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1 Tutorial 8 – Vitor Benincá Grupo de neoplasias originárias do tecido linfoide. Linfomas “nascem” no tecido linfoide e, eventualmente, infiltram a medula óssea e outros tecidos, enquanto as leucemias linfocíticas fazem a rota inversa. É no tecido linfoide onde há as células imunológicas: linfócitos B, linfócitos T, células NK. A maior parte desse tecido encontra-se nos linfonodos, amígdalas, timo e baço. Mas a mucosa do TGI, respiratório, urinário pode contar alguns pontos de tecido linfoide sob a forma de nódulos ou folículos linfáticos. Sendo assim, quando esse tecido se encontra nas mucosas, recebe a denominação de MALT (Mucosa Associated Lymphoid Tissue). A placa de Peyer no íleo é um grande representante do MALT, pois contém numerosos folículos agrupados. O tecido MALT pode aparecer e desaparecer de acordo com o estímulo antigênico (ex: estados inflamatórios crônicos). Sendo assim, qualquer um desses locais pode ser a origem de um linfoma. ARQUITETURA DO TECIDO LINFOIDE LINFONODOS Linfonodos ou gânglios linfáticos são órgãos encapsulados constituídos de tecido linfoide, que se espalham pelo organismo sempre no trajeto de vasos linfáticos. Constituído de uma capa externa (cortical), uma zona intermediária (paracortical), e uma camada medular. Camada Cortical: formada por inúmeros folículos linfáticos, onde se encontra a maior parte dos linfócitos B. Esses linfócitos B são produzidos na medula óssea como “células virgens”. Porém, desde sua formação na medula, esses linfócitos já possuem anticorpos da classe IgM em sua superfície. Os linfócitos B virgens penetram nos linfonodos e se encontram nos folículos primários. Quando há estimulação antigênica, o folículo cresce e modifica os linfócitos B tornando-se folículos secundários. Esses folículos adquirem um centro germinativo e são circundados pela zona do manto. O contato com o antígeno ativa um grupo de linfócitos B que então se transformam em células maiores e proliferativas chamadas de centroblastos que dão origem aos centrócitos que ocuparão o centro germinativo. Na zona no manto permanecerão linfócitos B virgens. Eventualmente, em volta do manto, acumulam-se linfócitos B de memória, que geram a zona marginal. Camada Paracortical: rica em linfócitos T e os fornece para os centros germinativos durante resposta antigênica. Camada Medular: rica em plasmoblastos e plasmócitos e pobre em linfócitos. Composta de cordões medulares e seios medulares que recebem a linfa proveniente de camadas cortical e deságuam nos linfáticos eferentes. Linfa: é o excesso de líquido que se acumula no interstício dos órgãos com várias proteínas, microrganismos e partículas antigênicas. Com a linfa há o contato entre sistema imune e antígenos. A linfa sai do linfonodo rica em linfócitos e plasmócitos sensibilizados. BAÇO O tecido linfoide esplênico constitui a sua “polpa branca”. Existem folículos linfáticos que contém linfócitos B e região parafolicular que contêm linfócitos T. Os folículos esplênicos sempre contêm uma zona marginal de células B de memória. TIMO Órgão linfoide subdivido em lóbulos, cada um contendo uma camada cortical e uma camada medular. O tecido desses lóbulos é basicamente composto de linfócitos T em várias fases de maturação. Na zona medular há predomínio de linfoblastos, linfócitos jovens e células reticulares, e na zona cortical há grande aglomerado de linfócitos T maduros. ANEL DE WALDEYER Formado pelas adenoides, amígdala faríngea, amígdalas palatinas e linguais. São agregados de tecido linfoide subepitelial, dispostos como um anel imaginário no entorno da garganta. TECIDO LINFOIDE DA MUCOSA (MALT) Geralmente responsável pelo primeiro contato do sistema imune com os antígenos externos, sendo rico em células apresentadoras de antígenos, linfócitos T e B de memória. Na mucosa intestinal é chamado de GALT→ formado por nódulos linfáticos dispersos pela lâmina própria e pela placa de Peyer (aglomerado de nódulos linfáticos na mucosa do íleo). Na mucosa brônquica (BALT), nasofaríngea (NALT), vulvovaginal (VALT), urinária, glandular etc. TECIDO LINFOIDE DA PELE A derme contém os linfócitos T cutâneos, sendo que essas células interagem com as células de Langerhaans (apresentadora de antígenos) da epiderme. “O DESTINO DOS LINFÓCITOS” A medula óssea produz e lança na circulação linfócitos B maduros e células pré-T. Estas últimas precisam chegar ao timo para se transformarem em linfócitos T maduros. Sendo assim, a MO e o timo são considerados tecido linfoide primários pois produzem linfócitos virgens, ou seja, células que ainda não tiveram contato antigênico (apesar de já nascerem com receptor específico para determinado antígeno). Os linfócitos virgens viajam pela corrente sanguínea e se assentam nos tecidos linfoides secundários- linfonodos, baço, anel de Waldeyer. Após contato antigênico, eles se transformam em linfócitos B e T de memória e vão para corrente linfática e depois sanguínea. Tutorial 8 Linfomas Não Hodgkin 2 Tutorial 8 – Vitor Benincá EPIDEMIOLOGIA Os linfomas não Hodgkin são os principais representantes das neoplasias linfoides. Há vários padrões histológicos devido a existência de uma vasta gama de tipos de linfócitos e seus diversos graus de diferenciação e maturação. Isso ocorre, pois, cada tipo de LNH se origina de um tipo específico de linfócito em um determinado estágio de diferenciação e maturação. A incidência dos LNH vem aumentando progressivamente nas últimas décadas. Isso ocorreu devido a dois fatores importantes: AIDS e avanço nas técnicas de transplante de órgãos sólidos. Encontrados com maior frequência entre idosos (contradição pois geralmente eles não possuem os fatores de risco acima citados). Pico de incidência: 50-65 anos. Mas pode aparecer em qualquer faixa etária, inclusive em crianças. Ligeira prevalência pelo sexo masculino e pela raça branca. Predomina nos países da Europa, EUA e Austrália. ETIOPATOGENIA Agentes ambientais e anormalidades genéticas herdadas participam nas alterações irreversíveis sofridas por cromossomos que ativam pró-oncogeneses ou inativando antioncogeneses. Associação com infecção pelo vírus Epstein Barr, AIDS. Anormalidades cromossomiais que promovem deficiências imunológicas congênitas na infância também são fatores de risco. Porém, a maioria dos LNH não possui etiologia definida. Mas há alguns fatores que predispõem: AIDS A infecção pelo HIV aumenta o risco de LNH em mais de 100 vezes. Isso está relacionado exclusivamente à imunodepressão na fase da AIDS. O LNH relacionado à AIDS são os linfomas B de alto grau de malignidade predominando os seguintes tipos: Linfoma B difuso de grandes células tipo imunoblástico, Linfoma de Burkitt, Linfoma primário do SNC, Linfoma de cavidades serosas. Os 2 primeiros são responsáveis por 70% dos casos, sendo que o primeiro é o mais comum. A queda dos fatores CD4 é o principal fator de risco. O linfoma primário do SNC é aquele associado aos menores níveis de CD4 (< 50/mm³). Diferente do linfoma de Burkitt que pode ocorrer numa faixa menor de CD4. O Vírus Epstein Barr possui importante papel na patogênese dos linfomas B na AIDS, principalmente no Linfoma do SNC e nas formas sistêmicas de LNH. Esse vírus infecta os linfócitos B estimulando a proliferação dessas células. Em estados de imunodepressão celular, esse vírus pode replicar descontroladamente, permitindo a proliferação desordenada dos linfócitos B e aumentando a chance de formação de um ou mais clones neoplásicos. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS O transplante de órgãos sólidos coloca o indivíduo em risco para desenvolvimento de LNH. Esse risco aumenta de 30-60 vezes em relação à população normal. Isso ocorre principalmente devido ao empregode terapias imunossupressoras prolongadas. Esses linfomas predominam em transplantados cardíacos e coração-pulmão, sendo mais raros após transplante renal. O transplante de medula óssea por exigir um esquema breve de imunossupressão, aumenta muito pouco o risco de LNH. Predomínio de linfomas de linfócitos B de alto ou médio grau de malignidade e quase sempre associada ao vírus Epstein-Barr. Recebem a nomenclatura de “Doença Linfoproliferativa Pós- Transplante”, e podem ser de dois tipos: monomórfico ou polimórfico. DEFICIÊNCIAS IMUNES CONGÊNITAS Principais: ataxia-telangiectasia, Síndrome de Wiskott-Aldrich, Imunodeficiência como variável e Síndrome linfoproliferativa ligada ao cromossomo X (ex: mononucleose infecciosa). AGENTES INFECCIOSOS ESPECÍFICOS Epstein Barr: O vírus tem a capacidade de infectar linfócitos B e células epiteliais da orofaringe e nasofaringe. É o agente da mononucleose infecciosa, causando também hepatite, pneumonite e leucoplaquia pilosa. Os principais linfomas B associados a este vírus são o linfoma de Burkitt (forma endêmica africana) e os linfomas relacionados à AIDS e ao transplante de órgãos. A forma endêmica do linfoma de Burkitt predomina em regiões equatoriais do continente africano, justamente as áreas endêmicas da malária. Sendo assim, acredita-se que a malária crônica promova uma disfunção imune que facilite as alterações sofridas pelos linfócitos infectados pelos vírus. HTLV-I: É o Vírus da Leucemia de Células T humanas do tipo I. É um retrovírus que infecta células T maduras. Como o próprio nome sugere, encontra-se associado com a Leucemia/Linfoma de células T do adulto, um tipo endêmico de neoplasia linfoide no Oriente Asiático (Japão) e regiões do Caribe (ex: Jamaica). Helicobacter pylori: A infecção por H. pylori leva ao aparecimento de tecido linfoide em regiões da mucosa do estômago, predispondo ao linfoma MALT gástrico (tipo mais comum do linfoma MALT). Sua erradicação com a antibioticoterapia é capaz de fazer regredir o linfoma. Vírus Herpes B: Vírus do Sarcoma de Kaposi em pacientes com AIDS e está relacionado ao linfoma de cavidades serosas juntamente com o vírus Epstein-Barr. DOENÇAS AUTOIMUNES Ocorre, pois, levam ao estado de hiperproliferação de linfócitos B. Predispõem ao linfoma B especialmente do tipo MALT. Síndrome de Sjogren: É uma colagenose autoimune que causa infiltração linfocítica nas glândulas lacrimais e salivares do tipo sialoadenite mioepitelial. O linfoma B tem uma incidência 40 vezes maior nesses pacientes. O linfoma é do tipo MALT e surge em glândulas salivares e linfonodos cervicais. Antes do linfoma, alguns pacientes evoluem para um quadro de “pseudolinfoma”, sendo que alguns desses casos irão se transformar em linfomas verdadeiros. Tireoidite de Hashimoto: Quase todos os casos de linfomas tireoidiano são do tipo MALT e estão associados à tireoidite de Hashimoto (doença autoimune linfocítica da tireoide). Outras doenças autoimunes: Há um pequeno aumento da incidência de linfomas B em pacientes com artrite reumatoide, LES, esclerose sistêmica, polimiosite e doença inflamatória intestinal. DOENÇAS INTESTINAIS Doença Celíaca: Também chamada de enteropatia por glúten, que aumenta em cerca de 40 vezes o risco de linfoma intestinal. O linfoma relacionado à enteropatia acomete o jejuno, sendo um linfoma de células T abreviado como EATL. Geralmente se apresenta entre 40-50 anos de idade, muitas vezes após anos de controle clínico de enteropatia. Essa doença ocorre por surgimento de população aberrante de linfócitos T da mucosa intestinal que eventualmente pode se transformar em clones neoplásicos. 3 Tutorial 8 – Vitor Benincá Doença Intestinal Imunoproliferativa: Considerado um linfoma B de baixo grau que infiltra de forma difusa a lâmina própria do duodeno e do jejuno proximal. Mais comum em países do mediterrâneo, recebendo assim o nome de “Linfoma Intestinal Mediterrâneo”. Muito associado às verminoses. EXPOSIÇÃO A FATORES AMBIENTAIS Exposição a herbicidas na agricultura, radiação ionizante, solventes orgânicos e resinas de cabelo aumenta o risco de LNH. Curiosamente o tratamento curativo para linfoma de Hodgkin aumenta em 20x a chance de desenvolver um LNH. CLASSIFICAÇÃO Linfoma de padrão folicular: proliferação de células neoplásicas, no linfonodo, que fica praticamente restrita aos folículos linfáticos. Linfoma de padrão difuso: caracterizado por comprometimento, pelas células tumorais, de toda a arquitetura do gânglio, com perda da estrutura folicular. Atualmente, para classificar os linfomas, leva-se em consideração a morfologia, aspectos clínicos, imunofenotípicos e genéticos. Ocorre classificação por: (1) Comportamento clínico: Indolente vs. Agressivo. (2) Arquitetura histológica do linfonodo: Folicular vs. Difusa (3) Tipo celular: pequenas células clivadas, pequenas células não clivadas, grandes células. (4) Imunofenotipagem (pelos tipos de marcadores de membrana ou citoplasmáticos) (5) Citogenética: translocações, deleções, rearranjos. A classificação a seguir divide os linfomas em neoplasias de células T e NK e linfomas de células B. Porém, vale ressaltar que 85% dos casos de LNH derivam de células B e 15% das células T ou NK. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A grande maioria dos pacientes com linfoma (tanto Hodgkin ou Hodgkin) se apresenta com: Linfadenomegalia periférica não dolorosa. Essa é a manifestação inicial de 2/3 dos pacientes com LNH. Essa adenomegalia predomina nas cadeias cervicais, supraclaviculares ou inguinais. Porém, qualquer cadeia pode ser acometida. Na LNH indolente a linfadenopatia costuma ser insidiosa, com períodos alternados de regressão espontânea e crescimento dos gânglios. Sendo assim, o paciente pode não se dar conta do aumento linfonodal e acaba demorando para procurar auxílio. Já na LNH agressiva, o paciente se apresenta com massas linfonodais de crescimento rápido que é logo percebido. Um linfoma agressivo pode se manifestar em um paciente portador prévio de linfoma indolente – “Transformação neoplásica”. Sintomas B: (1) Febre > 38 graus (2) Sudorese noturna (3) Perda Ponderal superior a 10% nos últimos 6 meses. Nos casos indolentes, os sintomas B estão presentes em apenas 25% dos casos, já nos casos de LNH agressivos são encontrados em 50%. Quanto mais rápido for o crescimento tumoral, maior a chance de aparecerem os sintomas B. Outros sintomas gerais: fadiga, mal-estar, prurido, tosse seca persistente, desconforto torácico e às vezes Síndrome de Compressão da Veia Cava Superior. O acometimento de linfonodos abdominais geralmente é assintomático, mas pode chamar atenção devido à massa palpável ou desconforto abdominal. Todo linfoma pode acometer o baço, porém apenas alguns subtipos cursam com esplenomegalia de grande monta: linfoma B da zona marginal esplênico, linfoma T gama/delta hepatoesplênico. INDICAÇÕES PARA BIÓPSIA • Tamanho superior a 2cm • Localização supraclavicular ou escalênica • Crescimento progressivo • Consistência endurecida, aderido aos planos profundos A biópsia deve ser feita em todo o linfonodo – não apenas em um fragmento – pois o diagnóstico depende da arquitetura histológica. Também é necessário a pesquisa de causas infecciosas: tuberculose, micose profunda, mononucleose, toxoplasmose, CMV, HIV etc. Os linfomas não Hodgkin apresentam padrão de comprometimento ganglionar diferente da doença de Hodgkin. Eles acometem mais o anel de Waldeyer e linfonodos epitrocleares e os abdominais (mesentéricos e retroperitoneais). Já os linfonodos mediastinais são comprometidos apenas em 20% dos pacientes (e 60% em casos de linfoma Hodgkin). ACOMETIMENTO EXTRANODAL O comprometimento extranodal é bem mais frequente nos LNH do que na doençade Hodgkin, ocorrendo na evolução de até 50% dos linfomas, sendo comum nos tipos agressivos e pouco frequente nos tipos indolentes. O trato gastrointestinal e a medula óssea são os sítios mais afetados. Outros locais característicos de acometimento linfomatoso são: pele, fígado, pulmão, nasofaringe, órbita, SNC, meninges, rins, testículos, glândulas salivares, tireoide e ossos da mandíbula. Diversos linfomas também podem ter um órgão extranodal como sítio primário (10-35% dos casos de LNH); neste caso, o trato gastrointestinal é o principal. Os sintomas costumam ser dor crônica, náuseas, vômitos, anorexia, plenitude pós-prandial, diarreia e esteatorreia (dependendo da porção do trato gastrointestinal acometida). Os casos complicados podem cursar com hemorragia digestiva, obstrução intestinal e até perfuração. O acometimento hepático é comum, cursando com hepatomegalia, mas sem sinais de disfunção hepática. Evidência clínica de envolvimento dos rins é registrada em 2-15% dos casos, com aumento do órgão, mas sem insuficiência renal. O linfoma testicular corresponde a 2% dos casos de acometimento extranodal. 4 Tutorial 8 – Vitor Benincá O acometimento cutâneo decorre da presença na derme de infiltrados neoplásicos, traduzindo-se clinicamente por lesões eritematoinfiltradas papulosas, nodulares, em placa, tumores e ulcerações. A meningite linfomatosa (comum no linfoma de Burkitt e no linfoma linfoblástico) manifesta-se como um quadro de meningite crônica/subaguda. Os linfócitos neoplásicos são encontrados na punção liquórica. Os exames laboratoriais podem revelar citopenias (anemia, leucopenia ou trombocitopenia), especialmente quando há acometimento extenso da medula óssea. Pode ocorrer hipercalemia e hiperuricemia. PROGNÓSTICO O prognóstico dos LNH é bastante dependente do tipo histológico, muito mais do que do estadiamento (diferente do Linfoma Hodgkin). “Paradoxo prognóstico dos LNH”: os linfomas indolentes apesar de apresentar uma sobrevida bem maior sem tratamento do que os linfomas agressivos, a cura geralmente não é atingida pela quimioterapia, enquanto nos agressivos pode ser curada. Sendo assim, é possível perceber que a curva de sobrevida com o tratamento dos linfomas indolentes e agressivos se encontram em torno dos 6 anos, período em que geralmente começa a morrer pacientes com LNH indolente e a cura pelo LNH agressivo. Além do tipo histológico, há outros fatores que promovem mau prognóstico: (1) Idade > 60 anos (2) LDH elevado (3) status performance >2 (estimativa do estado geral do paciente oncológico). (4) Estágio Clínico Ann Harbor III ou IV (5) Acometimento extranodal > 1 Cada item de mau prognóstico soma 1 ponto, sendo que o escore varia, portanto de 1-5. Esse é o chamado escore de IPI, que tem sido utilizado para os LNH agressivos. Em linfomas B folicular indolente utiliza-se escore semelhante, mas trocando o status performance e o acometimento extranodal pelos níveis de hemoglobina e pelo número de sítios linfonodais acometidos- FLIPI. TIPOS ESPECÍFICOS DE LINFOMAS NÃO HODGKIN Os linfomas B constituem 85% de todos os LNH, sendo neoplasias originárias dos linfócitos B. Durante o seu ciclo de vida, as células B sofrem diversas transformações e, portanto, sucessivos estágios de maturação, sendo que cada um pode dar origem a um linfoma diferente. Clinicamente os linfomas são divididos em 3 grupos: (1) Linfomas Indolentes (protótipo é o linfoma folicular) (2) Linfomas Agressivos (protótipo é o linfoma difuso de grandes células) (3) Linfomas altamente agressivos (Linfoma de Burkitt e Linfoma Linfoblástico). O linfoma mais comum: Linfoma difuso de grandes células B (representa 30% de todos os linfomas), seguido do linfoma folicular. Linfomas B indolentes LINFOMA FOLICULAR DE CÉLULAS B Segundo LNH mais comum, após o difuso de grandes células B. Corresponde a 70% dos casos de linfomas indolentes. É derivado dos linfócitos B dos centros germinativos, que já tiveram contato antigênico e encontram-se em fase de transformação. A idade média de apresentação é de 60 anos, com um ligeiro predomínio no sexo feminino. Linfadenomegalia de início insidioso, predominando nos linfonodos cervicais, supraclaviculares, axilares e inguinais. Períodos de regressão espontânea intercalados com crescimento linfonodal são a regra nesses linfoma. Linfomas B Indolentes Linfomas B Agressivos Linfomas B Altamente Agressivos 5 Tutorial 8 – Vitor Benincá O baço e o fígado são acometidos em quase metade dos casos, com hepatoesplenomegalia difusa. A medula óssea está envolvida em 60-70% dos casos. 2/3 dos pacientes já encontram em estágio III ou IV por ser indolente. Os sintomas B são relatados em apenas 20% dos casos, bem como a elevação do LDH sérico. Sobrevida média (nos estágios III ou IV) oscila entre 5-10 anos. A terapia não influi muito no prognóstico e deve ser reservada para os poucos casos de doença localizada (terapia curativa) ou na presença de sintomas ou complicações (terapia paliativa), como dor, obstrução linfática (ex.: linfedema) ou compressão orgânica (ex.: intestinal, ureteral). A grande maioria dos casos não tem cura e virtualmente todos morrem do próprio linfoma. Muitos pacientes com linfoma folicular indolente, após alguns anos, sofrem uma complicação clássica da doença: a transformação em um linfoma B agressivo, geralmente um linfoma difuso de grandes células. O curso clínico então muda para linfadenopatia de crescimento rápido, sintomas B e infiltração de órgãos extranodais (além do fígado e medula óssea). A transformação ocorre numa média de 5-10% ao ano. LINFOMA LINFOCÍTICO PEQUENO É a forma linfomatosa da Leucemia Linfocítica crônica (LLC). Portanto, é derivado de um subgrupo de linfócitos B maduros “virgens” recirculantes, sem competência imunogênica (anérgicos) e carreando na superfície anticorpos autorreativos. Esses linfócitos não se convertem em plasmócitos. A idade média deste linfoma é semelhante à da LLC (por volta dos 65 anos). Linfadenopatia generalizada de longa data, associada ou não à hepatoesplenomegalia. Os sintomas B são relatados em menos de 30% no momento do diagnóstico Por ser o mais indolente dos linfomas sistêmicos, o paciente demora para procurar atendimento médico. O resultado é que 80% dos casos são encontrados no estágio IV, com 70% de extensão para a medula óssea, com infiltração maciça. Um número significativo de pacientes evolui com transformação para um linfoma difuso de grandes células B, uma grave complicação que recebe o nome de síndrome de Richter. O paciente apresenta grandes massas linfonodais de crescimento rápido, sintomas B e sobrevida de alguns meses. LINFOMA LINFOPLASMÁTICO É exatamente a mesma doença da macroglobulinemia de Waldenström Acomete frequentemente a medula óssea, o baço e o fígado. A linfadenopatia é generalizada e a evolução é bem insidiosa. A idade média de apresentação é de 63 anos. Mais de 70% dos casos apresentam-se em estágio IV. LINFOMA B DA ZONA MARGINAL NODAL Raro proveniente dos linfócitos B de memória da zona marginal dos linfonodos. Histologia: presença de folículos linfáticos com uma zona do manto e uma zona marginal proeminentes. Idade média de apresentação é de 55 anos. Manifesta-se com linfadenopatia generalizada e segue um curso bastante indolente, com sobrevida média superior a 12 anos. LINFOMA B DA ZONA MARGINAL ESPLÊNICO Derivado dos linfócitos B de memória da zona marginal da polpa branca do baço. O infiltrado linfomatoso também atinge a polpa vermelha. O paciente possui geralmente uma esplenomegalia (algumas vezes de grande monta), na ausência de linfadenopatia, a não ser nos linfonodos do hilo esplênico e pancitopenia (em ¼ dos casos). A queixa inicial costuma ser dorou desconforto abdominal, associado ou não os sintomas B. Cerca de 90% dos casos encontram-se no estágio IV, devido ao acometimento do fígado e da medula óssea. Existe uma forte associação com o vírus da hepatite C, que é implicado na patogênese deste linfoma em alguns pacientes. A sobrevida média é superior a dez anos e o tratamento de escolha é a esplenectomia, frequentemente seguida de remissão da doença. Não tem boa resposta à quimioterapia, mas o rituximab tem mostrado boas taxas de resposta em casos refratários. LINFOMA MALT Grande importância clínica, pois é um linfoma indolente primário das mucosas. Corresponde a 5% dos LNH, o gástrico é o mais comum. O linfoma MALT geralmente surge como complicação de algumas doenças inflamatórias benignas. Tais patologias estimulam a formação de tecido linfoide na mucosa do órgão acometido, predispondo ao linfoma MALT deste mesmo órgão. Exemplo de linfomas MALT: Linfoma MALT gástrico, linfoma tireoidiano, linfoma na síndrome de Sjögren. Linfomas B Agressivos LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B Corresponde a mais de 90% dos casos de linfomas agressivos e a 30% de todos os LNH. É derivado dos linfócitos B em transformação blástica dos centros germinativos, que já tiveram contato antigênico. Estas células são representadas pelos centroblastos A idade média de apresentação é de 64 anos, mas pode ser visto numa ampla faixa etária entre 40-70 anos, com um ligeiro predomínio no sexo masculino. A doença se manifesta geralmente com uma massa linfonodal de crescimento rápido na região cervical ou no abdome. Em 40% dos casos, a apresentação é extranodal, com preferência pelo trato gastrointestinal. Os sintomas B são relatados na apresentação em 30-40% dos casos e o LDH está elevado em metade dos pacientes. Por ser agressivo, os pacientes procuram médico precocemente. A maioria é diagnosticado localizados (estágio I e II). A MO está infiltrada em apenas 10-20% dos casos. A disseminação para o SNC (incluindo meninges) é mais comum quando há acometimento medular ou extranodal. O linfoma B difuso de grandes células possui algumas variantes: (1) linfoma imunoblástico; (2) forma anaplásica; (3) forma mediastinal primária; (4) forma rica em células T/histiócitos; (5) granulomatose linfomatoide; (6) linfoma B intravascular Linfomas B Altamente Agressivos LINFOMA DE BURKITT É o segundo linfoma mais comum na infância, correspondendo a 30% dos casos e perdendo apenas para o Linfoma Linfobástico de células Pré-T. É um linfoma bastante raro em adultos (menos de 1%), exceto em pacientes HIV positivos, onde se torna o segundo mais comum (perdendo apenas para o linfoma imunoblástico). É derivado de uma população de linfócitos B do centro germinativo e que já foram submetidos à ativação antigênica. 6 Tutorial 8 – Vitor Benincá Existem 3 formas de linfomas de Burkitt sobre o ponto de vista epidemiológico e etiopatogênico: (1) Forma esporádica (2) Forma endêmica africana (3) Forma em pacientes HIV positivos Em todas essas formas, o linfoma possui um comportamento altamente agressivo com crescimento tumoral muito rápido com acometimento extranodal. Mas com chance razoável de cura pela poliquimioterapia. FORMA ESPORÁDICA Forma mais comum nos EUA e na Europa e no Brasil. Idade Média de apresentação aos 11 anos, sendo mais comum no sexo masculino. Pacientes geralmente apresentam doença extranodal abdominal com acometimento do TGI especialmente a região ileocecal. Manifestações: dor abdominal, ascite, massa abdominal palpável, anorexia, náuseas, vômitos, alteração do hábito intestinal, sangramentos e perfurações. Pode acometer também os rins (massa renal), SNC, MO e gônadas (testículos e ovários). Sintomas B não são uma manifestação comum. Associação com o vírus Epstein-Barr é discreta e controversa. FORMA ENDÊMICA AFRICANA Típica da África equatorial, na zona do cinturão da malária. Forte associação com infecção pelo vírus Epstein-Barr (encontrado em 95% dos casos). Idade média: 7 anos com predomínio no sexo masculino. Manifestações: massa mandibular ou facial, disseminando-se posteriormente para órgãos internos como mesentério, MO, SNC, rins e gônadas. Sintomas B são incomuns. FORMA NO PACIENTE HIV POSITIVO Manifesta-se como a forma esporádica (manifestação abdominal, SNC), mas também com linfadenopatia e maior frequência de sintomas B. Associado ao vírus Epstein-Barr. Todas as formas de linfomas de Burkitt evoluem com massas de crescimento rápido, sintomáticas e com manifestações compressivas e LDH elevado. A resposta à poliquimioterapia costuma ser dramática e a chance de cura é de 60%. Histopatológico: padrão difuso de infiltração linfocítica com pequenas células não clivadas. Aspecto clássico em “céu estrelado” justificado pela presença de macrófagos esparsos que acabaram de ingerir fragmentos de células apoptóticas. Imunofenotipagem: marcador CD21 encontrado na forma endêmica. Citogenética: translocações envolvendo oncogêneses são detectadas em 90% dos casos. TRATAMENTO Linfomas indolentes apresentam sobrevida relativamente longa, mas em geral não são curáveis e costumam ser os responsáveis diretos pela morte do paciente. Já os linfomas agressivos apresentam sobrevida curta na ausência de tratamento, porém este é efetivamente capaz de curar boa parte dos casos. Sendo assim, a terapia dos linfomas indolentes e geral é indicada apenas na vigência de sintomas (com intuito paliativo e não curativo). Já a terapia dos linfomas agressivos deve ser precoce e intensa, tendo como objetivo erradicar por completo todas as células neoplásicas. TRATAMENTO DE LINFOMAS INDOLENTES Em pacientes diagnosticados em fases precoces: radioterapia direcionada pode levar à cura. Porém, cerca de 85% das vezes o diagnóstico só é feito quando a doença já se encontra disseminada (em geral com envolvimento da MO), sendo essa uma situação incurável. Sendo assim a conduta é com expectante. Só se indica terapias específicas para os linfomas indolentes em estágio avançado quando surgem sintomas decorrentes da doença (sintoma B, linfadenopatia volumosa, organomegalia maciça, citopenias e doença em transformação). Nesses casos, usa-se: Rituximab em monoterapia ou em conjunto com esquemas quimioterápicos. Pacientes com a doença mais agressiva podem ser encaminhados para o transplante alogênico de células tronco hematopoiéticas Linfomas MALT do estômago podem desaparecer após erradicação do H. pylori com antibióticos + IBP. TRATAMENTO DE LINFOMAS AGRESSIVOS O tratamento nestes casos deve ser precoce e intenso, com o objetivo da cura. Faz-se uso intenso de quimioterápicos, sendo que para cada subtipo desses linfomas, há um tratamento diferente. 1. Linfoma difuso de grandes células B → radioimunoquimioterapia + transplante autólogo de células- tronco hematopoiéticas se recidiva. 2. Linfoma de células do manto → imunoquimioterapia intensiva seguida de transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas 3. Linfoma primário do SNC → altas doses de metotrexate + rituximab pela via IV. 4. Linfoma de Burkitt e linfoma linfoblástico → mesmo esquema da LLA + profilaxia do SNC 5. Linfoma de células T agressivos → esquema CHOP 6. Linfoma/Leucemia de células T associado ao HTLV-1 → interferon-alfa e zidovudina Linfomas T/Células NK 7 Tutorial 8 – Vitor Benincá Foi inicialmente descrita em 1832 por Thomas Hodgkin, ao analisar a autópsia de 7 pacientes com aumento importante de cadeias linfonodais e do baço. Em 1898 foi descrita a célula gigante que é característica da doença que recebeu o nome de Células de Reed-Sternberg (RS). Hoje em dia sabe-se que essa Célula é o clone neoplásico da doença e que é derivado de linfócitos B do centro germinativodo linfonodo, embora seus marcadores de imunofenotipagem não sejam marcadores linfocíticos. Ou seja, o linfoma de Hodgkin é um linfoma B. Pico de maior incidência: 20-30 anos (primeiro pico) e 50-60 anos (segundo pico). Leve predomínio no sexo masculino. Possui alta chance de cura com terapêutica. PATOGÊNESE A célula de Reed-Sternberg é uma célula grande de citoplasma abundante e com o núcleo bilobulado e proeminentes nucléolos eosinofílicos. Em volta dela há acúmulo de diversas outras células, especialmente linfócitos T, mas também eosinófilos, plasmócitos, histiócitos, neutrófilos. Essas células NÃO são neoplásicas, são reativas. A doença de Hodgkin é uma das poucas neoplasias em que a célula tumoral representa minoria na população celular. Importante: para diagnóstico do linfoma Hodgkin, é necessário encontrar células Reed-Sternberg num adequado “plano de fundo” com linfócitos, plasmócitos e eosinófilos. Isso ocorre, pois, células idênticas podem ser encontradas nos linfócitos de pacientes com linfomas Não Hodgkin. Sendo assim, é falso afirmar que a Célula Reed- Sternberg é patognomônica do Linfoma Hodgkin. A célula de Reed-Sternberg do linfoma de Hodgkin clássico possui 2 marcadores cuja presença confirma o diagnóstico: CD15 e CD30. Segundo a OMS, o Linfoma de Hodgkin é classificado em 2 tipos diferentes quanto à imunofenotipagem: (1) LH Clássico: com marcadores CD15 e CD30 positivos. Subdivididos em 4 subtipos (esclerose nodular, celularidade mista, rico em linfócitos, depleção linfocitária). (2) LH com predomínio linfocitário: com marcadores de linfócitos B (CD20) O tipo esclerose nodular é o mais comum (65%) e manifesta-se inicialmente com adenopatia cervical e/ou mediastinal assintomática. O tipo celularidade mista é o segundo mais comum, sendo típico de adultos do sexo masculino. Os sintomas B são mais frequentes e o estágio ao diagnóstico costuma ser mais avançado em relação à esclerose nodular. Associado ao vírus Epstein-Barr e é o subtipo mais comum em pacientes HIV positivos com AIDS. O tipo Rico em Linfócitos está presente em uma minoria, mas é o tipo histológico de melhor prognóstico. O tipo depleção Linfocitária: menos comum e de pior prognóstico com doença progressiva e rapidamente fatal. Possui acometimento hepático, esplênico, retroperitoneal e da MO. Mais comum e idosos ou em pacientes HIV positivos com AIDS e associados ao vírus Epstein-Barr. LH com predomínio linfocitário: caracterizado pela presença de inúmeros linfócitos de “pano de fundo”, contendo eventuais células RS. Aspecto de ‘células em pipoca’. Geralmente apresenta bom prognóstico, com doença localizada (estágio I) à apresentação e comportamento indolente. Origem das células RS: tipo especial de linfoma B, no qual o clone neoplásico sofreu mutações que levaram à perda dos marcadores de superfície dos linfócitos B APESENTAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL Manifestação mais frequente: adenomegalia. Os linfonodos acometidos geralmente são móveis e de consistência elástica, porém maiores que 1,5-2 cm e persistentes. Eventualmente estão endurecidos pela fibrose associada. Cadeias mais comumente acometidas: cervical e supraclavicular. Mas qualquer sítio de linfonodos pode estar envolvido. Os linfonodos mediastinais podem atingir grandes dimensões e provocar colapso de lobos do pulmão (Atelectasia compressiva). Ao contrário dos linfomas não Hodgkin, a distribuição do acometimento linfonodal se faz de maneira centrípeta, portanto raramente se observa aumento de linfonodos epitrocleares. Além disso, o padrão de disseminação é diferente: disseminação por contiguidade, ou seja, os linfonodos são acometidos a partir de cadeias adjacentes com a seguinte evolução de disseminação: cervicais → supraclaviculares → mediastinais/hilares → abdominais superiores/baço → abdominais inferiores → inguinais → hematogênica. A esplenomegalia está presente em 10-15% dos casos diagnosticados. Mas geralmente não está acometido histopatologicamente. Acometimento extranodal: pode ocorrer em qualquer lugar, mas é menos comum do que nos linfomas não Hodgkin. Os órgãos mais acometidos são: fígado, MO e pulmões. Presença de sintomas B: febre, sudorese noturna e perda ponderal maior que 10% do peso. A febre não tem comportamento definido, mas muitas vezes pode se apresentar como a febre de Pel-Ebstein : dias de febre alta alternando com dias sem febre. Bastante sugestiva desse linfoma. O aparecimento de sintomas B pode ser explicado pela liberação de mediadores inflamatórios, tanto pelas células neoplásicas como pelo sistema imunológico do paciente por reação à neoplasia, principalmente pela liberação de IL-1 e TNF-alfa (promove perda de peso). Outros sintomas clássicos: prurido, dor nos linfonodos desencadeada pela ingestão de bebidas alcóolicas. LABORATÓRIO Discreta anemia normocítica normocrômica, leve leucocitose, linfopenia, monocitose, eosinofilia e trombocitose. A eosinofilia é um achado frequente, principalmente naqueles que manifestam prurido. Linfomas De Hodgkin 8 Tutorial 8 – Vitor Benincá DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO O diagnóstico é feito pelo histopatológico dos linfonodos acometidos. Deve-se escolher o melhor linfonodo a ser biopsiado, sendo que este deve ser totalmente extirpado. O encontro de células RS cercadas por um pano de fundo correto confirma o diagnóstico. Porém, em casos duvidosos, faz-se a imuno-histoquímica, que irá revelar o padrão CD15 e CD30. Faz-se então o estadiamento da doença, baseado na anamnese, exame físico, biópsia linfonodal, exames de imagem e na biopsia de medula óssea bilateral. 2/3 dos pacientes com DH recém diagnosticada apresentam evidências radiográficas de envolvimento intratorácico. Sendo assim, uma massa mediastinal “Bulky” é definida como aquela que ocupa mais de 30% do diâmetro torácico ou aquela com mais de 5-10 cm no seu maior eixo. Pacientes com grandes massas mediastinais têm risco aumentado de recaídas após tratamento radioterápico. A laparotomia exploradora para diagnóstico de linfoma, embora seja o exame padrão ouro utilizado para estadiamento no passado, tem sido raramente indicada atualmente, por ser um procedimento invasivo. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO A maioria dos pacientes com LH é diagnosticada no estágio II, principalmente em IIA, sendo na maioria assintomáticos. Esses pacientes descobrem a doença ao perceberem o crescimento de um “caroço” cervical ou pelo achado de aumento do mediastino no RX de tórax. A chance de cura nesses pacientes é de 80-90%. Além disso, há enorme chance de cura para estágio I e II e uma chance de 60% de cura no estágio mais grave da doença (IV). Principais tratamentos: quimioterapia e radioterapia. As células neoplásicas desse tumor são extremamente quimiossensíveis e radiossensíveis, Pode haver transplante autólogo de células hematopoiéticas, mas é apenas para casos de recidiva à quimioterapia pela segunda linha de tratamento. RADIOTERAPIA Foi o primeiro tratamento eficaz no LH. Quando usada isoladamente, a radioterapia precisa envolver todos os sítios e possíveis sítios envolvidos na doença usando doses altas de radiação. Com a terapia combinada pode-se irradiar apenas áreas envolvidas na doença e com doses menores. Efeitos adversos: boca seca, alteração do paladar, faringite, náusea, tosse seca, dermatite. Tardiamente pode haver o Sinal de Lhermitte – sensação de choque irradiando pelas costas e membros inferiores após a flexão da cabeça, pneumonite e pericardite. Efeitos tardios: hipotireoidismo, infertilidade, neoplasias secundárias- carcinoma de pulmão, carcinoma de mama. QUIMIOTERAPIA Esquema ABVD, sendo um esquema pouco mielotóxico. Adriamicina (doxorrubicina) Bleomicina Vinblastina Dacarbazina Recomendaçõesde acordo com o estágio Estágio I e II (“doença precoce”) → dividida em pacientes com prognóstico favorável e prognóstico desfavorável (de acordo com a idade, ausência de sintomas B, ausência de doença volumosa, VHS, cadeias acometidas etc.). É de acordo com o prognóstico onde se vê a quantidade de ciclos de ABVD necessários: 2 ciclos de ABVD + radioterapia em pacientes com prognóstico favorável Estágio III e IV (doença avançada”), ou Estágio precoce com prognóstico “desfavorável” → 6 ciclos de ABVD + radioterapia Tratamento de Recidiva → Aparecem dentro dos primeiros 3 anos, sendo que a cintilografia com gálio ou a PET são excelentes exames para detectar recidivas ou doença residual. Quando volta no 1 ano: resgate com ABVD. Se não responder: transplante autólogo. O tratamento da recidiva após o transplante autólogo agora tem sido feito com brentuximab vedotin, apresentando excelentes taxas de resposta. 9 Tutorial 8 – Vitor Benincá Condição em que os nódulos linfáticos ficam em tamanho, consistência ou número anormais. A etiologia é muitas vezes incerta, mas há algumas causas esperadas: infecções, distúrbios malignos do sistema imune e outras neoplasias (carcinoma de mama, pulmão, melanoma), doenças de depósito, endocrinopatias (hipertireoidismo, tireoidite) e diversas (sarcoidose, amiloidose etc). Infecções por bactérias, micobactérias, fungos, clamídias, parasitas e vírus são as principais causas de aumento de linfonodos. A linfadenopatia disseminada pode ser vista em vários casos de infecção por vários organismos: toxoplasma, vírus Epstein Barr, CMV, HIV. Distúrbios malignos do sistema imune: artrite reumatóide, LES. A linfadenopatia como manifestação inicial é a regra para doença de Hodgkin e para o linfoma não Hodgkin CAUSAS MAIS COMUNS DE LINFADENOPATIA EM ADULTOS Infecção inexplicada Infecção (mononucleose, HIV, artrite reumatoide, faringite). Neoplasias (leucemias, linfomas, carcinomas). AVALIAÇÃO DO LINFONODO Inclui histórico clínico cuidadoso, exame físico completo, testes laboratoriais, estudo diagnóstico por imagens para determinar extensão e o caráter da linfadenopatia. O exame físico permite identificação de linfadenopatia localizada vs. Disseminada. Os locais particulares de envolvimento podem ser dicas importantes para o diagnóstico, considerando que é provável que infecções e carcinomas causem linfadenopatia na drenagem linfática do local do distúrbio Em geral, linfonodos dolorosos tem mais probabilidade de serem devido processos infecciosos, enquanto a adenopatia indolor aumenta a preocupação de malignidade. Consistência: tipicamente linfonodos acometidos por carcinoma metastático possuem consistência pétrea, e os linfonodos acometidos por linfoma são firmes e elásticos, e os linfonodos aumentados em resposta a processo infeccioso são macios. Quanto maior o tamanho do linfonodo, maior a probabilidade de haver causa séria subjacente. Linfonodos maiores de 3-4 cm são preocupantes. ABORDAGEM DO PACIENTE COM LINFADENOPATIA A maioria dos pacientes chega com queixa de “caroço” no pescoço, na axila ou na virilha. A linfadenopatia também pode ser achado inesperado de exames físicos de rotina Quando os nódulos forem múltiplos ou maiores que 2-3 cm: biópsia. Linfonodos muito grandes ou muito firmes na presença de sintomas sistêmicos, febre inexplicada, sudorese ou perda de peso: biópsia Quando o linfonodo é macio e não maior que 2-3 cm e o paciente não apresenta doenças sistêmicas óbvias: observação. Se o linfonodo não regredir ao longo de algumas semanas, ou se ele aumentar de tamanho: biopsia. Esses medicamentos têm como alvo as células em diferentes fases do processo de formação, ou seja, do ciclo celular. As células cancerígenas tendem a formar novas células rapidamente, mais do que as normais, e por isso são um bom alvo dos quimioterápicos. Podem ser agrupados de acordo com sua estrutura química e como agem com outros medicamentos. AGENTES ALQUILANTES: impedem a célula de reproduzir danificando o seu DNA, e agem em todas as fases do ciclo celular. Usados para câncer de pulmão, de mama, de ovário, leucemia, linfoma, LH, mieloma múltiplo e sarcoma. Em casos raros podem levar a leucemia, pois podem afetar as células da MO, e esse risco é dosedependente. Exemplos: ciclofosfamida, altretamina, busulfan, dacarbazina, melfalano, cisplatina etc. ANTIMETABÓLITOS: interferem no DNA e no RNA substituindo os nucleotídeos normais da estrutura, e assim provocam danos durante a fase que os cromossomos são copiados. Usados no câncer de mama, de ovários e de canceres do TGI. Exemplos: citarabina, capecitabina, metotrexato, hidroxiureia, gemcitabina, 5-FU, 6-mercaptopurina etc. ANTIBIÓTICOS ANTITUMORAIS: não são como os ATB pra infecções, eles alteram os DNA dentro das células cancerígenas pra evitar que elas cresçam e se multipliquem. São as antraciclinas, interferindo nas enzimas envolvidas na cópia do DNA durante o ciclo celular. Exemplos: daunorrubicina, doxorrubicina, epirrubicina, idarrubicina. INIBIDORES DA TOPOISOMERASE: interferem nas enzimas topoisomerases, que separam os filamentos de DNA pra que possam ser copiados, são usados pra tratar leucemias, câncer de pulmão, ovário e tumores do TGI. Inibidores da topoisomerase I = topotecano, irinotecano. Inibidores da topoisomersa se II = etoposido, teniposido, mitoxantrona. Aumentam risco de LMA INIBIDORES MITÓTICOS: compostos derivados de produtos naturais, como plantas, agem impedindo as células de se dividirem para formar novas células, mas podem danificar as células em todas as fases ao impedirem que as enzimas produzem as proteínas necessárias para a reprodução celular. Usados para câncer de mama, de pulmão, mieloma múltiplo, linfomas e leucemias. Podem provocar problemas neurológicos, por isso a dose é limitada. Exemplos: docetaxel, estramustina, ixabepilona, vimblastina etc. CORTICOESTERÓIDES: hormônios uteis nos tratamento de muitos câncer, bem como outras doenças. Podem ser usados também para prevenir reações alérgicas na quimioterapia, e previnem náuseas e vômitos provocados por essa terapia. Exemplos: prednisona, metilprednisolona e dexametasona. Linfadenopatias Quimioterápicos
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