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P U B L I C A D O P O R C L U B E D E X A D R E Z O N L I N E MÉTODO DOS 6 PILARES 12 PARTIDAS BRILHANTES M N G É R S O N P E R E S P R O F A . D R A . N A B Y L L A F I O R I O S G Ê N I O S D O X A D R E Z E S U A S O B R A S - P R I M A S A ARTE EM ESTADO DE PURA BELEZA " O S J O G A D O R E S M O R R E M , O S T O R N E I O S S Ã O E S Q U E C I D O S , M A S A S O B R A S D O S G R A N D E S A R T I S T A S D O T A B U L E I R O F I C A M P A R A A P O S T E R I D A D E , T O R N A N D O E T E R N A A M E M Ó R I A D O S S E U S C R I A D O R E S " - T A L Apresentação Partida 1 Capablanca, J. x Lasker, E. Partida 2 Saemisch, F. x Nimzowitsch, A. Partida 3 Botvinnik, M. x Alekhine, A. Partida 4 Botvinnik, M. x Smyslov, V. Partida 5 Byrne, D. x Fischer, R. Partida 6 Tal, M. x Larsen, B. 06 07 20 36 46 57 66 ÍN DI CE Partida 7 Petrosian, T. x Fischer, R. Partida 8 Miles, A. x Korchnoi, V. Partida 9 Karpov, A. x Topalov, V. Partida 10 Kasparov, G. x Kramnik, V. Partida 11 Anand, V. x Lautier, J. Partida 12 Karjakin, S. x Carlsen, M. Referência Bibliográfica 76 96 107 115 125 140 156 ÍN DI CE Equipe Editorial Créditos das Imagens Autores Conecte-se com o CXOL Realização 158 158 159 162 164 ÍN DI CE Apresentação A estética é a filosofia da arte, o belo em sua forma mais natural. Além desta ligação estreita com a beleza em si, a estética também provoca sentimentos elevados e de plenitude. Reunimos aqui 12 partidas que têm este elemento estético de arte e beleza, que nos deixam encantados das múltiplas possibilidades do xadrez nos processos criativos da mente. Os jogos ilustram algumas das figuras mais destacadas do mundo das 64 casas do tabuleiro, jogadores consagrados na história do xadrez dos últimos 100 anos. O quão longe uma pessoa pode elevar a sua mente? Difícil saber. Mas, as obras-primas destes gênios do xadrez selecionadas aqui neste livro digital mostram em alguma medida estas potencialidades da mente e quão grande é o ser humano quando decide usar sua inteligência com sabedoria! Fique agora com o xadrez em seu estado puro, da beleza artística associada ao profundo conhecimento científico das leis que governam as posições no tabuleiro. Vamos em frente rumo à excelência! Os autores. 6 Partida 1 Jose Raul Capablanca - Emanuel Lasker [D64] Havana – Cuba, 1921 7 1.d4 d5 2.Cf3 e6 3.c4 Cf6 4.Bg5 Cbd7 5.e3 Be7 6.Cc3 0–0 7.Tc1 Te8 8.Dc2 c6 Ambos os lados jogam sem riscos. As pretas tomarão em c4 apenas quando as brancas moverem seu bispo de casas claras. 9.Bd3 Capablanca se recusa a continuar na espera e decide perder o tempo. Na partida C.Lakdawala-J.Booth, San Diego 1981, as brancas jogaram 9.a3 Cf8 10.h3 e as pretas, cansadas de esperar o lance com o bispo de f1, tomaram em c4. 10. . .dxc4 (As pretas poderiam ter esperado ainda com 10. . .b6; ou 10. . .Cg6). 9.. .dxc4 10.Bxc4 Cd5 O mecanismo de troca padrão para al iviar a tensão. Na partida Rubinstein-Capablanca (1914), o ex- campeão mundial cubano quase não sobreviveu ao estrategicamente suspeito 10. . .b5?! 8 11.Bxe7 Txe7!? Tecnicamente, esta é uma péssima jogada. Kasparov avaliou a ação de Lasker com "?!" mas é importante lembrar que Lasker, precisando da vitória, instigou Capablanca com movimentos deliberadamente imprecisos. Muito provavelmente Lasker estava ciente de que sua atitude era duvidosa, mas não estava interessado em jogar pelo empate com o padrão 11.. .Dxe7 com a ideia de . . .e5. 12.0–0 Cf8!? A mesma fi losofia. Mais uma vez, para entrar num jogo tranquilo, poderia ter feito 12. . .Cxc3 seguido por. . .b6. 9 13.Tfd1 Bd7 14.e4 Cb6?! Lasker estava indo longe demais em sua estratégia de complicar a todo custo. Ele quebrou o princípio: troque quando estiver com pouco espaço. Portanto, ele deveria ter trocado em c3. 15.Bf1 Tc8 As pretas planejam o l ibertador . . .c5 para confrontar a vantagem de espaço das brancas. 16.b4! Be8 Lasker põe suas peças na primeira f i la, talvez na esperança de colocar Capablanca em uma posição de excessiva confiança no seu potencial espacial . 10 Mas ao fazer isso, perde cada vez mais espaço. Essa foi , na verdade, uma das piores estratégias contra Capablanca, que era genial em conquistar território. 17.Db3 Tec7 18.a4 Ganhando mais espaço. 18.. .Cg6 19.a5 E mais espaço. 19.. .Cd7 20.e5 E mais espaço! A casa d6 acena para o cavalo. 20.. .b6 21.Ce4 Com vistas a dif icultar a l iberação da posição com a ruptura . . .c5, bem como a entrada em d6 com o cavalo. 21.. .Tb8 22.Dc3 Cf4 23.Cd6 Cd5 24.Da3 f6!? 11 Levenfish e Panov sugerem 24. . .De7 e só então . . . f6, a f im de proteger o peão de e6. 25.Cxe8! Antes que o bispo das pretas saia para h5. 25.. .Dxe8 26.exf6 gxf6! A recuperação do peão parece correta, pois e5 deve ser mantido sob controle. As pretas estariam ainda pior depois de 26. . .C7xf6 por 27.Ce5. 27.b5! As brancas estão tentando trocar todos os seus peões da ala da dama. 12 Capablanca escreveu: "Depois que esses dois peões são trocados, as brancas podem dedicar toda a sua atenção ao ataque contra o rei sem ter com o que se preocupar do outro lado". 27.. .Tbc8! Não 27. . .c5?! por 28.dxc5 Cxc5 29.axb6 axb6 30.Cd4 quando o peão de b5 das brancas bloqueia as pretas e faz com que a infi ltração em c6 seja motivo de preocupação. 28.bxc6 Txc6 29.Txc6 Txc6 30.axb6 axb6 As brancas tinham anteriormente a seu favor uma enorme vantagem de espaço, que não se vê mais. 13 Ele trocou sua vantagem espacial por outras vantagens: 1) As brancas têm vários alvos nos peões para escolher em b6, e6, f6 e h7; 2) O peão isolado das brancas em d4 não é problema e cobre as principais casas c5 e e5; 3) O bispo das brancas cobre as casas claras; 4) O rei das pretas está l igeiramente exposto. Conclusão: Vantagem das brancas. 31.Te1 Dc8 32.Cd2! O instinto de Capablanca diz que seu cavalo de f3, apesar de vistoso, na verdade não faz muita coisa. Ele sai em busca de alvos no campo das pretas. 32.. .Cf8 Lasker sugere 32. . .Tc3! 33.Da1 Cf8 34.Ce4 Tc7 como uma defesa mais consistente para as pretas. 33.Ce4 Dd8 34.h4! 14 Além de iniciar uma investida na direção do rei das pretas, as brancas impedem.. .f5, que seria respondido com Cg5. 34.. .Tc7 35.Db3 Tg7 36.g3 Ta7 37.Bc4! As forças das brancas mantêm uma distância discreta do rei das pretas, mas sonham em derrubar o muro de Lasker. As peças menores brancas são superiores aos cavalos pretos. 37.. .Ta5 Aumenta a pressão. Se as pretas ignorassem a ameaça, seguiria 37. . .Tc7?? 38.Bxd5 exd5 39.Dxd5+! 15 38.Cc3! Quebrando o bloqueio! 38.. .Cxc3 39.Dxc3 Agora o bispo das brancas domina o cavalo adversário. 39.. .Rf7 40.De3! Alvo é e6. 40.. .Dd6 41.De4 41.d5! e5 42.h5 também seria possível . 16 41.. .Ta4? "Suicídio!" escreve Lasker, que deveria ter jogado sua torre para a7 para impedir o próximo movimento das brancas. Lasker faz esse movimento descuidado, quase como uma reflexão tardia desconexa. 42.Db7+ Rg6 Provavelmente Lasker pretendia 42. . .De7 e então percebeu que era impossível de jogar devido a 43.Dc6 Tb4 44.Bxe6+! Cxe6 45.d5; Capablanca joga mecanicamente e perde uma combinação depois de 42. . .Rg6. Kasparov escreve: "Antes de Alekhine, ninguém conseguia forçar Capablanca a realmente exigir o seu máximo! Estava, naturalmente, acostumado a vencer com pouco esforço. No entanto, em Buenos Aires, em 1927, esse hábito custou caro ao cubano". Infelizmente isso é verdade. A máquina de xadrez infalível é simplesmente uma lenda. Capablanca era muito humano e cometeu erros - mas provavelmente menos do que qualquer outro na história do xadrez. 17 43.Dc8?! Capablanca tinha aqui 43.h5+! Rh6 44.Df7 Dd8 45.Bd3 Txd4 46.Txe6!! e ganha na hora. 43...Db4?! Depois de 43...Rh6! 44.Bxe6 Txd4 a vantagem das brancas não seria tão fácil de converter.44.Tc1! De7? 44...Ta7 era forçado. 45.Bd3+! 18 Abrindo caminho para a torre ir para c7. 45.. .Rh6 45.. . f5 46.Tc7 Ta1+ 47.Rh2 Dd6 48.De8+ Rh6 49.Df7. 46.Tc7 Capablanca invade lentamente com suas peças a posição inimiga. 46.. .Ta1+ 47.Rg2 Dd6 Demorou para quebrar as defesas de Lasker, porém Capablanca f inalmente conseguiu. 48.Dxf8+! 1-0 19 Partida 2 Friedrich Saemisch - Aaron Nimzowitsch [E06] Copenhague – Dinamarca, 1923 20 1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cf3 b6 Continuando a luta pela casa e4. 4.g3 Bb7 4.. .Ba6 é mais popular hoje em dia. Também era uma ideia de Nimzowitsch. Por exemplo, seu jogo contra Sultan Khan, de Liege (1930), continuou com 5.b3 Bb4+ 6.Bd2 Bxd2+ (6. . .Be7 é a l inha principal atualmente) 7.Cbxd2 Bb7 8.Bg2 c5 9.dxc5 bxc5 10.0–0 0–0 e as pretas f icaram bem, vencendo depois de 60 jogadas. 5.Bg2 Be7 6.Cc3 Não deve ser surpresa que em uma partida jogada quase 100 anos atrás, quando o desenvolvimento dessa defesa estava engatinhando, a ordem de movimentos adotadas por ambos os jogadores não sejam totalmente precisas, em comparação com a compreensão contemporânea. A maneira usual de alcançar a posição do jogo é 6.0–0 0–0 7.Cc3. 21 6.. .0–0!? Atualmente, não é considerado 100% exato pela teoria. A melhor resposta e certamente a mais segura é 6. . .Ce4! 7.0–0 E as brancas, por sua vez, preferem o desenvolvimento rotineiro, em vez de tentar explorar a posição. 22 De fato, 7.Dc2! é a jogada mais desafiadora para as pretas. Como mencionado na primeira nota deste jogo, a India da Dama luta pela casa e4, especialmente nas l inhas com o bispo das pretas em b7. Se as brancas conseguirem ocupar e4, geralmente terão alguma vantagem, devido ao seu controle central . Sendo assim, a luta se desenvolve em torno das tentativas das brancas de jogar e4 e das pretas em impedi-lo. A jogada 7.Dc2 ameaça fazer e4, e as pretas não podem mais responder com 7. . .Ce4. Na partida, certamente as pretas teriam que resolver esse problema de alguma forma. O movimento 7. . .d5 da partida não é confortável , por causa da prisão do bispo da dama. Então as pretas geralmente entram em linhas agudas começando com 7. . .c5 8.d5! exd5 9.Cg5 com complicações pouco claras. Essa variante foi testada várias vezes no match final do Torneio de Candidatos de 1974, entre Korchnoi e Karpov, que mostrou que as pretas precisam seguir com cuidado para evitar um desastre. 23 A famosa miniatura mostra o que pode acontecer: 9. . .Cc6 10.Cxd5 g6 11.Dd2 Cxd5?! 12.Bxd5 Tb8?? 13.Cxh7! e as pretas f icam completamente presas. 13. . .Te8 (13. . .Rxh7 14.Dh6+ Rg8 15.Dxg6+ Rh8 16.Dh5+ Rg8 17.Be4 f5 18.Bd5+ força mate em três.) 14.Dh6 Ce5 15.Cg5 Bxg5 16.Bxg5 Dxg5 17.Dxg5 Bxd5 18.0–0 Bxc4 19.f4 1–0, V.Korchnoi- A.Karpov, Moscou 1974. Essa l inha é perigosa para as pretas? Não é tão terrível quanto Karpov fez parecer, mas definitivamente apresenta alguns problemas. 7.. .d5?! Um tratamento levemente antiquado, que raramente é visto nos dias de hoje. 24 Qual é a objeção a 7. . .d5? O problema básico é que, tendo se esforçado para colocar o bispo da dama em uma boa diagonal aberta e longa, as pretas agora fecham essa diagonal e potencialmente permitem que as brancas entrem com uma cravada também. Não é o f im do mundo e, de fato, Botvinnik teve um sucesso considerável com a posição preta na década de 1930. Mas a prática mostrou que, com jogadas precisas, as brancas podem garantir uma certa vantagem posicional . A l inha principal aqui é 7. . .Ce4; enquanto o favorito de Sergey Tiviakov 7. . .Ca6 também é perfeitamente satisfatório para as negras. 8.Ce5 c6?! Outra escolha questionável . 8. . .Ca6 é relativamente melhor, mas as brancas ainda têm alguma pressão contra os peões centrais das pretas depois de 9.cxd5 exd5 10.Bf4 c5 11.Tc1. É um lance natural , mas 8. . .Cbd7?! também apresenta problemas, principalmente devido à fraqueza da casa c6. 25 As brancas podem responder com 9.Da4! que ameaça entrar em c6 com o cavalo ou (mais imediatamente) enfrentar d7 quantas vezes for necessário e ganhar o peão de d5. As pretas podem capturar em e5? Depois de 9. . .Cxe5 10.dxe5 as pretas ainda têm um problema. a) 10. . .Cd7? apenas deixa cair um peão depois de 11.cxd5 graças ao golpe tático 11. . .Cxe5 12.d6!; b) 10. . .Ce4 é um pouco melhor, mas ainda não é legal para as pretas depois de 11.cxd5 Cxc3 12.bxc3 Bxd5 (12. . .exd5 13.c4 continua a explorar a cravada na diagonal longa) 13.Td1 De8 14.Dg4 e as pretas ainda tem problemas, com Bh6 sendo uma ameaça desagradável . 9.cxd5?! 26 Essa troca diminui a vantagem. As pretas enfrentam mais problemas após o avanço central 9.e4! Seguiria: 9. . .dxc4 (9. . .Cbd7?! é pior, graças ao golpe tático 10.Cxc6! Bxc6 11.exd5 exd5 12.cxd5 Bb7 13.d6! Bxg2 14.dxe7 Dxe7 15.Rxg2 com um peão extra.) 10.Cxc4 Ba6 11.b3 com superioridade. As pretas podem ganhar um peão aqui com 11. . .b5 12.Ce3 b4 13.Ce2 Bxe2 14.Dxe2 Dxd4, mas não é bom por 15.Bb2. As brancas teriam compensação devido ao par de bispos, melhor desenvolvimento, mais espaço, e o peão extra das pretas acabará sendo uma debil idade em c6. 9.. .cxd5 10.Bf4 a6! 27 As pretas agora estão bem. A troca em d5 aliviou seus problemas. O seu bispo em b7 está ruim, mas a estrutura das pretas é sólida e, na verdade, o bispo das brancas em g2 não é muito mais ativo do que o de b7. Parece melhor o bispo branco porque seus peões não estão f ixos nos mesmos quadros que ele, mas, na realidade, ambos os bispos estão batendo num muro que é o peão d5. O branco pode atacar o centro com e4? Pode, mas isso abrirá o bispo das pretas tanto quanto o das brancas, e também deixará o primeiro jogador com um peão fraco e isolado em d4. O plano das pretas é avançar . . .b5 e usar a casa c4 como posto avançado para seu cavalo. No entanto, a posição não é mais do que igual , na melhor das hipóteses. As imprecisões posteriores das brancas é que levarão a problemas. 11.Tc1 b5 12.Db3 Kasparov sugere 12.a3 impedindo 12. . .Cc6?, que é inviável por causa do tático 13.Cxd5! E 12. . .Cbd7 é respondido com 13.Cd3, com posição complicada. 28 12.. .Cc6?! Em vista da possibil idade tática apontada por Kasparov (vide próximo comentário) , provavelmente seria mais preciso jogar 12. . .Cbd7. 13.Cxc6?! 13.Cxd5 é mais forte, forçando a continuação 13.. .Cxd4 14.Cxe7+ Dxe7 15.De3. O que há de bom nessa sequência? Kasparov continua a variante com 15. . .Bxg2 (Fritz prefere o imediato 15. . .Cf5 mas mesmo aqui, depois de 16.Dc5 Dxc5 17.Txc5 Bxg2 18.Rxg2 g5! 19.Bc1! h6 20.g4 o branco tem alguma iniciativa) 16.Rxg2 Db7+ 17.f3 Cf5 18.Df2 quando as brancas realmente têm vantagem. O cavalo das pretas será expulso do centro com e4, após o qual as brancas terão pressão. 29 De qualquer forma, f ica claro que 13 Cxd5 é mais forte do que a continuação do jogo, após o que as brancas começam gradualmente a entrar em dificuldade. 13.. .Bxc6 14.h3 Dd7 15.Rh2 Não é fácil ver um plano construtivo para as brancas, e Saemisch apenas se move de forma indecisa, quase como se estivesse esperando que as pretas f izessem alguma coisa e, assim, o estimulassem a responder. Nimzowitsch começa a dominar o jogo. 15.. .Ch5 16.Bd2 f5 30 Aqui temos uma típica estrutura Stonewall (muro de pedra), que nesse caso é relativamente favorável para as pretas. Vale a pena refletir novamente sobre os dois bispos de casas brancas. As brancas ainda parecem mais ativas, já que seus peões centrais não estão f ixos nas casas claras. No entanto, olhando mais profundamente a posição, f ica claro que o bispo de g2 não está realmente fazendo muito, apenas olhando para o paredão de d5. As pretas, por outro lado, têm um plano para ativar o seu bispo de casas brancas, por meio de . . .b4 e . . .Bb5. 17.Dd1? As brancas já perderam muito tempo e estão muito mal, mas Kasparov sugere que estelance de dama é o erro f inal e decisivo. Ainda para Kasparov, as brancas ainda poderiam lutar com 17.Cb1 a5 18.Tc2, embora não seja suficiente para as brancas igualarem. Seguiria 18. . . f4 19.g4 Bd6 20.Bf3 Cf6 21.Tfc1 Tfc8 e a posição resultante não é nada animadora para as brancas. Mesmo assim, é melhor do que o que aconteceu no jogo. 31 17.. .b4 18.Cb1 Bb5 Agora veremos o bispo mal de casas brancas do muro de pedra sendo ativado na diagonal a6-f1. 19.Tg1 Bd6 20.e4 O lance da partida é uma última e desesperada tentativa de mudar o curso da história, buscando explorar possibil idades táticas sobre o cavalo indefeso em h5. Perde forçosamente, como Nimzowitsch demonstrará. Mas as brancas não têm nada melhor. 32 Saemisch pode suportar as ameaças sobre seu rei por meio de 20.e3 mas depois de 20. . .Cf6 as pretas mudam sua atenção para a ala da dama e dobram na coluna "c". A posição das brancas é tão restringida que as suas peças estão l iteralmente tropeçando uma na outra. A posição está perdida. 20.. .fxe4! O prelúdio de uma das mais curiosas posições do xadrez. 21.Dxh5 Txf2 As pretas já contam com dois peões pela peça, e as peças brancas quase não têm movimentos. 33 22.Dg5 As brancas querem defender seu peão "g", para que poder mover o rei . Não resolve todos os problemas, mas as brancas não têm lances melhores. 22.. .Taf8 Agora 23. . .T8f3 é uma ameaça. 23.Rh1 T8f5 24.De3 Bd3 Ameaçando 25. . .Te2. 25.Tce1 h6!! 0–1 34 Uma das posições mais conhecidas na história do xadrez. Depois de 25. . .h6 as brancas não têm nenhum movimento seguro além de 26.b3 (respondido por qualquer movimento de espera), (ou 26.a3 (respondido por 26. . .a5): por exemplo, 26.Bc1 Bxb1; 26.Rh2 T5f3; ou 26.g4 T5f3. As brancas estão em Zugzwang, que é não ter nenhum movimento úti l na posição. Tudo o que se faz, piora o jogo. 35 Partida 3 Mikhail Botvinnik - Alexander Alekhine [D41] Holanda, 1938 36 1.Cf3 d5 2.d4 Cf6 3.c4 e6 4.Cc3 c5 Esses lances ocorreram três vezes no match- revanche Alekhine-Euwe de 1937. As pretas visam à simplif icação, a f im de facil itar sua defesa. 5.cxd5 Escolhendo outro caminho mais modesto e frequentemente seguido pelos mestres soviéticos. Alekhine estava bem familiarizado com a continuação de Euwe 5.Bg5 cxd4 6.Cxd4 e5 7.Cb3! 5.. .Cxd5 6.e3 Esta é uma continuação muito segura, mas com tendência a levar à igualdade. A variante principal 6.e4 Cxc3 7.bxc3 cxd4 8.cxd4 Bb4+ 9.Bd2 Bxd2+ 10.Dxd2 também não traz perigos para as pretas. 6.. .Cc6 7.Bc4 7.a3 Be7 8.Bd3 0–0 9.0–0 cxd4 10.exd4 Bf6 11.Be3 Cxc3 12.bxc3 e5 leva a igualdade. 37 7.. .cxd4 Alekhine deixou escapar a oportunidade de fazer 7. . .Cb6 e entrar a uma posição bem conhecida do Gambito da Dama Aceito, com jogo igualado. 8.exd4 Be7 9.0–0 0–0 10.Te1 A posição das brancas é superior. Embora o peão de "d" esteja isolado, ele restringe as pretas consideravelmente. As brancas têm muitas possibil idades com suas peças, enquanto as pretas ainda precisam resolver o problema de onde colocar o bispo da dama. 10.. .b6? 38 Um erro que deixará Alekhine em grandes dificuldades. Agora as brancas reduzem o jogo a uma pressão na ala da dama, enfraquecida por . . .b6, uma tarefa facil itada pela perceptível superioridade das brancas no desenvolvimento. Melhor seria 10. . .Cxc3 (assegurando a diagonal longa para o bispo da dama) 11.bxc3 b6 embora o peão de "d" branco seja apoiado agora por c3 e as brancas tenham chances na ala do rei , as pretas deveriam ter jogado assim como aconteceu na partida Botvinnik-Szabo, Groningen 1946. 11.Cxd5 exd5 12.Bb5 Bd7 Leva a trocas inevitáveis, após as quais a superioridade das brancas f icará muito clara. Se 12. . .Ca5 então 13.Ce5. 13.Da4 Cb8 A vantagem das brancas no desenvolvimento aumenta ainda mais. Para 13. . .Tc8 14.Bd2! (14.Bxc6? Bxc6 15.Dxa7 Bb4) 14. . .a6 15.Bxc6 Bxc6 16.Dxa6 e as pretas não teriam compensação pelo peão. 39 14.Bf4 Bxb5 15.Dxb5 a6 16.Da4 Impedindo o cavalo de ir a c6. As pretas são forçadas a trocar os bispos. 16.. .Bd6 17.Bxd6 Dxd6 18.Tac1 Ta7 19.Dc2± Com esse movimento, o branco impede . . .Tc7 e mantém o domínio das duas colunas abertas. O cavalo das pretas está mal posicionado, e é difíci l trazê-lo para o jogo. Esses fatores permitem concluir que as pretas perderam a chance de buscar uma boa posição e as brancas apenas encontraram um bom plano para explorar sua superioridade. 40 20.Txe7 Dxe7 21.Dc7 Dxc7 A troca é necessária para as pretas. A dama branca ocupa uma posição muito forte em c7. 22.Txc7 f6! A torre branca será confrontada na sétima fi leira e isso al ivia um pouco a situação das pretas. 23.Rf1 Não 23.Tb7 Tc8! 24.Rf1 b5 e a coluna "c" é dominada pelas pretas. 23.. .Tf7 24.Tc8+ Tf8 25.Tc3! Uma situação intrigante. As pretas não podem mover uma única peça. A melhor chance delas é trazer o rei para o centro. Para fazer isso, devem avançar os peões de "g" e de "h". 41 25.. .g5 Se 25. . .Cd7 então 26.Tc7. E para 25. . .Te8 segue 26.Tc7. 26.Ce1 h5 As pretas escaparam das ameaças diretas. Agora as brancas exploram o enfraquecimento da ala do rei das pretas. Se f izesse 26. . .h6 então 27.Cc2 Rf7 28.Ce3 Re6 29.g4! 27.h4! 42 A tentativa de 27.Cc2 é respondida com Rf7 28.Tc7+ Re6 29.Th7 Cd7. 27.. .Cd7 O lance 27. . .gxh4 tem como resposta 28.Cf3. Já 27. . .Rf7 28.hxg5 (28.Cf3 g4 29.Ce1 Re6 30.Cd3 Rf5 31.g3 Re4 32.Cf4 com vantagem branca segundo Botvinnik) 28. . . fxg5 29.Cf3 g4 30.Ce5+, era o que Alekhine temia. 28.Tc7 Tf7 29.Cf3 g4 30.Ce1 f5 31.Cd3 f4 32.f3 gxf3 33.gxf3 a5 34.a4 Rf8 35.Tc6 Re7 36.Rf2 Tf5 37.b3 Rd8 38.Re2 Cb8 Uma armadilha. 39.Tg6 Se agora 39.Txb6 Rc7 seguido por . . .Cc6. 39.. .Rc7 40.Ce5 Ca6 A vitória é das brancas, não tem salvação. 43 41.Tg7+ Rc8 42.Cc6 Finalmente, a vantagem se material iza. As brancas saem com pelo menos dois peões extras. 42.. .Tf6 43.Ce7+ Rb8 44.Cxd5 Td6 45.Tg5 Cb4 46.Cxb4 axb4 47.Txh5 Tc6 Se 47. . .Txd4 48.Tf5 Rb7 49.Tf6 Rc7 50.h5 e é decisivo para o branco. 48.Tb5 Rc7 49.Txb4 Th6 50.Tb5 50.Rd3 Te6! 44 50.. .Txh4 51.Rd3 1–0 Um daqueles jogos que não têm movimentos fantásticos, onde cada lance parece muito simples. Mas é impossível el iminar qualquer um deles, pois todos estão intimamente interligados à estratégia das brancas que levaram a esta bela vitória posicional . 45 Partida 4 Mikhail Botvinnik - Vasily Smyslov [E68] Moscou - URSS, 1954 46 Vasily Smyslov, o grande inovador com as peças pretas, teve menos influência no desenvolvimento da teoria das aberturas com as peças brancas. Smyslov estava simplesmente satisfeito com um jogo confortável e l ivre. Suas escolhas favoritas com as brancas eram bastante tranquilas. Nesta partida jogada no Mundial , Smyslov deu novos ares à Defesa Índia do Rei . 1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.g3 Bg7 4.Bg2 0–0 5.Cc3 Botvinnik provavelmente não ficou muito satisfeito que Smyslov não tenha entrado na Grunfeld com 4. . .d5. 47 A Índia do Rei nunca havia aparecido antes nos jogos de Smyslov, enquanto Botvinnik tinha grande experiência nela. 5.. .d6 6.Cf3 Cbd7 7.0–0 e5 8.e4 c6 9.Be3 É importante notar que o último lance de Botvinnik foi uma novidade, pelo menos para a teoria da época. Atualmente as opções mais jogadas são 9.h3 ou 9.b3. Após este match do Mundial de 1954, a Índia do Rei havia praticamente desaparecido do repertório de Smyslov. Mas em 1980 ele mostrou como os preparativos para o primeiro match com Botvinnik foram profundos. Observe a sequência 9.h3 Db6 10.Te1 exd4 11.Cxd4 Ce8! Durante anos, os melhores especialistas do mundo estavam jogando automaticamente 11. . .Te8 e experimentando algumas dificuldades nesta posição. A novidade de Smyslov em 1954 mudou drasticamente o caráter da posição. Onde quer que o cavalo branco em d4 vá, as pretas são capazes de desenvolver um contra-jogo efetivo. 48 É por isso que os condutoresdas brancas preferem predominantemente 10.c5 - até mesmo Karpov mudou para essa l inha. 9.. .Cg4! 10.Bg5 Db6 11.h3 Como as pretas podem continuar? 11.. .exd4! A continuação mais vigorosa. As brancas f icariam bem colocadas após 11. . .Cgf6 12.Dd2 exd4 13.Cxd4 Cc5 14.Tad1 Te8 15.Tfe1 Cfd7 16.Be3 (Lil ienthal - Konstantinopolsky, Sochy 1952). 49 12.Ca4 Da6 13.hxg4 b5 Agora a peça temporariamente sacrif icada será devolvida. Na sequência, as múltiplas fraquezas de peões em ambos os lados tornam a posição dinamicamente igual . 14.Cxd4 Muitos anos depois, em 1992, Yussupov tentou uma melhoria contra Kasparov no Torneio de Linares: 14.Be7 Te8 15.Bxd6 bxa4 16.e5, mas depois 16. . .c5! as pretas estão bem. Seguiria 17.Cxd4 (a tentativa de Yusupov de complicar ainda mais a situação com 17.b4!? cxb4 18.Dxd4 Bb7 cria complicações adicionais e leva a uma posição pouco clara. Ele subestimou o potencial de ataque das pretas e perdeu o jogo.) 17. . .Bb7 18.Cb5 Bxg2 19.Rxg2 Bxe5. 14.. .bxa4 15.Cxc6 As brancas não têm tempo para consolidar a posição e aceitam o desafio. Esse lance tem o mérito de retardar Ce5, aguardando o momento ideal . 50 A jogada 15.b3 também era jogável: 15. . .Ce5 16.Be7 Bxg4 17.f3 Tfe8 18.Bxd6 Tad8 19.c5 Bc8 (19. . .Cd3 20.Cxc6!) com jogo pouco claro. 15.. .Dxc6 16.e5 Dxc4 17.Bxa8 Cxe5 Em troca da qualidade, as pretas possuem uma compensação excelente. Os peões brancos são vulneráveis, suas peças descoordenadas e a posição do seu rei enfraquecida. Finalmente o cavalo se posiciona em e5, de onde domina o centro e ameaça o f lanco enfraquecido do rei branco. 51 A despeito da qualidade a mais, as brancas não contam com uma boa posição e somente jogando com muita precisão poderão se sustentar. 18.Tc1 No caso de 18.Dxd6 Bxg4 (18. . .Dxg4?! 19.Bf6!) 19.Bd5 Dd3 e as pretas não têm com o que se preocupar. 18.. .Db4?! Aqui havia 18. . .Db5!, que é muito mais desagradável para as brancas. 19.a3 52 A possibil idade de 19.Be7 Bxg4 20.Bxd6! seguiria 20. . .Db6 21.Dd5 Bf3! (21. . .Td8 22.Bc7 Txd5 23.Bxb6 Td2 24.Bxa7 Txb2 25.a3) 22.Dc5 Txa8 23.Bxe5 De6! 24.De3 (24.Bxg7?? Dh3 e mate; 24.Tc3 Bb7 25.Te3 Dh3 26.f3) com jogo complexo. 19.. .Dxb2 20.Dxa4 Bb7! Agora a segurança do rei das brancas está se tornando um problema sério. 21.Tb1? Sério equívoco que permite às pretas um imediato aproveitamento. O resultado de um erro de cálculo óbvio. 53 A sequência 21.Bxb7 Dxb7 22.Tc3 h6 (22. . .Cf3+ 23.Txf3 Dxf3 24.Be7) 23.Bf4 Cf3+ 24.Txf3 Dxf3 25.Bxd6 Td8 26.Bc5 e embora as brancas ainda tenham algumas dificuldades a enfrentar na defesa de seu f lanco rei , estas não deverão mostrar-se insuperáveis. Portanto, seria o caminho indicado. 21.. .Cf3+ 22.Rh1 Bxa8! As pretas obtêm 3 peças menores pela dama. Mas aqui é decisivo, em vista da posição aberta do rei branco. 23.Txb2 Cxg5+ 24.Rh2 Cf3+ 25.Rh3 Bxb2 A posição das brancas é desesperadora. Não podem impedir que as pretas montem o seu ataque de mate. 54 Suas quatro peças se juntam rapidamente e organizam o ataque final ao indefeso rei branco. 26.Dxa7 Be4 Antecipando-se ao Tb1 seguido de Tb8, trocando as torres. Se as brancas conseguissem realizar a troca teriam melhores oportunidades, dado que o rei das pretas estaria exposto aos xeques, e desta forma o ataque das pretas se enfraqueceria. 27.a4 Rg7 28.Td1 Be5 29.De7 Tc8 A torre está se preparando para dar o golpe mortal . 30.a5 Tc2 31.Rg2 Cd4+ 32.Rf1 Bf3 33.Tb1 Cc6 0–1 55 As brancas abandonam. Não existe meio de evitar o ataque em massa das peças pretas. Se 33. . .Cc6 34.Dc7 Bd4 35.Dxd6 Txf2+ 36.Re1 Te2+ 37.Rf1 Th2. 56 Partida 5 Donald Byrne - Robert James Fischer [D97] Nova York - E.U.A., 1956 57 Bobby tinha 13 anos quando jogou esta partida, também conhecida como "O Jogo do Século". Seria difíci l encontrar performances concorrentes de outros prodígios como Capablanca, Kasparov e Carlsen, que igualassem a qualidade desta combinação de Fischer nessa idade. 1.Cf3 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.d4 0–0 5.Bf4 d5 Fischer muda para a Grunfeld, ao invés de 5. . .d6 que nos leva ao Sistema London contra a Índia do Rei, ou 5. . .c5 que é uma boa possibil idade, já que não está claro se as brancas querem seu bispo em f4 nessa estrutura. 6.Db3 dxc4 7.Dxc4 c6!? 58 10.. .Bg4 11.Bg5? Qual é a motivação por trás do último lance das brancas, uma vez que ele move uma peça já desenvolvida? Este movimento viola o princípio: Não mova uma peça mais de uma vez na abertura, especialmente em posições abertas. A motivação de Byrne é prender o cavalo f6 das negras, impedindo . . .Cfd7. No entanto, a perda de tempo das brancas é desastrosa. Quando nossa voz interior sussurra em nosso ouvido, acenando para uma ideia tentadora, às vezes o melhor a fazer é calar essa voz! As táticas estão à nossa frente, mas às vezes somos como turistas inconscientes que não falam ou leem aquele idioma. Nem todas as novidades teóricas são boas. Esse movimento é uma perda de tempo e uma construção de artif ícios, em uma posição que não pode permitir um luxo tão grande. Correto seria 11.Be2 Cfd7 12.Da3 Bxf3 13.Bxf3 e5 14.dxe5 De8 15.Be2 Cxe5 16.0–0 quando o bispo das brancas oferece vantagem [G.Flear-P. Morris, Dublin, 1991]. 11.. .Ca4!! 59 Aqui entra o tema do desvio. 12.Da3 Forçado. A posição das brancas f ica fora de controle depois de 12.Cxa4?? Cxe4 13.Bxe7 (não 13.Dc1?? Bxf3 14.gxf3 Da5+ e as pretas recuperam a peça com uma posição completamente vencedora) 13. . .Te8! 14.Bxd8 Cxc5+ 15.Be2 Cxa4 16.Bg5 Cxb2 17.Tb1 Bxf3 18.gxf3 Bxd4 onde as brancas perdem dois peões e f icam com uma posição completamente destruída. 60 12.. .Cxc3 13.bxc3 Cxe4! A perda da qualidade é compensada pelas l inhas abertas que as pretas vão aproveitar com sua vantagem no desenvolvimento. 14.Bxe7 Db6 15.Bc4 As brancas não podem aceitar a qualidade: 15.Bxf8 Bxf8 16.Db3 Te8! 17.Dxb6 (17.Be2?? entra 17. . .Cxc3! 18.Td2 Da5 19.Ce5 Be6 20.Dc2 Cxe2 21.Rxe2 f6 e acabou, já que o cavalo das brancas é incapaz de se mover) 17. . .axb6 e as brancas vão perder devido ao xeque descoberto ao longo da coluna "e". 15.. .Cxc3! 61 Um golpe atrás do outro. Fischer calculou com precisão as consequências desse movimento. 16.Bc5 Para 16.Dxc3 Tae8 17.0–0 Txe7 e recupera a peça com posição vencedora. 16.. .Tfe8+ 17.Rf1 A dama das pretas e o cavalo de c3 estão atacados simultaneamente. 17.. .Be6!! Fischer nunca se sentiu confortável em posições com grandes complicações onde apenas o computador ou Tal se sentiria em casa. 62 No entanto, tudo aqui pode ser trabalhado com detalhes exatos. Então ,Fischer estava realmente confortável . Byrne, sem dúvida, esperava 17. . .Cb5? 18.Bxf7+! Rh8 19.Bxb6 Cxa3 20.Bc5! Tf8 21.Bxf8 Txf8 22.Td3 Cb5 23.Bc4. 18.Bxb6 Se o branco jogar 18.Bxe6?? ele entra em um mate por asfixia depois de 18. . .Db5+ 19.Rg1 Ce2+ 20.Rf1 Cg3+ 21.Rg1 Df1+ 22.Txf1 Ce2#. 18.. .Bxc4+ 19.Rg1 Ce2+ O rei das brancas agora entra no "moinho de vento" das pretas. 20.Rf1 Cxd4+ E o cavalo segue causando estragos. 21.Rg1 Ce2+ Olha ele aí de novo! 63 22.Rf1 Cc3+ 23.Rg1 axb6 24.Db4 Ta4! 25.Dxb6 Cxd1 26.h3 Txa2 27.Rh2 Cxf2 28.Te1 Txe1 29.Dd8+ Bf8 30.Cxe1 Bd5 Fischer tem como alvo g2. 31.Cf3 Ce4 32.Db8 b5 33.h4 h5 34.Ce5 Ameaça Cd7. 34.. .Rg7 Defendendo-se contra Cd7, enquanto ameaça ainda . . .Bd6+. 64 35.Rg1 Bc5+ 36.Rf1 E se 36.Rh2 Cd2! 37.Rh1 Ta1+ 38.Rh2 Cf1+ 39.Rh1 Bf2 40.Cf3 Cg3+ 41.Rh2 Th1#. 36.. .Cg3+ Ou 36. . .Tf2+ 37.Re1 Bb4+ 38.Rd1 Bb3+ 39.Rc1 Ba3+ 40.Rb1 Tf1#. 37.Re1 Bb4+ Pretas teriam arremate mais rápido com 37.. .Te2+! 38.Rd1 Bb3+ 39.Rc1 Ba3+ 40.Rb1 Te1#. 38.Rd1 Bb3+ 39.Rc1 Ce2+ 40.Rb1 Cc3+ 41.Rc1 Tc2# 0–1 65 Partida 6 Mikhail Tal - Bent Larsen [D97] Bled - Eslovênia, 1962 66 1.e4 c5 2.Cf3 Cc6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 e6 5.Cc3 d6 6.Be3 Cf6 7.f4 Be7 8.Df3 Este ativo sistema do branco é uma arma muito perigosa contra a varianteescolhida pelas pretas. 8.. .0–0 9.0–0–0 Dc7 Este movimento, normal da Sici l iana, leva as pretas a dif iculdades. Larsen deveria antes ter desenvolvido o bispo da dama. Depois de 9. . .Dc7, o imediato 10.g4 é respondido com 10. . .Cxd4 11.Txd4 e5 12.Tc4 Bxg4! (13.Dxg4 Dxc4). 67 10.Cdb5! Db8 11.g4 a6 12.Cd4 Cxd4 13.Bxd4 b5 Um momento muito importante. Após a jogada de Larsen, é óbvio que o ataque das brancas se desenvolverá mais rapidamente, o que em tais posições é muitas vezes o fator decisivo. As pretas definitivamente deveriam ter jogado 13.. .e5 ao qual Tal poderia responder com 14.g5. Agora, a tentativa de ganhar a qualidade falha: 14. . .Bg4 15.Dg3 Bxd1? 16.gxf6 Bxf6 17.Cd5 e as pretas perdem com 17. . .exd4 18.Cxf6+ Rh8 19.Tg1; ou 17. . .Dd8 18.Bb6. Mas depois de 13. . .e5 14.g5 Bg4 15.Dg3 , continuando 15. . .exd4 (em vez de 15 . . . Bxd1) 16.gxf6 dxc3 17.fxe7 cxb2+ 18.Rb1 Bxd1 as pretas mantêm boas chances defensivas, pois a posição simplif icou demasiadamente. 68 14.g5 Cd7 A princípio depois de 14. . .Cd7, Mikhail Tal queria jogar o profi lático 15.a3 para manter o cavalo em c3. Variantes do tipo 15. . .b4 16.axb4 Dxb4 17.Dh5 Tb8 18.Td3 Dxb2+ 19.Rd1 parecem atraentes, mas então Tal tem o tema típico do sacrif ício de cavalo em d5, abrindo l inhas para o ataque. Assim, ele decide não rejeitar a ideia tentadora. 15.Bd3 b4 Sobre o mais cauteloso 15. . .Bb7, Tal planejava jogar 16.a3. 16.Cd5! exd5 17.exd5 O sacrif ício tem algo também de natureza posicional . 69 As peças das pretas estão agrupadas na ala da dama (torre em a8, dama em b8 e bispo em c8), e não é de forma alguma fácil para elas virem em auxíl io de seu rei . A coluna "e" aberta é também um problema. Além disso, ambos os bispos brancos estão voltados para o rei inimigo, e ameaçam a combinação padrão com sucessivos sacrif ícios de bispos em h7 e g7. As pretas não podem se defender sem fazer concessões. Contra 17.exd5 g6 as brancas devem continuar com 18.h4 ou 18.Tde1. Mas não 18.Dh3 por causa de 18. . .Cf6 19.Dh6 Ch5, quando as brancas não têm nada a ganhar pelo material sacrif icado. 17.. .f5 70 18.Tde1 As pretas têm uma escolha desagradável: defender seu bispo com a torre em f7, quando a posição da torre dá às brancas a possibil idade de abrir l inhas na ala do rei com ganho de tempo (g6!) , ou então mover outra peça longe do rei . Contra 18. . .Bd8, uma sequência muito curiosa é: 19.Dh5 Cc5 20.Bxg7! Cxd3+ 21.Rb1 (não 21.cxd3? Dc7+) 21. . .Cxe1 (21. . .Cxf4 22.Dh6) 22.g6 Rxg7 23.Dxh7+ Rf6 24.g7 Tf7 25.g8C#. 18.. .Tf7 19.h4 Bb7 20.Bxf5 Tal poderia ter continuado com 20.g6 hxg6 21.h5 g5 22.Bxf5 com múltiplas ameaças. Mais fraco é 22.h6 g4 23.hxg7 Bf6 (ou 23. . .Cf6 24.Txe7 gxf3 25.Bxf6 Txe7). As pretas não podem jogar, por exemplo: 22. . .Txf5 23.Txe7 Ce5 por causa de 24.h6! Cxf3 25.h7+ Rh8 26.Txg7 com mate inevitável . Mas na partida, Tal não encontrou a vitória forçada depois de 22. . .Bf6 23.Be6 Df8 (não 23. . .Bxd4 24.fxg5 e g6). 71 Jogadores experientes sabem do risco de desperdício de tempo no cálculo de variantes longas e complicadas, pois é assim que se entra em problemas de apuro de tempo no relógio. Além disso, após a jogada realizada na partida, a posição de Tal continuou promissora. 20.. .Txf5 21.Txe7 Ce5 Com a defesa passiva 21. . .Tf7 as pretas perdem por 22.Txf7 Rxf7 23.g6+ hxg6 24.h5. Larsen tenta aproveitar a iniciativa por meios táticos, mas as brancas estavam preparadas para isso. 22.De4 Df8! 23.fxe5! Tf4 24.De3 Tf3 Depois dessa jogada, as brancas vencem sem grandes dificuldades. 72 Os reflexos da combinação começada lá no lance 20 com Bxf5 se vê aqui: 24. . .Bxd5 25.exd6 Txd4 (depois de 25. . .Bxh1 26.Txg7+ as peças dispersas das pretas estão desamparadas) 26.Dxd4! (mais fraco é 26.Te1 Df4!) 26. . .Bxh1 27.b3. Aqui, provavelmente, as pretas fariam melhor devolvendo a peça imediatamente 27. . .Bf3 28.Dc4+ Rh8 29.Tf7 Dxd6 30.Txf3 quando teriam alguma chance de salvar o jogo. Tentativas de manter sua vantagem material são inúteis; o peão "h", ao atingir a sexta f i leira, aplica o golpe decisivo. A troca de torres com 27. . .Te8 também leva à derrota depois de 28.De5 Txe7 29.dxe7 De8 30.De6+ Rh8 31.h5 Bf3 (ou 31. . .Bc6 32.g6 , com a irresistível ameaça de Df7) 32.h6. Neste momento do jogo, entretanto, Larsen tinha apenas sete minutos restantes no relógio. 25.De2 Dxe7 Não 25. . .Df4+ 26.Dd2 Tf1+ 27.Txf1 Dxf1+ 28.Dd1; ou 25. . .Bxd5 26.exd6. 26.Dxf3 dxe5 27.Te1 Td8 73 O final depois de 27. . .Tf8 28.Txe5 Dxe5 29.Dxf8+ Rxf8 30.Bxe5 é facilmente vencido pelas brancas. As pretas não têm tempo para capturar em d5 em vista de 31 Bd6+. 28.Txe5 Dd6 29.Df4! Com a ajuda desta tática simples (29.Df4 Bxd5 30.Te8+) as brancas mantêm seus dois peões extras. 29.. .Tf8 30.De4 b3 Não há nada melhor. 74 31.axb3 Tf1+ 32.Rd2 Db4+ 33.c3 Dd6 34.Bc5 Havia outras maneiras de ganhar, mas esta é mais vistosa. 34.. .Dxc5 35.Te8+ Tf8 36.De6+ Rh8 37.Df7 1–0 75 Partida 7 Tigran Petrosian - Robert James Fischer [D82] Buenos Aires – Argentina, 1971 76 Robert James (Bobby) Fischer (1943–2008), o décimo primeiro campeão mundial (1972–1975), é considerado um dos grandes gênios do xadrez. Ele era uma estrela de primeira grandeza do xadrez, principalmente considerando os jogadores representativos da era pré-computador. Antes deste jogo, ele já havia derrotada Taimanov e Larsen no ciclo do Match de Candidatos, com uma pontuação surpreendente de 6 a 0 em ambos os confrontos. Agora ele t inha apenas um obstáculo para a tão esperada Final do Campeonato Mundial contra Spassky. Petrosian teve os grandes mestres Averbakh e Suetin como segundos. Suetin disse ao jornal russo Pravda: "Será um confronto entre dois representantes do esti lo clássico de xadrez". O próprio Petrosian disse: “Vamos ver o que acontece”. Fischer venceu o primeiro jogo, mas Petrosian não foi tão afetado pelas oportunidades perdidas e imediatamente revidou no segundo. 1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 d5 4.Bf4 Essa Variante Clássica estava em voga durante o Torneio AVRO, em 1938. É uma formação sólida em que as brancas exercem pressão ao longo da coluna "c". 77 O renomado treinador russo Mark Dvoretsky (1947-2016) escreveu que em defesas como a Grunfeld as brancas têm escolhas extremamente amplas. O branco é quem determina as variantes e as pretas precisam estar preparadas para tudo. Normalmente Bf4 é jogado em conjunto com 4.Cf3 Bg7 5.Bf4 mas Petrosian provavelmente não queria que Fischer tivesse boas lembranças de sua juventude quando fez seu jogo imortal contra Donald Byrne. 4.. .Bg7 78 Uma imprecisão jogada no jogo entre Euwe e Alekhine, Holanda 1935, é 4. . .Ch5?! Com 5.Be5 força o adversário a enfraquecer sua posição por causa do peão desprotegido em d5 (se 5.Cxd5? Cxf4 6.Cxf4 e5! 7.dxe5?? Bb4+ e brancas têm sérios problemas). Então 5. . . f6 e depois de 6.Bg3 Cxg3 7.hxg3 c6 8.e3 Bg7 9.Bd3 as brancas têm uma posição confortável e ameaçam 10.Txh7. Se as pretas tentarem contornar isso com 9. . .0–0?, as brancas jogam 10.Txh7! de qualquer forma. Foi o que aconteceu no jogo acima mencionado. 5.e3 O movimento profi lático 5.Tc1 para desencorajar . . .c5, permite 5. . .Ch5 atacando o bispo. A partida A.Dreev-P.Leko, Wijk e Zee 1996, continuou 6.Bg5 h6 7.Bh4 dxc4 8.e3 Be6 9.Be2 Cf6 10.Cf3 c6 11.Ce5 b5 12.f4 Cd5. 5.. .c5 É lógico pressionar o centro, já que as brancas estão a três movimentos do roque e as pretas, apenas um. 79 6.dxc5 É totalmente fora de contexto 6.Bxb8? Txb8 7.Da4+ Bd7 8.Dxa7 que ganha um peão, mas perde o bispo de casas escuras e muitos tempos. 80 6.. .Da5 7.Tc1 Claro, Petrosian não estava interessado numa possibil idade de empate, depois de perder o primeiro jogo, decorrente de 7.cxd5 Cxd5 8.Dxd5 Bxc3+ 9.bxc3 Dxc3+ 10.Re2 Dxa1 11.Be5 Dc1 (se as pretas querem manter o jogo vivo, podem até jogar11. . .Db1!? 12.Bxh8 Be6 13.Dd3 Dxa2+ 14.Rf3 f6 15.Bg7 Cd7 16.Rg3 Rf7 17.Bh6 Cxc5 18.Dd4 Dc2 19.f3 g5 20.h4 g4 com compensação, como no jogo de correspondência de 1999 entre Kristensen-Sergel) 12.Bxh8 Be6 13.Dxb7 Dc2+ com xeque-perpétuo, independentemente das brancas jogarem 14.Rf3 (ou 14.Re1 Dc1+) 14. . .Df5+. 7.. .Ce4 Fischer buscou essa ideia no jogo S. Reshevsky- V.Hort, Palma de Maiorca 1970, onde ele também esteve jogando. Kasparov e Rowson recomendam 7.. .dxc4 8.Bxc4 0–0 9.Cge2 Dxc5. 8.cxd5 No jogo acima mencionado, Reshevsky jogou o mais fraco 8.Cf3? Cxc3 9.bxc3 Bxc3+ 10.Cd2. 81 8.. .Cxc3 9.Dd2 Seguindo a recomendação de Boleslavsky. Antes deste jogo, a opinião era de que as brancas tinham a vantagem. É claro que nem Hort nem Fischer concordaram com essa conclusão. 9.. .Dxa2 Melhor que 9. . .Dxc5? Por que esse lance seria ruim?! Por causa de 10.Bh6! (note que 10.Ce2? é um erro depois de 10. . .Dxd5! 11.Dxd5 Cxd5 12.Txc8+ Rd7) e as pretas têm problemas, não importa o que joguem: 82 a) 10. . .0–0 11.Bxg7 Rxg7 12.Txc3 com uma clara vantagem. b) 10. . .Bf6 11.bxc3 e as pretas têm um peão a menos e são incapazes de fortalecer a ala do rei . 10.bxc3 O grande mestre americano Hikaru Nakamura jogou 10.Txc3 0–0 11.Bc4! Da1+ 12.Tc1 Dxb2 13.e4 com iniciativa das brancas. 10.. .Da5 A.Karpov-G.Kasparov, Campeonato do Mundo (Jogo 5) , Londres 1986, continuaram com 10.. .Dxd2+ 11.Rxd2 Cd7 12.Bb5 0–0 13.Bxd7 Bxd7 14.e4 f5 15.e5 e agora 15. . .Tac8 teria recuperado o peão, levando a um final praticamente igual depois de 16.c4 Txc5 17.Be3 Ta5 18.f4 como em D.Rogozenko-Berndt, Sas van Gent 1992. O melhor agora é 18. . .Ta2+ 19.Tc2 Ta1 20.Bd4 Tf1 21.Re2 Txf4 22.Cf3 Tg4 23.Rf2 e as brancas têm compensação pelo peão com sua forte posição no centro. 83 11.Bc4 O natural 11.e4?! para apoiar o centro acaba sendo fraco depois de 11. . .Cd7 seguido por . . .Cxc5. O cavalo preto desempenha um papel muito importante nessa variação e não deve receber nenhuma ameaça. 11.. .Cd7! É mais f lexível capturar com o cavalo em c5, onde ele f icará em um bom posto avançado, exercendo o controle das casas brancas em e4, d3 e b3. O cavalo também coordenará bem com o bispo em g7. 84 12.Ce2 Hoje em dia 12.Cf3 é considerado como a principal l inha, enquanto 12.c6 é uma continuação inofensiva depois de 12. . .bxc6 13.dxc6 Cc5 e agora o movimento natural de desenvolvimento 14.Ce2 é uma imprecisão, dando às pretas a iniciativa depois de 14. . .Ba6 15.Bxa6 Dxa6. 12.. .Ce5 Uma continuação mais moderna é 12. . .Cxc5 13.0–0 com duas variações: a) 13. . .e5?! dá às brancas uma l igeira vantagem depois de 14.dxe6 Bxe6 15.Ta1 Dd8 16.Dxd8+ Rxd8 17.Tfd1+ Rc8 18.Ta5! porque não é possível jogar 18. . .b6?? devido a 19.Txc5+ bxc5 20.Ba6#. b) 13. . .0–0 14.Cd4 e agora 14. . .e5 15.dxe6 Bxe6! com igualdade. O forte da posição das brancas é o cavalo em d4, que deve ser mantido no tabuleiro o maior tempo possível . 85 13.Ba2 Bf5? Deveria ter jogado 13. . .Dxc5 confiando em seu contra-jogo resultante do peão passado. A chave para o sucesso na Grunfeld é, sobretudo, o f inal . 14.Bxe5! As brancas devem eliminar o cavalo forte antes que ele crie um caos em sua posição. No entanto, há outra opção interessante, ou seja, garantir às brancas a iniciativa com 14.e4!? Bxe4 15.0–0. As principais ideias são de ganhar tempo e abrir a posição em combinação com Cg3, já que o bispo das pretas não tem uma boa casa de retirada. 86 As brancas exercem pressão sobre a coluna "e" com Tfe1 e o cavalo preto está bastante inseguro, assim como o peão em e7 e o rei em e8. E se 15. . .Dxc5 16.Cg3 f5 (depois de 16. . .Bf5 17.Tfe1 brancas atingem seu objetivo principal) 17.Cxe4 fxe4 18.Tb1 Cd3 19.Txb7 Bxc3 20.De3 Dxe3 21.Bxe3 o lado branco tem pequena vantagem. 14.. .Bxe5 15.Cd4! Dxc5 As pretas não podem evitar a troca em f5 pois 15. . .Bd7 é respondido com 16.c6 bxc6 17.dxc6 Bc8 18.f4 Bg7 19.0–0 mantendo grande vantagem de acordo com Petrosian. Para 15. . .0–0 vem 16.c6 e também é incômodo para as pretas. 16.Cxf5 gxf5 17.0–0 Da5? O grande mestre americano Edmar Mednis (1937– 2002), em seu l ivro How to Beat Bobby Fischer , chegou a colocar dois pontos de interrogação nesse movimento que ele considerou o momento perdedor. Em vez disso, Mednis recomenda uma continuação em que a vitória é dif íci l de ser construída fazendo o sacrif ício de peão com 17. . . f4! 18.exf4 Bd6 seguido de dama entrando pela ala da dama. 87 É claro que as pretas estão piores, mas essa defesa parece ser mais tenaz do que a da partida. Kasparov dá a seguinte variação: 19.Tfe1 0–0–0 20.Te4 Rb8 21.g3 afirmando que "Não é tão fácil entrar na posição das pretas. O principal é que, às custas de um peão, bloqueou o centro branco e se defendeu contra um ataque direto". 18.Dc2! Esse belo movimento para uma casa clara exerce pressão imediata sobre o peão em f5 e planeja o futuro avanço do peão c4–c5. Já 18.Bb1 torna a tarefa defensiva das pretas um pouco mais fácil depois de 18. . .e6. 88 18.. .f4 Estabil izar a posição do bispo com 18. . .Bf6 seria respondido por um movimento estabil izador similar das brancas, ameaçando o peão em f5. Depois de 19.Bb3 Tc8 o outro plano das brancas estaria em movimento com 20.c4 e6 21.c5 de acordo com Techner. Se 18. . .Tc8? perde imediatamente depois de 19.Dxf5 Dc7 20.d6! exd6 21.Bxf7+. 19.c4! A 19.exf4 segue 19. . .Bxf4 20.Tb1 Dc7 21.g3 Bd6 22.Da4+ Rf8 parece menos convincente em comparação com o jogo. 19.. .fxe3 89 Se as pretas pararem o plano do branco de jogar c4–c5 com 19. . .b6 então 20.De4! Bd6 21.Bb3! com a ideia de 22 Ra1 e 23 Ba4 + levando a uma posição em que as pretas estão estrategicamente perdidas. Se o rei das pretas procura refúgio na ala da dama com 21. . .0–0–0 o branco vencerá com o avanço dos peões 22.c5! bxc5 (22. . .Bxc5 perde imediatamente por um segundo avanço decisivo de peão: 23.d6! exd6 24.Ta1) 23.exf4 com l inhas abertas na ala da dama combinadas com a pressão nas casas brancas. É apenas uma questão de tempo até o jogo terminar. 20.c5! Petrosian mostra uma boa noção de tempo. É muito mais importante ter a dupla de peões na quinta f i leira do que fazer 20.fxe3, o que daria às pretas a oportunidade de bloqueio depois de 20. . .Dc5. 20.. .Dd2 90 Se fizesse 20. . .exf2+ seria respondido com 21.Rh1! E se 21. . . f6 (depois de 21. . .0–0 22.Bb1 f5 23.Dxf2 o branco vence concentrando-se em um ataque às casas brancas) 22.d6! e o rei das pretas não está seguro em lugar algum. 21.Da4+ Rf8 O rei estaria mais em perigo depois de 21. . .Rd8 22.Tcd1: a) 22. . .exf2+ 23.Txf2 (não 23.Rh1? Dh6 24.h3 Df4 quando as pretas forçam a troca das damas e as brancas têm que lutar por um empate) 23. . .Dh6 (Kholmov dá 23. . .Bxh2+ 24.Rf1 Dh6 25.d6 exd6 26.Txf7 e vence) 24.d6 Dxh2+ 25.Rf1 e as brancas têm um ataque vencedor. 91 b) 22. . .e2 23.Txd2 Bxh2+ 24.Rxh2 exf1=D ganha qualidade, mas as pretas não conseguem organizar uma defesa satisfatória depois de 25.d6. 22.Tcd1! Jogada eficaz exige cálculo preciso. Mednis sugere 22.Tc2?, mas não funciona depois de 22. . .exf2+ 23.Rh1 Dd4! 24.Tc4! Db2! 25.Te4 Tg8 com uma posição confusa, de acordo com Kasparov. 22.. .De2 Se aqui 22. . .e2 perde depois de 23.Txd2 Bxh2+ 24.Rxh2 exf1D 25.d6 e mesmo com o rei em f8, as pretas estão perdidas por causa da posição passiva de suas peças na defesa do rei . A 25. . .e6 é simplesmente respondido com 26.d7. 23.d6 As brancas abrem a diagonal para o seu bispo. O movimento profi lático 23.g3 mais tarde foi recomendado por Petrosian como sendo ainda mais forte. Com a possível continuação 23. . .Rg7 24.d6. 92 23.. .Dh5! A defesa mais forte. Outras alternativas são piores: Para 23. . .Bxh2+ é respondido com 24.Rxh2 Dh5+ 25.Rg1 e2 26.dxe7+ Rg7 27.Td4 (claro que não 27.Td3?? Dh1+! e as pretas ganham) 27. . .exf1=D+ 28.Rxf1 Dh1+ 29.Re2 Dh5+ 30.Tg4+ Rf6 31.Df4+ Rxe7 32.Dd6+Re8 33.f3! e as pretas devem se defender de Te4+ e Bb3–Ba4+. E se 23. . .exf2+ 24.Txf2 Bxh2+ 25.Rxh2 Dxf2 26.dxe7+ vitória forçada: 26. . .Rg7 (Kholmov dá 26. . .Rxe7 27.Td7+ Rf8 28.Dc4! e f7 cai) 27.Dg4+ Rf6 28.Td3 Rxe7 29.Dd7+ Rf8 30.Dd6+ Re8 31.Bb3. 93 Por f im 23. . .exd6 24.fxe3 é decisivo porque as pretas não podem fazer 24. . .Tg8 devido 25.Txf7#. 24.f4! Se 24.dxe7+ Rg7 e o incrível 25.fxe3!! Bxh2+ 26.Rf2 também vence. 24.. .e2? Mais persistente é a sugestão de Kholmov 24. . .Bf6. Embora a sugestão de Mednis seja poderosa: 25.Td5 o que detém uma clara vantagem depois de 25. . .Dg6 26.Db3! Tg8 27.g3 Te8 28.Te1 de acordo com Sull ivan. 25.fxe5 exd1D 26.Txd1 Dxe5 27.Tf1 f6 Não há muito o que as pretas possam fazer. Kholmov dá 27. . .Dxc5+ 28.Rh1 f6 29.Db3 Dh5 30.De6 e as pretas estão indefesas. As quatro peças que atacam o rei das pretas são fortes demais para a defesa. Aqui 27. . . f5 não ajuda depois de 28.Dc4 Df6 (ou 28. . .e6 29.Dh4) 29.Dd5 e as brancas têm ameaças decisivas em f5 e b7. 94 28.Db3 Com a dupla ameaça de tomar em b7 e de dar mate em f7. 28.. .Rg7 29.Df7+ Rh6 30.dxe7 f5 Outras variantes sem esperança são: Para 30. . .Thg8 31.Bb1 Tg6 32.Bxg6 hxg6 33.Df8+ as brancas vencem de acordo com Robert Byrne. Jogo ativo com 30. . .Rg5 no espírito de como jogava Steinitz não funciona depois de 31.Dg7+ Rh5 32.Bf7+. Se 30. . .Tag8 é respondido com 31.Bb1 ganhando. 31.Txf5 Dd4+ 32.Rh1 1–0 95 Partida 8 Anthony Miles x Viktor Korchnoi [E19] Wijk aan Zee – Holanda, 1978 96 1.d4 Cf6 2.Cf3 e6 3.g3 b6 4.Bg2 Bb7 5.c4 Be7 6.0–0 0–0 7.Cc3 Ce4 8.Dc2 O lance 8.Bd2 é a principal alternativa das brancas. Por exemplo: 8. . .Bf6 9.Tc1 d5 10.cxd5 exd5 11.Bf4 Cxc3 12.bxc3 como em G.Kasparov-R. Ponomariov, Linares 2003. 8.. .Cxc3 Qual a razão por trás dos lances . . .Cf6, . . .Ce4 e . . .Cxc3? Há duas: 1. As pretas seguem o princípio: as trocas ajudam o lado mais restringido. 97 2. A dama das brancas é atraída para c3, o que enfraquece seu domínio sobre e4 e também ela está agora em um local l igeiramente vulnerável . Um futuro . . .Bf6 permite que as pretas apontem seu bispo de casas escuras na direção da dama. 9.Dxc3 f5 A principal alternativa das pretas é a ruptura central com 9. . .c5 10.Td1 d6 11.b3 Bf6 12.Bb2 De7 13.Dc2 Cc6 14.e4 e5 15.d5 Cd4 16.Bxd4 cxd4 com uma luta interessante pela frente, Comp Deep Fritz-V.Kramnik, Manama (7º jogo) 2002. 10.b3 Bf6 11.Bb2 Cc6 12.Tad1 De7 13.Dd2 Brancas apontam para o temático d4–d5. 98 13.. .Cd8 14.d5 Bxb2 15.Dxb2 d6 16.dxe6 Isso ajuda o adversário. Mas se as brancas não capturassem, as pretas jogariam . . .e5 no próximo lance. 16.. .Cxe6 17.b4?! Surpreendentemente, esse movimento lógico e típoico pode ser a raiz dos próximos problemas das brancas. Qual é a intenção deste lance? As brancas planejam uma eventual ação com c4– c5. O problema é que Miles rapidamente entra em dificuldades com a necessidade de proteção do seu rei e simplesmente não terá tempo para concretizar seu objetivo. 99 Talvez o melhor caminho das brancas fosse o lento, mas seguro, 17.Cd4 Bxg2 18.Rxg2 Cxd4 19.Txd4 , como em A. Panchenko-A. Kharitonov, Pavlodar 1987. 17.. .f4 Enquanto isso, Korchnoi atua na outra ala. 18.Td2 Aqui 18.Cd4 Bxg2 19.Rxg2 a5 20.a3 Cxd4 21.Txd4 axb4 22.axb4 Tae8 parece favorável para as pretas, mas isso é muito melhor do que a posição que Miles obteve no jogo. 18.. .Tf6 19.Dc3 Ainda planejando o avanço c4–c5. Nota-se que Korchnoi pressiona a todo o momento. 19.. .Taf8 20.a3 De8! Qual é o objetivo desta retirada? Os planos das pretas são . . .Dh5, . . .g5 e quiçá . . .Th6, com uma disposição ameaçadora ao redor do rei das brancas. 100 21.Dd3 O que as brancas esperam?! Por que não fazer 21.Cd4? A jogada segue o princípio: contra-atacar no centro quando agredido na ala! No entanto, viola o princípio: não permita que o oponente elimine os principais defensores do seu rei . Portanto, temos um caso de princípios conflitantes, em que este último domina. As pretas rapidamente constroem um ataque decisivo depois de 21. . .Bxg2 22.Rxg2 Cg5! (ameaçando um ataque duplo em e4) 23.f3 c5! 24.Cb5 fxg3 25.hxg3 De6! (ameaça de invasão em h3) 26.Th1 Ce4! e o cavalo não pode ser atacado devido a 27.fxe4 Tf2+ 28.Rg1 Tf1+ 29.Rg2 T8f2#. 101 21.. .Dh5 22.Tdd1 Mais uma vez, a jogada temática 22.Cd4?? falha por 22. . .Bxg2 23.Rxg2 fxg3 24.hxg3 Th6. 22.. .Rh8 23.Ch4 Essencialmente uma admissão de fato da verdadeira potência do ataque das pretas. Esse movimento, uma reescrita mal disfarçada do seu plano original de Cd4, parece errado. Mas é dif íci l sugerir outro lance, já que esperar que as pretas se organizem equivale à derrota. Não é possível identif icar um único cenário em que as brancas se salvem da sua aventura. A principal razão: as brancas provêm seu rei com pouca generosidade. Os demais defensores simplesmente não são suficientes para realizar o trabalho de protegê-lo. Houdini sugere aqui a atitude totalmente desumana 23.h3!, que de fato parece uma tentativa defensiva superior. O problema é que nós, humanos, fomos preparados para evitar movimentos que enfraquecem o entorno de nossos reis. Por isso a dif iculdade de encontrar um lance de máquina como h3. 102 23.. .Bxg2 24.Rxg2! A retomada correta. Se 24.Cxg2? f3! 25.exf3 Dh3! 26.f4 Th6 27.Ch4 Cxf4! é decisivo. 24.. .g5 Como sempre, Korchnoi segue o f luxo da posição e está disposto a ir aonde quer que as correntes o levem. MI Jeremy Silman escreveu um interessante artigo no chess.com sobre o movimento peculiar e favorito dos jogadores. O de Korchnoi é g4 quando está de brancas e . . .g5 quando de pretas. 25.Cf3 Th6 As casas claras h3 e f3 provam ser o elo mais fraco das brancas. 103 26.h4 As brancas também podem tentar 26.Dc3+ Rg8 27.g4 (o lógico 27.Td5?? é combatido com 27.. .Dh3+ 28.Rg1 g4 29.Ch4 f3 30.exf3 Txh4! 31.gxh4 gxf3) 27. . .Dxg4+ 28.Rh1 Dh5 29.Tg1 Tg6 30.Td5 com alguma compensação. 26.. .gxh4 27.Dc3+ Rg8 28.gxh4? Este movimento pouco faz para rechaçar a ameaça que se aproxima do rei das brancas. Em vez disso, 28.g4! Seguiria 28. . .Dxg4+ 29.Rh2 Tg6 30.Tg1 Df5 31.Td5 De4 32.Dd3 era a chance final das brancas de oferecer resistência significativa. 28.. .Dg4+ 29.Rh2 O caos para alguns é um lugar assustador, um abismo na escuridão. Para outros, como Korchnoi, o caos é abraçado e vira sinônimo de oportunidade. 29.. .Cg5!! 104 Dupla f inalidade: as pretas bloqueiam a ameaça de cravada com Tg1 ao longo da coluna "g" aberta e eliminam o único defensor de h4. Korchnoi abre ambas as posições dos reis e, em seguida, com a mesma destreza se reorganiza, de modo que apenas o rei das brancas f ique em perigo. 30.Cxg5 f3! 105 31.Dxf3 As brancas não têm escolha a não ser entregar sua dama. Com 31.Cxf3 Txf3 32.Dxf3 Txh4+ perde e para 31.Tg1 Txh4+ leva ao mate na próxima jogada. 31.. .Txh4+ 32.Dh3 Dxg5! 0–1 106 Partida 9 Anatoly Karpov x Veselin Topalov [A33] Linares – Espanha, 1994 107 O desempenho de Anatoly Karpov no Torneio de Linares de 1994 foi de 3.000 pontos de Elo, algo sem precedentes. Nove vitórias, quatro empates e nenhuma derrota num evento em que tomava parte a el ite do xadrez mundial . 1.d4 Cf6 2.c4 c5 3.Cf3!? cxd4 4.Cxd4 e6 5.g3 Cc6 6.Bg2 Bc5 7.Cb3 Be7 8.Cc3 0–0 9.0–0 d6 10.Bf4! 10.Bg5 também é possível , pressionando d6 indiretamente. 10.. .Ch5 11.e3! 108 Novidade! A continuação usual 11.Be3 dá apenas uma pequena vantagem: 11. . .Ce5 12.c5 d5 13.Bd4 Cc6 14.e4. A ideia de Karpov parece mais atraente: o branco abre a coluna "e" para pressionar os peões centrais, e os peões de c4 e f4 vigiam os peões de d6 e e6. 11.. .Cxf4 Único. As pretas não podem esperar, pois depois de 11. . .g6 o bispo branco vai para h6. 12.exf4 Bd7 13.Dd2 Db8 Não é fácil encontrar uma casa melhor para a dama. 14.Tfe1 g6 O avanço do peão de "f" deve serevitado, e isso é feito à custa de enfraquecer a estrutura de peões do flanco do rei . 15.h4 a6 Embora os dois cavalos brancos estejam na ala da dama, fazer 15. . .h5 seria imprudente demais. As brancas poderiam invadir com 16.Tad1 Td8 17.f5 gxf5 18.Dh6. 109 16.h5 No momento, não está claro o que as brancas vão empreender contra o rei preto, mas a situação fica clara após alguns lances. 16.. .b5 O grande mestre búlgaro é um jogador combativo e sempre à procura de contra-jogo. Entretanto, agora as brancas iniciam um ataque perigoso. 17.hxg6 hxg6 18.Cc5! dxc5 Após a retirada 18. . .Be8 o branco tem duas boas continuações: 19.Cxa6 (ou 19.Cxe6!? fxe6 20.Txe6 Tf6 21.Tae1 Txe6 22.Txe6 Bf7 23.Dd3 Dc8 24.Bxc6) 19. . .Txa6 20.cxb5 Tb6 21.bxc6. 110 19.Dxd7 Tc8 As brancas começam a derrubar a posição do adversário. 20.Txe6! Triunfo da estratégia pelas casas brancas! A torre, como um furacão, leva tudo em seu caminho. Obviamente, esse golpe teve que ser visto antes que o cavalo entrasse em c5. Caso 20.Bxc6 não ganha e leva a uma posição complicada depois de 20. . .Ta7 21.Dd3 Txc6 22.cxb5 c4 23.Df3 Tc8. 20.. .Ta7! 21.Txg6+! 111 As pretas são obrigadas a aceitar o sacrif ício. Caso contrário, perde forçado. 21.. .fxg6 No caso de 21. . .Rf8 22.Dh3 fxg6 23.Dh8+ Rf7 24.Bd5#; ou 21. . .Rh7 22.Dh3+ Rxg6 23.Be4+ Rg7 24.Dh7+ seguido de mate. 22.De6+ Rg7 23.Bxc6 Td8 24.cxb5 Bf6 25.Ce4 Bd4 26.bxa6 O branco ganhou muitos peões pela qualidade sacrif icada! 26.. .Db6 27.Td1 Dxa6 28.Txd4 112 Curioso: o terceiro sacrif ício de torre no jogo! 28.. .Txd4 29.Df6+ Rg8 30.Dxg6+ Rf8 31.De8+ Rg7 32.De5+ Se 32.Cxc5 Td1+ 33.Rh2 Df1 34.De5+ Rh6 35.Dg5+ Rh7 36.De5 venceria de maneira mais simples. No entanto, Karpov não teve tempo suficiente para calcular a sequência de jogadas mais precisa. 32.. .Rg8 33.Cf6+ Rf7 34.Be8+ Rf8 35.Dxc5+ Dd6 36.Dxa7 Dxf6 113 Pretas teriam se salvado na criativa variante 36. . .Td1+ 37.Rg2 Tg1+ 38.Rxg1 (no entanto, as brancas não são obrigadas a tomar a torre: 38.Rh3 Th1+ 39.Rg4 e tudo se acaba) 38. . .Dd1+ 39.Rg2 Dh1+ 40.Rxh1 afogado! 37.Bh5 Td2 38.b3 Tb2 39.Rg2 1–0 Obra-prima de Karpov! 114 Partida 10 Garry Kasparov x Vladimir Kramnik [D48] Dos Hermanas – Espanha, 1996 115 1.d4 d5 2.c4 c6 3.Cc3 Cf6 4.Cf3 e6 5.e3 Cbd7 6.Bd3 A linha principal da Semi-Eslava. Por que as brancas estão tão dispostas a perder tempo com seu bispo? As brancas de fato perdem um tempo depois que as pretas tomam em c4, mas tenha em mente que as pretas também perderão um tempo. Como? Sua ruptura com . . .c5 é absolutamente essencial; mas as pretas já gastaram um tempo com . . .c6, então quando jogarem . . .c5, esse é o tempo que perderão. Também é possível 6.Dc2. 6.. .dxc4 7.Bxc4 b5 8.Bd3 Bb7 116 O lance 8. . .a6 entra noutra importante variante. 9.0–0 Com 9.e4 b4 10.Ca4 c5 11.e5 Cd5 12.0–0 (12.Cxc5; e 12.dxc5 também são possíveis) 12. . .cxd4 13.Te1 g6 14.Bg5 Da5 15.Cxd4 a6 16.a3 bxa3 17.bxa3 Bg7 e as pretas têm recursos suficientes para permanecer niveladas conforme M. I lescas Cordoba-V. Kramnik, Madri 1993. 9.. .a6 Este lance pode ser considerado um pouco lento? Sim, mas necessário se as pretas planejarem sua ruptura com . . .c6–c5. 117 10.e4 c5 11.d5 c4 12.Bc2 Dc7 13.Cd4!? Raro. Normalmente, se as brancas querem jogar seu cavalo para d4 fazem antes 13.dxe6 fxe6. 13.. .Cc5 O lance 13. . .e5!? dá ao oponente um peão passado e parece não fazer muito sentido, mas foi jogado por jogadores muito fortes. Exemplo: 14.Cf5 g6 15.Ch6 Ch5 16.g3 Bc5 17.Df3 com vantagem para as brancas, Ma.Carlsen- A.Shirov, Biel 2011. 14.b4 cxb3 15.axb3 b4 16.Ca4 Ccxe4 Kramnik viu que a boa atividade das suas peças tem o benefício indireto de manter seu rei seguro. 118 17.Bxe4 Uma nova ideia na época. Mas desistir do par de bispos em uma posição aberta não parece uma boa. Com 17.dxe6 Td8! 18.exf7+ Rxf7 Y.Yakovich- M.Sorokin, Calcutá 1991, as pretas estavam pelo menos igual . 17.. .Cxe4 18.dxe6 Bd6 19.exf7+ Dxf7! 20.f3 Dh5 21.g3!? O rei estaria mais seguro depois de 21.h3? O rei das brancas está mais seguro, mas nessa l inha, as pretas conseguiriam entrincheirar o cavalo em e4, após 21. . .De5 22.f4 Df6. 119 21.. .0–0?! A vida raramente é como aparece. A posição das pretas irradia uma imagem de beleza deslumbrante, como um folheto turístico. E, assim como o folheto, a realidade quando de chega no local às vezes não coincide com a beleza da foto do anúncio. Depois que esse jogo foi disputado, o sacrif ício de Kramnik foi aclamado como de puro gênio pelos especialistas. Mas foi talvez um pouco prematuro e não se sustentou sob o olhar do monstro de sil ício. Kramnik, na verdade, escolheu o caminho de ataque errado, embora com boas chances práticas. O correto seria 21. . .Cxg3! 22.hxg3 (22.Te1+ Rf7 não incomoda as pretas) 22. . .0–0 23.Ta2! Bxg3 24.Tg2 e segue o jogo. 22.fxe4 Dh3 120 As brancas devem vencer com um jogo perfeito. Kramnik, como todos os predadores habil idosos, faz um exercício de paciência. 23.Cf3? A tarefa defensiva se mostra dif íci l demais para o então campeão do mundo. As brancas deveriam seguir com 23.De2! Tae8 (ou 23. . .Bxg3 24.Cf5! Be5 25.Bb2) 24.Txf8+ Bxf8 25.Be3 Bxe4 26.Df1 quando o ataque das pretas desaparece. 23.. .Bxg3! Cc5? 121 Kasparov se perde a chance mais uma vez. Ele deveria ter tentado 24.De2! 24.. .Txf3! Eliminando o defensor de h2. 25.Txf3? Kasparov cambaleia. Em vez disso, Kramnik sugere a melhor defesa 25.Ta2! Txf1+ 26.Dxf1 Dxf1+ 27.Rxf1 Tc8 28.Be3 Bf4 29.Cxb7 Bxe3 30.Txa6 quando as pretas têm a vantagem, mas as brancas ainda podem se manter devido ao material reduzido. 122 25.. .Dxh2+ 26.Rf1 Bc6! Uma imagem desorientadora. O branco vai perder, apesar de sua torre extra. 27.Bg5 Nada funciona. 27.. .Bb5+ 28.Cd3 Te8! Ameaça . . .Txe4 seguido por . . .Dh1+. 29.Ta2 Mais preciso é 29.Tc1 Dh1+ (agora não 29. . .Txe4? 30.Tc8+) 30.Re2 Txe4+ 31.Rd2 Dg2+, já que a torre em c1 bloqueia a rota de fuga do rei branco. 123 29.. .Dh1+ Vencendo. Mas já havia arremate! A sequência para o mate é: 29. . .Bxd3+! 30.Txd3 Dh1+ 31.Re2 Dg2+ 32.Re3 Txe4#. 30.Re2 Se 30. . .Txe4+ 31.Rd2 [31.Be3 Dg2+ 32.Tf2 Dxf2# 31.. .Dg2+ 32.Rc1 Dxa2 33.Txg3 Da1+ 34.Rc2 Dc3+ 35.Rb1 Td4 0–1 Este jogo deve ser visto como uma advertência: nem todos os ataques improváveis estão destinados a falhar! Se você não acredita, basta ver algumas das partidas do Mikhail Tal . . . 124 Partida 11 Viswanathan Anand x Joel Lautier [B01] Biel – Suíça, 1997 125 1.e4 d5 Anand não se lembrava que Lautier t ivesse jogado a Defesa Escandinava antes, mas presumiu que ele a estudara minuciosamente nos meses anteriores enquanto estava ausente das competições. 2.exd5 Dxd5 3.Cc3 Da5 4.d4 Cf6 5.Cf3 c6 6.Bc4 Anand explicou que 6.Ce5 era mais popular na época, mas ele optou por esse movimento em parte por razões práticas, pois era provável que Lautier estivesse menos familiarizado com ele. 126 O lance 6.Ce5 entra em l inha principal , mas na época era menos popular. Havia também um elemento objetivo na escolha de Anand: durante a preparação para o seu match pelo Campeonato Mundial com Kasparov (em que Anand jogou a Escandinava em um jogo), ele notou que "as l inhas com 6 Bc4 eram águas muito perigosas para as pretas navegarem." 6.. .Bf5 7.Ce5 Isso foi escolhido por razões semelhantes. Apesar de 7.Bd2 oferecer às brancas uma l igeira vantagem, Anand lembrou que, de acordo com sua análise, 7.Ce5 e 8.g4 colocam mais problemas para as pretas. 7.. .e6 8.g4 Bg6 9.h4 Cbd7! 127 A 9. . .Bb4 10.Bd2 Ce4 11.f3! Cxc3 12.bxc3 Bxc3 pode ser respondido com 13.h5!, embora as brancas precisem ter cuidado. 10.Cxd7 Cxd7 11.h5 Be4 12.Th3 Desenvolver a torre na terceira f i leira é bastante normal nas l inhas em que as brancas jogam g4 e h4. Entre outras vantagens, a torre defende o possívelponto fraco em c3. 12.. .Bg2 Um bonito lance intermediário. Ideia do GM francês Eric Prié, provocando Rg3. A alternativa é jogar 12. . .Bd5 imediatamente. 128 13.Te3 A torre vai para a casa e3? Isso não convida o preto a jogar . . .Cd5? Não é melhor fazer o natural 13.Tg3? Quando Anand optou por 13.Te3, ele logicamente levou essa manobra de cavalo em consideração. 13.Te3 é uma ideia notável e muito profunda, que não estava na preparação, mas que foi elaborada diante do tabuleiro. No entanto, não está claro que seja a melhor jogada, por razões igualmente profundas. De fato, 13.Tg3 foi o primeiro pensamento de Anand, que ele também considerou um pouco melhor para as brancas, apesar de um eventual . . .Bd6. 129 13.. .Cb6?! Uma resposta muito natural , que parece explorar a posição da torre em e3. Planeja . . .Cd5 mas, como Anand provará bri lhantemente, que não é o melhor. Se 13. . .b5 14.Bd3 b4 15.Ce4 também não seria muito promissor. As pretas logo teriam que aceitar a troca de seu bispo de casas claras, entregando o par de bispos e permanecendo em uma posição um pouco inferior. Sabendo o que sabemos hoje, anos após este jogo, o que é melhor para as pretas? As chances são a base de 13. . .Dc7!, que é outra ideia de Eric Prié, possivelmente encontrada após seu jogo com Bauer. Prié disse que havia indicado a Lautier antes da partida, mas ele esqueceu a análise. Prié mais tarde teve a chance de jogar 13. . .Dc7! em T. Moriuchi-E.Prié, San Sebastian 2005. As brancas responderam com 14.f4?!, enfraquecendo sua estrutura de peões. 130 14.Bd3! Ao passo que 14.Bb3 Cd5 é menos claro. 14.. .Cd5 Qual foi a ideia de Anand em colocar sua torre na e3? 15.f3! 131 Este suti l movimento é a chave da ideia das brancas. Segundo Anan: "Abandona alguns peões e/ou a qualidade, a f im de caçar o bispo de g2". Anand calculou que, embora ele não tenha nenhuma vantagem material após a tomada do bispo do g2, já que as pretas trocam uma torre e dois peões por duas peças menores, as peças menores serão mais ativas do que a torre preta, que não possui colunas abertas. Juntamente com a vantagem no desenvolvimento, isso dará a vantagem às brancas. Tudo isso foi avaliado e calculado por Anand quando ele jogou 13.Te3. 132 Admirável , você não acha? 15.. .Bb4 Depois de 15. . .Cxc3 16.bxc3 Dxc3+ 17.Bd2 Dxd4 18.Rf2 Bxf3 19.Rxf3 0–0–0 20.Tb1; ou 15. . .Cxe3 16.Bxe3 Db6 (as pretas podem criar mais confusão com 16. . .Ba3!?, mas os computadores ainda preferem as brancas, embora não com grande vantagem) 17.Rf2 Bh3 18.Tb1 (ou 18.Rg3, alcançamos o tipo de posição descrita por Anand acima e que é boa para as brancas) . 16.Rf2! Bxc3 Agora 16. . .Cxc3 17.bxc3 Bxc3 18.Tb1 Bxd4 19.Rxg2 Bxe3 20.Bxe3 cria um cenário ainda mais favorável para as brancas, que ameaçam capturar em b7, enquanto se 20. . .0–0–0 então 21.Dc1 , seguido por Db2, é muito forte. 133 17.bxc3 Dxc3 18.Tb1 Dxd4 Com 18. . .Bxf3 19.Dxf3 Cxe3 (19. . .Dxd4 20.Txb7 0–0, então 21.De4 toma a qualidade e vence, conforme indicado por Anand) 20.Dxe3 permite que as brancas defendam o peão em d4 e ameacem Rxb7, enquanto se 20. . .b6 (20. . .0–0–0 falha por 21.Txb7!, explorando a dama preta solta) 21.Bd2 Da3 22.De5! A atividade das brancas dá uma vantagem decisiva. Alternando a ordem de movimentação 18. . .Cxe3 19.Bxe3 Bxf3 20.Dxf3 permite que as brancas mantenham seu importante peão central . Então depois de 20. . .0–0–0, as brancas ativam suas peças com uma velocidade surpreendente: 134 21.Tb3 Da5 22.Be4! e agora 22. . .Dc7 (22. . .Thf8? perde de uma vez para 23.Bxc6! bxc6 24.Dxc6+ Dc7 25.Da6+ Rd7 26.Tb7) 23.Bf4 Dd7 24.Bxc6! Dxc6 25.Tc3. 19.Txb7 Td8 O rei preto ainda está no centro e as peças das brancas estão ativas. A outra l inha crítica era 19. . .Bh3. O que Anand tinha em mente nesse caso? As brancas podem explorar a posição da dama preta mais uma vez com 20.Txf7! Anand comentou que terminou a sua análise aqui, mas Lautier calculou mais profundamente: 20. . .c5 (defendendo a dama e ameaçando tomar a torre) 21.Tf5!! e ganha. Por exemplo, 21. . .Cxe3 (ou 21. . .c4 22.Tf4!!) 22.Bxe3 Db2 23.De2! (ameaçando Bb5+ Anand complementa: 23.Txc5 0–0 24.Rg3! ganha também) 23. . .exf5 24.Bxc5+ e mate. 135 No caso de 19. . .Cf4 20.Rg3 Dd6, as brancas têm uma boa chance com 21.Ba3!, e se 21. . .Dxa3 , então (depois de 21. . .Cxh5+ 22.Rxg2 Dg3+ 23.Rf1, as brancas ameaçam 24.Te7+ e também capturam o cavalo em h5) 22.Be4! (Anand) (ou 22.Bb5!) Finalmente, 19. . .0–0–0 pode ser respondido pelo simples 20.Txf7 Rb8 21.Dg1! 20.h6!! Este não é o primeiro movimento que vem à mente. Na "ChessBase Magazine" nº 60, Anand explicou seu processo de pensamento: "Aqui vi a possibil idade de Bg6 e depois percebi que não funcionava porque, em um determinado momento, as pretas simplesmente jogavam . . .Tg8. 136 Então, vi a possibil idade de h6, quando . . .Tg7 poderia ser respondido com Tg7+! De repente, tudo o que restava era verif icar os detalhes." Para esclarecer, a primeira l inha que ele viu (que não funcionou) foi 20.Bg6?? Dxd1 21.Txe6+ Rf8 22.Ba3+ (ou 22.Txf7+ Rg8) 22. . .Ce7 23.Bxe7+ Rg8 e as pretas vencem. 20.. .gxh6? "Isso me deu a chance de ter um final realmente bonito. As pretas ainda podiam lutar com . . .Cxe3, mas Lautier não tinha visto a ideia por trás de h5- h6" (Anand). Tendo em vista a punição severa agora aplicada, 20. . .Cxe3 era preferível , embora as brancas continuassem ganhando depois de 21.Bxe3 De5 22.hxg7 Tg8 23.Dc1!, cobrindo o bispo de e3 para possibil itar Rxg2, enquanto também ameaça Da3, (ou similar 23.Dg1! Observe que as brancas devem evitar 23.Bh6? Dh2!) . 21.Bg6!! Ce7 137 Agora se 21. . .Dxd1 as pretas levam mate: 22.Txe6+ Rf8 23.Bxh6+ Rg8 24.Bxf7#. E não há melhores defesas: 21. . .Dxe3+ 22.Bxe3 hxg6 (ou 22. . . fxg6) 23.Dd4 vence com várias ameaças. 21. . .Df6 22.Bxf7+ Dxf7 23.Txf7 Cxe3 24.Dxd8+! (retirar a dama é bom, mas a opção mais prática e mais forte é simplesmente devolvê-la) 24. . .Rxd8 25.Bxe3 Bh3 26.Txa7 com vitória fácil . 21. . .Cxe3 22.Bxf7+ Rf8 23.Dxd4 Txd4 24.Bxe3 também vence com facil idade, ameaçando mate com Bxh6, mais a torre e o outro bispo. 138 22.Dxd4 Txd4 23.Td3! O lance 23.Txe6 segue Td7 24.Txd7 Rxd7 25.Bxf7 e venceria, Mas o movimento da partida é mais simples, el iminando a única peça ativa das pretas. 23.. .Td8 24.Txd8+ Rxd8 25.Bd3! 1–0 Depois de 25.Bd3 Bh1 26.Bb2 Te8 27.Bf6, as pretas estão paralisadas e em breve perderão material . 139 Partida 12 Sergey Karjakin x Magnus Carlsen [C95] Sandnes – Noruega, 2013 140 Antes deste jogo, Karjakin havia vencido quatro partidas consecutivas contra a el ite mundial . Ele chegou perto de alcançar quinta, se não fosse pela defesa de Carlsen. 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Ba4 Cf6 5.0– 0 Be7 6.Te1 b5 7.Bb3 d6 8.c3 0–0 9.h3 Cb8 A variante de Breyer da Ruy Lopez. As pretas recuam para levar seu cavalo para d7, permitindo que seu peão de "c" tenha flexibil idade para avançar. 10.d4 Cbd7 11.Cbd2 Bb7 12.Bc2 Te8 13.a4 141 Mais comum é 13.Cf1 Bf8 14.Cg3 g6 15.a4 c5 16.d5 c4 17.Bg5 h6 18.Be3 Cc5 19.Dd2 h5 20.Bxc5 dxc5 O branco pode ficar um pouco melhor, já que seu peão de "d" ultrapassado supera o controle das casas escuras das pretas (A.Grischuk- G.Kamsky, Nalchik 2009). 13.. .Bf8 14.Bd3 c6 15.Dc2!? Uma surpresa preparada para Carlsen, que derrotou Karjakin no Campeonato Mundial de Blitz de 2010 após a continuação mais comum 15.b3: 15. . .Dc7 16.Dc2 Tac8 17.Bb2 Ch5 18.Bf1 Cf4 19.b4 Cb6 20.axb5 cxb5 21.dxe5?! dxe5 22.Db1 Tcd8 23.g3 Ce6 24.h4 Ca4 25.Ta3 Td7 26.Ba1 Ted8 27.Da2 Cb6 28.Bh3?! Td6. 142 15.. .Tc8 Coloca a torre na mesma fi leira da dama das brancas. O lance 15. . .g6 é visto com mais frequência. 16.axb5 axb5 17.b4 Não está tão claro se as pretas são as únicas donas do jogo na ala da dama. No momento, ambos os lados se esforçam para obterganhos por lá. Uma ideia por trás de jogar b4 é que movimentos como . . .c5 podem ser respondidos com bxc5, seguido por d5, criando um peão de "d" passado. 17.. .Dc7 143 Uma novidade. A sequência 17. . .g6 18.Bb2 Ch5 19.g3 exd4 20.cxd4 d5 21.Bc3 Cb6 22.e5 foi jogada na partida N.Short-L.Portisch, Wijk aan Zee, 1990. O cavalo das pretas ganhou acesso o c4, enquanto as brancas podem gerar um ataque ao rei com sua maioria nessa ala. O branco fica melhor, já que seu cavalo também pode pular para a casa fraca c5, via b3. 18.Bb2 Ta8 Brigando pela coluna "a". O lance 18. . .c5?! parece prematuro depois de 19.bxc5 dxc5 20.dxe5! c4 (e se 20. . .Cxe5? 21.Cxe5 Txe5 22.c4 quando o branco pega um peão ou uma troca) 21.exf6 cxd3 22.Dxd3 Cxf6 23.e5 Cd7 24.Dxb5 as pretas têm o par de bispos e excelente jogo nas casas claras. Mas isso vale dois peões? 19.Tad1 Cb6?! As pretas lutam pelo controle de c4. Embora a jogada não atrapalhe a ruptura de c4 do branco, ela enfraquece e5, um fato que Karjakin logo percebe. 144 20.c4! bxc4 21.Cxc4 "E as pretas se encontram em uma posição realmente desagradável . O que quer que ele faça, a iniciativa das brancas é forte", escreveu o GM Mikhail Golubev. 21.. .Cxc4 22.Bxc4 As pretas devem se preocupar com e5 e também com f7. 22.. .h6 145 22.. .exd4 23.Bxd4 d5 (de outra forma, 23. . .Cd7?? 24.Cg5 Ce5 25.Bxe5 ganha e 23. . .Cxe4?? é respondido por 24.Bd5! Cf6 quando as brancas vencem com 25.Cg5!) 24.e5! c5 25.Bb3! Ce4 26.Txe4! dxe4 27.Cg5 Te7 28.Bxc5 e as brancas recuperam a qualidade sacrif icada e f icam com uma clara vantagem. 23.dxe5 dxe5 24.Bc3 Brancas tinham a opção de 24.Dc3 Bd6 25.Bb3 Bc8 26.Txd6! Dxd6 27.Cxe5 Be6 28.Bc2 Tec8 29.Td1 Dc7 30.Cd3 com vantagem. Pela qualidade, elas recebem um peão, o par de bispos, um posto avançado em c5 para o seu cavalo e possíveis chances de ataque ao rei . 24.. .Ba6 Carlsen espera se desfazer de seu bispo passivo. 25.Bb3! 146 O bispo das brancas é mais forte. 25.. .c5?! Carlsen espera el iminar seu peão de "c" fraco e caminhar para uma posição empatada. No entanto, ele errou. Pretas minimizariam sua desvantagem com 25. . .Bb5. 26.Db2! Com o alvo em e5. 26.. .c4! 147 27.Ba4! Te6 28.Cxe5 Lá vai um peão central importante. 28.. .Bb7 29.Bc2? Depois de superar Carlsen completamente, Karjakin falha em encontrar a continuação mais forte. O branco deve jogar 29.Bb5! Ba6 30.Bd7 Tb6 31.b5 Bxb5 32.Bxb5 Tab8 33.Ba5 c3 34.Dxc3 Dxc3 35.Bxc3 Txb5 36.Cd3 Cd7 com um peão extra, embora o fato de que todos os peões restantes estarem de um lado do tabuleiro aumente as chances de empate das pretas. 29.. .Tae8 30.f4 148 Este movimento de enfraquecimento é obrigatório se as brancas quiserem agarrar-se ao seu peão extra. 30.. .Bd6! Veja como, nos próximos movimentos, Carlsen ataca o ponto e5 de todos os ângulos. 31.Rh2 Golubev chamou sua jogada de "aparência absurda". Mas as opções das brancas não parecem tão boas. 149 31.. .Ch5! Carlsen procura um ponto de apoio ofensivo como alvo. 32.g3 f6! 33.Cg6 Os exércitos colidem e se entrelaçam no centro. 33.. .Cxf4! A jogada 33. . .Bxe4?! permite que as brancas se segurem com 34.Txe4 Txe4 35.Bxe4 Txe4 36.Dc2 Cxg3 37.Rxg3 Te3+ 38.Rh4 Bxf4 39.Df5! Txc3 40.De6+ Rh7 41.Cf8+ Rh8 42.Cg6+ com empate. 34.Txd6! 150 O rei das brancas está vulnerável; O peão "e" das brancas é fraco; As pretas controlam e5. Karjakin encontra o único caminho para mantê-lo vivo, tendo em vista que 34.gxf4?? Bxf4+ 35.Rh1 Txe4! 36.Bxe4 Txe4 37.Rg1 Bd2!! e se 38.Dxd2 Dg3+ 39.Rf1 Dxh3+ 40.Rf2 (40.Dg2 pendura a dama com 40. . .Txe1+) 40. . .Df5+ mate. 34.. .Cxg6 35.Txe6 Txe6 1. 2. 3. 36.Bd4?! Se 36.Bb1 h5! 37.Dd2 h4 38.De3 Ce5 não parece tão fácil para as brancas, mas é melhor do que o que aconteceu no jogo. 151 36.. .f5! Carlsen aproveita a última jogada das brancas, que deixa a torre e1 desprotegida. 37.e5 Esta não é uma situação em que possamos nos confortar. A posição vacilante das brancas se desfaz se você encontrar a continuação correta das pretas. As brancas não sobrevivem com 37.Dc3 fxe4 38.Bb3 Bd5 39.Bd1 Ch4. 37.. .Cxe5!! 152 Sacrifício. Uma posição deteriorada tende a desmoronar dos lados para dentro ou do meio para fora. O sofrimento das brancas é um exemplo da última categoria. Karjakin é incapaz de se manter, já que ele não consegue segurar sua peça extra, devido às inúmeras ameaças de mate. Não se deve jogar 37. . .Dc6?? por 38.Bxf5 e é o branco quem ganha. 38.Bxe5 Dc6! Ameaça de mate. 39.Tg1 Tudo perde. 153 39.. .Dd5! Ameaçando o bispo, e também um xeque mortal em d2. 40.Bxf5 Txe5 41.Bg4 h5! 42.Bd1 O 42.Td1 é recebido com o bonito sacrif ício da dama: 42. . .Dxd1! 43.Bxd1 Te1 44.g4 h4! cortando a rota de fuga do rei branco e forçando a vitória. 42.. .c3! Pretas governam o tabuleiro. 43.Df2 Na mais resolve: 154 Se 43.Db3 Te2+! e ganha. E 43.Dxc3 Da2+ 44.Dc2 Dxc2+ 45.Bxc2 Te2+ mate. 43.. .Tf5 44.De3 Df7! Ameaçando um xeque mortal em f2. 45.g4 Te5! 46.Dd4 E se 46.Dxe5 Df2+ 47.Tg2 Dxg2# 46.. .Dc7! 0–1 Depois de 46. . .Dc7! 47.Tg3 Te1 48.Bb3+ Rh8 49.Bd5 Te2+ 50.Bg2 Txg2+ e as aspirações ilusórias do rei branco pela imortalidade são abaladas por sua morte iminente. 155 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Botvinnik, Mihail. Avro 1938 - Uno de los grandes torneos de la historia. Santa Eulalia de Morcín: Chessy Editorial, 2008. Engqvist, Thomas. Petrosian: Move by Move. London: Everyman Chess, 2014. Franco, Zenon. Anand: Move by Move. London: Everyman Chess, 2014. Giddins, Steve. Nimzowitsch: Move by Move. London: Everyman Chess, 2014 Karpov, Anatoly. My Best Games. Berlin: Edition Olms, 2008. Lakdawala, Cyrus. Capablanca: Move by Move. London: Everyman Chess, 2012. Lakdawala, Cyrus. Kramnik: Move by Move. London: Everyman Chess, 2013. Lakdawala, Cyrus. Carlsen - Move by Move. London: Everyman Chess, 2014. Lakdawala, Cyrus. Korchnoi: Move by Move. London: Everyman Chess, 2014. 156 Lakdawala, Cyrus. Fischer: Move by Move. London: Everyman Chess, 2015. Smyslov, Vassily Vassilievitch. Xadrez. Partidas Selecionadas de V. V. Smyslov. São Paulo: IBRASA, 1999. Tal, Mikhail. The Life and Games of Mikhail Tal. London: Everyman Chess, 2012. 157 EQUIPE EDITORIAL Autores: MN Gérson Peres Batista Profa. Dra. Nabylla Fiori de Lima Edição: Prof. Jeovane Cascais Santos CRÉDITOS DAS IMAGENS Pixabay 158 AUTORES Gérson Peres é mestre nacional e tetracampeão mineiro absoluto. É formado em pedagogia, pós- graduado em tecnologias e educação a distância, além de técnico desportivo com habilitação em xadrez (Cref 9681-P/MG). Superou a marca de 16,5 mil alunos atendidos em escolas, clubes e pela internet, tendo já disputado mais de 800 torneios em sua carreira. Fundou o Clube de Xadrez Online - CXOL (http://www.cxol.com.br), site que já publicou 16 mil artigos especializados. Criou o Canal CXOL no YouTube (https://www.youtube.com/clubedexadrezonline), que tem nesse momento mais de 1300 vídeos no ar. 159 http://www.cxol.com.br/ https://www.youtube.com/clubedexadrezonline Coautor dos livros impressos "O Espírito da Abertura" e "Os Mestres do Xadrez", escreveu ainda 23 livros digitais através da série MÉTODO DOS 6 PILARES. É autor de mais de 700 videoaulas que compõem o catálogo da Loja do CXOL (https://www.lojacxol.com.br). Desde 1989 vem jogando e ensinando xadrez, levando a modalidade hoje para mais de 60 mil enxadristas com ações diárias pró-xadrez promovidas por sua empresa! 160 https://www.lojacxol.com.br/ Nabylla Fiori é treinadora de xadrez, certificada pelo Clube de Xadrez Online. Doutora em Tecnologia e Sociedade, se graduou em Letras e em Música. Hoje dedica-se principalmente ao xadrez e às artes corporais chinesas. É responsável pelo perfil da @bibliotecadexadrez no Instagram, onde posta conteúdo de estudos de xadrez através dos livros. Tem paixão por livros e ama ensinar. 161 https://www.instagram.com/bibliotecadexadrez
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