu essa capacidade literária precocemente – 
aos trinta anos já lecionava em universidade, fato incomparável para a sua época. E por 
essa característica em si nem poderia ser chamado de filósofo, talvez um literato fosse mais 
apropriado se – e apenas se – em determinado momento de sua juventude não tivesse se 
afeiçoado aos postulados filosóficos de Schopenhauer – outro dotado escritor da prosa 
alemã –, com quem compartilhou algumas teses para, posteriormente – e qual tal fez com o 
protestantismo de seus pais ou com a amizade que firmara com determinadas pessoas, como 
Lou Salomé e Paul Rée – desvincular-se da teoria schopenhaueriana.
 Saiba Mais
Que outra referência, agora musical, que inicialmente encantou e, depois de amizade consolidada, 
serviu de repúdio a Nietzsche foi Richard Wagner? Ainda que o maestro tivesse bem mais idade 
que o filósofo, ambos foram muito próximos, assim como as ideias filosóficas do primeiro 
à musicalidade do segundo, em parte porque Nietzsche acreditava que a música de Wagner 
renascia a arte grega antiga, período anterior e puro da moral e vicitudes cristãs. Contudo, tal 
empatia não se sustentou à reaproximação do compositor ao cristianismo – o que fazia Wagner 
se professar cada vez mais antissemita –, assim como ao entusiasmo que esse manifestava ao 
sucesso que sua música alcançava. Em função disso, duas obras foram escritas por Friedrich de 
encontro a Richard: O caso Wagner (1888) e Nietzsche contra Wagner (1895).
Enquanto era consensual entre esses dois pensadores a:
• Inexistência de Deus;
• Mortalidade da alma;
• Vontade como energia irracional que nos impele nesta falta de sentido que é a nossa existência.
Nietzsche divergia de Schopenhauer quando esse último afirmava que este mundo era 
irrelevante para a realidade cósmica e que, por isso, deveria ser recusado pelo indivíduo – a ponto 
de alguns interpretarem que Schopenhauer sugeria o suicídio como solução para tal paradoxo.
Dicotômico a tal visão, tornou-se pedra basilar da filosofia de Nietzsche a necessidade 
humana em não apenas negar a realidade circundante, mas aproveitar integralmente essa 
experiência que demos o nome de vida. Havia, contudo e para esse pensador, um problema 
a ser resolvido para maximizar essa oportunidade existencial: como viver verdadeiramente um 
contexto desprovido de sentido e/ou orientação – divina?!
Note que a crítica elementar no postulado acima se refere ao apego moral que a humanidade 
preserva em circunstâncias – contemporâneas – onde esse conjunto de valores não mais se 
aplicariam. Por exemplo, em seu tempo Nietzsche acusava o refreamento social às, então 
caducas, tradições greco-romana e judaico-cristã. Ou seja, elementos que foram essenciais para 
fundamentar a moralidade da Antiguidade, mas que não deveriam ser preservados no processo 
evolucionário humano, principalmente considerando que coexistiram com desenvolvimentos 
culturais e tecnológicos, os quais, para esse pensador, poderiam ter alcançado escalas ainda 
maiores não tivessem submetidos em tal sistema de moralidade.
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Unidade: Individualismo, moral e poder em Nietzsche
O caminho seria, então, após renunciar aos valores retrógrados, transcendentais – porque 
vem de fora (do divino ou de outros tempos) –, encontrar na própria inventividade humana 
inédita moralidade a cada aspecto da vida que lhe fosse contemporânea e condizente à sua 
atual necessidade, favorecendo sua criatividade, imaginação, coragem exploradora e ousadia 
para inventar, o que, certamente, não são ações bem-vindas ao conservadorismo de qualquer 
doutrina já petrificada pelo tempo.
O que não significa, por exemplo, que a Ciência – cria humana e não externa (divina) – 
seja suficiente para nos guiar à verdade, dado que essa apenas descreve, sem ter – igualmente 
à religião – capacidade de considerar o propósito final dos seres, de modo que não pode 
também ser evangelizada – diferente do que atualmente acontece quando, por exemplos, 
ligamos a televisão para ver qualquer informação sobre seus avanços e como essa “salvará a 
humanidade da danação extinção”.
Houve, de fato, indivíduos que desenvolveram essas potencialidades mesmo antes de 
Nietzsche, razão pela qual serviram de exemplos práticos para que esse pensador argumentasse 
legitimidade à sua teoria:
Napoleão Bonaparte 
(1769-1821)
Redesenhou os padrões de batalha ao estender seus domínios em 
sucessivas vitórias bélicas.
Leonardo Da Vinci 
(1452-1519)
Tornou-se precursor em dezenas de áreas do saber, entre as quais Engenharia, 
Biologia, Medicina, Artes, Mecânica, etc., com estudos e invenções que, 
dada a exatidão e precocidade, intrigam e causam fascínio mesmo aos 
observadores do século XXI.
Martinho Lutero
(1483-1546)
Desestabilizou os cânones cristãos ao formular novas doutrinas que, além de 
outros aspectos, tornou a igreja mais acessível, assim como seus escritos mais 
inteligíveis a todos os fiéis;
Sócrates
(469 a.C.-399 a.C.)
Fez com que seus contemporâneos reinterpretassem – e, assim, 
transformassem – a realidade a partir de sua abordagem maiêutica.
Enfim, essas entre outras figuras vigorosas e que igualmente viveram energeticamente em 
função de suas próprias perspectivas, moralidades e finalidades, comumente desafiando e 
superando o estado estabelecido das coisas e da humanidade. A esse vigor Nietzsche chamou 
de vontade de poder, o qual resgatava em Schopenhauer o sentido de vontade como 
combustível de existência e o elevava a superior potência com a expressão poder, entendendo-a 
como a plenitude ou maximização da experiência de viver em função de um propósito próprio 
– seja bélico, político, cultural, artístico, etc.
Um humano que alcança esse estágio de desenvolvimento supera os demais. Dito de outra 
forma, torna-se superior, transforma-se em um super-humano, ou super-homem, conceito 
que ficou para a posteridade filosófica.
Além de viverem plenamente e, autorrealizados que foram, terem evitado a frustração 
existencial, também contribuíram à coletividade.
Afinal, pelos nomes aqui elencados, quão 
significativos não foram os inventos e obras de Da Vinci para tecnologia e arte futura? 
Como mensurar a grande evolução ocidental da antítese protestante ao domínio católico? 
Não houvesse o império francês, não teríamos reescrito os livros de História apenas sobre 
o poderio napoleônico, mas igualmente não se teria desenvolvido estratégicas bélicas, novas 
9
tecnologias – que comumente advêm de experiências de guerra – e, o mais importante, o 
estabelecimento de responsabilidades do Estado sobre a saúde, educação e bem-estar civil. 
E, claro, como não associar a genealogia do método maiêutico ao psicanalista que até hoje é 
requisitado e importante para compreender o inconsciente humano.
De modo que todos esses e os demais associáveis exemplos de super-homens possuem 
como confluência interpretativa a ousadia de afirmação da vida, firmando-se – no sentido 
de se equilibrar às adversidades naturais e sociais – em vivê-la intensamente, ainda que essa 
postura os coloque em conflito entre si e com aqueles que não compartilham dessa visão.
Assista ao filme intitulado Whiplash, transpondo Nietzsche à figura 
do professor Fletcher e o protagonista Andrew como o super-
homem em formação e autodescobrimento para ver um exemplo 
prático dessa teoria nietzschiana aqui sucintamente apresentada.
Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BjyCGE32Xdo
Nietzsche entendia que o próprio enfrentamento/competição era em si um aspecto 
evolucionário, pois lapidava, dotava e exercitava líderes, gênios, diferenciados... super-homens, 
suprimindo os inaptos para que se mantivessem os mais preparados – aspecto esse que, se 
abstraído aos demais reinos biológicos, soa bem similar ao evolucionismo do britânico Charles 
Darwin (1809-1882), seu contemporâneo.
 Saiba Mais
Talvez resida neste ponto o grande equívoco em associar esta teoria 
e pensador à superioridade de raça que equivocada e posteriormente 
lhe foi atribuída como paternidade intelectual dos movimentos 
políticos autoritários da primeira metade do século XX – leia-se 
nazismo e fascismo. Em grande parte, culpa de sua irmã, Elisabeth 
Förster-Nietzsche que, casada com um nacionalista e antissemita, 
reescreveu parte da literatura do irmão filósofo, distorcendo suas 
ideias originais nesses aspectos.
A intensidade e autorrealização têm uma carga de sentido mais relevante se você considerar 
– tal qual já dito – que para esse pensador não há significado fora da vida em si, ou seja, não 
há paraíso, transcendência ou retribuição após qualquer vida, por mais autovalorosa que seja.
Ainda que pareça, então, estranho para um devoto a qualquer doutrina – e que crê na 
continuidade da existência após a etapa carnal –, afinal, de que valeria se empenhar tanto em 
quebrar paradigmas se o final seria irremediavelmente o mesmo?
Nietzsche resolve filosoficamente esse paradoxo ao argumentar que diferente da linearidade 
do tempo – de vida, essa invenção cristã a qual critica e que, tal qual erroneamente afirmara 
que a Terra era rasa e que teria um limite, fez o mesmo com o tempo –, a dimensão cronológica 
possui uma natureza cíclica. Isso porque esse pensador resgata a herança da Física Moderna 
– e essa sobre os ombros do antigo Ptolomeu – para crer que o tempo se move tal qual nosso 
Planeta, em elipses, em idas e vindas cíclicas, repetindo-se após longos períodos, fazendo com 
o que fora se torne novamente e indefinidamente, em um eterno retorno. Com mais esse 
conceito filosófico – aqui sublinhado –, Nietzsche destitui a metafórica “linha de chegada”, 
Juízo Final, ou o sentido do tempo em si e de sua existência, tal qual de tudo que esse abarca.
10
Unidade: Individualismo, moral e poder em Nietzsche
Em âmbito geral, trata-se de ver ciclicamente civilizações, conflitos, epidemias, desastres 
naturais ou sociais, etc. na história do Planeta e da humanidade. Já na especificidade individual é 
o contrário, diz respeito a viver como se quisesse existir eternamente, é a vida intensa trazendo 
em si uma consciência de tempo, tais quais os antigos e atuais chavões: “viver como fosse o 
último dia de vida”, “carpe diem”, “melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez”, etc.
E assim tentou levar a própria vida, como fosse cobaia de seu próprio experimento. Em 
atitude similar a de Schopenhauer, Nietzsche se afastou da carreira acadêmica, escreveu 
seus livros em total discrição – entre os quais Humano, demasiado humano (1878); A 
genealogia da moral (1887); Além do bem e do mal (1886), O anticristo (1888) e Assim 
falou Zaratustra (1891).
Ainda que intransigente e insociável, não se pode negar que Nietzsche levara a cabo sua 
perspectiva niilista às últimas consequências, não apenas evidenciando a coerência entre 
suas ideias e ações, assim como nos deixando questões tão desagradáveis quanto verdadeiras 
sobre o valor de uma moralidade que mais povoa nossa persona discursiva do que se manifesta 
em nossas atitudes e desejos mais íntimos.
No pouco mais de um século que separa a morte desse pensador aos nossos dias, essa 
negação das crenças e convicções vigentes só aumentou com o sucessivo declínio de verdades 
tidas como absolutas – fossem religiosas, políticas, estéticas ou sociais – na mesma proporção 
em que aumentou a rejeição – radical, em alguns casos – às instituições sociais estabelecidas 
e suas leis.
Nada mais natural que, de tão relevantes e urgentes, os postulados e as questões que 
Nietzsche nos proferiu tenham germinado uma árvore tão espessa e de densa ramificação:
Seja nas artes plásticas e teatrais com Gustav Klimt (1862-1918), Luigi Pirandello (1867-
1936), August Strindberg (1849-1912) e George Bernard Shaw (1856-1950) – quem dedicou 
uma peça teatral a esse filósofo alemão, intitulada Homem e super-homem. Na literatura 
também com William Butler Yeats (1865-1939), Rainer Maria Rilke (1875-1926), Stefan 
George (1868-1933), Thomas Mann (1875-1955) e Hermann Hesse (1877-1962).
Na música pelos compositores Gustav Mahler (1860-1911), Frederick Delius (1862-1934), 
Arnold Schönberg (1874-1951) e Richard Strauss (1864-1949) – quem compôs o poema Assim 
falou Zaratustra, ainda vivo em produções musicais e cinematográficas –, além de imortalizado 
pelo cineasta Stanley Kubrick (1928-1999) no filme 2001: uma odisseia no espaço;
Pelo pai da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), quem admirava-se com a doação de 
Nietzsche à própria teoria filosófica e que, em certa medida, tornou-se também paciente de 
seus próprios experimentos psicanalíticos;
Além de mais literatos e pensadores, caso dos franceses André Gide (1869-1951), André 
Malraux (1901-1976), Albert Camus (1913-1960) e Jean-Paul Sartre (1905-1980), alguns 
desses nomes importantíssimos também para o existencialismo, linha filosófica que, ao 
preestabelecer a existência como enigma primeiro, muito deve ao niilismo nietzschiano.
Todavia, antes do existencialismo, cabe dar direito à resposta da moral na perspectiva 
política e socialmente “correta”, segundo o utilitarismo e pragmatismo estadunidense, assunto 
de nosso próximo encontro.
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Material Complementar
Não deixe de consultar as seguintes indicações para saber mais sobre os assuntos abordados 
nesta Unidade:
Ouvir:
Cinecast Cult sobre o filme 2001: uma odisseia no espaço. Cinecast é um 
podcast que, na etiqueta cult, em cada episódio analisa um filme cultuado. Em sua 19ª 
edição, examinou a ficção científica 2001, dirigida por Stanley Kubrick e que é altamente 
influenciada por Nietzsche, seja pela trilha sonora amparada na obra de Richard Wagner 
– compositor que se relacionou profundamente com esse filósofo; seja pelas teorias de 
super-homem e vontade de poder, enunciadas por Zoroastro na escrita de Nietzsche em 
Assim falou Zaratustra – como também era conhecido esse líder religioso persa antigo.
http://oscinefilos.com.br/cinecast/episodios/cult19_2001_odisseia.mp3
Vídeos:
Caso ainda não conheça o filme analisado no podcast acima, procure-o e o assista antes 
para
se “enturmar” à discussão do Cinecast. Assista também ao trailer abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=7E9CD3Hucws
Quando Nietzsche chorou (2007): filme baseado no popular e premiado romance 
homônimo de Irvin Yalom.
https://www.youtube.com/watch?v=L1hEswQttZE. 
Ambos contam a história de um encontro fictício entre o filósofo alemão tema desta 
Unidade – interpretado por Armand Assante – e o médico Josef Breuer – encenado 
por Bem Cross –, quem realmente fora professor de Sigmund Freud – esse interpretado 
por Jamie Elman. Note que nessa estória Nietzsche é retratado como um filósofo ainda 
desconhecido, pobre e com tendência suicida, razão pela qual Lou Salomé – representada 
por Kather Winnick –, então amiga de Nietzsche e com quem teve um relacionamento 
atribulado, procura Breuer para tentar “curá-lo” de sua depressão e desespero. Assim, 
pede ao médico que o trate com sua polêmica técnica de “terapia por meio da fala” – hoje 
chamada de Psicanálise, graças a Freud. Esse tratamento vira metafóricas aulas de Filosofia 
e Psicanálise, onde médico e paciente mergulham em processos de autoconhecimento.
Sites:
Um sábado qualquer. Série de tirinhas em quadrinhos criada por Carlos Ruas e que 
foca em temas religiosos, especialmente cristãos. Trabalho artístico, humorístico, crítico e 
que, segundo o próprio autor, “conseguiu colocar Deus caminhando de mãos dadas com 
o humor”. Nada mais natural então que no elenco de personagens fictícios e reais figure 
Nietzsche, visando didaticamente expor suas teorias e pensamentos nas peças disponíveis 
no site. Além da suspensão de crença religiosa e de seriedade, sugere-se que você leia 
as tiras no sentido inverso – da última para a primeira, assim como da página dois neste 
link para depois ver a página um, dado que há linearidade nas tiras dedicadas ao embate 
entre esse pensador e Deus(es).
http://www.umsabadoqualquer.com/category/nietzsche/page/2
12
Unidade: Individualismo, moral e poder em Nietzsche
Referências
GIACOIA JR., Oswaldo. Pequeno dicionário de Filosofia Contemporânea. São Paulo: 
Publifolha, 2006.
HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. Trad. Marcos 
Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
MAGGEE, Bryan. História da Filosofia. 2. ed. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce homo: de como a gente se torna o que a gente é. Trad. 
Marcelo Backes. Porto Alegre, RS: L&PM, 2003. (Col. L&PM pocket).
______. Além do bem e do mal. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
______. O anticristo. 4. ed. São Paulo: Ediouro, 1985.
______. O crepúsculo dos ídolos. São Paulo: Ediouro, [19--].
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1993. (Col. Magistério 2º Grau; 
Série Formação Geral).
13
Anotações
História da Filosofia 
Contemporânea
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Utilitarismo e Pragmatismo
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• Introdução
• Utilitarismo como Descendência Moral e Política do Empirismo
• Saber é Fazer
 · Compreender os preceitos de ambas as doutrinas filosóficas, suas similaridades e 
particularidades, assim como seus principais pensadores e ideias.
Nesta oportunidade, visitaremos os herdeiros do legado empirista: os utilitaristas e 
pragmatistas anglófonos e suas visões sobre o conhecimento, a moral e a política do início 
de nossa contemporaneidade.
Leia o material teórico, acesse os conteúdos complementares indicados, assista à 
videoaula, à apresentação narrada e presenteie os colegas e tutor com a sua valiosa opinião 
no fórum de discussão.
Ah, não se esqueça de testar seus conhecimentos na atividade de sistematização e na 
avaliação. Faça-as dentro dos prazos estabelecidos no cronograma!
Havendo dúvidas, registre-as no espaço criado para este fim no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem (AVA).
Utilitarismo e Pragmatismo
6
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Contextualização
Dediquemos esta contextualização para ponderar sobre as suas ações. Sim, sobre você!
• Tem ajudado deficientes visuais e/ou idosos a atravessarem a rua?
• Cuidado da sua própria saúde?
• Desenvolvido um trabalho excelente para a alegria e lucratividade de seu empregador?
• Dedicado mais tempo para os prazeres pessoais – seja aqueles que tão bem fazem à 
carne ou à alma?
• Melhorado as condições econômicas e de trabalho de seu empregado? 
• Cuidado melhor de sua aparência?
• Cuidado melhor do Planeta?
• Enfim, o que tem feito ultimamente que considera como boas ações?
• Ou ainda – e melhor –, o que entende por boas ações?!
Perspicaz que é, dirá de pronto que essa expressão se refere ao bem-estar coletivo – tal 
qual veremos nesta Unidade sob as lentes utilitaristas –, de modo que preocupações como 
aparência, saúde e prazeres pessoais não se caracterizariam. Contudo, mesmo ciente desse 
compromisso moral, há ainda um segundo estado de questão subjacente:
Você provoca boas ações porque deseja amparar/atender o próximo, ou por entender tais 
ações como deveres com a sociedade na qual está inserido(a)?
Sobre tais motivações, jogue veja o que pensam Immanuel Kant e John Stuart Mill, dois 
importantes filósofos de nossa contemporaneidade “digladiando-se” na forma visual de um 
dos atuais e tecnológicos prazeres individuais em: 
Are Your Actions GOOD? (Kant vs. Mill) – 8-Bit Philosophy
https://www.youtube.com/watch?v=Ngp1Qd8D2PQ.
7
Introdução
“Se é para o bem geral da nação, diga ao povo que fico!”
A célebre frase de Dom Pedro I tinha outro interesse político, mas, como princípio discursivo, 
cabe como uma luva à mão utilitarista que cumprimentaremos nesta Unidade.
Sim, porque por conceito entende-se essa doutrina filosófica como aquela que considera a 
boa ação – ou a boa regra de conduta – caracterizável pela utilidade e/ou pelo prazer que pode 
proporcionar tanto a um indivíduo, quanto – por consequência e principalmente – à coletividade.
Nesta frase, sintetizando a abdicação da Coroa lusitana (benefício pessoal) à causa coletiva 
– ainda que de um grupo específico da sociedade colonial – pela independência da, então, 
Colônia portuguesa, serve de ilustração ao que adiante lhe será contextualizado e interpretado 
à realidade filosófica e liberal inglesa. Vejamos.
Utilitarismo como Descendência Moral e Política do Empirismo
Você já estudou/viu que filosoficamente por empirismo se entende a doutrina segundo a 
qual todo conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser 
captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela introspecção, logo, 
em franca oposição às ideias apriorísticas e inatas do racionalismo.
Lembra-se também que o principal nome da linha empirista foi John Locke (1632-1704), 
pensador inglês que, além dessa associação, foi também muito importante socialmente como 
uma das principais vozes liberalistas contra o status quo absolutista.
Pois, a Filosofia inglesa dos séculos posteriores – ou seja, XVIII e XIX – seguiu os rumos 
empiristas e liberalistas sem agregar significativamente valores do que se postulava em outras 
partes do Ocidente, mesmo que em seu próprio continente – haja vista que nesses duzentos 
anos a Filosofia alemã brotava seus mais notáveis nomes.
Daí que, no lastro do pensamento empirista-liberalista, pouco se discutiu no “mundo 
anglófono” acerca de outros meandros da Filosofia – como metafísica, estética, razão, etc. 
–, afunilando os interesses filosóficos às questões morais e políticas e, nesses dois âmbitos de 
debates – acalorados porque, por exemplo, estavam envolvidos pela fumaça de uma Revolução 
Industrial que cada vez mais ardia as relações sociais –, teve destaque um grupo formado 
por autodenominados radicais filosóficos. À frente desse grupo estava seu fundador, Jeremy 
Bentham (1748-1832).
8
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Fonte: Jeremy Bentham, University College

Figura 1 – Jeremy Bentham na University 
College, em Londres.
Bentham fora
importante não apenas pelas ideias 
que formulou, mas principalmente pelo seu vitalício 
envolvimento às causas que defendera. Sua atuação 
como advogado o fez constatar a injustiça social e, a 
partir daí, defender diversas questões de moralidade, 
tais como o combate à corrupção pública, censura, 
sistema prisional, atividade sexual, enfim, tudo que 
envolvesse políticas públicas. Sua mais notória ação 
foi, em 1826, fundar uma instituição de ensino de 
livres-pensadores – porque esses eram impedidos 
de frequentar Oxford e Cambridge –, instituição 
que até hoje o mantém nas atas de diretoria como 
“presente sem direito a voto” e em seu hall de 
entrada, embalsamado e com seus trajes costumeiros 
– mas com a cabeça humana substituída por uma de 
cera –, como se vê nesta figura.
Pode-se dizer que junto de Stuart Mill – quem aqui também nos deteremos –, Bentham seja 
responsável pela ideia de “bem-estar social” tão reivindicada em algumas partes de mundo e, 
mesmo atualmente, tão praticada na Grã-Bretanha, especialmente em seus serviços públicos, 
como saúde e educação.
Exemplos práticos da política inglesa de bem-estar social acima mencionada 
e abaixo desenvolvida pode ser assistida em Sicko, documentário de 2007 
do cineasta Michael Moore que compara o sistema de saúde estadunidense 
ao de outros países, entre os quais, o inglês, cuja condição material capaz de 
ensejar uma existência agradável é abordada.
O documentário completo está disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=VoBleMNAwUg; 
E a condição prática dos postulados de Bentham, especificamente a questão da 
saúde, podem ser constatados a partir dos 53 minutos.
Em seu engajamento, Bentham assumia como maior postulado a ideia de que os interesses 
dos indivíduos deveriam corresponder aos da coletividade. Ou seja, qualquer ação deveria ser 
avaliada pelas consequências que trouxesse não apenas ao executor, mas principalmente às 
demais pessoas que direta ou indiretamente fossem atingidas por essas.
Naturalmente que considerando a coexistência de boas e más ações, essas eram discernidas 
como tais para esse pensador, não pelos motivos que as provocaram, mas sim pelo prazer ou 
dor que causaram a outrem.
Essa visão é justificada pela vivência jurídica de Bentham, assim como pelo contexto 
industrial que o cercava.
No primeiro caso, ao perceber que as ações provocadoras de dor – os crimes – eram 
balizadas judicialmente mais pelas motivações do infrator do que pelos danos causados, assim 
9
como as condenações não tinham efeito reparador ou mesmo proporcional às dores causadas 
– no sentido carcerário de apenas tentar equivaler a dor a quem a infringiu, privando-lhe a 
liberdade, sem, contudo, promover prazer proporcional a quem fora vitimado em dor.
Já no meandro industrial, saltava a esse filósofo as corroídas condições sociais e econômicas 
do operariado em função do interesse exclusivamente monetário dos industriais. Isso porque 
em função de baixos salários e extensivas e desgastantes jornadas de trabalho, estendia a ação 
degradante às moradias, saneamento, saúde, cuidado com as crianças, etc. Um discurso muito 
próximo ao que atualmente atribui o crescente índice de criminalidade ao enfraquecimento da 
condição de bem-estar social.
Assim, Bentham entendia a condição utilitária como aquela que media toda ação por 
sua utilidade, ou seja, pelas consequências – positivas ou negativas que provocava, as quais 
deveriam sempre maximizar o prazer para erradicar a dor, ou – e pelo menos – minimizar a 
dor para se fazer manifestar o prazer.
Para pensar
Ainda que dor e prazer sejam emoções sentidas individualmente, 
a lógica utilitária as pluralizam à instância social por acreditar que 
sua moralidade pode ser aplicada tanto na conduta privada – 
como aquele que, por exemplo, cumpre uma sentença –, quanto 
à prática política, legal, econômica, enfim, social, dado que a 
moralidade é uma expectativa de conduta também coletiva, ou 
melhor e inclusive, institucional, das instituições sociais.
Figura 2 – George Burchett tatuando uma mulher 
inglesa em uma data desconhecida da década de 1930
Em função desse pensamento, é comum ao britânico 
– do século XIX aos dias atuais – dizer/ouvir que 
o propósito social é “o maior bem para o maior 
número de pessoas”. Conforme a interpretação, 
porém, entender-se-ia que, ao não ferir física ou 
moralmente o próximo, poderia se fazer o que se 
quisesse consigo e sobre si, e as possibilidades se 
tornam inúmeras e “progressistas” demais para 
uma sociedade do século XIX ou início do XX: 
desde marcar o próprio corpo, como se vê nesta 
imagem, como dar cabo à própria vida, ou mesmo 
exercer atividade sexual de forma livre – sem os 
compromissos conjugais da época.

Fonte: Agency/Getty Images
Todavia, tal qual aprendemos com Hegel – que toda tese traz, subjacente, uma ou mais antíteses 
–, o postulado utilitarista em meio liberalista – esse amparado na defesa da liberdade individual – 
trazia algumas dialéticas, supostamente insolúveis: 
Reflita
Como reconhecer objetivamente se há consequências coletivas em 
determinada ação individual? Ou ainda, como mensurar seu alcance 
para que, se punível, aplicar uma penalidade na proporção correta para 
refreá-la, sem ser omisso ou causar mais sofrimento inútil?
10
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Mas que superamos de forma tão contundente quanto atual: caracterizando a ação 
negativa a partir da queixa de quem supostamente foi vitimado por essa e a julgando em 
função de evidências, testemunhos e, principalmente, jurisprudência a possíveis casos 
anteriormente identificados.
Estava no utilitarismo, portanto, uma base significativa para os sistemas legal, judiciário e 
carcerário que vigorariam a partir de então até a nossa atualidade, sintetizado no princípio tão 
atual, quanto popular, do dito que assim proclama: “o seu direito acaba onde começa o do 
outro”, ou à época inglesa aqui visitada: “sua liberdade de balançar o braço termina onde meu 
nariz começa” (MAGEE, 2000, p. 185).
Você sabia?
Que Bentham foi o formulador do conceito panóptico prisional que mais tarde foi 
teoricamente criticado por Michel Foucault (1926-1984) em sua obra, Vigiar e punir?
Engajado em desenvolver uma estrutura que reformasse corpo e mente do 
detento, Bentham projetou uma prisão-modelo, o Panopticon, que significava um 
acompanhamento (óptico) total (pan) da conduta do encarcerado para corrigir seus 
eventuais desvios morais, de saúde e instrução. Como sabemos, essa ideia foi abstraída 
por Foucault ao controle social como mecanismo disciplinar coletivo, inclusive sobre os 
indivíduos que ainda não teriam incorrido em crime.
Outro pensador inglês digno de visita nesta oportunidade é John Stuart Mill (1806-1873), 
quem redigiu a mais influente defesa da liberdade individual contra o controle político e social.
A obra Sobre a liberdade foi escrita com a ajuda e sugestões de Harriet Taylor (1807-
1858), então casada, mas viveu um relacionamento apaixonado com Mill e com esse se 
matrimoniou após o falecimento de seu primeiro esposo.
Essa informação é necessária porque a inversão, à época, de paradigma amoroso entre 
essas duas pessoas dá o tom do discurso desse filósofo quanto à igualdade social de gênero, 
que advogara na obra A sujeição das mulheres (de 1869). Antes de Mill, apenas Platão (428-
347 a.C.) e Epicuro (341-270 a.C.) se posicionaram favoráveis à igualdade de gêneros.
Para Mill (apud MAGEE, 2000, p. 185) “o único fim que garante à humanidade, individual 
ou coletivamente, a interferência na liberdade de ação de qualquer um de seus membros é 
a autoproteção”. Excetuando tal extremidade, para esse pensador todo e qualquer indivíduo 
precisa ser equiparado aos demais para exercer a soberania de sua individualidade e agir 
favoravelmente ao convívio social.
Tão engajado quanto Bentham, Mill, então membro do Parlamento inglês, desempenhou 
sua tese filosófica ao propor o direito feminino ao voto, deflagrando o movimento sufragista 
britânico,
iniciado em 1866 – três anos antes da publicação da obra acima mencionada –, e 
cujo êxito foi atingido apenas em 1918, quando as mulheres britânicas com mais de trinta 
anos obtiveram a equidade eleitoral.
Autodidata, esse filósofo também se notabilizou pela releitura empirista de Locke e Hume 
sobre a maneira pela qual o conhecimento é adquirido. Para Mill, o conhecimento se estabelece 
e se desenvolve como forma de atividade, ou seja, na tentativa em fazer algo, acabamos por 
descobrir a melhor forma de executá-lo, o que propicia um processo de teste-erro-teste-acerto.
Essa visão sistemática sobre como a validade de um saber é determinada pelo seu bom 
êxito prático influenciou significativamente outros pensadores anglófonos, mas oriundos de 
um outro país, cuja tradição filosófica ainda germinava, os Estados Unidos da América do 
Norte, com sua doutrina do self made man – o indivíduo que se faz.
11
Saber é Fazer
A condição colonizadora – de povoamento – e de independência – revolucionária – dos 
EUA cobrava formas de produção que primassem pela interatividade entre o indivíduo e o 
meio de uma forma experimentável e com resultados objetivos.
Tal ímpeto também se espelhava na cultura que, no âmbito da Filosofia, passava a considerar 
o conhecimento como a atividade humana em si e o significado que o indivíduo tirava da ação. 
Nessa linha de pensamento, três nomes se destacaram, os quais aqui cumprimentaremos.
O primeiro é Charles Sanders Peirce (1839-1914), quem sustentava que para conhecer, 
aprender e saber, inevitavelmente e sempre tentamos. E nas tentativas – sim, no plural, porque 
envolve uma consequente sucessão de erros e resiliência para, a cada insucesso, tentar de 
formas diferentes obter o êxito –, acabamos por encontrar uma resposta, ou forma de resolver 
o estado de questão que nos provocou resolução.
Glossário
Resiliência diz respeito à elasticidade dos corpos, que neste 
contexto significa adaptabilidade, ou seja, a capacidade de 
se recobrar ou aprender com os erros, imprevisibilidades, ou 
mudanças às tentativas de êxito em qualquer empreendimento.
De entendimento e familiaridade científica – porque na Ciência qualquer tese passa a ser 
relevante somente após sua verificação e comprovação –, a atividade prática proposta por 
Peirce defende que qualquer forma de conhecimento consiste nas explicações práticas que 
encontra, o que torna a inteligência humana um constante instrumento avaliativo não apenas 
do que sente – como formulara Kant –, mas também e principalmente do que experimenta 
com um propósito determinado.
Nesse ponto é importantíssimo você perceber que o indivíduo não é mais expectador – 
aquele que observa –, como propuseram outras linhas filosóficas. Para o pragmatismo esse 
passa a ser agente participante do processo que lhe agrega conhecimento, ou melhor, para 
os pragmáticos, que lhe estabelece definições àquelas experiências, razão pela qual, por 
pragmatismo pode-se também conceituar como a teoria da significação, que busca significados.
Fonte: collectorsweekly.com

Figura 3 – Cruzamento entre 14th Street e 
Pennsylvania Avenue, Washington, DC, 1939.
Ainda que não seja um(a) físico(a), você diariamente 
atravessa ruas fora da faixa de pedestres e sem – o 
respeito ao – semáforo. Mas incrivelmente, pelo 
menos habitualmente, não é atropelado(a). Como 
consegue tal façanha sem medir a distância e a 
velocidade daquele automóvel que poderia atingi-lo(a)?
Para os pragmáticos, ao obter o primeiro sucesso, 
você ganha conhecimento da sua ação como 
participante – sobre distâncias e velocidades – e faz 
desse êxito sua explicação confiável ao fenômeno 
de “atravessar ruas”. Mas nunca certezas, pois 
se um dia for atropelado(a), precisará substituir 
a explicação vigente por uma que produza um 
resultado mais acurado – e menos dolorido
12
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Entre os méritos dessa doutrina filosófica pode-se lembrar da própria instabilidade científica 
que, ao não produzir verdades absolutas e atemporais, precisa incessantemente de revisão 
para promover ressignificação, superação de suas teses.
Da mesma forma, o indivíduo como participante do processo – e não mais mero observador 
– toma o conhecimento como ferramenta de sobrevivência que, tais quais naqueles reality 
shows que colocam o protagonista na “natureza selvagem”, precisa ser aplicado, melhorado 
ou substituído em tempo real para que seu propósito seja alcançado – manter-se vivo, no 
exemplo indicado e (por que não?) na sua própria vida, como ela é. “O real, portanto, é aquilo 
que mais cedo ou mais tarde, resultaria em informação e raciocínio”, sintetizou Peirce (apud 
MAGEE, 2000, p. 187).
Melancólico(a) – porque inteligente –, você se dá conta de que nada é indefinidamente 
confiável, não há verdades eternas, que está sozinho no Universo, afinal, tudo é falível porque 
questionável, sujeito a falhas ou revisionismos.
Ótimo – para os pragmatistas, especialmente para William James (1842-1910)! Porque 
ao entender que nada é definitivo em seu conhecimento, tornar-se-á livre do que lhe é dado 
como “fato sólido” – mas que você desmanchará no ar questionador –, assim como superará 
os paradigmas do que lhe for dito ser impossível pensar, fazer, realizar novas crenças que, 
até serem negadas – e cedo ou tarde serão – poderiam ser (a)creditadas. Pronto, com essa 
possibilidade de (rea)creditar você volta a ficar feliz, acompanhado(a) pela humanidade – ou 
parte dessa – e crente em seguir sua(s) própria(s) verdade(s).
James lembra que a característica progressiva do conhecimento humano atesta exatamente 
isso: se, por exemplo, até o século XIX era inconcebível crer na possibilidade de o homem 
voar, cem anos depois essa ação não apenas se concretizou – porque, inclusive, alguns 
pragmáticos tiveram a coragem de tentar –, como passou a ser coletiva e indiscutivelmente 
(a)creditada. Ou será que há ainda alguém neste nosso século que duvide?! Pois bem em 
outro exemplo, o que atualmente afirmar então sobre o teletransporte? Existe? É verdadeiro? 
Se ainda não, existirá?!
Nesse sentido, James viu o pragmatismo como a teoria que, além de significados, estabelece 
também verdades, ainda que transitórias, ou seja, até que pudessem ser objetivamente refutadas. 
Leve essa tese para o campo religioso e compreenderá, em mais um exemplo, que “da mesma 
forma que não vejo o ar e esse existe, por não ver Deus, esse também pode existir”, como 
habitualmente se argumenta até os dias atuais.
A insolúvel contradição entre provar o que não existe para (desa)creditá-lo ou provar 
sua existência para o inverso fez com que o pragmatismo tomasse outro rumo (e) teórico, 
representado na figura de John Dewey (1859-1952).
Multifacetado, Dewey envolveu-se em política, jornalismo, educação, jurisprudência, 
linguagem e, claro, Filosofia, agregando a essa todo o lastro de conhecimento que estendeu 
nesses demais saberes e pelos diferentes lugares do mundo por onde passou.
Refletindo sobre a associação educacional, Dewey percebeu que a linguagem científica 
poderia ser a melhor comunicação escolar para a aplicação dos princípios pragmatistas.
13
Ainda que a Ciência fosse limitada em descrever o mundo, sem a capacidade de explicá-lo, 
sua estrutura metodológica em:
• Detectar o problema;
• Formulá-lo para o melhor compreender;
• Elencar soluções;
• Testá-las para, se alguma correta;
• Resolvê-lo!
Muito se assemelhava à atividade humana, ou seja, em suas circunstâncias mais corriqueiras 
e que o pragmatismo entendia como válidas. Curiosamente, porém, as instituições escolares 
desde sempre não aplicavam tal abordagem como metodologia formal de ensino.
Sensível às especificidades das diferentes áreas do saber – entre Humanidades, Exatas e 
Ciências Biológicas, tais quais as relações sociais como um todo –, advogava que o conhecimento 
não deveria ser frio e meramente “transmitido” pelas escolas aos estudantes, mas sim aplicado 
pelos alunos em atividades práticas e extremamente interativas.
Considerando que tal proposição fora formulada há mais de um século – e mesmo hoje 
permanecemos na instância escolar discursiva –, Dewey foi precursor na lógica do “aprender 
fazendo” porque, além de – nessa visão – colocar o aluno como participante do processo – e não 
mero expectador –, apontou a capacidade criativa discente em suas interações com as experiências 
escolares, da mesma forma que deu uma lufada de ar fresco nas diretrizes do pragmatismo, 
levando-o a outros ventos teóricos, “empinado” com linhas filosóficas que empunharemos adiante.
Fonte eatonvilletorainier.com
 Figura 4 – Aula de Ciências na Eatonville High School, Flórida, EUA, 
em 1915.
Enquanto Dewey (apud MAGEE, 2000, p. 191) afirmava que “quanto 
mais interações observamos, melhor conheceremos o objeto em questão”, 
talvez não considerasse outros aspectos envolvidos nesta figura, como a 
linguagem e a lógica, os quais seriam resgatados pelos filósofos que lhe 
foram posteriores, assunto que desenvolveremos na próxima Unidade.
14
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Material Complementar
Não deixe de consultar as seguintes indicações para saber mais sobre os assuntos abordados 
nesta Unidade: 
Vídeos:
O programa bem-humorado da TV Univesp, disponível no link abaixo, oferece novas 
perspectivas interpretativas do pragmatismo pelas lentes de William James e Charles Peirce, 
formuladores dessa linha filosófica que aqui conversamos.
https://www.youtube.com/watch?v=86aAo2KHOaA
Imagine uma realidade alternativa, onde a mentira não existe. Todos, até políticos 
e publicitários, falam a verdade – e nada mais do que a verdade. Contudo, quando 
um “perdedor” chamado Mark descobre a mentira, vê que a “desonestidade” tem 
suas vantagens, não apenas pessoais, mas também – e curiosamente – coletivas. Ou 
seja, assista ao filme A invenção da mentira considerando a abordagem utilitarista de 
que uma ação deve ser pesada pelas consequências que causa e não às motivações 
que a provocaram. Se tiver dificuldade de encontrar o filme inteiro, faça a reflexão 
proposta a partir da cena disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=4_KQn859dlU
Sites:
Sobre a Escola Básica da Ponte que, localizada no município de Santo Tirso – próximo 
à cidade do Porto, em Portugal –, adota um modelo de ensino totalmente diferente ao 
socialmente convencionado, mas muito próximo ao que defendera o pragmatista John 
Dewey. Lá não há turmas ou séries, mas estudantes de diferentes idades que se organizam 
a partir de interesses comuns para, juntos e de forma autônoma, desenvolverem projetos 
de pesquisa, de acordo com a afinidade dos temas e a partir das relações afetivas que os 
alunos estabelecem entre si, a partir da entrevista com José Pacheco, educador português 
e idealizador desse projeto, Conheça ou saiba mais sobre em:
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/jose-pacheco-escola-ponte-479055.shtml
15
Referências
BENTHAN, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. Trad. Luiz 
João Baraúna; João Marcos Coelho. São Paulo: Nova Cultural, 1989. (Col. Os pensadores).
GIACOIA JR., Oswaldo. Pequeno dicionário de Filosofia Contemporânea. São Paulo: 
Publifolha, 2006.
HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.
JAMES, William. As variedades da experiência religiosa. São Paulo: Cultrix, 1991.
MAGGEE, Bryan. História da Filosofia. 2. ed. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Loyola, 2000.
MILL, John Stuart. Sobre a liberdade. Petrópolis, RJ: Vozes, [19--a].
______. Utilitarismo. Lisboa: Atlântica, [19--b].
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1993. (Col. Magistério 2º Grau; 
Série Formação Geral).
16
Unidade: Utilitarismo e Pragmatismo
Anotações
História da Filosofia 
Contemporânea
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Filosofia lógica e analítica
5
• A Lógica Volta à Tona
• A Filosofia Analítica a Lógica
 · Compreender os preceitos de ambas as doutrinas filosóficas, suas 
similaridades e particularidades, assim como seus principais pensadores 
e ideias.
Leia atentamente todo o conteúdo de cada Unidade, pois há indicações de materiais 
complementares que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o entendimento do tema abordado.
Concluída a leitura do conteúdo teórico, realize a atividade de aprofundamento, que associa 
os assuntos estudados à vida prática ora por meio de reflexão e produção textual de sua 
própria autoria, ora através de debates mediados em fóruns de discussão.
Filosofia lógica e analítica
6
Unidade: Filosofia lógica e analítica
Contextualização
Desde a Idade Média, os principais nomes da História da Filosofia não eram acadêmicos. 
A prevalência acadêmica, porém, voltou a acontecer no século XX, período em que o 
filósofo Antonio Joaquim Severino (1993) estima ter vivido oitenta por cento dos principais 
pensadores de todos os tempos, dada a grande quantidade de teorias, ideias, movimentos e 
escolas filosóficas.
Considerando o que Bertrand Russell (apud MAGEE, 2000, p. 196) dizia: “Não há 
absolutamente nada que possa ser visto simultaneamente por duas mentes”, talvez resida 
aí a justificativa da grande atenção dada à análise lógica e linguística, essas com abordagens 
objetivas e/ou cientificistas, como se verá nesta Unidade e nas seguintes.
Outro ponto que pode ser considerado nesse boom analítico foi a corrida da Filosofia 
aparte a outras Revoluções do “extremado século XX”. O historiador Eric Hobsbawn (1995) 
menciona a Revolução Social como o predomínio do “após” sintetizado no prefixo “pós”: 
pós-industrial, pós-imperial, pós-moderno, pós-marxista, pós-Gutemberg, etc.
Por sua vez, as grandes mudanças culturais podem ser abreviadas às alterações nas 
estruturas familiares, domésticas, de representações de gênero e da relação entre esses – 
hetero e homossexualmente.
Há, contudo, um terceiro fator de abrupta alteração ao estado estabelecido, trata-se da 
própria Revolução Científica, a qual a Filosofia tentou se agregar: a descoberta de novas 
armas que indiretamente propulsionaram desenvolvimentos de utensílios civis, esmiuçaram as 
microscópicas propriedades do átomo para voltar à generalização crítica de acabar com todo 
o Planeta com o apertar de um botão.
Essa ameaça distópica – no risco de descambarmos em condições de extrema opressão, 
desespero ou privação – não apenas levou muitos desses pensadores às ruas – como nosso 
Russell, como presidente da campanha pelo desarmamento nuclear na década de 1950 –, como 
também promoveu essa “cientificidade” da Filosofia, no sentido de tentar melhor compreender 
o vital senso de realidade que aquela época emanava e seus extremistas conviventes.
7
A Lógica Volta à Tona
Desde Aristóteles e seu sistema de lógica, essa faceta da Filosofia ficou meio que estagnada 
ao longo da história dessa forma de saber, sem pensadores e teorias que significativamente 
refutassem o statu quo aristotélico e que trouxessem à tona novas formas de encará-la.
Podemos grosseiramente associar lógica como a busca do 
que é verdadeiro.Contudo, seremos aqui mais refinados ao 
tomar emprestada a definição de Oswaldo Giacoia Junior 
(2009, p. 115-116), quem define esse termo como a: 
 
Propriedade de proposições que são verdadeiras (ou falsas) 
unicamente em razão de sua estrutura lógica; por exemplo, 
“todo P é P”, ou “P ou não P”. Verdade analítica ou conceitual 
é a propriedade de proposições que são verdadeiras (ou falsas) 
em razão do significado dos conceitos nelas implicados; por 
exemplo, “todo homem é racional” (supondo que o conceito 
de homem tenha a racionalidade como um de seus atributos 
essenciais). Verdades lógicas (e suas contrárias) são proposições 
logicamente necessárias (ou logicamente impossíveis); verdades 
contingentes são aquelas expressas em sentenças que não são 
nem logicamente necessárias nem logicamente impossíveis.
Esse hiato, porém, encerrou-se ao final do século XIX –

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