Prévia do material em texto
Consulta do adolescente No momento da consulta, o profissional vai ao encontro das problemáticas, dos anseios e frustrações do adolescente, sendo altamente recomendável evitar julgamentos de valores para que se estabeleça uma relação de confiança, o que não impede de realizar as intervenções pertinentes. O pediatra deve, pois, atuar enquanto mediador, apaziguando conflitos e dirigindo-se ao cliente de forma empática, assertiva e sincera, para esclarecer dúvidas e orientar, estendendo suas ações aos familiares. No início do primeiro encontro, deve-se pontuar que a pessoa central da consulta é o adolescente, deixando claro seus direitos ao sigilo, privacidade, confiabilidade, porém alertando quanto aos limites das questões éticas, tanto para o cliente quanto seus responsáveis. É preciso que fique claro ao jovem que nada será tratado com seus pais/responsáveis sem que ele seja informado previamente, mesmo quando é preciso romper o sigilo, conscientizando-o da importância de informar determinadas situações. Segredos íntimos próprios da adolescência não requerem quebra de sigilo, havendo necessidade de informar se houver riscos à saúde ou integridade de vida do cliente ou de terceiros sendo vedado ao profissional: “Art. 37 . Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nessas circunstâncias, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. Parágrafo único. O atendimento médico a distância, nos moldes da telemedicina ou de outro método, dar-se-á sob regulamentação do Conselho Federal de Medicina.” Ademais, o Conselho Federal de Medicina (CFM) editou a resolução 1974/2011 sobre publicidade médica. Nesta, veda-se ao médico “consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa ou à distância”. Fica claro que o CFM proíbe consultas, diagnóstico ou prescrições por qualquer meio de comunicação, por entender que a consulta física é insubstituível. Contudo, o próprio Conselho informa que “o médico pode orientar por telefone pacientes que já conheça, aos quais já prestou atendimento presencial, para esclarecer dúvidas em relação a um medicamento prescrito, por exemplo”. Com o intuito de conhecer a história psicossocial do modo o mais completo possível, Berman HS em 1971 organizou um sistema de avaliação contemplando diferentes aspectos de vida dos adolescentes. Este autor elaborou um método de questões, estruturadas e abertas, maximizando a comunicação e diminuindo o estresse, durante a consulta médica. Tal método, inicialmente conhecido pela sigla HEADSS (significando cabeça em inglês), posteriormente foi refinado pelos Cohen E e Goldenring J, em 1988. Cada letra da sigla corresponde a uma área a ser avaliada: H (home) lar, E (education/employment) educação, A (activities) atividade com pares, D (drugs) drogas, S (sexuality) sexualidade e S (suicide/depression) suicídio e depressão. Em 2004, houve uma atualização, acrescentando-se duas áreas representadas pelas letras E (eating disorders) para distúrbios alimentares e S (safe) representando segurança e violência, passando a ser reconhecida por HEEADSSS. A utilização desse instrumento não pretende substituir a anamnese e os guidelines desenvolvidos para atenção preventiva de jovens, como os organizados pela Associação Médica Americana (Guidelines for Adolescent Preventive Services GAPS-CDC). É considerado um método indireto excelente para avaliar comportamentos e complementar a anamnese do adolescente, podendo ser incorporada na prática cotidiana. Nesse sentido, pode ser modificada e utilizada como guia de orientação dos atendimentos, principalmente quando se dispõe de tempo curto e múltiplas tarefas. Para cada área são sugeridas Os Departamentos de Bioética e Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Pediatria apresentam as seguintes recomendações: 1. O médico deve reconhecer o adolescente como indivíduo progressivamente capaz e atendê-lo de forma diferenciada. 2. O médico deve respeitar a individualidade de cada adolescente, mantendo uma postura de acolhimento, centrada em valores de saúde e bem-estar do jovem. 3. O adolescente, desde que identificado como capaz de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-lo, tem o direito de ser atendido sem a presença dos pais ou responsáveis no ambiente da consulta, garantindo-se a confidencialidade e a execução dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos necessários. Dessa forma, o jovem tem o direito de fazer opções sobre procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou profiláticos, assumindo integralmente seu tratamento. Os pais ou responsáveis somente serão informados sobre o conteúdo das consultas, como por exemplo, nas questões relacionadas à sexualidade e prescrição de métodos contraceptivos, com o expresso consentimento do adolescente. 4. A participação da família no processo de atendimento do adolescente é altamente desejável. Os limites desse envolvimento devem ficar claros para a família e para o jovem. O adolescente deve ser incentivado a envolver a família no acompanhamento dos seus problemas. 5. A ausência dos pais ou responsáveis não deve impedir o atendimento médico do jovem, seja em consulta de matrícula ou nos retornos. 6. Em situações consideradas de risco (por exemplo: gravidez, abuso de drogas, não adesão a tratamentos recomendados, doenças graves, risco à vida ou à saúde de terceiros) e frente à realização de procedimentos de maior complexidade (por exemplo, biópsias e intervenções cirúrgicas), torna-se necessária a participação e o consentimento dos pais ou responsáveis. 7. Em todas as situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do sigilo médico, o adolescente deve ser informado, justificando-se os motivos para essa atitude. Calendário vacinal Anticoncepção Métodos anticoncepcionais de barreira Chamamos de método anticoncepcional de barreira os métodos que se baseiam em criar uma barreira física ou química entre os esperma ejaculado e o útero da mulher. Camisinha A camisinha é um dos métodos contraceptivos mais populares no mundo, sendo o principal método utilizado pelos homens. Não possui contraindicações nem efeitos colaterais relevantes, apesar de algumas pessoas terem alergia ao látex, material usado para confeccionar a camisinha. Para estas pessoas alérgicas existem camisinhas feitas com outros materiais, como poliuretano. A camisinha além de ser um eficaz método de controle de natalidade também serve para prevenir doenças sexualmente transmissíveis. O seu custo é baixo, não necessita de auxílio médico e a duração da contracepção é curtíssima, apenas o tempo da relação sexual. A camisinha deve ser descartada após o fim de cada relação. Camisinha feminina A camisinha feminina é a versão do preservativo para as mulheres. Ela também é um método de barreira, servindo ao mesmo tempo como proteção contra DST e gravidez. A camisinha feminina é atualmente feita de borracha nitrílica (antigamente era poliuretano) e cobre toda a mucosa da vagina, impedindo que o pênis e suas secreções tenham contato direto com a mesma. https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/doencas-sexualmente-transmissiveis/ Apesar de terem a mesma lógica, a camisinha feminina é muito menos popular que a sua versão masculina, provavelmente porque ela não é tão simples de ser utilizada e a sua taxa de eficácia é mais baixa que a da camisinha masculina (falaremos sobre as taxas de eficácia de cada método ao final do artigo). Diafragma O diafragma é um método anticoncepcional feminino que consiste em uma cúpula flexível de silicone, com um lado côncavo e outro convexo, que precisa ser colocado à frente do colo do útero. Em geral, deve-se preenche a cúpula com espermicida antes da introdução para aumentaro seu efeito contraceptivo. Existem vários tamanhos de diafragma, e a mulher deve encontrar aquele mais adequado para si para que o método funcione de forma satisfatória. Quando a mulher engorda ou emagrece de forma relevante, o tamanho do diafragma pode ter que ser alterado. Ao contrário da camisinha feminina, o diafragma não cobre toda a mucosa da vagina, não sendo, portanto, um método anticoncepcional capaz de prevenir doenças sexualmente transmissíveis. O diafragma não é descartado após cado ato sexual. Após removido, ele pode ser lavado e utilizado novamente em outras relações sexuais. Assim como a camisinha feminina, o diafragma não é um método contraceptivo muito popular, sendo utilizado por somente 1% das mulheres sexualmente ativas. Esponja vaginal A esponja vagina é outra opção de método anticoncepcional de barreira para as mulheres. A lógica por trás da esponja é semelhante à do diafragma, ela cobre a entrada do útero, mas não protege a mucosa da vagina, não servindo como proteção para as doenças sexualmente transmissíveis. A esponja contraceptiva é um dispositivo macio, em forma de disco, feito de espuma de poliuretano e com uma alça para facilitar a sua remoção. A esponja já vem com espermicida e deve ser molhada antes de ser inserida na vagina. A esponja só deve ser retirada após 6 horas da última relação sexual, podendo permanecer dentro da vagina por até 30 horas. Não é preciso trocar a esponja se mais de uma relação sexual ocorrer dentro do prazo de 24 horas. Ao contrário do diafragma, não há tamanhos diferentes para a esponja. A sua eficácia em mulheres que já tiveram pelo menos um parto é mais baixa que nas mulheres que nunca pariram. Espermicida O espermicida pode ser considerado um método de barreira porque cria uma barreira química que impede a chegada dos espermatozoides ao útero feminino. Todavia, quando usado isoladamente, sem outro método contraceptivo complementar, como camisinha, esponja ou diagrama, a sua taxa de sucesso é inaceitavelmente baixa. Os espermicidas podem ser encontrados sob a forma de gel, espuma, creme ou supositórios. A aplicação é simples e igual ao de qualquer gel vaginal que a maioria das mulheres já utilizou alguma vez na vida. O espermicida deve ser aplicado preferencialmente entre 10 e 30 minutos antes da relação sexual e não deve ser retirado por pelo menos 6 a 8 horas. Se o ato sexual demorar mais de 1 hora para ocorrer após a aplicação do espermicida, a sua eficácia torna-se ainda mais baixa que a habitual. O espermicida não parece perturbar de forma significativa a flora vaginal, embora tenha sido observado um pequeno aumento nos casos de vaginose bacteriana nas mulheres usuárias deste método. Irritação vaginal não é incomum, sendo um motivo frequente para abandono deste método. O espermicida não protege contra as doenças sexualmente transmissíveis, e nas mulheres que fazem irritação vaginal, o risco de contágio até aumenta. Os espermicidas não provocam má-formações fetais, não havendo risco para o bebê caso a mulher o utilize sem saber que está grávida. Métodos anticoncepcionais hormonais Chamamos de métodos anticoncepcionais hormonais todos aqueles que se baseiam na utilização de hormônios sexuais femininos, nomeadamente a progesterona e o estrogênio, para manipular o ciclo menstrual. Atualmente existem diversos formas de anticoncepção hormonal, seja em comprimidos, injeção, implante, anel vaginal, etc. Existe também o DIU à base de hormônio, mas esse será abordado no tópico sobre anticoncepcionais intrauterinos. https://www.mdsaude.com/ginecologia/infeccao-ginecologica/vaginose-bacteriana-gardnerella/ Os contraceptivos hormonais são extremamente eficazes para impedir uma gravidez, mas não têm ação nenhuma na proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis. Pílula anticoncepcional A pílula anticoncepcional é junto com a camisinha masculina o método contraceptivo mais popular em todo o mundo. A pílula é composta pelos hormônios progesterona e estrogênio e deve ser tomada diariamente, sem falhas. Se tomada de forma correta, a pílula é extremamente eficaz em inibir a ovulação, sendo um dos melhores métodos contraceptivos. Porém, se a mulher não for disciplinada e esquece-se frequentemente de tomar a sua dose diária, a pílula pode falhar, permitindo a ocorrência de uma gravidez indesejada. Por ser um método que manipula o ciclo ovulatório feminino, a pílula só deve ser utilizada sob orientação médica. O anticoncepcional oral não tem efeitos somente contraceptivos, ele pode ser benéfico em diversos problemas, como nas cólicas menstruais, no controle do sangramento uterino, na TPM, no controle da acne, etc. A pílula também ajuda a reduzir a incidência de alguns tipos de cânceres, como o câncer de ovário e endométrio. Por outro lado, os anticoncepcionais orais podem provocar diversos efeitos colaterais, principalmente aqueles com doses mais altas de estrogênio. Trombose e complicações cardiovasculares são alguns dos problemas que, apesar de incomuns, podem ocorrer. Minipílula A preocupação com os efeitos colaterais provocados pela presença do estrogênio nas pílulas anticoncepcionais comuns levou ao desenvolvimento da minipílula, um anticoncepcional hormonal que contém apenas o hormônio progesterona. A minipílula não age só inibindo a ovulação, mas também provocando um espessamento do muco cervical, o que impede a chegada dos espermatozoides à trompa, e impedindo a proliferação da parede interna do útero (endométrio), o que atrapalha a implantação de um possível óvulo fecundado. A minipílula é, na teoria, tão eficaz quanto a pílula, com a vantagem de provocar menos efeitos colaterais. O grande problema da minipílula é a necessidade de ser tomada todos os dias praticamente na mesma hora. Um simples atraso de 3 horas ou mais é suficiente para que a minipílula perca o seu efeito protetor. Portanto, apesar de ter potencialmente o mesmo efeito protetor das pílulas comuns, na prática, a quantidade de falhas é maior, pois é preciso muita disciplina para tomar a minipílula por vários meses seguidos sem perder a hora de vez em quando. Pílula do dia seguinte (PDS) A pílula do dia seguinte é uma pílula com doses muito elevadas de hormônios e só deve ser usada de forma pontual e emergencial. Portanto, a pílula do dia seguinte não pode ser encarada como um método anticoncepcional habitual, ela é apenas um método contraceptivo de emergência. Se você precisa recorrer à PDS com frequência, você está fazendo errado! Além de estar se expondo a quantidades elevadas, desnecessárias e perigosas de hormônios, ainda está utilizando um método de contracepção muito menos eficaz que a pílula comum ou a minipílula. A pílula do dia seguinte foi desenvolvida para ser utilizada como uma medida emergencial de contracepção para os casos em que o método anticoncepcional habitual falhar, como por exemplo, quando a camisinha estourar ou um diafragma que saiu do lugar. Para ser eficaz, a PDS precisa ser tomada o mais rápido possível, havendo um limite de 72 horas para que ela possa ser útil. Depois de 3 dias, a pílula já não é mais capaz de impedir uma gravidez. Atenção: a pílula do dia seguinte não é abortiva. Se você já estiver grávida, tomá-la não fará você abortar. Anticoncepcional injetável O anticoncepcional hormonal também pode ser administrado pela via injetável em intervalos de 30 ou 90 dias, dependo da marca utilizada. Existem anticoncepcionais injetáveis compostos apenas por progesterona, como o acetato de medroxiprogesterona, e outros compostos por progesterona e estrogênio, como o acetato de medroxiprogesterona + cipionato de estradiol. O anticoncepcional injetável pode ser encontrado sob a forma de administração intramuscular ou subcutânea. Em geral, a aplicação é feita pelo ginecologista no consultório ou por uma enfermeira no posto de saúde. As administrações costumam seragendadas para que a mulher tenha um maior controle das datas limites. A eficácia dos anticoncepcionais com administração mensal ou trimestral é igual, mas este último é mais cômodo, pois protege por mais tempo e são necessárias apenas 4 aplicações por ano. Apesar da menstruação poder ficar suprimida durante o uso do anticoncepcional injetável, isso não causa nenhum mal às mulheres. Os anticoncepcionais injetáveis possuem um perfil de benefícios e efeitos colaterais semelhantes à pílula anticoncepcional. Adesivo anticoncepcional Outra opção para quem pretende utilizar um contraceptivo hormonal, mas não quer levar picadas de agulha e não deseja ter o incômodo de tomar comprimidos todos os dias, é o adesivo anticoncepcional, um produto comercializado sob o nome de Evra (norelgestromina + etilenoestradiol). Como o próprio nome diz, esta forma de contracepção é um adesivo, de formato quadrado com cerca de 4,5 cm x 4,5 cm, que deve ser aplicado à pele e substituído por um novo a cada 7 dias. Depois de 3 semanas, a mulher deve dar uma pausa de 1 semana para menstruar. O adesivo pode ser aplicado no braço, costas, nádegas ou na barriga. Ele não sai com facilidade e não há problema algum em tomar banho e molhá-lo. Implante anticoncepcional O implante anticoncepcional é atualmente o método contraceptivo com a maior taxa de eficácia, com cerca de 99,95% de sucesso. Esta forma de contracepção hormonal se baseia na implantação subcutânea de um fino bastão de plástico com etonogestrel, uma forma sintética de progesterona, em seu interior. O bastão fica por baixo da pele e libera de forma lenta e contínua o hormônio para a circulação sanguínea. O bastão é implantado no consultório do ginecologista e necessita apenas de anestesia local. O local escolhido costuma ser a parte interna do braço e o procedimento dura 2 ou 3 minutos apenas. O efeito contraceptivo do implante tem duração de 3 anos, sendo um método bastante confortável para quem deseja uma contracepção prolongada, mas não definitiva. O maior problema deste método é o seu preço. Cada implante chega a custar cerca de 700 reais. Porém, como ele só precisa ser comprado a cada 3 anos, ao final deste tempo, o custo compensa. Anel vaginal O anel vaginal é outra opção de contracepção hormonal disponível no mercado. Este método anticoncepcional é um anel flexível, feito de silicone, que libera de forma lenta progesterona e estrogênio (etonogestrel + etinilestradiol). O anel pode ser inserido pela própria mulher e não causa nenhum incômodo, mesmo durante a atividade sexual. O anel fica na vagina por 3 semanas e depois é desprezado. Após uma semana de pausa, um novo anel deve ser introduzido. Métodos anticoncepcionais intrauterinos Os anticoncepcionais intrauterinos, mais conhecidos como DIU (dispositivo intrauterino), são um dos métodos contraceptivos mais seguros, confortáveis e eficazes. Esta é uma forma de contracepção que vem ganhando bastante popularidade nos últimos anos, sendo a mais indicada por muitos médicos ginecologistas. Dispositivo intrauterino (DIU) O DIU é um pequeno dispositivo de plástico em forma de T, que deve ser implantado dentro do útero da mulher, através da vagina, pelo médico ginecologista durante uma consulta. O procedimento de colocação é simples e rápido. Existem 2 tipos de DIU: o DIU revestido de cobre e o DIU revestido por hormônio progesterona, chamado de DIU Mirena. Uma vez implantado, o DIU pode permanecer no útero por até 5 anos no caso do DIU Mirena, ou 10 anos no caso do DIU de cobre. O DIU é um método contraceptivo de longa duração, mas rapidamente reversível com a retirada do mesmo, caso seja necessário. Métodos anticoncepcionais permanentes Os métodos anticoncepcionais permanentes são aqueles que têm como objetivo esterilizar o homem ou a mulher, tornando-os inférteis de forma definitiva. As duas formas de esterilização disponíveis, seja no homem ou na mulher, são através de cirurgia. Este método só deve ser utilizado em último caso, pois a sua reversão, apesar de possível em algumas situações, é difícil de ser realizada com sucesso. A esterilização só deve ser feita em pessoas mais velhas, que já tenham tido todos os filhos que desejam ter. Nas pessoas jovens, mesmo que já tenham 3 ou 4 filhos, o ideal é optar por um método de contracepção prolongado, pois a vida dá muitas voltas, e o que é certeza aos 25 anos, pode torna-se arrependimento aos 35. Nenhum dos dois métodos fornece proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis. Vasectomia A vasectomia é uma cirurgia que resulta em esterilização permanente do homem por impedir a liberação de espermatozoides no líquido ejaculado. Esta é forma mais efetiva de contracepção masculina. A vasectomia é um procedimento cirúrgico simples, que não precisa ser feito dentro de um centro cirúrgico hospitalar. O urologista, médico indicado para este tipo de cirurgia, faz uma pequena anestesia local na pele da bolsa escrotal e com um pequeno corte é possível chegar até o ducto deferente, canal que transporta os espermatozoides. A partir daí, basta cortar o ducto e depois suturar cada uma das pontas. A cirurgia dura cerca de 15-20 minutos e interrompe de forma definitiva a saída de espermatozoides no esperma ejaculado. A vasectomia não diminui a libido, não interfere na ejaculação e não causa impotência. Ligadura tubária A laqueadura tubária, também chamada de ligadura das trompas, é um procedimento de esterilização que tem como objetivo impedir que a mulher consiga engravidar. Assim como a vasectomia no homem, a laqueadura é o procedimento contraceptivo definitivo na mulher. A laqueadura tubária funciona como método anticoncepcional definitivo porque é um procedimento que causa interrupção no trajeto de ambas as trompas, impedido que os espermatozoides cheguem ao óvulo liberado por qualquer um dos ovários. O procedimento pode ser feito cirurgicamente ou por endoscópica. A ligadura das trompas não impede a ovulação nem interfere no ciclo hormonal feminino, não causando, portanto, nenhuma alteração no ciclo menstrual. Métodos alternativos Os 15 métodos descritos até agora têm o comum o fato de utilizarem um procedimento médico ou um dispositivo artificial para prevenir a gravidez. Existem, porém, formas alternativas de contracepção. As formas alternativas descritas a seguir são gratuitas e naturais, ou seja, não necessitam de nenhum medicamento ou dispositivo médico para “funcionar”. A palavra funcionar acima foi colocada entre aspas porque esses métodos são as formas com maior incidência de falhas. Alguns desses métodos até poderiam ser bastante efetivos se fossem feitos de forma correta. O problema é que na prática, eles são difíceis de serem executados de forma segura. Coito interrompido (coitus interruptus) O coito interrompido é o método contraceptivo mais antigo da humanidade, havendo relatos da sua utilização no Egito antigo, há mais de 4000 anos. O método consiste na interrupção da penetração antes do parceiro ejacular, impedindo assim que o esperma ejaculado seja introduzido no canal vaginal. Há dois grandes problemas que tornam esse método pouco efetivo: o primeiro é erro na hora certa de retirar o pênis, e o segundo é o fato do líquido pré-ejaculatório conter pequenas quantidades de espermatozoides. O coito interrompido, portanto, não é método seguro de contracepção. Tabelinha A tabelinha é um método para estimar o período fértil. Ela pode ser utilizada tanto para quem quer otimizar as chances de engravidar, quanto para quem quer minimizá-las. A lógica por trás deste método é a seguinte: como o espermatozoide tem uma vida média de 5 dias dentro do aparelho reprodutor feminino, e como óvulo só sobrevive por 24 horas, os cinco dias que antecedem a ovulação e as 24 horas a seguir são o período com maior risco da mulher engravidar. O pico do risco ocorre nas 48 horas antes da ovulação.Qualquer outro momento do ciclo feminino que não inclua esse curto intervalo pré e pós- ovulatório não há risco de gravidez. Em 95% dos ciclos menstruais, a ovulação ocorre nos quatro dias antes ou depois do meio do ciclo (em um ciclo de 30 dias, a ovulação ocorre 4 dias antes ou depois do 15º dia). Em cerca de 30% dos ciclos, a ovulação ocorre exatamente no meio do ciclo (por exemplo, no 14º dia num ciclo de 28 dias ou no 15º dia num ciclo de 30 dias). Nas mulheres que têm ciclo menstrual muito regular, a ovulação é um evento bastante previsível. Basta não ter relações no período mais crítico para não engravidar. Esse método, entretanto, tem dois problemas: o primeiro é o grande número de dias perigosos, pois o risco começa 9 dias antes do meio do ciclo e termina 5 dias depois. Mas o maior problema é o fato de muitas mulheres não terem ciclos regulares. Se a mulher não menstrua em intervalos regulares, é impossível saber antecipadamente quando será o seu meio do ciclo, informação essencial para calcular os dias de risco. Muco cervical Outra forma de prever o momento da ovulação é através do muco cervical. Alguns dias antes da ovulação, o muco produzido pelo útero altera-se, tornando-se mais espesso e elástico. Este muco é chamado de muco fértil, pois favorece a mobilidade dos espermatozoides em direção ao útero e às trompas. Muitas mulheres conseguem detectar essa alteração nas características do seu muco, sendo uma indicação de que a ovulação está próxima de acontecer. Obviamente, esse método é muito pouco confiável para ser usado como estratégia anticoncepcional. Em geral, o muco cervical é mais usado como ajuda para quem quer engravidar do que como método para prevenir uma gravidez. Amamentação exclusiva Mulheres que pariram recentemente e ainda estão amamentando demoram a voltar a ovular, pois a prolactina, hormônio responsável pela produção de leite, inibe o processo hormonal natural que leva à ovulação. A amamentação pode ser utilizada para evitar a gravidez somente quando a mulher apresenta todas as três das seguintes condições: • Menos de seis meses após o parto. • Amamentação exclusiva, ou seja, o bebê não consome qualquer outro tipo de alimento que não o leite materno. • A mulher não voltou a menstruar desde que deu à luz. Se qualquer uma dessas condições não for cumprida, o risco de gravidez indesejada durante a amamentação torna-se inaceitavelmente alto. Abstinência sexual A abstinência sexual é o método contraceptivo mais seguro e à prova de falhas. Obviamente, quando uma pessoa está à procura de um método contraceptivo, o objetivo dela é conseguir ter relações sexuais sem o risco de engravidar. Na abstinência não há risco de engravidar, mas também não há relação sexual. A inclusão da abstinência como método contraceptivo pode parecer absurda, mas em alguns casos ela pode ser uma opção bastante interessante. A abstinência pode ser a melhor escolha quando a pessoa necessita de um método 100% seguro durante apenas um determinado período de tempo. Por exemplo, imagine uma mulher que esteja fazendo um tratamento médico com alguma droga altamente teratogênica (causadora de má-formações fetais). Se o tratamento for curto, por exemplo, 1 ou 2 semanas apenas, a opção mais segura é não ter relações neste período. Outra possibilidade é o caso de mulheres infectadas com doenças que causam má-formações fetais. Enquanto elas não estiverem totalmente curadas, o mais seguro é optar pela abstinência, um método com 100% de eficácia. Logicamente, se for possível, qualquer um dos métodos com elevadíssima taxa de eficácia (veja a lista mais abaixo) pode ser uma opção à abstinência. Porém, para contracepção a curto prazo, a abstinência deve sempre ser considerada. Eficácia Uma das primeiras coisas que o casal deve saber antes de escolher o método contraceptivo mais adequado para si é a taxa de eficácia de cada método. Antes de seguirmos com os números, algumas explicações fazem-se necessárias. As tabelas abaixo irão mostrar duas variáveis: taxa de eficácia teórica, que é a taxa de eficácia que se atinge quando o método é utilizado de forma estritamente correta, e á taxa de eficácia real, que é o resultado que vemos na prática, sabendo que muitos homens e mulheres acabam utilizando métodos contraceptivos sem antes terem certeza de como os mesmos funcionam. Não adianta nada você optar por um método anticoncepcional com elevada taxa teórica se na hora de usá-lo você não conseguir seguir as instruções corretamente. Outro ponto que deve ser explicado é a forma de interpretar os números que serão fornecidos. Quando dizemos que o hipotético método X tem uma taxa de eficácia de 99%, isso não significa que a cada 100 vezes que você for usá-lo, ele irá falhar 1 vez. 99% de eficácia significa que se 100 mulheres usarem o método X de forma regular por 1 ano, pelo menos 1 delas irá engravidar. Uma método Y com taxa de eficácia de 99,9% significa que se 1000 mulheres utilizarem o método de forma regular por um ano, 1 delas irá engravidar. Portanto, você pode utilizar um método com 95% de eficácia por vários anos e nunca engravidar. Pode usá-lo 200, 300 vezes e nunca ter problemas. Na verdade, se você utilizá- lo de forma correta, não ter problemas nunca é o mais provável. Métodos contraceptivos com elevadíssima taxa de sucesso O implante, a vasectomia, o DIU e a ligadura tubária são atualmente os métodos anticoncepcionais com maiores taxas de sucesso. Além do elevado sucesso teórico, como são métodos que dependem pouco do paciente, eles têm também uma elevadíssima taxa de sucesso real. Métodos contraceptivos com elevada taxa de sucesso O anticoncepcional injetável, a pílula (comum ou minipílula), o adesivo e o anel vaginal fazem parte de uma grupo com elevadíssima taxa teórica de sucesso, mas com taxas reais um pouco inferiores, pois estas dependem, em parte, de ações da usuária. O anticoncepcional injetável ainda é o com melhor performance, pois a mulher só precisa lembrar de renová-lo uma vez a cada 3 meses, ao contrário da pílula, por exemplo, que tem que ser tomada todos os dias. Métodos contraceptivos com aceitável taxa de sucesso A camisinha masculina e feminina, o diafragma e a esponja são um grupo com elevada taxa de sucesso teórico, mas com taxas reais preocupantes. Exceto pela pílula do dia seguinte, que não tem taxas muito elevadas naturalmente, os outros mostram-se, na prática, mais difíceis de serem utilizados corretamente. A camisinha, por exemplo, tem taxas teóricas muito satisfatórias, porém, como ela é frequentemente utilizada de forma errada, muitas mulheres engravidam sem querer, apesar do seu uso. Métodos contraceptivos com baixa taxa de sucesso Os métodos citados na tabela abaixo não devem ser utilizados como forma habitual de contracepção, pois apesar de alguns deles até terem taxas teóricas elevadas, na vida real, eles apresentam falhas com uma frequência muito elevada. Por exemplo, de 100 mulheres que praticam coito interrompido ao longo de um ano, cerca de 28 vão engravidar, uma taxa inaceitável, principalmente nos dias de hoje, quando diversos métodos extremamente eficazes estão amplamente disponíveis. Só como curiosidade, se 100 mulheres praticarem sexo sem nenhum tipo de contracepção ao longo de 1 ano, cerca de 88 irão engravidar. Se você se encontra dentro das 12 mulheres que não engravidam, você e o seu parceiro podem ser considerados um casal infértil. Se a gravidez é um desejo, é preciso recorrer a um médico especializado em fertilidade. Em muitos casos, o problema que está provocando a infertilidade é simples e pode ser resolvido facilmente Para compreender todo o controle hormonal, é preciso designar inicialmente as funções do LH e do FSH. O LH, Hormônio Luteinizante, é responsável pela menstruação, formação do corpo lúteo e liberação de progesterona. O FSH, Hormônio Folículo Estimulante,é o responsável por estimular o crescimento de folículos no ovário, amadurecimento dos óvulos e liberação de Estrogênio A hipófise libera o FSH, responsável pelo desenvolvimento folicular nos ovários e sequencialmente, na liberação de Estrogênio. Ao mesmo tempo, a Hipófise libera o LH, responsável pela formação do corpo lúteo e respectivamente liberação de Progesterona. Ambos os hormônios atuam por feedback negativo (também chamada de Retroalimentação Negativa) na Hipófise, ou seja, depois da ovulação, Progesterona e Estrogênio irão inibir a Hipófise de liberar mais FSH e LH. Os anticoncepcionais são sinteticamente análogos ao Estrogênio e a Progesterona, simulam uma ovulação a ponto de inibir o FSH e o LH; limitam assim o número de folículos a serem desenvolvidos (regulação hormonal) e de óvulos a serem eventualmente fecundados, causando o efeito contraceptivo O mecanismo de ação das pílulas esteroides é supressão do hormônio folículo estimulante a nível eixo hipotálamo-hipófise. Pílulas anticoncepcionais podem ter duas origens: Progestágenos ou Estrógenos (SOUZA, 2015). Os progestágenos (também chamados de minipílulas) são hormônios sintéticos análogos à progesterona, e podem ser retirados dos hormônios 19-nortestosterona, 17-alfa-hidroxiprogesterona ou do hormônio 17-espironolactona. Os Estrógenos (representados principalmente pelo etinil estradiol) são hormônios derivados do estradiol, estrona ou estriol. (LOPES, 2014). Os medicamentos Progestágenos derivados da 19-nortestosterona podem muitas vezes estar associados a ação de efeitos andrógenos no organismo, pois esses são derivados do hormônio masculino, a testosterona. Sua eficácia contraceptiva é comprovada, todavia há relatos de mulheres que obtiveram junto ao uso desses hormônios aumento da libido e de efeitos androgênicos em geral. (LOPES, 2014). Os progestágenos derivados do hormônio 17-alfa-hidroxiprogesterona já são mais utilizados para efeitos anti-andrógenos, isto é, diminui os efeitos colaterais e pode ser uma opção favorável ao tratamento da SOP. Derivados da 17- espironolactona (drospirenona) são contraceptivos diuréticos, auxiliam na diminuição da retenção líquida. As pílulas estrógenas por sua vez, além da eficácia contraceptiva potencializam a ação do progestágeno. Mantém o padrão de sangramento cíclico, inibem a secreção de FSH. Todavia, estão relacionadas ao aumento do fator de coagulação V e VII, intrinsicamente envolvidos no risco de trombose. Os diversos efeitos no organismo da mulher variam de acordo com o tipo da pílula de escolha, por esta razão a indústria associou esses hormônios fazendo pílulas combinadas, que visam maior utilização por parte do público feminino com menor chance de efeitos indesejados. Deve-se lembrar de que os anticoncepcionais orais são indicados em mulheres sadias, não fumantes e menores de 35 anos de idade, evitando que a paciente seja exposta a riscos de obesidade, hipertensão e tromboembolismo (LOPES, 2014). Os antibióticos podem ser classificados como bacteriostáticos ou bactericidas: são compostos naturais ou sintéticos capazes de inibir o crescimento ou causar morte de bactérias, respectivamente (SOUZA, 2015). Com a atual problemática da resistência de bactérias, antibióticos das mais variadas classes tem sido utilizados muitas vezes sem necessidade ou de modo inadequado. Medicamentos antimicrobianos, como a Rifampicina, têm sido comumente acionados, o que leva os antibióticos ao topo em um rol de prescrições para tratamento de infecções, por vezes resultando uso indiscriminado e incorreto, sendo um fator preocupante se levado em consideração o crescente número de bactérias multirresistentes (SANTOS, 2012). Podemos classificar a metabolização de anticoncepcionais e antibióticos em duas fases. Entende-se que a metabolização pode ocorrer por oxidação, redução, hidrólise, conjugação, condensação, isomerização. Na fase 1, ocorre a biotransformação enzimática. O fármaco ingerido será oxidado pelo fígado (órgão principal da biotransformação) pois possui maior concentração de enzimas envolvidas no processo. A metabolização nesta fase resulta em produtos mais reativos quimicamente. Na fase 2, encontram-se as moléculas que não foram ativadas pelo processo hepático, elas serão conjugadas na bile, levadas até o intestino para liberar novamente o fármaco ativo na corrente sanguínea (PATRICIO, BARBOSA, 2019). Prevenção de ISTS Vaginite e Vaginose Vaginose bacteriana Vaginose bacteriana é o desequilíbrio da flora vaginal caracterizado pela substituição da flora microbiana saudável (dominada por Lactobacillus) por microbiota variável, composta por mistura de bactérias anaeróbias e facultativas. Embora existam variações individuais entre mulheres portadoras de VB, as espécies microbianas mais frequentemente identificadas são Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneatia, Bifidobacterium, Dialister, Clostridium e Mycoplasmas. A VB tem sido referida como a mais frequente afecção do trato genital inferior feminino, estando relacionada à ampla variedade de distúrbios do trato reprodutivo, tem prevalência três vezes mais elevada em mulheres inférteis do que em férteis e é associada a duas vezes o risco de aborto após fertilização in vitro. É relatada associação de VB com infecção pelo HPV e lesões intraepiteliais cervicais, aumento nas taxas de infecções pós-cirurgias ginecológicas e aumento em até seis vezes na taxa de aquisição do HIV. Pode facilitar a transmissão/aquisição de outros agentes de transmissão sexual como C. trachomatis e N. gonorrhoeae Estudos demonstram associação dela com salpingite e infertilidade de causa tubária. Quando presente, particularmente no início da gestação, tem sido associada a aumento no risco de parto prematuro, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, aumento na morbidade neonatal e altas taxas de endometrite pós-parto. Entretanto, ainda existem questionamentos sobre as correlações da VB com intercorrências obstétricas; as metodologias dos estudos são questionadas por alguns autores (Nasiardis et al., 2017) É importante enfatizar que associação não significa causalidade, ou seja, não significa que a presença de VB sempre estará associada a eventos adversos. Um amplo estudo observacional não demonstrou associação entre VB e subsequente incidência de salpingite; e outro amplo estudo não demonstrou benefício no tratamento da afecção em gestantes para redução de parto prematuro. Portanto, tais associações ainda são motivo de debate; certamente os fatores imunes do hospedeiro com suas variações individuais e a virulência específica de cada cepa microbiana envolvida na infecção influenciam a ocorrência de eventos adversos e complicações Vaginose bacteriana é uma afecção extremamente prevalente. Estimativas mundiais de prevalência variam de 10% a 30% (Koumans e Kendrick, 2001). Estudo realizado nos Estados Unidos, no período de 2001 a 2004, com amostra nacional representativa de 3.739 mulheres mostrou prevalência de 29,2% (IC 95% 27,2-31,3) em mulheres americanas na faixa etária de 14 a 49 anos (Allsworth e Peipert, 2007). No Brasil, dependendo da população estudada, a afecção é responsável por até 40% dos casos de queixas vaginais Os fatores de risco para VB são variados, incluindo raça negra, uso de duchas vaginais, tabagismo, menstruação, estresse crônico e comportamentos sexuais, como elevado número de parceiros masculinos, sexo vaginal desprotegido, sexo anal receptivo antes do sexo vaginal e sexo com parceiro não circuncisado. Mulheres que fazem sexo com mulheres têm alta prevalência de VB (25% a 52%), de acordo com diferentes estudos O quadro clínico caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido (caracterizado frequentemente como “odor de peixe” ou amoniacal). Por vezes, a paciente refere apenas o odor, estando o corrimento ausente. O odorfétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas (putrescina, cadaverina, dimetilamina) resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. Ao exame ginecológico, o conteúdo vaginal apresenta-se homogêneo, em quantidade variável (geralmente escassa, mas pode ser moderada ou abundante) e com coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou amarelada. A VB isolada não é causa de disúria ou dispareunia, pois não é acompanhada de processo inflamatório. Entretanto, quando se apresenta associada a outras afecções vaginais como candidíase, os sintomas podem ser mais variados, por exemplo, queixa de prurido. Para o diagnóstico, foram propostos alguns critérios, incluindo achados clínicos e laboratoriais ou apenas dados microbiológicos. Os critérios mais conhecidos e divulgados são os de Amsel (Amsel et al., 1983) e os de Nugent (Nugent et al., 1991). Os critérios propostos por Amsel requerem três dos quatro itens a seguir: corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais; medida do pH vaginal maior do que 4,5; teste das aminas (whiff test) positivo, ou seja, desprendimento de odor fétido após a adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo vaginal; presença de “células-chave” (“clue cells”), que são células epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na bacterioscopia O escore de Nugent baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, de Gardnerella vaginalis e de Mobiluncus sp. O resultado da avaliação é traduzido em escores, assim considerados: escore de 0 a 3 – padrão normal; escore de 4 a 6 – flora vaginal intermediária; escore de 7 a 10 – vaginose bacteriana Outros testes incluem o AFFIRM VP III (Becton Dickinson, Sparks, MD), que é um teste de hibridização para altas concentrações de Gardnerella vaginalis, e o OSOM BV Blue test (Sekisui Diagnostics, Framingham, MA), que detecta a enzima sialidase ativada presente no fluido vaginal de mulheres com VB; ambos são úteis e têm boa efetividade quando comparados ao Gram. PCR tem sido utilizada para detecção de microrganismos associados à VB apenas para pesquisas. Cultura para Gardnerella vaginalis não é recomendada para o diagnóstico. Cumpre acrescentar que o estudo do microbioma vaginal por métodos independentes de cultura tem sido utilizado até o momento apenas para pesquisas. O tratamento da VB visa eliminar os sintomas e reestabelecer o equilíbrio da flora vaginal fisiológica, principalmente pela redução dos anaeróbios. De acordo com o Center for Disease Control (CDC), o tratamento pode ser realizado com os esquemas a seguir Recomendados Metronidazol 500 mg por via oral duas vezes ao dia durante sete dias OU Metronidazol gel 0,75% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar durante cinco dias OU Clindamicina creme 2% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar durante sete dias. Os efeitos colaterais dos imidazólicos podem incluir náuseas, vômitos, cefaleia, insônia, tontura, boca seca e gosto metálico. Recomendar abstinência de álcool durante 24 horas após o tratamento com nitroimidazólicos (efeito dissulfiram) e abstenção de atividade sexual ou o uso de preservativos correta e consistentemente durante o tratamento. Lembrar que a clindamicina tem base oleosa e pode enfraquecer preservativos e diafragmas até cinco dias após o uso. Ainda, de acordo com o CDC, não se recomenda o uso de duchas para aliviar os sintomas. Alternativos Tinidazol 2g por via oral duas vezes ao dia durante dois dias OU Tinidazol 1g via oral uma vez ao dia durante cinco dias OU Clindamicina 300 mg por via oral a cada 12 horas durante sete dias Valores de referência fsh e lh Valores de referência – FSH • Fase folicular: até 12,0 UI/L; • Fase lútea: até 12,0 UI/L; • Pico ovulatório: 12,0 a 25,0 UI/L; • Menopausa: acima de 30,0 UI/L; • Homens: menor do que 10,0 UI/L. Valores de referência do LH • Fase folicular: entre 1,8 e 11,8 U/L; • Pico ovulatório: entre 7,6 e 89,1 U/L; • Fase lútea: entre 0,6 e 14,0 U/L; • Menopausa: entre 5,2 e 62,9 U/L; • Homens: entre 0,6 – 12,1 U/L. Valores de referência – progesterona • Início do período menstrual: 1 ng/mL ou inferior; • Antes da ovulação: inferior a 10 ng/mL; • 7 a 10 dias depois da ovulação: superior a 10 ng/mL Prolactina • Menor que 25n/mL em mulheres não gestantes e que não estejam amamentando; • Mulheres grávidas, entre: 9 ng/mL e 208ng/mL; • Mulheres pós menopausa, entre: 1,8 ng/mL e 20 ng/mL; • Em homens menor que 15ng/mL. TSH • <4,5 μUI/mL: níveis normais de TSH no sangue, com baixa probabilidade de hipotireoidismo. • de 4,5 a 10 μUI/mL: alteração no nível de TSH no sangue, podendo indicar um caso de hipotireodismo. • >10 μUI/mL: nível alto de TSH, com grandes chances de hipotireoidismo. Estradiol Valor de Referência:Meninas: – Menor que 1 ano: Inferior a 44 pg/mL – 1 a 12 anos….: Inferior a 20 pg/mL – 12 a 19 anos…: Inferior a 230 pg/mL Mulheres não grávidas: – Fase folicular precoce: 20 a 157 pg/mL – Fase folicular média..: 21 a 139 pg/mL – Pico ovulatório…….: 19 a 622 pg/mL – Fase lútea média……: 26 a 279 pg/mL Mulheres na pós-menopausa não tratadas com terapia hormonal: Inferior a 30 pg/mL Meninos: – Menor que 1 ano: Inferior a 44 pg/mL – 1 a 12 anos….: Inferior a 15 pg/mL – 12 a 19 anos…: Inferior a 39 pg/mL Homens: Inferior a 33 pg/mL ANTI TPO A antiperoxidase tireoidiana (anti-TPO) é um anticorpo produzido pelo sistema imune e que ataca a glândula tireoide, resultando em alteração nos níveis de hormônios produzidos pela tireoide. Os valores de anti-TPO variam de laboratório para laboratório, sendo os valores aumentados normalmente indicativos de doenças autoimunes. No entanto, a quantidade desse autoanticorpo tireoidiano pode aumentar em várias situações, por isso é importante que o diagnóstico seja feito levando em consideração o resultado de outros exames relacionados à tireoide, como outros autoanticorpos tireoidianos e dosagem de TSH, T3 e T4. Valores aumentados de antiperoxidase tireoidiana (anti-TPO) normalmente são indicativos de doenças autoimunes da tireoide, como Tireoidite de Hashimoto e Doença de Graves, por exemplo, no entanto pode estar aumentado em outras situações, como na gravidez e no hipotireoidismo. As principais causas de aumento da antiperoxidase tireoidiana são: 1. Tireoidite de Hashimoto A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a tireoide, desregulando a produção de hormônios tireoidianos e resultando em sintomas de hipotireoidismo, como cansaço excessivo, aumento de peso, dores musculares e enfraquecimento de cabelos e unhas. A tireoidite de Hashimoto é uma das principais causas de aumento da antiperoxidase tireoidiana, no entanto é necessária a realização de mais exames para que seja concluído o diagnóstico. 2. Doença de Graves A doença de Graves é uma das principais situações em que a antiperoxidase tireoidiana está alta e acontece porque esse autoanticorpo atua diretamente na tireoide e estimula a produção de hormônios, resultando em sintomas característicos da doença, como dor de cabeça, olhos arregalados, perda de peso, suor, fraqueza muscular e inchaço na garganta, por exemplo É importante que a doença de Graves seja identificada e tratada corretamente para aliviar os sintomas, sendo o tratamento indicado pelo médico conforme a gravidade da doença, podendo ser recomendado o uso de remédios, terapia com iodo ou cirurgia da tireoide. Saiba mais sobre a doença de Graves e como é o tratamento. 3. Gravidez Devido à alterações hormonais comuns na gravidez, é possível que também existam alterações relacionadas com a glândula tireoide, podendo ser identificada, inclusive, oaumento dos níveis de antiperoxidase tireoidiana no sangue. Apesar disso, a gestante não necessariamente possui alterações na tireoide. Por isso, é importante que seja feita a dosagem de anti-TPO no início da gestação para que o médico possa acompanhar os níveis durante a gravidez e verificar o risco de desenvolvimento de tireoidite após o parto, por exemplo. 4. Hipotireoidismo subclínico O hipotireoidismo subclínico é caracterizado pela diminuição da atividade da glândula tireoide que não gera sintoma e que só é percebida por meio de exames de sangue, em que é verificado níveis normais de T4 e aumento de TSH. Apesar da dosagem de anti-TPO não ser normalmente indicada para diagnóstico de hipotireoidismo subclínico, o médico pode solicitar esse exame para avaliar a progressão do hipotireoidismo e verificar se a pessoa está respondendo bem ao tratamento. Isso é possível pelo fato desse anticorpo atuar diretamente na enzima que regula a produção dos hormônios tireoidianos. Dessa forma, ao realizar a dosagem da antiperoxidase tireoidiana no hipotireoidismo subclínico, é possível verificar se a diminuição da quantidade de anti-TPO acompanha a regularização dos níveis de TSH no sangue. 5. Histórico familiar Pessoas que possuem parentes com doenças autoimunes da tireoide podem apresentar valores alterados de anticorpo antiperoxidase tireoidiana, não sendo indicativo de que também possuem doença. Por isso, é importante que o valor do anti-TPO seja avaliado juntamente com os outros exames solicitados pelo médico. Valores de Referência: Até 35 UI/ml https://www.tuasaude.com/tratamento-para-doenca-de-graves/ A tireoglobulina é um marcador tumoral muito utilizado para avaliar o desenvolvimento do câncer de tireoide, especialmente durante o seu tratamento, ajudando o médico a adaptar a forma de tratamento e/ou as doses, de acordo com os resultados. Embora nem todos os tipos de câncer na tireoide produzam tireoglobulina, os tipos mais comuns produzem e, por isso, os níveis deste marcador geralmente estão aumentados no sangue na presença do câncer. Se o valor de tireoglobulina continuar aumentando ao longo do tempo, significa que o tratamento não está tendo o efeito desejado e precisa ser alterado. Em casos mais raros, o exame de tireoglobulina pode ainda ser usado para determinar a causa de um hipertireoidismo ou hipotireoidismo, por exemplo. valor de tireoglobulina em uma pessoa saudável, sem qualquer alteração na tireoide, geralmente é inferior a 10 ng/mL mas pode ir até aos 40 ng/mL. Assim se o resultado do exame estiver acima desses valores, pode indicar a presença de um problema na tireoide. Embora o resultado do exame deva ser sempre interpretado pelo médico que o pediu, geralmente os resultados significam: Tireoglobulina alta • Câncer da tireoide; • Hipertireoidismo; • Tiroidite; • Adenoma benigno. Conduta do Hipogonadismo Hipergonadotrofico Diagnóstico O diagnóstico do hipogonadismo é feito através do histórico clínico do paciente, do exame físico e confirmado através da realização de exames complementares. Vários exames podem ser solicitados, a depender de cada caso, como por exemplo a determinação do painel de hormônios como: FSH, LH, estradiol, progesterona, testosterona, DHT, prolactina, TSH, T4L, etc. Pode ser necessário realizar outros exames como: espemograma, ultrassom de testículos, ultrassom da pelve (para avaliar os ovários), ressonância da hipófise etc. Lembrando que os exames citados devem ser diferenciados de acordo com sexo do paciente. Tratamento O tratamento vai depender da causa do hipogonadismo. Por exemplo, quando a causa é um tumor hipofisário, o tratamento pode ser a cirurgia para esta lesão ou mesmo o uso de medicamentos (quando o tumor é produtor de prolactina). Na maioria dos pacientes com hipogonadismo, quando a causa não é tratável, como numa lesão testicular por trauma ou ovariana por uma doença autoimune, o tratamento consistirá na reposição dos hormônios sexuais que estão em falta, como por exemplo a testosterona, o estradiol e a progesterona, a depender do sexo do paciente. Em alguns casos, quando a doença inicial não é na gônada (como por exemplo, numa lesão de hipófise pós-radioterapia) e o paciente tem o desejo de fertilizar, alguns tratamentos podem ser feitos utilizando medicamentos que estimulem a função dos ovários ou dos testículos. Em geral, são medicamentos que contém moléculas iguais ou semelhantes ao LH ou FSH, que são naturalmente produzidos no nosso organismo. Conduta da Disgenesia pura Descrição clínica Os doentes apresentam durante a adolescência ou início da idade adulta genitais femininos externos normais, mas ausência de desenvolvimento da puberdade, embora a adrenarca seja normal. As gónadas são completamente indiferenciadas e linearese estão associadas com um risco aumentado de tumores abdominais (mais frequentemente disgerminoma; ver este termo), que pode ser a forma de apresentação, nalguns casos. A estatura é normal ou acima do normal, e as características da síndrome de Turner (ver este termo) estão ausentes. Etiologia Embora a etiologia não esteja completamente esclarecida, a CGD 46,XY resulta de falha do desenvolvimento testicular devido à disrupção das vias genéticas subjacentes e vários genes foram implicados: SRY (deleção do gene ou mutações com perda de função; Yp11.3), NR5A1 (9q33) e DHH (mutações em homozigotia ou heterozigotia composta; 12q13.1). Adicionalmente, doentes com duplicação parcial de Xp (incluindo o gene NR0B1 ) e deleções do cromossoma 9p (envolvendo os genes DMRT1 e DMRT2 ) também podem apresentar CGD 46,XY isolada. Mutações no gene CBX2 foram raramente descritas, nomeadamente num doente com desenvolvimento de tecido ovárico, apesar do cariótipo 46,XY. Recentemente foram descritos dois casos familiares e dois esporádicos com mutações no gene MAP3K1 (mapeado no cromossoma 5q), que causam alterações a jusante na via de sinalização da MAP quinase. Fatores ambientais (ingestão materna de progesterona durante a gravidez) e crescimento pré-natal deficiente também têm sido associados a CGD 46,XY. Métodos de diagnóstico O diagnóstico é feito com base no quadro clínico juntamente com diagnóstico citogenético, estudos endocrinológicos, estudos de genética molecular, e por vezes, exploração cirúrgica com biópsia e remoção das gónadas lineares. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial deve incluir disgenesia ovárica hipergonadotrófica (GD 46,XX) e todas as formas de CGD 46,XY sindrómica (por exemplo, síndrome de Frasier, displasia campomélica e DSD 46,XY com insuficiência da supra-renal; ver estes termos). Diagnóstico pré-natal O diagnóstico pré-natal é viável para as famílias em que a anomalia genética foi confirmada, mas só é recomendado nos casos sindrómicos. Aconselhamento genético Embora alguns casos de CGD 46,XY ocorram esporadicamente, o aconselhamento genético pode ser oferecido às famílias atingidas e deve ser adaptado em função do modo de hereditariedade associada à anomalia genética identificada. Controlo da doença e tratamento A gestão deve envolver a remoção de tecido gonadal já que existe um alto risco de malignidade. Possíveis problemas de saúde associados (por exemplo malformações associadas) devem ser abordados de acordo com o diagnóstico genético. A substituição hormonal é recomendada na fase da puberdade. O apoio psicológico também deve ser oferecido aos doentes e suas famílias. A infertilidade é um problema de gestão importante, no entanto, a gravidez pode ser viável através da doação de óvulos. Prognóstico Com a gestão adequada, o risco de malignidade é baixo e o resultado psicológico e clínico para os doentes é bom. Conduta Hipotireoidismo Primário O diagnóstico laboratorial do hipotireoidismo é feito através da dosagem sérica de TSH e T4 livre (T4L). O TSH é padrão-ouro para avaliação da funçãotireoidiana, com sensibilidade de 98% e especificidade de 92% para definição do diagnóstico. No hipotireoidismo primário (95% dos casos) há inicialmente a elevação de TSH e, na evolução, redução dos níveis de T4 e, posteriormente, de T3. No caso de ser improvável a presença do hipotireoidismo, mas devendo esta possibilidade ser descartada, há necessidade apenas da dosagem de TSH. Na suspeita de hipotireoidismo, devem ser dosados TSH e T4L (este não sofre interferências pelos fatores que afetam as proteínas ligadoras). TSH elevado com T4L baixo define a presença de hipotireoidismo primário. No hipotireoidismo central observa-se TSH baixo ou normal e T4L baixo. A dosagem de anticorpos antitireoidianos, mais especificamente antitireoperoxidase (ATPO) auxilia na definição da etiologia autoimune (tireoidite de Hashimoto). Outras possíveis alterações laboratoriais (quadro 2) são anemia leve a moderada, podendo ser normocítica, macrocítica (associada ou não à anemia perniciosa) e microcítica e hipocrômica (por deficiência de ferro, secundária à menorragia), aumento do colesterol total (por aumento do LDL), alterações enzimáticas (aumento das transaminases e creatinofosfoquinase), bem como hiperprolactinemia (com ou sem galactorreia) nos casos de hipotireoidismo primário. O hipotireoidismo central pode estar associado à deficiência de outros hormônios hipofisários – neste caso, deve ser solicitada ressonância magnética da hipófise para definição da etiologia. Cintilografia de tireoide com 131I não está indicada na investigação do hipotireoidismo – a captação será baixa ou ausente, independentemente da etiologia, tanto nos casos de origem primária como central. A ultrassonografia de rotina da tireoide não é recomendada, exceção em casos de pacientes com anticorpos antitireoidianos negativos para identificar pacientes com tireoidite autoimune ou com palpação tireoidiana anormal e também pode ser considerada para pacientes com hipotireoidismo subclínico para ajudar na avaliação do risco de progressão para hipotireoidismo. Deve haver grande cuidado na interpretação de testes de função tireoidiana em pacientes com doenças sistêmicas graves. Estas condições comumente levam a alterações nestes testes, sem que haja doença tireoidiana de fato. Em geral há inicialmente redução de T3, com ou sem elevação do T4, e, posteriormente, redução do T4 com TSH normal. Na fase de recuperação, o T3 e o T4 normalizam-se, e o TSH transitoriamente se eleva. Esse quadro, chamado de síndrome da doença não tireoidiana (SDNT), pode confundir o clínico e não há evidências de que os pacientes se beneficiem de intervenção. A investigação de hipotireoidismo deve ser realizada em pacientes com quadro clínico sugestivo de tal condição e em pacientes considerados de risco para hipotireoidismo (tabela 1). Conduta tricomoníase Sinais e sintomas da tricomoníase Mulheres podem apresentar sintomas da tricomoníase que variam de nenhuma secreção vaginal à secreção vaginal copiosa, amarelo-esverdeada e espumosa e odor de peixe, com sensibilidade na vulva e no períneo, dispareunia e disúria. Uma infecção previamente assintomática pode se tornar sintomática a qualquer momento, com inflamação da vulva e do períneo e edema de lábios. As paredes vaginais e a superfície da colo do útero podem apresentar lesões puntiformes, em tom “vermelho-morango”. Uretrite e, possivelmente, cistite também podem ocorrer. Homens normalmente são assintomáticos; porém, algumas vezes, a uretrite resulta em uma secreção que pode ser passageira, espumosa ou purulenta, ou causar disúria e polaciúria, geralmente no início da manhã. Com frequência, a uretrite é leve e causa apenas irritação uretral mínima e umidade ocasional no meato uretral, sob o prepúcio, ou em ambos. Epididimite e prostatite são complicações raras. Diagnóstico da tricomoníase • Exame microscópico das secreções vaginais, testes de tira reagente ou testes de amplificação de ácido nucleico (NAATs) • Cultura da urina ou swabs uretrais de homens Suspeita-se de tricomoníase em mulheres com vaginite, em homens com uretrite e em seus parceiros. A suspeita é forte se os sintomas persistirem após avaliação e tratamento para outras infecções como gonorreia e infecções por clamídia, micoplasma e Ureaplasma. Em mulheres, o diagnóstico é baseado em critérios clínicos e testes em pontos de atendimento. Um dos seguintes testes feitos em pontos de atendimento pode ser feito: • Exame microscópico direto das secreções vaginais • Testes rápidos de fluxo immunocromográfico Exame microscópico é o método mais simples e permite que os médicos testem a tricomoníase e a vaginose bacteriana ao mesmo tempo. Os testes para as duas infecções devem ser feitos porque elas causam sintomas semelhantes e/ou podem coexistir. Secreção vaginal é obtida do fórnix posterior. O pH é medido. Em seguida, as secreções são colocadas enre 2 lâminas e diluídas com hidróxido de potássio a 10% em uma lâmina (exame a fresco com KOH) e com cloreto de sódio a 0,9% na outra (exame a fresco com soro fisiológico). Para o teste do cheiro, a amostra de KOH é marcada por odor de peixe, decorrente das aminas produzidas na vaginite por tricomonas ou vaginite bacteriana. A lâmina úmida com soro fisiológico é examinada ao microscópio óptico o mais rápido possível para detectar tricomonas, que podem se tornar imóveis e mais difíceis de reconhecer minutos após a preparação da lâmina. (Os tricomonas tem a forma de pera com flagelos, muitas vezes móveis, e em média têm 7 a 10 micrômetros — aproximadamente o tamanho dos leucócitos, mas ocasionalmente alcançam 25 micrômetros.) Se houver tricomoníase, haverá também numerosos neutrófilos. Tricomoníase também é comumente diagnosticada visualizando o organismo quando o teste de Papanicolau (Pap) é feito. Alternativamente, testes rápidos de fluxo immunocromográfico ou NAAT, que estão disponíveis a partir de alguns laboratórios, podem ser feitos. Em mulheres, esses testes são mais sensíveis do que microscopia ou cultura. Além disso, NAAT pode ser configurado para detectar simultaneamente outros organismos ou outras infecções sexualmente transmissíveis como gonorreia ou infecção por clamídia. Cultura da urina ou swabs uretrais é o único teste validado para detectar T. vaginalis em homens. Em homens, a microscopia da urina é insensível, e NASC e testes rápidos não foram rigorosamente validados; mas estudos epidemiológicos sugerem que, para NASC swabs uretrais são melhores do que urina. Assim como no diagnóstico de qualquer infecção sexualmente transmissível, pacientes com tricomoníase devem realizar testes a fim de excluir outras doenças sexualmente transmissíveis comuns, como gonorreia e infecção por clamídia. Tratamento da tricomoníase • Metronidazol ou tinidazol oral • Tratamento dos parceiros sexuais Metronidazol ou tinidazol, 2 g, por via oral, em dose única, cura até 95% das mulheres com tricomoníase se os parceiros sexuais forem tratados simultaneamente. A efetividade de https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/infec%C3%A7%C3%B5es-sexualmente-transmiss%C3%ADveis/gonorreia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/infec%C3%A7%C3%B5es-sexualmente-transmiss%C3%ADveis/infec%C3%A7%C3%B5es-da-mucosa-micoplasma-e-ureaplasma-por-clam%C3%ADdia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/vaginite-cervicite-e-doen%C3%A7a-inflamat%C3%B3ria-p%C3%A9lvica/vaginose-bacteriana-vb esquemas de única dose em homens não é evidente, de modo que o tratamento geralmente é feito com metronidazol ou tinidazol, 500 mg por via oral duas vezes ao dia durante 5 a 7 dias. Se a infecção persistir nas mulheres e a reinfecção por parceiros sexuais foi excluída, as mulheres são novamente tratadas primeiro com metronidazol ou tinidazol 2 g por via oral uma vez ou metronidazol 500 mg duas vezes ao dia,por 7 dias. Se o esquema inicial de retratamento falhar, metronidazol ou tinidazol 2 g uma vez ao dia durante 5 dias pode ser eficaz. O metronidazol pode causar leucopenia, reações semelhantes às de dissulfiram com álcool, ou superinfecções por Candida. É relativamente contraindicado no início da gestação, embora possa não apresentar risco ao feto após o 1º trimestre. A segurança do tinidazol na gestação não foi comprovada e, portanto, este não é utilizado. Parceiros sexuais devem ser vistos e tratados para tricomoníase com tinidazol 2 g em dose única ou metronidazol 500 mg duas vezes ao dia por 5 dias e devem ser examinados para outras infecções sexualmente transmissíveis. Se houver probabilidade de má aderência ao acompanhamento clínico pelos parceiros sexuais, o tratamento pode ser iniciado em parceiros sexuais de pacientes com tricomoníase documentada, sem confirmação de diagnóstico no parceiro.