Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 7 – DIREITO TRIBUTÁRIO TEMA: CRÉDITO TRIBUTÁRIO (PARTE 1) PROFESSORA MONITORA: MILENA COSTA CRÉDITO TRIBUTÁRIO • O que é Antes de explicar o que é o crédito tributário, é necessário revisar o que é a obrigação tributária: A obrigação tributária é uma relação jurídica composta por um credor (Fazenda Pública) e por um devedor (contribuinte). A origem dessa relação jurídica pressupõe a existência de uma hipótese de incidência e da prática de um fato gerador. Exemplo: a lei prevê que os proprietários de veículos de passeio deverão pagar IPVA. Na frase acima, a hipótese de incidência é a previsão legal que determina que, ao se tornar proprietário de um veículo, o sujeito está praticando o fato gerador que gera a obrigação tributária, que é o dever de pagar o IPVA. A obrigação tributária é incerta (sem identificação da exata ocorrência do fato gerador e do contribuinte) e ilíquida (sem cálculo do valor devido), não sendo exigível pelo Fisco. O que é exigível, líquido e certo é o crédito tributário. Assim, o crédito tributário é a obrigação tributária dotada de certeza, liquidez e, portanto, de exigibilidade. A transformação da obrigação tributária em crédito tributário se dá por um ato administrativo denominado lançamento. Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br • Lançamento Tributário O lançamento, conforme anteriormente dito, é um ato administrativo que declara a existência da obrigação e constitui o crédito tributário, possuindo, portanto, natureza híbrida/mista (natureza declaratória e constitutiva, simultaneamente). O lançamento está previsto no art. 142, caput do CTN: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Tal ato da autoridade administrativa deve, portanto, obrigatoriamente: - Verificar a ocorrência do fato gerador (se ocorreu o acontecimento no mundo real que, previsto em lei, gera o dever de pagar o tributo); - Determinar a matéria tributável (se é devido tributo naquele caso em específico); - Calcular o montante do tributo devido (definir a base de cálculo e a alíquota aplicável para se chegar ao valor total do tributo); - Identificar o sujeito passivo (contribuinte ou responsável); - Propor a aplicação da penalidade cabível (calcular multas moratórias, multas punitivas e juros). Trata-se de ato privativo da autoridade administrativa e plenamente vinculado à lei, não podendo ser corrigido nem pelo juiz. Em havendo incorreção ou ilegalidade do lançamento, deve o juiz declarar sua nulidade para que a autoridade fiscal realize novo lançamento, constituindo uma vez mais o crédito tributário. Lei aplicável ao lançamento tributário: - Critérios materiais do tributo (base de cálculo, alíquota): lei vigente à época da ocorrência do fato gerador, conforme art. 144, caput do CTN; - Penalidades: lei mais benéfica ao contribuinte, ainda que posterior à ocorrência do fato gerador, conforme art. 106, II do CTN; - Critérios formais do tributo (fiscalização): lei vigente à época da tramitação do procedimento, ainda que posterior à ocorrência do fato Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br gerador, não importando se é mais benéfica ou não ao contribuinte, conforme art. 144, §1º do CTN. Exemplo: Em 2018 o contribuinte deixou de recolher o ICMS sobre uma operação de circulação de mercadorias (ocorrência do fato gerador), sendo que a lei vigente à época estabelecia a alíquota do tributo em 1% e a multa de mora pelo não pagamento em 10% sobre o valor do débito. Em 2019, o Estado alterou a sua lei para majorar a alíquota do tributo para 2%, para reduzir a multa moratória para 7% e, ainda, para ampliar os poderes de fiscalização da autoridade administrativa. Em 2020, o contribuinte foi notificado para pagar o valor do ICMS não pago, com alíquota de 1% e multa moratória de 10%. A notificação está totalmente de acordo com o Princípio da Irretroatividade? 2018 2019 2020 Fato gerador Alteração lei estadual Notificação Alíquota 1% Alíquota 2% Alíquota 1% Multa moratória 10% Multa moratória 7% Multa moratória 10% Ampliação de poderes Resposta: a notificação está em parcial desacordo com o Princípio da Irretroatividade, uma vez que a alíquota cobrada está correta (mesma alíquota vigente na data da ocorrência do fato gerador), porém a multa moratória cobrada está incorreta (a lei tributária mais benéfica retroage relativamente às penalidades, de forma que deveria ter sido cobrada a multa de 7%). Ainda, a autoridade administrativa poderá utilizar dos poderes mais amplos de fiscalização estabelecidos pela legislação posterior. São 3 as modalidades de lançamento tributário, determinadas pelo grau de participação do sujeito passivo: - Lançamento de ofício: a autoridade administrativa realiza todo o lançamento, porque já possui todas as informações relativas à obrigação tributária, e o sujeito passivo apenas paga o tributo (exemplos: IPVA, IPTU, contribuições de interesse das categorias profissionais, contribuições de melhoria, taxas); - Lançamento misto/por declaração: o sujeito passivo declara algumas informações relativas à obrigação tributária e a autoridade administrativa realiza os cálculos do tributo e procede ao lançamento (exemplos: ITBI, ITCMD, IE, II); - Lançamento por homologação: o sujeito passivo declara todas as informações relativas à obrigação tributária (quais foram os fatos geradores, todos os cálculos do tributo, etc) e a autoridade administrativa apenas procede ao lançamento a partir da homologação (exemplos: IPI, ICMS, IR, Empréstimo Compulsório, PIS/PASEP e COFINS) Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br - O crédito tributário apenas é definitivamente extinto quando ocorre a homologação (pagamento sob condição resolutória, conforme art. 150, §1º do CTN): Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. §1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento. - Se o Fisco homologa: extingue-se o crédito tributário; - Se o Fisco não homologa: ocorre o lançamento de ofício. • Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário O crédito tributário é exigível pelo Fisco (ou seja, o Fisco pode praticar atos de cobrança) a partir do lançamento, exceto se ocorrer alguma das hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Estando suspensa a exigibilidade do crédito tributário, o Fisco deverá expedir a Certidão Negativa de Débito do contribuinte (art. 206 do CTN), não poderá ajuizar Execução Fiscal e, enfim, não poderá proceder a quaisquer atos de cobrança. As hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário estão previstas no art. 151 do CTN: Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutelaantecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. MACETE: mnemônico MODERECOPA Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br Observação: para fins da 1ª fase do Exame de Ordem, deve-se considerar tais hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário como sendo um rol taxativo! A suspensão da exigibilidade do crédito tributário pode se dar, inclusive, antes do lançamento. Exemplos: - Medida liminar em Mandado de Segurança preventivo (ex: ente federativo publica lei majorando alíquota de tributo a partir do dia seguinte, sem considerar o Princípio da Anterioridade, e contribuinte impetra Mandado de Segurança com pedido liminar para impedir o lançamento tributário); - Depósito em dinheiro do montante integral em juízo, relativamente a tributo sujeito a lançamento por homologação (exemplo: contribuinte não concorda com algum aspecto da cobrança do PIS/COFINS, declara o tributo, ajuíza ação judicial para discutir o aspecto da cobrança com o qual não concorda, deposita o montante integral, Fisco concorda com o depósito de forma a realizar o lançamento); Atenção: a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não impede o lançamento e nem a notificação do sujeito passivo (impede tão somente os atos de cobrança). A suspensão da exigibilidade do crédito tributário não exime o contribuinte de continuar cumprindo as obrigações acessórias. Hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário mais cobradas no Exame de Ordem: a) Moratória - É a prorrogação ou a concessão de um novo prazo para cumprimento da obrigação tributária, de forma única ou parcelada: Exemplos: - Servidores públicos estaduais de Minas Gerais estavam com os salários atrasados e, para compensar, Estado de Minas Gerais concedeu moratória para que eles pagassem o IPVA parceladamente; - Pessoas que tiveram seus imóveis atingidos por rompimento das barragens em Minas Gerais – Municípios concederam moratória para que pudessem pagar IPTU parceladamente. - Deve ser concedida por lei ordinária; - Pode ser concedida em caráter geral ou individual: Geral: dispensa a comprovação de qualquer característica especial do sujeito passivo (exemplo: prorrogação de prazo para pagamento de tributos para contribuintes enquadrados no SIMPLES NACIONAL, no início da pandemia); Individual: sujeito passivo deve comprovar característica especial que autorize a moratória (exemplo: contribuintes dos Municípios atingidos pelas barragens precisavam comprovar que seus imóveis Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br foram atingidos; a moratória não se estendeu automaticamente a todos dos Municípios). - A moratória concedida em caráter individual pode ser revogada se o contribuinte deixar de cumprir os requisitos para sua concessão (crédito tributário será cobrado com juros, sem penalidades) ou se ficar comprovado que o contribuinte agiu com dolo/fraude/simulação para recebe-la (crédito tributário será cobrado com juros e com penalidades). b) Depósito do montante integral em dinheiro - Imprescindível que o valor depositado seja integral e em dinheiro para que a exigibilidade do crédito tributário seja suspensa (Súmula nº 112 do STJ); Por “integral”, entende-se o valor do tributo + eventuais juros, multa e correção monetária. - O depósito apenas ocorre judicialmente (discussão administrativa já suspende a exigibilidade do crédito tributário, conforme art. 151, III do CTN, não sendo constitucional a exigência de depósito para viabilizar referida discussão, conforme Súmula Vinculante nº 21). - O depósito judicial é uma faculdade do contribuinte, independendo de autorização judicial ou do Fisco (o Fisco apenas deve concordar com o valor, para atestar a integralidade do valor depositado). c) Concessão de medida liminar ou de tutela antecipada em Mandado de Segurança ou em outras espécies de ação judicial - O juiz deve expressamente conceder a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, não basta a mera formulação do pedido pelo contribuinte; - Caso o juiz não conceda a medida liminar ou a tutela antecipada, além de recorrer ao Tribunal, o contribuinte pode utilizar-se da sua faculdade de depositar o valor integral e em dinheiro para que a exigibilidade do crédito tributário seja suspensa. Nos vemos na aula! Não poderá assistir a aula e tem alguma dúvida? Fale comigo a qualquer tempo pelo Instagram @milenacosta.adv: Licensed to Thamires Pamela Macedo Moura - pamela.thamires@yahoo.com.br
Compartilhar