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Epilepsia é uma doença caraterizada pela ocorrência de manifestações paroxísticas chamadas crises epilépticas. As crises epilépticas são a manifestação clínica de uma atividade elétrica anormal do córtex cerebral. É possível que ocorra uma crise epiléptica em um individuo sem que ele tenha ou venha a desenvolver epilepsia. No entanto, todas as pessoas com epilepsia já apresentaram pelo menos uma crise epiléptica. Convulsão manifestação motora, que pode ou não ser decorrente de uma crise epiléptica. Crises Epilépticas É um fenômeno autolimitado, ocorre por causa de uma descarga elétrica anormal, excessiva e que atinge, de forma síncrona, determinados neurônios do córtex cerebral, gerando diferentes manifestações clínicas, conforme as áreas comprometidas. Entre as crises, o paciente volta ao seu estado normal. Maioria das vezes a crise é menor que 2 minutos. ▪ Ictal: o que ocorre durante a crise. ▪ Pós-ictal: aquele que vem imediatamente após a crise ▪ Interictal: espaço de tempo entre duas crises epilépticas sucessivas Durante o período ictal, como ocorre aumento da descarga de neurônios corticais, não se espera encontrar déficits neurológicos (perda da função) na maioria das crises epilépticas. Quando a crise APG – 13: EPLEPSIA gera uma contração isométrica, surgem certas posturas anormais pela contração simultânea de agonistas e antagonistas (postura distônicas). Contrações não são consideradas déficits. No período pós-ictal o paciente pode apresentar determinados déficits neurológicos logo após uma crise epiléptica. Neurônios gastam energia excessiva durante a crise e, até que a reponham adequadamente, sua atividade elétrica poderá estar comprometida, gerando um déficit clinicamente detectável. Epilepsia Condição cerebral persistente, capaz de dar origem a crises epilépticas de forma espontânea. Predisposição cerebral deve ser duradoura, diferenciando-a de condições transitórias. Em certos tipos especiais de epilepsias, podem surgir crises desencadeadas por estímulo luminoso (epilepsia reflexa). 3 maneiras de considerar um paciente epiléptico: ▪ Se o paciente apresentou 2 crises epiléticas em intervalo maior do que 24 horas, o risco de recorrência de crises é maior que 60%, por isso já é considerado epiléptico. ▪ Quando o risco de recorrência de uma crise nos próximos 10 anos for maior ou igual a 60%, podemos considerar o paciente epiléptico já após a primeira crise. ▪ Síndrome epiléptica: conjunto de sinais e sintomas decorrentes de várias etiologias possíveis, que também favorecem a recorrência de crises epilépticas, por exemplo a epilepsia de ausência da infância. Em outras palavras, na epilepsia o cérebro é cronicamente vulnerável ao surgimento de crises epilépticas. Essas podem até ser desencadeadas por um agente, mas com maior facilidade do que em paciente não epiléptico. O conceito deve englobar as consequências biológicas, psicológicas, sociais e cognitivas associadas a ela. Convulsão Durante a crise epiléptica, o aumento da atividade elétrica cerebral pode ser detectado por meio do exame de encefalograma (EEG). Quando o paciente apresenta um quadro paroxístico e autolimitado de manifestações motoras positivas, dizemos que ele apresentou uma crise convulsiva. ATENÇÃO: a convulsão não ocorre exclusivamente devido a uma crise epiléptica, podendo ser vistas em sincopes, AIT ou quadros psicogênicos. Nessas situações, manifestações motoras não serão acompanhadas de alterações simultâneas ao EEG e serão classificadas como convulsões não epilépticas. Diagnóstico diferenciais de perda transitória da consciência Duas principais causas são: crises epilépticas e as síncopes. ▪ Na síncope, ocorre um hipofluxo sanguíneo global, incluindo essas áreas, e a consciência é perdida transitoriamente. ▪ Na crise epiléptica, a atividade elétrica anormal temporária do córtex é que explica o transtorno de consciência. A recuperação da consciência é rápida e instantânea na síncope e lentamente progressiva, acompanhada de confusão quando é causada por crise epiléptica. Crise única e crise provocada Quando o paciente apresenta a 1° crise epiléptica, podemos ter 3 opções: ▪ Primeira crise de um quadro de epilepsia ▪ Crise epiléptica provocada ▪ Crise única isolada A crise epiléptica pode ser a manifestação de uma agressão ao SNC. Ao apresentar o primeiro episódio de crise, devemos investigá-lo à procura de uma causa que precise de tratamento. Caso positiva, trata-se de crise provocada e quando associadas a lesões anatômicas devem ser chamadas de crises sintomáticas agudas segundo alguns autores. As convulsões febris ocorrem em crianças até 5 anos de idade, geralmente nos primeiros dois anos de vida. Classificação das crises epilépticas Em 2017, a liga internacional contra a epilepsia classificou a epilepsia em 4 tipos: ▪ Início focal ▪ Início generalizado ▪ Início desconhecido ▪ Não classificáveis Crises de início focal São aquelas que ocorrem pela atividade elétrica anormal em um único hemisfério. Dependendo da região do córtex acometida, o paciente apresentará manifestações especificas. As crises de início focal disperceptivas são aquelas em que há algum grau de comprometimento da consciência. Quando a consciência está preservada, a crise é chamada de perceptiva. a. Crises do lobo temporal: mais comuns, 70% das crises. Nas perceptivas, o paciente pode apresentar sensação de cheiro ruim e ainda sintomas de dejà-vu e jamais vu. Nas disperceptivas são quase sempre decorrentes do comprometimento do lobo temporal. Quadro clínico é caracterizado por perda de contato com o meio, olhar fixo, automatismos orais e manuais e postura distônica do membro superior contralateral ao hemisfério comprometido. b. Lobo frontal: manifestações motoras são as mais frequentes. Abalos musculares contralaterais, movimentos proximais dos membros bilaterais e a desvio da cabeça e/ou dos olhos para o lado contralateral. Após a crise motora, alguns pacientes exibirão, no período pós-ictal, um quadro de hemiparesia que poderá duras horas: Paralisia de Todd. c. Originadas em outros locais: nas ínsulas, as crises podem caracterizar-se pela clássica sensação de mal-estar epigástrico ascendente. Occipitais: paciente irá relatar que percebe imagens que não existem na realidade. Podem ser luzes piscantes ou fixas brancas ou coloridas, objetos inespecíficos coloridos e brilhantes ou distorções visuais. Parietais: podem relatar parestesias no hemicorpo contralateral quando houver acometimento da área somatossensitiva primária (giro pós-central). Crises de início generalizado Envolvem os dois hemisférios simultaneamente desde o início do evento, podem ser motoras e não motoras. Mais característica é a tônico-clônica generalizada Crises de início generalizado motora Denominadas de acordo com a fenomenologia dos achados clínicos que ocorrem durante a crise. Mioclônicas: abalos musculares breves e arrítmicos Atônicas: perda de tônus, geralmente acompanhada por queda Espasmo: contração de músculos do tórax e abdômen Tônico-clônica: paciente perde a consciência e apresenta uma fase tônica que se sucede após alguns segundo por outra, clônica. Durante a fase clônica, o paciente pode apresentar um espasmo laríngeo que gera um ruído característico: grito epiléptico. ▪ Rubor e cianose, além de mordedura de língua e liberação esfincteriana. Forma mais comum de crise em pacientes com distúrbios metabólicos. Nas mioclônicas, a duração das descargas epilépticas é tão curta que a consciência se encontra preservada. Portanto, o que diferencia umacrise de início focal de uma de início generalizado é o local de aparecimento de descargas elétricas anormal, e não o que ocorre com a consciência. Crises de ausência Decorrentes do surgimento de descargas elétricas anormais e síncronas bilaterais simultâneas nos hemisférios cerebrais, sem que haja comprometimento motor significativo. Por isso, também podem ser chamadas de não motoras. São quase que exclusivas de crianças e adolescentes, sendo extremamente rara em adultos. Caracteriza-se por uma ruptura abrupta de contato com o meio, com o paciente permanecendo de olhos abertos, eventualmente apresentando piscamento, desvio ocular para cima e alguns automatismos orais. Duração de 5-30 segundos e o retorno da consciência é imediato, sem confusão. Pode ser desencadeada por hiperventilação. Exames Complementares • Estabelecer a etiologia e realizar o acompanhamento terapêutico. Eletroencefalograma A atividade do córtex cerebral pode ser registrada graficamente por meio do eletroencefalograma (EEG). Durante uma crise epiléptica, essas ondas costumam apresentar aumento de sua amplitude em decorrência do aumento da atividade elétrico cortical ou ainda pela sincronização das atividades de circuitos neuronais. As principais alterações são: Crises de ausência típica Epilepsia benigna da infância Síndrome de Lennox-Gastaut Síndrome de West Epilepsia idiopática occipital fotossensível Epilepsia mioclônicas juvenil Neuroimagem Tomografia é baseada na emissão de raios X e tem boa acurácia para ver áreas de calcificações, hemorragias, neuroinfecções, hidrocefalia e sequelas de insultos vasculares isquêmicos. A ressonância magnética é capaz de detectar alterações mais sutis, não percebidas pela tomografia, incluindo esclerose de hipocampo e displasias corticais. Classificação das epilepsias Epilepsia sintomática é aquela em que a neuroimagem mostra alteração anatômica. Quando exames neurológicos e neuroimagem vinham sem alterações, chamava-se de idiopática. Se o exame de imagem viesse normal e a história e/ou exame neurológico sugestivos de causas estruturais, chamava-se criptogênica. A classificação atual é baseada no ILAE que estabelece 3 níveis de diagnóstico: 1. Determinação do tipo de crise epiléptica: início focal, generalizado ou desconhecido; 2. Tipo de epilepsia, baseando-se no tipo de crise: focal, generalizada, focal e generalizada combinadas ou desconhecida 3. Caracterização da síndrome epiléptica: conjunto de características clínicas, eletroencefalográficas, imagenológicas e etiológicas. • Estrutural, genética, infecciosa, metabólica, imune e desconhecida. Criança com crises de ausência será classificada como portadora de uma epilepsia generalizada genética. Tratamento medicamentoso Fármacos antiepiléticos tem como mecanismo de ação: • Potencialização da ação do GABA • Inibição da função dos canais de sódio • Inibição da função dos canais de cálcio Podem ser classificados também em indutores e inibidores, sendo: • Indutoras: diminuem o nível sérico de outros fármacos, quando em associação. Exemplo: carbamazepina, oxcarbazepina • Inibidoras: aquelas que quando associadas a outras, aumentam os níveis sérico de ambas, como valproato de sódio. O ácido valproico deve ser evitado em mulheres de idade fértil, pois pode ter eficácia reduzida quando associado ao ACO. Maior risco de teratogênese e aumenta 10-20 vezes mais o risco de desenvolver espinha bífida e mielomeningocele. Escolha do fármaco Devemos iniciar o tratamento em monoterapia. As drogas de 1° escolha para as crises de início focal são a carbamazepina e a lamotrigina. As crises de início generalizado devem ser tratadas com ácido valproico ou lamotrigina. Em idosos, as drogas de escolha para o tratamento de epilepsia são a lamotrigina e a gabapentina. • Vigabatrina: droga de escolha nas síndromes de West e Lennoz-Gastaut. • Etossuximida: é uma medicação cuja única indicação é nas crises de ausência da infância. Drogas com mecanismo de indução enzimática não devem ser associadas entre si, pois reduz o nível sérico da outra. Sempre que houver uma associação entre duas medicações em uma alternativa de qualquer questão sobre epilepsia, considere-a como uma escolha ruim para o tratamento. Epilepsia e gestação Crises epilépticas e os efeitos colaterais dos medicamentos usados para o tratamento das epilepsias podem trazer prejuízos ao desenvolvimento do concepto. Um dos maiores problemas é o defeito do fechamento do tubo neural, que pode ocorrer em pacientes com deficiência de ácido fólico, a qual pode ser induzida ou agravada pelo uso de anticonvulsivantes. Tratamento antiepilético profilático Uma crise sintomática aguda (ocorrendo na primeira semana após a lesão cerebral) é uma crise com menor risco de evoluir para epilepsia do que uma sintomática remota. Caso o paciente apresente uma crise durante quadro agudo grave (risco de crises prolongadas ou piora do quadro de base), pode-se indicar o tratamento medicamentoso As opções são fenitoína ou levetiracetam por 12 semanas, monitorizando o paciente após isso e realizando EEG e ressonância magnética para avaliar o risco de recorrência das crises Pacientes com traumatismo cranioencefálico (TCE) grave (Glasgow 3-8 pontos), o uso profilático de FAE está indicado mesmo na ausência de crises. Síndromes epiléticas Encefalopatias epiléticas são quadro de encefalopatias crônicas progressivas. Síndromes eletroclínicas são quadros em que sinais, sintomas, achados eletroencefalográficos, de neuroimagem e evolução prognóstica estão bem estabelecidos. Doenças com comportamento heterogêneo não podem ser chamadas de síndromes eletroclínica. Síndrome de West Caracterizada por crises de contração do tronco (espasmos) em salvas, atraso no DNPM, com início no primeiro ano de vida e evolução desfavorável. O EEG revela hipsarritmia, onde não há um único foco disparando descargas epileptiformes, mas múltiplos focos que disparam caoticamente. Na neuroimagem se tem áreas sugestivas de disgenesia, desordem de migração neuronal ou da mielinização. O tratamento é com Vigabatrina e ACTH. Topiramato é uma opção. Epilepsias generalizadas idiopáticas São um grupo de provável caráter genético em que o paciente apresenta crises generalizadas, exame neurológico e de neuroimagem normais e bom prognóstico. Epilepsia de ausência na infância Cursa com crises a partir da idade de 6-7 anos. Pode durar de 5 a 30 segundos. Durante a crise, a criança fica com os olhos abertos, não perde o tônus, fica arresponsiva e pode ter mioclonias palpebrais. Ao término da crise, há recuperação rápida da consciência sem confusão. Tipicamente, o EEG revela descargas generalizadas, síncronas, 3 Hz de padrão ponta-onda. • Neuroimagem é normal • Tratamento pode ser realizado com ácido valproico ou etossuximida • Prognóstico é excelente, com remissão na adolescência Epilepsia mioclônica juvenil São muito mais comuns no período matinal e podem se desencadeadas por consumo de álcool, fotoestimulação e privação de sono. O eletroencefalograma revela descargas generalizadas síncronas de 4,5Hz e o exame de neuroimagem é dispensável, pois costuma ser normal. Epilepsias do lobo temporal É considerada uma epilepsia de difícil controle medicamentoso, quando são necessárias três ou mais drogas, em dose máxima de duas delas, para que se estabeleça uma redução de pelo menos 50% do número basal de crises do indivíduo. • Forma mais comum em adultos • Idosos (>65) a causa mais comum são as sequelas de AVC A história natural começa com um quadro de crises febris complicadas na infância. Depoisda latência, que pode durar anos, o paciente passa a apresentar crises de início focal perceptivas ou disperceptivas, eventualmente evoluindo para crises tônico- clônicas bilaterais. Exame neurológico normal. Tratamento medicamentoso: 2 ou mais drogas normalmente • Carbamazepina, lamotrigina e clobazam Estado de mal epilético Crise com duração igual ou superior a 5 minutos; 2 ou mais crises sem a recuperação da consciência entre elas. Cerca de 99% duram até 2 minutos. Existem mecanismos protetores intracelulares capazes de interromper o processo de hiperatividade neuronal, evitando assim que ocorra lesão e morte de neurônios. Em certas situações esses mecanismos falham e a crise epiléptica acaba prologando-se. É considerado uma emergência neurológica porque pode evoluir com várias clínicas graves. A partir de 30 minutos de atividade epiléptica contínua, existe uma alta probabilidade de ocorrer lesão neuronal. Tratamento inicial Deve ser submetido a um rápido exame neurológico para avaliação do tipo de estado de mal epilético ▪ 1°: suporte inicial ▪ 2°: tratamento farmacológico inicial ▪ 3°: drogas para profilaxia de recorrência O primeiro passo, no entanto, é o suporte avançado de vida (ABC): • Avaliação respiratória • Avaliação circulatória • Saturação de oxigênio • Acesso venoso periférico • Monitor cardíaco e de PA • Colher exames: cálcio, fosforo, magnésio, sódio, potássio, glicose, função hepática, hemograma, toxicológico, nível sérico de fármacos antiepilépticos. Tratamento específico Em caso de falha da hidantalização, as opções são o fenobarbital, a lacosamida EEV e o topiramato via sonsa nasoenteral. Sedação contínua Última linha de tratamento, quando não houver resposta satisfatória com as medicações até aqui mencionadas, é a sedação contínua. O estado de mal epiléptico que necessita de sedação contínua é considerado refratário, acomete 20% dos pacientes e possui mortalidade de 48%. As opções para a sedação contínua são: Midazolam: 0,2 mg/kg em bolus (2 mg/min) e 0,1 mg/kg/h; Propofol: 1-2 mg/kg em 5 min e 10-12 mg/kg/h; Tiopental: 5 mg/kg em 10 min e 1-5 mg/kg/h.
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