Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Tutorial 9 – Vitor Benincá É o processo fisiológico encarregado de parar o sangramento e iniciar o reparo dos tecidos Descrita em duas etapas que ocorrem ao mesmo tempo no organismo: (1) Hemostasia primária: função de estancar o sangramento com a formação de tampão plaquetário (2) Hemostasia secundária: função de evitar ressangramento com a formação de rede adesiva de fibrina (coágulo). Para isso ocorrer é necessário equilíbrio entre estímulos pró- coagulantes, anticoagulantes e fibrinolíticos. A cascata de coagulação é responsável pela ativação de sistemas anticoagulantes e fibrinolíticos para controlar o coágulo. PLAQUETAS São fragmentos celulares anucleados que vêm dos megacariócitos na MO. Fazem parte da linhagem mieloide que foram estimuladas pela trombopoietina produzida pelo fígado e pela MO. Endomitose: processo de maturação dos megacariócitos, onde o DNA genômico é replicado várias vezes sem que haja divisão celular. Sendo assim, o núcleo do megacariócito fica GIGANTE e o citoplasma repleto de grânulos destinados a plaquetas. Vida média de uma plaqueta livre: 7-10 dias. As plaquetas podem estar em duas fases: repouso e ativada. As plaquetas em repouso têm formato discoide com superfície pontuada por múltiplos buracos que tem como função o escape para exocitose dos grânulos intracelulares, constituir reserva interna de membranas e armazenar receptores de agregação plaquetária. No citoplasma das plaquetas há 3 tipos de grânulos: (1) Grânulos alfa: contêm proteínas (fator de Von Willebrand, fibronectina, vitronectina e fibrinogênio), participantes da cascata de coagulação, fatores de crescimento. (2) Grânulos densos: armazenam agonistas da ativação plaquetária e do sistema de coagulação: ADP e Ca. (3) Lisossomos As plaquetas possuem em seu citoesqueleto filamentos de actina, espectrina e miosina, para poder formar o tampão plaquetário. Essa rede proteica contrátil está ancorada na membrana da plaqueta por meio da Integrina. A integrina serve de ponto entre o citoesqueleto → matriz extracelular onde há o receptor do fator de Von Willebrand (ou Glicopoteína Ib). A ligação da matriz extracelular, fator de Von e o receptor do fator estabiliza o tampão plaquetário. Fator de Von Willebrand: As plaquetas circulantes têm que se agarrar com força ao colágeno subendotelial que fica exposto na parede do vaso lesado. E mesmo sua superfície tendo receptores de colágeno, não há tensão suficiente para resistir ao fluxo sanguíneo. Portanto há a participação do Fator de Von Willebrand – que promove a interligação entre o colágeno e o fator de Von Willerbrand e o seu receptor de membrana – GP Ib. Isso ocorre pois quando o Fator se liga ao receptor há alinhamento das fibras de actina na direção da força exercida pelo sangue. A miosina também permite certo grau de contratilidade ao citoesqueleto, gerando elasticidade do trombo plaquetário. HEMOSTASIA PRIMÁRIA Para a adequada formação do tampão hemostático requer 3 componentes da função plaquetária: adesão, ativação e agregação. ADESÃO PLAQUETÁRIA A adesão plaquetária ocorre quando há uma lesão tecidual, ou seja, os vasos sanguíneos são rompidos, expondo a chamada “matriz endotelial”, que é uma complexa rede de fibras proteicas (Glicoproteínas), sendo a principal delas o Colágeno. Proteínas como a GP Ia/IIa e a GP VI são responsáveis pelo início da adesão plaquetária ao se juntas com o colágeno. Porém, ela só será aderida de fator quando houver o acoplamento da proteína de Von Willebrand ao seu receptor: GP Ib. Sendo que apenas a primeira ligação da GP Ia/IIa com o colágeno não é o suficiente para fixar o trombo de plaquetas Sendo assim: Primeira ligação- GP Ia/IIa com colágeno. Segunda ligação- GP Ib/ com fator de Von Willebrand. ATIVAÇÃO PLAQUETÁRIA São estimulados pelos agonistas plaquetários: colágeno, epinefrina e trombina. Isso ocorre, pois essas substâncias regurgitam conteúdos de seus grânulos citoplasmáticos e o excesso de membrana do sistema canalicular aberto, aumentam a superfície de contato e expõe receptores de adesão e agregação que antes estavam no interior da célula. Esses grânulos contribuem para a ativação de novas plaquetas. Há liberação de serotonina que promove vasoconstrição local para redução de sangramento. Outros grânulos promovem substâncias que aumentam a adesão plaquetária enquanto outras participam da ativação da cascata de coagulação. Essa estimulação pelos agonistas também induz a síntese de Tromboxano A2 (derivado do ácido araquidônico). Isso amplifica a ativação plaquetária recrutando plaquetas. O processo de ativação plaquetária irá participar diretamente da ativação da cascata de coagulação devido a exposição do fosfolipídio plaquetário ou Fator III na membrana do trombócito. Isso faz com que as demais enzimas da cascata de coagulação sejam ativadas, gerando uma rede de fibrina em torno do trombo e aumentando a estabilidade e coesão. Medicamento que atua nessa etapa: AAS e Clopidogrel. AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA A formação de um trombo firme, bem aderido e com várias camadas compactadas de plaquetas consegue estancar o sangramento quase que imediatamente. Tutorial 9 2 Tutorial 9 – Vitor Benincá A agregação é um fenômeno mediado pela glicoproteína IIb/IIIa, a qual utiliza moléculas de fibrinogênio como pontes para se ligar a um receptor na superfície da plaqueta vizinha. Antes do processo de inativação, as moléculas de GP IIb/IIIa são incapazes de ligar fibrinogênio. A ativação plaquetária promove alterações conformacional de receptores, que irão interagir firmemente com o fibrinogênio permitindo agregação plaquetária. Alguns medicamentos atuam diretamente nessa etapa, sendo que eles têm por objetivo diminuir a formação de trombos (usados principalmente em pacientes cardiopatas): Acbiximab. HEMOSTASIA SECUNDÁRIA O sistema de coagulação é um conjunto de proteínas plasmáticas que são inicialmente inativas -Zimogênio- e ativam-se umas às outras numa sequência determinada. Sendo assim, até mesmo pequenos estímulos pró-coagulantes resultam na produção de uma quantidade maciça de fibrina. Trombo vermelho: rede plaquetária com acúmulo de hemácias e leucócitos (predomínio na circulação venosa). Trombo branco: composto exclusivamente de plaquetas (pouca fibrina) – circulação arterial. Todos os fatores de coagulação são sintetizados no fígado. Sendo que alguns desses fatores necessitam de algumas substâncias para funcionarem adequadamente (ex: fatores dependentes de vitamina K – fatores II, VII, IX, X). A vitamina K é necessária para a carboxilação dos resíduos de ácido glutâmico dessas moléculas. Inicialmente a cascata é ativada devido ao fosfolipídeo que ativa os fatores de coagulação que possuem resíduos carboxilados, formando assim enzimas que são imprescindíveis para a cascata de coagulação: Tenase (ativador do fator X) e Protombinase (ativador de protombina). REAÇÃO DA CASCATA DE COAGULAÇÃO Há duas maneiras de coagulação, as quais: Via Intrínseca (ou sistema de contato) e Via Extrínseca. A via intrínseca (parte do XII) é mais lenta, maior e mais potente A via extrínseca (parte do VII) é mais rápida, menor e menos potente. VIA INTRÍNSECA Desencadeada pelo CONTATO do sangue com uma superfície que tenha cargas elétricas negativas Exame que avalia ela: Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada- PTTa ou TTpa. A CAPM ativa o fator XII que irá converter a precalicreína (PK) em calicreína (K). A calicreína aumenta a formação do Fator XII. Esse fator XII ativado irá ativar o Fator XI que por sua vez ativa o fator IX. O fator IX por sua vez, E COM A PRESENÇA DE CÁLCIO IONIZADO E DO FATOR VIIIa → ativa fator X Produto final: Fator Xa. VIA EXTRÍNSECA Iniciada com a expressão dofator tecidual, que está localizado nas células subendoteliais e entra em contato com o sangue caso haja lesão do endotélio. Exame que avalia: Tempo de Atividade da Protombina- TAP Nessa via inicia com o Fator VII que se liga ao TF na presença de cálcio ionizado ativando o VIIa. O Fator VIIa ativa o fator X → Xa com ajuda do cálcio. Após isso, ambas as vias irão convergir para uma “via final comum” a partir do momento em que o fator X é ativado: O fator Xa irá se ligar ao fosfolipídeo plaquetário para converter o Fator II (Protombina) → Trombina (Fator IIa), na presença de cálcio ionizado e do fator Va. A trombina, por sua vez, transforma o Fibrinogênio (fator I) em monômeros de fibrina que logo irão se combinar e formar polímeros. A trombina também ativa fatores V, VIII, XIII, além de ser um potente ativador plaquetário. O fator XIIIa irá estabilizar as ligações de fibrina. Na coagulação, porém, geralmente utiliza-se mais a via extrínseca, sendo pouco provável que a via intrínseca seja necessária para a coagulação, pois pacientes que apresentam deficiências congênitas de fator XII não apresentam distúrbios hemorrágicos, apesar de terem o PTT alterado. Deficiências hereditárias do fator VII e do fator IX causam Hemofilias (A e B). Isso é possível pois o fator VIIa (da via extrínseca) TAMBÉM pode ativar o fator IX que por sua vez ativa o fator X na presença do fator VIIIa. 3 Tutorial 9 – Vitor Benincá CÉLULAS ENDOTELIAIS É uma monocamada de células na interface entre o sangue e os tecidos, a qual é dotada das mais diversas propriedades, incluindo a regulação da trombogênese. O endotélio integro mantém a fluidez do sangue, bloqueado os 3 passos da hemostasia primária, além de conseguir bloquear a cascata de coagulação. INIBIÇÃO DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA O endotélio produz Óxido Nítrico e Prostaciclina, sendo ambos de meia vida curta, não se afastando muito das proximidades de onde são secretados. Quando a plaqueta se aproxima do vaso ela entra em contato com esses inibidores e ficam irresponsivas à maioria dos agonistas que aumentam sua adesão. Além disso, na membrana luminal do endotélio há o receptor que funciona como ADPase, transformando o ADP na molécula de Adenosina (um dos maiores inibidores da função plaquetária). INIBIÇÃO DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA 5 substâncias secretadas pelo endotélio “cortam” as vias de coagulação: 1. Trombomodulina: ativa a Proteína C que degrada fatores VIIIa e Va. 2. Proteína C: também presente na membrana plasmática e degrada fator VIIIa 3. Proteína S: é um cofator da proteína C, mas pode inativar fatores como Va, VIIIa e Xa. 4. Moléculas de Heparan-sulfato: ativa Antitrombina III circulante, acelerando a hidrólise de fatores dependentes da vitamina K (2, 7, 9 e 10) 5. Inibidor da Via de Fator Tecidual. ESTÍMULO A FIBRINÓLISE Formas de “estresse”: exercício, hipóxia, acidose promovem liberação de Tpa (ativador tecidual do plasminogênio) pelas células endoteliais saudáveis que irão transformar plasminogênio → plasmina (principal agente fibrinolítico endógeno). É feito então uma fibrinólise extremamente seletiva: apenas onde houver coágulo. O plasminogênio que circula livre no plasma não é ativado, pois o tPA tem muito mais afinidade pelo complexo plasminogênio-fibrina. Isso permite uma fibrinólise extremamente seletiva: apenas onde houver coágulo! Após cumprir sua missão, a plasmina é inativada pela alfa-2-antiplasmina, que circula normalmente no plasma. O endotélio lesado é pró-coagulante. Seu mau funcionamento implica perda de todos os mecanismos antitrombos. Contudo, a estrutura universalmente responsável pela adesão e ativação primária das plaquetas é a matriz subendotelial. O principal constituinte envolvido nas reações hemostáticas é o colágeno, mas também há fibronectina, vitronectina e laminina. Também há participação de citocinas, como o TNF-alfa e IL-1 que reduzem os níveis de trombomodulina na superfície plasmática e “forçam” a síntese do fator tecidual (normalmente não encontrado no endotélio). Endotoxinas bacterianas (ex.: LPS, ou lipopolissacarídeo) induzem as células endoteliais a aumentarem a síntese de PAI-1 (inibidor do ativador de plasminogênio). O PAI-1 inibe diretamente o tPA, justificando um “autobloqueio” na capacidade fibrinolítica, o que vira a balança para o lado da trombose Hipercoagulobilidade pela diminuição nos níveis de proteína S. Existem duas formas de proteína S: livre e ligada ao C4b. Este último é um reagente de fase aguda, logo, seu nível sérico aumenta durante a resposta inflamatória. Assim, a concentração da livre cai. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO QUANDO SUSPEITAR DE DISTÚRBIO HEREDITÁRIO? Os distúrbios hereditários da hemostasia geralmente se manifestam na infância, mas eventualmente podem aparecer pela primeira vez na fase adulta. Os distúrbios mais graves, como a hemofilia A, geralmente se manifestam assim que a criança começa a deambular longe dos pais (3-4 anos), tornando-se mais suscetível ao trauma. Os distúrbios mais brandos, como a doença de von Willebrand, podem passar despercebidos até a realização de uma extração dentária, de uma amigdalectomia ou outras cirurgias. A história familiar pode ajudar se for positiva. Mas se for negativa não exclui os distúrbios hereditários da hemostasia. QUANDO SUSPEITAR DE DISTÚRBIO ADQUIRIDO? Geralmente vêm acompanhados dos outros sinais e sintomas da doença de base ou pela história de uso recente de algum medicamento. A coagulação intravascular disseminada normalmente se associa à sepse ou às gestações complicadas. O hepatopata com distúrbio da coagulação apresenta sinais de insuficiência hepática e hipertensão porta. A Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI) idiopática é o principal distúrbio idiopático adquirido da hemostasia. PROBLEMA DE HEMOSTASIA PRIMÁRIA X SECUNDÁRIA Defeitos na Hemostasia Primária: associado às plaquetas e predomina na pele e mucosas. Os sinais e sintomas mais frequentes são: gengivorragia, epistaxe, menorragia (se for mulher), hematúria, petéquias e equimoses (particularmente em tronco e de grande tamanho). Petéquias e equimoses são tipos de Púrpura, as quais são definidas como uma mancha cutânea por extravasamento de hemácias por pequenos vasos. Petéquias: manchas puntiformes decorrentes de hemorragias capilares na derme. Geralmente ocorre em grupo e predomina nas regiões de gravidade- membros inferiores, nádegas- ou quando submetidas a pressão- cintura. A púrpura pode ocorrer em doenças vasculares, vasculopatias hereditárias. Outra característica dos distúrbios plaquetários: persistência do sangramento após cortes superficiais, já que o defeito, nesse caso, ocorre na hemostasia primária. Sendo assim, o sangramento persiste em pequenas quantidades por longo tempo, mas pode ser controlado por tamponamento mecânico. Defeito na Hemostasia Secundária: Predomina em órgãos e tecidos internos. Sinais: hemartrose, Hematoma dissecante profundo, hematomas musculares, retroperitoneais e em órgãos internos. Hematoma: “coleção de sangue” podendo gerar efeito compressivo do tipo pseudotumor. Hemartrose: ocorre preferencialmente nas hemofilias. É o acúmulo de sangue em articulações. Nesse caso há cessação imediata do sangramento, mas depois de algumas horas há recidiva com sangramento de grande monta e de difícil controle. Paciente com plaquetopenia intensa (abaixo de 10.000 cels/mL) pode desenvolver distúrbios de hemostasia secundário devido à falta de Fosfolipídeo plaquetário, não ativando assim a cascata de coagulação. 4 Tutorial 9 – Vitor Benincá Chamadas também (erroneamente) de “Coagulograma”. São de extrema importância para avaliação de desordens hemostáticas. Principais provas: contagem plaquetária, índices Plaquetários, Tempode Retração do Coágulo, PTTa, Tempo de Trombina, Dosagem do fibrinogênio plasmático. CONTAGEM PLAQUETÁRIA E ÍNDICES PLAQUETÁRIOS Contagem normal de plaquetas: 150.000-450.000/mm³. (contagem manual pelo esfregaço ou pelo aparelho Coulter). Índices: VPM (volume plaquetário médio): 3-12 fL. O seu aumento sugere destruição periférica das plaquetas, sendo que o estímulo aos megacariócitos da medula leva à liberação de plaquetas maiores – megatrombócitos. PDW (índice de ansiocitose plaquetário) TEMPO DE SANGRAMENTO (TS) Tempo necessário para que um pequeno corte superficial na pele pare de sangrar. Geralmente feito pelo Teste de Duke: lanceta padronizada no lobo auricular com uma incisão, ou no antebraço (Teste de Ivy). O TS depende da hemostasia primária, mas também da integridade vascular cutânea. Valor normal: 3-7 minutos. Porém, o método apresenta várias variáveis não sendo bom parâmetro pré-operatório, sendo valorizado apenas na investigação de distúrbios de hemostasia. Um TS muito alargado (> 10 min) diante de plaquetometria normal sugere: Doença de Von Willebrand ou Distúrbio na função plaquetária hereditário ou adquirido. TEMPO DE RETRAÇÃO DO COÁGULO Encontra-se aumentado na trombocitopenia com plaquetas inferiores a 50.000/mm³. Tempo normal: 1-3h. Reduzido em casos de hiperfibrinólise. TEMPO DE COAGULAÇAO (TC) Também chamado de Teste de Lee-White. É o tempo necessário para que o sangue coagule dentro de um tubo de ensaio à temperatura da nossa mão (36-37 graus). Valor normal: 5-10 minutos. No sangue circulante NÃO há fator tecidual, portanto, a coagulação é ativada apenas pela via intrínseca através do contato com o vidro do tubo. A TC estará elevada quando há deficiência grave de algum fator da via intrínseca. TEMPO DE TROMBOPLASTINA PARCIAL ATIVADO (PTTA) Teste feito no plasma descalcificado pelo uso de quelante citrato. Adiciona-se o fator plaquetário 3 (fosforolipídeo) contando o tempo a partir da adição de cálcio ionizado. Como nesse caso também NÃO há fator tecidual, o processo de coagulação é iniciado pela via intrínseca. Valor normal: 25-25 segundos. O resultado do PTTa é dado em termos de relação entre o tempo do paciente e o tempo de controle (ex: controle 30s e paciente 60s= PTTa igual a 2). PTTa está alargado nas coagulopatias da via intrínseca ou via comum, geralmente quando há deficiência moderada ou grave de apenas um fator ou atividade leve a moderada de vários fatores). Condições que elevam esse tempo: heparina não fracionada, deficiência do fator VIII (hemofilia A), deficiência do fator IX (hemofilia B) etc. TEMPO DE PROTROMBINA (TP OU TAP) Também é feito no plasma descalcificado pelo uso de citrato. A diferença em relação ao PPT é a adição de um extrato de tecido animal que contêm fosfolipídio plaquetário (fator tecidual). Esse extrato é chamado de “Tromboplastina Completa”. Ao se adiciona o cálcio ionizado a coagulação permite verificar a via extrínseca. Valor normal de 10-13s. O resultado do TP é dado em termos de relação entre o tempo do paciente e o tempo controle e pela Atividade de Protombina. (ex: controle 12s e paciente 16s= 1.5 de TAP e a atividade de protombina será 50%). Para essa relação com a % há tabelas específicas. Elevado em coagulopatias da via extrínseca, geralmente quando a deficiência é moderada ou grave. Condições que elevam: uso de cumarínicos (varfarina), deficiência de vitamina K, insuficiência hepática, deficiência no fator VII, deficiência no fator X. A anticoagulação por cumarínicos é ideal com um INR em 2, e possui risco de hemorragia com o INR acima de 3,5. TEMPO DE TROMBINA E DOSAGEM DO FIBRINOGÊNIO PLAQUETÁRIO O TT é feito adicionando-se trombina humana a uma amostra de plasma, onde a trombina converte o fibrinogênio → fibrina formando o coágulo. Tempo normal: 5-15s. Após 60s o coágulo deve se encontrar sólido e aderido à parede. Quando isso não ocorre: afibrogenia. Principal exemplo: CIVD- coagulação intravascular disseminada. Valor normal do fibrinogênio: 100 mg/dL. Inicialmente usa-se a contagem de plaquetas, tempo de sangramento, TAP, PTTa (as duas primeiras medem hemostasia primária e as 2 secundas medem hemostasia secundária). PTTa aumentado e TP normal: problema está na via intrínseca. PTTa normal e TP aumentado: problema está na via extrínseca. PTTa e TP aumentados: problema está na via comum. PTTa e TP normais: hipóteses para a Doença de Von Willebrand, hiperfibrinólise, deficiência de fator XIII, disfibrogenemia. 5 Tutorial 9 – Vitor Benincá Podem ser classificados com: (1) Dosagens numéricas (Trombocitopenia e Trombocitose). (2) Desordens da função plaquetária. A trombocitopenia é a causa mais comum de sangramentos por diátese hemorrágica adquirida. Trombocitopenia Pode haver trombocitopenia por 5 mecanismos distintos: 1. Pseudotrombocitopenia 2. Destruição periférica acelerada 3. Diminuição da produção pela MO 4. Trombopoiese ineficaz 5. Distribuição anormal → maior sequestro esplênico. PSEUDOTROMBOCITOPENIA Também chamado de trombocitopenia artefatual. É uma falsa baixa contagem de plaquetas pelo aparelho de automação. Os principais são: formação de clumps plaquetários, decorrente de anticoagulantes ou de aglutininas plaquetárias, satelitismo plaquetário e as plaquetas gigantes. Observa-se falsa diminuição de plaquetas na presença de paraproteinemias. Confirmada com a contagem manual de plaquetas no esfregaço do sangue periférico. DESTRUIÇÃO ACELERADA Causa mais comum de trombocitopenia. Ocorre devido ao aumento do consumo ou a destruição de plaquetas, estimula a trombopoiese → aumento no número, tamanho e taxa de maturação dos percursores megacariocíticos. Quando a taxa de destruição plaquetária excede o mecanismo de compensação, há a plaquetopenia. Geralmente ocorrem pelos mecanismos imunes: Púrpura trombocitopênica imune idiopática (PTI), púrpura trombocitopênica imune relacionada a LES ou ao HIV, púrpura trombocitopênica imune induzida por drogas e trombocitopenia ocasionada por infecções. Mecanismos não imunes: PTT, Síndrome Hemolítico urêmica (SHU), coagulação intravascular disseminada (CIVD). Nessas desordens, as plaquetas são consumidas em trombos intravasculares e em superfícies endoteliais danificadas. DIMINUIÇÃO DE SUA PRODUÇÃO PELA MEDULA ÓSSEA Distúrbios que provocam lesão de células-tronco, gerando anemia e/ou granulocitopenia associadas (ex: anemia aplásica, mielodisplasias, leucemia). TROMBOPOIESE INEFICAZ Ocorre por problemas de maturação nuclear (síntese de DNA): anemia megaloblástica. DISTRIBUIÇÃO ANORMAL Aumento do baço, doenças infiltrativas (leucemia mieloide crônica) que podem levar a um maior sequestro de plaquetas nos cordões esplênicos. Pode ocorrer também em trombocitopenia dilucional, que é observada durante transfusão maciça de concentrado de hemácias. Ocorre quando o paciente recebe mais de 8-10 unidades de sangue em 24h. Púrpura Trombocitopênica idiopática Plaquetas destruídas precocemente na circulação como resultado de autoanticorpos ou imunocomplexos que estão presentes na superfície de sua membrana. Essas plaquetas são opsonizadas por anticorpos IgG, sendo reconhecidas e destruídas pelos histiócitos ou macrófagos do sistema reticuloendotelial. Quando os anticorpos são formados a partir de uma desordem: PTI secundária (plaquetopenia de LES, infecção pelo HIV). Na Púrpura idiopática nenhuma condição subjacente é identificada. Anticorpos direcionados contra → Glicoproteína IIb/IIIa. Vida média das plaquetas nesse caso: 7-10 dias para algumas horas. Isso gera expansão da massa megacariocítica na MO na tentativa de compensar. Há 2 formas da doença: Aguda (presente em crianças)e Crônica (adultos). Forma Infantil (aguda): presença de trombocitopenia em um período inferior a 6 meses. Resolução espontânea em cerca de 90% dos casos. Pico de incidência entre 2-6 anos. Cerca de 75% dos casos, a trombocitopenia ocorre 2-3 semanas após uma infecção viral respiratória ou exantemática e menos comumente à vacinação. As manifestações de sangramento grave NÃO são comuns na PTI infantil. Forma do Adulto (crônica): Doença relativamente comum que afeta mais o sexo feminino na faixa etária dos 20-40 anos. Início insidioso com história de sintomas hemorrágicos de gravidade variável. Não se observa antecedentes de infecções. Nessa forma, ocorre episódios de sangramento de duração de alguns dias e têm caráter intermitente ou cíclico. Remissão espontânea é rara. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A gravidade da hemorragia está relacionada com a contagem de plaquetas. Pacientes com níveis entre 10.000-30.000/mm³: manifestações hemorrágicas de gravidade variável. Pacientes com plaquemetria inferior a 10.000/mm³: sangramento que põem risco à vida. Petéquias que surgem em áreas de estase vascular – membros inferiores (principalmente tornozelos), locais de constrição a cintos apertados e meias. Equimoses na região dorsal e nas coxas. 6 Tutorial 9 – Vitor Benincá Hematomas NÃO ocorrem. Sangramento gengiva e bolhas hemorrágicas. Epistaxe Sangramento menstrual excessivo (pode ser o primeiro indicativo da doença). Sangramento de trato urinário (rim, bexiga, uretra). Sangramento intestinal (melena). Sangramento do SNC: hemorragia subaracnoide. Sangramentos de retina e hemorragia subconjuntival. DIAGNÓSTICO Diagnóstico de exclusão. Considerado em pacientes com trombocitopenia inferior a 50.000/mm³ e com esfregaço periférico demonstrando número reduzido de plaquetas, ausência de esquizócitos, blastos etc. Além de ausência de causas secundárias (LES, LLC, HIV). Aspirado de medula óssea: realizado para afastar leucemias e miodisplasias. Medula óssea normal ou levemente hiperplásica no setor megacariócito. Achados laboratoriais: plaquetas com volume aumentado e PDW aumentado (ansiocitose). Hemograma geralmente normal, mas pode mostrar anemia e leucocitose. TRATAMENTO A PTI infantil é aguda e autolimitada havendo recuperação espontânea da plaquetopenia em 4-6 semanas. Crianças com plaquetometria abaixo de 30.000/mm³ que apresentam sangramento mucoso devem ser tratadas com prednisona por 2-4 semanas. A PTI adulta, por ser geralmente crônica, exige tratamento. Tratamento feito em pacientes com valores inferiores a 20.000/mm³ ou níveis abaixo de 50.000/mm³. Sendo que o tratamento inicial é Prednisona. A remissão completa nesses casos é quando a contagem de plaquetas for maior ou igual a 100.000/mm³ durante 6 meses. Pacientes refratários a esse tratamento: esplenectomia. Essa esplenectomia pode ser: eletiva (recomendada para pacientes que recaem durante diminuição da dose de corticoides e naqueles com contagem inferior a 20.000-30.000/mm³) ou de Urgência (indicada em pacientes com trombocitopenia grave que não respondem a terapia de corticoide nas 6 primeiras semanas. Imunoglobulina Venosa e Anti-D (RhoGAM): pode ser empregada na forma aguda em sangramentos incoercíveis ou em pré- operatórios. É a terapia de melhor eficácia a curto prazo, com início rápido do efeito. Tratamento da PTI refratária: definida como presença de trombocitopenia <50.000/mm³ por mais de 3 meses apesar da esplenectomia. Tratados inicialmente com “pulsos de dexametadona + prednisona. Rituximab ou até mesmo a quimioterapia com o esquema CVM A transfusão de plaquetas NÃO está indicada pois as plaquetas transfundidas serão rapidamente destruídas pelos anticorpos. Mas pode ser feita em casos graves e sintomáticos. Púrpura Trombocitopênica idiopática Secundária Induzida por drogas: Quinidina, Heparina. Ampicilina, metildopa, digitálicos, AAS, paracetamol, ranitidina, procainamida etc. A trombocitopenia induzida por heparina ocorre em 5-10% dos casos entre 5-15 dias de após o início da heparinização e geralmente cursa com contagem plaquetária entre 50.000- 100.000/mm³ voltando ao normal após pouco dias de suspensão da droga. Manifestações clínicas: hemorragias graves- sangramento e bolhas hemorrágicas em membranas mucosas, petéquias e equimoses. Tratamento: suspensão da droga. Trombocitose Gestacional: contagem de plaquetas entre 100.000- 150.000/mm³. Associada também a trombocitopenia neonatal. PTI do LES: 5-15% dos pacientes com PTI preenchem critérios diagnósticos para LES. PTI nas infecções pelo HIV: ocorre em 40% dos pacientes infectados devido a destruição imune plaquetária. O PTI é o primeiro sintoma da infecção pelo HIV. O tratamento de escolha é a AZT (zidovudina). Evitar corticoides. Outras causas: LLC, tireoidites, infecções diversas (vírus Epstein- Barr, parvovírus B19, vírus da caxumba e rubéola,malária, leptospirose, sepse). Púrpura Trombocitopênica Trombótica Representa o grupo de microangiopatias trombóticas difusas. Caracterizada pela oclusão trombótica disseminada da microcirculação, levando a Síndrome da Anemia Hemolítica Microangiopática, trombocitopenia, sintomas neurológicos, febre, insuficiência renal. Mais comum em mulheres, e na faixa etária de 20-40 anos. FISIOPATOLOGIA Ocorre injúria endotelial. Sob estímulos ainda desconhecidos (acha que são infecções ou toxinas), as células do endotélio liberam substância que ativam plaquetas (principalmente os múltimeros do fator de Von Willebrand de maior tamanho). Estes, por sua vez, são capazes de induzir aglutinação plaquetária (principalmente na presença de fatores patológicos pró-agregantes como a Calpaína). Isso irá formar microtrombos nas arteríolas terminais e na rede capilar, sendo constituído na sua maioria por plaquetas e pelo fator de Von Willebrand com pequenas quantidades de fibrina. Isso gera Depósitos Hialinos Subendoteliais, que resultam da incorporação do trombo plaquetário à parede vascular. Esses microtrombos irão promover isquemia de múltiplos órgãos, consumo de plaquetas, lise de hemácias com formação dos esquizócitos (fragmentos de hemácia). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Definida pela pêntade (encontrada em 40% dos pacientes): (1) Anemia Hemolítica (2) Trombocitopenia (3) Sintomas neurológicos (4) Febre (5) Insuficiência Renal 7 Tutorial 9 – Vitor Benincá Os primeiro sintomas geralmente são mal-estar, fraqueza seguido de quadro neurológico (cefaleia, paralisia de pares cranianos, afasia, hemiparestesia, confusão mental, torpor, coma e crise convulsiva). Ao exame físico: petéquias e equimoses, mucosas descoradas e ligeiramente ictéricas. LABORATÓRIO Anemia, leucocitose neutrofílica moderada com algum desvio à esquerda, trombocitopenia (< 50.000/mm³). Critérios de hemólise: reticulose acentuada, policromatofilia, aumento do LDH, elevação da bilirrubina indireta, queda da haptoglobina. Hemólise intravascular, sendo comum a hemoglobinúria e a hemossiderinúria. Esfregaço sanguíneo: esquizócitos (fragmentos de hemácia) TP e PTTa normais Sedimento urinário: hematúria e proteinúria. DIAGNÓSTICO Confirmado pela biópsia (pele, gengiva MO). Achado característico: Depósitos Hialinos Subendoteliais. TRATAMENTO Plasmaferese: aumenta sobrevida, diminui manifestações neurológicas. Faz-se a retirada dos múltiplos Fatores de Von de alto peso, de fatores pró-agregantes e de imunocomplexos circulantes. Retira-se diariamente todo o plasma do paciente trocando-o por unidades de plasma fresco congelado. Essa troca deve continuar até a completa estabilização do paciente e normalização de exames laboratoriais. (média de 10 dias) Transfusão diária de plasma fresco congelado até conseguir fazer a plasmaferese. A transfusão de plaquetasé CONTRAINDICADA na PTT pelo risco de aumentar a formação de microtrombos. Pacientes em recidiva: novo curso de plasmaferese com terapia alternativa: plasmaferese com criossupernadante, vincristina e esplenectomia. Púrpura De Henoch-Schonlein Vasculite que acomete pequenos vasos (arteríolas, capilares e vênulas). Apresentação da doença com manifestações cutâneas exuberantes, com presença de púrpuras palpáveis em membros inferiores e nádegas. Caracteriza-se pela deposição tecidual de Imunocomplexos contendo IgA (sendo que sua patologia é similar a nefropatia por Iga – Doença de Berger). Na pele, as vênulas capilares são as mais comprometidas, gerando venilite leucocitoclástica. Mais comum em crianças (80-90% dos casos) na faixa etária entre 2-8 anos. Representa cerca de 15% de todas as glomerulopatias na infância. Muitos casos são seguidos de infecções virais de vias aéreas superiores. Quando acomete adultos, a evolução da doença é mais grave (principalmente o acometimento renal). Manifestações clínicas: (1) Rash purpúrico ou petequial (predominante em membros inferiores e nádegas) (2) Artrite ou artralgia (caráter migratório e não deformante- principalmente joelhos e tornozelos) (3) Dor Abdominal (quando a vasculite acomete tubo digestivo) (4) Glomerulonefrite aguda O sedimento urinário revela: proteinúria, hematúria microscópica com cilindros hemáticos, creatinina plasmática normal ou discretamente elevada. Hemofilias Distúrbios da coagulação de caráter hereditário ligado ao sexo (cromossomo X), sendo, portanto, quase exclusivo do sexo masculino. O defeito consiste em uma ativação muito baixa de Fator VIII (Hemofilia A) ou do fator IX (Hemofilia B). O gene que codificam a síntese desses 2 fatores estão localizados no braço longo do cromossomo X. A incidência da hemofilia A é em torno de 1 a cada 10.000 nascidos do sexo masculino, sendo a incidência da hemofilia B muito menor. História familiar positiva encontrada em 65% dos casos. As mulheres da família podem conter o gene da hemofilia em um dos seus cromossomos X, sendo que se tiver um filho homem, a chance de ele ser hemofílico é de 50%. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da hemofilia A e B são indistinguíveis. A maior parte dos pacientes com hemofilia A (70%) possui a forma grave da doença com uma atividade do fator VIII menor que 1% do normal. O restante se divide em forma moderada. Na hemofilia B a forma grave corresponde a 20-45% dos casos. Geralmente as manifestações clínicas da forma grave ocorre por volta dos 2-4 anos de idade, quando a criança começa a deambular → aparecimento de Hemartroses. A hemartrose se caracteriza como uma monoartrite de grandes articulações, sendo que a articulação mais acometida é o joelho seguida do cotovelo, tornozelo e quadril. Provoca edema e dor intensa. A articulação encontra-se inflamada, semifletida, com eritema e apresenta difícil mobilização. Geralmente a reposição do fator de coagulação e o repouso articular ajudam a reabsorção do sangue na cavidade. A punção do espaço articular NÃO deve ser puncionada devido a riscos de infecção. Sangramentos recorrentes podem levar a dano na cartilagem articular, podendo causar deformidades articular permanente. A RM é o exame de eleição para avaliar possíveis alterações. 8 Tutorial 9 – Vitor Benincá Outras manifestações: hematomas intramusculares que podem comprimir nervos periféricos e provocar síndrome compartimental, hematomas retroperitoneais, hematomas no psoas, sangramento gastrointestinal e geniturinário, hemorragia intracraniana (segunda causa de morte em pacientes hemofílicos, só perdendo para a SIDA), há também o hematoma orofaríngeo que pode levar a obstrução de vias aéreas altas. Pseudotumores: hematomas que evoluíram com uma cápsula fibrosa levando a destruição óssea e fratura. DIAGNÓSTICO Revela distúrbio da via intrínseca: PTTa alargado O tempo de coagulação também pode estar alterado. Diagnóstico confirmado pelo ensaio específico de fatores VIII e IX para diferenciar as hemofilias (terapia diferente) TRATAMENTO HEMOFILIA A Fator VIII purificado e Fator VIII recombinante. Esses fatores são feitos a partir de plasma, que passa por uma série de técnicas inativadoras do vírus para não gerar infecções (hepatite, HIV). A reposição desses fatores está indicada sempre que houver hemorragia no preparo pré e pós-operatório. Terapia adjuvante: em casos de hemorragia branda- DDAVP- que aumenta a atividade do fator. Além de agentes antifibrinolíticos – maior atividade nas mucosas, impede sangramento. HEMOFILIA B Reposição de fator IX purificado e do fator IX recombinante Doença de Von Willebrand É um distúrbio hereditário e que na verdade é um distúrbio de hemostasia primária (adesão plaquetária) e não propriamente uma coagulopatia. A doença de Von Willebrand (DvWB) é a desordem hemorrágica hereditária mais comum, afetando 1% da população. O Fator de Von Willebrand é uma glicoproteína que apresenta vários multímeros de diversos pesos moleculares. Os seus níveis plasmáticos estão em torno de 1mg/dL. Esse fator, sintetizado pelo endotélio e pelos megacariócitos é o responsável pela adesividade plaquetária ao colágeno do subendotélio em sítios de lesão vascular. Outra função: formar um complexo com o fator VIII, funcionando como uma proteína de transporte e impedindo que este seja rapidamente depurado na circulação de proteases. O distúrbio afeta a adesão plaquetária. Geralmente é um distúrbio do tipo brando, manifestando-se apenas pelo aumento da hemorragia imediatamente após procedimentos invasivos (ex: extração dentária). Já a depleção do fator VIII ocorre pelo aumento de sua degradação enzimática, mas não a ponto de causar hemorragia por distúrbio da hemostasia secundária. FISIOPATOLOGIA A desordem é herdada quase sempre com padrão autossômico dominante, ou seja: a história familiar é geralmente positiva. Há 3 tipos da DvWB, sendo que as mais comuns são a do tipos 1 e do tipo 2 (1) DvWB tipo 1: responsável por 80% dos casos, havendo redução leve a moderada nos níveis plasmáticos do fator. (2) DvWB tipo 2: níveis plasmáticos são normais, porém há um defeito qualitativo do fator ou no tamanho dos multímeros. Dividida em Tipo 2A (apresenta deficiência dos multímeros de peso alto e intermediário) e Tipo 2B (somente multímeros de peso molecular alto e intermediário encontram-se deficientes simplesmente por terem adesão exagerada às plaquetas- isso resulta em formação de agregados plaquetários que rapidamente são depurados no plasma). (3) DvWB tipo 3: Muito raro. Ocorre ausência quase que total do FvW, com atividade do fator VIII muito baixa no sangue. Manifesta-se semelhante a hemofilia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E LABORATÓRIO A maioria dos pacientes irá se apresentar com manifestações de forma leve – sem hemorragia espontânea. A suspeita vem quando o indivíduo apresenta sangramento imediato após trauma ou processos invasivos (extração dentária). Em casos moderados há manifestação de equimoses (que surgem após diminutos traumas), sangramentos em mucosas, sangramentos intestinais. Há diminuição da atividade do fator VIII, mas não ocorrem manifestações típicas das desordens da coagulação (hemartrose, sangramento para cavidades, tensões etc.). Achados laboratoriais (tríade): (1) Tempo de sangramento prolongado (2) PTTa prolongado (pela deficiência parcial secundária do fator VIII) (3) Demais provas de hemostasia normais. A deficiência do fator VIII só é sintomática quando a atividade é menor que 5% Porém o TS e o PTTa também podem estar normais devido a flutuação na atividade do FvWB. Sendo assim, a DvWB pode cursar com todas as provas de hemostasia normais. DIAGNÓSTICOMedida da atividade do FvWB pelo Teste de Ristocetina Medida do antígeno do FvWB por métodos sorológicos (ELISA) TRATAMENTO Evitar drogas antiplaquetárias (AAS) Tipo 1 (mais comum): profilaxia de sangramento operatório com DDAVP (desmopressina) – agente que aumenta a síntese endotelial de FvWB. Porém, a terapia mais eficaz para a DvWB independe do tipo e é a reposição de concentrados ricos no FvWB (Crioprecipitado é um componente rico desse fator, mas possui risco de transmissão infecciosa na transfusão). Esses concentrados são prescritos para o controle de hemorragias durante o trauma ou no peroperatório. Para procedimentos dentários em pacientes com a forma branda da doença, faz-se profilaxia com antibibrinolíticos 9 Tutorial 9 – Vitor Benincá Coagulação intravascular Disseminada Grave desordem adquirida da hemostasia, relacionada a doença não menos graves: sepse bacteriana, complicações obstétricas, neoplasias malignas, politrauma, grande queimado, hemólise intravascular aguda. PATOGÊNESE A liberação ou exposição do fator tecidual é o principal fator de gênese dessa síndrome. A coagulação será exacerbada a ponto de levar à formação de fibrina em vários pontos da microvasculatura, consumindo plaquetas, fatores de coagulação, destruindo hemácias e obstruindo pequenos vasos. Microtrombos constituídos principalmente de FIBRINA. Ao mesmo tempo que se forma, a fibrina é degradada pelo sistema fibrinolítico endógeno que se encontra ativado. De todos os fatores, o mais depletado é o Fibrinogênio que pode chegar a valores indetectáveis. Em decorrência da hiperfibrinólise, há aumento dos produtos de degradação de fibrina (D-dímero) que podem ser dosados no plasma. O D-dímero só é liberado pela degradação direta dos polímeros de fibrina e não dos monômeros ou do fibrinogênio. Ou seja, aparece quando a fibrinólise é resultado da formação prévia de trombos. Há 2 formas de CIVD: (1) Forma Aguda: relacionada a sepse, trauma, complicações obstétricas, LMA. Manifestação com muito sangramento. (2) Forma Crônico: relacionados a tumores sólidos de fator tecidual. Manifestações são repetidas tromboses DIAGNÓSTICO Deve ser suspeitado em qualquer paciente grave, com fatores de risco, que se apresenta com hemorragia cutaneomucosa, gastrointestinal, pulmonar, cerebral etc. Critérios que definem o diagnóstico são: 1. Hipofibrinogenemia (<70-100mg/dL) 2. Aumento dos PDF, especialmente o D-dímero 3. Alargamento do PTTa, do TP e do TT (tempo de trombina) 4. Trombocitopenia 5. Anemia hemolítica com esquizócitos Em conjunto com a hemorragia, esses pacientes fazem microtombrose difusa, levando a IRA, disfunção hepática, depressão do sensório e grangrena de dígitos. TRATAMENTO O prognóstico dessa doença não é bom, já que ele reflete a presença de uma doença de base. Grande taxa de mortalidade, principalmente em casos de sepse. Pacientes com critério laboratorial para CIVD mas sem sangramento ou trombose: não necessitam de terapia específica. Reposição de plaquetas (se contagem < 50.000/mm³), plasma fresco congelado e crioprecipitado (para manter bons níveis de fibrinogênio). Em casos crônicos: heparinização. Antifibrinolíticos SÃO CONTRAINDICADOS pois podem agravar a microtrombose. Deficiência de Vitamina K A vitamina K é um cofator fundamental para a gama-carboxilação hepática dos fatores II, VII, IX, X, além de anticoagulantes endógenos como a proteína C e a proteína S. Sem essa vitamina, esses fatores têm seus efeitos prejudicados pela falta da terceira carboxila nos resíduos de ácido glutâmico, sendo que esse radical é fundamental para a interação com o fosfolipídio plaquetário e com o cálcio ionizado. Origem vitamina K: folhas verdes e em parte das bactérias da flora intestinal. Principais estados deficitários de vitamina K: Recém nato (Desordem hemorrágica do recém nato), paciente debilitado em uso de antibióticos, síndrome da má absorção intestinal, colestase e hepatopatias. O recém nato tem baixas reservas de vitamina K e fica propenso à sua carência, principalmente se for prematuro e se alimenta exclusivamente do leite materno. Isso pode ser prevenido com a aplicação parenteral de vitamina K. A vitamina K é lipossolúvel e, portanto, precisa dos sais biliares para a sua absorção intestinal, por isso em síndrome disabsortivas com estatorreia, obstrução biliar e intra-hepática, cai a sua absorção. O fator VII é um fator de baixa meia vida, ficando logo deficiente na carência de vitamina K. Assim que o TP (INR) alarga mais e muito antes da PTTa, deve-se suspeitar da deficiência. Depois a deficiência dos demais fatores alargam o PTTa. Tratamento: reposição de vitamina parenteral. Plasma fresco congelado em casos de urgência hemorrágica. É um polissacarídeo capaz de se ligar ao anticoagulante endógeno antitrombina II, aumentando intensamente sua atividade antitrombina e antifator Xa. Com isso inibe vias comuns e intrínseca da coagulação, alargando especialmente o PTTa. PTTa: usado como parâmetro para controle da anticoagulação pela heparina não fracionada. Heparina Não Fracionada: Conjunto de polissacarídeos de diversos tamanhos e pesos molecuares. Capaz de inativar a trombina e o fator Xa na presença da antitrombina III. Heparina de Baixo peso molecular: essa forma inibe fortemente o fator Xa e fracamente a trombina. Pela fraca inibição da antitrombina, a HBPM geralmente não alarga o PTTa. Sendo assim, é obrigatório o controle terapêutico da heparina não fracionada pelo PTTa (deve manter relação entre 1,5- 2,5). Efeitos adversos: sangramento, trombocitopenia imune, osteoporose, urticária, broncoespasmo. O tratamento da hemorragia por heparina começa com suspensão de sua infusão. Pode-se administrar Protamina – antídoto específico da heparina
Compartilhar