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CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 1 A história de tudo : de onde viemos? O sangue é um tecido conjuntivo de consistência fluida, composto por uma porção líquida denominada plasma e por células, as quais contém membranas formadas por substâncias como fosfolipídios e proteínas. Tais substâncias são representadas em menor escala por moléculas, e estas, consistem na agregação entre átomos unidos por ligações químicas. Os átomos, por sua vez correspondem de forma trivial, à menor porção da matéria. Nesse momento, ao ler esse texto, você está convertendo energia luminosa, absorvida por pigmentos visuais, em energia elétrica presente nas sinapses nervosas, ativando áreas de seu cérebro para captar informações em suas estruturas mentais. Para isso, precisa converter também, a energia química que obtém das quebras de ligações entre átomos constituintes das moléculas de nutrientes dos alimentos ingeridos e, com isso, refletir sobre o que vê, o que lê ou que percebe do ambiente ao seu redor. Utilize tal capacidade para refletir, nesse momento, a respeito de duas questões: Como surgiu o universo? Como pôde ler acima, tudo o que é caracterizado como matéria, possui átomos, sendo que em alguns pontos do universo existe o vácuo, ou seja, locais com quase nenhum tipo de matéria. Portanto, o universo contém zonas com grandes quantidades de matéria e outras com menor quantidade. Mas, como surgiu o universo? A ciência explica o surgimento do universo através da Teoria do Big Bang, na qual, há aproximadamente 13 bilhões de anos, toda a matéria existente encontrava-se acumulada em uma esfera densa e quente composta por hidrogênio e hélio. A esfera altamente instável teria explodido e lançado matéria em várias direções, acomodando-se e aglomerando-se formando as galáxias que compõem o universo. De onde viemos? As pessoas têm refletido sempre sobre o enigma da existência. Na verdade, todas as culturas conhecidas, passadas, presentes, primitivas e sofisticadas, têm algum tipo de mito da criação que apresenta razões para explicar como a vida surgiu. Somente na era moderna, contudo, tem sido possível estudar a origem da vida sob uma ótica científica, isto é, de uma forma sujeita à verificação experimental. Um dos primeiros a fazer isso foi Charles Darwin, o criador da teoria da evolução por seleção natural. Em 1871, ele escreveu em uma carta ao colega Joseph Hooker: ―Diz-se com frequência que todas as condições para a primeira produção de um organismo vivo estão agora presentes, as quais poderiam estar presentes desde sempre. Mas se (e, oh, que grande se!) pudéssemos imaginar que, em alguma pequena e quente lagoa, na presença de todos os tipos de amônia e sais fosfóricos, luz, calor, eletricidade, etc., um composto protéico tenha formado-se quimicamente, pronto para ser submetido a mudanças ainda mais complexas, atualmente tal substância seria devorada ou absorvida instantaneamente, o que não ocorreria antes da formação das criaturas vivas.‖ Francis Darwin, A vida e as cartas de Charles Darwin, Nova York: D. Appleton, 1887, p. 202. Estudos de datação radioativa indicam que a Terra se formou há 4,6 bilhões de anos, mas, devido aos impactos de numerosos objetos grandes, sua superfície permaneceu, por várias centenas de milhões de anos, quente demais para permitir a vida. As evidências fósseis mais primitivas de vida gerada por organismos semelhantes às bactérias modernas têm 3,5 bilhões de anos. No entanto, as rochas sedimentares mais antigas conhecidas na Terra, com 3,8 bilhões de anos, foram sujeitas a forças metamórficas tão extremas (500°C e 5.000 atm) que quaisquer microfósseis que contivessem teriam sido destruídos. Não obstante, a análise geoquímica indica (embora com controvérsia) que essas rochas contêm inclusões carbonadas que parecem ser de origem biológica e, portanto, teria existido vida na época em que essas rochas sedimentares se depositaram. Se for assim, a vida na Terra deve ter surgido dentro de um intervalo de tempo tão curto quanto cem milhões de anos, há 4 bilhões de anos atrás. Uma vez que a era pré-biótica não deixou registro direto, não temos esperança de determinar com exatidão como a vida surgiu. No entanto, por meio de experimentação em laboratório podemos, pelo menos, demonstrar que tipo de reações químicas abióticas podem ter levado à formação dos sistemas vivos. Além disso, não estamos totalmente desprovidos de indícios de desenvolvimento pré-biótico. A bioquímica e genética básica dos organismos modernos sugere que a vida tal como a conhecemos surgiu somente uma vez (se surgiu mais de uma vez, as outras formas devem ter se extinguido rapidamente, possivelmente por terem sido ―comidas‖ pelas formas atuais). Assim, pela comparação de mensagens genéticas correspondentes de uma grande variedade de organismos atuais é possível deduzir modelos razoáveis das mensagens primitivas a partir das quais eles se originaram. Mas quando e como as primeiras células vivas apareceram? Darwin e Hooker. Fonte: www.darwinproject.ac.uk CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 2 Hipótese da Evolução química Observações e experimentos em química, geologia e física levaram cientistas a propor hipóteses de que processos químicos e físicos poderiam produzir células simples por meio de uma sequência de quatro estágios principais: 1. A síntese abiótica (não viva) de pequenas moléculas orgânicas, como aminoácidos e as bases nitrogenadas. 2. A união dessas pequenas moléculas em macromoléculas, como as proteínas e os ácidos nucleicos. 3. A organização dessas moléculas em ―protobiontes‖, pequenas gotas com membranas que mantinham a química interna diferente daquela do meio externo circundante. 4. A origem de moléculas que se autorreplicam, o que veio a tornar a herdabilidade possível. Embora especulativo, esse cenário leva a hipóteses que podem ser testadas em laboratório. 1. A síntese abiótica (não viva) de pequenas moléculas orgânicas, como aminoácidos e as bases nitrogenadas. Na década de 1920, Aleksandr Oparin e J.B.S. Haldane sugeriram, independentemente, que a radiação ultravioleta do sol (que atualmente é absorvida em grande parte pela camada de ozônio (O3) nas camadas altas da atmosfera) ou a descarga elétrica induziram as moléculas da atmosfera redutora primitiva a reagir e formar compostos orgânicos simples, como os aminoácidos, as bases dos ácidos nucleicos e os carboidratos simples. Haldane sugeriu que os oceanos primitivos eram uma solução de moléculas orgânicas, uma ―sopa primitiva‖ da qual a vida surgiu. Em 1953, Stanley Miller e Harold Urey, da Universidade de Chicago, testaram a hipótese de Oparin-Haldane ao criar em laboratório condições comparáveis àquelas que cientistas da época pensaram existir na Terra primitiva. Aleksadr Oparin J. B. S. Haldane Stanley Miller Harold Urey CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 3 Miller submeteu uma mistura de gases supostamente existentes na terra prebiótica, incluindo NH3, CH4, H2O e H2, a uma descarga elétrica produzida por um par de eletrodos (para simular relâmpagos e raios) por um período de uma semana ou mais e então analisou o conteúdo do frasco da reação fechada. A fase gasosa da mistura continha CO e CO2, além dos gases de partida. A fase líquida continha uma grande variedade de compostos orgânicos, incluindo alguns aminoácidos, ácidos orgânicos, aldeídos e ácido cianídrico (HCN). Esse experimento mostrou a possibilidade da produção abiótica de biomoléculas em um tempo relativamente curto e em condições relativamente brandas. Quando as amostras de Miller cuidadosamente guardadas foram redescobertasem 2010 e examinadas com muito mais sensibilidade e técnicas com alto poder de resolução, suas observações originais foram confirmadas e ampliadas significativamente. Resultados previamente não publicados por Miller e que incluíram H2S na mistura gasosa (imitando as condições das atividades vulcânicas no fundo do mar; mostraram a formação de 23 aminoácidos e 7 compostos organossulfurados, bem como um grande número de outros compostos simples que podem ter servido como blocos de construção da evolução prebiótica. Tabela 1 Produtos gerados pela descarga elétrica sobre uma mistura de CH4, NH3, H2O e H2 Experimentos de laboratório mais refinados forneceram boas evidências de que muitos dos componentes químicos das células vivas, incluindo polipeptídeos e moléculas parecidas com o RNA, podem se formar sob essas condições. Polímeros de RNA podem atuar como catalisadores em reações biologicamente importantes e esse ácido nucleico provavelmente exerceu um papel crucial na evolução prebiótica, tanto como catalisador como repositório de informações. Outra hipótese sugerida é que os compostos orgânicos eram produzidos inicialmente nas águas oceânicas profundas por fendas hidrotérmicas, fendas do solo oceânico por onde passam a água quente e os minerais vindos do interior da Terra. Algumas dessas fendas, conhecidas como ―fumarolas negras‖ ou ―chaminés negras‖, liberam água tão quente (300- 400°C) que os compostos orgânicos ali formados poderiam ser instáveis. Entretanto, outras fendas oceânicas, denominadas fendas alcalinas, liberam água com altíssimo pH (9-11) e morna (40-90°C) ambiente bem mais adequado para a origem da vida na Terra. a Aminoácido constituinte de proteínas. Fonte: Miller, S.J., & Orgel, L.E., The Origins of Life on Earth, p. 85, Prentice-Hall (1974). CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 4 2. A união dessas pequenas moléculas em macromoléculas, como as proteínas e os ácidos nucleicos. A presença de pequenas moléculas orgânicas, como os aminoácidos e as bases nitrogenadas, não é suficiente para o surgimento da vida como nós a conhecemos. Cada célula possui um vasto sortimento de macromoléculas, incluindo enzimas e outras proteínas e os ácidos nucleicos essenciais para a autorreplicação. Essas moléculas poderiam ter se formado na Terra primitiva? Um estudo realizado em 2009 demonstrou que uma etapa fundamental, a síntese abiótica de monômeros de RNA, pode ocorrer espontaneamente a partir de moléculas precursoras simples. Além disso, ao pingar soluções de aminoácidos ou nucleotídeos de RNA na areia quente, argila ou rocha, pesquisadores conseguiram produzir essas moléculas. Os polímeros se formaram espontaneamente, sem o auxílio de enzimas ou ribossomos. Diferente das proteínas, os polímeros de aminoácidos são uma mistura complexa de aminoácidos ligados e cruzados. No entanto, é possível que esses polímeros talvez tenham atuado como catalisadores fracos para várias reações ocorridas na Terra primitiva. 3. A organização dessas moléculas em “protobiontes”, pequenas gotas com membranas que mantinham a química interna diferente daquela do meio externo circundante. Todos os organismos devem ser capazes de reproduzir e processar energia (metabolizar). As moléculas de DNA carregam a informação genética, incluindo as instruções necessárias para se replicar corretamente. No entanto, a replicação de DNA requer maquinaria enzimática elaborada, junto com um enorme suprimento de nucleotídeos a serem disponibilizados pelo metabolismo celular. Isso sugere que as unidades que formam as moléculas de autorreplicação e do metabolismo podem ter surgido juntas nos protobiontes. As condições necessárias podem ter sido encontradas nas vesículas, compartimentos preenchidos com líquidos e circundado por uma estrutura semelhante a uma membrana. Experimentos recentes mostraram que as vesículas produzidas abioticamente podem exibir algumas propriedades da vida, incluindo reprodução simples e metabolismo, bem como a manutenção de um ambiente químico interno diferente daquele do meio externo. Por exemplo, vesículas podem formar-se espontaneamente quando lipídeos ou outras moléculas orgânicas são adicionados à água. Quando isso acontece, as moléculas hidrofóbicas na mistura se organizam em uma parede dupla na superfície da gota, muito parecida com a camada dupla de lipídeos da membrana plasmática. A adição de substâncias como a montmorillonita, argila mineral macia produzida pelo encharcamento das cinzas vulcânicas, aumenta a taxa de autoformação das vesículas. Essa argila, comum na Terra primitiva, aumenta a probabilidade de reação entre as moléculas para a formação das vesículas, pois proporciona uma superfície na qual as moléculas orgânicas tornam-se concentradas. As vesículas abioticamente produzidas podem se reproduzir por si só e aumentar de tamanho (―crescer‖) sem diluir de seu conteúdo. O primeiro composto orgânico e também a primeira célula podem ter surgido em fendas alcalinas quentes similares a esta, de 40.000 anos de idade, da ―Cidade Perdida‖ localizada no meio do oceano Atlântico. Essas fendas contêm hidrocarbonetos e são repletas de pequenos poros (detalhe) revestidos de ferro e outros minerais catalíticos. Os oceanos primitivos eram acídicos e, assim, um gradiente de pH pode ter se formado entre o interior das fendas e as águas oceânicas circundantes. A energia para a síntese de compostos orgânicos pode ter sido aproveitada desse gradiente de pH. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 5 As vesículas também podem absorver as partículas de montmorillonita, incluindo aquelas nas quais o RNA e outras moléculas orgânicas se ligaram. Por fim, experimentos mostraram que algumas vesículas têm uma bicamada com permeabilidade seletiva e podem realizar reações metabólicas usando uma fonte externa de reagentes, outro importante pré-requisito para a vida. 4. A origem de moléculas que se autorreplicam, o que veio a tornar a herdabilidade possível. Nos organismos modernos, ácidos nucleicos codificam a informação genética que especifica a estrutura das enzimas, e as enzimas catalisam a replicação e o reparo dos ácidos nucleicos. A dependência mútua dessas duas classes de biomoléculas traz a intrigante pergunta: quem veio primeiro, DNA ou proteína? A resposta pode ser que ambos surgiram aproximadamente ao mesmo tempo e que o RNA precedeu ambos. A descoberta de que moléculas de RNA podem atuar como catalisadoras da sua própria formação sugere que o RNA, ou uma molécula similar, pode ter sido o primeiro gene e o primeiro catalisador. De acordo com esse cenário, um dos primeiros estágios da evolução biológica foi a formação por acaso de uma molécula de RNA que pôde catalisar a formação de outra molécula de RNA com a mesma sequência – uma autorreplicação, um RNA autoperpetuante. A concentração de uma molécula de RNA autorreplicante cresceria exponencialmente, visto que uma molécula formou várias, várias formaram muitas mais, e assim por diante. A fidelidade da autorreplicação presumivelmente não era perfeita, de modo que o processo gerou variantes do RNA, muitos dos quais podendo ser melhores para a autorreplicação. Na competição por nucleotídeos, a mais eficiente entre as sequências autorreplicantes ganharia e os replicadores menos eficientes se extinguiriam da população. Autoformação A presença de argila de montmorillonita aumenta muito a taxa de autoformação das vesículas. Reprodução As vesículas podem dividir-se por si só, como visto nesta vesícula, dando origem a pequenas vesículas (MO). Absorção de RNA Esta vesícula incorporou argila de montmorillonita revestida com RNA (emcor de laranja). CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 6 De onde veio a energia para o funcionamento das primeiras células vivas? As estruturas protobiontes foram denominadas, durante muitos anos, de ―coacervatos‖, os quais apresentavam-se numerosos na ―sopa primitiva‖. Alguns pesquisadores defendem que a energia proveniente de descargas elétricas, comuns na Terra primitiva, teriam impulsionado, por geração espontânea, o surgimento das primeiras células vivas. Mas como tais células obteriam a energia necessária para suas atividades? A comunidade científica se dividiu por muito tempo entre duas hipóteses: autotrófica e heterotrófica. Hipótese heterotrófica De acordo com a hipótese heterotrófica, as primeiras células vivas teriam se alimentado das estruturas protobiontes presentes em seu entorno, consistindo então, em células heterotróficas fermentadoras, uma vez que ainda não existia o gás oxigênio na Terra e a respiração celular, mesmo anaeróbica, demandaria uma aparato enzimático complexo. Com a ocorrência de fermentação, muito CO2 seria desprendido na água e na atmosfera e, mediante ocorrência de mutações favorecidas pela intensa radiação presente, algumas células, ao longo de anos teriam sofrido seleção natural e se adaptado a utilizar o CO2 na construção de moléculas orgânicas, as quais lhes serviam de alimento – surgiam assim, as primeiras células fotossintéticas, fomentando a liberação do gás oxigênio na atmosfera, tornando-a oxidante. Novas Possivel roteiro para o “mundo do RNA”. Um catalisador primitivo para a vida Esta reconstrução de laboratório demonstra que a ribozima (uma molécula de RNA dobrada) pode catalisar a polimerização de diversas cadeias de RNA curtas em uma molécula maior. Tal processo poderia ser um precursor para copiar ácidos nucleicos, essencial para sua duplicação e expressão. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 7 mutações teriam ocorrido e dado origem a seleções e adaptações no sentido de utilização do O2 para a oxidação de substratos orgânicos, surgindo assim os primeiros organismos aeróbicos. Hipótese autotrófica Comungando com a hipótese autotrófica, pesquisadores advogam que as células primitivas surgiram em uma atmosfera redutora (não existia oxigênio) e provavelmente obtiveram energia de compostos inorgânicos, como sulfeto ferroso e carbonato ferroso, ambos abundantes na superfície terrestre. Por exemplo, a reação FeS + H2S → FeS2 + H2 produz energia suficiente para promover a síntese de ATP ou compostos semelhantes. Os compostos orgânicos de que essas células primitivas precisavam podem ter surgido das ações não biológicas de raios e relâmpagos, do calor dos vulcões ou do calor de fontes termais no leito do oceano sobre os componentes da atmosfera primitiva, como CO, CO2, N2, NH3, CH4 e outros. Uma fonte alternativa de compostos orgânicos tem sido proposta: o espaço extraterrestre. Em 2006, a missão espacial Stardust (poeira estelar) trouxe finas partículas de poeira da cauda de um cometa; a poeira continha uma variedade de compostos orgânicos, inclusive o aminoácido simples glicina. Os organismos unicelulares primitivos adquiriram gradualmente a capacidade de extrair energia de compostos do seu meio e de usar esta energia para sintetizar a maioria de suas moléculas precursoras, tornando-se, portanto, menos dependentes de fontes externas. Um evento evolutivo muito significante foi o desenvolvimento de pigmentos capazes de capturar a energia da luz do sol, que pode ser usada para reduzir, ou ―fixar‖, CO2 para formar compostos orgânicos mais complexos. O doador original de elétrons para estes processos fotossintéticos foi provavelmente o H2S, produzindo enxofre elementar ou sulfato como subproduto; mais tarde, as células desenvolveram a capacidade enzimática de usar H2O como doador de elétrons nas reações fotossintéticas, produzindo O2 como resíduo. As cianobactérias são os descendentes modernos desses primeiros produtores de oxigênio fotossintético. Pelo fato de a atmosfera da Terra nos estágios iniciais da evolução biológica estar praticamente desprovida de oxigênio, as primeiras células eram anaeróbias. Sob tais condições, organismos quimiotróficos podiam oxidar compostos orgânicos em CO2 passando elétrons não para o O2, mas para aceptores que produzem H2S como produto. Com o surgimento de bactérias fotossintéticas produtoras de O2, a atmosfera se tornou progressivamente rica em oxigênio – oxidante poderoso e tóxico para organismos anaeróbios. Respondendo à pressão evolutiva ao que Lynn Margulis e Dorion Sagan chamaram de ―holocausto do oxigênio‖, algumas linhagens de microrganismos levaram ao surgimento de organismos aeróbios que obtêm energia passando elétrons das moléculas de combustível ao oxigênio. Devido ao fato de a transferência de elétrons de moléculas orgânicas ao O2 liberar uma grande quantidade de energia, os organismos aeróbios tiveram uma vantagem energética sobre seus equivalentes anaeróbios quando ambos competiam no ambiente contendo oxigênio. Essa vantagem se traduziu na predominância de organismos aeróbios em ambientes ricos em O2. As bactérias e as arqueias modernas habitam praticamente todos os nichos ecológicos da biosfera, e existem organismos capazes de usar praticamente qualquer tipo de composto orgânico como fonte de carbono e energia. Microrganismos fotossintéticos, tanto em água salgada como em água doce, captam energia solar e a utilizam para gerar carboidratos e todos os outros constituintes da célula, que por sua vez são usados como alimento pelas outras formas de vida. Como as células se tornaram tão diversificadas? A partir de 1,5 bilhão de anos atrás, os registros fósseis começaram a mostrar evidências de organismos maiores e mais complexos, provavelmente as primeiras células eucarióticas. Detalhes do caminho evolutivo de células não nucleadas para células nucleadas não podem ser deduzidos somente pelo registro fóssil, mas as semelhanças bioquímicas e morfológicas dos organismos modernos sugerem uma sequência de eventos consistente com a evidência fóssil. Três mudanças principais devem ter ocorrido. Marcos da evolução da vida na Terra. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 8 Primeiro, à medida que as células adquiriram mais DNA, os mecanismos necessários para o enrolamento compacto em torno de proteínas específicas formando complexos separados, mantendo a capacidade de promover a divisão correta entre as células-filhas, tornaram-se mais elaborados. Proteínas especializadas foram necessárias para estabilizar o DNA enrolado e para separar os complexos DNA-proteína resultantes (cromossomos) durante a divisão celular. Segundo, à medida que as células se tornaram maiores, um sistema de membranas intracelular se desenvolveu, incluindo uma dupla membrana envolvendo o DNA. Essa membrana segregou o processo nuclear de síntese de RNA a partir do molde de DNA do processo citoplasmático de síntese de proteínas nos ribossomos. Recentemente dois cientistas propuseram um novo modelo para explicar a origem das células eucarióticas (acredite, ainda não sabemos definitivamente como surgiram as células eucarióticas!). Esse modelo, chamado de ―inside-out‖ (de dentro para fora; mostrado na figura), contrasta com modelos mais conhecidos, chamados de ―outside-in‖ (de fora para dentro), que supõem que a célula eucariótica teria se originado a partir de eventos de fagocitose e endossimbiose de outros organismos. A figura abaixo traz uma representação esquemática da nova hipótese. No modelo ―inside-out‖ protuberâncias da membrana de uma célula hospedeira (provavelmente Archaea) extravasamda parede celular (I) e assim aprisionam bactérias que estão em sua superfície (II). A seguir, as protuberâncias se fundem (III) e dão origem à membrana nuclear, à membrana plasmática e ao citoplasma. A membrana plasmática se torna contínua e isola o retículo endoplasmático do exterior. O núcleo corresponde aos limites da célula ancestral. (Reproduzido com modificações de Baum, DA e Baum B. 2014. BMC Biology 12: 76). Mas tais modelos não explicam a origem de todas as organelas existentes. É o caso de mitocôndrias e plastos. De acordo com a hipótese agora amplamente aceita (mas que teve muita resistência no início) adiantada por Lynn Margulis, as primeiras células eucarióticas, que eram incapazes de realizar fotossíntese ou metabolismo aeróbio, englobaram bactérias aeróbias e bactérias fotossintéticas, formando associações endossimbióticas que finalmente se tornaram permanentes. Algumas bactérias aeróbias evoluíram para as mitocôndrias dos eucariotos modernos, e algumas cianobactérias fotossintéticas se tornaram os plastídeos, como os cloroplastos das algas verdes, os prováveis ancestrais das células das plantas modernas. Lynn Margulis, 1938-2011 Evolução dos eucariotos por endossimbiose O eucarioto primitivo, um anaeróbio, adquiriu uma bactéria púrpura endossimbiótica, que levou consigo a capacidade de fazer o catabolismo aeróbio e se tornou, com o tempo, a mitocôndria. Quando a cianobactéria fotossintética (em verde) se tornou endossimbionte de alguns eucariotos aeróbios, então essas células se tornaram os precursores fotossintéticos das modernas plantas e das algas verdes. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 9 O processo de evolução continua – e inclusive pode ser observado em laboratório com células bacterianas que se reproduzem muito rapidamente. Uma linha interessante de pesquisa para estudar os mecanismos evolucionários consiste em tentar produzir bactérias sintéticas no laboratório (no qual o experimentador providencia cada componente purificado por conhecimento prévio). O primeiro passo nessa direção consiste em determinar o número mínimo de genes necessários para a vida examinando o genoma da bactéria mais simples. O menor genoma conhecido de uma bactéria de vida livre é de Mycobacterium genitalium, que contém 580.000 pares de bases codificando 483 genes. Em 2010, cientistas do Instituto Craig Venter conseguiram sintetizar in vitro o cromossomo da bactéria, e então incorporaram o cromossomo sintético em uma bactéria viva de outra espécie, que por sua vez adquiriu as propriedades de Mycobacterium genitalium. Essa tecnologia abre caminho para a produção de uma grande variedade de células sintéticas, com o mínimo básico de genes essenciais para a vida. Com uma célula dessas, pode-se esperar o estudo em laboratório do processo evolucionário pelo qual as protocélulas gradualmente se diversificaram e se tornaram mais complexas. A origem da multicelularidade Uma orquestra pode tocar uma variedade maior de composições musicais do que um solista de violino; o aumento da complexidade da orquestra possibilita mais variações. Do mesmo modo, o aparecimento de células eucarióticas estruturalmente complexas desencadeou a evolução de uma diversidade morfológica maior do que era possível ocorrer em células procarióticas mais simples. Após o aparecimento dos primeiros eucariotos, uma grande quantidade de formas unicelulares evoluiu dando origem à diversidade de eucariotos unicelulares que continua a prosperar nos dias de hoje. Outra onda de diversificação também ocorreu: alguns eucariotos unicelulares deram origem a formas multicelulares, cujos descendentes incluem uma variedade de algas, plantas, fungos e animais. Estamos sozinhos no universo? Hipótese Cosmozoica ou Panspermia Cósmica A ficção científica há algum tempo explora a possibilidade de existência de vida em outro planeta. Se considerarmos a dimensão do universo, a quantidade de galáxias existentes e a hipótese de existirem condições como água líquida e temperaturas compatíveis, tal conjectura não aoarenta ser tão remota. Panspermia é definida como a hipótese que discute a possibilidade de que a vida, seja ela microbiana ou não, seja distribuída pelo Universo, de forma natural ou artificial, através de fragmentos/corpos de origem planetária ou lunar. Essa hipótese ancora-se nas evidências de ejeção de material de superfícies planetárias, na evolução da dinâmica orbital destes fragmentos e na sobrevivência à chegada a outro corpo celeste. Tipos de Panspermia Panspermia balística Transferência de matéria-prima para a formação de vida através de meteoritos e cometas no sistema solar. Litopanspermia Transferência de matéria-prima para a formação de vida através de meteoritos e cometas no sistema interestelar. Panspermia dirigida Sugere que a vida possa ser espalhada propositalmente por uma civilização extraterrestre avançada ou da Terra para outros planetas pelos humanos via procedimentos tecnológicos. Considerações acerca da Transferência de Material Biológico Ao se transferir material biológico no espaço, deve-se considerar: CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 10 O processo de escape, isto é, a remoção para o espaço de material biológico lançado da superfície para altas altitudes e a compreensão das consequências para um organismo vivo decorrentes da ejeção de material da superfície de um planeta/lua. O período de tempo em que este material passa no espaço, ou seja, a sobrevivência da matéria biológica por períodos de tempo compatíveis com uma viagem interplanetária/interestelar, sendo submetida à ação do vácuo e da radiação (UV, Raios-X, elétrons e íons rápidos). O processo de reentrada, que é a deposição não destrutiva do material biológico em outro planeta/lua, considerando o possível aquecimento do asteroide pelo atrito com o ar e o choque mecânico deste corpo contra o solo. Em 7 de agosto de 1996, cientistas da NASA anunciaram que haviam identificado estruturas que se pareciam com bactérias fósseis microscópicas no meteorito marciano ALH84001, encontrado em Allan Hills, na Antártida. Embora os cientistas discordem sobre o significado do meteorito de Allan Hills, a questão permanece: existia vida em Marte? Quando cometas e asteróides atingem planetas, eles podem desalojar fragmentos de rocha que são catapultados para o espaço e - como o meteorito de Allan Hills - às vezes pousam em outros planetas. Isso causou muita especulação. Poderiam as primeiras formas de vida ter surgido não na Terra, mas em Marte, ou talvez em outro planeta distante? Se assim for, meteoritos poderiam ter transportado a vida para a Terra? A teoria da litopanspermia (do grego: lithos = rocha, pan = todo, sperma = semente) foi proposta em 1903 pelo cientista sueco Svante Arrhenius. Embora a ideia não seja amplamente aceita, há algumas evidências para apoiá-la: Meteorito Allan Hills 84001 vindo de Marte Meteorito Lunar QUE 94281 Meteorito Allan Hills 84001 CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 11 A existência de meteoritos lunares e marcianos na Terra; A presença de material orgânico e (possivelmente) fósseis microbianos no meteorito de Allan Hills; O fato de que grandes cometas ou asteroides atingindo um planeta lançam pedaços de rocha com velocidade suficiente para superar a gravidade e deixar o planeta (como meteoróides); A capacidade dos esporos bacterianos de sobreviver às ondas de choque causadas por tal impacto; Resistência aos raios UV dos microrganismos às baixas temperaturas encontradas no espaço; A sobrevivência por milhões deanos, em âmbar ou sal, de esporos bacterianos; A sobrevivência de esporos bacterianos no espaço por até seis anos; A evidência paleoquímica dos antigos ecossistemas microbianos na Terra, deixando apenas cerca de 400 milhões de anos para a evolução de simples moléculas precursoras para a vida celular. Em 2008, Cornelia Meyer, Ralf Moeller e Jean-Pierre de Vera, como parte de suas teses de doutorado, investigaram a viabilidade do primeiro passo da Litopanspermia: a fase de ejeção, na qual o material vivo é lançado ao espaço por um impacto de meteorito. Para simular o evento, eles pegaram duas fatias de rocha que se pensava serem semelhantes às rochas de Marte, colocaram uma camada de microrganismos entre elas, puseram esse ―sanduíche‖ em um cilindro de ferro e o fundiram com TNT. Eles tiveram boas razões para usar microrganismos neste experimento. Na Terra, se sabe que os micróbios sobrevivem em ambientes extremamente hostis, por isso eram mais propensos a suportar o experimento. Além disso, como organismos simples, eles podem ser semelhantes às primeiras formas de vida em Marte. Os microrganismos escolhidos para o experimento foram esporos bacterianos, cianobactérias e líquens que vivem dentro ou nas rochas, e são conhecidos por sobreviverem a condições espaciais simuladas. Os pesquisadores também escolheram as rochas com cuidado. Para descobrir se um meteorito se origina de Marte, sua composição é comparada com a de rochas estudadas na superfície de Marte. Os meteoritos marcianos mais frequentes encontrados na Terra são conhecidos como Shergottites basálticos e são formados por atividade vulcânica. Para o experimento, portanto, foram usados basalto, o qual é prontamente disponível na Terra e semelhante à rocha marciana. Em experiências repetidas, as explosões de TNT expuseram os microrganismos a pressões entre 50 000 e 500 000 bar. Estas são similares às pressões que seriam geradas pelos impactos de meteoritos em Marte, causando crateras de mais de 75 km de diâmetro e lançando rochas marcianas no espaço. A compressão da explosão também expôs os microrganismos a temperaturas de até 1000 °C. Embora se espere que tais condições destruam toda a vida, a 400 000 bar (400 000 vezes a pressão atmosférica normal), 0,02% dos microrganismos sobreviveram. Hoje, as temperaturas em Marte variam de -143 °C nos pólos até +27 °C no equador. Embora o início de Marte tivesse sido mais quente do que é hoje, teria esfriado mais rápido que a Terra porque perdeu sua atmosfera. Isto significa que na época da proposta de transferência de vida de Marte para a Terra (até 20 milhões de anos atrás), Marte já teria atingido as baixas temperaturas que existem hoje. Portanto, em um segundo experimento para melhor refletir as condições em Marte, foi usado gelo seco (dióxido de carbono sólido) para resfriar o aparelho a -80 °C antes de explodí-lo, e se descobriu que alguns dos microrganismos sobreviveram mesmo a 500.000 bar. No experimento anterior, não resfriado, nenhum deles havia sobrevivido àquela pressão. Durante os experimentos, os microrganismos foram expostos a altas temperaturas e pressões apenas por alguns microssegundos, como ocorreria com um impacto real de meteoritos em Marte. Isso pode ter sido a chave para sua sobrevivência. Assim, a primeira parte da teoria da litopanspermia parece ser plausível: organismos sobre rochas poderiam sobreviver ao lançamento no espaço. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 12 Teorias Clássicas sobre a Origem da Vida Tradicionalmente a religião e a espiritualidade sempre procuraram explicar porque estamos aqui. A ideia de que tudo o que existe é feito de um material fundamental remonta a Antiguidade, com o filósofo Aristóteles, no séc. IV a.C e sua concepção acerca de tudo o que existe seria formado por quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Uma vez que tal matéria fosse viva, o seria por causa de um sexto elemento denominado de ―quintessência‖. A teoria da Geração Espontânea ou Abiogênese Aristóteles acreditava que o calor do sol, um dos elementos fundamentais da matéria, seria capaz de originar vida espontaneamente, a partir de materiais não-viventes. Muitos filósofos acreditavam que a vida se originava através de geração espontânea, a ideia de que seres poderiam, de algum jeito, emergir da matéria inanimada. Assim, crocodilos viriam de troncos apodrecidos e as abelhas viriam das carcaças touros. Hoje, isso tudo parece loucura aos nossos ouvidos mas, foi uma ideia que durou um tempo surpreendentemente longo. Durante a Renascença (período de 1450 a 1700, que marcou o nascimento da ciência moderna), a maioria das pessoas pensava que ao menos algumas formas de vida surgiram repetidamente e diretamente de matéria inanimada, ou em decomposição, por geração espontânea. Essa Teoria provaria ser um obstáculo persistente para o avanço da biologia e não era considerada apenas uma louca concepção alternativa, uma vez que famosos cientistas a abraçaram. Um grande exemplo é o Aristocrata Belga do século XVI, Jean Baptiste van Helmont, o qual queria provar que ratos surgiam espontaneamente de suor e grãos de trigo. Em sua obra Opera Omnia, escreveu: ―Se uma camisa suja for inserida na boca de um recipiente onde há trigo, dentro de aproximadamente 21 dias, um fermento extraído da camisa e modificado pelo odor do grão, transmutar-se-á em um rato.‖ O experimento foi repetido várias vezes por outros cientistas e nenhum rato foi criado seguindo tal protocolo. Alguns cientistas, como o físico e poeta italiano Francesco Redi, entretanto, duvidaram dessas propostas. Redi afirmou que as moscas surgiam não por uma misteriosa transformação de carne em decomposição, mas de outras moscas e de ovos postos sobre a carne. Em 1668, Redi realizou um experimento científico, conceito relativamente novo naquele tempo, para testar sua hipótese. Ele dispôs diversos frascos contendo pedaços de carne. Um frasco continha carne exposta ao ar e às moscas. Um segundo frasco continha carne em um recipiente coberto com um fino tecido de forma que a carne era exposta ao ar, mas não às moscas. A carne no terceiro frasco estava em um recipiente vedado e, dessa forma, não estava exposta ao ar ou às moscas. Redi encontrou larvas, que então se transformaram em moscas, somente no primeiro frasco. O achado demonstrou que as larvas poderiam ocorrer apenas onde as moscas estavam presentes. A ideia de que um organismo complexo como uma mosca poderia aparecer de novo, a partir de uma substância não viva na carne ou a partir de "alguma coisa" no ar foi deixada de lado. Jean Baptist van Helmont (1580-1644) Opera Omnia Francesco Redi (1626-1697) Experimento de Redi 1668 CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 13 Com o advento do microscópio de Leeuwenhook em 1660, um vasto novo mundo biológico foi desvendado. Sob a observação microscópica, constatou-se que praticamente todo ambiente na Terra era virtualmente rico em pequenos organismos, como as bactérias. Alguns cientistas acreditavam que esses organismos cresceram espontaneamente a partir de seus ricos ambientes químicos. Nascido em 1713, na Inglaterra, um padre chamado John Needham, o qual foi também, um dos grandes defensores da abiogênese. Needham pegou matéria orgânica (carne e partes de plantas) e colocou dentro de um frasco, lacrando-o com um tipo de cera, fervendo-o em seguida. A ideia seria mostrar que ao ferver o caldo nutritivo, a vida não se manteria no interior do frasco, no entanto, o caldo apodreceu e Needham afirmou que a fervura não elimina a geração espontânea. Em verdade, a cera utilizada não fechava totalmente o frasco, permitindo assim a entrada de ar e microrganismos.Needham e seu mentor, o Conde de Buffon, acreditavam que a vida seria composta pelos chamados ―átomos vitais‖, que com a morte de um ser vivo, escapavam e se reagrupavam para formar outra criatura vivente. Lazzaro Spallanzani (1729-1799), naturalista amador e coincidentemente, padre também, não conseguiu alinhar os átomos vitais de Needham com suas crenças religiosas e criticou seu trabalho. Spallanzani fez experimentos semelhantes aos de Needham, utilizando várias infusões com matéria orgânica, no entanto, ao invés de utilizar cera para lacrar os frascos, ele derreteu a ponta de cada um deles com uma chama bem forte, lacrando-os definitivamente. Em seguida, ferveu as infusões e esperou por dias para ver se as soluções se mantinham límpidas ou opacas (indício do surgimento de microrganismos). As soluções permaneceram límpidas, o que gerou contestação por parte de Needham, que alegou que o fechamento dos frascos teria impedido o contato entre os átomos vitais e a solução orgânica. A teoria da geração espontânea cairia por terra somente no século XIX com experimentos do grande cientista francês Louis Pasteur. Com uma série de engenhosos e persuasivos experimentos, Pasteur demonstrou que os microrganismos estavam presentes no ar e podiam contaminar soluções estéreis, mas o ar por si só não podia criar micróbios. Ele encheu vários frascos, que tinham a abertura em forma de pescoço curto, com caldo de carne e então ferveu o conteúdo. Alguns deles ele deixou que esfriassem abertos. Em poucos dias, esses frascos estavam contaminados com microrganismos. Os outros frascos, lacrados após a fervura, estavam livres de microrganismos. A partir desses resultados, Pasteur concluiu que os micróbios no ar foram os agentes responsáveis pela contaminação da matéria não viva, como nos caldos dos frascos de Needham. Pasteur, a seguir, colocou um meio de cultura em frascos com a extremidade da abertura no formato de um pescoço longo e curvou esse pescoço na forma da letra S. Os conteúdos dos frascos foram então fervidos e resfriados. O meio de cultura nos frascos não apodreceu e não apresentou sinais de vida, mesmo após meses. O modelo único criado por Pasteur permitia que o ar entrasse no frasco, mas o pescoço curvado capturava todos os microrganismos do ar que poderiam contaminar o meio de cultura. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 14 (Alguns desses frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur em Paris. Eles foram lacrados, mas, como o frasco mostrado na Figura abaixo, não mostram sinais de contaminação mais de 100 anos depois da realização do experimento.) Pasteur mostrou que os microrganismos podem estar presentes na matéria não viva – sobre sólidos, em líquidos e no ar. Além disso, ele demonstrou conclusivamente que a vida microbiana pode ser destruída pelo calor e que podem ser elaborados métodos para bloquear o acesso de microrganismos do ar aos ambientes nutritivos. Essas descobertas formam a base das técnicas de assepsia, que previnem a contaminação por microrganismos indesejáveis e que agora são práticas rotineiras para muitos procedimentos médicos e em laboratórios. O trabalho de Pasteur forneceu evidências de que os microrganismos não podem se originar das forças místicas presentes em materiais não vivos. Ao contrário, surgimento de vida ―espontânea‖ em soluções não vivas pode ser atribuído aos microrganismos que já estavam presentes no ar e nos próprios fluidos. Os cientistas agora acreditam que provavelmente uma forma de geração espontânea ocorreu na Terra primitiva, quando a primeira vida surgiu, mas eles concordam que isso não acontece sob as condições ambientais atuais. Ora, como tal coisa redundaria forçosamente numa tendência evolutiva constante de todos os organismos, Lamarck, a fim de justificar a existência até hoje em dia de organismos simples, teve de sustentar a tese de que tais organismos se originaram por geração espontânea.‖ Charles Darwin, em Origem das espécies. QUESTÃO 01 Em certos locais, larvas de moscas, criadas em arroz cozido, são utilizadas como iscas para pesca. Alguns criadores, no entanto, acreditam que essas larvas surgem espontaneamente do arroz cozido, tal como preconizado pela teoria da geração espontânea. Essa teoria começou a ser refutada pelos cientistas ainda no século XVII, a partir dos estudos de Redi e Pasteur, que mostraram experimentalment e que seres vivos podem ser criados em laboratório. a vida se originou no planeta a partir Os experimentos de Pasteur que refutaram a teoria da geração espontânea. 1. Pasteur colocou, em primeiro lugar, caldo de carne dentro de um frasco de pescoço longo. 2. Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e curvou-o no formato da letra S; então, ferveu o caldo de carne por vários minutos. 3. Os microrganismos não apareceram na solução resfriada, mesmo após longos períodos, como é possível ver nesta fotografia recente de um frasco utilizado por Pasteur em um experimento similar. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 15 de microrganismos. o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo pré-existente. seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados. vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos nutritivos, respectivamente. QUESTÃO 02 Nas recentes expedições espaciais que chegaram ao solo de Marte, e através dos sinais fornecidos por diferentes sondas e formas de análise, vem sendo investigada a possibilidade da existência de água naquele planeta. A motivação principal dessas investigações, que ocupam frequentemente o noticiário sobre Marte, deve-se ao fato de que a presença de água indicaria, naquele planeta, a existência de um solo rico em nutrientes e com potencial para a agricultura. a existência de ventos, com possibilidade de erosão e formação de canais. a possibilidade de existir ou ter existido alguma forma de vida semelhante à da Terra. a possibilidade de extração de água visando ao seu aproveitamento futuro na Terra. a viabilidade, em futuro próximo, do estabelecimento de colônias humanas em Marte. QUESTÃO 03 Na solução aquosa das substâncias orgânicas pré-bióticas (antes da vida), a catálise produziu a síntese de moléculas complexas de toda classe, inclusive proteínas e ácidos nucléicos. A natureza dos catalisadores primitivos que agiam antes não é conhecida. É quase certo que as argilas desempenharam papel importante: cadeias de aminoácidos podem ser produzidas no tubo de ensaio mediante a presença de certos tipos de argila. (...) Mas o avanço verdadeiramente criativo - que pode, na realidade, ter ocorrido apenas uma vez - ocorreu quando uma molécula de ácido nucléico "aprendeu" a orientar a reunião de uma proteína, que, por sua vez, ajudou a copiar o próprio ácido nucléico. Em outros termos, um ácido nucléico serviu como modelo para a reunião de uma enzima que poderia então auxiliar na produção de mais ácido nucléico. Com este desenvolvimento apareceu o primeiro mecanismo potente de realização. A vida tinha começado. Adaptado de: LURIA, S.E. Vida: experiência inacabada. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1979. Considere o esquema abaixo: Adaptado de GEPEQ - Grupo de Pesquisa em Educação Química. USP - Interações e Transformações atmosfera: fonte de materiais extrativos e sintéticos. São Paulo: EDUSP, 1998. O "avanço verdadeiramente criativo" citado no texto deve ter ocorrido no período (em bilhões de anos) compreendido aproximadamente entre 5,0 e 4,5. 4,5 e 3,5. 3,5 e 2,0. 2,0 e 1,5. 1,0 e 0,5. QUESTÃO 04 O gráfico abaixo representa a evolução da quantidade deoxigênio na atmosfera no curso dos tempos geológicos. O número 100 sugere a quantidade atual de oxigênio na atmosfera, e os demais valores indicam diferentes porcentagens dessa quantidade. De acordo com o gráfico é correto afirmar que: as primeiras formas de vida surgiram na ausência de O2. a atmosfera primitiva apresentava 1% de teor de oxigênio. após o início da fotossíntese, o teor de oxigênio na atmosfera mantém-se estável. desde o Pré-Cambriano, a atmosfera mantém os mesmos níveis de teor de oxigênio. na escala evolutiva da vida, quando surgiram os anfíbios, o teor de oxigênio atmosférico já se havia estabilizado. QUESTÃO 05 Segundo a teoria evolutiva mais aceita hoje, as mitocôndrias, organelas celulares responsáveis pela produção de ATP em células eucariotas, assim como os cloroplastos, teriam sido originados de procariontes ancestrais que foram incorporados por células mais complexas. Uma característica da mitocôndria que sustenta essa teoria é a CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 16 capacidade de produzir moléculas de ATP. presença de parede celular semelhante à de procariontes. presença de membranas envolvendo e separando a matriz mitocondrial do citoplasma. capacidade de autoduplicação dada por DNA circular próprio semelhante ao bacteriano. presença de um sistema enzimático eficiente às reações químicas do metabolismo aeróbio. QUESTÃO 06 Assim como nos séculos passados, também hoje, o ser humano busca o autoconhecimento para compreender sua relação com a natureza e com a sociedade. Nesse sentido, surgem algumas perguntas como ―Quem somos nós?‖, ―De onde viemos?‖, ―Para onde iremos?‖. Na tentativa de responder a essas perguntas, e explicar como teria surgido a vida em nosso planeta, várias hipóteses foram formuladas por filósofos e cientistas, ao longo dos séculos. Assinale a alternativa correta em relação às principais hipóteses sobre a origem da vida. A hipótese do Fixismo não acompanha as narrações religiosas sobre a criação da vida na Terra e tem como princípio a geração espontânea. Em 1936, Alexander Oparin propõe uma explicação para a origem da vida sobre determinadas condições da atmosfera primitiva que propiciou o desenvolvimento de uma ―sopa de proteínas‖ no ambiente aquático, dando origem aos coacervados, caracterizados como ―células primitivas‖. A hipótese da geração espontânea propôs que os seres vivos teriam surgido nas profundezas do mar, na ausência de luz e oxigênio. A Cosmogenia é a hipótese que admite que a vida foi ―implantada‖ na terra por motivações de seres extraterrestres. Alexander Oparin comprovou sua hipótese da origem da vida simulando a formação de coacervados por meio de experimentos controlados em laboratório e, por isso, esta hipótese é amplamente aceita pela comunidade científica. QUESTÃO 07 Leia o texto a seguir. A determinação de um ambiente propício à origem da vida na Terra divide as opiniões dos cientistas. Uns defendem que o surgimento da vida teria ocorrido, por exemplo, na sopa primitiva dos oceanos, em superfícies de minerais de argila, ou então em sistemas hidrotermais, solos, atmosfera, lagos e ilhas vulcânicas. Vale a ressalva de que a presença de determinados compostos químicos em meteoritos aponta ainda uma contrariedade em relação à concepção de que o universo é pobre em matéria orgânica. Com base no texto e nos conhecimentos sobre teorias da origem da vida, assinale a alternativa correta. A teoria da geração espontânea, ou biogênese, por considerar a multiplicidade de formas de vida existente, defende a concepção atualmente aceita, segundo a qual seres vivos podem surgir por mecanismos que não sejam através da reprodução. Para a Panspermia, a vida na Terra é resultado de processos químicos em que compostos orgânicos se combinaram formando moléculas inorgânicas complexas, as quais deram origem aos seres vivos com capacidade de reprodução. Segundo a hipótese autotrófica, os primeiros seres vivos, por serem muito simples, não teriam mecanismos celulares desenvolvidos para capacitá-los a produzir substâncias alimentares, obrigando-os a utilizar as substâncias disponíveis no meio. É preconizado pela hipótese heterotrófica que a partir da energia consumida por reações químicas entre componentes orgânicos da crosta terrestre, os primeiros seres vivos produziam suas próprias substâncias alimentares. Para a hipótese autotrófica, com a formação da camada de ozônio na estratosfera, por consequência da presença do gás oxigênio na atmosfera terrestre, os seres vivos, antes restritos aos ambientes aquáticos, passaram a colonizar ambientes de terra firme. QUESTÃO 08 Para explicar os fenômenos naturais, a ciência precisa de um bom observador e de experimentos que reproduzam, em parte, tais fenômenos. E foi o que Francesco Redi (1626- 1698) fez para provar a Teoria da Biogênese. Nessa mesma época, havia outros cientistas que reforçavam a Hipótese da Geração Espontânea com diferentes experimentos. Assinale a alternativa que relaciona CORRETAMENTE o primeiro experimento de Redi, para provar a Biogênese, com o segundo experimento que sustentava a Abiogênese. Biogênese Abiogênese Frascos contendo pedaços de carne, tampados com gaze e abertos. Caldo de carne fervido em frascos de vidro e depois tampados e repousados por alguns dias. Caldo nutritivo fervido num recipiente até ficar estéril e fechado por algumas semanas. Posteriormente aberto. Farrapos de tecidos guardados e monitorados, observando a presença de organismos. Substâncias nutritivas fervidas em balões de vidros hermeticamente fechados e posteriormente levadas ao microscópio. Observação de insetos em diferentes estágios de putrefação de animais mortos. Gases e vapor d’água injetados em balões de vidro para simular a atmosfera. Frutos deixados ao ar livre e abertos após alguns dias. Substâncias naturais orgânicas, injetadas em pedaços de carne. Pedaços de carne e frutas frescas levados in natura para o microscópio. QUESTÃO 09 CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 17 Evidências astronômicas e geofísicas indicam que a Terra se formou há, aproximadamente, 4,6 bilhões de anos. A princípio não era adequada para a vida, devido ao calor e a exposição à radiação. Os astrônomos estimam que a Terra tenham se tornado habitável há cerca de 3,8 bilhões de anos. A vida parece ter surgido mais ou menos na mesma época, mas não sabemos como era essa vida primitiva. MAYR, Ernest. O que é evolução. São Paulo: Rocco, 2001, p. 5. Considerando-se essas informações e a peculiaridade da Terra como local onde a vida teve origem indica que a atmosfera primitiva, rica em elementos, como o hidrogênio, oxigênio e carbono, viabilizou a origem de moléculas orgânicas simples. havia energia luminosa, prontamente assimilada pelos primeiros seres vivos, para a síntese de seu próprio alimento. sua atmosfera, altamente oxidante, potencializou várias combustões, gerando energia para os primeiros seres vivos. a formação da camada de ozônio, logo depois de sua origem, facilitou o surgimento da vida. a síntese de moléculas orgânicas possibilitou, de imediato, a origem da vida. QUESTÃO 10 No século XIX, Louis Pasteur realizou experimentos utilizando frascos com e sem pescoços alongados (pescoços de cisne), com o objetivo de compreender a origem da contaminação por micro-organismos em meios de cultura, conforme ilustrado a seguir. Tais experimentos embasaram Pasteur a comprovar a teoria da abiogênese, observando que os micro- organismos são gerados constantemente emmeios nutritivos adequados, desde que em contato direto com o ar. da geração espontânea, observando que os micro-organismos se proliferam em meios nutritivos adequados, independentemente do contato direto com ar. da evolução biológica, observando que o ambiente adequado proporciona o surgimento de diversidade biológica, desde que em contato direto com o ar. celular, observando que todos os organismos são formados por algum tipo de organização celular, independentemente do contato direto com o ar. da biogênese, observando que todo organismo vivo provém de outro pré-existente, independentemente do contato direto com o ar. QUESTÃO 11 Há 4 bilhões de anos, a atmosfera da Terra não continha oxigênio, mas, outros gases, como metano, amônia e vapor d’água, dentre outros. A Terra primitiva não sustentava a vida. A abiogênese teria ocorrido uma vez na história do planeta, no início de tudo. A figura abaixo ilustra a sequência da Teoria da Sopa Primordial, testada por Stanley Miller e Harold Urey (1953), que bombardearam, com raios UV e descarga de eletricidade, uma ―sopa‖ feita com água, amônia, metano e hidrogênio. Assinale a alternativa CORRETA que represente os produtos (A, B, C) e os catalisadores (I e II), conforme o esquema acima. A – Aminoácidos, B – Coacervados, C – Células primitivas, I – A chuva arrastou os compostos para o solo e os mares, onde eles se combinaram com outras substâncias, II – Moléculas de lipídios isolaram as moléculas orgânicas. A – Compostos inorgânicos, B – Células primitivas, C – Tecidos fotossintetizantes, I – Água rica em sais minerais catalisou a combinação de diversas moléculas com compostos inorgânicos, II – Moléculas de açúcares, na presença de oxigênio e gás carbônico, formaram células especializadas em fotossíntese. A – Moléculas de gás ozônio, B – Composto orgânico, C – Organismo unicelular, I – Substâncias combinaram-se com outras substâncias em poças de água, II – Moléculas de metano combinaram-se com moléculas de água, formando as primeiras células. A – Coacervados, B – Moléculas orgânicas, C – Microrganismos, I – Moléculas orgânicas combinaram-se com moléculas de aminoácidos nos mares primitivos, II – Atmosfera rica em oxigênio acelerou o metabolismo das células, aperfeiçoando as organelas. A – Organismo unicelular, B – Organismo pluricelular, C – Células orgânicas, I – Oxigênio formado pela combinação de água, metano e amônia estimulou a divisão das células, II – Formação dos mares acelerando a combinação de moléculas orgânicas. QUESTÃO 12 O esquema acima representa o aparelho projetado por Stanley Miller e Urey em meados do século passado. Por esse engenhoso sistema circulavam hidrogênio 2(H ), vapor de CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 18 água 2(H O), metano 4(CH ) e amônia 3(NH ) e, através de eletrodos, era fornecida energia na forma de descargas elétricas, simulando assim as condições da atmosfera primitiva do planeta Terra. Após algum tempo, Miller e Urey observaram, como resultado de reações químicas, a formação de produtos como aminoácidos, carboidratos e ácidos graxos simples, que foram se acumulando. Sobre a hipótese que este experimento corroborou sobre a origem da vida no planeta Terra, é correto afirmar que reforça a evolução gradual dos sistemas químicos, onde os gases da atmosfera primitiva formaram, espontaneamente, os compostos orgânicos que originaram as primeiras formas de vida no planeta Terra. fortalece a hipótese do criacionismo, exatamente como está escrito em Gêneses, primeiro livro da Bíblia, pois em nenhum momento do experimento ilustrado acima surgiram formas de vida, mas apenas substâncias orgânicas simples. reforça a hipótese cosmozoica, que defende que a vida (microrganismos) foi transportada casualmente para o planeta Terra, através de meteoritos e cometas que viajavam pelo espaço e se chocaram com a superfície terrestre. fortalece a teoria da abiogênese, que afirmava que compostos inorgânicos e orgânicos poderiam originar, por geração espontânea, os seres vivos do planeta Terra. reforça a teoria segundo de que a vida na Terra originou-se a partir de moléculas orgânicas complexas, como proteínas e ácidos nucleicos, que sofreram polimerização, dando origem aos coacervados, que evoluíram para as primeiras formas de vida. QUESTÃO 13 Há muito, muito tempo, quando ocorreu a origem da vida na Terra, surgiram vários processos biológicos. Tendo em vista condições ambientais existentes então, podemos afirmar que a sequência correta do aparecimento dos processos abaixo foi a mostrada em respiração aeróbia fermentação fotossíntese. fermentação respiração aeróbia fotossíntese. fermentação fotossíntese respiração aeróbia. fotossíntese respiração aeróbia fermentação. fotossíntese fermentação respiração aeróbia. QUESTÃO 14 Agência espacial americana (NASA) afirma ter encontrado água corrente em Marte, o que pode possibilitar existência de vida. (Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/ 09/150928_marte_descobertas_cc. Acesso em 29 set. 2015.) Em 2015, através da análise de imagens do satélite Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), a NASA afirmou que pode haver, escorrendo nas encostas em algumas montanhas do planeta Marte, água salgada líquida. Com isso, seria possível existir, ou ter existido, vida microbiana no planeta. No planeta Terra, há muito se discute a origem da vida, sendo a Teoria Clássica a mais aceita, a qual afirma que a Terra primitiva teria sido um ambiente rico em compostos orgânicos. De acordo com essa teoria, os primeiros seres que habitaram nosso planeta seriam organismos heterotróficos com respiração aeróbica. organismos heterotróficos com respiração anaeróbica. organismos fotoautotróficos. organismos quimioautotróficos. organismos foto-heterotróficos. QUESTÃO 15 De acordo com a hipótese heterotrófica, o primeiro ser vivo do planeta Terra obtinha energia para seu metabolismo por meio de um processo adequado às condições existentes na atmosfera primitiva. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a sequência ordenada dos processos energéticos, desde o surgimento do primeiro ser vivo do planeta. Fotossíntese, respiração aeróbia e fermentação. Respiração aeróbia, fermentação e fotossíntese. Respiração aeróbia, fotossíntese e fermentação. Fermentação, fotossíntese e respiração aeróbia. Fermentação, respiração aeróbia e fotossíntese. QUESTÃO 16 Leia o texto para responder à questão. O planeta Terra formou-se há cerca de 4,5 bilhões de anos. Inicialmente sua superfície era constituída por magma quente. As rochas teriam se formado a seguir, com o resfriamento desse material. As rochas mais antigas de que se tem conhecimento datam de 3,9 bilhões de anos e nelas não foram encontrados registros de vida, levantando a questão sobre como ocorreu o surgimento da vida no planeta. (Texto Modificado: Bio, Sônia Lopes, 2008.) Sobre o processo em destaque no texto, é correto afirmar que: a panspermia é uma teoria que admite que a origem da vida é extraterrestre. a abiogênese postula que a vida surgiu de um ser vivo preexistente. o criacionismo admite o surgimento da vida extraterrestre. a biogênese afirma que a vida surgiu por geração espontânea. a teoria por evolução química postula que a vida surgiu de uma única molécula inorgânica. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 19 QUESTÃO 17 Na difícil busca pela explicação científica sobre a origem da vida no planeta Terra, uma das etapas consideradas essenciais éo surgimento de aglomerados de proteínas, os coacervados, capazes de isolar um meio interno do ambiente externo, permitindo que reações bioquímicas ocorressem dentro dessas estruturas de forma diferenciada do meio externo. Tal hipótese, envolvendo essa etapa, contesta o princípio da abiogênese sobre a evolução bioquímica de moléculas orgânicas. reforça a ideia comprovada de que todo ser vivo se origina de outro. considera como espontâneo o processo de surgimento da vida no planeta. sugere que os primeiros seres vivos se multiplicavam como os vírus atuais. questiona a teoria criacionista, assim como a evolucionista lamarckista. QUESTÃO 18 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A Grande Fonte Prismática descarrega uma média de 2548 litros de água por minuto, é a e 50 metros de profundidade, e funciona como muitos dos recursos hidrotermais do parque. A água subterrânea profunda é aquecida pelo magma e sobe à superfície sem ter depósitos minerais como obstáculos. À medida que atinge o topo, a água se resfria e afunda, sendo substituída por água mais quente vinda do fundo, em um ciclo continuo. A água quente também dissolve parte da sílica, SiO2(s), presente nos riolitos, rochas ígneas vulcânicas, sobre o solo, criando uma solução que forma um depósito rochoso sedimentar e silicoso na área ao redor da fonte. Os pigmentos iridescentes são causados por micróbios — cianobactérias — que se desenvolvem nessas águas quentes. Movendo-se da extremidade mais fria da fonte ao longo do gradiente de temperatura, a cianobactéria Calothrix vive em temperaturas não inferiores a 30°C, também pode viver fora da água e produz o pigmento marrom, que emoldura a fonte. A Phormidium, por outro lado, vive entre 45°C e 60°C e cria o pigmento laranja, ao passo que Synechococcus suporta temperaturas de até 72°C e é verde- amarelo. (A GRANDE... 2013. p. 62-63). A presença das cianobactérias e a dos seus novos mecanismos metabólicos no ambiente primordial da Terra impuseram um profundo impacto na história evolutiva da vida no planeta. Com base nessa informação, considera-se como um exemplo desse impacto: A criação de diversos tipos de pigmentos responsáveis pela fixação da luz solar durante o processo de fotossíntese anaeróbia desenvolvida por esses tipos de micro- organismos. A formação de uma espessa camada de ozônio na atmosfera primitiva durante a evolução química da etapa prebiótica. A extinção em massa de seres anaeróbios por não estarem adaptados a um ambiente oxidativo decorrente do acúmulo de O2 através da fotossíntese aeróbia. O aumento considerável da temperatura das fontes hidrotermais como consequência da intensa combustão gerada pela fotossíntese aeróbia que passa a consumir oxigênio. O desenvolvimento de um novo tipo de fotossíntese que passa a utilizar o H2S como doador de hidrogênio ao revolucionar a forma de obtenção de energia realizada pelos seres autótrofos. QUESTÃO 19 “Tétis entrega as novas armas a seu filho Aquiles e cuida do corpo de Pátroclo” ... ―Mãe, estas armas que Hefesto me enviou, dizem bem com os trabalhos dos imortais; nenhum homem seria capaz de forjá-las. Vou para a luta aprontar-me, envergando-as; mas tenho receio de que entrementes as moscas penetrem nas chagas abertas pelo cruel bronze no corpo do filho do claro Menécio (Pátroclo) e criem larvas, afeando, dessa arte, o cadáver do amigo - ah, sem mais vida nenhuma - e estragando-lhe a bela aparência‖. ILÍADA - Homero, Canto XIX, v. 21-7. Há mais de 2.500 anos, muito antes de Francesco Redi (1626 - 1697), podemos afirmar que os gregos: eram adeptos da Geração Espontânea. foram os primeiros que demonstraram a veracidade da Abiogênese. acreditavam que a matéria orgânica em decomposição gerava larvas. sabiam que as moscas eram responsáveis pelas larvas que surgiam nos cadáveres. QUESTÃO 20 A figura abaixo ilustra o mais provável mecanismo que originou as organelas celulares conhecidas como mitocôndrias. Sobre essas organelas celulares, considere as seguintes afirmativas. I. As mitocôndrias apresentam-se envolvidas por membrana dupla. A membrana interna representa a membrana celular bacteriana original e a membrana externa é derivada, em termos evolucionários, da membrana celular da célula eucariótica ancestral. II. Mitocôndrias possuem seu próprio DNA, o que torna possível que se reproduzam por autoduplicação de mitocôndrias preexistentes. III. Sem mitocôndrias, animais, fungos e plantas seriam incapazes de usar o oxigênio para extrair o máximo de energia contida nas moléculas de alimento. É correto o que se afirma em: I, apenas. I, II e III. I e II, apenas. CURSO DE BIOLOGIA - PROF. RENATO MARTINS| A HISTÓRIA DE TUDO: TEORIAS E HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA 20 II, apenas. II e III, apenas. QUESTÃO 21 Observe a figura que ilustra uma possível explicação, formulada pela pesquisadora Lynn Margulis, em 1981, para o processo de evolução das células eucariontes a partir de um ancestral procarionte. De acordo com a pesquisadora, o processo evolutivo celular teria ocorrido em função da internalização de organelas membranosas, tais como o lisossomo e o complexo de Golgi, a partir da simbiose com procariontes. do surgimento do núcleo celular a partir da incorporação de organismos primitivos procariontes semelhantes às bactérias. do desenvolvimento de organelas membranosas, tais como mitocôndrias e cloroplastos, a partir de invaginações da membrana celular. da fagocitose de procariontes aeróbios e fotossintetizantes, originando os eucariontes autótrofos e heterótrofos, respectivamente. da formação de membranas internas e, posteriormente, da endossimbiose de ancestrais das mitocôndrias e dos cloroplastos. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: A figura ilustra as relações de endossimbiose que devem ter ocorrido ao longo da evolução dos seres eucariontes, segundo hipótese de Lynn Margulis. QUESTÃO 22 O estabelecimento da primeira endossimbiose representada produziu um importante impacto na evolução do Domínio Eucaria e pode ser identificado como o advento de endomembranas que favoreceu a síntese de proteínas associada a um retículo endoplasmático. o aumento da eficiência na obtenção de energia a partir de processos oxidativos de transformação energética. o estabelecimento de reações fotoautótrofas na produção de componente orgânico. a intensificação nas relações parasitárias que dificultaram a sobrevivência dos eucariotos. a formação de uma membrana interna delimitadora do material genético celular. QUESTÃO 23 O organismo que primeiro apresentou registrado nas marcas traçadas pela sua história evolutiva a presença das duas relações de endossimbiose pode ser representado atualmente pelo grupo dos vegetais. dos fungos. dos animais. das algas unicelulares. das algas pluricelulares. QUESTÃO 24 Considerando as teorias mais aceitas atualmente para a origem da vida e o início da história dos seres vivos, considere as seguintes afirmativas: 1. A simbiose teve papel relevante na origem dos eucariontes. 2. A diversidade de funções desempenhadas pelo RNA leva a crer que este tenha sido precursor do DNA. 3. Organismos multicelulares, como as plantas, foram responsáveis pelo início do grande aumento da concentração de oxigênio na atmosfera terrestre. 4. A existência do oxigênio na atmosfera terrestre foi imprescindível para o surgimento da vida. Assinale a alternativa correta. Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. Somente as afirmativas 1 e 2são verdadeiras. QUESTÃO 25 De acordo com a Hipótese Endossimbionte, as células dos animais e plantas superiores se originaram de microrganismos que entraram em simbiose obrigatória com seres unicelulares primitivos. Qual das seguintes organelas celulares tem sua origem baseada nessa hipótese? Complexo Golgiense. Ribossomo. Lisossomo. Retículo endoplasmático. Mitocôndria.