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História África Antiga

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HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA 
DA ÁFRICA 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Edmar Almeida de Macedo 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, veremos como as populações africanas são diversas e 
tiveram um desenvolvimento histórico também diverso. O foco na antiguidade do 
continente não nos impede de irmos e voltarmos no tempo para sedimentarmos 
conceitos importantes para esse período, que também serão úteis para o estudo 
do conjunto da história do continente. 
Como conhecer algo implica em fazer escolhas, também tivemos que 
recortar alguns povos e civilizações para abordarmos a antiguidade do 
continente. Então, nesta aula, veremos alguns dos povos que desenvolveram 
complexos arranjos estatais no continente, bem como discutiremos a 
importância das relações com a Europa para a história do norte do continente, 
afinal, conduzir o estudo de uma história vista por dentro do próprio continente 
não significa estudar uma história isolada. 
“A Antiguidade egípcia é, para a cultura africana, o que é a Antiguidade 
greco-romana para a cultura ocidental” (Silvério, 2013, p. 149), e só por este 
motivo estaria justificado o seu estudo. A egiptologia consagrou-se ao longo de 
anos como um campo próprio dentro da história, e é este, sem dúvida, o capítulo 
mais conhecido da história africana em todo o mundo. 
Essa rica história possui uma clássica periodização (Silvério, 2013). 
• I e II dinastia (Período Arcaico): aproximadamente 3200 a.C. a 2900 a.C. 
• III a VI dinastia (Antigo Império): aproximadamente 2750 a.C. a 2200 a.C. 
• VII a X dinastia (Primeiro Período Intermediário): 2200 a.C. a 2150 a.C. 
• XI a XII dinastia (Médio Império): 2150 a.C. a 1780 a.C. 
• XIII a XVII dinastia (Segundo Período Intermediário): 1780 a.C. a 1580 
a.C. 
• XVIII a XX dinastia (Novo Império): 1580 a.C. a 1080 a.C. 
• XXI a XXIII dinastia (Terceiro Período Intermediário): 1080 a.C. a 730 a.C. 
• XIV a XXX dinastia (Baixa Época): 730 a.C. a 330 a.C. 
 Mas essa história, que geralmente é ensinada como um capítulo da 
história dos povos do crescente fértil, possui também as lógicas típicas da 
história africana e é em contraste com a história do continente que devemos 
encará-la. 
 
 
3 
Por outro lado, “A fascinação pela história do Egito faraônico significou, 
contudo, o desconhecimento ou, pelo menos, a pouca divulgação da história de 
outros impérios africanos importantes da Antiguidade” (Silva, 2019, p. 44). 
 Por isso, com o estudo dos povos núbios e etíopes, pretendemos afastar 
de vez a ideia de uma África antiga povoada apenas por povos coletores e 
caçadores. Existiam civilizações complexas e formações estatais robustas na 
África desse período para além do Egito Antigo. 
 Por sua vez, no norte da África, uma antiga colônia fenícia, também na 
Antiguidade, controlou boa parte do comércio mediterrânico. Trata-se da cidade 
de Cartago, que fez da díade comércio e guerra o segredo de seu secular 
sucesso. 
 Suplantada Cartago pelos romanos, vemos como a cultura romana e seu 
domínio político assentaram-se no norte do continente, produzindo 
transformações e ressignificando antigas tradições. 
TEMA 1 – POVOS DA ÁFRICA 
 Ainda na Pré-História, apareceu o homo sapiens, no entorno dos lagos 
etíopes, há mais de 200 mil anos, como já vimos. Sua dispersão pelo continente 
africano foi um processo longo e que possibilitou a diferenciação étnica dos seres 
humanos. 
 Já vimos que o conceito de etnia envolve, além dos aspectos fenotípicos, 
os aspectos culturais. Assim, a constante diferenciação cultural fez com que os 
seres humanos formassem grupos mais ou menos homogêneos vivendo em 
cada rincão do continente africano e do mundo. Essa diferenciação pode ser 
notada nos dias atuais, como nos mostra o mapa de grupos étnicos africanos. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Grupos étnicos atualmente existentes na África 
 
Créditos: João Miguel A. Moreira. 
 Essa diversidade expressa-se também em um dos marcadores mais 
significativos da identidade étnica, a linguagem. 
Figura 2 – Línguas faladas atualmente na África 
 
Créditos: João Miguel A. Moreira. 
 
 
5 
 Essa diversidade de povos está na base de uma história africana múltipla 
e não linear, em que podemos encontrar diversos povos vivendo em diversas 
formas de organização societal e estatal. Só para termos um exemplo, veja o 
mapa com alguns dos povos e das civilizações que estudaremos nesta aula e 
futuramente: 
Figura 3 – Alguns povos, impérios e civilizações africanos 
 
Créditos: João Miguel A. Moreira. 
 E, por fim, é essa diversidade, somada ao processo colonial vivido pelo 
continente africano, que resulta no atual mapa político continental. 
Figura 4 – Países da África atualmente 
 
 
6 
 
Créditos: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 
 Assim, o que queremos fazer perceptível é que, ao tratarmos da história 
da África e do povo africano, estamos tratando de uma diversidade de itinerários 
e povos que floresceram, desapareceram, misturaram-se, isolaram-se, deixaram 
rastros ou foram silenciados, mas nunca estamos falando de uma história única, 
no sentido de uma sucessão temporal linear. E se isso era verdadeiro na 
antiguidade africana, é também nos dias de hoje. 
TEMA 2 – EGITO ANTIGO 
A origem da ocupação humana no vale do Nilo remonta ao ano de 7000 
a.C., vinda da região dos grandes lagos africanos – onde surgiu – e que é 
também o nascedouro do próprio rio Nilo. Assim, hoje não paira qualquer dúvida 
de que as populações que deram origem ao povo egípcio eram negras. O termo 
pelo qual os próprios egípcios se referiam a si era Kmt (Silvério, 2013), que 
significa negro. As representações pictóricas, os exames de osteometria, os 
exames químicos de melanina, os relatos de diversos autores da antiguidade 
grega e romana, entre outras fontes, não deixam qualquer dúvida em relação à 
predominância dos negros na população egípcia. As representações 
 
 
7 
cinematográficas de um Egito governado por faraós brancos não passa de uma 
invenção racista. 
Figura 5 – Deus Anúbis e Hórus em representação original do Antigo Egito 
 
Créditos: Lukiyanova Natalia frenta/Shutterstock. 
Se é verdade que o Egito é uma dádiva do Nilo, também é verdade que é 
uma criação humana, pois foi a engenhosidade do homem que conseguiu 
adaptar o regime de águas do vale por meio de um sistema de irrigação por 
bacias (hods), permitindo grande desenvolvimento da agricultura e produção de 
excedentes capazes de sustentar uma grande população. O trigo e a cevada 
eram os principais produtos, com os quais se faziam os principais alimentos, o 
pão e a cerveja. Mel, vinho, produtos de hortas e pomares, assim como bovinos, 
caprinos e suínos, também compunham a economia agrícola e a alimentação 
popular. 
O crescimento populacional e a complexificação societal também são as 
bases do surgimento da escrita, necessária para organizar a contabilidade e a 
distribuição dos excedentes pelas mãos do Estado. E mesmo o Estado faraônico, 
criado a partir da unificação política promovida por Menés em torno do ano 3000 
a.C., é também fruto da necessidade de manejar os excedentes e organizar a 
hierarquia social dele decorrente. 
Mesmo antes da unificação política egípcia, os primeiros habitantes da 
região adotaram um modo de vida pastoril e agrícola. Passaram dos 
instrumentos de pedra para o uso do metal, aprendendo sobretudo a manipular 
o ouro e o cobre. O rio Nilo, além de essencial para a agricultura, era também a 
 
 
8 
grande “estrada” que permitia a comunicação entre todos os povoados 
ribeirinhos, forjando uma unidade cultural e linguística entre os habitantes das 
suas margens. 
Vejamos agora um pouco de cada um dos períodos da história do Egito 
faraônico: 
2.1 Período Arcaico (3200 a.C. a -2900 a.C.) 
Quando Menés (também chamado de Narmer) opera a unificação entre o 
baixo Egito (a região do delta do rio) com o alto Egito (o longocurso do rio), está 
inaugurada o que chamamos de Egito faraônico e seu período arcaico, iniciado 
pela I dinastia. Este governo inicial ainda luta para consolidar a unidade política 
que só será conquistada de modo estável a partir do Antigo Império. Parte deste 
processo de fortalecimento do poder do faraó passou pela divinização do 
governante, que passa a ser considerado um deus. 
2.2 Antigo Império (2900 a.C. a 2280 a.C.) 
Com o reino plenamente unificado sob o poder divino do faraó, é neste 
período que se realizam guerras contra os núbios ao sul, contra tribos líbias ao 
oeste e mesmo incursões militares à Palestina, no Oriente Médio. Fortaleceu-se 
o comércio com os vizinhos e abundaram as construções. Menfis é a capital. O 
período é encerrado com conflitos sociais e guerra civil que provocam um 
enfraquecimento do poder do faraó. Neste período final do Antigo Império, os 
governantes regionais (nomarcas) passam a organizar a cobrança de impostos 
e uma série de atividades estatais (João, 2015, p. 226). 
2.3 Médio Império (2060 a.C. a 1785 a.C.) 
O período do Médio Império é de paulatino reestabelecimento da 
autoridade, até que a reunificação completa do reino – então dividido pela ação 
dos governadores de províncias – ocorre sob o comando da cidade de Tebas. 
2.4 Segundo Período Intermediário (1780 a.C. a 1580 a.C.) 
 Este período é marcado em sua quase totalidade pelo domínio estrangeiro 
sob o Egito. Os hicsos, procedentes do Oriente Médio, subjugam os governantes 
locais. De sua dominação resultou incorporado ao Egito o uso do cavalo, do carro 
 
 
9 
e da armadura. Amosis é o faraó que conclui a expulsão dos hicsos, chegando 
até a fenícia em sua vitoriosa guerra contra os invasores. 
2.5 Novo Império (1580 a.C. a 1085 a.C.) 
 O Novo Império é um período de retomada do esplendor egípcio e de sua 
centralização estatal. Ainda assim foi um período de relativa rivalidade entre os 
faraós e o clero. Um dos episódios deste conflito é a instituição do culto ao deus 
único Atón, durante o reinado de Amenófis IV (também chamado de Aquenaton), 
como forma de interditar o poder crescente do clero do deus Amon. Esta breve 
experiência monoteísta dura apenas o reinado do próprio Amenófis IV. 
 É deste período também a tentativa de invasão dos Povos do Mar (não se 
sabe ao certo quem são, mas provavelmente europeus vindos da região do mar 
negro ou anatólia). Também combateram contra as cidades sírias e contra os 
hititas. 
 As últimas dinastias deste período viram-se marcadas por disputas pelo 
poder, protestos e rebeliões de trabalhadores, inflação, em especial do preço do 
trigo e novo conflito com os sacerdotes. 
2.6 Terceiro Período Intermediário (1080 a.C. a 730 a.C.) 
 Este período é marcado pela instabilidade política e declínio da 
civilização. Sucedem-se dinastias em um território marcado pela fragmentação 
e pelas ameaças estrangeiras dos assírios e sudaneses. 
2.7 Baixa Época (730 a.C. a 330 a.C.) 
 É marcada por derrotas militares e o domínio dos sudaneses, assírios e 
persas sobre o território egípcio. Nos intervalos entre estas conquistas erguiam-
se instáveis dinastias autóctones até que a macedônia, liderada por Alexandre, 
o Grande, coloca fim a história antiga do Egito com seu domínio sobre o território 
em 332 a.C. 
 Do ponto de vista econômico e produtivo, além da agricultura, que era a 
principal atividade, também eram praticadas a vitrificação, a extração do ouro, a 
produção têxtil e de papel. A posse da terra podia ser estatal, religiosa, ou até 
mesmo de pequenos proprietários. Os empreendimentos econômicos como as 
 
 
10 
grandes construções em geral estavam nas mãos do Estado, que também 
monopolizada o comércio exterior, a mineração e as pedreiras. 
 A religião predominante possuía uma unidade, mas era também composta 
por uma multiplicidade de mitos locais e regionais. No entanto, algumas 
divindades eram relativamente “universais”: “[...] um deus solar [...] Rá; uma 
deusa-consorte, que é o olho de Rá; o deus-filho guerreiro, como Hórus-Anhur; 
um deus morto como Osires” (Silvério, 2013, p. 165). Mas devemos acrescentar 
também o faraó, “Como herdeiro do demiurgo e também um deus (...) era o único 
intermediário por direito entre o mundo humano e o mundo divino” (Frizzo, 2015, 
p. 86). 
 Do ponto de vista das relações do Egito com o restante da África, ainda 
há muito o que se pesquisar. Mas é certo que o Egito exportou sua cultura e 
religião para os reinos limítrofes, com os quais mantinha relações de dominação 
e comércio. 
 Após a invasão Macedônia, uma dinastia chamada Ptolomaica (de 
macedônios) passou a governar o Egito, o que perdurou de 303 a.C. a 30 a.C. A 
integração do Egito, a chamada cultura helenística e a mudança da capital para 
a beira do Mediterrâneo (Alexandria), significou um incremento das trocas 
culturais em especial com os gregos. 
 Com o domínio romano que se seguiu, o Egito viu-se na condição de 
celeiro de Roma, fornecendo grandes quantidades de trigo para a cidade eterna. 
No entanto, a desorganização do império também se refletirá no Egito, com seus 
camponeses cada vez mais espoliados pelos impostos. Outra novidade trazida 
pelo domínio romano foi a penetração cada vez maior do cristianismo no Egito, 
que se torna predominante na medida em que o próprio Império Romano adota 
esta como sua religião oficial. 
TEMA 3 – CARTAGO 
 Na região norte-ocidental da África, às margens do Mediterrâneo, foi 
fundada por colonos fenícios, no ano de 814 a.C., a cidade de Cartago, na região 
conhecida como Magreb. A partir do séc. VI a.C., Cartago passou a ter 
autonomia, exercendo supremacia sobre outras povoações fenícias vizinhas, 
constituindo um império. 
 Do ponto de vista militar, essa expansão sustentou-se inicialmente com 
tropas “cidadãs”, recrutadas entre os próprios habitantes da cidade, e depois 
 
 
11 
com mercenários recrutados em profusão (Silvério, 2013). Seu poder militar era 
sustentado também com uma importante frota de navios de guerra. A expansão 
de seus domínios se deu na África, mas chegou até mesmo às ilhas da Sicília e 
da Sardenha e à Península Ibérica. 
 Cartago era uma cidade essencialmente comercial, e essa atividade 
econômica era controlada pelo Estado. Metais, têxteis, escravos e outros 
produtos compunham uma variada pauta comercial. Por volta do século V a.C., 
Cartago era a cidade mais rica da bacia do Mediterrâneo, e este mar era também 
sua grande via comercial. 
 A organização política cartaginesa estava baseada em uma monarquia 
hereditária relativamente estável, que atingiu seu apogeu nos séculos VI e V 
a.C., quando começa a declinar seu poder diante da aristocracia comercial. 
Segundo Garraffoni (2006), também compunham a organização política o 
Senado, que controlava a justiça e o funcionamento da máquina administrativa, 
e uma assembleia de cidadãos, encarregada de eleger o Senado e os Sufetes, 
espécie de magistratura que convocava e dirigia as reuniões da assembleia 
popular e do Senado. 
A religião acabou reproduzindo as crenças fenícias, com a predominância 
do deus Baal-hamon, que posteriormente passou a dividir o cume do panteão 
cartaginês com a deusa Tanit, de origem nitidamente africana. Existe um vivo 
debate na historiografia sobre a prática de rituais de sacrifício humano infantil na 
religião cartaginesa (Moura, 2014). 
 Usualmente, as guerras entre Cartago e Roma são chamadas de Guerras 
Púnicas. “A palavra púnico é derivada da expressão latina punicus, que significa 
“os habitantes de Cartago’” (Garraffoni, 2006, p. 56) em latim, sendo, portanto, o 
nome romano para essa guerra, e não o africano. De toda forma, foram três os 
conflitos entre as duas cidades, que acabaram resultando na destruição de 
Cartago: 
• primeira guerra – 264 até 241 a.C.; 
• segunda guerra – 218 até 201 a.C.; e 
• terceira guerra – 149 a 146 a.C. 
 A primeira guerra tevelances espetaculares, como batalhas navais 
envolvendo mais de 600 embarcações e a derrota romana em solo africano 
fustigada por tropas que usavam elefantes como arma de guerra. Ao final da 
primeira guerra, Cartago perdeu o controle da Sicília e da Sardenha, mas 
 
 
12 
manteve-se firme no controle do norte da África e de vultuosos trechos da 
Península Ibérica. 
Figura 6 – Elefantes de guerra usados pelos cartagineses 
 
Créditos: Sammy33/Shutterstock. 
 A segunda guerra teve início pela disputa do controle da Península 
Ibérica. Foi nesta guerra que os exércitos cartagineses de Aníbal derrotaram um 
exército romano muito mais numeroso na própria Península Itálica. No entanto, 
ao final da guerra, Cartago perdeu o controle da Península Ibérica e teve que 
firmar um tratado de paz muito oneroso com os romanos. 
 A terceira guerra teve início pelo socorro romano aos númidas, que 
guerreavam contra a cidade de Cartago. Esta permaneceu cercada por dois 
anos, defendida por suas muralhas até o aniquilamento final. 
TEMA 4 – DOMÍNIO ROMANO 
 Abatida a cidade de Cartago (146 a.C.), os romanos estabeleceram um 
domínio mais ou menos duradouro sobre o litoral norte do continente. Se é 
verdade que já estavam presentes antes disso, é também verdade que só o fim 
da concorrência cartaginesa possibilitou o real domínio sobre a região. Esse 
domínio durou até a invasão vândala, entre 429 e 474. 
Os romanos estabeleceram fortificações que distavam mais ou menos 
700 km ao sul da antiga Cartago, passando a controlar as rotas transaarianas 
 
 
13 
que existiam pelas bordas do deserto, por onde passavam ouro, escravos, 
plumas, esmeraldas, animais e outras mercadorias vindas desde a Guiné, para 
onde iam vinho, têxteis, cerâmicas e objetos de vidro vindos dos domínios 
romanos. 
 O norte africano passou a funcionar como um grande celeiro romano, que 
levava sua produção de trigo e outros cereais como impostos cobrados dos 
povos dominados. A principal atividade econômica da região seguia sendo a 
agricultura. 
 A romanização das populações locais significou a influência de cultura, 
língua e religião latina junto aos povos da região. No entanto, o que se percebe 
é mistura, junção e adaptação entre a cultura local e romana. Na religião, por 
exemplo, passou a prosperar o culto de Saturno, na verdade uma continuação 
do culto ao deus Ball-Hamon cartaginês, assim como o culto a Cereres romana, 
a deusa da agricultura, era a continuação do culto a Tinit. 
Figura 7 – Teatro romano em Leptis Magna, atual Líbia 
 
Crédito: lapas77/Shutterstock 
A reforma e a construção de cidades no norte da África atestavam o lugar 
cada vez mais importante das províncias locais para Roma. Leptis Magna, por 
exemplo, foi se constituindo numa pequena Roma no norte da África, adaptando 
ao seu terreno e à destreza de seus artífices os cânones que chegavam da 
capital imperial, na busca de se fazer notar aos olhos dos poderosos (Gonçalves, 
2010). 
A estrutura social viu-se modificada na região. Os decuriões, a classe 
média urbana que governava as cidades, passou a ser suplantada pelos 
 
 
14 
principales ou primates, donos de terras (Silvério, 2013). Com o enfraquecimento 
do poder estatal a partir do século IV, os dominus, cada vez mais independentes 
em suas terras, passaram a administrar a justiça em suas possessões. Com a 
dominação romana, veio também para o norte da África o cristianismo. 
TEMA 5 – NÚBIA E ETIÓPIA 
 Tomamos como Núbia um território que se estende da atual Etiópia até o 
sul do atual Egito, majoritariamente no que hoje é o Sudão, cujo rasgo central é 
o curso do alto rio Nilo. Trata-se, portanto, de uma população nilótica, mas que 
por volta de 3000 a.C. apresentava características claramente diferentes das dos 
egípcios (Silvério, 2013). 
 De pastores seminômades por volta de 3000 a.C., os núbios 
desenvolveram a cerâmica e a criação de gado, formando, a partir de 2300 a.C., 
reinos próprios, mas que mantinham entre si uma identidade cultural. A Núbia 
caracterizou-se também como elo entre o Egito e o centro africano, sendo o 
corredor por onde passavam incenso, madeira, marfim e outros produtos 
desejados pelo Norte. 
 Desses reinos, merece destaque o de Kush, que chegou a dominar todo 
o curso do Nilo por volta de 713 a.C. Adotando a religião e os hábitos egípcios, 
seus governantes designavam-se sucessores dos faraós. Tendo tido início na 
cidade de Kerma, após ser expulso do Egito, o império Kush teve como capital 
a cidade de Napata e posteriormente Meroé, ainda mais ao sul. 
Figura 8 – Pirâmides de Meroé 
 
 
 
15 
Créditos: evenfh/Shutterstock. 
Manteve-se importante economicamente como produtora de madeira e 
ferro, bem como controlando as rotas comerciais entre o Mar Vermelho, o Vale 
do Nilo e a savana. 
Mesmo sofrendo uma profunda influência cultural egípcia, o império Kush 
desenvolveu traços característicos, a exemplo de uma escrita chamada 
meroítica. De difícil datação, é possível arriscar que os marcos inicial e final de 
Kush são 800 a.C. a 330 d.C., em que se possa falar em uma cultura de Kerma 
e seu correspondente domínio político sobre seu entorno desde 2000 a.C. 
Eram grandes as relações da cidade de Kerma com os governantes do 
Egito, em especial durante a ocupação dos hicsos sobre este. Com a expulsão 
dos hicsos do Egito, este reino voltou-se para o domínio da Núbia, o que foi 
completado por Amosis (XVIII dinastia) e posteriormente ampliado por Tutmósis 
I (1530 a.C. a 1520 a.C.), que conquistou o sul do atual Sudão, dando fim à 
independência de Kush naquele momento (Silvério, 2013). 
A estrutura social do império Kush, em especial em sua fase meroítica, 
comportava o rei e sua família no topo e uma larga franja de escravos na base, 
fruto de apreensões guerreiras. Do ponto de vista religioso, era muito clara a 
influência da religião egípcia, mesmo que houvesse alguns deuses locais no 
panteão das divindades. 
Após o colapso do império Kush, outros reinos se formaram na Núbia: 
Nobadia, ao norte, Makuria, no centro, e Alodia, ao sul. Buscando relações com 
o Egito, trouxeram deste reino a religião cristã, já instalada por lá, que converteu 
primeiro os governantes, que com isso esperavam melhores relações com o 
próprio Egito, mas também com Bizâncio, a potência mediterrânea da época. 
Com o passar dos anos, o cristianismo tornou-se a religião predominante na 
Núbia. 
As principais fontes para o estudo de sua história são estelas encontradas 
nas diversas capitais que possuiu, bem como relatos egípcios e gregos. 
Outra região de grande importância para a compreensão da história 
africana é a Etiópia, vizinha da Núbia e que se identifica, mais ou menos, com o 
país de mesmo nome atualmente, acrescida da Eritreia. Neste espaço, temos 
uma primeira época (séc. V e IV a.C.) de intercâmbio com a vizinha Península 
Arábica, em especial o Sul dela, onde ficava o Reino de Sabá. O porto de Adulis, 
fundado pelos Egípcios na costa do Mar Vermelho, é a grande ponte para os 
 
 
16 
intercâmbios da região. Já o segundo período é de maior autonomia cultural da 
região, que se mantém basicamente com a agricultura e o pastoreio, mas 
começa a praticar a produção metalúrgica, de vidro e de uma refinada cerâmica. 
Este é o caldo cultural que verá surgir, um pouco mais tarde, a civilização de 
Axum, que trataremos futuramente. 
NA PRÁTICA 
 Para aprofundar seus conhecimentos sobre os conteúdos abordados 
nesta aula, sugerimos a leitura, mais uma vez, da obra História Geral da África 
(Silvério, 2013), em especial o primeiro volume, que aborda da Pré-História até 
o século XVI. O material está disponível em vários lugares da internet, inclusive 
na página da Unesco Brasil, responsável pela edição, junto com a Universidade 
Federal de São Carlos e o Ministério da Educação. 
 Para o estudo geral do continente, inclusive da Antiguidade, uma 
excelentecoleção de mapas está disponível em um projeto da Universidade de 
Harvard, bastando digitar em um site de buscas “harvard world map”. É possível 
encontrar nesse repositório diversos mapas temáticos do continente. 
 Para o estudo específico do Egito, no Brasil é possível consultar alguns 
acervos online no site do Museu Nacional e é possível realizar uma visita virtual 
e presencial ao Museu Egípcio Tutankhamon em Curitiba, que é uma das 
instalações mais interessantes em território nacional. 
 Sobre Cartago, o filme italiano Cabiria (Pastrone, 1914) é uma mostra do 
orgulhoso e nacionalista cinema mudo italiano e pode ser visto tanto como uma 
fonte para o estudo deste período da história da Itália quanto como subsídio para 
uma crítica de como os italianos apresentavam o conflito com a cidade de 
Cartago na Antiguidade. O filme, de domínio público, pode ser encontrado nas 
maiores plataformas de compartilhamento de vídeos. 
 Outro clássico do cinema, agora inglês, é César e Cleópatra (Pascal, 
1945), que reproduz uma série de preconceitos e informações equivocadas 
sobre o domínio romano sobre o Egito, mas é um exercício interessante o seu 
uso para discutir justamente os estereótipos que apresenta, já que se trata de 
um filme clássico e ganhador de vários prêmios. A obra está disponível em vários 
endereços na internet, assim como nas maiores plataformas de 
compartilhamento de vídeos. 
 
 
17 
FINALIZANDO 
Para o professor de História que vai abordar a história do continente em 
sala de aula, com base em uma abordagem “interna” da história da África, uma 
primeira conclusão se impõe: é preciso abrir mão de tratar os povos da África 
como os africanos. É preciso ressaltar suas diferenças linguísticas, étnicas, 
culturais, de organização política e social. 
 As trajetórias históricas dos diversos povos do continente são múltiplas, e 
reconhecer isso é reconhecer a própria existência de uma história africana. Reis, 
impérios, exércitos e religiões complexas conviveram com organizações 
nômades e pastoris, e o estudo da antiguidade do continente deixa isso claro. 
 Em relação aos povos que estudamos nesta aula, que foram escolhidos 
por serem representativos de arranjos societais e estatais complexos da 
antiguidade africana, precisamos ter a dimensão da importância do Egito Antigo 
não só para a África como para a região vizinha, do Oriente Médio, e para largas 
porções do entorno do Mediterrâneo. Império criativo e original, gerador de uma 
religião complexa e estruturada, ao lado de uma arquitetura colossal e de uma 
escrita única, o Egito foi capaz de organizar sua sociedade e seu poder político 
para fazer frente aos desafios da natureza, apoiando-se no gigantesco rio Nilo 
para extrair uma significativa produção agrícola, que pôde inserir o reino também 
no mundo do comércio e das disputas militares com seus vizinhos e mesmo com 
povos mais distantes. 
 Com trajetória parecida, ainda que menos duradouras no tempo, o império 
Kush transportou para o coração da África ricas organizações estatais, baseadas 
na hegemonia de uma cidade, que também foi capaz de organizar uma rica 
civilização agrícola e comercial, a qual deixou um legado arquitetônico também 
impressionante. 
Não existe motivo para que os currículos escolares não abordem essas 
civilizações e contemplem exclusivamente o Egito. A única explicação para a 
ausência desses povos dos currículos é que a civilização egípcia foi muito mais 
visível para os povos europeus, o que fez uma história eurocêntrica abrir brecha 
apenas para o ensino acerca do Egito, ignorando outros povos que para o 
contexto africano são tão relevantes quanto os egípcios, em vários aspectos. 
Não nos esqueçamos que os núbios chegaram a dominar o Egito. 
 
 
18 
Já no que se refere a Cartago, não é difícil encontrá-la nos livros de 
história, como a antagonista de uma Roma em processo de afirmação de sua 
hegemonia sobre o mediterrâneo. E temos assim mais uma abordagem 
eurocêntrica, que se recusa a enxergar a singularidade da história cartaginesa, 
possível de ser estudada independentemente de suas disputas com Roma, o 
que se constitui apenas no momento final de sua trajetória independente. 
Por fim, essa história da África vista por dentro do próprio continente não 
é uma história isolada, por isso é necessário reconhecer o lugar e a importância 
do período de dominação romana no norte do continente. 
Este é o cenário, ainda que parcial, do continente africano na Antiguidade. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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egípcia. Hélade, v. 1, p. 84-105, 2015. 
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São Paulo: Contexto, 2006. 
GONÇALVES, A. T. Uma pequena Roma no norte da África: uma análise de 
Leptis Magna. In: CORNELLI, G. Representações da Cidade Antiga. 
Categorias Históricas e Discursos Filosóficos. Coimbra: Centro de Estudos 
Clássicos e Humanísticos & Classica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis, 
2010. 
JOÃO, M. T. Estado e elites locais no Egito no final do III milênio A.C. 282 f. 
Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. 
MOURA, F. N. Sacrifícios humanos em Cartago: um diálogo com a historiografia 
contemporânea. NEARCO – Revista Eletrônica de Antiguidade, ano VII, n. I, p. 
143-159, 2014. Disponível em: <http://www.neauerj.com/nearco-
antiga/arquivos/numero13/8.pdf>. Acesso em: 16 set. 2021. 
SILVA, É. C. Os impérios africanos do Mundo Antigo: Kush e Axum. In: 
CAMPOS, A. P. O espelho negro de uma nação: a África e sua importância na 
formação do Brasil. Vitória: EDUFES, 2019. 
SILVÉRIO, V. R. Síntese da Coleção História Geral da África: Pré-história ao 
século XVI. Brasília: Unesco, Ministério da Educação, UFSCAR, 2013.

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