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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA COMUNICAÇÃO SOCIAL JOÃO PAULO OLIVEIRA RODRIGUES PATRICIA SIMAS DE FIGUEIREDO PETERSON SOARES DA SILVA RODRIGO ABRANCHES CORREIA DE SOUZA ESTUDOS AVANÇADOS EM PUBLICIDADE RIO DE JANEIRO 2021 1. INTRODUÇÃO Crianças em posições de destaque público não são um fenômeno recente. Exemplos de talentos mirins ocupando espaços de visibilidade pública existem a séculos, como os compositores Mozart e Beethoven no século XVIII, sendo famosos desde sua infância por serem considerados talentos mirins do ramo musical. Essa relação de talento precoce com a midiatização é mantida ao passar do tempo. Com as transformações tecnológicas do século XX, um talento mirim ganha a possibilidade de ser um jovem ator, apresentador e músico, mas a relação que ainda não se perde é a de que o talento resulta em relevância, isto porque esse talento culmina na produção de algo que pode ser consumido pela indústria. Com a popularização da internet vieram subversões a esse modelo. Com a chegada do Youtube e das redes sociais não é mais necessário a veiculação de uma grande mídia para poder alcançar visibilidade pública, mas sim ao próprio usuário se autopromover e fortalecer sua imagem, o chamado “self branding”. Esse ecossistema do Youtube se torna ainda mais notório com a monetização do site, que remunera seus utilizadores baseando-se em cliques e retenção dos vídeos, resultando em uma corrida por visibilidade, relevância e fama. É nesse cenário que surgem os youtubers mirins, no meio desta corrida por monetização e visibilidade que é possível pela democratização da produção de conteúdo, visto que qualquer um que tenha um smartphone e conexão com a internet pode produzir conteúdo online. O grande problema dessa democratização é a responsabilização pelo conteúdo produzido, visto que qualquer produto direcionado para crianças deve ser muito mais sensível do que para qualquer outra faixa etária, pelo fato de fazerem parte da construção psíquica de seres em desenvolvimento. O fato de existir crianças fazendo publicidade para outras crianças, é ainda mais problemático. Estas crianças criadoras de conteúdo não entendem o poder, nem a influência que possuem sob seu público. E mesmo que os familiares tenham as melhores intenções, acabam sendo os agentes desses influenciadores mirins sem a devida instrução. E isso abre brechas para que as crianças sejam exploradas pelas empresas tanto quanto pelos próprios espaços onde trabalham. Algumas empresas se aproveitam da falta de experiência das crianças e muitas vezes da ganância dos pais, para explorá-los comercialmente. 2. DESENVOLVIMENTO O canal de youtubers mirins escolhido para ser analisado é “Maria Clara e Jp”. A dupla de irmãos possui o maior canal de youtubers infantis do Brasil, com mais de 28 milhões de seguidores. O canal mostra o cotidiano dos irmãos, bem como brincadeiras e desafios realizados por eles. Os irmãos contam com sua própria linha de produtos, que incluem jogos, brinquedos e materiais escolares. Esses produtos aparecem frequentemente nos vídeos do canal e através dessa particularidade pode-se levantar alguns questionamentos sobre o assunto. Certamente a aparição e foco na linha de produtos “Maria Clara e JP” é uma forma de publicidade, no entanto, o público alvo do canal são crianças, oque qualifica esta ação como publicidade infantil. A publicidade infantil é um tópico sensível pois lida com o marketing e suas técnicas persuasivas, e tem como alvo um público infantil que não tem capacidade perceptiva suficiente para entender essas técnicas. É constatado através de pesquisas científicas que até os 6 anos de idade crianças não conseguem diferenciar publicidade de conteúdo de programação, e que até os 12 anos não é capaz de decifrar seu caráter persuasivo, tornando-as alvos faceis. Isto é problemático pois acarreta em questões sérias como consumismo, materialismo, obesidade e problemas comportamentais, e é para evitar essas adversidades que existem leis e órgãos regulamentadores para a publicidade infantil. Algumas leis são adotadas por esses órgãos para evitar táticas persuasivas dessas propagandas. Ações como não utilizar linguagem imperativa e exigir que a publicidade seja de fácil indicação são algumas das medidas tomadas por esses órgãos. É presença constante nos vídeos da Maria Clara e JP brinquedos infantis que são utilizados ao longo da programação, e muitas vezes são os focos dos vídeos. É natural que o público infantil que os assiste desperte o interesse por estes mesmos produtos apresentados nos vídeos, pois esta é uma tática persuasiva que atinge essas crianças, confundindo a publicidade velada com parte da programação, na intenção de vender os produtos da linha original do canal. Também são apresentados brinquedos populares que fazem parte de tendências atuais, como os “Pop it” e os “Fidget toys”, além de vídeos de unboxing, que consiste em desembalar um produto no vídeo. É por mostrar estes produtos sendo utilizados durante a programação do canal por crianças é possível perceber um caráter persuasivo que é muito efetivo. A partir do momento que o público infantil que consome o canal entende a Maria Clara e o JP como amigos próximos, ver os mesmos brincando com tais produtos é um atrativo muito forte e que comumente desperta a necessidade de consumo da criança. No ambiente de criação de conteúdo do youtube também é necessário entender o valor agregado que este conteúdo produzido pelos criadores da plataforma possui. Visto que esse não tem necessariamente interesse em transmitir valores ou qualquer carga cultural para a criança. É prioridade para os criadores agradar o algoritmo e conseguir o máximo de visualizações e engajamento na corrida pela monetização. 3. CONCLUSÃO A Regulação da Publicidade Infantil no Brasil é um dilema apresentado em muitas discussões e que levanta o debate sobre a liberdade de atuação publicitária e a proteção da criança frente a um sistema de regras mistas. Cada fase de desenvolvimento cognitivo da criança possui características que a fazem vulnerável. São estas particularidades que o mercado explora para seduzir e alienar o público infantil, enxergando-os apenas como consumidores. É possível evidenciar estes dilemas no canal “Maria Clara e JP”quando se percebe o consumo constante de produtos infantis nos vídeos. Questões como táticas persuasivas e apelativas passam a ser levantadas, e é possível entender que a divulgação da linha de produtos infantis original do canal é uma forma de Publicidade Infantil e que a mesma pode ser problemática. Tendo em vista a crescente relação homogênea da “realidade” com o virtual nos dias atuais podemos identificar um grande risco em meio à esta adaptação social comunicativa, Cada vez mais nossas crianças se afastam da percepção de uma vida fora das redes que por si só interfere muito na forma de assimilação do mundo ao seu redor, implicando em laços cada vez mais efêmeros e dificultando ainda mais a separação de conteúdo e produto que pode resultar na supervalorização do consumo dentre outras mazelas caso não haja um trabalho sério e minucioso de curadoria. A pergunta que levantamos no final é: Até onde a utilização de uma criança para se fazer “Self Branding” pode ser considerada saudável para ela mesma e para as outras crianças? 4. REFERÊNCIAS GREGORIO, Antonia Nirvana; MARIA, Débora; COVALESKI, Rogério Luiz. Seu Filho Está on-line:: Segurança Digital de Crianças e Controle Parental no TikTok. INTERCOM, Recife, v. 43, n. 1, p. 1-15, dez./2020. Melo, D. R. de, & Guizzo, B. S. (2019). Infância YouTuber: problematizando representações de crianças inseridas na cultura de sucesso. Série-Estudos - Periódico Do Programa De Pós-Graduação Em Educação Da UCDB, 24(50), 121-140. https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v24i50.1162 MARTINO, Luiz Mauro S. Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes, redes. 2ª ed. Petrópolis [RJ]: Vozes, 2015. TOMAZ, Renata. Youtubersmirins e as subjetividades infantis contemporâneas. In: FRANÇA. Vera; SIMÕES, Paula; PRADO, Denise. (Org.). Celebridades no Século XXI: volume 2: diversos perfis, diferentes apelos. Belo Horizonte: PPGCOM/UFMG, 2020. p. 185-202.