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GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC INTRODUÇÃO As glomerulonefrites são a terceira causa de DRC no mundo, atrás apenas da nefropatia diabética e das lesões renais associadas à HAS. As glomerulopatias podem ser classificadas de acordo com a presença ou ausência de doença sistêmica, por sua apresentação clínica ou quanto ao seu modo de instalação e progressão. Pacientes portadores de lesões glomerulares podem apresentar diferentes sinais e sintomas e dependendo principalmente da intensidade e do tipo da agressão, pode haver predomínio de um sinal sobre outro, dando origem a diferentes apresentações clínicas. Uma mesma glomerulonefrite pode ter diversas apresentações clínicas na população, e mesmo um indivíduo pode apresentar, durante a sua evolução, vários quadros clínicos diferentes. Raramente as glomerulonefrites podem evoluir para insuficiência renal terminal em questão de semanas ou meses; quando isso ocorre, elas são classificadas como glomerulonefrites rapidamente progressivas, independentemente do tipo histológico. FISIOPATOLOGIA DOS SINAIS E SINTOM AS Proteinúria: a perda de cargas negativas da membrana basal glomerular, bem como lesões nos podócitos e aumento da densidade dos poros da MBG leva ao aumento da permeabilidade e, consequentemente, proteinúria. Quando ocorre apenas lesão podocitária e perda de carga, as proteínas encontradas são as de baixo peso, como albumina e transferrina; já quando também ocorre aumento da densidade de poros encontram-se também proteínas de grande peso molecular, como imunoglobulinas. Hematúria: A agressão renal provoca soluções de continuidade na MBG que, associadas ou não à inflamação local com vasodilatação, possibilita a passagem de hemácias para o espaço de Bowman. Essa passagem provoca alteração na forma das hemácias, gerando eritrócitos dismórficos. Porém, lesões que cursam com ruptura da MBG, como as glomerulopatias crescênticas, podem apresentar hematúria não dismórfica. Edema: Pode ser provocado pela hipoalbuminemia, que reduz a pressão oncótica e, consequentemente, gera edema; ou pela maior reabsorção de sódio nos túbulos devido à lesão renal, causando hipervolemia, aumento da pressão hidrostática e edema. Queda da filtração glomerular: Pode ser provocada pela retração dos podócitos, infiltração de neutrófilos e depósito de imunocomplexos, que ocluem as fenestrações do endotélio e diminui a área filtrante da MBG. PADRÃO DE INJÚRIA GLOMERULAR Quando se fala de injúria glomerular, o acometimento pode ser classificado observando o grau de lesão de um glomérulo ou da quantidade total de glomérulos afetados. Em análise ao acometimento de um glomérulo em si, pode ser classificado como global, ou seja, quando acomete o glomérulo como um todo, ou segmentar, quando acomete parte do glomérulo. Além disso, esse acometimento pode ser classificado em difuso, quando acomete mais de 50% do total de glomérulos, ou focal, quando acomete menos de 50% do total de glomérulos MECANISMOS DE LESÃO GLOMERULAR IMUNOLÓGICOS É o mecanismo de lesão mais comum devido ao alto fluxo sanguíneo direcionado ao rim e à estrutura fenestrada dos capilares; isso proporciona maior interação com as substâncias circulantes, como antígenos e anticorpos, que podem formar imunocomplexos e deposição, culminando na lesão glomerular. Além da deposição, as glomerulonefrites podem ser desencadeadas pela reação antígeno-anticorpo in situ. Obs: Nem toda glomerulopatia por fator imunológico caracteriza uma doença autoimune, pois, como citado, pode ocorrer por depósito de imunocomplexos e não por ataque direto dos anticorpos. NÃO-IMUNOLÓGICOS Algumas condições não-imunológicas podem desencadear glomerulopatias, como: • Alergias e hipersensibilidade: após um quadro forte e agressivo pode se desenvolver uma glomerulopatia; • Endócrinos e metabólicos: diabetes melitos pode gerar a nefropatia diabética pelo depósito de glicose e alteração da barreira de filtração; • Físicos; • Hematológicos e vasculares: pacientes obesos, por exemplo, fazem hiperfiltração glomerular, que podem alterar a BFG; GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC • Fatores hereditários; • Infecção por bactérias, fungos, parasitas e vírus; • Neoplasias: substâncias liberadas pelo câncer podem provocar glomerulopatias, podendo essa ser sua primeira manifestação, caracterizando uma síndrome paraneoplásica. • Tóxicos: uso de drogas e medicamentos. CLASSIFICAÇÃO Glomerulopatia primária: são as glomerulopatias que não são desencadeadas por outra condição patológica, ou seja, é originada no próprio rim. Glomerulopatia secundária: É desencadeada por alguma outra desordem presente no indivíduo. • Doenças sistêmicas: DM, amiloidose, LES, vasculites • Infecções: HIV, HBV, HCV, EBV, CMV, dengue, sífilis, malária, esquistossomose, glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica (GNDA), endocardite, bacteremia estafilocócica, pneumonia pneumocócica, COVID-19; • Neoplasias: adenocarcinoma (pulmão, mama, estômago, cólon), linfomas, leucemias, outros; • Drogas e toxinas: AINEs, sais de ouro, penicilamina, heroína, mercúrio, picada de insetos. CONSUMO DO COMPLEMENTO DAS GLOMERULOPATIAS APRESENTAÇÕES CLÍNICAS Alguns sinais e sintomas podem estar presentes nas glomerulopatias: • Edema • Hematúria • Proteinúria • Cilindrúria • HAS • Insuficiência renal • Queda da TFG • Uremia • Urina escura Podem ser facilmente reconhecidas em quase todos os pacientes com glomerulopatia primária ou secundária: • Síndrome nefrótica • Síndrome nefrítica • Alterações urinárias assintomáticas • Glomerulonefrite rapidamente progressiva • Glomerulonefrite crônica SÍNDROME NEFRÓTICA É uma síndrome clínico-laboratorial decorrente do aumento da permeabilidade do glomérulo, sendo caracterizada por proteinúria maciça, com tendência a edema, hipoalbuminemia e hiperlipidemia. Pode ser causada por doenças primariamente renais (síndrome nefrótica primária) ou por diversas outras doenças (síndrome nefróticas secundária). O principal tipo histológico que se manifesta por síndrome nefrótica primária em adultos é a Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). A lesão estrutural do rim é atribuída à passagem das proteínas pelo mesângio glomerular e pelo interstício renal que, associado a alterações da hemodinâmica glomerular, a secreção de citocinas e a fatores de crescimento, resulta em glomeruloesclerose, fibrose intersticial e atrofia tubular progressivas. • Proteinúria de 24 horas > 3,5g/1,73 m² (VR: 1,5g) • Edema (redução da pressão oncótica) • Hipoalbuminemia • Hiperlipidemia A hiperlipidemia decorre de dois mecanismos principais: 1. A redução da albumina no sangue estimula o fígado a sintetizar lipoproteínas de baixa densidade (carreadoras de colesterol) e de muito baixa densidade (carreadoras de triglicerídeos); 2. A perda urinária da lipase lipoproteica provoca a inibição da lipólise. GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC Outras complicações relativamente comuns na síndrome nefrótica são as tromboses (devido à perda de fatores antitrombóticos) e infecções de repetição (dedivo à perda de imunoglobulinas). Obs: A principal característica é a proteinúria maciça pela alteração da BFG. Em crianças: proteinúria → > 50mg/kg/dia. A passagem de proteínas plasmáticas através da membrana basal glomerular é normalmente restrita por duas barreiras: 1. Barreira carga-seletiva: glicosaminoglicanos polianiônicos que repelem as substâncias que também possuem carga negativa; a. Proteinúria seletiva - perda apenas de albumina 2. Barreira tamanho-seletiva: poros constitucionais da membrana que restringem a passagem de proteínas de tamanhosalém de 150 kd. PRINCIPAIS PROTEÍNAS PERDIDAS NA SÍNDROME NEFRÓTICA O aumento da permeabilidade glomerular leva ao aumento da filtração de proteínas plasmáticas, que em condições normais não seriam filtradas. Isso leva ao aumento de albuminúria e, consequentemente, desnutrição. A passagem de albumina nos túbulos aumenta a reabsorção tubular de albumina filtrada e provoca, a longo prazo, uma lesão e disfunção tubular. Além disso, a perda de albumina provoca edema devido à redução da pressão oncótica nos vasos e, para compensar a perda de albumina, o fígado aumenta a síntese hepática de lipoproteínas, causando hiperlipidemia. O aumento da filtração glomerular também provoca a perda urinária de hormônios, metais e vitaminas. AVALIAÇÃO DA SÍNDROME NEFRÓTICA EM PACIENTES ADULTOS • ANAMNESE: avaliar presença de edema (discreto ou generalizado), derrames cavitários (pleural e ascite) e urina espumosa. • História familiar, drogas em uso, exposição a toxinas, sintomas de doença sistêmica (DM, lúpus, infecções). • Investigação laboratorial: o Sumário de urina (proteinúria, glicosúria, hematúria e leucocitúria); Obs: Glicosúria em pacientes não diabéticos pode indicar disfunção tubular devido à incapacidade de reabsorção da glicose. Obs: Hematúria e leucocitúria geralmente não está presente na síndrome nefrótica, mas pode aparecer se o paciente tiver uma síndrome nefrítica associada. o Proteinúria de 24 horas > 3,5g; o Albumina sérica < 3g/dL; o Perfil lipídico - dislipidemia; o Ureia e creatinina; o Investigação de eventual doença de base (secundária). • Biópsia renal - pode ser solicitada para: o Diagnóstico da patologia glomerular o Diagnóstico de SN secundária não-suspeitada (ex: amiloidose) o Determinar a severidade da doença o Fundamental para escolha do tratamento o São retirados 3 fragmentos: microscopia óptica, microscopia eletrônica e imunoflorescência. Obs: A biópsia geralmente só é feita em pacientes adultos, pois as crianças que apresentam síndrome nefrótica geralmente possuem Doença de Lesões Mínimas; caso não responda ao tratamento direcionado pode ser feita a biópsia. PRINCIPAIS LESÕES PATOLÓGICAS ASSOCIADAS COM SÍNDROME NEFRÓTICA • Doença de lesões mínimas (DLM); • Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF); • Glomerulonefrite membranosa (GNM); • Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP); • Nefropatia por IgA ou Doença de Berger. EDEMA A fisiopatologia da formação do edema na síndrome nefrótica é controversa, existindo duas teorias para explicá-la: 1. Underfill (hipovolêmico): Quando ocorre proteinúria maciça e hipoalbuminemia, essa perda provoca redução da pressão oncótica no plasma, que culmina no extravasamento de líquido para o interstício e formação de edema. Essa hipovolemia ativa o SRAA, sistema nervoso simpático e secreção de vasopressina, provocando retenção secundária de Na+ e H2O,que agrava o edema e forma um círculo vicioso. 2. Overflow (hipervolêmico): O comprometimento renal provoca grande reabsorção primária de Na+ no túbulo GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC distal. Com o sódio, há retenção de água e aumento da volemia; isso gera o aumento da pressão hidrostática intravascular e extravasamento de líquido para o interstício, provocando o edema. Obs: O edema geralmente se apresenta inicialmente de forma insidiosa, evoluindo posteriormente para edema generalizado. TRATAMENTO Geral • Dieta hipossódica e normoproteica; • Restrição hídrica devido ao edema; • Diurético de alça (acompanhar avaliando peso diário em jejum, sendo ideal que a perda seja de < 1kg/dia); • Estatinas (se hiperlipidemia); • IECA ou BRA após estabilização da IRA (controle da HAS e efeito antiproteinúrico e renoprotetor). Específico • SNO secundária (tratamento da causa) • SNO primária – drogas imunossupressoras de acordo com cada tipo histológico da biópsia o Prednisona o Azatioprina o Ciclosporina Obs: O uso da albumina é controverso, mas pode ser utilizada naqueles pacientes com dificuldade de resposta ao tratamento, ou seja, que não está perdendo peso e/ou diminuindo o edema. SÍNDROMA NEFRÍTICA É uma síndrome caracterizada pelo início súbito de hematúria, edema, hipertensão, oligúria ou mais raramente anúria e déficit de função renal (geralmente a função renal é normal). A proteinúria pode estar presente, mas geralmente é menor que 3,0 g/dia e a creatinina pode ou não estar aumentada. Ao contrário da síndrome nefrótica, o quadro se desenvolve rapidamente e está sempre associado a um aumento do volume intravascular (overflow). Há o risco de fazer encefalopatia e edema agudo de pulmão devido ao aumento da volemia. SINAIS E SINTOMAS • Edema de grau variável: de discreto a anasarca; o Geralmente o edema é pré-tibial e/ou bipalpebral. • HAS – geralmente leve; • Sinais de congestão circulatória: edema pulmonar, estase de jugular e hepatomegalia. ACHADOS LABORATORIAIS • Exame de urina o Proteinúria (grau variável) o Hematúria glomerular – dismorfismo eritrocitário e cilindros hemáticos o Leucocitúria estéril – O paciente apresenta leucocitúria porém não tem infecção associada, ou seja, a urocultura se apresenta negativa. • Déficit de função renal; • Complemento reduzido (CH50 e C3); • Exames dirigidos à investigação da etiológica: pesquisa de anticorpos antiestreptocócicos, FAN, anti-DNA, pesquisa de HIV, HCV, HBV, crioglobulinas, ANCA, hemoculturas etc. CAUSAS DA SÍNDROME NEFRÍTICA • Endocardite bacteriana • Vasculites sistêmicas • LES • GNDA pós-estreptocócica • Nefropatia por IgA GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCICA O exemplo clássico da síndrome nefrítica aguda é a glomerulonfrite difusa aguda pós-estreptocócica A infecção por uma cepa de estreptococo nefritogênico do grupo A de Lancefield pode causar glomerulopatia (10-15%), síndrome nefrítica (40%) ou um quadro subclínico (60%). O paciente apresenta histórico prévio de amigdalite, faringite ou impetigo, há cerca de 7 a 21 dias. É uma doença mediada por imunocomplexos, com ativação do complemento e depósitos de C3 e IgG na imunoflorescência. Além disso, ativa a via alternada do complemento. Ocorre a retenção aumentada de sódio, responsável pela maioria dos sintomas. O prognóstico é excelente, com uma recuperação completa em cerca de 3 a 4 semanas (mais de 95% dos pacientes). A proteinúria, que é discreta, normaliza em até 30 dias e o complemento (C3 e C4 reduzidos) normaliza em 4 ou no máximo 12 semanas (níveis de C3 reduzidos por períodos prolongados pode sugerir outras patologias). Já a hematúria microscópica pode permanecer por 1 ou 2 anos sem nenhum significado prognóstico. GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC Tratamento • Sintomático – depende da severidade dos achados iniciais; • Pode ser residencial, hospitalar e até ter necessidade de cuidados intensivos. O principal objetivo é controlar o balanço positivo de sódio e água, bem como as suas consequências. Caso não seja uma síndrome nefrítica pós-estreptocócica, fazer o tratamento da doença de base. Obs: Na síndrome nefrítica não deve ser utilizado IECA ou BRA devido ao quadro mais agudo. Além disso, a proteinúria, quando presente, é discreta. GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA É uma glomerulonefrite acompanhada da perda progressiva da função renal num prazo de poucos dias a algumas semanas. Ocorre a elevação rápida das escórias nitrogenadas, determinando uremia e necessidade de diálise. Em análise histopatológica ocorre a formação de crescentes dentro da cápsula renal, ou seja, a proliferação da membrana parietal da cápsula decorrente do estímulo de fibrina e fibronectina no espaço urinário, que ultrapassa a BFG devido à injuria renal. INVESTIGAÇÃOLABORATORIAL • EAS o Proteinúria variável o Hematúria de grande monta o Leucocitúria • Elevação de ureia e creatinina • Investigação de doença de base CAUSAS • Endocardite bacteriana • Vasculites sistêmicas • LES • GNDA pós-estreptocócica • Nefropatia por IgA • Síndrome do anticorpo anti-MBG (anti membrana basal) TRATAMENTO Pulsoterapia com metilprednisolona e ciclofosfamida (afastar quadro infeccioso). ALTERAÇÕES URINÁRIAS ASSINTOMÁTICAS Presença de hematúria e/ou proteinúria de vários graus, persistentes, com função renal normal, com hipertensão ausente ou pouco frequente. Nefropatia IgA e GESF secundária É necessário avaliar qual a causa da hematúria, ou seja, se é causa glomerular ou não-glomerular. AVALIAÇÃO LABORATORIAL Avaliar, no exame de urina, presença de: • Dismorfismo eritrocitário • Proteinúria • Cilindros hemáticos – altamente específico para hematúria de origem glomerular, porém pouco sensível. São formados no interior dos túbulos renais. LÚPUS O Lúpus é uma doença auto-imune multissistêmica crônica com desenvolvimento de focos inflamatórios em vários tecidos e órgãos do corpo. A doença apresenta períodos de exacerbações e remissões, acometendo em sua maior parte mulheres jovens e da raça negra. Possui envolvimento de fatores ambientais (como os raios UV, que faz com que o paciente desenvolva uma manifestação sistêmica da doença), fatores genéticos e fatores imunológicos. A nefrite lúpica possui um prevalência real de cerca de mais de 90%. DIAGNÓSTICO DO LES • Critérios clínicos e laboratoriais • É necessário ter 4 critérios, sendo 1 clínico e 1 imunológico. GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC NEFRITE LÚPICA A nefrite lúpica é uma glomerulonefrite secundária composta por múltiplos distúrbios imunológicos e é uma nefropatia induzida por imunocomplexos: • Hiperatividade dos linfócitos B • Formação de auto-anticorpos • Depósito glomerular de imunocomplexos • Ativação do sistema complemento Além disso, apresenta fenômenos locais decorrentes da coagulação intravascular renal. Possui uma heterogeneidade de apresentação (6 classes) e superposição de várias lesões renais, podendo ocorrer transformação de uma determinada classe em outra. As manifestações clínicas dependem da natureza e da gravidade das lesões histológicas. Obs: Para ser considerada nefrite lúpica, deve haver proteinúria persistente >500 mg/dia e/ou cilindros celulares no sedimento urinário. PADRÕES CARACTERÍSTICOS DA NEFRITE LÚPICA A nefrite lúpica apresenta 6 classes ao total, porém as classes 2, 3, 4 e 5 perfazem os quatro padrões característicos, sendo a classe 1 representativa da normalidade e a classe 6 apenas a cicatriz. • Classe 1 – normal • Classe 2 – mesangial – alteração urinária assintomática • Classe 3 – proliferativa focal – síndrome nefrítica o Grande probabilidade de evoluir para a classe 4 • Classe 4 – proliferativo difuso – síndrome nefrítica (mais grave) o Pode evoluir para a rapidamente progressiva • Classe 5 – membranoso – síndrome nefrótica com função renal normal • Classe 6 – glomerulonefrite esclerosante – DRC OUTRAS FORMAS DE ENVOLVIMENTO RENAL DO LÚPUS Nefrite intersticial Na maioria das vezes possui associação com as lesões glomerulares mais ativas e graves, mas pode ser a única manifestação da nefropatia lúpica. Vasculopatias • Depósitos vasculares imunes • Vasculopatia necrosante não-inflamatória • Microangiopatia trombótica • Arterite necrosante Essas vasculopatias podem provocar HAS no paciente. ÍNDICES DE ATIVIDADE E CRONICIDADE Atividade Cronicidade Hipercelularidade endocapilar Esclerose glomerular Infiltração de leucócitos Crescentes fibróticos Depósitos hialinos subendoteliais Atrofia tubular Necrose fibrinóide e cariorrexis Fibrose intersticial Crescentes celulares Infiltrado intersticial AVALIAÇÃO LABORATORIAL Atividade lúpica: VSH, PCR, complemento, auto-anticorpos. Atividade de nefrite lúpica: complemento total (CH50), C3, Anti- DNA. Avaliação do sedimento urinário: “flare” nefrítico – avaliar a presença de hematúria e leucocitúria repentina, que pode indicar atividade lúpica. PROGNÓSTICO E TRATAMENTO Dependem da lesão histológica, do grau do comprometimento de filtração glomerular e dos índices de atividade e cronicidade. a) Classe ll (mesangial): Não necessita de tratamento específico para nefropatia, sendo direcionado para as manifestações extra-renais, como artrite, alopecia, anemia etc. Pode ser utilizado corticóides, salicilatos, antimaláricos etc. GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC Possui um bom prognóstico, com sobrevida renal > 85% em 10 anos e apenas em 20 a 30% dos casos evolui para uma forma mais ativa. b) Classe lll e IV (proliferativas): É necessário um tratamento mais agressivo, sendo dividido em tratamento de indução e tratamento de manutenção: • Tratamento de indução: o Pulsoterapia com metilprednisolona (1g/dia - 3 dias) o 4º dia – Ciclofosfamida 0,75mg em pulsos mensais (6 meses) ▪ Pode causar infertilidade o Manter prednisona oral – 6 a 8 semanas (iniciar no próximo dia logo após a pulsoterapia com metilprednisolona) • Tratamento de manutenção: o Azatioprina ou Micofenolato de mofetil (imunossupressores) O prognóstico de sobrevida em 10 anos é de mais de 80%. c) Classe V (membranosa) Por ser uma síndrome nefrótica com função renal normal, o tratamento é conservador na maioria dos casos. Caso haja apenas uma proteinúria não nefrótica ou o paciente seja assintomático, é necessário fazer apenas a nefroproteção, ou seja, uso de IECA ou BRA para redução da proteinúria. Em casos de síndrome nefrótica não complicada: Ciclosporina (4 a 6 meses) + doses baixas de prednisona. Em casos de síndrome nefrótica muito sintomática ou creatinina em ascensão: tratar igual à classe lV. Essa classe possui um bom prognóstico, com remissão total ou parcial da proteinúria nefrótica em mais de 50% dos pacientes no prazo de 3 a 5 anos. VASCULITES As vasculites caracterizam uma glomerulopatia secundária. O rim é alvo de uma variedade de vasculites sistêmicas, especialmente aquelas que afetam os pequenos vasos, e dependendo do tipo de vaso envolvido pode originar uma larga variedade de manifestações. Em relação às vasculites necrotizantes de pequenos vasos (relacionadas ao anticorpo ANCA), é possível a apresentação de 3 tipos: • Poliangeíte microscópica • Granulomatose de Wegener • Síndrome de Churg-Strauss Essas três vasculites são classificadas como vasculites pauci- imunes, pois não possuem auto-anticorpos no rim, diferente do Lúpus, que possui depósito de imunoglobulinas e células do sistema complemento. Assim, elas se caracterizam por: • Glomerulonefrite com formação de necrose e crescente; • Ausência de depósitos de imunocomplexos na imunoflorescência; • Presença de ANCA (anticorpo anti-citoplasma neutrofílico), sendo os mais frequentes o PR3 e o MPO (antígenos presentes nos neutrófilos que são atacados por esses anticorpos). Quando os neutrófilos são atacados, provocam um sistema inflamatório na parede do vaso, causando as vasculites. Diferente do Lúpus, são mais frequentes em faixas etárias mais elevadas e no sexo masculino. Além disso, possui maior incidência nos caucasianos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Envolvimento renal: hematúria, proteinúria, IRA. Manifestação de inflamação sistêmica: febre, mal estar, perda de peso, anorexia, mialgia e artralgia. Manifestações cutâneas: púrpura, lesões cutâneas nodulares. Manifestações respiratórias: hemorragia pulmonar, estenose subglótica, sunusite, rinite. Manifestações cardíacas: miocardite, pericardite, endocardite, hipocinesia ventricular. Neuropatia diabética: acometevasos que irrigam os nervos. Manifestações abdominais: dor abdominal, enterorragia. Obs: Existe uma formada dessa vasculite que acomete apenas os rins, chamada de vasculite limitada ao rim. Geralmente possui início com sintomas inespecíficos, com febre, anorexia, emagrecimento e astenia. O quadro renal pode ser manifestado como uma síndrome nefrítica e que evolui para uma glomerulonefrite rapidamente progressiva (FORMA MAIS COMUM), podendo apresentar hematúria, proteinúria e insuficiência renal. GLOMERULOPATIAS (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC TRATAMENTO Por ser uma glomerulonefrite crescêntica, possui o tratamento semelhante à nefrite lúpica classe IV: • Tratamento de indução: o Pulsoterapia com metilprednisolona (1g/dia - 3 dias) o 4º dia – Ciclofosfamida 0,75mg em pulsos mensais (6 meses) ▪ Pode causar infertilidade o Manter prednisona oral – 6 a 8 semanas (iniciar no próximo dia logo após a pulsoterapia com metilprednisolona) • Tratamento de manutenção: o Azatioprina ou Micofenolato de mofetil (imunossupressores) Obs: Caso o paciente não responda ao tratamento de escolha, pode ser utilizado a plasmaferese como um tratamento alternativo. E, ainda, em último caso, pode-se tentar a Gama globulina IV.
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