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Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS DIABETES MELITUS TIPO 1: O diabetes melitus tipo 1 (DM1) corresponde a 5-10% dos casos de diabetes em todo o mundo, sendo associado à deficiência absoluta de insulina. Esse distúrbio pode ser decorrente de duas vias distintas, a saber: DM1 autoimune (tipo 1A): mais frequente (especialmente em caucasianos), é o resultado da destruição de células β das ilhotas pancreáticas, em graus variados. Apresenta instalação rápida em crianças, ao passo que adultos podem reter reserva de insulina por alguns anos; DM1 idiopático (tipo 1B): apresenta etiologia desconhecida, sem marcadores sugestivos de autoimunidade e diferentes graus de deficiência insulínica. Acomete predominantemente indivíduos de origem africana ou asiática. Principais diferenças entre DM1 e DM2 No Brasil, a incidência de casos de DM1 é de 8:100 mil habitantes a cada ano, sendo detectado principalmente entre os 7 e 10 anos de idade, ainda que isso possa ocorrer em indivíduos mais velhos. A hereditariedade é considerada rara, com risco de 4,3% para os irmãos e 1,9% para os filhos de diabéticos, sendo a transmissão paterna a de maior importância. Uma importante característica observada em diabéticos tipo 1 é a tendência aumentada para o desenvolvimento de cetose, que pode inclusive ser a manifestação inicial do quadro de diabetes, especialmente em crianças. ETIOPATOGENIA: O DM tipo 1A pode ser considerado produto de contribuintes genéticos, imunológicos e ambientais, interagindo sinergicamente, a saber: Susceptibilidade genética: apesar de múltiplos genes estarem associados a patogênese do DM1, o principal alvo de alterações é o antígeno leucocitário humano (HLA), situado nas moléculas de histocompatibilidade (MHC). Os loci HLA-DR3 e HLA-DR4 são os mais afetados, comprometendo a apresentação de peptídeos a linfócitos T realizada pelas MHC classe II, presentes em múltiplas células imunes. A heterozigose de alguma dessas mutações é suficiente para o aumento do risco associado à DM1. O segundo maior foco de sensibilidade para o diabete melitus tipo 1 é o locus IDDM2, situado no gene da insulina. Essa área polimórfica é associada a três Na DM1 tipo 1A, há presença de autoanticorpos detectáveis laboratorialmente, produzidos por uma interação entre predisposição genética e fatores ambientais Os pacientes com DM1, ao contrário da DM2, tendem a apresentar IMC normal, ainda que a obesidade não descarte o diagnóstico Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS alelos com efeito distinto sobre a incidência de DM1, sendo o alelo III considerado um fator protetor. Essa “variante” induz o timo a selecionar negativamente células autorreativas à insulina, o que melhora a tolerância imunológica ao hormônio. Autoimunidade ativa: corresponde ao período pré-diabético assintomático, que pode se estender por muitos anos, nos quais há síntese de anticorpos autorreativos direcionados contra as ilhotas β-pancreáticas, e, consequentemente, deterioração da síntese de insulina. Estadiamento para a patogênese do diabetes melitus tipo 1 Os marcadores humorais mais comumente encontrados em pacientes com DM1 são anticorpo antiinsulina (IAA), anticorpo antiilhotas de Langerhans cioplasmático (ICA), antienzima descarboxilase do ácido glutâmico 65 (anti-GAD65) e anti- proteínas de membrana com homologia às tirosino-fosfatases (anti-IA2). De modo geral, todos os anticorpos em alta titulação tendem a desaparecer em algum momento do curso da doença, exceto o anti-GAD, que é associado a outras imunopatias. Frequência de autoanticorpos associados ao DM1 tipo 1A Desencadeantes ambientais: o Fatores alimentares: a exposição precoce às proteínas do leite de vaca (suspensão do aleitamento materno antes de 4 meses) está associada a risco 2x maior para o desenvolvimento de DM1. A tolerância oral de indivíduos com diabetes tipo 1 parece ser alterada, com ativação intensa do sistema imune intestinal, que produz autoanticorpos em excesso. Há reatividade cruzada entre anticorpos produzidos para a caseína, o nitrato (encontrado em vegetais e embutidos) e a proteína GLUT-2, que transporta glicose. o Infecções virais: diversos antígenos virais, como o citomegalovírus, a rubéola e o Coxsackie apresentam homologia morfofuncional com proteínas das células-β, o que pode desencadear autoimunidade; o Clima frio. O IAA é o primeiro autoanticorpos a surgir em crianças com DM1, especialmente em meninos, porém ele pode se positivar em pacientes que fazem uso de insulina Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Representação de mecanismos envolvidos no desenvolvimento da DM tipo 1A DIABETES AUTOIMUNE LATENTE DO ADULTO (LADA): O diabetes autoimune latente do adulto é definido pelo início tardio do diabetes (após os 30-35 anos), de forma assintomática, com independência de insulina por ao menos 6 meses depois do diagnóstico, e presença de ao menos um autoanticorpo contra as ilhotas pancreáticas. Os aspectos clínicos sugestivos desse quadro são adultos jovens sem história familiar de diabetes tipo 2 e, geralmente, sem síndrome metabólica. Cabe destacar que esses indivíduos irão apresentar dependência de insulina em até 5 anos do diagnóstico, uma vez que a destruição de células-β é contínua. QUADRO CLÍNICO: A DM1, por ser caracterizada por perda rápida e intensa na capacidade de produção de insulina, normalmente apresenta-se sintomática, com quadro clínico marcado por: Perda de peso; Polifagia; Poliúria; Polidipsia; Fadiga; Indisposição; Infecções de pele e mucosas: o acometimento da região genital é bastante comum, assim como a presença de fungos como agentes etiológicos. Cetoacidose: complicação do quadro de DM1, por vezes pode ser a única manifestação ao momento do diagnóstico. DIAGÓSTICO: O diagnóstico do diabetes é confirmado por glicemia de jejum > 126 mg/dl (normalmente muito superior) ou glicemia ao acaso > 200 mg/dl ou HbA1c > 6,5%. Parâmetros glicêmicos para o diagnóstico de diabetes Para a determinação etiológica (DM1 tipo A), é necessário dosar anticorpos antipancreáticos, sendo que qualquer titulação de qualquer uma das formas supracitadas é suficiente. A avaliação da capacidade secretória do pâncreas pode ser realizada por meio da medição de peptídeo C, uma estrutura conectora presente na molécula de proinsulina. O “ponto de corte” para a deficiência insulínica severa é de valores > 0,7 ng/ml associado a glicemias entre 100 e 200 mg/dL. O anti-GAD é considerado o marcador mais sensível para o LADA, ao passo que algumas variações do anti-IAA são menos prevalentes Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Interação entre a insulina e o peptídeo C TRATAMENTO: O manejo do portador de DM1 apresenta quatro eixos fundamentais: insulinoterapia, monitorização glicêmica com autonomia, orientação nutricional e exercício, implementados sempre de modo individualizado Para o alcance desses objetivos, é imprescindível a orientação adequada do paciente. INSULINOTERAPIA: A insulinoterapia intensiva tem como finalidade promover níveis glicêmicos os mais normais possível, com aplicação de uma ou mais doses de várias apresentações de insulina ao longo do dia. No que se refere aos locais de aplicação, são mais indicados: Abdome: é o sítio preferencial quando se necessita de rápida absorção, além de ser menos afetado pelo exercício; Coxa: as porções lateral e frontal são úteis para o uso de insulinas de absorção lenta; Nádegas: aplicação no quadrante lateralsuperior; Braço: apesar de a face lateral do membro ser uma boa área de injeção em adultos, a aplicação intramuscular pode ocorrer em crianças ou pessoas com pouca gordura subcutânea. Sítios preferenciais para a aplicação subcutânea de insulina Atualmente, as insulinas humanas, obtidas por técnica de DNA recombinante, e os análogos de insulina humana são as preparações mais utilizadas, podendo ser classificadas conforme sua biodisponibilidade: Insulinas de ação ultrarrápida e insulina regular (início precoce e duração curta): são administradas após as refeições para auxiliar no metabolismo de carboidratos, como aspart, lispro, glulisina e regular; Insulinas basais (ação intermediária ou prolongada): insulina NPH, glargina e detemir. A insulina NPH é uma suspensão cristalizada de insulina regular, com adição de protamina e zinco, assumindo aspecto leitoso. A terapia com infusão subcutânea contínua (bomba de insulina) é a que melhor mimetiza a secreção fisiológica desse hormônio, com liberação de pequenas doses basais e bolus no período pós-prandial ou para correções Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Principais características das apresentações de insulina disponíveis A dose diária inicial de insulina para diabéticos tipo 1 é de 0,2 a 0,4 UI/kg/dia, dividida em 40-50% de insulina basal e 60- 50% de insulina bolus (prandial). O ajuste desses valores pode ser necessário em algumas situações, como: Aumento: puberdade, gestação, uso de corticoides, infecções e doenças graves (aumento da resistência à insulina); Diminuição: baixo peso, insuficiência renal e terceira idade. As insulinas basais podem ser administradas em uma (Glargina U100, Glargina U300 e Degludeca), duas (Glargina U100, Detemir e NPH) ou até três aplicações (NPH), pré-prandiais e logo antes de dormir, garantindo intervalo mínimo de 8 horas antes do reinício do ciclo. Apesar de o uso de insulina NPH ser mais comum, devido à maior disponibilidade, o medicamento de escolha para gestantes com DM1 é a Detemir, que também promove menor ganho de peso. No que se refere à farmacodinâmica dessas preparações, quanto mais lenta a ação, menor o pico de insulina e, consequentemente, menor o risco de hipoglicemia, sendo possível ordená-las da seguinte forma: NPH > Detemir > Glargina U100 > Glargina U300 = Degludeca. Sugestões de escolha para insulinas basais de acordo com prioridades no tratamento Cabe ressaltar que a utilização de insulina NPH antes do jantar pode levar ao fenômeno de Somogyi, com hipoglicemia noturna e hiperglicemia de jejum. Nesse processo há ativação de glicogenólise hepática, o que eleva a secreção de hormônios contrarreguladores à noite, culminando no aumento da glicose pela manhã. Outra explicação é o fenômeno do alvorecer, marcado por maior produção de glicose no fígado e decréscimo da sensibilidade à insulina entre 4 e 8 horas da manhã, tornando necessárias maiores doses para atingir o controle glicêmico. Existem insulinas pré-misturadas, combinações de NPH+regular em proporção 70/30. Apesar de mais práticas, é difícil fazer a correção de dose de modo específico, reservando-as a pacientes com metas menos restritas Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Comparação entre as alterações insulínicas nos fenômenos de Somogyi e do alvorecer A insulina usada como bolus deve ser de ação rápida ou ultrarrápida, administrada tanto para a metabolização de nutrientes obtidos na alimentação quanto para a correção de hiperglicemias ao longo do dia. A melhor mimetização fisiológica é obtida com a insulina regular, aplicada 30 a 60 minutos antes das refeições principais, ou com lispro imediatamente antes de comer. A dose ideal do bolus prandial é ajustada para o volume de carboidratos a serem consumidos naquela refeição. Para tanto, considera-se que cada UI de insulina é capaz de metabolizar entre 15 e 30 g de carboidratos (iniciar no limite superior em crianças). No geral, quanto maior a dosagem basal prévia, menor a necessidade de insulina prandial. Para ajustar as doses pré-prandiais, é necessário observar a glicemia capilar após 2 horas do início de cada uma das refeições. Comportamento da concentração de insulina na combinação entre as abordagens basal e regular O bolus de correção, por sua vez, deve ser calculado individualmente, conforme o fator de correção, redução da glicemia após a aplicação de uma unidade de insulina de ação rápida, e as metas glicêmicas de cada paciente. A administração de insulina regular para correção antes de dormir não é recomendada, uma vez que pode levar ao desenvolvimento dos fenômenos Somogyi e do alvorecer. De acordo com as características descritas para as insulinas e as demandas clínicas dos pacientes, é possível estabelecer três possíveis esquemas terapêuticos para o manejo da DM1, a saber: Duas aplicações: baseia-se na administração de 2/3 da dose diária A correção desses fenômenos pode ser feita tanto pela diminuição da dose vespertina de insulina ou fracionamento de dose única diária Caso o paciente não faça contagem de carboidratos, também é possível usar um esquema de doses fixas para o bolus Diabéticos que realizam exercícios moderados após as refeições devem reduzir a dose de insulina prandial em 50 a 75% para evitar hipoglicemia. Caso essas atividades ocorram 4 a 6 horas depois da alimentação, é necessário ingerir 15 a 20g de carboidratos Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS durante a manhã, e o terço restante à noite. A proporção NPH/regular deve ser de 70/30% na primeira tomada, e 50/50% na segunda. Idealmente, a aplicação da NPH deve ser feita na coxa, para prolongar a absorção ao longo do dia, enquanto a regular é injetada no abdome, área de rápida captação. Caso se opte pela aplicação de insulinas na mesma seringa, a primeira a ser aspirada é a regular, para evitar distúrbios farmacocinéticos. O ajuste deve ser realizado a partir de três glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de dormir, obedecendo a seguinte relação: o Glicemia matinal: dependente da NPH administrada no jantar da noite anterior; o Glicemia pré-almoço: depende da regular administrada pela manhã; o Glicemia pré-jantar: reflete a NPH aplicada pela manhã; o Glicemia antes de dormir: relaciona-se à dose de regular administrada durante a noite. Esse método apresenta várias desvantagens, como a ocorrência de hiperglicemia matinal, o risco de picos glicêmicos após o almoço (incapacidade de controle com NPH) e a dificuldade de flexibilizar a rotina. Esses motivos contraindicam a terapia com duas aplicações na DM1, exceto em casos nos quais o paciente não pode ou não deseja realizar aplicações múltiplas. Esquema basal-bolus (múltiplas doses): essa abordagem foi exaustivamente descrita nos parágrafos anteriores; Bombas de insulina (infusão subcutânea contínua): consiste na inserção, pelo próprio paciente, de um infusor de insulina ultrarrápida que é programado para liberar doses basais e, conforme a necessidade, também pode dispensar um bolus no período pós- prandial. As principais vantagens desse método são menores variações glicêmicas, melhor controle da HbA1c e diminuição do risco de hipoglicemia grave, já que a ação da insulina é mais previsível. Como desvantagens, destacam-se o alto custo do aparelho, a possibilidade de infecção no local de inserção do aparelho e a obstrução do catéter. Comparação entre diferentes esquemas em insulinoterapia CÁLCULOS EM INSULINOTERAPIA: A definição da dose de insulina a ser usada nosesquemas basal-bolus e de infusão contínua é feita a partir de cálculos individualizados, podendo ser sistematizada em etapas, a saber: 1) Dose total diária de insulina: calculada por 𝑫𝑻𝑫 = 𝒑𝒆𝒔𝒐 ∗ 𝟎, 𝟓, sendo que esse valor pode variar de 0,2 a 0,4; 2) Dose basal: equivale a 50% da DTD; 3) Dose prandial: pode ser definida como 50% da DTD OU por meio da relação Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS insulina/carboidrato, calculada como 450 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑠𝑢𝑙𝑖𝑛𝑎 ; 4) Fator de correção: corresponde ao volume de insulina adicionado à dose prandial caso os níveis de glicemia estejam aumentados. É obtido por 1500 𝑑𝑜𝑠𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑠𝑢𝑙𝑖𝑛𝑎 . MONITORIZAÇÃO E AJUSTES: A monitoração da glicemia capilar deve ser realizada ao menos antes das refeições, sendo deixada a critério médico o acompanhamento pós-prandial e, ocasionalmente, durante a madrugada para detectar hipoglicemias assintomáticas durante o sono. Espera-se que a glicemia pré-prandial seja < 130 mg/dl e a dosagem 2h após as refeições < 160mg/dl, com variação entre esses períodos de, no máximo, 40 mg/dl. Se a glicemia apresentar grande incremento ou queda com a alimentação, é necessário corrigir a insulina prandial, ao passo que elevações em jejum devem ser manejadas com reajuste basal. Metas glicêmicas para pacientes de todas as idades com DM1 Se mesmo após essas mudanças ocorra manutenção da hiperglicemia, novos ajustes devem ser feitos somente depois de 3 dias da mudança anterior, tempo necessário para o equilíbrio insulínico na circulação. Ajuste terapêutico de acordo com o monitoramento glicêmico EFEITOS ADVERSOS: HIPOGLICEMIA: É a complicação mais temida da insulinoterapia, geralmente decorrente de erros na dose do hormônio, omissão de refeições, ingestão de bebidas alcóolicas e prática de exercícios físicos. Por vezes, a queda de glicemia pode acontecer sem causas aparentes. O diagnóstico de hipoglicemia é estabelecido pela tríade de Whipple, que consiste em: Sinais e sintomas de hipoglicemia: o Fase hiperadrenérgica: estado inicial, com tremores finos em extremidades, sudorese fria, taquicardia, palpitações e hipertensão; o Fase neuroglicopênica: dificuldade de concentração, ataxia, lentificação do pensamento, letargia e sonolência, que pode evoluir para convulsões e coma. Glicemia capilar reduzida (< 70 mg/dl); Melhora clínica evidente com a administração de glicose. Em caso de pacientes que utilizem doses fixas de insulina, assume-se que 1 UI reduz 50 mg/dl de glicose O caráter reversível dos sintomas neurológicos focais fazem com que seja preciso descartar o AVC como diagnóstico diferencial Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Apresentações leves de hipoglicemia são tratadas com a administração de 15 a 20 g de carboidratos de rápida absorção (1 copo de suco de laranja, 150 ml de refrigerante ou 1 colher de sopa de açúcar), aguardando 15 minutos antes de reavaliar a glicemia capilar. Caso os valores persistam abaixo de 60 mg/dl, pode se repetir o esquema acima. Em casos graves, nos quais o paciente está incapaz de receber glicose por via oral, o tratamento é a administração de glucagon (IM ou SC, em dose de 0,5-1 mg) ou glicose endovenosa. GANHO DE PESO: A insulinoterapia pode causar aumento de 3 a 9% do peso, o que é especialmente relevante em indivíduos previamente obesos. É possível reduzir a dose de insulina para o menor valor possível em caso de alterações extremas. Essa complicação sempre deve ser abordada com orientação nutricional e incentivo à prática de exercícios. REAÇÕES ALÉRGICAS: A alergia à insulina pode surgir como reações locais no foco de injeção (eritema, endurecimento, prurido, queimação) ou sob a forma de manifestações sistêmicas (urticária, choque anafilático), ainda que essas últimas sejam menos frequentes. O tratamento mais simples é a substituição da insulina por análogos desse hormônio, porém o paciente também pode ser alérgico a esses compostos. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS: A lipohipertrofia é causada pela injeção repetida da insulina em um mesmo ponto, podendo ser prevenida pelo rodízio dos locais de aplicação. A lipoatrofia, por sua vez, pode ser um fenômeno imunológico especialmente associado aos análogos da insulina em bombas de infusão contínua. Nesses casos, a conduta é trocar o tipo de insulina ou, quando isso não é possível, administrar betametasona junto ao hormônio (1 μg por unidade ou 0,075 mg). Lipoatrofia (cima) e lipohipertrofia (abaixo) em abdome de pacientes em uso de insulina MEDICAMENTOS ADJUVANTES: Ainda que o tratamento do DM1 seja fundamentado na insulinoterapia, estudos atuais consideram possível aplicabilidade de medicamentos para DM2 como adjuvantes à ação hormonal. Os poucos resultados sugerem que esses agentes implicam em otimização do controle metabólico, modulando o peso e reduzindo as oscilações glicêmicas nessa população. A metformina apresenta benefícios sugeridos sobre o perfil lipídico, além de Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS reduzir doses de insulina, porém o controle da HbA1c não é tão eficaz, e há maior risco de hipoglicemia. Os agonistas do receptor de GLP1, por sua vez, demonstraram potencial queda significativa da HbA1c, além de perda de peso importante e menor necessidade de insulina bolus, mantendo a mesma relação com cetoacidose diabética e hipoglicemia. Os inibidores do SGLT2 apresentam as mesmas vantagens sobre a dosagem da hemoglobina glicada, o peso e a variabilidade de glicemia, além de ser cardio e nefroprotetora. No entanto, ressaltam-se a maior associação com mortes por cetoacidose e maior incidência de infecções geniturinárias. ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL: A maior parte dos indivíduos com DM1 requerem dietas para manutenção do peso corporal, com média de 30-50 kcal/kg divididas em 50% de carboidratos, 10% de fibras, 20% de proteínas e 20% de lipídeos. Mesmo com esse plano alimentar, os pacientes devem ser orientados a fazer a adequação da insulina prandial conforme a densidade de carboidratos naquela refeição. Tempo de conversão de macronutrientes em glicose
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