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1 Tutorial 7 – Vitor Benincá EPIDEMIOLOGIA Representa a principal causa de DRC terminal em países industrializados. Nos Estados Unidos, o DM é a causa responsável por mais de 30% dos pacientes submetidos à diálise ou ao transplante renal e por 40% dos novos casos (incidentes) da doença. Quase a totalidade das nefropatias diabéticas são secundárias à DM2 (80-90%) e uma menor parte ao DM1. Maior prevalência em mulheres de descendência africana, hispânica, indígena, asiática e nativo-americana, principalmente entre 50-70 anos Incidência aumentando pela epidemia global de obesidade nos países desenvolvidos. Apesar de não haver estudos epidemiológicos sistemáticos, o DM é responsável por, aproximadamente, 18% dos pacientes em diálise no Brasil (ANVISA 2003), perdendo em frequência para as glomerulonefrites e a hipertensão arterial. Entretanto, é possível que esteja ocorrendo um aumento na prevalência de DRC terminal secundária à nefropatia diabética nas últimas duas décadas. FISIOPATOLOGIA HIPERGLICEMIA Distúrbios secundários à hiperglicemia são o fator etiológico mais importante no desenvolvimento da nefropatia diabética. Controle agressivo da glicemia diminui o desenvolvimento da nefropatia, além de outras complicações microvasculares no diabetes tipo 1. Biópsias renais repetidas documentaram que as lesões renais de nefropatia diabética podem se reverter após transplante de pâncreas bem-sucedido em longo prazo (dez anos). Hiperglicemia → aumento de ERO, depleção da forma reduzida da nicotinamida dinucleotídeo (fosfato), ativação da via do poliol (maior atividade da proteína quinase C), alteração nas vias da hexosamina e à glicosilação proteica não enzimática → desenvolvimento de nefropatia diabética e outras vasculopatias diabéticas. HEMODINÂMICA Pacientes com DM (principalmente 1) apresentam TFG aumentada (hiperfiltração) devido à vasodilatação preferencialmente da aa. aferente em relação à eferente. Essa hiperfiltração eleva o fluxo sanguíneo glomerular e aumenta a pressão capilar glomerular. Com DM descompensado, pacientes desenvolvem hipertrofia glomerular com aumento na área de superfície capilar glomerular. Essas alterações contribuem para o início/evolução da lesão renal diabética. Devido a esse aumento, faz sentido o uso de IECA (promovem vasodilatação da eferente) para diminuir a progressão da nefropatia diabética. HORMÔNIOS E CITOCINAS Estudos mostram que as citocinas, hormônios e vias de sinalização intracelular desempenham papel no desenvolvimento/progressão da nefropatia diabética, principalmente o fator de crescimento transformante β (TGF-β), do CTGF (fator de crescimento tecidual conectivo), da angiotensina II, do VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), da endotelina, das prostaglandinas e do óxido nítrico (ON). Por estarem associados a diversas doenças renais não diabéticas, é provável que não sejam específicos da nefropatia diabética, mas agentes IECA são muito eficientes em desacelerar a progressão da nefropatia diabética. GENÉTICA É impossível prever em quem a nefropatia diabética irá se desenvolver, embora algumas condições contribuam para o desenvolvimento (HAS e hiperglicemia). Também parece ter uma predisposição hereditária, já que indivíduos portadores de DM do tipo 1 que possuem irmãos acometidos pela nefropatia diabética apresentam um risco de 70% do desenvolvimento desta doença. Provavelmente é uma doença poligênica Há vários estudos sugestivos de ligação genética, mas resultados são conflitantes e não são bem estabelecidos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS HISTÓRICO NATURAL Embora a maioria dos casos sejam relacionados à DM2, a DM1 histórico natural da doença mais bem definido. O início da doença é mais definido e, inicialmente, pacientes com DM1 geralmente não apresentam condições de comorbidade associadas ao DM2 (HAS, doença cardiovascular aterosclerótica e obesidade). Além disso, a idade relativamente avançada de início do DM do tipo 2 e o aumento da mortalidade cardiovascular nesta população podem impedir o desenvolvimento de todas as manifestações da nefropatia diabética. No DM1, a nefropatia diabética progride em 4 estágios: ESTÁGIO 1 – A HIPERFILTRAÇÃO (PRÉ-NEFROPATIA) Começa pouco depois das manifestações do DM, os rins dos diabéticos sofrem hipertrofia nos glomérulos e túbulos. Apesar de um aumento de 50% do fluxo sanguíneo e TFG, a macroalbuminúria ainda não é detectada, mas uma macroalbuminúria transitória pode Tutorial 7 Nefropatia Diabética 2 Tutorial 7 – Vitor Benincá ser detectada (radioimunensaio), principalmente se induzida por estresse, esforço físico. HAS geralmente é ausente nos estágios iniciais do DM1, mas muitas vezes presente no DM2. Além da hiperfiltração e hipertrofia glomerular e renal, nesta fase já se nota um espessamento da membrana basal glomerular. Estas alterações hemodinâmicas e estruturais são pelo menos em parte, dependentes da hiperglicemia crônica, uma vez que o controle glicêmico adequado pode preveni-las e revertê-las. Fase I não é preditora de nefropatia diabética, pois apenas 20-40% evoluem para a fase II ao longo dos próximos 10 anos. ESTÁGIO 2 – MICROALBUMINÚRIA FIXA Marca o início da nefropatia diabética, numa fase precoce ou incipiente. A microalbuminúria pode ser quantificada por dois diferentes métodos: 1. Urina coletada por 24h com dosagem direta superior a 30mg; 2. Urina coletada pela manhã (para subtrair o efeito albuminúrico da posição ortostática e do exercício físico) com razão Alb/Cr superior a 30mg/g. Embora TFG esteja aumentada ou normal, há espessamento das membranas basais glomerular e tubular e expansão da matriz mesangial Além das implicações prognósticas e terapêuticas para a nefropatia diabética, a microalbuminúria aumenta cerca de 5 vezes a mortalidade cardiovascular, correlacionando-se com um perfil lipídico desfavorável. A microalbuminúria é mais provavelmente causada por nefropatia diabética no diabetes tipo 1 do que no tipo 2, no qual a própria hipertensão pode levar à microalbuminúria A maioria progride dentro de 5-7 anos para o estágio 3. ESTÁGIO 3 – PROTEINÚRIA MANIFESTA Presença de proteinúria (>500 mg de proteína total por 24 horas) e macroalbuminúria (>200 mg/24 horas) detectável em um teste rotineiro de fita para proteína urinária. A proteinúria costuma progredir rapidamente, podendo alcançar níveis nefróticos em 10-20% dos pacientes após alguns poucos anos. PA elevada, sendo mais problemática em DM2. A TFG inicia seu declínio como resultado da glomeruloesclerose, característica histológica desta fase – queda de 12mL/min/ano. Clinicamente, é frequente o aparecimento de edema periférico. Assim como a proteinúria aparece como primeiro achado laboratorial da nefropatia diabética, o edema pode ser encarado como primeiro sinal clínico. A presença de edema generalizado e da proteinúria > 3,5g/24h define síndrome nefrótica na nefropatia diabética. A retinopatia também está presente nesta fase em 90% dos diabéticos tipo 1 e em cerca de 60% dos diabéticos tipo 2. Achados patognomônicos: Lesões de Kimmelstiel-Wilson (porém ocorre em apenas 25% dos pacientes), hialinose arteriolar (aferente e eferente) ESTÁGIO 4 – ESTÁGIO AZOTÊMICO Caracterizado por um declínio progressivo da função renal, com evolução para doença renal terminal Proteinúria na faixa nefrótica (>3,5 g/24 horas) e HAS Esta fase da nefropatia diabética ocorre em média 4-6 anos após o início da proteinúria declarada. Desde a instalação da azotemia, a evolução para rins em fase terminal corre em média 2-3 anos. OUTRAS COMPLICAÇÕES RENAIS A acidose tubular renal do tipo IV (hiporreninêmica e hipoaldosteronêmica) com hipercalemia é comumente observada nos pacientes com DM e doença renalde leve a moderada. Deve-se monitorar devido à possibilidade de hipercalemia grave em resposta à depleção do volume ou após a administração de fármacos que interferem no SRAA (ex. IECA). Os pacientes com diabetes têm uma maior incidência de infecções por bactérias e fungos do trato geniturinário, além de um maior risco para desenvolver abscessos intrarrenais e perinefréticos. A estenose unilateral ou bilateral da artéria renal é mais frequente no DM2, devendo sua presença ser considerada se um paciente diabético apresentar hipertensão refratária ao tratamento PREVENÇÃO Controle glicêmico diminui muito, mas não elimina a incidência de nefropatia diabética. Controle da PA (em diabéticos deve ser inferior a 130/80), já que hipertensão é um fator de risco. TRATAMENTO CONTROLE GLICÊMICO Recomendação atual consiste em manter os níveis de hemoglobina glicosilada menor ou igual a 7%. As lesões avançadas cursando com proteinúria declarada e/ou falência renal não se beneficiam tanto da estratégia agressiva. As fases de maior benefício são a pré-nefrótica (Fase I) e a microalbuminúria (Fase II). IECA E BRA IECA e BRA podem retardar a evolução da microalbuminúria para proteinúria declarada. Capazes de retardar a progressão das fases mais avançadas. O uso de captopril mostrou-se eficaz em determinar reduções de risco de até 50% quando se analisa conjuntamente a progressão para transplante, diálise ou morte. 3 Tutorial 7 – Vitor Benincá Cerca de 15% dos pacientes que se apresentam em síndrome nefrótica com proteinúria maciça entram em remissão após a administração de IECA. A combinação de um IECA com um BRA promove uma redução ainda maior da proteinúria – aumenta efeitos colaterais. Dilatam arteríola eferente, aliviando a pressão intraglomerular (principal deflagrador de glomeruloesclerose e proteinúria). CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL Alvo pressórico < 130x80mmHg. Existe grande relação entre hipertensão e diabetes mellitus – cerca de 65% dos diabéticos tipo 2 são hipertensos e mais de 80% dos diabéticos com nefropatia na fase III têm hipertensão. Na DM tipo 2, a hipertensão faz parte de uma síndrome plurimetabólica, podendo anteceder a nefropatia diabética, enquanto a DM tipo 1 a hipertensão é quase sempre consequência direta da nefropatia. Outras classes que podem ser utilizadas: diuréticos, antagonistas de canais de cálcio não diidropirinas, betabloqueadores. RESTRIÇÃO PROTEICA Equivalente a 0,8g/kg/dia retardou o declínio da TFG em cerca de 75%. Dado coerente com o hiperfluxo renal observado após uma dieta rica em proteína, fator implicado na progressão da nefropatia. Manejo nutricional – restrição de carboidratos simples e gorduras saturadas. CONTROLE DA DISLIPIDEMIA Hipercolesterolemia pode se correlacionar com piores evoluções. Tratamento desta pode reduzir a intensidade da proteinúria. Com a instalação da insuficiência renal e as alterações secundárias do metabolismo lipoproteico, a hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia são comumente identificadas como consequência da nefropatia diabética. Abordagem: manter o LDL abaixo de 100mg/dL. TERAPIA COMBINADA Abordagem da nefropatia diabética deve envolver uma estratégia de controle multifatorial, envolvendo medidas não farmacológicas (redução de peso, programa de atividade física e interrupção do tabagismo), bem como tratamento agressivo da hiperglicemia, da microalbuminúria, da hipertensão arterial e hipercolesterolemia. TRATAMENTO DIALÍTICO Diabéticos toleram mal os sintomas urêmicos quando comparados com não diabéticos, sendo o tratamento dialítico geralmente indicado mais de maneira precoce (TFG < 15mL/min ou clearence de creatinina < 20mL/min). Sobrevida após início da terapia de substituição renal é menor em pacientes diabéticos. Pacientes com retinopatia diabética proliferativa devem evitar heparina. TRANSPLANTE RENAL A sobrevida média anual em 5 anos pós-transplante se situa entre 75 e 83%, enquanto nos pacientes tratados com diálise a sobrevida é de 25%. Recorrência de nefropatia diabética em rim transplantado é praticamente universal, podendo ser prevenida ou retardada pelo controle glicêmico e dos níveis tensionais. Acometendo entre 30 e 80% dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) A prevalência real da nefropatia, entretanto, deve ser maior que 90%, uma vez que a biopsia renal em pacientes sem qualquer evidência clínica dessa complicação pode revelar alterações glomerulares, especialmente depósitos de imunoagregados à microscopia de imunofluorescência (IF). O diagnóstico é feito por critérios do American College of Rheumatology, e o preenchimento de 4 ou mais, confere 96% de sensibilidade e especificidade ao diagnóstico de LESS: 1. Rash malar 2. Rash discoide 3. Fotossensibilidade 4. Úlceras da mucosa oral 5. Artrite não deformante 6. Serosite (pleurite, pericardite) 7. Doença renal (proteinúria persistente, cilindrúria) 8. Envolvimento do SNC 9. Alterações hematológicas (anemia, leucopenia, plaquetopenia) 10. Alterações imunológicas: células LE, anti-DNA, anti-Sm, VDRL falso-positivo 11. Fator antinúcleo positivo (FAN) A prevalência do LES na população varia de 14,6 a 50,8 casos por 100 mil habitantes, acometendo principalmente mulheres jovens. É uma doença multifatorial: genético, ambiental, hormonal... A etnia também é um importante critério prognóstico de gravidade da doença, como tem sido descrito em afro-americanos, latinos e asiáticos. PATOGÊNESE A patogênese da doença renal no LES é, do mesmo modo, complexa e com vários mecanismos envolvidos, os quais produzem amplo espectro de lesão renal A formação de autoanticorpos no LES é consequência direta da hiperatividade de linfócitos B, a qual, por sua vez, poderia decorrer de distúrbios regulatórios de subpopulações de linfócitos T, da ativação autógena dos linfócitos B ou mesmo de disfunções mais complexas da imunorregulação. Os autoanticorpos produzidos incluem aqueles contra DNA de hélice simples (SSDNA) ou hélice dupla (DS-DNA), contra ribonucleoproteínas, histonas e, em certas circunstâncias, contra proteínas da matriz extracelular (laminina, colágeno IV, heparan sulfato). localização dos imunocomplexos nos glomérulos, por sua vez, é influenciada por vários fatores: tamanho, carga elétrica e avidez dos complexos; capacidade de clareamento do mesângio; ou, ainda, fatores hemodinâmicos locais. Uma vez depositados, os complexos ativam a cascata do sistema complemento e toda a série de eventos que daí decorre: ativação de fatores procoagulantes; infiltração de leucócitos; liberação de enzimas proteolíticas; e liberação de citocinas reguladoras da proliferação glomerular e da síntese de matriz extracelular. Essas alterações se manifestam histologicamente pelo quadro de glomerulonefrite proliferativa (focal ou difusa) e, clinicamente, por um sedimento urinário ativo, proteinúria e, com frequência, redução aguda da função renal. A infiltração de células inflamatórias constitui achado histopatológico comum na nefrite lúpica. Entre as células envolvidas, destacam-se os macrófagos/monócitos, que desempenham um papel importante, tanto no desenvolvimento quanto na progressão das doenças renais Nefrite Lúpica 4 Tutorial 7 – Vitor Benincá Os macrófagos/monócitos contribuem para a lesão renal por meio de vários mecanismos: Espécies reativas de oxigênio Fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) → estimula a produção de endotelina-1 mesangial → contração das células mesangiais Interleucina-1beta (IL-1β) → estimula cels. Mesangiais a liberar IL-6, modulador da proliferação mesangial Proteína quimiotática de monócito-1 (MCP-1) → atrai células para o local da lesão. Fatores de crescimento → transformador de crescimento beta (TGF-β) e o fator de crescimentoderivado de plaquetas (PDGF) PATOLOGIA Caracteriza-se pela heterogeneidade de sua apresentação histológica → frequente superposição das várias lesões e pelo potencial de transformação de determinada classe em outra. O envolvimento renal no LES se dá em sua grande maioria por meio de lesões glomerulares causadas pela deposição de imunocomplexos e que se traduzem em quatro padrões característicos: mesangial; proliferativo focal; proliferativo difuso; e membranoso. Classificado, a partir de 2003, de acordo com a International Society of Nephrology, em conjunto com a Renal Pathology Society (ISN/RPS) em estágios CLASSE I – histologia glomerular normal por qualquer técnica ou uma microscopia óptica normal com depósitos mesangiais mínimos evidenciados pela microscopia imunofluorescente ou eletrônica. CLASSE II – designa os imunocomplexos mesangiais com proliferação mesangial. Juntamente com a classe I está associada a manifestações renais mínimas e função renal normal. CLASSE III – lesões focais com proliferação ou fibrose, envolvendo frequentemente apenas um segmento do glomérulo – exibem evolução mais variada. Hipertensão, sedimento urinário ativo e proteinúria são comuns com uma proteinúria na faixa nefrótica em 25 a 33% dos pacientes. Creatinina elevada em 25% dos pacientes. CLASSE IV – lesões proliferativas globais e difusas envolvendo vasta maioria dos glomérulos. Pacientes exibem comumente altos títulos de anticorpos anti-DNA, baixos níveis de complemento sérico, hematúria, cilindros hemáticos, proteinúria, hipertensão e função renal reduzida. CLASSE V – depósitos imunes subepiteliais que produzem padrão membranoso, possuindo subclasses (doença membranosa e proliferativa mista). CLASSE VI – pacientes possuem mais de 90% dos glomérulos escleróticos e doença renal em estágio terminal com fibrose intersticial. Cerca de 20% dos pacientes com nefrite lúpica evoluirão para a doença em estágio terminal – diálise ou transplante. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dependem da natureza e da gravidade das lesões histológicas renais. De modo geral, as alterações urinárias ou funcionais são concomitantes a outros sintomas sistêmicos do LES e, de maneira mais rara, sinais de nefrite apresentam-se como manifestação inicial nessa doença. Índices de atividade: hipercelularidade endocapilar, infiltração de leucócitos, depósitos hialinos subendoteliais, necrose fibrinoide e cariorréxis, crescentes celulares, infiltrado intersticial Índices de cronicidade: esclerose glomerular, crescentes fibróticos, atrofia tubular, fibrose intersticial Pacientes classe I e II, em geral, têm sedimento urinário inativo e proteinúria inferior a 1g/dia. Os testes sorológicos podem estar alterados (anti-DNA elevado, complemento diminuído). Pacientes classe III apresentam hematúria e cilindros hemáticos em metade desse grupo. Proteinúria sempre presente. HAS frequente e sorologia para LES costuma estar positiva no momento da biópsia. Pacientes classe IV apresentam forma mais ativa e frequentemente grave de envolvimento renal. Sedimento urinário geralmente alterado e mais da metade apresenta síndrome nefrótica. Insuficiência renal moderada é comum, podendo ter perda da função renal em níveis dialíticos. Indivíduos classe V: o quadro clínico habitual é o da síndrome nefrótica com função renal preservada. Pode haver sedimento urinário ativo e hipertensão arterial de modo inconstante. Associado à trombose de veia renal e defeitos de coagulação. A trombose da veia renal pode se dar sem qualquer manifestação clínica ou, então, acompanhar-se de aumento da proteinúria, de redução da taxa de filtração glomerular ou mesmo de tromboembolismo pulmonar. AVALIAÇÃO LABORATORIAL Em geral, a nefrite lúpica representa uma doença de evolução em longo prazo, caracterizada por episódios de recidivas e períodos de remissão. Uma série de testes sorológicos está sabidamente alterada na atividade lúpica: velocidade de hemossedimentação; proteína C reativa; frações do complemento; autoanticorpos; imunocomplexos; e várias citocinas. Do ponto de vista da atividade nefrítica lúpica, entretanto, os testes com maior valor preditivo são os níveis séricos do complemento total (CH50), da fração C3 e dos títulos de anti- DNA. Hipocomplementemia persistente tem sido associada a progressão da doença renal no LES. PROGNÓSTICO E TRATAMENTO O prognóstico e o tratamento da nefropatia do LES dependem da lesão histológica subjacente, do grau de comprometimento da filtração glomerular. Geralmente pacientes com nefrite de classe I e II não necessitam de tratamento. Pacientes de classe III que apresentam poucos glomérulos acometidos respondem bem a terapia com esteroides. Pacientes de classe III com maior acometimento de glomérulos possuem mesmo tratamento dos pacientes com classe IV. Pacientes de classe IV induzem remissão com administração de esteroides altas doses e de ciclofosfamida ou micofenolato de mofetila por 2-6 meses, seguida por terapia de manutenção, com menores doses de esteroides ede micofenolato de mofetila. Não existe consenso sobre o uso de metilprednisona IV em altas doses ou prednisona oral, de ciclofosfamida IV mensal ou dose diária oral. As lesões proliferativas da classe V devem ser tratadas como a classe IV. Pacientes classe V com síndrome nefrótica grave, creatinina sérica elevada e uma evolução clínica progressiva poderão ser provavelmente beneficiados pela terapia com esteroides em combinação com agentes imunossupressores. Pacientes classe VI necessitam diálise e transplante renal. O prognóstico dos pacientes portadores das lesões proliferativas das classes III e IV tem melhorado nos últimos anos. Atualmente, a sobrevida acima de 10 anos é maior que 80%, em virtude do diagnóstico mais precoce do envolvimento renal, do controle da hipertensão e dos fatores de risco cardiovascular, além da instituição de esquemas imunossupressores mais eficazes. 5 Tutorial 7 – Vitor Benincá DEFINIÇÃO Caracterizada por uma população clonal de células da medula óssea que produz uma molécula monoclonal intacta, ou um fragmento, da cadeia leve do tipo κ ou λ. A proteína de cadeia leve perde sua configuração em alfa-hélice e assume a configuração Beta-pregueada. Esta proteína, assim insolúvel, se deposita nos tecidos e interfere com a função de vários órgãos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Particularmente difícil de diagnosticar Os sintomas podem ser muito amplos e são imitados por distúrbios mais comuns Nenhum estudo laboratorial ou procedimento de imagem é diagnóstico para a doença. O médico deve, portanto, estar ciente da possibilidade de amiloidose, ou esta pode ser negligenciada. O rim é comumente envolvido na amiloidose. O diagnóstico deve ser suspeitado em qualquer paciente não diabético que apresente proteinúria em faixa nefrótica. Um terço dos pacientes com amiloidose possui síndrome nefrótica que se apresenta com um aumento dramático no nível de colesterol no sangue (média de 270 mg/dL). O coração está envolvido em aproximadamente 50% dos pacientes com amiloidose, e uma apresentação sutil como fadiga é, muitas vezes, a única manifestação. O efeito da amiloidose sobre o coração se dá por é má função durante a diástole. Os pacientes têm baixo volume diastólico final e, como consequência, uma diminuição do volume sistólico, apesar de uma fração de ejeção completamente normal. O eletrocardiograma frequentemente mostra um padrão de pseudoinfarto que pode ser interpretado como um infarto isquêmico silencioso; isso pode levar o paciente a realizar angiografia coronariana, que invariavelmente é negativa O fígado está envolvido em 13% dos pacientes. A apresentação típica é a hepatomegalia e um aumento no valor da fosfatase alcalina sérica. Aumento das transaminases e hiperbilirrubinemiasão sinais tardios. AMILOIDOSE PRIMÁRIA (AL) Pode ser idiopática, ou secundária ao mieloma múltiplo ou outras doenças hematológicas. Ocorre uma subpopulação de plasmócitos que produzem cadeias leves em excesso. Essas cadeias são processadas de forma alterada por macrófagos, originando proteínas amiloidogênicas que se depositarão em vários órgãos e tecidos. Manifestações clínicas comuns: púrpuras, placas agrupadas em pregas axilares, pescoço e região inguinal, infiltração periarticular e sinovial, cardiomiopatia restritiva, arritmias, envolvimento coronário, polimeuropatia sensitivo motora, distúrbios autonômicos, macroglossia, infiltração extensa da parede abdominal, hepatomegalia, síndrome nefrótica, insuficiência renal. A maioria dos pacientes (75%) possui deposição glomerular, cursando com síndrome nefrótica. O sedimento urinário é benigno e a creatinina plasmática é normal ou discretamente elevada. Pacientes que já apresentam creatinina plasmática > 2mg/dL, ou proteinúria muito intensa (>10g/24h) possuem prognóstico renal reservado. Raramente se observam depósitos amiloides na vasculatura renal, quando isso ocorre o paciente evolui com insuficiência renal lentamente progressiva sem proteinúria nefrótica. A deposição tubulointersticial também é rara, e pode gerar distúrbios tubulares específicos – acidose tubular renal tipo I (distal), diabetes insípido nefrogênico e síndrome de Fanconi (disfunção do túbulo proximal). Microscopia óptica revela deposição difusa de material hialino amorfo no mesângio e nas alças capilares. Tais depósitos também podem ser encontrados em pequenas artérias e na membrana basal. A amiloidose é uma das causas de insuficiência renal crônica com rins de tamanho aumentado, devido à extensa infiltração tecidual. O diagnóstico de amiloidose sistêmica costuma ser estabelecido por biópsia do reto ou da gordura subcutânea abdominal. Na microscopia de luz polarizada ocorre um achado patognomônico – birrefringência verde quando a amostra é corada com vermelho congo. AMILOIDOSE SECUNDÁRIA (AA) Decorre de estados inflamatórios crônicos – artrite reumatoide e infecções arrastadas. Outras causas menos comuns: doença de Crohn, artrites soronegativas, neoplasias e febre familiar do Mediterrâneo. Condições se acompanham da produção sustentada de citocinas, como IL-1 e IL-6. Estes mediadores estimulam a síntese hepática de uma substância chamada amiloide sérico A (apoAA), um reagente da fase aguda. O estímulo mantido faz com que grande quantidade seja produzida. O processamento anômalo da apoAA por macrófagos ativados também é responsável pela transformação amiloidogênica. Manifestações clínicas são semelhantes da amiloidose primária, porém com algumas diferenças: envolvimento mucocutâneo não é tão marcante na amiloidose AA, ainda que também ocorra. A macroglossia não ocorre nesses pacientes. Manifestações renais – basicamente os mesmos da primária, porém ocorrem depósitos maiores em vasos renais e túbulos. Portadores de artrite reumatoide podem apresentar uma forma especial de lesão renal aguda relacionada à amiloidose AA – glomerulonefrite crescêntica, por rotura das alças capilares do glomérulo, secundária à presença de depósitos amiloides nessas estruturas. Tal fenômeno promove o extravasamento de fibrina para o espaço de Bowman. Tratamento visa combate da doença de base. Amiloidose 6 Tutorial 7 – Vitor Benincá DIAGNÓSTICO TRIAGEM PARA AMILOIDOSE Por definição, a amiloidose é uma discrasia dos plasmócitos; portanto, praticamente todos os pacientes têm uma anormalidade de imunoglobulinas detectável na imunofixação do soro ou na urina ou têm resultados anormais no teste das cadeias leves livres de imunoglobulinas séricas. CONFIRMAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DA AMILOIDOSE Em vista do prognóstico desfavorável da amiloidose de cadeia leve, o diagnóstico deve ser confirmado por biópsia (com a coloração por vermelho Congo) em todos os casos. A aspiração da gordura subcutânea é um procedimento ambulatorial rápido e reconhece depósitos de amiloide em 70% dos pacientes. A medula óssea é um segundo local conveniente para biópsia, e esse teste é muitas vezes necessário para excluir a possibilidade de mieloma múltiplo. A biópsia de medula óssea é positiva em 50% dos pacientes. TRATAMENTO Anteriormente, acreditava-se ser impossível tratar a amiloidose e que esta era invariavelmente fatal. Agentes para reverter a configuração anormal da proteína e torná-la solúvel seriam ideais, mas eles não estão disponíveis. Todas as terapias são direcionadas à destruição dos clones de células plasmáticas. As opções são quimioterapia com dose tradicional ou quimioterapia em altas doses associadas a transplante de células-tronco autólogo. A maioria dos pacientes não é candidata para o tratamento com altas doses, devido à idade, disfunção cardíaca avançada ou insuficiência renal. Terapias atuais incluem combinações de melfalano, dexametasona, bortezomibe e a lenalidomida. A terapia efetiva tem sido associada à resolução da síndrome nefrótica, insuficiência cardíaca e hepatomegalia. Exames por imagem têm mostrado que os depósitos de amiloide regridem após a supressão da síntese de cadeia leve. A nefrotoxicidade da terapêutica (terapia antiviral) e as alterações hemodinânimas e eletrolíticas foram as primeiras responsáveis pelas descrições de insuficiência renal aguda. A nefropatia associada ao HIV (HIVAN) é a forma mais comum de doença renal crônica em pacientes HIV +. Nesse caso, ocorre um tipo de lesão glomerular que é uma forma especial de glomeruloesclerose segmentar e focal, geralmente associada à síndrome nefrótica e perda progressiva da função renal. A HIVAN é normalmente uma complicação tardia do HIV, sendo evidenciado pela diminuição de linfócitos CD4+ e pela história de infecções oportunistas prévias. O risco de desenvolvimento de doença renal terminal é muito maior em afro-americanos infectados pelo HIV do que em brancos também com infecção pelo HIV. FISIOPATOLOGIA A lesão histológica mais frequente na infecção por HIV é a glomeruloesclerose segmentar e focal. Isso ocorre em associação com várias outras situações clínicas, embora nenhuma delas seja bem explicada. Porém, sabe-se que a nefropatia por HIV decorre da desregulação na interação entre vírus/hospedeiro. O HIV pode infectar diretamente as células mesangiais e epiteliais -> efeito citopático -> expressão de citocinas e fatores de crescimento -> produção da matriz e esclerose mesangial. Ou a infecção pelo HIV altera o ciclo celular com intensificação da apoptose e alterações da polaridade celular, explicando assim a dilatação tubular microcística característica da nefropatia. As lesões renais associadas ao HIV podem ser por 3 tipos: (1) Glomeruloesclerose focal de forma colapsante (2) Glomerulonefrite proliferativa mediada por imunocomplexos (3) Nefropatia túbulo intersticial O termo ‘nefropatia associada ao HIV’ é reservado para a Glomeruloesclerose focal colapsante, com oclusão da luz capilar, segmentar ou global, como alguns achados característicos: hipertrofia das células epiteliais e endoteliais do glomérulo-formação de coroa podocitária, dilatação microcística dos túbulos com presença de cilindros proteicos, degeneração celular e necrose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Síndrome Nefrótica + Perda progressiva da função renal Edema: pode ser insidioso ou abrupto. Geralmente não ocorre HAS. Níveis séricos de complemento estão normais e as Ig podem estar aumentadas. Imunfluorescência: deposição de IgM e C3 Dilatação tubular com precipitados pouco densos, granulares e com proteínas Tamm-Horsfall. Quadro microscópico característico: glomeruloescolerose segmentar ou focal com alterações nas células epiteliais glomerulares, dilataçãotubular, infiltrado com fibrose e presença de estruturas túbulo-reticulares intracitoplasmáticas. Nefropatia por HIV 7 Tutorial 7 – Vitor Benincá TRATAMENTO Terapia antiviral, pois a negativação da carga viral muda muito a história natural da HIVAN. Reduz proteinúria. As cadeias leves de imunoglobulinas nefrotóxicas são produzidas em pacientes com neoplasias malignas. Essa doença confere um padrão específico de lesão renal: nefropatia de cilindros. Isso irá causar insuficiência renal com síndrome nefrótica. Esses pacientes irão produzir cadeias leves kappa que não prossuem características bioquímicas necessárias para formação de fibrilas amiloides. Nesse casos, elas irão sofrer autoagregação e formar depósitos granulosos ao longo do capilar glomerular e mesângio da membrana basal tubular e da cápsula de Bowman. Quando essa agregação ocorre predominantemente nos glomérulos, há a síndrome nefrótica e cerca de 70% dos pacientes progridem para diálise. Depósitos de cadeias leves não são fibrilares e não são corados pelo vermelho congo, mas são facilmente identificadas pelo anticorpo anticadeias leves na Imunofluorescência. Ou como depósitos granulosos pela microscopia eletrônica. O tratamento da doença por deposição de cadeias leves reside no tratamento da doença primária. Composto de: Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU). Ambas compartilham características de: púrpura trombocitopênica idiopática, anemia hemolítica, insuficiência renal e distúrbios neurológicos. Quando os pacientes são crianças há tendência a ser SHU, e quando são adultos com doença neurológica ela passa a ser considerada PTT. Porém, nos adultos geralmente há uma mistura de ambas, portanto: PTT/SHU. A PTT pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre os 20 e 50 anos. Lactentes e crianças com distúrbios genéticos podem ter apresentação precoce. As mulheres são mais afetadas que os homens (razão 2:1). Na parede do capilar glomerular há evidências de endoteliose capilar glomerular, que é associada a trombos plaquetários, dano da parede capilar e formação de material de fibrina dentro e ao redor dos glomérulos. A síndrome PTT/SHU também é observada na gravidez, com o uso de contraceptivos orais ou quinina, em pacientes com transplante renal que recebem substância específica para combater rejeição, e em pacientes que estão tomando agentes antiplaquetários (ticlopina e clopidogrel) ou após infecção por HIV. FISIOPATOLOGIA Há 2 grupos reconhecidos de fisiopatologia: SHU na infância associada a diarreia êntero-hemorrágica: causada pela toxina liberada pela E. coli e, ocasionalmente, pela Shigella dysenteriae. A toxina shiga lesiona diretamente os endotélios, enterócitos e células renais → causando apoptose → aglomerados de plaquetas → hemólise intravascular pela ligação aos receptores de glicolipídios. Esse receptores são mais abundantes em crianças do que em adultos. Algumas crianças com deficiências de proteínas do complemento expressam SHU atípica. PTT/SHU em adulto: Deficiência genética da metaloprotease ADAMTS13, causando assim aglomeração das plaquetas e hemólise intravascular. Anticorpos para ADAMTS13 podem ser encontrados, mas são muito raros. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS Pêntade clássica da PTT: trombocitopenia, anemia hemolítica microangiopática (AHM), sinais e sintomas neurológicos, manifestações renais e febre Tríade da SHU: LRA grave, trombocitopenia e AHM. A AHM resulta da fragmentação não imunológica das hemácias na circulação. Ocorrem elevação nos níveis séricos da LDH, queda da haptoglobina e aparecimento de hemácias fragmentadas (esquizócitos ou esquistócitos) em esfregaços do sangue periférico Sintomas gastrintestinais são frequentes, principalmente diarreia, náuseas e dor abdominal. O quadro renal caracteriza-se por proteinúria, hematúria (micro ou macroscópica) hipertensão e LRA. Raramente podem ocorrer manifestações pulmonares (p. ex., desconforto respiratório) e cardiovasculares (p. ex., arritmias e isquemia miocárdica). O quadro clínico clássico de SHU-stx consiste em diarreia, frequentemente sanguinolenta, e dor abdominal, seguida de LRA, geralmente 1 semana após o quadro diarreico e suficientemente grave para necessitar de terapia de substituição renal (TRS) em mais de 50% dos casos. DIAGNÓSTICO Deve-se suspeitar de MAT em qualquer paciente que se apresente com AHM e trombocitopenia No paciente típico, observam-se esquizócitos compreendendo mais de 1% dos eritrócitos do sangue periférico, plaquetopenia (em geral de 15.000 a 50.000/μℓ), anemia normocítica, aumento na disparidade do tamanho das hemácias (RDW), reticulocitose e achados de hemólise não imune, como LDH elevada e haptoglobina baixa Como a apresentação clínico-laboratorial inicial pode não ser conclusiva, uma série de testes é indicada, incluindo dosagem dos níveis de ADAMST-13 e pesquisa da toxina Shiga. Níveis de ADAMST-13 inferiores a 10% são diagnósticos de PTT e a positividade da pesquisa de toxina Shiga ou na cultura para E. coli toxigênica aponta para o diagnóstico de SHU TRATAMENTO PPT/SHU: plasmaférese até que se observe uma elevação na contagem de plaquetas. Em pacientes com recidiva, mantem-se o tratamento com a plasmaférese diária. A maioria irá responder com 2 semanas de tratamento. Pode-se usar também imunossupressores ou do rituximabe. Doença por Deposição de Cadeias Leves Microangiopatias Trombóticas 8 Tutorial 7 – Vitor Benincá SHU: devido a diarreia infecciosa, não se deve utilizar antibióticos pois estes aceleram a liberação de toxinas. Portanto, utiliza-se apenas a terapia de suporte em crianças com SHU pós-diarreica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL SHUa → SHU atípica secundária a distúrbios do complemento SHU-stx → também chamada de SHU típica, é associada a enterobactérias produtoras de toxina Shiga Uma atividade anticoagulante, detectada no plasma de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES), é conhecida há mais de 40 anos. Entretanto, nos anos 1980, observou que a maioria dos pacientes demonstravam uma predisposição à trombose, gerando um paradoxo A descoberta de um marcador específico tornou possível a descrição de uma nova síndrome clínica, caracterizada por tromboses arteriais e venosas e perdas fetais recorrentes Embora os estudos iniciais tivessem endereçado portadores de LES, com o passar dos anos percebeu-se que a maioria dos pacientes com fenômenos trombóticos associados a esses anticorpos não apresentava doenças autoimunes clássicas Pacientes sem outra doença autoimune são considerados portadores da SAF primária, enquanto aqueles com LES ou outra doença de base sofrem de SAF secundária. ETIOPATOGENIA Na população geral, a prevalência de anticorpos antifosfolipídios (APL) varia de 1 a 5%. No entanto, somente uma minoria desenvolve a SAF. Algumas estimativas indicam uma incidência de 5 novos casos por 100.000 pessoas/ano e uma prevalência de cerca de 40 a 50 casos por 100.000 pessoas. Os autoanticorpos associados à SAF são dirigidos contra proteínas plasmáticas ou contra proteínas expressas ou ligadas na superfície de células endoteliais ou plaquetas. As bases para o desenvolvimento dos eventos trombóticos da SAF incluem a interferência dos APL em reações fisiológicas pró e anticoagulantes e seus efeitos sobre a expressão e a secreção de diferentes proteínas. APL exercem efeitos pró-coagulantes e inflamatórios nas células endoteliais, leucócitos, plaquetas. Particularmente, a presença de altos títulos de anti-β2- glicoproteína I associa-se tanto a trombose quanto a complicações gestacionais. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS A principal manifestação da SAF é a trombose, tanto venosaquanto arterial. Vasos de todos os tamanhos podem ser envolvidos, incluindo arco aórtico, artéria carotídea, vasos pulmonares e pequenos vasos da pele. A trombose venosa profunda de membros inferiores e da circulação arterial cerebral são, respectivamente, os territórios mais frequentes de trombose venosa e arterial. As principais manifestações clínicas da SAF, resultante dos fenômenos trombóticos, abrangem AVE em jovens, ataque isquêmico transitório, enxaqueca, epilepsia, hipertensão pulmonar, livedo reticular, abortos recorrentes, trombocitopenia, doença cardíaca valvular, disfunção renal, hipertensão arterial e uma grande variedade de eventos trombóticos periféricos. Manifestações renais: Infarto renal por trombose da artéria renal ou de seus ramos, Estenose de artéria renal, Trombose de veia renal, Microangiopatia trombótica, Glomerulopatias não trombóticas, Lesões vasculares crônicas (hiperplasia fibrosa intimal em arteríolas e artérias interlobulares, trombos organizados, oclusão fibrosa da artéria renal ou de seus ramos e atrofia cortical focal), Perda trombótica e diminuição da sobrevida de transplantes renais DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos para a SAF definitiva são: presença de APL (isótipos IgG ou IgM para anticardiolipina ou anti-β2- glicoproteína I em altos títulos ou teste positivo para anticoagulante lúpico), associada a história de trombose arterial ou venosa, ou, ainda, complicações obstétricas recorrentes. Idealmente, os anticorpos devem ser positivos em duas ocasiões diferentes, separadas por no mínimo 12 semanas. TRATAMENTO Na ausência de manifestações clínicas, não se recomenda profilaxia primária para portadores de APL, exceto o uso de ácido acetilsalicílico em dose baixa em pacientes de alto risco (com outros fatores de risco para trombose). Em paciente com LES e APL persistentes, sugere-se ácido acetilsalicílico em dose baixa, associado a hidroxicloroquina A profilaxia secundária de pacientes que preenchem critérios definitivos para SAF é a anticoagulação plena com varfarina, Pacientes hipertensos e com proteinúria podem potencialmente se beneficiar do uso de bloqueadores do SRAA. A imunossupressão convencional tem sucesso terapêutico limitado, mas ainda é usada em casos refratários, especialmente nas complicações obstétricas e na SAF catastrófica. O uso de corticosteroides pode inibir vias implicadas na patogênese da SAF, mas é reservado para casos de SAF catastrófica e algumas manifestações não clássicas. São fármacos usados na terapia de doenças autoimunes com o objetivo de prevenir e/ou tratar rejeição de transplantes e em doenças autoimunes. Como comprometem as respostas imunológicas, promovem diminuição da resposta a infecções e podem facilitar a emergência de linhagens celulares malignas. A maioria desses fármacos atua durante a fase de indução da resposta imunológica, reduzindo a proliferação de linfócitos. Outros fármacos podem inibir aspectos da fase efetora. Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio 9 Tutorial 7 – Vitor Benincá São caracterizados: (1) Fármacos que inibem a produção ou ação da IL-2 (Ciclosporina, Tacrolimo) (2) Fármacos que inibem a expressão de genes de citocinas (corticoesteroides) (3) Fármacos que inibem a síntese de purina e pirimidinas (Azatioprina, Micofenolato, Mofetila). (1) CICLOFOSFAMIDA Mecanismo de Ação: O principal metabólito ativo é a mostarda de fosforamida, que forma ligações cruzadas com o DNA que impedem a replicação da célula. Ela irá suprimir as funções das células T e das células B em 30 a 40%. Muito usado e doenças reumáticas. Indicado para artrite reumatoide, Lúpus eritematoso sistêmico, vasculite, granumolatose de Wegener e outras doenças reumáticas. (2) CICLOSPORINA Mecanismo de ação: é um antibiótico peptídico. Por meio da regulação da transcrição gênica, a ciclosporina inibe a produção de IL-1, IL-2 e secundariamente inibe a interação entre macrófagos e células T bem como sua responsividade. As células B também são afetadas pois são dependentes das células T. Indicações: artrite reumatoide, evita aparecimento de erosões ósseas, LES, polimiosiete, dermatomiosite, granulomatose de Wegener. Efeitos colaterais: leucopenia, trombocitopenia, anemia. Em altas doses pode ser cardiotóxica. Pode causar esterilidade, principalmente em mulher. (3) METOTREXATO É a primeira linha para tratamento de artrite reumatoide e o mais usado. Mecanismo de ação: Inibição da aminoimidazolcarboxamida (AICAR) e da timidilato-sintetase. Isso, por mecanismo concomitante acaba suprimindo ações inflamatórias de neutrófilos, macrófagos, células dendríticas e linfócitos. Exerce efeitos inibitórios diretos na proliferação e estimula apoptose nas células imunes inflamatórias. Meia vida: 6-9h, mas pode se estender por até 24h. Excreção pela urina e até 30% pela bile. Indicações: artrite reumatoide, psoríase, artrite psoriática, dermatomiosite, LES, vasculite etc. Efeitos colaterais: náuseas, úlceras da mucosa, leucopenia, anemia, estomatite, ulcerações gastrointestinais, alopecia, hepatotoxicidade Contraindicado durante gravidez. (4) MICOFENOLATO DE MOFETILA Será convertido em Ácido Micofenólico que é a forma ativa do fármaco. Irá inibir a inosina monofosfato desidrogenase que leva a supressão da proliferação de linfócitos T e B. Indicações: Doença renal por LES, vasculite, granulomatose deWegener. Efeitos colaterais: náuseas, dispepsia e dor abdominal, leucopenia, trombocitopenia e anemia.
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