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V I N Í C I U S M E L L O I N T R O D U Ç Ã O À L Ó G I C A I N S T I T U T O D E M AT E M ÁT I C A D A U FA L / U A B Copyright © 2010 Universidade Aberta do Brasil/MEC editado pelo instituto de matemática da ufal/uab Conteúdo Proposições 7 Argumentos 15 Implicação 29 Lógica Símbolica 43 Teoria dos Conjuntos 59 Índice 73 Introdução Lógica é o começo da sabedoria, não o fim. Doutor Spock A lógica te levará de A para B, a imaginação te levará a qualquer lugar. Albert Einstein A Lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distin- guir os raciocínios corretos dos incorretos. A Lógica não nos ensina a pensar, essa é uma habilidade que todos os seres humanos adquirem, se devidamente estimulados. A Lógica também não está preocupada com a maneira como nós raciocinamos, essa é uma preocupação da Psicologia. Assim, a Lógica é basicamente uma ferramenta impor- tante para guiar nosso raciocínio, na medida em que ela nos ajuda a separar os bons argumentos dos argumentos falhos. O objetivo desta disciplina é dar uma breve introdução aos princi- pais conceitos da Lógica, com ênfase em certos tópicos mais impor- tantes para um curso de Licenciatura em Matemática. O material está dividido em cinco capítulos. No primeiro capítulo, vamos estudar o conceito de proposição, que é o conceito mais básico da Lógica. Vamos aprender a distinguir proposições de não proposições, a re- conhecer os tipos de proposições categóricas e a negar proposições categóricas. No segundo capítulo, vamos estudar como as proposições se encadeiam para formar argumentos. Vamos aprender a separar a forma e o conteúdo de um argumento e a reconhecer quando um argumento é válido ou inválido, principalmente no caso dos silo- gismos. O terceiro capítulo é dedicado ao importante conceito de implicação. Vamos aprender a formar a recíproca e a contrapositiva de proposições condicionais. No capítulo quatro, vamos estudar a Lógica Simbólica, ou seja, como as proposições podem ser reescritas com predicados e conectivos lógicos, de modo a torná-las livres das ambiguidades das línguas naturais. Finalmente, estudaremos no quinto capítulo os principais conceitos da Teoria dos Conjuntos. Vamos aprender as principais operações entre conjuntos e a como demonstrar algumas de suas propriedades usando diagramas de Venn. http://www.entertonement.com/clips/kcwrdxbqcy--Logic-is-the-beginning-of-wisdom-Valeris-Not-the-endLeonard-Nimoy-Star-Trek-VI-The-Undiscovered-Country-Captain-Spock- http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein 6 Parte deste texto foi inspirada em materiais de licença pública disponíveis na internet, particularmente o material da disciplina In- troduction to Logic do curso de filosofia da Universidade de Lander e alguns verbetes da Internet Encyclopedia of Philosophy. Procuramos também tornar o texto o mais interativo possível, com muitos exer- cícios respondidos e testes rápidos que podem ser preenchidos no próprio leitor de arquivos PDF. Figura 1: Nas universidades medievais, a Lógica era um dos primeiros assuntos a ser estudados, formando com a Gramática e a Retórica o trivium. http://philosophy.lander.edu/logic/index.html http://philosophy.lander.edu/logic/index.html http://www.iep.utm.edu/ Proposições O estudo da Lógica começa pelo estudo da linguagem que us- amos para nos comunicar. Nós usamos a linguagem para vários propósitos: informar fatos (“são 12 horas”, “ Todos os homens são mortais”), expressar sentimentos (“hoje não estou bem”, “eu te amo!”), dar ordens ou fazer pedidos (“desça daí!”, “cante, por fa- vor”), obter informações (“Como você se chama?”, “Quanto é sete vezes nove?”) etc. Mas no estudo da Lógica estamos interessados principalmente em enunciados do primeiro tipo listado acima, aque- les que se referem a algum fato. Dizemos que uma proposição é um enunciado que se refere a um fato que é ou verdadeiro ou falso. Assim, essa definição ex- clui frases interrogativas como “Você gosta de Matemática?”, pois a pergunta em si não é verdadeira nem falsa. Mas a resposta a essa pergunta, seja ela “Eu gosto de Matemática” ou “Eu não gosto de Matemática”, é verdadeira ou é falsa . Frases imperativas normal- Esperamos que verdadeira no primeiro caso e falsa no segundo ,mente também não são proposições. Não faz sentido dizer que uma ordem como “Me dê seu boné” é verdadeira ou falsa. Por outro lado, se alguém diz “Você vai me obedecer”, isso só pode ser verdadeiro ou falso. Devemos distinguir questões de fato de questões de opinião. O enunci- ado “Guaraná é melhor que suco de uva” é uma questão de opinião, algumas pessoas podem achar que isso é verdade, enquanto outras podem não concordar. O problema aqui é uma certa ambiguidade no enunciado. Se colocássemos as expressões “Todos acham que”, “Eu acho que” ou “Alguém acha que” antes de “guaraná é melhor que suco de uva”, aí sim transformaríamos uma questão de opinião em uma questão de fato, que pode ou não ser verdadeiro, sendo assim uma proposição. Note ainda que não precisamos saber decidir se a proposição é verdadeira ou falsa, basta que ela admita apenas uma dessas duas possibilidades. Por exemplo, a sentença “Todo número par maior que dois é a soma de dois números primos” é claramente uma proposição pois ou ela é verdadeira ou falsa. Mas, no presente momento, nós 8 introdução à lógica não sabemos se ela é verdadeira ou falsa, pois ninguém conseguiu mostrar que ela de fato vale para todo número par maior que dois, nem ninguém encontrou um número par que não possa ser escrito como a soma de dois primos. Uma proposição cuja verdade ou fal- sidade é desconhecida é chamada conjectura. A conjectura que acabamos de expor neste parágrafo é a famosa conjectura de Goldbach. 4 = 2 + 2 6 = 3 + 3 8 = 3 + 5 10 = 7 + 3 12 = 5 + 7 14 = 3 + 11 ... Podemos tornar a definição de proposição mais precisa recor- rendo ao Princípio da Não Contradição e ao Princípio do Terceiro Excluído. O princípio da não contradição diz que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Já o princípio do terceiro excluído diz que uma proposição ou é ver- dadeira ou é falsa, não há uma terceira possibilidade. Esses princí- pios podem parecer autoevidentes, mas existem várias sutilezas em questão. É possível, por exemplo, desenvolver uma lógica em que al- gumas proposições podem ser verdadeiras e falsas ao mesmo tempo (a chamada Lógica Paraconsistente), ou em que o fato de uma proposição não ser falsa não garante que ela seja verdadeira (a Lóg- ica Intuicionista), ou ainda em que as proposições possuam uma certa porcentagem de veracidade entre 0 e 100% (a Lógica Difusa). Em nosso curso, estudaremos a Lógica Clássica, na qual os princí- pios da não contradição e do terceiro excluído são válidos. Teste Rápido Determine a natureza dos seguintes enunciados: Clique no círculo azul para iniciar o teste e no quadrado azul para finalizar. 1. A maior parte da matéria do universo é invisível. (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição 2. Ligue o amplificador e o coloque no volume máximo. (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição 3. O mal de Alzheimer é a quarta maior causa de morte na Inglaterra. (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição 4. O que é tão belo quanto um dia de sol? (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição 5. Sexta-feita é o melhor dia da semana! (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição 6. Plutão não é um planeta. (a) É uma proposição (b) Não é uma proposição � Às vezes é difícil determinar se um certo enunciado é uma proposição. Considere o enunciado “Este enunciado é falso”. Se admitirmos que ele é verdadeiro, então ele é falso, pois é isso o que ele afirma. Por outro lado, se admitirmos que ele é falso, então o que ele está enun- proposições 9 ciando é verdade. Esse é o chamado Paradoxo do Mentiroso (figura 2). O problema aqui é que o enunciado faz referência a si mesmo, gerando um raciocínio circular. Figura 2: O nariz do Pinóquio sempre cresce quando ele mente (e apenas quando ele mente). No caso acima,o nariz dele irá crescer? Exercício 1. Paradoxo do Barbeiro — Em uma pequena cidade, existe um único barbeiro. Os habitantes andam sempre barbeados. Alguns deles se barbeiam, enquanto os demais são barbeados pelo barbeiro. Ou seja, o barbeiro barbeia todos os habitantes da cidade que não se barbeiam. Sendo assim, a proposição “O barbeiro se bar- beia” é verdadeira ou falsa? Proposições Categóricas Qualquer proposição que expresse uma relação de inclusão ou exclusão, completa ou parcial, entre duas classes é chamada de proposição categórica. Entendemos por classe uma coleção de todos os objetos que possuem alguma característica específica em comum. Assim, se considerarmos a classes dos objetos em forma de bola (“bolas”) e os objetos de cor azul (“azuis”) obtemos quatro tipos de proposições categóricas: Tipo Relação Exemplo Universal Afirmativa Inclusão total Toda bola é azul Universal Negativa Exclusão total Nenhuma bola é azul Particular Afirmativa Inclusão parcial Alguma bola é azul Particular Negativa Exclusão parcial Alguma bola não é azul Teste Rápido Classifique as proposições abaixo em Universal Afirmativa (UA), Universal Negativa (UN), Particular Afirmativa (PA) ou Particular Negativa (PN): 1. Todos os filósofos são preguiçosos. (a) UA (b) UN (c) PA (d) PN 2. Alguns passáros não voam. (a) UA (b) UN (c) PA (d) PN 3. Alguns matemáticos são ricos. (a) UA (b) UN (c) PA (d) PN 4. Nenhum gato é verde. (a) UA (b) UN (c) PA (d) PN 5. Alguns policiais não são honestos. (a) UA (b) UN (c) PA (d) PN � 10 introdução à lógica A classificação de proposições em universais/particulares afirma- tivas/negativas é útil pois podemos chegar a conclusões gerais sobre certos tipos de enunciados. Por exemplo, considere as proposições “todo brasileiro é honesto” e “algum brasileiro não é honesto”. Se é falso que todo brasileiro é honesto, então isso só acontece porque existe ao menos um brasileiro que não é honesto, ou seja, a segunda proposição é verdadeira. Por outro lado, se é verdade que todo brasileiro é honesto, então não existem brasileiros deson- estos, e a segunda proposição é falsa. Em resumo, a veracidade de uma proposição implica necessariamente na falsidade da outra e vice-versa. Dizemos nesse caso que elas são proposições contra- ditórias ou, de outra forma, que uma é a negação da outra. De modo geral, proposições universais afirmativas da forma “Todo S é P” e proposições particulares negativas da forma “Algum S não é P” são sempre contraditórias. Da mesma forma, proposições univer- sais negativas da forma “Nenhum S é P” e proposições particulares afirmativas da forma “Algum S é P” são contraditórias, pense por exemplo nas proposições “Nenhuma vaca é rosa” e “Alguma vaca é rosa” (fig. 3). Todo S é P Nenhum S é P Algum S é P Algum S não é P Figura 3: Proposições contraditórias. S é de “sujeito” e P de “predicado”. Exercício 2. Encontre a negação de cada uma das proposições categóricas abaixo: (a) Todo marinheiro é casado. (b) Nenhum chinês é comilão. (c) Algum americano é negro. (d) Algum mamífero não sobe em árvores. Proposições universais e particulares diferem na maneira como nós verificamos sua veracidade. Por exemplo, para mostrar que a proposição particular “algum argentino é cabeludo” é verdadeira, bastaria encontrar um argentino de cabelos compridos. Este sujeito seria o exemplo que mostra que a proposição é verdadeira. Mas para mostrar que a proposição universal “todos os brasileiros são bons de bola” é verdade, não basta mostrar exemplos de bons jo- gadores de futebol que são brasileiros (Pelé, Garrincha, Ronaldo etc.), devemos mostrar que isso vale de fato para cada um dos brasileiros. Por outro lado, para mostrar que “todos os brasileiros são bons de bola” é falsa, bastaria encontrar um brasileiro que fosse “perna-de- pau”. Este sujeito seria um contraexemplo da proposição, ou seja, um contraexemplo para uma proposição universal “Todo S é P” é um objeto X que é S mas não é P. Já um contraexemplo para a proposição universal “Nenhum S é P” é um objeto X que está na classe S e também na classe P. proposições 11 Exercício 3. Encontre um contraexemplo apropriado para cada uma das seguintes proposições categóricas universais: (a) Nenhum time de futebol do Brasil é tricolor. (b) Todos os números primos são ímpares. (c) Todos os quadriláteros são retângulos. (d) Nenhum presidente brasileiro nasceu em Alagoas. Diagramas de Venn para Proposições Categóricas O lógico inglês John Venn (fig. 4) desenvolveu um dispositivo muito útil para a visualização das relações entre classes de objetos chama- dos Diagramas de Venn. Nós vamos utilizar bastante os diagra- mas de Venn durante o curso. Para começar, vejamos como eles po- dem ser usados para representar as proposições categóricas. Figura 4: John Venn Para representar as relações entre duas classes (por exemplo, as classe S dos socialistas e a classe P dos pacifistas) consideramos dois círculos que se intersectam e estão delimitados por um retângulo, como na figura 5. Os dois círculos determinam 4 regiões no retân- gulo, cada uma representando uma certa relação entre as classes. A região 1 representa todos os objetos de S que não são objetos de P (“socialistas não pacifistas”); a região 2, os objetos comuns as classes S e P (“socialistas pacifistas”); a região 3, os objetos de P que não são objetos de S (“pacifistas que não são socialistas”); finalmente, a região 4 representa os objetos que não pertencem nem a classe S nem a classe P (“nem socialistas, nem pacifistas”). 1 2 3 4 S P Figura 5: Relação entre as classes S e P Para representar graficamente as proposições categóricas, vamos adotar as seguintes convenções: uma região branca significa que não sabemos se existem ou não existem objetos lá. Uma região hachurada significa que não existem objetos. E um X em uma região significa que existe ao menos um objeto S P (a) Todo S é P S P (b) Nenhum S é P Figura 6: Proposições universais repre- sentadas em diagramas de Venn. Por exemplo, na figura 6(a) a região 1 está hachurada e portanto não existe nenhum objeto na classe S que não esteja em P, ou seja, todo objeto de S está em P. Na figura 6(b), a região comum às classes http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Venn 12 introdução à lógica S e P está hachurada, o que significa que não existem objetos da classe S na classe P e portanto nenhum S é P. Note que podemos interpretar também que nenhum P é S. X S P (a) Algum S é P X S P (b) Algum S não é P Figura 7: Proposições particulares representadas em diagramas de Venn. Já na figura acima, representamos as proposições particulares. O X na região 2 indica que existe ao menos um objeto da classe S que está também na classe P (fig. 7(a)). Na figura 7(b), colocamos o o X na região 1, denotando que existe algum objeto em S que não está em P. As várias relações entre os tipos de proposições podem ser facil- mente visualizadas nos diagramas de Venn. Comparando as figuras 6(a) e 7(b), vemos que a região hachurada em uma contém um X na outra. O mesmo se aplica as figuras 6(b) e 7(a). Isso é apenas a repre- sentação gráfica do fato dessas proposições serem contraditórias. Exercício 4. Represente graficamente as proposições categóricas abaixo usando diagramas de Venn: (a) Nenhum samba é música sertaneja. (b) Alguns músicos não são pianistas. (c) Alguns veículos não são automóveis. (d) Alguns presidentes foram competentes. (e) Todos os vírus são patogênicos. proposições 13 Exercício 5. Determine a proposição que está representada em cada um dos diagramas de Venn abaixo: (a) X Mamíferos Carnívoros (b) Jovens Impetuosos (c) X Jogadores Viciados (d) Quadrados Triângulos (e) X Computadores Objetos portáteis Argumentos Proposições raramente importam quando isoladas umas das out- ras. Um argumento é uma série de proposições encadeadas, al- gumas das quais, as premissas, têm o objetivo de dar suporte, jus- tificação ou evidência para a verdade de outra proposição, a con- clusão. Considereo seguinte exemplo: A pena de morte deveria ser adotada somente se ela intimidasse os assassinos. Entretanto, isso aconteceria apenas se os assassinos enten- dessem a consequência dos seus atos antes de agirem. Como isso não é assim, a pena de morte não deve ser adotada. A conclusão desse argumento é a proposição “a pena de morte não deve ser adotada”. As outras proposições são as premissas. São elas que oferecem as razões ou justificativas para a conclusão. Como argumentos são tentativas de se prover evidência ou su- porte a certas afirmações, elas frequentemente contém palavras como “portanto”, “assim”, “logo”, “consequentemente” ou “então” antes de suas conclusões. De modo semelhante, palavras ou expressões como “porque”, “na medida em que”, “desde que” ou “como” acom- panham as premissas de um argumento. Tais palavras “indicadoras” auxiliam na tarefa de identificar as premissas e a conclusão de um argumento. Além disso, as conclusões normalmente aparecem no fim de um argumento. Mas nem sempre é assim, às vezes a conclusão pode aparecer no começo ou no meio de um argumento: A vereadora Vera é a pessoa indicada para o cargo. Isso é porque ela possui a maior experiência legislativa entre todos os candidatos e porque ela não irá colocar os interesses privados acima dos interesses públicos. Calisto orbita Júpiter. Logo, ele não é um planeta, pois apenas corpos que orbitam estrelas podem ser planetas. Nos exemplos acima, as conclusões são as proposições em itálico. Mas, quando queremos nos concentrar na essência de um argumento, podemos reorganizá-lo de modo a eliminar as palavras indicadoras e a colocar a conclusão no fim. Por exemplo, o primeiro argumento acima ficaria assim: 16 introdução à lógica (1) A pena de morte deveria ser adotada somente se intimidasse os assassinos. (2) A pena de morte intimidaria os assassinos somente se eles entendessem as consequências de seus atos. (3) Os assassinos não entendem a consequência de seus atos. (4) A pena de morte não deve ser adotada. As proposições 1, 2 e 3 são as premissas e a proposição 4 é a con- clusão. Por convenção, quando queremos detalhar um argumento, atribuimos um número ou rótulo a cada proposição e separamos as premissas da conclusão por uma linha que funciona como a con- junção “portanto”. Exercício 6. Reescreva os argumentos abaixo, separando as premis- sas da conclusão como no exemplo acima: (a) “A vereadora Vera é a pessoa indicada para o cargo. Isso é porque ela possui a maior experiência legislativa entre todos os can- didatos e porque ela não irá colocar os interesses privados acima dos interesses públicos.” (b) “Calisto orbita Júpiter. Logo, ele não é um planeta, pois apenas corpos que orbitam estrelas podem ser planetas.” (c) “João não dormiu bem ontem à noite. Ele está com grandes ol- heiras e parece cansado.” (d) “Uma vez que a solução ficou vermelha quando o reagente foi adicionado, ela era ácida, já que soluções ácidas reagem a este reagente ficando vermelhas.” Forma X Conteúdo No estudo da Lógica, estamos mais interessados na forma dos argu- mentos do que no seu conteúdo. Considere o seguinte exemplo: (1) Pedro foi morto a tiros em seu apartamento. (2) Pelas imagens da câmera de segurança, apenas Antônio teve contato com Pedro na noite do crime. (3) Um exame de resíduos detectou a presença de pólvora nas mãos de Antônio. (4) Antônio matou Pedro. O argumento acima pode ser reescrito essencialmente na forma (1) P foi deixado no estado E através do meio M. (2) Apenas A esteve em contato com P. (3) A utilizou o meio M. (4) A deixou P no estado E. argumentos 17 onde os símbolos A, E, M e P são interpretados como “Antônio”, “morto”, “arma de fogo” e “Pedro”, respectivamente. Já o argumento (1) A vidraça que dá para o pátio foi quebrada por uma bola. (2) Apenas Joãozinho estava no pátio. (3) Joãozinho estava brincando com a bola. (4) Joãozinho quebrou a vidraça do pátio. se encaixa no mesmo modelo do primeiro, apenas mudamos a in- terpretação dos símbolos para A = “Joãozinho”, E = “quebrada”, M =“Bola” e P = “a vidraça do pátio”. A grande vantagem de se trabalhar com modelos de argumentos é que tudo que descobrirmos sobre um modelo se aplica a todos os argumentos que se encaixam nele. Argumentos Dedutivos e Indutivos Um argumento dedutivo é um argumento no qual acredita-se que as premissas fornecem uma garantia da verdade da conclusão. Em um argumento dedutivo, a intenção das premissas é fornecer um suporte tão grande a conclusão que é impossível a conclusão ser falsa se as premissas forem verdadeiras. Já em um argumento indutivo, acredita-se que as premissas fornecem uma garantia da provável verdade da conclusão. Em um argumento indutivo, a intenção das premissas é fornecer um suporte suficiente a conclusão, de modo que é improvável que a conclusão seja falsa, no caso das premissas serem verdadeiras. A diferença entre os dois tipos de argumento vem do tipo de re- lação que o autor ou expositor do argumento considera haver entre as premissas e a conclusão. Se o autor do argumento considera que a verdade das premissas estabelece definitivamente a verdade da conclusão, devido à definição dos termos, a vinculação matemática ou a necessidade lógica, então o argumento é dedutivo. Se o autor do argumento não acha que a verdade das premissas estabelece a verdade da conclusão em definitivo, mas mesmo assim acredita que a sua verdade fornece uma boa razão para acreditar que a conclusão é verdadeira, então o argumento é indutivo. 18 introdução à lógica Os seguintes argumentos são exemplos de argumentos dedutivos: (1) Há 32 livros na prateleira superior da estante, e 12 na prateleira inferior. (2) Não há livros em qualquer outro lugar na minha estante. (3) Há 44 livros na estante. (1) Bergen é uma cidade da Noruega ou da Suécia. (2) Noruega e Suécia são países da Escandinávia. (3) Bergen é uma cidade da Escandinávia. No primeiro caso, a conclusão segue das premissas por causa de uma relação matemática óbvia (se uma urna está dividida em exatamente dois compartimentos separados, um contendo x objetos e outro contendo y, a urna contém x + y objetos). Já no segundo caso, a conclusão segue das premissas em virtude das definições dos termos, uma vez que a Escandinávia é a região do norte da Europa que abrange Suécia, Dinamarca e Noruega. Por outro lado, argumentos indutivos podem apelar para quais- quer considerações que possam aumentar a probabilidade da ver- dade da conclusão. Assim, argumentos indutivos podem tomar as mais variadas formas, incluindo uso de estatísticas, generalizações de experiências passadas, analogias, apelo a evidências, uso de opiniões de especialistas, testemunhas ou autoridades etc. Os argumentos da seção anterior ( “Antônio matou Pedro” e “Joãozinho quebrou a vidraça do pátio”) são exemplos de argu- mentos indutivos. Eles são altamente prováveis, se assumirmos que as premissas são verdadeiras. Mas em ambos os casos, não pode- mos garantir com certeza absoluta. Uma bola chutada de longe pelo vizinho pode ter quebrado a vidraça ou o assassino de Pedro pode ter editado as fitas das câmeras de segurança. O fato de haver pólvora nas mãos de Antônio não prova nada por si só, ele podia estar treinando tiro. Da mesma forma, Joãozinho brincar com a bola não quer dizer que ele quebrou a vidraça. Mas quando reunimos to- das as premissas, a probabilidade da conclusão aumenta. Essa é uma característica dos argumentos indutivos: sempre é possível aumentar a probabilidade da conclusão com auxílio de novas premissas. Se adi- cionássemos a premissa “A testemunha T viu A alterar o estado de P”, os argumentos ganhariam ainda mais força. Argumentos indutivos são muito comuns nas ciências e no uso cotidiano. Também em Matemática o processo de raciocínio indu- tivo exerce um papel importante na formulação de conjecturas e na resolução de problemas. Mas ao contrário de outras ciências, onde normalmente sequer é possível afirmar que algo é verdade com 100% argumentos 19 de certeza, na Matemáticao objetivo é exatamente chegar a certeza absoluta das proposições, e portanto a exposição de qualquer teoria matemática consiste basicamente no encadeamento de vários argu- mentos dedutivos. Por isso vamos nos ater neste curso a parte da Lógica que estuda os argumentos dedutivos, a chamada Lógica Dedutiva. Exercício 7. Decida se os argumentos seguintes são dedutivos ou indutivos: (a) “Através da história, as pessoas repetem os mesmos erros, por- tanto concluimos que erros serão cometidos no futuro.” (b) “As baleias são mamíferos, logo as baleias assassinas também são.” (c) “Treinamento com halteres é inerentemente seguro. Eu nunca observei uma lesão muscular causada pelo treino com halteres. ” (d) “Dado que as espécies evoluem, membros de uma espécie de- vem de alguma forma dar origem a membros de outra espécie. Segue que membros da segunda espécie derivam de membros da primeira. ” Validade e Fundamentação Quem emite um argumento dedutivo quer convencer a audiência que a conclusão do argumento é uma consequência necessária das pre- missas. Para ver se um argumento é realmente convincente, devemos analisá-lo de dois pontos de vista, primeiro com relação a forma e depois quanto ao conteúdo. Por exemplo, vamos analisar a forma de um dos argumento acima, aquele cuja conclusão é “Belsen é uma cidade da Escandinávia”. Este argumento possui a seguinte forma: (1) A está em B ou está em C. (2) B e C estão em D. (3) A está em D. Analisando a estrutura desse argumento, vemos que sempre que os símbolos A,B,C e D são escolhidos de forma que as premissas sejam verdadeiras, então a conclusão é necessariamente verdadeira. Em geral, dizemos que um argumento dedutivo é um argu- mento válido se ele toma uma forma na qual é impossível que a conclusão seja falsa, caso as premissas sejam verdadeiras. Se um ar- gumento é válido ou inválido, é apenas uma questão de forma, não de conteúdo. Por exemplo, o argumento 20 introdução à lógica (1) Marcos é Brasileiro ou Chileno. (2) Brasil e Chile estão na Ásia. (3) Marcos é Asiático. possui a mesma forma do anterior, portanto trata-se também de um argumento válido. Mas quando analisamos o conteúdo, vemos que a segunda premissa é falsa. Neste caso dizemos que o argumento é válido, mas infundado, pois uma das premissas que deveriam suportar a conclusão é falsa. Assim, em resumo, um argumento é um argu- mento fundamentado se ele é válido quanto a forma e se todas as premissas são verdadeiras. Um argumento infundado, por sua vez, é um argumento que é válido mas que possui ao menos uma das premissas falsa. Argumentos Dedutivos Inválidos Válidos Fundamentados Infundados Indutivos Para reforçar estes conceitos, considere agora o seguinte argu- mento: (1) Todos os papas residem no vaticano. (2) Bento XVI reside no vaticano. (3) Bento XVI é um papa. Será que esse argumento é válido? Apesar de tanto as premissas quanto as conclusões serem verdadeiras, intuitivamente vemos que há algo de errado no argumento como um todo, pois o simples fato de Bento XVI residir no vaticano não parece dar suporte suficiente a conclusão de que ele é um papa. De fato, quando analisamos a estrutura do argumento, vemos que ele pode ser colocado na forma (1) Todo A é B. (2) C é B. (3) C é um A. Se esse argumento fosse válido, para quaisquer escolhas de símbolos A,B e C para as quais as premissas fossem verdadeiras, deveríamos ter que a conclusão também deveria ser verdadeira. Mas faça A = “abacate”, B = “verde” e C = “Meu papagaio”. Temos assim o argumento (1) Todo abacate é verde. (2) Meu papagaio é verde. (3) Meu papagaio é um abacate. cuja conclusão é obviamente falsa. Teste Rápido Responda com verdadeiro ou falso: 1. Um argumento fundamentado é um argumento dedutivo que é válido e cujas premissas são verdadeiras. (a) Verdadeiro (b) Falso argumentos 21 2. É impossível um argumento dedutivo ser válido e infundado. (a) Verdadeiro (b) Falso 3. Se um argumento dedutivo é válido, ele não pode ser infundado. (a) Verdadeiro (b) Falso 4. Se as premissas de um argumento dedutivo são verdadeiras, então o argumento é fundamentado. (a) Verdadeiro (b) Falso 5. Se as premissas de um argumento são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. (a) Verdadeiro (b) Falso 6. Se um argumento dedutivo é válido, então sua conclusão pode ser verdadeira ou falsa. (a) Verdadeiro (b) Falso 7. Se um argumento válido possui uma conclusão falsa, então ao menos uma das premissas deve ser falsa. (a) Verdadeiro (b) Falso � Silogismos Categóricos Para entender melhor os conceitos de argumentos válidos e inválidos, vamos considerar um tipo de argumento muito simples chamado de silogismo categórico. Silogismos foram investigados sistemati- camente pelo grande filósofo grego Aristóteles (fig. 8). Um silogismo categórico consiste em exatamente três proposições categóricas que relacionam três classes de objetos. Mais precisamente, um silogismo categórico é um argumento consistindo de duas premissas e uma conclusão, todas elas proposições categóricas, relacionadas de tal modo que as duas premissas têm uma classe em comum e a con- clusão relaciona as duas outras classes. Figura 8: Aristóteles Isso parece complicado, mas não é difícil de entender na prática. Considere o seguinte silogismo: (1) Todos os astrônomos são altamente educados. (2) Pessoas educadas são bens para a sociedade. (3) Todos os astronômos são bens para a sociedade. Cada proposição é uma proposição universal afirmativa. As duas primeiras são as premissas e a última é a conclusão. Essas três proposicões relacionam três classes de objetos: ’astrônomos’, ’pessoas altamente educadas’, e ’bens para a sociedade’. Cada uma dessas http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist�teles 22 introdução à lógica classes aparece duas vezes no silogismo. As classes presentes na conclusão (’astrônomos’, ’bens para sociedade’) aparecem em difer- entes premissas. A classe restante (’pessoas altamente educadas’) aparece uma vez em cada premissa. Dependendo da posição das classes em um silogismo, o silogismo pode ser um argumento válido ou inválido. Ate aqui, temos usado S e P para representar o sujeito e o pred- icado de uma proposição categórica. Agora vamos restringir o uso de S e P para o sujeito e predicado da conclusão de um silogismo e introduzir o símbolo M para representar a terceira classe: S = sujeito da conclusão P = predicado da conclusão M = classe comum as duas premissas, ou termo “médio” De acordo com essa convenção, podemos identificar S, P e M no silogismo acima como: S = astrônomos P = bens da sociedade M = pessoas altamente educadas Cada um desses símbolos representa uma classe de objetos. O silogismo que usamos de exemplo segue o seguinte modelo formal: (1) Todo S é M. (2) Todo M é P. (3) Todo S é P. Mais uma vez, quando analisamos a validade de um argumento, estamos interessados apenas na sua forma e não em seu conteúdo. As premissas podem ou não ser verdadeiras. Isso pode levar a certos exemplos que são esdrúxulos, mas válidos. Por exemplo, considere o seguinte silogismo: (1) Todos os cães são seres altamente educados. (2) Todos os seres altamente educados praticam nado sincronizado. (3) Todos os cães praticam nado sincronizado. A conclusão é ridícula, mas o silogismo ainda assim é válido, pois ele possui a mesma forma do que analisamos acima. O que ocorre é que as premissas são falsas Em resumo, para facilitar a análise da validade de um silogismo, devemos ignorar o conteúdo e nos concentrar apenas na forma. argumentos 23 Diagramas de Venn para Silogismos Podemos verificar facilmente a validade de um silogismo usando diagramas de Venn. A idéia é bastante simples: inicialmente, rep- resentamos cada uma das premissas usando diagramas de Venn; depois fundimos esses dois diagramas em um único diagrama com três círculos, já que um silogismo relaciona três classes; finalmente, verificamos se a conclusão do silogismo pode ser “lida” no diagrama resultante. Vamos ver como isso funciona na prática em alguns exem- plos.1. Considere o silogismo (1) Nenhum M é P. (2) Todo S é M. (3) Nenhum S é P. Inicialmente, representamos as duas premissas usando diagramas de Venn, como discutimos no capítulo anterior: M P S M (1) Nenhum M é P. (2) Todo S é M. Note que representamos a classe M como um terceiro círculo que intersecta as classes P e S. Utilizamos um círculo tracejado apenas para guardar o lugar da classe restante. A seguir, fundimos os dois diagramas, pintando aquelas regiões que estão hachuradas em ao menos um dos diagramas que representam as premissas: M PS 24 introdução à lógica Podemos agora tentar ver se a conclusão pode ser lida do dia- grama. Neste caso, a conclusão é “Nenhum S é P”. Quando ol- hamos o diagrama, vemos que a única região de S que não está hachurada, e que portanto pode possuir membros, não está no círculo que representa a classe P. Portanto a conclusão segue das premissas e o silogismo é válido. M PS Nenhum S é P 2. O seguinte silogismo é um dos mais usados: (1) Todo M é P. (2) Todo S é M. (3) Todo S é P. Para verificar sua validade, representamos os diagramas de Venn das premissas: M P S M (1) Todo M é P. (2) Todo S é M. Fundimos os dois diagramas de maneira semelhante ao caso acima: M PS A única região de S que não está hachurada é a região comum às três classes. Está região está inteiramente contida em P, logo este silogismo é sempre válido. M PS Todo S é P argumentos 25 3. O próximo silogismo envolve proposições particulares: (1) Todo M é P. (2) Algum M é S. (3) Algum S é P. Lembre-se que para representar a segunda premissa, colocamos um X na região comum às classes M e S: M P S M X (1) Todo M é P. (2) Algum M é S. Como não sabemos se o elemento que está na região comum a S e M pertence ou não à classe P, colocamos o X exatamente sobre a região tracejada. Mas na hora de fundir as duas premissas, vemos que o X não pode ficar na região hachurada, ficando assim na região central: M PS X Analisando a figura resultante, vemos que a conclusão “Algum S é P” segue necessariamente, e portanto o silogismo é válido. M PS X Algum S é P 4. Agora, vejamos um exemplo de silogismo inválido: (1) Todo P é M. (2) Algum S é M. (3) Algum S é P. 26 introdução à lógica M P S M X (1) Todo P é M. (2) Algum S é M. Outra vez, a única coisa que soubemos sobre o membro X é que ele pertence a S e a M. Nada podemos afirmar sobre sua relação com a classe P. Por isso, na fusão das premissas, colocamos o X sobre a fronteira da região P: M PS X Assim, pode ser que o X pertença a classe P ou não, e a conclusão “Algum S é P” não segue necessariamente das premissas. M PS X X pode estar em S mas não estar em P5. Este último exemplo levanta questões interessantes: (1) Nenhum P é M. (2) Todo M é S. (3) Algum S não é P. M P S M (1) Nenhum P é M. (2) Todo M é S. argumentos 27 M PS A fusão das premissas é bastante simples, mas quando tentamos ler a conclusão, vemos que não existe um X na região de M que não está hachurada. Assim, devemos concluir que o silogismo é inválido, pois não podemos ler “Algum S não é P”. Entretanto, se soubermos que a classe M possui algum elemento, esse ele- mento necessariamente está em S e não está em P, logo “Algum S não é P”. Em outras palavras, o silogismo passa a ser válido se acrescentarmos a premissa “Existe algum M”. M PS Se existem mem- bros em M, eles estão em S e não estão em P Exercício 8. Represente graficamente cada um dos silogismos abaixo usando diagramas de Venn e decida sobre sua validade: (a) (1) Toda máquina que não polui é uma máquina eficiente. (2) Nenhum automóvel é uma máquina eficiente. (3) Nenhum automóvel é uma máquina que não polui. (b) (1) Nenhum professor de lógica é uma pessoa benevolente (2) Alguns ditadores são pessoas benevolentes. (3) Alguns ditadores não são professores de lógica. (c) (1) Todos os pintores são artistas (2) Todos os escultores são artistas. (3) Todos os escultores são pintores. 28 introdução à lógica (d) (1) Alguns médicos não são a favor da eutanásia. (2) Algumas pessoas a favor da eutanásia são ateus. (3) Alguns médicos não são ateus. Implicação Argumentos dedutivos podem assumir diversas formas, como vimos no capítulo anterior no caso dos silogismos. Mas silogismos, apesar de úteis, não são suficientes para representar argumentos mais complexos. A principal ferramenta necessária para representar argumentos complexos, como aqueles utilizados em demonstrações matemáticas, é o conceito de implicação, ou seja, implicações são proposições da forma “Se P, então Q”, onde P e Q são duas outras proposições. Por exemplo, a proposição “Se um cidadão está no Exército, então ele tem mais de 18 anos” é uma implicação, com P = “Um cidadão está no Exército” e Q = “Ele (o cidadão) tem mais de 18 anos”. A proposição P é chamada de antecedente e a proposição Q de consequente. Uma implicação assegura que o consequente é verdadeiro sempre que o antecedente também for verdadeiro. No exemplo acima, se um cidadão estiver realmente no Exército, certamente ele terá mais de 18 anos. É importante frisar que uma implicação não assegura que o consequente é verdadeiro, mas apenas que se o antecedente for verdadeiro, então o consequente será verdadeiro também. Na nossa linguagem cotidiana, as implicações podem ser expressas de várias maneiras. Por exemplo, a mesma proposição acima pode ser expressa como Se um cidadão está no Exército, então ele tem mais de 18 anos. Um cidadão estar no Exército implica que ele tem mais de 18 anos. Se um cidadão está no Exército, ele tem mais de 18 anos. Um cidadão está no Exército somente se tem mais de 18 anos. Um cidadão estar no Exército é condição suficiente para ter mais de 18 anos. Um cidadão tem mais de 18 anos se está no Exército. Um cidadão tem mais de 18 anos sempre que está no Exército. Um cidadão ter mais de 18 anos é uma condição necessária para estar no Exército. Se P, então Q. P implica (que) Q. Se P, Q. P somente se Q. P é uma condição suficiente para Q. Q se P. Q sempre que P. Q é uma condição necessária para P. 30 introdução à lógica Note que em alguma das formas acima, o antecedente P aparece depois do consequente, mas nem por isso vamos chamá-lo de con- sequente. Devemos sempre transformar a implicação dada na forma “Se P, então Q” para poder identificar antecedente e consequente. Exercício 9. Identifique o antecedente e o consequente de cada im- plicação abaixo: (a) “Se chove, não vou para a escola.” (b) “Ter a taxa de juros baixa é uma condição necessária para o país crescer.” (c) “O Corinthians vence somente se Ronaldo joga.” (d) “Dois círculos se intersectam em um ponto sempre que a soma dos raios é igual a distância entre os centros.” (e) “Excesso de fritura na alimentação é uma condição suficiente para infarto do coração.” (f) “Não há risco de engravidar, se vocês tomaram as precauções indicadas.” A Recíproca e a Contrapositiva Existem duas proposições relacionadas a uma implicação “Se P, então Q”: a recíproca e a contrapositiva. A recíproca é obtida invertendo-se antecedente e consequente, ou seja, ela tem a forma “Se Q, então P”. Assim, a recíproca de “Se um cidadão está no Exército, então ele tem mais de 18 anos” é “Se um cidadão tem mais de 18 anos, então ele está no Exército”. Como está claro nesse exemplo, nem sempre a recíproca é verdadeira, pois a maioria dos cidadãos de mais de 18 anos não está no exército. Mas para outras implicações, pode ocorrer que a recíproca também seja verdadeira. Por exemplo, tanto a proposição “Se um triângulo possui dois lados iguais, então possui dois ângulos internos iguais” quanto sua recíproca “Se um triângulo possui dois ângulos inter- nos iguais, então possui dois lados iguais” são verdadeiras. Quando isso acontece, podemos escrever as duas proposições em uma única frase da forma “P se, e somente se, Q” ou ainda “P é uma condição necessária e suficiente para Q”. No exemplo ilustrado neste pará- grafo temos que “um triângulo possui dois lados iguais se,e somente se, possui dois ângulos internos iguais” ou “Em um triângulo, ter dois lados iguais é uma condição necessária e suficiente para ter dois ângulos internos iguais”. | | implicação 31 Já a contrapositiva da proposição “Se P, então Q” tem a forma “Se não Q, então não P”. Note que na contrapositiva o antecedente é a negação do consequente da proposição original e vice versa. Assim, a contrapositiva de “Se um cidadão está no Exército, então ele tem mais de 18 anos” é “Se um cidadão tem menos de 18 anos, então ele não está no Exército”, onde mudamos a expressão “não tem mais de 18 anos” para a ex- pressão equivalente “tem menos de 18 anos” só por clareza. É óbvio que a contrapositiva de implicação verdadeira é sempre verdadeira, pois Q é uma condição necessária para P (”ter mais de 18 anos é necessário para estar no Exército”). Se essa condição não é satisfeita ( “não Q” = “tem menos de 18 anos”) a condição P também não poderá ser ( “não P” = “não está no Exército”). Portanto, sempre que nos for apresentada uma implicação da forma “Se P, então Q”, podemos imediatamente formar sua contrapositiva “Se não Q, então não P”, sendo esta tão verdadeira quanto a proposição original. Em resumo, o seguinte argumento é sempre válido: (1) Se P, então Q. (2) Se não Q, então não P. Exercício 10. Forme a recíproca e a contrapositiva de cada impli- cação a seguir: (a) “Se chove, então não vou para a escola.” (b) “Se o país cresce, então a taxa de juros é baixa.” (c) “Se o Corinthians vence, então Ronaldo joga.” (d) “Se a soma dos raios é igual a distância entre os centros, então dois círculos se intersectam em um ponto.” (e) “Se há excesso de fritura na alimentação então há risco de infarto do coração.” (f) “Se vocês tomaram as precauções indicadas, então não há risco de gravidez.” Argumentos Condicionais Como dissemos no início do capítulo, muitos argumentos complexos podem ser formalizados através do uso de implicações. Vamos mostrar agora alguns desses argumentos, os quais chamaremos de argumentos condicionais. A maioria dos argumentos utilizados em matemática se encaixa em um dos modelos a seguir. 32 introdução à lógica Afirmação do Antecedente O argumento do tipo Afirmação do Antecedente, também con- hecido como Modus Ponens , é o mais usado, tendo a forma modus ponens em latim pode ser traduzido como “maneira de afirmar”. (1) Se P, então Q. (2) P. (3) Q. O argumento consiste em duas premissas: a primeira é uma impli- cação com antecedente P e consequente Q. A segunda premissa é justamente a afirmação do antecedente P. Assim, podemos concluir de (1) e (2) que a proposição Q é verdadeira. Veja o seguinte exemplo concreto: (1) Se fizer sol, então eu vou à praia. (2) Faz sol. (3) Eu vou à praia. Apesar da simplicidade deste argumento, é preciso um certo cuidado para não cair em um erro muito comum e ao invés de afirmar o antecedente, afirmar o consequente. Por exemplo, o argumento (1) Se um número primo é maior que dois, ele é ímpar. (2) 7 é ímpar. (3) 7 é primo. pode parecer correto, já que tanto as premissas quanto a conclusão são verdadeiras. Mas este argumento é inválido pois sua forma é (1) Se P, então Q. (2) Q. (3) P. Se o argumento fosse válido, ele funcionaria para quaisquer proposições P e Q que satisfizessem as premissas. Mas fazendo Q = “9 é ímpar”, temos (1) Se um número primo é maior que dois, ele é ímpar. (2) 9 é ímpar. (3) 9 é primo. cuja conclusão é falsa. O erro está no fato de afirmarmos o conse- quente, e não o antecedente. Negação do Consequente Vimos que a afirmação do consequente dá origem a argumentos inválidos. Mas a Negação do Consequente funciona. Este argu- Este argumento também tem um nome en latim: Modus Tolens, algo como “maneira de negar”. implicação 33 mento possui a seguinte estrutura: (1) Se P, então Q. (2) não Q. (3) não P. Note que a segunda premissa consiste na negação do consequente Q. Para ver que argumentos desta forma são válidos, basta lembrar que a proposição “Se P, então Q” é tão verdadeira quanto sua con- trapositiva “Se não Q, então não P”. Assim, “não Q” é a afirmação do antecedente da contrapositiva, e portanto “não P” segue. Veja este exemplo concreto: (1) Se um cidadão está no Exército, ele tem mais de 18 anos. (2) Antônio tem 15 anos. (3) Antônio não está no Exército. Análise de Casos Um argumento do tipo Análise de Casos ocorre quando necessi- tamos dividir um argumento em vários cenários que descrevem uma situação completamente. Em sua forma mais simples, ele possui o seguinte modelo: (1) P ou Q. (2) se P, então R. (3) se Q, então R. (4) R. A premissa (1) que ou a condição P é satisfeita, ou a condição Q é satisfeita, ou ainda que as duas são satisfeitas simultaneamente. As premissas (2) e (3) dizem que R é verdadeira tanto se P quanto se Q são verdadeiras. Portanto, podemos concluir em (4) que R é verdadeira. Um exemplo simples deste argumento é o seguinte: (1) Em minha cidade, posso usar ou o provedor de internet A ou o provedor B. (2) se for o provedor A, então o serviço é caro e lento. (3) se for o provedor B, então o serviço é caro e lento. (4) Em minha cidade, o serviço de internet é caro e lento. 34 introdução à lógica É importante que as condições da premissa (1) esgotem todas as possibilidades. Se houvesse um provedor C na cidade que fosse rápido e barato, não poderíamos chegar a conclusão (4). Silogismo Hipotético Um Silogismo Hipotético é uma argumento que nos permite deduzir uma implicação de duas outras implicações relacionadas. Ele possui a forma (1) Se P, então Q. (2) Se Q, então R. (3) Se P, então R. Este argumento é válido pois o antecedente da conclusão é o mesmo da primeira premissa (P), o consequente da primeira premissa é o antecedente da segunda premissa (Q) e o consequente da segunda premissa é o consequente da conclusão (R). Portanto se P, então Q e então R. Veja o exemplo concreto a seguir: (1) Se Hitler tivesse atacado a Inglaterra dois meses antes, então ele teria vencido a Batalha da Inglaterra. (2) Se Hitler tivesse vencido a Batalha da Inglaterra, então ele teria vencido a Segunda Guerra Mundial. (3) Se Hitler tivesse atacado a Inglaterra dois meses antes, então ele teria vencido a Segunda Guerra Mundial. Esse esquema formal claramente funciona para um número maior de condições. Por exemplo: (1) Se você estuda, então lê bons livros. (2) Se voce lê bons livros, então adquire cultura. (3) Se você adquire cultura, então se torna uma pessoa importante. (4) Se você se torna importante, então pode concorrer a uma vaga para o Senado. (5) Se você concorrer a uma vaga para o Senado, então pode ser eleito Senador. (6) Se você estuda, então pode ser eleito Senador. mas note que estudar é uma condição suficiente, mas — infelizmente! — não necessária para ser Senador. Note que o consequente de cada premissa é o antecedente da pre- missa seguinte e a conclusão é formada pelo antecedente da primeira premissa e pelo consequente da última. implicação 35 Redução ao Absurdo Um argumento do tipo Redução ao Absurdo pode assumir várias Em latim, reductio ad absurdum. formas, mas a idéia básica é a seguinte: queremos concluir que uma certa proposição P é verdadeira; para tanto assumimos provisoria- mente que ela é falsa e dessa suposição chegamos a uma contradição envolvendo uma outra proposição Q. Em sua variante mais simples, este argumento assume a seguinte forma: (1) Q. (2) Se não P, então não Q. (3) P. A validade desse argumento segue do Princípio da Não Contradição, pois pela premissa (2) de “não P” obtemos “não Q”, o que contradiz a premissa (1). Como não é possível ter ambas proposição Q e “não Q” verdadeiras ao mesmo tempo, segue necessariamente que P é verdadeira. O exemplo a seguir ilustra bem a utilização da redução ao ab- surdo: Um cientista anunciou ter desenvolvido um programa de computador capaz de ganhar qualquer partida de xadrez, contra qualquer adversário, quer saia com as peças brancas, quer com as pretas. Será que isso é possivel? Suponha quetal programa de xadrez que sempre ganha seja possivel. Então poderíamos colocar este programa em dois computadores iguais e colocá-los para jogar entre si. Como o programa sempre ganha, o jogo de xadrez termi- naria com dois vencedores, mas isto vai contra as regras do jogo! Um jogo de xadrez ou tem apenas um vencedor, ou termina em empate. Portanto um programa que sempre vence é impossível. Para ade- quar este exemplo ao esquema formal acima, fazemos Q = “O jogo de xadrez tem no máximo um vencedor” e P = “É impossível um programa de xadrez sempre ganhar”. Talvez com um xadrez diferente possam existir dois vencedores. Teste Rápido Classifique os seguintes argumentos: 1. “Experimentos com animais são justificáveis somente se eles não sentem dor. Como é óbvio que animais sentem dor, tais experi- mentos são injustivicáveis.” (a) Afirmação do Antecedente (b) Negação do Consequente (c) Análise de Casos (d) Silogismo Hipotético (e) Redução ao Absurdo 2. “Se o Presidente não é honesto, não é confiável. E se não é con- fiável, não pode permanecer no poder. Se ele foi pego roubando, então deve renunciar.” (a) Afirmação do Antecedente (b) Negação do Consequente (c) Análise de Casos (d) Silogismo Hipotético (e) Redução ao Absurdo 36 introdução à lógica 3. “Ou o paciente tem leucemia ou tem cirrose hepática. Se for leucemia, será necessário um transplante de figado. Se for cirrose, será necessário um transplante de medula. Portanto, certamente o paciente necessitará de transplante.” (a) Afirmação do Antecedente (b) Negação do Consequente (c) Análise de Casos (d) Silogismo Hipotético (e) Redução ao Absurdo 4. “Toda vez que como feijoada, passo mal. Ontem comi feijoada, por isso estou aqui na emergência.” (a) Afirmação do Antecedente (b) Negação do Consequente (c) Análise de Casos (d) Silogismo Hipotético (e) Redução ao Absurdo 5. “Se pessoas gostassem de animais só porque eles são raros, elas gostariam de cães só porque eles são raros. Mas cães não são raros, portanto não é verdade que as pessoas gostam de animais só porque eles são raros.” (a) Afirmação do Antecedente (b) Negação do Consequente (c) Análise de Casos (d) Silogismo Hipotético (e) Redução ao Absurdo � implicação 37 Representação Gráfica de Cadeias de Implicações Vejamos agora como podemos representar cadeias de implicações graficamente. Esta representação gráfica é útil na resolução de prob- lemas lógicos que envolvam situações onde várias condições devem ser satisfeitas simultaneamente. A idéia é básica consiste em repre- sentar cada implicação da forma “Se P, então Q” por uma seta P Q Além disso, sempre que for necessário negar uma proposição, acres- centamos um apóstrofo. Por exemplo, “não P” é representado por P′. Assim, a contrapositiva da implicação “Se P, então Q” é representada por Q′ P′ Quando juntamos todas as implicações, podemos obter cadeias do tipo P Q R donde podemos concluir que “Se P, então R”, por um argumento do tipo Silogismo Hipotético. Vamos aplicar esta idéia no seguinte problema prático: Em um letreiro luminoso, existem 7 lâmpadas numeradas de 1 a 7. As lâm- padas estão conectadas de modo que se certas luzes estão acesas, outras estão apagadas. As condições exatas são as seguintes: Se a luz 2 está apagada, então a luz 1 está acesa. Se a luz 4 está acesa, então a luz 3 está acesa. Se a luz 5 está acesa, então a luz 1 está acesa. Se a luz 5 está acesa, então a luz 4 está acesa. Se a luz 6 está apagada, então a luz 2 está apagada. Se a luz 7 está acesa, então a luz 6 está apagada. Colocadas essas condições, podemos fazer várias perguntas. Por exemplo, se uma determinada luz está acesa, quais devem estar apa- gadas? se uma determinada luz está acesa, quais devem estar acesas? se uma determinada luz está apagada, quais devem estar acesas? se uma determinada luz está apagada, quais devem estar apagadas? Para responder essas perguntas, vamos empregar o método gráfico. Chamemos de L1 a proposição “A luz 1 está acesa”, L2 a proposição “A luz 2 está acesa” etc, até L7 a proposição “A luz 7 está acesa”. Pela nossa convenção, L′1 significa que a “não L1”, ou seja, a luz 1 não está acesa, o que é idêntico a “A luz 1 está apagada”. O mesmo acontece para as outras luzes. Assim, as seis condições sobre as luzes são representadas como 38 introdução à lógica L′2 L1 L4 L3 L5 L1 L5 L4 L′6 L ′ 2 L7 L′6 Podemos também formar as contrapositivas de cada uma dessas implicações. Na primeira implicação, por exemplo, temos que “Se a luz 2 está apagada, então a luz 1 está acesa”. A contrapositiva desta implicação é “Se a luz 1 está apagada, então a luz 2 está acesa”, cuja representação gráfica é L′1 L2 Note que quando tomamos a contrapositiva o que ocorre na prática é que invertemos o sentido das setas e acrescentamos um apóstrofo em cada simbolo, tomando cuidado de eliminar dois apóstrofos suces- sivos, pois a negação de uma negação é uma afirmação. Fazendo isso para todas as implicações acima, obtemos L′2 L1 L2 L ′ 1 L4 L3 L′4 L ′ 3 L5 L1 L′5 L ′ 1 L5 L4 L′5 L ′ 4 L′6 L ′ 2 L6 L2 L7 L′6 L ′ 7 L6 Podemos agora sintetizar todas essas implicações em um único dia- grama no qual não apareçam símbolos repetidos. Com um pouco de cuidado, chegamos ao seguinte gráfico: L7 L′6 L ′ 2 L1 L5 L4 L3 L′3 L ′ 4 L′5 L′1 L2 L6 L′7 Veja que o gráfico está dividido em duas partes, uma para as impli- cações dadas e outra para as contrapositivas, sendo que uma pode implicação 39 ser obtida da outra simplesmente invertendo-se as setas e trocando o sinal de apóstrofo. A interpretação do gráfico é muito simples: sempre que for pos- sível sair de um símbolo a outro “seguindo o caminho das setas”, temos uma relação de implicação. Portanto, vemos que se a luz 7 está acesa, as luz 1 também está, pois podemos sair de L7 e chegar a L1 pelo caminho de cima da parte direita. Da mesma forma, sabemos L7 L′6 L ′ 2 L1 que se a luz 3 está apagada, então a luz 5 também está, pois podemos sair de L′3 e chegar a L ′ 5. L′3 L′4 L′5 É importante ressaltar que as condições dadas não nos permitem responder todas as perguntas possíveis sobre o estado das lâmpadas. Por exemplo, como não sai nenhuma seta de L1, não podemos afir- mar se uma certa luz está acesa ou apagada quando a luz 1 está acesa. Por outro lado, sabemos que se ela estiver apagada, as luzes 2 e 6 estarão acesas e as luzes 5 e 7, apagadas. Teste Rápido Responda as seguintes questões: 1. Se a luz 7 está ligada, qual dos seguintes itens é verdadeiro? (a) A luz 2 está desligada (b) A luz 6 está ligada (c) A luz 4 está desligada (d) A luz 5 está ligada (e) A luz 3 está ligada 2. Se a luz 5 está ligada, qual dos seguintes itens não pode ser ver- dadeiro? (a) A luz 4 está ligada (b) A luz 1 está ligada (c) A luz 6 está desligada (d) A luz 3 está desligada (e) A luz 7 está ligada 3. Se a luz 1 está desligada, qual dos seguintes itens poderia ser verdadeiro? (a) A luz 5 está ligada (b) A luz 2 está desligada (c) A luz 3 está desligada (d) A luz 7 está ligada (e) A luz 6 está desligada 4. Se a luz 5 está desligada, qual dos seguintes itens não pode ser verdadeiro? (a) As luzes 1 e 2 estão ligadas (b) As luzes 3 e 7 estão desligadas (c) As luzes 4 e 6 estão ligadas (d) As luzes 2 e 4 estão desligadas (e) As luzes 7 e 2 estão ligadas 5. Se a luz 3 está desligada, qual dos seguintes itens deve ser ver- dadeiro? 40 introdução à lógica (a) As luzes 1 e 6 estão ligadas (b) As luzes 4 e 5 estão desligadas (c) As luzes 7 e 1 estão ligadas (d) As luzes 6 e 5 estão desligadas (e) As luzes 2 e 4 estão ligadas � Exercício 11. Em um colônia de férias, algumas crianças estão an- siosas para brincar na piscina. Mas para que a ordem seja mantida, alguns deles não podem ficar ao mesmo tempo na piscina. As regras são as seguintes: Ana e Bento ficam na piscina somente se Cristina estiver. Ana fica na piscina se Daniel estiver. Fernando fica na piscina somente se Cristina e Eduardo estiverem. Bento fica na piscina se Fernando estiver. Se Fernando está fora da piscina, entãoDaniel fica de fora. Represente graficamente a cadeia de implicações, fazendo A = “Ana está na piscina”, B = “Bento está na piscina” etc. Teste Rápido Com relação ao exercício anterior, responda as seguintes questões: 1. Qual destes grupos de crianças poderia estar na piscina sem que nehuma outra criança estivesse junto? (a) Daniel, Eduardo, Cristina e Bento (b) Fernando, Eduardo, Bento e Cristina (c) Bento, Fernando, Eduardo e Daniel (d) Daniel, Cristina, Ana e Fernando (e) Nenhuma das respostas acima 2. Se Daniel está na piscina, qual o número mínimo de crianças nela? (a) Três (b) Quatro (c) Cinco (d) Seis (e) Sete 3. Se Cristina não está na piscina, quem poderia estar? (a) Ana (b) Eduardo (c) Fernando (d) Daniel (e) Nenhuma das respostas acima 4. Se Eduardo está fora da piscina, qual das seguintes proposições deve ser verdadeira? implicação 41 (a) Ana está fora da piscina (b) Daniel está na piscina (c) Fernando está na piscina (d) Bento está fora da piscina (e) Daniel está fora da piscina 5. Se não mais que duas crianças estão fora da piscina, quem destes pode estar fora? (a) Ana (b) Bento (c) Cristina (d) Eduardo (e) Nenhuma das respostas acima � Exercício 12. Alguns cantores estão sendo selecionados para for- mar um grupo vocal. Entretanto, para que suas vozes combinem, alguns cantores devem ser selecionados com outros. As regras são as seguintes: Se Heitor não for escolhido, então Eduardo será escolhido. Se Daniel é escolhido, então Felipe, Carlos e Alberto serão escolhidos. Se Gilberto é escolhido, então Eduardo não é escolhido. Se Alberto é escolhido, então Bernardo, Felipe e Gilberto serão escolhidos. Represente graficamente a cadeia de implicações, fazendo A = “Al- berto é escolhido”, B = “Bernardo é escolhido” etc. Teste Rápido Com relação ao exercício anterior, responda as seguintes questões: 1. Qual destes grupos de cantores poderia formar um grupo com- pleto de cantores escolhidos? (a) Alberto, Felipe, Gilberto e Heitor (b) Gilberto, Eduardo e Heitor (c) Daniel, Felipe, Alberto, Bernardo, Gilberto e Heitor (d) Eduardo, Alberto, Heitor e Felipe (e) Bernardo, Felipe, Gilberto e Heitor 2. Se Gilberto não for escolhido, então qual das proposições pode ser verdadeira? (a) Bernardo e Alberto serão escolhidos (b) Carlos e Felipe serão escolhidos (c) Daniel e Bernardo serão escolhidos (d) Eduardo e Gilberto serão escolhidos (e) Nem Eduardo nem Heitor serão escolhidos 3. Se Eduardo for selecionado, qual dos seguintes grupos contém apenas os cantores que não devem ser escolhidos? 42 introdução à lógica (a) Alberto, Gilberto e Daniel (b) Daniel, Carlos, Alberto e Gilberto (c) Felipe, Bernardo, Alberto, Gilberto e Daniel (d) Felipe, Bernardo, Alberto, Gilberto, Daniel e Carlos (e) Heitor, Felipe, Bernardo, Alberto, Gilberto, Daniel e Carlos 4. Quantas cantores no máximo poderiam ser escolhidos para o grupo? (a) quatro (b) cinco (c) seis (d) sete (e) oito 5. Se Felipe é escolhido, então qual das seguintes proposições não pode ser verdadeira? (a) Alberto é escolhido (b) Alberto não é escolhido (c) Daniel é escolhido e Heitor não é (d) Carlos é escolhido e Eduardo também (e) Bernardo é escolhido e Gilberto não � Lógica Símbolica Figura 9: Gottfried Leibniz O grande filósofo e matemático Leibniz (fig. 9) dedicou parte de sua obra a criação de uma linguagem na qual todos os conflitos humanos pudessem ser resolvidos de maneira puramente racional. Em suas palavras, “A única maneira de corrigir nossos raciocínios é torná-los tão tangíveis quanto aqueles dos matemáticos, para que possamos encontrar nosso erro num relance, e quando houvesse conflitos entre as pessoas, poderíamos simplesmente dizer: Vamos calcular, sem mais delongas, para ver quem está certo.” Ou seja, Leibniz propôs que se nossos raciocínios pudessem ser es- critos de uma forma algébrica, de maneira similar a que usamos quando resolvemos equações em Matemática, qualquer questão poderia ser resolvida como se resolve uma equação e todos os con- flitos seriam superados. Hoje em dia podemos achar essa idéia ingênua ou ambiciosa demais. Mas no território mais limitado da Lógica e da Matemática, essa idéia frutificou e, graças ao esforço de muitas gerações de lógicos e matemáticos, temos atuamente uma lin- Os principais continuadores do projeto de Leibniz foram George Boole, Augus- tus de Morgan, Charles Peirce, Gottlob Frege e Giuseppe Peano. guagem, com alfabeto e regras próprias, que permite a comunicação de um grande número de idéias, principalmente idéias matemáticas. Neste capítulo, vamos ver uma pequena introdução a essa linguagem chamada Lógica Simbólica. Proposições Atômicas e Proposições Compostas Já vimos que uma proposição é um enunciado que se refere a um fato que é ou verdadeiro ou falso, mas podemos refinar esse conceito. Uma Proposição Atômica é uma proposição que não pode ser decomposta em proposições mais simples. Por exemplo, “O cachorro correu” é uma proposição atômica, enquanto “O cachorro correu e o gato fugiu”, não é uma proposição atômica, porque ela pode decom- posta em duas proposições “O cachorro correu” e “O gato fugiu”. Essas proposições se referem a dois fatos distintos, embora relaciona- http://pt.wikipedia.org/wiki/Gottfried_Leibniz 44 introdução à lógica dos. Uma proposição que não é atômica é chamada Proposição Composta. A verdade ou falsidade de uma proposição composta depende de duas coisas: da sua forma e da verdade ou falsidade de cada uma das proposições que a compõem. Por exemplo, a proposição “José é brasileiro e Juan é boliviano” é uma proposição composta composta de duas proposições atômicas, “José é brasileiro” e “Juan é boliviano”. Por convenção, usamos letras minúsculas como p, q, r etc. para representar as partes de uma proposição composta. Essas letras são conhecidas como variáveis proposicionais, pois elas representam o valor-verdade (ou verdadeiro, ou falso) de uma proposição. Assim, fazendo p = “José é Brasileiro” e q = “Juan é boliviano”, temos que a proposição composta acima tem a forma “p e q”. Ela só é verdadeira se José for brasileiro e Juan for boliviano. Se José não for brasileiro ou se Juan não for boliviano, a proposição “p e q” é falsa. Portanto, a verdade ou falsidade da proposição “p e q” depende não só de cada uma das proposições p e q como também do sentido da palavra “e”. Conectivos Lógicos Palavras como o “e” do exemplo acima são chamadas Conectivos Lógicos. Poderíamos pensar que existem muitos tipos de conec- tivos, já que nossa língua é rica em palavras que ligam duas orações (as conjunções). Mas quando analisamos mais detalhadamente os exemplos de argumentos dos capítulos anteriores, vemos que na verdade apenas quatro conectivos lógicos bastam para representá-los. O primeiro conectivo é o “e”, citado acima, também conhecido conjunção. A conjunção é representada pelo símbolo “&”, de modo que uma proposição composta da forma “p e q” é representada simbolicamente por “p & q”. Como vimos, “p & q” só é verdadeira se ambas as proposições p e q forem verdadeiras. Esse fato pode ser resumido na tabela verdade 1 ao lado. Note que a tabela contém quatro linhas, contendo todas as possíveis combinações de (V)erdade e (F)alsidade para as proposições p e q, assim como o valor-verdade de “p&q”, ou seja, o resultado da conjunção para os valores de p e q de cada linha. Como se vê, a única ocorrência de verdadeiro na col- una “p & q” ocorre na primeira linha, quando os valores de p e q são ambos verdadeiros. p q p&q V V V V F F F V F F F F Tabela 1: Tabela verdade da conjunção. p q p ∨ q V V V V F V F V V F F F Tabela 2: Tabela verdade da disjunção. O segundo conectivo é o “ou”, como na proposição “João é brasileiro ou Juan é boliviano”. O conectivo “ou” é conhecido como dis- junção e é representada pelo símbolo “∨” (do latin “vel”, que significa “ou”). Assim, a proposição “p ou q” é representada sim- bolicamente por “p ∨ q”. A disjunção de duas proposições p e q so é lógica símbolica 45 falsa se as duas proposiçõesforem falsas, como pode ser constatado da tabela verdade 2. Note que o significado do “ou” em Lógica é bastante preciso, diferente do que acontece na nossa língua. Por ex- emplo, em português “João é brasileiro ou Juan é boliviano” pode ser interpretado de modo que ela é verdadeira somente se apenas uma das proposições é verdadeira: ou “João é brasileiro” ou “Juan é boliviano”, mas não é possível que João seja brasileiro e Juan seja bo- liviano. Ou seja, o “ou” em português possui um sentido de oferecer alternativas excludentes, o chamado “ou exclusivo”. Mas em Lógica sempre interpretamos o “ou” inclusivamente. A implicação é o terceiro tipo de conectivo lógico. Nós já estu- damos o conceito de implicação no capítulo anterior, portanto não é estranho que uma proposição composta da forma “se p, então q” seja representada simbolicamente como p → q. Para entender a tabela verdade da implicação, devemos encará-la como uma promessa, de modo que “se p, então q” pode ser interpretada como “É garantido que q, desde que p”. Por exemplo, “Se sua média for maior ou igual a 7, então você será aprovado” pode ser lido como “É garantido que você será aprovado, desde que sua média seja maior ou igual a 7”. A idéia é que a implicação “se p, então q” é falsa quando a promessa é descumprida, e verdadeira caso contrário. No exemplo, se você tirar 9 e for aprovado, p e q são verdadeiras e a promessa foi cumprida, portanto p→ q é verdadeira. Se você tirar 7, 5 e não for aprovado, p é verdadeira, q é falsa e p→ q é falsa, pois a promessa foi quebrada. p q p→ q V V V V F F F V V F F V Tabela 3: Tabela verdade da implicação. Mas o que acontece se você tirar uma nota menor que 7? Ou seja, o que acontece se p for falsa? Digamos que você tire 6, 8 e seja aprovado (p = F e q = V). A promessa foi quebrada? Não, a promessa dizia apenas que você seria aprovado se tirasse 7 ou mais. Da mesma forma, se você tirar 6 e não for aprovado (p = F e q = F), a promessa também não foi quebrada. Como a promessa não foi des- cumprida, não podemos dizer que a implicação p → q é falsa. Como uma proposição deve ser ou verdadeira ou falsa, somos obrigados a concluir que quando p é falsa, a implicação p → q deve ser ver- dadeira. Em resumo, uma implicação p → q é sempre verdadeira, exceto quando p é verdadeira e q é falsa (isto é, quando a promessa é quebrada). Confira a tabela 3. O quarto e último conectivo lógico é especial pois ele se aplica a apenas uma proposição. Trata-se da negação. Representamos uma proposição da forma “não p” simbolicamente por “∼p”. Como já vimos anteriormente, se p é verdadeira, sua negação ∼ p é falsa e vice-versa, de modo que a tabela verdade da negação é bastante simples (veja a tabela 4). p ∼p V F F V Tabela 4: Tabela verdade da negação. Para ver que esses conectivos lógicos são suficientes para represen- tar a maioria dos argumentos, basta notar que quando escrevemos 46 introdução à lógica argumentos da forma (1) P (2) Q (3) R estamos realmente querendo dizer que “Se as premissas P e Q forem satisfeitas, então a conclusão R é satisfeita”, o que é o mesmo que “Se P e Q, então R”, que por sua vez pode ser escrito simbolicamente como (P&Q) → R. Expressões como esta, que envolvem apenas var- iáveis proposicionais e conectivos lógicos são chamadas de fórmu- las. Uma fórmula descreve a forma de uma proposição (lembre-se da distinção que fizemos entre forma e conteúdo de argumentos). Note que usamos parênteses para deixar a fórmula mais clara. Se tivéssemos excluído os parênteses, a fórmula P&Q → R poderia ser interpretada como “P e se Q, então R”. Para um exemplo mais complexo, lembre-se de um argumento do tipo “Análise de Casos”: (1) P ou Q. (2) se P, então R. (3) se Q, então R. (4) R. Sua fórmula é ((P ∨Q)&(P→ R)&(Q→ R))→ R. Exercício 13. Considerando as seguintes proposições atômicas m = “Marte é um planeta que devemos explorar.” e = “Existe água em Marte.” t = “Todo ser vivo precisa de água.” f = “O espaço é a fronteira final.” v = “Vênus é uma planeta que vale a pena explorar.” traduza as fórmulas dadas para o português: (a) ∼e (b) f &v (c) m ∨ v (d) t→ m (e) ( f &t&e)→∼v (f) m→∼v (g) v→∼m (h) ∼(m ∨ v) (i) t→ (∼e→∼m) ( j ) ∼m& ∼v Exercício 14. Transforme os argumentos formais em fórmulas us- ando os conectivos lógicos apropriados: (a) Afirmação do Antecedente (1) Se P, então Q. (2) P. (3) Q. lógica símbolica 47 (b) Negação do Consequente (1) Se P, então Q. (2) não Q. (3) não P. (c) Falácia da Afirmação do Consequente (1) Se P, então Q. (2) Q. (3) P. (d) Silogismo Hipotético (1) Se P, então Q. (2) Se Q, então R. (3) Se P, então R. (e) Redução ao Absurdo (1) Q. (2) Se não P, então não Q. (3) P. (f) Silogismo Disjuntivo (1) P ou Q. (2) não Q. (3) P. Tabelas Verdade de Fórmulas Como vimos, os conectivos lógicos nos permitem combinar diversas proposições em uma única proposição composta ou, mais geral- mente, construir fórmulas envolvendo variáveis proposicionais. Na seção anterior, usamos tabelas verdade para entender o significado de fórmulas nas quais aparece um único conectivo. Mas o mesmo processo pode ser conduzido no caso da fórmula conter mais de um conectivo, basta analisar cada parte da fórmula separadamente. Por exemplo, vamos construir a tabela verdade da fórmula ((p ∨ q)&(∼p))→ q. Para tanto, colocamos na primeira linha da tabela uma coluna para cada variável proposicional, para cada subfórmula escrita entre parênteses e para a fórmula completa: p q p ∨ q ∼p (p ∨ q)&(∼p) ((p ∨ q)&(∼p))→ q É importante que as fórmulas que estão dentro de mais parênteses sejam listadas primeiro nas colunas. Depois atribuímos cada valor 48 introdução à lógica possível de V e F às variáveis proposicionais p e q e avaliamos cada coluna sucessivamente: p q p ∨ q ∼p (p ∨ q)&(∼p) ((p ∨ q)&(∼p))→ q V V V F F V V F V F F V F V V V V V F F F V F V É possivel também escrever uma tabela verdade simplifi- cada, na qual os valores verdade de cada subfórmula ficam abaixo dos conectivos. Veja o seguinte exemplo de tabela verdade simplifi- cada para a mesma fórmula anterior: ((p ∨ q) & (∼p)) → q V V V F F V V V V F F F V F F V V V V V V F F F F V V F 1 2 1 3 2 4 1 Os números da última linha representam os passos da construção da tabela simplificada. No passo 1, colocamos os valores das variáveis proposicionais p e q. No passo 2, identificamos as subfórmulas mais aninhadas dentro de parênteses (p ∨ q e ∼p) e colocamos o valor ver- dade correspondente abaixo do conectivo. Prosseguimos da mesma forma, analisando o conectivo & no passo 3 e finalmente o conec- tivo→ no passo 4. Note que esta última coluna é justamente a que contém o resultado final, o qual exibimos em negrito. Vejamos um outro exemplo ilustrativo, a fórmula (p → q)&(q → p). Sua tabela verdade é p q (p→ q) (q→ p) (p→ q)&(q→ p) V V V V V V F F V F F V V F F F F V V V Note que essa fórmula possui valor verdadeiro se, e somente se, p e q tem o mesmo valor, ou seja, quando p e q são ambas verdadeiras ou ambas falsas, e valor falso se, e somente se, p e q possuem valores diferentes. A tabela verdade simplificada tem a seguinte forma: lógica símbolica 49 (p → q) & (q → p) V V V V V V V V F F F F V V F V V F V F F F V F V F V F 1 2 1 3 1 2 1 A fórmula (p → q)&(q → p) aparece tão frequentemente que a representamos com um conectivo especial, o bicondicional, cujo símbolo é↔. Ou seja, a tabela verdade da fórmula p ↔ q é exata- mente a mesma tabela verdade da proposição (p → q)&(q → p). Por completeza, colocamos na tabela 5 a tabela verdade do bicondicional. Note que para uma fórmula bicondicional ter valor verdadeiro, as variáveis p e q devem ter o mesmo valor. Se os valores forem difer- entes, a bicondicional é falsa. p q p↔ q V V V V F F F V F F F V Tabela 5: Tabela verdade do bicondi- cional. Exercício 15. Construa a tabela verdade das seguintes fórmulas: (a) p& ∼p (b) ∼(p∨ ∼p) (c) ∼(∼p∨ ∼q) (d) ∼p ∨ q (e) (∼q)→ (∼p) (f) q↔ p Tabelas Verdades de Fórmulas com Três ou Mais Variáveis As fórmulas que vimos naseção anterior dependiam de duas var- iáveis p e q. Portanto tínhamos que considerar quatro casos possiveis para os valores de p e q (VV, VF,FV e FF). O que acontece se a fór- mula depende de três variáveis proposicionais p, q e r? Claramente, temos que considerar dois casos: ou p é verdadeira, ou p é falsa. Se p = V, temos que q e r podem assumir quatro possíveis valores (VV, VF,FV e FF). Da mesma forma, se p = F, q e r também podem as- sumir estes mesmos quatro valores. Assim, são oito as possibilidades de verdadeiro e falso para três variáveis p,q e r. De modo geral, para cada nova variável introduzida, o número de possibilidades de verdadeiro e falso dobra, como a figura ao lado bem ilustra. Portanto, para 4 variáveis teremos 16 casos a considerar, para 5, 32 casos, para 6, 64 casos, e assim por diante, de modo que se uma fórmula depende de n variáveis, sua tabela verdade possuirá 2n linhas. Isso mostra que tabelas verdade não são muito úteis para fórmulas que dependem de quatro ou mais variáveis. Nesse caso, devemos empregar outras maneiras de estudar a fórmula. p q r V V V V V F V F V V F F p q r F V V F V F F F V F F F ↘ ↙ p q r V V V V V F V F V V F F F V V F V F F F V F F F Por exemplo, considere a fórmula (p&q&r) → s, que depende de quatro variáveis proposicionais p,q,r e s. Assim, sua tabela ver- dade completa possuirá 16 linhas, uma para cada combinação de verdadeiro e falso para p,q,r e s. Vejamos o resultado final: 50 introdução à lógica p q r s (p&q&r) (p&q&r)→ s V V V V V V V V V F V F V V F V F V V V F F F V V F V V F V V F V F F V V F F V F V V F F F F V F V V V F V F V V F F V F V F V F V F V F F F V F F V V F V F F V F F V F F F V F V F F F F F V Certamente, construir tabelas verdade como essas, de fórmulas que dependem de quatro ou mais variáveis, é um processo cansativo e sujeito a erros. Além disso, é um trabalho muitas vezes desnecessário, pois pensando um pouco podemos chegar ao mesmo resultado com bem menos esforço. No caso particular da fórmula (p&q&r) → s, podemos raciocinar assim: uma implicação x → y é sempre ver- dadeira, exceto quando x = V e y = F. Portanto, (p&q&r) → s é falsa apenas quando x = (p&q&r) é verdadeira e y = s é falsa. Mas é fácil ver que (p&q&r) só é verdadeira se p,q e r forem verdadeiras. Logo a única ocorrência de F na última coluna da tabela verdade de (p&q&r) → s acontece quando p = V, q = V, r = V e s = F, ou seja, exatamente na segunda linha da tabela acima. Exercício 16. Construa a tabela verdade das seguintes fórmulas: (a) p&(q ∨ r) (b) (p&q) ∨ (p&r) (c) p ∨ (q&r) (d) (p ∨ q)&(p ∨ r) (e) (p ∨ q) ∨ r (f) p ∨ (q ∨ r) (g) (p ∨ q)→ r (h) p ∨ (q→ r) (i) ((∼(p ∨ q)) ∨ (r ∨ (∼q))) Negação da Conjunção e da Disjunção Existe uma relação interessante entre conjunção e disjunção. Con- sidere por exemplo a proposição composta “Paulo passou em En- genharia e Quitéria passou em Medicina”. Se fizermos p = “ Paulo passou em Engenharia” e q = “Quitéria passou em Medicina”, temos lógica símbolica 51 que a proposição acima pode ser expressa pela fórmula “p&q”. O que acontece quando negamos a proposição “p&q”? Ora, a negação de “p&q” é representada simbolicamente por “∼ (p&q)” e pode ser lida como “Não é verdade que Paulo passou em Engenharia e Quitéria em Medicina”. Mas se isso não é verdade, ou “Paulo não passou em Engenharia” (∼p), ou “Quitéria não passou em Medicina” (∼ q), ou as duas coisas, o que é representado simbolicamente por “(∼p) ∨ (∼q)”. Ou seja, a negação de uma conjunção (∼(p&q)) tem o mesmo significado da disjunção das negações ((∼p) ∨ (∼q)). Nós chegamos a conclusão que as proposições “∼ (p&q)” e “(∼ p) ∨ (∼ q)” possuem o mesmo significado através da análise de um exemplo, mas é possível mostrar isso de uma forma mais geral comparando as tabelas verdade das duas fórmulas. Na tabela 6, rep- resentamos a tabela verdade de ∼(p&q). Note que ∼(p&q) assume o valor falso apenas se p e q são verdadeiras. p q p&q ∼(p&q) V V V F V F F V F V F V F F F V Tabela 6: Tabela verdade da negação da conjunção. Na tabela verdade da fórmula ∼p∨ ∼q (tabela 7), vemos a mesma configuração: ela assume o valor falso apenas se p e q forem ver- dadeiras. Assim, apesar das fórmulas ∼ (p&q) e ∼ p∨ ∼ q serem diferentes, elas possuem o mesmo significado, no sentido que elas assumem os mesmos valores para cada escolha particular de ver- dadeiro e falso para p e q. p q ∼p ∼q ∼p∨ ∼q V V F F F V F F V V F V V F V F F V V V Tabela 7: Tabela verdade da disjunção das negações. Em geral, dizemos que duas fórmulas P e Q que dependem das mesmas variáveis p, q, r,. . . são fórmulas logicamente equiva- lentes se elas assumem os mesmos valores para cada escolha das variáveis proposicionais que a compõem. Esse fato pode ser facil- mente comprovado pela comparação das tabelas verdade de P e Q. Assim, acabamos de mostrar que “a negação da conjunção é logi- camente equivalente a disjunção das negações”. É possível mostrar também que a “a negação da disjunção é logicamente equivalente a conjunção das negações”, basta comparar as duas tabelas 8 e 9 ao lado. Vemos que ambas assumem o valor verdadeiro apenas quando p e q sao falsas. Essas duas equivalências são conhecidas como Leis de De Morgan, em homenagem ao lógico e matemático Augustus De Morgan. p q p ∨ q ∼(p ∨ q) V V V F V F V F F V V F F F F V Tabela 8: Tabela verdade da negação da disjunção. p q ∼p ∼q ∼p& ∼q V V F F F V F F V F F V V F F F F V V V Tabela 9: Tabela verdade da conjunção das negações. Exercício 17. Quando P e Q são fórmulas logicamente equivalentes, escrevemos P ≡ Q. Mostre as seguintes equivalências: (a) ∼(∼p) ≡ p (b) p→ q ≡ (∼q)→ (∼p) (c) p→ q ≡ (∼p) ∨ q (d) ∼(p ∨ q ∨ r) ≡ (∼p)&(∼q)&(∼r) (e) ∼(p&q&r) ≡ (∼p) ∨ (∼q) ∨ (∼r) (f) p→ q ≡ (∼p) ∨ q 52 introdução à lógica Tautologias e Contradições Uma tautologia é uma fórmula que sempre é verdadeira, qualquer que seja o valor atribuído as variáveis proposicionais que a compõem. Por exemplo, a tabela verdade da fórmula ((p ∨ q)&(∼ p)) → q que analisamos anteriormente possui apenas o valor verdadeiro em sua última coluna, sendo portanto uma tautologia. Tautologias são importantes por desempenharem na Lógica Simbólica um papel semelhante ao dos argumentos válidos na Lógica Clássica. Ou seja, cada tautologia é um modelo de raciocínio lógico. A fórmula ((p ∨ q)&(∼ p)) → q, por exemplo, representa o argumento conhecido como silogismo disjuntivo: (1) p ou q. (2) não p. (3) q. Um exemplo de silogismo disjuntivo é “Na família de João, todos são médicos ou advogados. João não é médico. Portanto João é advo- gado”. Da mesma forma, as fórmulas de outros argumentos válidos são sempre tautologias. Uma contradição é uma fórmula que é sempre falsa. Portanto se P é uma contradição, ∼ P é uma tautologia, e vice-versa. Note que uma fórmula pode não ser nem uma tautologia nem uma con- tradição, basta que ela assuma ao menos um valor verdadeiro e outro falso. Exercício 18. Decida se as fórmulas abaixo são tautologias ou con- tradições. (a) p&(∼(p ∨ q)) (b) (p ∨ q)&((∼p) ∨ q)&(p ∨ (∼q))&((∼p) ∨ (∼q)) (c) (p↔ (p& ∼p))↔∼p (d) ((p→ q)→ r)→ ((r → p)→ (s→ p)) Predicados Até aqui, estudamos a parte da Lógica Simbólica conhecida como Lógica Proposicional, onde as proposições são tratadas inde- pendentemente umas das outras. Assim, as proposições “Sócrates é um filósofo” e “Platão é um filósofo” são proposições diferentes, denotadas por variáveis proposicionais p e q, por exemplo. Mas clara- mente essas duas proposições possuem algo em comum. Mais exata- mente, elas possuem o mesmo predicado “é filósofo”. Um predi- cado descreve uma propriedade de certos objetos ou relações entre lógica símbolica 53 objetos. Por exemplo, as frases “Meu carro é azul”, “O céu é azul” e “A capa do livro é azul” possuem o mesmo predicado “é azul”, que descreve a propriedade de ser azul. Podemos fazer análises mais completas das proposições quando identificamos seus predicados. A parte da Lógica Simbólica que estende a Lógica Proposicional levando em conta a identificação
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