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1 Tutorial 3 – Vitor Benincá DEFINIÇÃO Grupo de doenças caracterizadas por um padrão morfológico distinto das células hematopoéticas, são geralmente decorrentes de deficiência de vitamina B12 (cobalamina) ou folatos. Apresentam significativa morbidade. Os folatos e a cobalamina (B12) são importantes para a síntese de pirimidina e purina, incluindo a produção de três dos quatro nucleotídeos do DNA. A deficiência deles provoca defeito na síntese de DNA, com menor produção de RNA e proteínas, levando a um crescimento celular desequilibrado e de divisão celular prejudicada. A maioria das células megaloblásticas apresenta valores de DNA entre 2 e 4 N devido ao atraso na divisão celular → núcleos “imaturos” e grandes. A síntese de RNA está relativamente normal, gerando citoplasma maduros e grandes. Os megaloblastos são reconhecidos como células defeituosas pelos macrófagos da medula óssea, sendo destruídos por eles: Eritropoese Ineficaz. É uma assincronia da maturação do núcleo em relação ao citoplasma – as células se preparam para uma divisão que não ocorre, e aí se tornam maiores. As células mais afetadas são aquelas que possuem renovação mais rápida – como as percursoras na Medula Óssea e as células do TGI. COBALAMINA (VIT. B12) É sintetizada por bactérias intestinais de animais, sendo presente nos seres humanos pela ingesta de produtos de origem animal. Estrutura química: átomo de cobalto no centro de um anel corrina ligado a uma porção nucleotídica. Essa vitamina é encontrada em alimentos de origem animal: fígado, carne, peixe e laticínios, ovos. NÃO está presente em frutas, cereais e verduras, apenas em alimentos de origem animal. Uma dieta normal contém grande excesso de B12 em relação às necessidades diárias. Absorção: íleo distal. A B12 é liberada das proteínas (ela vem ligada com proteínas nos alimentos), combina-se com a glicoproteína Fator Intrínseco (sintetizada pelas células parietais gástricas). O complexo fator intrínseco + vitamina B12 é então ligado a um receptor específico (Cubilina) que irá se ligar a uma segundo proteína que irá promover a fagocitose desse complexo no íleo distal, absorvendo a B12 e destruindo o fator intrínseco. A vitamina B12 então, será absorvida para o sangue portal, onde será ligado a outra proteínas plasmática (Transcobalamina) que irá entregar a B12 a medula óssea e outros tecidos. Embora essa proteína transcobalamina (TC) seja a mais importante para o transporte da B12, a quantidade de B12 na TC geralmente é muito baixa, e uma deficiência nessa proteína pode causar anemia megaloblástica, uma vez que não permite a entrada de B12 na medula. Porém, o nível sérico de B12 em casos de TC comprometida será normal. Isso ocorre, pois, a maioria da B12 do plasma está ligada em outra proteína (Heptocorrina) que é uma glicoproteína sintetizada por granulócitos e macrófagos. Portanto, em doenças mieloproliferativas quando há produção aumentada de granulócito, os níveis de haptocorrina e B12 aumentam no plasma. Porém, a B12 ligada a Heptocorrina NÃO se transfere para a medula. A B12, quimicamente, participa das reações de síntese da Homocisteína e Ácido Metilmalônico, portanto essas substâncias são usadas em alguns laboratórios como testes de deficiência em B12. Há reservas de B12 no fígado, sendo que ao contrário do folato, há grandes estoques de B12, durando bastante, sendo necessário 10- 15 anos com dieta pobre em cobalamina para haver sinais clínicos de deficiência. Dose diária recomendada de 2,4μg para homens e não grávidas, 2,6 μg para grávidas, 2,8 para lactantes, e 1,5-2 para crianças entre 9-18 anos. Dieta normal tem excesso de B12 e, relação às necessidades diárias. ABSORÇÃO VIT B12 vem sempre da dieta ligada às proteínas alimentares, precisando sofrer ação do ácido gástrico e da pepsina para se desprender. Durante a digestão gástrica, a VIT B12 é liberada e se liga a uma glicoproteína – ligante R – que é secretado na saliva e mucosa gástrica, formando um complexo. No DUODENO – esse complexo é dissolvido pelas proteases do pâncreas – aí libera a VIT B12, que vai ser capturada pelo FATOR INTRÍNSECO (produzida pelas células PARIETAIS gástricas, saindo junto com HCl) É formado um complexo entre a VIT B12 e o FI → Que é resistente a degradação proteica e vai até o ÍLEO DISTAL – Onde receptores na borda em escova da mucosa ligam o complexo e possibilitam a absorção da vitamina. 99% da vitamina B12 é absorvida junto com o FI, sendo apenas 1% difusão passiva entre as células da mucosa intestinal. DEFICIÊNCIA DE B12 Em países ocidentais, geralmente a deficiência de B12 ocorre devido a anemia perniciosa. Com menor frequência pode ser provocada por veganismo, gastrectomia e doenças do intestino delgado. Não há síndrome de deficiência de B12 como resultado de consumo excessivo ou perda da vitamina, sendo que inevitavelmente a deficiência leva ao menos 2 anos para se desenvolver. Esse é o tempo necessário para que haja a depleção de depósitos. Tutorial 3 2 Tutorial 3 – Vitor Benincá O óxido nitroso é capaz de inativar rapidamente a B12 no organismo. ANEMIA PERNICIOSA Causada pela agressão autoimune à mucosa gástrica, levando a atrofia do estômago. A parede do estômago irá se tornar delgada, com infiltração de linfócitos e plasmócitos. Pode ocorrer metaplasia intestinal. Há acloridria, e a secreção do fator intrínseco torna-se ausente ou muito diminuída. A gastrina sérica aumenta, podendo gerar infecções por H. pylori e consequente gastrite. Acometimento maior no sexo feminino, com pico de ocorrência aos 60 anos. Pode ser encontrada em todas as raças, mas é mais comum em europeus do norte. 90% dos pacientes apresentam anticorpos plasmáticos contra as células parietais, dirigidos contra a H+/K+ ATPase e 50% anticorpos tipo I ou anticorpos que bloqueiam o fator intrínseco, inibindo a ligação deste com a vitamina B12. 30% têm um segundo anticorpo- antifator intrínseco que irá inibir a ligação do complexo no íleo intestinal. Condições associadas a anemia perniciosa: sexo feminino, olhos azuis, incidência familiar, grupo sanguíneo A, vitiligo, mixedema, Doença de Hashimoto, Doença de Addison, Hipoparatireoidismo, Carcinoma do estômago, Tireotoxicose, Encarnecimento precoce etc. OUTRAS Ausência congênita ou anormalidades do fator intrínseco: geralmente notados em torno dos 2 anos de idade, quando os estoques de B12 derivados da mãe no útero são totalmente consumidos. Má absorção de B12 devido mutações genéticas do receptor cubilina. Geralmente se apresenta na infância e é associada a proteinúria. Ingestão insuficiente, má absorção da B12 alimentar, gastrite atrófica (geralmente desencadeada por H. pylori). ACLORIDRIA – Quando não ocorre separação da VIT B12 das proteínas alimentres. DEFICIÊNCIA DE FATOR INTRÍNSECO – Anemia perniciosa, gastrectomia total. INSUFICIÊNCIA EXÓCRINA PANCREÁTICA – Pancreatite crônica – em que não há separação do complexo R-VITB12 MICROORGANISMOS COMPETITIVOS – que observamos no diabetes melito, por exemplo. DOENÇA DE CROHN, LINFOMA INTESTINAL, RESSECÇÃO ILEAL. VEGETARIANOS E POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA – Que não consomem carne, ovos e laticínios. Tênia do peixe – um parasita que tem no Brasil que consome a B12 no lúmen intestinal. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS Palpitações, fraqueza, cefaleia, irritabilidade etc. – Queixas referentes de anemia. É interessante notar que esses pacientes são capazes de tolerar baixíssimos níveis de hemoglobina, porque a anemia megaloblástica é de instalação INSIDIOSA. Petéquias, púrpuras – por presença de trombocitopenia. MANIFESTAÇÕES DIGESTIVAS Diarreia e perda ponderal, ambos por má absorção. Sensação dolorosa na língua – que se mostra avermelhadae com atrofia das papilas – glossite. Quelite angular “boqueira” também pode ser encontrada. (mesma da anemia ferropriva) MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS Essas manifestações podem ocorrer com o hemograma absolutamente normal e somente com a VIT B12 baixa Parestesia em extremidades Diminuição de sensibilidade profunda (proprioceptiva e vibratória) Desequilíbrio, Marcha Atáxiaca (Passos descoordenados), Sinal De Romberg (perda de equilíbrio quando paciente está em pé, com os olhos fechados e pés juntos) Fraqueza dos membros inferiores Déficit Cognitivo, Demência, Psicose. As manifestações psiquiátricas devem ser corrigidas precocemente após deficiência de B12, podendo não ter resposta se corrigidas tardiamente. FOLATOS / ÁCIDO FÓLICO O ácido fólico (pteroilglutâmico) é o composto base de um grande grupo de compostos derivados do folato. Funções: transferir metileno (fragmentos de 1 carbono) para aceptores que darão origem a bases nitrogenadas (purinas e pirimidinas) que irão constituir o DNA. Fonte de folato: vegetais verdes frescos, fígado, aveia e algumas frutas. Nesses casos, o folato encontra-se na forma de poliglutamato. Metade do folato nos alimentos é biodisponível; 85% do ácido fólico adicionado aos alimentos ou é ingerido como suplemento tem biodisponibilidade. Absorvido no duodeno e jejuno proximal, porção essa que contêm enzimas em suas microvilosidades (carboxipeptidase) capazes de converter o poliglutamato em mono ou diglutamato, permitindo assim sua pronta absorção (redução do fosfato). Logo após ser absorvido, o folato circula no plasma como MHTF (metiltetraidrofolato) sob a forma de monoglutamato ligado a proteínas. Quando penetra nas células, o grupamento metil será retirado do composto por uma enzima dependente da vitamina B12 (metionina sintase), liberando no citoplasma o THF (tetraidrofolato) já na forma de poliglutamato (forma ativa da vitamina). Existe uma interdependência no metabolismo do ácido fólico e da cobalamina, uma vez que a vitamina B12 é necessária para a manutenção do folato no meio intracelular. (conversão do MHTF → HTF) O maior reservatório de folato no corpo é o fígado, responsável por metade das reservas. O folato é secretado pela bile, para ser reabsorvido no jejuno (ciclo êntero-hepático). É excretado na urina. 3 Tutorial 3 – Vitor Benincá DEFICIÊNCIA DE FOLATO Em geral ocorre devido a dieta pobre em folato, isolada ou em combinação com uma condição que haja aumento de utilização ou má absorção de folato. Há alguns momentos de aumento da necessidade de folato, sendo a principal delas a gravidez, pois há mais moléculas degradadas pelo aumento da síntese de DNA. O álcool, a sulfassalazina e outros compostos podem ter efeitos múltiplos no metabolismo do folato, podendo causar deficiência. Má absorção pode ser por uma doença celíaca, por exemplo, ou uso de fármacos como Sulfalazina, que interferem na absorção. Como os estoques de folato duram pouco, os sinais clínicos de deficiência de folato se desenvolvem cerca de 4-5 meses após o início das perdas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Geralmente é uma doença insidiosa com sintomas e sinais gradativamente progressivos de anemia. Geralmente os pacientes assintomáticos são diagnosticados pelo hemograma, que foi pedido por outros motivos. - O paciente pode ter icterícia leve (coloração amarelo-limão quando combinado com anemia) pelo excesso de catabolismo de Hb resultante do aumento da eritropoiese ineficaz na medula óssea. Sintomas GI: B12 pode levar a glossite (dor, inchaço, sensibilidade, perda da papila ou hipersensibilidade). O folato pode causar úlceras orais. Isso porque as células do TGI são sensíveis a falta de ácidos nucleicos causada pela deficiência dessas vitaminas. Estomatite Angular (quelite angular). Sintomas leves de má absorção: perda de peso. Fraqueza. Púrpura decorrente de trombocitopenia e hiperpigmentação generalizada (condição rara). Aparecimento precoce de cabelos grisalhos. Sinais neurológicos: devido a uma alteração na produção da mielina. Neuropatia (APENAS POR B12): afeta nervos sensitivos periféricos e cordões da medula espinal (degeneração). Pode haver parestesia, dormência nas extremidades, dificuldade para andar podendo cair em ambientes escuros, falta de sensibilidade à vibração de alta frequência. Pode haver Sd cerebelares, Sd de Parkinson, convulsões. Sintomas psiquiátricos: depressão, insônia, mal-estar geral, demência. DEFEITO DO TUBO NEURAL A deficiência de folato ou de B12 na mãe, predispõe defeitos no tubo neural do feto: anencefalia, espinha bífida ou encefalocele. Quanto menores os níveis de folato sérico ou de eritrócitos e os níveis séricos de B12 maternos (mesmo quando ainda dentro dos limites de referência) há maior incidência dessa patologia. A suplementação com ácido fólico na ocasião da concepção e no início da gestação diminui em 75% a incidência da doença. OUTRAS ALTERAÇÕES TECIDUAIS Esterilidade (tanto em deficiência de B12 como de folato): frequente em ambos os sexos. Hiperpigmentação generalizada reversível Diminuição da atividade osteoblástica (apenas na deficiência de B12). DIAGNÓSTICO Anemia, reconhecer se a megaloblástica está presente; ver se é por falta de folato e/ou cobalamina; diagnosticar causa de base e mecanismo responsável. HEMOGRAMA VCM maior que 98 fL e nos casos mais severos VCM de 120-140 fL. Macrócitos ovais Contagem de reticulócitos baixa (< 0,5%), assim como a contagem de leucócitos e plaquetas. Neutrófilos com núcleo hipersegmentado (com 6 ou mais lobos). Geralmente uma hemoglobina < 5g/dL Medula óssea hipercelular, com eritroblastos grandes e com falta de maturação, mostrando uma comatina frouxa, primitiva. Metamielócitos gigantes e com forma anormal. Bilirrubina sérica não conjugada (bilirrubina indireta) e desidrogenase láctica estão aumentadas. DIAGNÓSTICO: DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 E FOLATO Dosagens de Vitamina B12 e de Folato séricos. Vitamina B12 sérica é baixa tanto na anemia megaloblástica quanto na neuropatia causada pela sua deficiência. O folato sérico também é baixo na anemia megaloblástica, mas tende a aumentar na deficiência de B12 (aumento no volume sérico, mas no eritrócito diminui). Há alguns exames específicos para identificação da causa de deficiência, tanto de vitamina B12 quanto de folato (ex: má absorção ou falta de vitamina na dieta) TRATAMENTO A maioria dos casos necessita apenas de tratamento com a vitamina apropriada. Deve-se tratar a etiologia de qualquer deficiência vitamínica também. Essas vitaminas não devem nunca ser prescritas isoladamente, salvo se a deficiência de B12 tiver sido excluída com segurança, pois se houver def. de B12 ela pode ser mascarada e a 4 Tutorial 3 – Vitor Benincá suplementação com folato ameniza a anemia, mas não reverte os danos neurológicos e pode até piorar. Em pacientes com anemia grave, é necessário tratamento com urgência, podendo ser mais seguro iniciar o tratamento com ambas as vitaminas e depois coletar o sangue para as dosagens de B12 e de folato. Transfusões de sangue devem ser evitadas, se possível, pois podem causar sobrecarga circulatória. O paciente já se sente melhor após 24 a 48 horas do tratamento com a vitamina correta, com notável aumento do apetite e bem- estar eufórico. A Hb deve aumentar em 2-3 g/dL a cada quinzena. A contagem de leucócitos e plaquetas normaliza em 7-10 dias e a medula torna-se normoblástica em cerca de 48 horas. Mas pode haver mielócitos gigantes durante 12 dias. O dano à medula espinal é irreversível. A duração da terapia depende da persistência da causa inicial da deficiência. A reposição vitalícia é necessária para indivíduos com uma condição que não é revertidaCIANOCOBALAMINA (hidroxicobalamina) Entra como coenzima nos processos metabólicos de síntese proteica e metabolismo de outros compostos, atuando também na hematopoiese. Um esquema agressivo com 1mg dia, depois 1xsem por 2sem, 1xsem por 4sem, 1mg mês/vida. Via IM ou SUBC. Pode ser feito uso oral após reabastecimento por via parenteral. FOLATO ORAL (ÁCIDO FÓLICO) É essencial para síntese de nucleoproteínas e para a formação normal de hemácias. Na anemia megaloblástica, ele estimula produção de hemácias, leucócitos e plaquetas. Varia de 1-5mg por dia. Dose suficiente mesmo se houver má absorção, pois está acima da dose dietética recomendada. Para causas reversíveis, a administração é de 1-4 meses ou até ter evidência hematológica de recuperação. Reposição vitalícia: anemias hemolíticas, diálise, ... ÁCIDO FOLÍNICO (LEUCOVORINA CÁLCICA) É o derivado 5 formil do ácido tetraidrofólico. É usado em pacientes que tem inibição da enzima diidrofolato redutase. Ex.: pacientes que vão ser tratado para toxoplasmose (pirimetamina), devem receber suplementação com ácido folínico e não fólico. PROFILAXIA A vitamina B12 deve ser administrada periodicamente em pacientes com gastrectomia total ou ressecção ileal, e em bebês cuja mãe tem deficiência de B12. Ácido fólico: gravidez 0,2-0,5mg/dia (aumentando ingestão de ácido fólico em alimentos ou suplementados com folato ou recebendo ácido fólico) → evitar deformações no tubo neural do feto. Também é administrado em pacientes em diálise crônica, com anemia hemolítica severa e melofibrose e em crianças prematuras. A suplementação de ácido fólico, B12 está associada a redução de fratura nos quadris, reduz taxa de declínio cognitivo em idosos, entre outros inúmeros benefícios. Em junho de 2004, tornou-se imprescindível a fortificação das farinhas de trigo e milho com 150μg de ácido fólico para cada 100g de produto. Em 2010, 150μg/100g na farinha de mandioca. Estudos demonstraram redução dos defeitos do tubo neural. Além disso, se parar para pensar em países que sofrem com fome e pobreza, a farinha e as massas são os alimentos mais acessíveis com essas vitaminas Recomendada a reposição profilática DE VIT B12 de rotina em 3 causas Vegetarianos RN e lactentes filhos de mães deficientes de B12 Pacientes com disabsorção crônica de vitamina B12. Recomendada a reposição profilática de ÁCIDO FÓLICO em: Todas as gestantes Mulheres em idade reprodutiva que fazem uso de anticonvulsivantes. Hemólise crônica Doenças mieloproliferativas. Pacientes que usam metotrexato, trimetropim... ANEMIAS MACROCÍTICAS NÃO MEGALOBLÁSTICAS O abuso de álcool é a causa mais frequente de aumento do VCM, na ausência de anemia. A anemia hemolítica é uma causa importante de anemia macrocítica. Deve ser feito então: anamnese, exame físico, provas de função hepática e tireoidiana, exame da medula óssea para mielodisplasia, aplasia ou mieloma. Causas de macrocitose além da anemia megaloblástica: • Abuso de álcool • Hepatopatia • Hipotireoidismo • Síndromes mielodisplásicas • Fármacos citotóxicos • Anemia aplástica • Gravidez • Tabagismo • Reticulocitose • Esplenectomia • Paraproteinemia Doença marcada pelo surgimento da pancitopenia, ou seja, redução das três séries de células hematológicas da periferia: hemácias, leucócitos e plaquetas. Sendo assim, a anemia aplásica é definida como um estado de pancitopenia associada a uma biópsia da medula óssea acelular ou hipocelular contendo menos de 30% do espaço medular ocupado por células hematopoiéticas, sendo que o restante da medula é composto apenas de células adiposas. EPIDEMIOLOGIA Há 2 picos nessa doença: o primeiro é entre a segunda e a terceira década de vida, e o segundo pico ocorre em idosos. Há maior incidência em países asiáticos. Não há prevalência por sexo. No Brasil, a incidência anual é de 2,4 casos por milhão. 5 Tutorial 3 – Vitor Benincá Fatores de risco independentes: baixa renda e contato com derivados da sulfonamida. Pode acometer pacientes jovens numa forma grave e com alta letalidade. ETIOLOGIA Pode ser classificada como adquirida ou hereditária. As formas adquiridas podem ser: Em 50% dos casos a anemia aplásica adquirida não tem causa conhecida, sendo chamada de Anemia Aplásica Idiopática. O restante é dividido em: (1) Radiação Ionizante: produção de grandes quantidades de radicais livres derivados de oxigênio, promovendo quebra de cadeias de DNA. Ocorre em acidentes nucleares, radiação de serviços de radiodiagnóstico ou radioterapia. (2) Benzeno e outros produtos químicos (ex: inseticidas): benzeno é um derivado do petróleo e utilizado como solvente. Trabalhadores expostos ao benzeno, geralmente apresentam alterações no hemograma, mas raramente evoluem para anemia aplásica. A principal alteração é: anemia seguida de trombocitopenia. (3) Drogas (cloranfenicol, fenilbutazona e quimioterápicos): pode ocorrer por drogas dose- dependentes ou por doses-independentes (reações inesperadas). No último grupo a droga mais importante é o Cloranfenicol. Alguns ATB também, como estrepto, tetra, ampi, sulfas; além de anti- histamínicos, metildopa e outros... (4) Infecções virais (hepatites), mononucleose infecciosa (Vírus Epstein-Barr), infecção por HIV: O principal é o vírus da hepatite, que é um novo vírus da hepatite (não A, B, C, G). (5) Reação transfusional enxerto vs. Hospedeiro. Pode haver também na gravidez, porém geralmente há regressão espontânea, com o quadro terminando com o fim da gestação, retornando a aplasia nas gestações subsequentes. Mecanismo é um mistério. PATOGÊNESE Ocorre geralmente devido uma lesão da célula tronco Injúria tipo I: aplasia idiopática, anemia de Fanconi, lesão por radiação ionizante, benzeno, cloranfenicol. Injúria tipo II (mais tardia): Outras drogas e infecções virais – acometem os progenitores mais tardios, que já sofreram algum grau de maturação As duas injúrias possuem características autoimunes e dependem de linfócitos T ricos em interferon gama (citocina capaz de induzir a apoptose nas células progenitoras da medula óssea). Anemia de Fanconi: é uma aplasia congênita, ou seja, uma doença genética que se caracteriza por forte “instabilidade genômica”, isto é, o DNA das células é suscetível a quebras e translocações. Além da anemia aplásica, há desenvolvimento de polegares anômalos ou ausentes, baixa estatura (nanismo), manchas café com leite na pele, anomalias renais (rim pélvico), microcefalia, retardo mental. Além de risco aumentado de câncer. A aplasia da medula geralmente se manifesta por volta dos 7 anos de idade. O tratamento é feito com transplante de células tronco hematopoiéticas. Disceratose Congênita: rara síndrome hereditária, caracterizada por anormalidades ungueais, hiperpigmentação, leucoplasia das mucosas e anemia aplásica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Quadro semelhante à de uma leucemia aguda, sendo caracterizado pela tríade: (1) Astenia (2) Hemorragia (3) Febre Os sintomas da anemia dependem, além da sua gravidade, do seu tempo de instalação. A indisposição física, fatigabilidade e o cansaço aos esforços predominam. Suscetibilidade a infecções Sangramento espontâneo ou causado por pequeno trauma é consequência de plaquetopenia. Tipo de sangramento: sangramento gengival, epistaxe (nasal), menorragia, petéquias e equimoses. A febre será secundária à neutropenia, que se associa às infecções bacterianas e fúngicas. Pcte neutropênico é propenso a infecções por bactérias. O exame físico revela: palidez cutâneo mucosa, petéquias na pele ou conjuntivas, equimoses, sangramento gengival ou algum sinal de infecção. NÃO é esperada presença de hepatoesplenomegalia. DIAGNÓSTICO Pancitopenia é a regra. Até o sangue notubo é diferente Anemia geralmente é moderada a grave, podendo ser normocítica ou macrocítica. Plaquetometria pode estar baixa ou muito baixa. Contagem reduzida de leucócitos, variando de 150/mm³ a 1.500/mm³. Há predomínio de linfócitos com queda progressiva de neutrófilos. É considerado neutropenia quando há menos de 1.000/mm³ e neutropenia grave quando há menos de 500/mm³. Calcula-se o número de neutrófilos: % de segmentados + bastões/ número total de leucócitos Esfregaço de sangue: encontro de blastos (indica leucemia aguda), encontro de granulócitos jovens e eritroblastos ou hemácias nucleadas (leucoeritroblastose - indica anemia por ocupação medular). Aspirado da medula: aquoso, hipocelularidade, com predomínio de linfócitos ou ausências de células nucleadas. A confirmação do diagnóstico é feita pela Biopsia da Medula óssea, que irá revelar 30% do espaço medular ocupado por células e o restante por tecido adiposo. Eventualmente, podem ser encontradas algumas ilhas de hematopoiese entremeadas em áreas acelulares. Células predominantes são os linfócitos e mastócitos. TRATAMENTO Os principais determinantes do prognóstico são: idade e contagem de células hematológicas. Aplasia Grave: ocorre quando pelo menos 2 dos seguintes critérios são encontrados: reticulopenia < 20.000 mm³ ou 1% na contagem corrigida/ plaquetas < 20.000 mm³ / neutrófilos < 500/mm³. Aplasia muito grave: neutropenia inferior a 200 mm³ 6 Tutorial 3 – Vitor Benincá (1) Suspensão do fator incriminado como causa da aplasia (ex: suspensão de medicamentos, cessação imediata da exposição ao benzeno, interrupção da gravidez). (2) Terapia de Suporte: Transfusão de hemoderivados conforme necessidade (é de extrema necessidade), tratamento da síndrome de neutropenia febril. Só faz transfusão se realmente necessário, com sintomas graves – porque transfusão pode ativar o sistema imunológico (3) Terapia Definitiva: Transplante de células tronco hematopoiéticas (se a anemia for de grave a muito grave e se o paciente for um potencial candidato para o transplante = paciente jovem com menos de 40 anos e com irmãos). No pós-transplante: ciclosporina + metotrexane. Em pacientes acima de 40 anos, o transplante não está indicado devido ao risco de complicações. Portanto, em pacientes não candidatos ao transplante, faz-se terapia imunossupressora: Globulina antitimócito (ATG) - via endovenosa em infusão lenta - anticorpo que se liga a superfície de linfócitos T humanos, levando a sua destruição + Ciclosporina: imunossupressor de linfócito T. 60-70% tem boa resposta aos imunossupressores
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