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Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 1 Capítulo 21 Vidros Eduvaldo Paulo Sichieri*; Rosana Caram* e Joaquim Pizzutti dos Santos** * Livre Docente, Escola de Engenharia de São Carlos, USP **Professor Doutor, Universidade Federal de Santa Maria e-mail: sichieri@sc.usp.br; rcaram@sc.usp.br; joaquim@smail.ufsm.br 1 Introdução Existem materiais e técnicas construtivas que são sinônimos de uma época. Outros não apenas permeiam e caracterizam um período histórico, como se transformam em recursos atemporais, a ponto de serem tomados praticamente como insubstituíveis. Esse é o caso do vidro, um recurso que chegou para ficar na construção civil desde a segunda metade do século 19. Depois que o movimento moderno radicalizou as possibilidades de uso extensivo do material, a construção civil nunca mais foi a mesma. Já que não é possível viver sem o vidro e que, na realidade, ele é um dos mais importantes e versáteis materiais postos à disposição dos engenheiros e arquitetos, é fundamental estudá-lo, analisar suas características e utilizá-lo eficiente e eficazmente. 1.1 Histórico A descoberta ou invenção do vidro está perdida no tempo. Alguns atribuem-na aos fenícios, outros aos egípcios e há quem faça referência a fatos que remontam ao ano 3.000 a.C. Contudo, o uso do vidro é conhecido a partir de 1.500 a.C., no Egito. Por volta do ano 100 a.C., os romanos contribuíram muito para o desenvolvimento das indústrias do vidro, iniciando a produção de vidro por sopro dentro de moldes. O uso do vidro como proteção de janelas, data dos séculos III e IV da era cristã. Foi no século VI, na Catedral de Santa Sofia em Constantinopla, que o primeiro vidro colorido foi aplicado na arquitetura. É desse período, entre os anos 500 e 600 d.C., que foi descoberto um novo método de fabricação do vidro plano por sopro de uma esfera e sua sucessiva ampliação por rotação em forno. Alguns historiadores defendem a idéia de que as Cruzadas foram responsáveis pela vinda da arte do vidro do Oriente para Veneza, onde se estabeleceu durante o século XI. O ano de 1200 é marcado por um grande desenvolvimento na tecnologia do vidro com a invenção do processo de fabricação por sopro de cilindros. Os primeiros vidros de cristal, realmente incolores e transparentes, bem como o espelho, surgiram em Veneza, entre o século XIII e XVI. No século XVII começou-se a fabricar os vidros escoados, que consistia na produção de grandes placas de vidro sobre mesas, estendidos com um grande rolo. Este processo passou por etapas evolutivas ao longo do século XVIII. Neste século, houve o surgimento do vidro plano transparente e a janela tornou-se protagonista na composição da fachada, ocorrendo sua autonomia. A produção em série começou em 1827, em Boston, EUA, com o emprego de máquinas na fabricação do vidro. Com as inovações tecnológico-construtivas e o emprego em larga escala do ferro e do vidro no século XIX, houve um aumento dos vãos e das aberturas, provocando uma ruptura nos ritmos de fachada de alvenaria. Em 1917, foi inventado o processo contínuo de laminação de vidros de janelas, simultaneamente, por Emil Fourcault, na Bélgica, e Irwing W. Golbern, nos Estados Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 2 Unidos. Em 1952 foi inventado o processo float1 de fabricação de vidro que é utilizado até hoje, o que garantiu uma qualidade muito grande do vidro. No século XX, com o desenvolvimento do aço e do concreto, o vidro passou a ser mais difundido e as janelas começaram a predominar nas fachadas dos edifícios, tornando-se elementos integrantes delas. O grande uso do vidro advém de suas características bastante interessantes para a construção civil como durabilidade, transparência, dureza, impermeabilidade, ser produzido com recursos abundantes na natureza, e ser 100% reciclável. Além disto, a indústria do vidro colocou-se a serviço do projetista tentando responder às exigências atuais. Existe hoje no mercado uma variedade muito grande de vidros que aceitam diversos tratamentos, aplicados sobre diferentes tipos e espessuras, resultando elementos de características muito variadas, que podem ainda ser combinados em produtos laminados ou em caixilhos múltiplos. 2 Definição e Matérias Primas – Conceito Geral Por vidro entende-se um produto fisicamente homogêneo obtido pelo resfriamento de uma massa inorgânica em fusão, que enrijece sem cristalizar através de um aumento contínuo de viscosidade. Excluindo-se as substâncias orgânicas que possuam propriedades análogas (polímeros termoplásticos2), industrialmente pode-se restringir o conceito de vidro aos produtos resultantes da fusão pelo calor de óxidos inorgânicos ou seus derivados e misturas, tendo como constituinte primordial a sílica (óxido de silício) que, por resfriamento, enrijece sem cristalizar. Assim, em função da temperatura, o vidro pode passar a tomar os aspectos: líquido, viscoso e frágil (quebradiço). De uma forma mais científica, podemos definir esses materiais de forma que nos auxilie na compreensão de diversas propriedades e características dos vidros: é um sólido, não cristalino, e que apresenta transição vítrea. Observando a figura 1, no ponto A, o vidro encontra-se na forma de um líquido estável. Através desta figura podemos entender a transição vítrea como sendo a faixa de temperatura abaixo da qual o vidro passa do estado de líquido superesfriado, entre os pontos B e E, para o estado vítreo. Na fase de líquido superesfriado, existe um início de arranjo dos átomos de óxido de silício com os seus vizinhos. Quando o esfriamento é lento, observa-se uma contínua diminuição do volume do volume até a temperatura ambiente, devido a um maior grau de ordenamento dos átomos sem que, no entanto possam constituir cristais das moléculas de sílica. Também podemos observar nesta figura que se uma massa de vidro sofrer esfriamento rápido ocupará um volume maior, ou seja, terá densidade menor que o mesmo vidro esfriado lentamente. Isso ocorre porque durante o esfriamento rápido os átomos terão menos tempo para se rearranjarem. Este rearranjo, menor para o resfriamento rápido e maior para o resfriamento lento, para quando a temperatura fica abaixo de Tg. Portanto, Tg é dependente da composição química do material e, também, da sua velocidade de esfriamento. Na produção de um vidro, a superfície sempre esfria mais rapidamente que o interior. Portanto, a superfície tende a ocupar um volume maior do que a parte interna do vidro. Como estas duas partes estão consolidadas em uma única massa, uma querendo ocupar um volume maior e a outra um volume menor, surgem tensões de compressão na 1 Ver item 4 deste capítulo. 2 Ver Capítulo 12 deste livro. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 3 superfície e tensões de tração no interior, que poderão ser suficientes para quebrar o vidro antes dele ser utilizado. Para proporcionar o alívio de tensões, deve ser realiza um recozimento do vidro, aquecendo-o até o ponto E, que é a Tg da superfície mais tencionada. Após todo o vidro atingir o equilíbrio nesta temperatura, segue-se um resfriamento lento seguindo todo o trajeto entre os pontos E e F, até atingir a temperatura ambiente, sem que existam tensões residuais. Obtém-se assim, o vidro recozido. Figura 1: Diagrama temperatura versus volume representando processos de solidificação e formação de vidros. Com um resfriamento brusco da superfície dovidro, através de jatos de ar, a partir do ponto E, podemos obter os vidros temperados. A camada superficial vai esfriar rapidamente, enquanto o núcleo vai esfriar mais lentamente. A parte externa terá, portanto, um maior volume que o núcleo. Como resultado, a superfície vai ficar submetida permanentemente a tensões de compressão e o núcleo a tensões de tração. Isso dificulta a propagação de trincas e aumenta a resistência do vidro, quando comparado com o vidro recozido. Quando as tensões forem suficientes para que uma trinca se propague pela superfície, o vidro se estilhaça em inúmeros pedaços. O ponto B é considerado como a temperatura acima da qual o vidro encontra-se totalmente no estado líquido. Se durante o resfriamento a temperatura do vidro for mantida no ponto B por um tempo correto, haverá uma maior reordenação das moléculas de sílica e uma conseqüente diminuição do volume até o ponto C. Completando o resfriamento obtêm-se os chamados “cristais de vidro”. Neste caso, a estrutura ainda é vítrea mas com uma maior ordenação do óxido de silício, e menor volume final. Portanto, não há a formação de cristais no sentido técnico da palavra mas, essa maior ordenação popularizou chamar esse produto de um “vidro cristal”. O vidro de sílica pura (areia) possui excelentes qualidades, no entanto, são muito caros de produzir devido a necessidade de alta temperatura para que ocorra uma fusão homogênea do material (~2000oC). A introdução de óxidos modificadores de cadeia, como os óxidos de metais alcalinos (sódio, potássio e lítio) e o PbO, reduz a energia de ativação requerida para a movimentação atômica necessária à fluidez do vidro líquido, baixando a temperatura de fusão para valores abaixo de 1600 ºC. Mas, a presença de grandes quantidades de Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 4 óxidos alcalinos resulta em um vidro de baixa qualidade, solúvel em água e sujeito a devitrificação (cristalização). Outros óxidos, chamados de agentes modificadores, como os de metais de transição CaO, MgO, e Al2O3, e de terras-raras são então adicionados, aumentando a resistência química e a resistência a devitrificação. A adição de maiores teores de sílica (óxido de alumínio), torna o vidro mais viscoso em altas temperaturas. Como a sílica é formadora de rede, embora sozinha não forme vidro, sua presença aumenta a coesão da estrutura do vidro, tornando esses vidros resistentes a altas temperaturas, quando comparados com os sodo-cálcicos. Podemos, então, relacionar os principais tipos de vidro a partir de sua composição química: • Sodo-Cálcico: São utilizados em embalagens em geral: garrafas, potes e frascos. O vidro plano é utilizado na indústria automobilística, na indústria da construção civil e na indústria de eletrodomésticos. • Boro-Silicato: São utilizados em utensílios domésticos resistentes a choque térmico. • Ao Chumbo: São utilizados na fabricação de copos, taças, cálices, ornamentos, e peças artesanais (o chumbo confere mais brilho ao vidro). • Aluminoborossilicato: São utilizados em tubos de combustão, fibras de vidro, vidros com alta resistência química e vitro-cerâmicos3. O vidro sodo-cálcico é o vidro para janelas. Pode ser obtido pelo processo de fabricação float ou estirado, podendo ser beneficiado e transformado em produtos tais como o vidro curvo, temperado, laminado, espelho, metalizado, entre outros. Possui múltiplos componentes, sendo formado principalmente por: - Um vitrificante, a sílica, na forma de areia. Fornece o SiO2; - Um fundente, soda ou potassa, na forma de sulfato ou carbonato; - Um estabilizante, a cal, na forma de carbonatos. Os vidros estirados, transparentes, incolores ou coloridos, são obtidos através de um estiramento contínuo, inicialmente vertical, de espessura regular e com suas faces polidas. O vidro mais moderno é o float, com a composição básica do Quadro 1. Quadro 1: Composição da mistura do vidro float incolor. Fonte: CEBRACE. Produtos minerais Produtos químicos Mistura Vitrificável SiO2 (areia) CaCO3 (calcário) CaMg(CO3) 2 (dolomita) Na2O.Al2O3 (feldspato) Na2CO3 (Barrilha) Na2SO4 100% 57,46% 10,56% 9,88% 2,96% 16,46% 2,96% De cada cem partes dessa mistura vitrificável obtém-se 83 partes de vidro e 17 partes de perda por volatilização, restando a composição básica: Quadro 2: Composição final do vidro float incolor. Fonte: CEBRACE. SiO2 K2O Al2O3 Na2SO4 MgO CaO 72% 0,3% 0,7% 14% 4% 9% 3 Ver item 6 deste Capítulo. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 5 3 Estrutura A unidade básica da rede de sílica é o tetraedro silício-oxigênio, figura 2. Figura 2: Unidade básica da rede de sílica. (a) Representação tri-dimensional; (b) Representação bi-dimensional. Os tetraedros de sílica estão ligados pelos vértices, através do compartilhamento do átomo de oxigênio, por dois átomos de silício. Os átomos de oxigênios partilhados formam pontes entre os átomos de silício, e por isso são chamados de pontantes. Em vidros minerais de sílica pura, como o quartzo, a relação entre silício e o oxigênio é de 1:2. Por isso, embora a rede básica seja um tetraedro, temos a formulação SiO2. Assim, na representação bidimensional, se observarmos que cada átomo de silício está ligado a um quarto átomo de oxigênio abaixo ou acima do plano do papel, a rede tridimensional, poderá ser observada como na figura 3. Figura 3: Representação bidimensional do cristal de sílica (a), e da sílica vítrea (b). Fonte: HIGGINS (1977). Alguns íons metálicos, como o do sódio, quando presentes no vidro, se ligam ionicamente ao oxigênio. Isto provoca uma descontinuidade na rede pois alguns átomos de oxigênio não são mais compartilhados entre dois tetraedros mas a apenas um átomo de silício. Este oxigênio, portanto, não pode mais ser chamado de pontante. Por essa razão, os óxidos de metais alcalinos são utilizados como fundentes pois, diminuem a viscosidade do vidro quebrando algumas ligações ou pontes, figura 4. Figura 4: Representação bidimensional de um vidro de carbonato de sódio. Fonte: HIGGINS (1977). a) b) Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 6 4 Processos de Fabricação do Vidro Float O float confirmou ser uma tecnologia de ponta e, em menos de duas décadas, tornou-se o sistema produtivo dominante na indústria mundial, e vem substituindo definitivamente os processos clássicos do vidro estirado4. Esse processo diferencia-se do processo de estiramento na melhoria das qualidades óticas do vidro final. Esse vidro é obtido por meio do escoamento da mistura vitrificável derretida sobre uma base de estanho líquido, em atmosfera controlada. Nesse processo o vidro forma uma camada contínua que flutua sobre o banho e que deve ser mantida a alta temperatura (~1100oC) e tempo suficiente para que sumam as irregularidades e as superfícies fiquem planas e paralelas, esfriando ao longo do banho, sendo então retirada (~600oC). No processo de produção do vidro float são cumpridos os seguintes estágios: 1. Forno de Fusão – a mistura dos componentes do vidro é colocada no forno de fusão, através de correias transportadoras, em temperaturas de até 1600OC, sendo fundida e transformada numa massa homogênea; 2. Banho Float – essa massa é derramada em uma piscina de estanho líquido no qual, por diferença de densidade, flutua sobre o estanho. A partir desse ponto é determinada a espessura da chapa de vidro; quanto maior a velocidade da linhamenor será a espessura resultante; 3. Galeria de Recozimento – a folha de vidro é resfriada controladamente até aproximadamente 120oC, sendo preparada para o corte; 4. Inspeção Automática – antes do recorte, a lâmina passa pela inspeção do Scanner com feixe laser, que identifica falhas e faz o refugo quando necessário; 5. Recorte, Empilhamento e Armazenagem – as chapas são então recortadas em dimensões pré-programadas, empilhadas em pacotes para a expedição e armazenadas. Após a produção do vidro, estes podem sofrer beneficiamentos tais como esmerilhagem, gravação, opacação, furação, tratamentos decorativos, têmpera e outros que irão conferir características finais ao produto. 5 Classificação dos Vidros A Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT adotou a norma MERCOSUL NM 293:2004 como Norma Brasileira, a partir de 30/06/2004, com o número de referência ABNT NBR NM 293: Terminologia de vidros planos e dos componentes acessórios a sua aplicação. Um resumo desta classificação pode ser observado no Quadro 3. A NBR 11706 – Vidros na construção civil, fixa as condições exigíveis para os vidros planos aplicados na construção civil (colocação, dimensões, defeitos, etc.). Quadro 3: Resumo da classificação dos vidros , segundo NBR NM 293:2004. Tipo Forma Transparência Acabamento Coloração Colocação Recozido Temperado Plano Plano de segurança* Curvo Transparente Translúcido Opaco -Liso -Polido -Impresso -Impresso anti- reflexo -Serigrafado Incolor Colorido ou absorvente Caixilhos Autoportantes Mista 4 Vidro estirado é um vidro plano transparente, incolor ou colorido, obtido através de um estiramento contínuo, inicialmente vertical, de espessura regular e com suas faces polidas. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 7 Laminado Aramado Duplo ou insulado Endurecido** Perfilado Ondulado -Fosco -Metalizado ou Refletivo -Vidro de baixa emissividade ou Low E -Gravado -Esmaltado *Vidro plano cujo processamento de fabricação reduz o risco de ferimentos em caso de quebra. Deve atender aos requisitos de norma específica de classificação dos vidros quanto ao risco de impacto humano acidental. **Vidro submetido a um tratamento térmico visando tornar sua resistência ao impacto e às variações térmicas aproximadamente duas vezes maiores que a do vidro comum. Por ter padrão de quebra similar ao vidro comum, não pode ser considerado vidro de segurança. Os vidros podem ser utilizados em envidraçamento em caixilhos simples ou múltiplos; em paredes, na forma de tijolos; em concreto translúcido e coberturas. 6 Principais Tipos de Vidros Utilizados na Construç ão Civil Os principais tipos de vidros utilizados na construção civil são descritos a seguir: 6.1 Vidro Float Incolor O processo de fabricação do vidro float incolor é utilizado como base para a produção em grande escala dos outros tipos de vidros, como os coloridos, laminados e refletivos. As características óticas do vidro float incolor de 3 mm são geralmente adotadas como padrão de comparação com os demais tipos de elementos transparentes. Esse tipo de vidro está disponível nas espessuras de 2 a 19 mm. 6.2 Vidro Float Colorido Ou Absorvente O processo de produção desse tipo de vidro é idêntico ao float incolor, com a incorporação à mistura vitrificável de aditivos minerais, de acordo com a coloração desejada. Os vidros coloridos são obtidos pela adição de compostos de metais de transição 3d ou de terras-raras 4f5. No entanto, a cor final obtida depende do estado de oxidação do metal, além da sua concentração e da composição do vidro. O fabricante nacional cita a incorporação de Selênio (Se), Óxido de Ferro (Fe2O3) e Óxido de Cobalto (Co3O4) para atingir as diferentes cores dos vidros existentes no mercado que são o verde, o bronze, o cinza e mais recentemente o azul6. A finalidade principal desse tipo de vidro é a redução da transmitância solar7, pela absorção de uma grande parcela da energia incidente, reduzindo o ganho de calor direto e o ofuscamento no interior do edifício. As espessuras disponíveis desses vidros são as mesmas do incolor. 6.3 Vidro Temperado 5 Ver Capítulo 6, tabela periódica dos elementos químicos. 6 www.cebrace.com.br 7 Ver item 10.4, propriedades óticas, neste capítulo. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 8 Como as aplicações do vidro foram evoluindo, fez-se necessário dar uma resistência mecânica maior ao produto, graças a painéis maiores e à utilização em lugares mais altos, surgiram então os vidros temperados, considerados vidros de segurança. A fabricação destes vidros consiste em um processo de têmpera obtida pelo aquecimento gradativo a uma temperatura próxima do ponto de amolecimento do vidro (700°C) e depois ocorre um resfriamento rápido atra vés de jatos de ar. Já que o vidro é um mau condutor, este resfriamento provoca apenas o endurecimento da parte externa do vidro, sendo que no seu interior as moléculas ainda estão moles. Este aquecimento seguido de um resfriamento rápido provoca no vidro tensões internas (tração no interior mole e compressão na superfície endurecida), conferindo-lhe resistência mecânica até cinco vezes maior que a do vidro comum e, em caso de quebra, se fragmenta em pedaços pequenos sem bordas cortantes. Resiste a temperaturas de trabalho de até 250 ºC, conforme NBR NM 293. A NBR 14698/2001 – Vidro temperado, especifica os requisitos gerais, métodos de ensaio e cuidados necessários para garantir a segurança, a durabilidade e a qualidade do vidro temperado plano em suas aplicações na construção civil. Também fornece a metodologia de classificação deste produto como vidro de segurança. Esse tipo de vidro está disponível nas espessuras de 4 a 12 mm. 6.4 Vidro Laminado Esse elemento é um vidro de segurança, sendo composto de duas ou mais lâminas de vidros coladas pela intercalação de 1 até 4 filmes de policarbonato ou polivinil butiral (PVB), um material resistente, com aderência ao vidro e boa elasticidade. A ligação final filme-vidro é obtida por tratamento térmico sob pressão. A aderência da película às chapas e sua propriedade elástica faz com que em caso de rompimento, ou de quebra acidental, os fragmentos sejam retidos e a lâmina permaneça íntegra, dificultando a entrada de pessoas ou objetos através desse tipo de vidro. O número de lâminas de vidros, de camadas de filme, e os tipos dos vidros utilizados na composição variam de acordo com o uso a que se destinam, sendo muito grande essa gama de opções de acordo com as necessidades dos projetistas. Podem ser utilizados os vidros incolores, coloridos e refletivos, e ainda diferentes cores e combinações de cores do filme de PVB, conforme se queira determinada propriedades espectrofotométricas do conjunto8. Esse fato salienta a dificuldade de obtenção, por parte dos profissionais, das reais características óticas desse tipo de vidro, que estão associadas às características e ao tipo e número de camadas de vidros e de PVB que compõem o vidro laminado final. Na composição do vidro laminado com um vidro refletivo no conjunto, a camada metalizada deve ficar protegida no interior, para evitar o desgaste da mesma, principalmente quando utilizados os vidros metalizados pelo processo a vácuo. O vidro composto dessa maneira é denominado de vidro laminado refletivo. As espessuras dos vidros laminados podem chegar a 60 mm, com resistência a balas de arma de fogo de diversos calibres. No entanto, o processo de laminação possuiuma limitação quanto à relação entre as espessuras das chapas dos vidros componentes sendo que, a maior espessura não deve exceder a 1,5 vezes o valor da menor, devido às quebras que ocorrem na autoclavagem. Os vidros laminados são usados principalmente como uma eficiente barreira mecânica em vitrines, parapeitos, dependências esportivas, piscinas, clarabóias e outros, mas vêm ganhando um espaço maior na arquitetura principalmente pela possibilidade de várias opções de cores. 8 Ver item 10.4, propriedades óticas, neste capítulo. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 9 Uma tecnologia mais recente de laminação utiliza a resina líquida de poliéster que pode apresentar em relação ao PVB, vantagens no processo de fabricação com menor tempo e custo, maior segurança, e ainda menores limitações no uso, não possuindo restrições quanto ao material a ser laminado. A NBR 14697/2001 – Vidro Laminado, especifica os requisitos gerais, métodos de ensaio e cuidados necessários para garantir a segurança e a durabilidade do vidro laminado em suas aplicações na construção civil, bem como a metodologia de classificação deste produto como vidro de segurança. 6.5 Vidros Metalizados ou Refletivos Os vidros refletivos são produzidos tendo como base o vidro float incolor ou colorido, sendo depositada em uma de suas faces uma camada de óxido metálico. O tratamento dos vidros, com o depósito de uma camada muito fina de óxido metálico sobre a superfície, tem por finalidade a absorção de comprimentos de onda específicos, resultando uma coloração característica. Nesse caso, ocorre uma grande reflexão por parte do filme metálico devido ao fato dos metais empregados possuírem muitos níveis de energia vazios, contínuos, logo acima do nível em que se encontram os elétrons livres, sendo a energia dos fótons incidentes absorvida para a excitação desses elétrons e logo após re-emitida novamente com o decaimento energético dos mesmos. A cor percebida está, portanto, mais relacionada ao feixe refletido (re-emitido) na camada metálica. Dessa maneira, os vidros de coloração prateada, quando expostos à luz branca, refletem igualmente todos os comprimentos de onda do visível, enquanto os que possuem alguma coloração diferenciada, como o dourado ou cor de cobre, refletem mais no comprimento de onda associada a sua coloração dominante. Dois processos são os mais utilizados para deposição da camada metálica: � Por pulverização catódica no campo eletromagnético e câmara de vácuo, com impulso de metal e óxidos metálicos, resultando os denominados vidros refletivos a vácuo. Nesse processo em uma câmara com vácuo, parcialmente ocupada com um gás (argônio, oxigênio ou nitrogênio), chapas de vidro cortadas movem-se sobre cilindros, sendo posicionadas sob uma placa do metal a ser depositado, de tamanho similar ao vidro. Com alta voltagem, são produzidos elétrons de alta energia entre o vidro e a placa, formando íons de carga positiva no gás que colidem com a placa do metal ejetando átomos do mesmo, que então se projetam e condensam na superfície do vidro, formando a camada metálica. Um campo magnético permanente sobre a chapa de metal aumenta a velocidade de deposição dos átomos metálicos, assegurando a uniformidade da camada. A Figura 5 (a) esquematiza esse processo. � Por fusão dos óxidos metálicos em alta temperatura e seu englobamento na superfície das placas, através de sistemas de bocais que pulverizam o aerossol, contendo o óxido e o gás transportador, diretamente e em continuidade na linha de produção, resultando os denominados vidros refletivos pirolíticos. Esse processo é apresentado na Figura 5 (b). O tratamento pirolítico, por ser efetuado na própria linha de produção do float, é ideal para a fabricação de um tipo de vidro durante longo período, não sendo conveniente haver muitas variações de tipos de produtos finais, pois ocorrem perdas acentuadas com a mudança na linha de produção. Já os processos de deposição efetuados fora da linha de produção, como o por pulverização catódica a vácuo, são mais flexíveis e possíveis de serem utilizados para a produção em períodos curtos de uma pequena quantidade de determinado vidro, possibilitando escolhas mais diversificadas por parte dos projetistas. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 10 Figura 5: Esquema de produção do vidro refletivo a vácuo (a) e pirolítico (b). Fontes: GRANQVIST (1991); CARAM (1998). Os vidros refletivos pirolíticos foram desenvolvidos devido às dificuldades apresentadas pelos projetistas, com relação à melhoria do conforto térmico em países do hemisfério norte com clima predominantemente frio buscando, segundo ARNAUD (1997), atingir os seguintes objetivos: � Alta transmissão da luz visível, primeira função da janela; � Reflexão do infravermelho (IV) longo9 (7000 a 10000 nm10), para evitar perdas do calor interno; � Transmissão do infravermelho (IV) próximo11 (780 a 1500 nm), para permitir o aquecimento pela radiação solar no inverno, com risco de superaquecimento no verão; � Neutralidade de cor na transmissão e reflexão; � Resistência mecânica e química da camada refletiva; � Possibilidade de tratamentos térmicos posteriores, como a têmpera. Observa-se que no caso de climas frios a colocação da camada refletiva voltada para o interior diminui as perdas através da radiação no infravermelho longo, devido a sua baixa emissividade. Esse item é o principal responsável pelo desenvolvimento desse tipo de vidro em países de clima com períodos frios mais longos e mais intensos durante o ano. Para o clima quente esse item não tem uma importância tão acentuada. Por outro lado, a obtenção de vidros com boa transmissão da radiação solar incidente no infravermelho próximo está em desacordo com esse tipo de clima, pois o risco de superaquecimento no interior do edifício é muito maior. Portanto, vidros que apresentam bom desempenho nos países onde foram desenvolvidos, muitas vezes não são convenientemente usados em outros locais com outros climas, nos quais as exigências a serem cumpridas são diferentes. 9 O infravermelho longo, situado entre 7000 e 10000 nm, corresponde a radiação térmica (calor) normalmente encontrada na temperatura ambiente. 10 1 nm = 10-9m 11 O infravermelho próximo, situado entre 780 e 1500 nm, corresponde a cerca de 52% da radiação solar que chega na terra. Sua absorção por uma superfície e sua posterior re-emissão para o ambiente na forma de infravermelho longo, produz aumento da temperatura e a sensação de calor. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 11 Segundo o fabricante, o processo pirolítico assegura ainda grande estabilidade da camada de óxido, sendo possível sua utilização com a camada voltada para o exterior, no entanto, os dois tipos de vidros refletivos são basicamente utilizados na confecção de vidros laminados com a camada refletiva ficando no interior do vidro. Os vidros refletivos a vácuo, de acordo com ARNAUD (1997), têm uma reflexão no Infra Vermelho (IV) longo próxima de 95% devido a esta camada refletiva, o que pode contribuir para o aquecimento do ambiente construído. Este efeito é ideal para países de clima frio pois o óxido depositado na face interna do vidro impede a saída de calor. Também, dados obtidos em espectrofotômetro por SANTOS (2002) mostraram que a maioria dos tipos de vidros refletivos é, na verdade, muito absorvente, podendoprovocar uma sobrecarga térmica extra nos edifícios pela re-emissão do calor absorvido para o interior, além do desconforto devido à temperatura radiante elevada próximo a estes elementos. Estes dois efeitos combinados, alta reflexão do IV longo e re-emissão do calor absorvido, exigem do projetista um cuidado especial e o conhecimento das características espectrofotométricas para a correta especificação deste tipo de vidro em climas brasileiros, uma vez que pode proporcionar um maior consumo de energia dos edifícios com o uso do ar refrigerado e com o uso de iluminação artificial. Em princípio, o tratamento refletivo pode ser efetuado sobre qualquer cor e espessura de vidro float, no entanto, as espessuras padrões de venda no Brasil, apresentadas no catálogo do fabricante são de 3, 4, 5, 6, 8 e 10 mm para os metalizados a vácuo, e de 4, 6, 8 e 10 mm para os pirolíticos. 6.6 Vidro Impresso ou Fantasia O vidro impresso possui desenhos ou motivos ornamentais em uma ou duas de suas faces, sendo também chamado por isso de vidro “fantasia”. Estes desenhos são bastante variados, podendo ser pontilhado, em mosaico, boreal, etc. Pelo fato de ser um vidro translúcido, é usado como barreira visual sem prejuízo da luminosidade. 6.7 Vidro U-Glass Este é um vidro perfilado autoportante em forma de “U”, sendo utilizado em vãos amplos. A seção resistente de suas barras é sua principal prerrogativa. Devido à sua alta resistência mecânica, é denominado também de “vidro estrutural”. 6.8 Vidro Aramado Este vidro também é considerado de segurança, porém possui uma resistência mais baixa que o temperado. O vidro aramado é um vidro impresso translúcido incolor ou colorido, que contém no seu interior uma malha metálica que resiste à corrosão, ao fogo e não produz estilhaços. Além disso, esta tela protege contra corpos estranhos, não deixando transpassá-la. 6.9 Vidros Serigrafados Vidros serigrafados são vidros que foram submetidos ao processo de serigrafia. Esta técnica consiste na aplicação de uma camada de esmalte por meio de uma tela serigráfica na(s) face(s) do vidro. Essas camadas, além de provocar efeitos plásticos interessantes, também possibilitam um controle de sombreamento e privacidade, além do uso para escrita e propaganda. Há no mercado, desde 2001, vidros serigrafados com motivos ornamentais: peixinhos, flores, folhas, desenhos geométricos, motivos infantis e outros. 6.10 Vidro Duplo ou Insulado Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 12 É composto por duas ou mais lâminas de vidros, separadas por gás inerte (podendo ser desde ar desidratado até gases nobres – argônio, criptônio ou xenônio), através de um ou mais espaçadores que impedem a entrada de umidade e a saída do gás, figura 6. As bordas do vidro são hermeticamente fechadas com materiais que suportam altas e baixas temperaturas e resistem à radiação ultravioleta. Diversos tipos de vidro podem ser utilizados em sua composição: monolítico incolor ou colorido, temperado, metalizado ou laminado, e seu desempenho varia de acordo com as características das lâminas utilizadas, o espaçamento entre elas e com o tipo de gás utilizado. Este sistema apresenta bom isolamento acústico, baixa transferência de calor por condução, efeito anti-embaçamento devido a introdução de um dessecante na câmara ou da introdução de ar desidratado ou ao gás inerte, e segurança, quando composto com laminado duplo ou múltiplo. Se o caixilho for montado com policarbonatos, diminui a condutividade do sistema. Podem ser utilizadas também as películas de baixa emissividade, low-e, conforme será visto no item seguinte. Muito tem sido explorada a possibilidade de inserção de persianas com acionamento manual ou por controle remoto nestes sistemas de fachadas. Podem ser utilizados também pequenos brises e materiais transparentes ou translúcidos que diminuem a convecção do ar no interior, como algumas estruturas capilares, aerogéis ou planos difusores de luz. Além do uso na construção civil como em fachadas, coberturas, portas e janelas, o vidro duplo também é utilizado em refrigeradores, fogões, veículos e aeronaves. Figura 6: Vidro Isolante. Fonte: CARAM ( 2002). 6.11 Vidros de Baixa Emissividade (Low-E) No início da década de 80 os fabricantes de vidros estiveram ativamente envolvidos em desenvolver vidros com películas de baixa emissividade. Em 1987 as janelas com esse tipo de películas já representavam 17% das vendas nos EUA. As películas de baixa emissividade (low-e) possuem filmes que reduzem a transferência de calor (infravermelho longo) através das janelas. É um filme fino de um óxido metálico que é colocado diretamente sobre o vidro em uma ou mais superfícies, no caso de caixilhos múltiplos. São avaliadas pelo total de calor que emitem, e quanto menor for a emissividade melhor o comportamento da película, pois menos ela absorverá e mais ela refletirá o calor. Os valores de emissividade situam-se entre 0,04 a 0,35. Quando aplicada em vidros simples ou mesmo em caixilhos múltiplos, a película localiza-se preferencialmente na face do vidro voltada para o interior da edificação, com a finalidade de refletir o calor de volta para o recinto, e esta situação é adequada para climas frios, onde normalmente se tem algum sistema de climatização para aquecer o Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 13 recinto e não é desejável que o calor gerado no ambiente escape através das vidraças. Como as películas são de baixa emissividade, e conseqüentemente de baixa absorção, elas diminuem a perda de calor para o exterior através da absorção. Habitualmente as películas de baixa emissividade são depositadas nos vidros pelos fabricantes, sendo que o consumidor já encontra o caixilho pronto com as películas aplicadas. Mas também são encontradas no mercado para que o próprio usuário ou firma especializada as coloque. 6.11.1 Superwindows Há opções surgindo no mercado que resultam em grande resistência térmica, através da combinação de múltiplas camadas de películas low-e; inserção nos panos de vidros de gases com baixas condutâncias; barreiras poliméricas entre os panos com a finalidade de reduzir a convecção do gás inserido, e conseqüentemente a troca de calor entre os vidros; além dos próprios caixilhos mais estanques e isolantes. A combinação destas variáveis total ou parcialmente, leva ao que se denomina hoje de superjanelas, ou na literatura internacional, de superwindows (ASHRAE, 1003). Análises sobre as superjanelas realizadas no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, Califórnia, mostraram que para melhorar a eficiência energética das janelas para climas frios seria necessário eliminar o ar interno de envidraçamentos múltiplos e preenchê-los com gases inertes como argônio, kriptônio, pois estes reduzem a transmitância térmica total (U)12 dos envidraçamentos, conforme pode ser observado no Quadro 4. Além disso, se nos vidros tivessem em suas faces aplicadas películas de baixa emissividade, a eficiência do sistema melhoraria significativamente, considerando que a resistência térmica do sistema aumentaria. A ilustração da Figura 7 mostra a composição de um caixilho triplo com inserção de gás inerte e aplicação de película de baixa emissividade na face interior dos dois vidros externos. Para fins comparativos é apresentada uma tabela mostrando a transmitância térmica total para caixilhos múltiplos com e sem inserção de gases inertes e de películas low-e. Quanto maior a transmitância térmica, menor será a resistência térmica da janela. Cabe observar que o argônio é encontrado com maior facilidade e é mais barato. Quadro 4: TransmitânciaTérmica Total (U) para vidraças com caixilhos múltiplos. Tipo de Envidraçamento U (W/m2 oC) Vidro duplo: 12,7mm; ar. 2,72 Vidro duplo: 12,7mm; ar; e = 0,20*. 2,21 Vidro duplo: 12,7mm; ar; e = 0,10*. 2,10 Vidro duplo: 12,7mm; argônio; e = 0,10*. 1,93 Vidro triplo: 12,7mm; argônio; e = 0,10* duas faces. 1,30 Vidro quádruplo: 6,4mm; kriptônio; e = 0,10* duas faces. 1,25 * emissividade da película low-e. Fonte: CARAM (2002). 12 Ver item 12.2.1 deste Capítulo Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 14 Figura 7: Ilustração de uma super janela: vidro triplo, inserção de gás inerte e película de baixa emissividade. Fonte, CARAM (2002). 6.12 Materiais Cromogênicos A propriedade básica dos materiais cromogênicos é exibir uma alteração em suas características óticas, a partir de variação no campo elétrico, carga, intensidade de luz ou temperatura. Estas mudanças ocorrem no espectro solar de forma geral. Os materiais cromogênicos têm sido pesquisados desde algumas décadas e estão ainda em desenvolvimento. Podem ser classificados como envidraçamentos passivos ou ativos. São passivos quando respondem à diferença de temperatura ou presença de luz. São ativos quando passíveis de sofrerem interferência do usuário, como por exemplo, aplicação de voltagem. 6.12.1 Materiais Cromogênicos Passivos: Fotocrômicos e Termocrômicos Os passivos compreendem os fotocrômicos e os termocrômicos, os quais variam suas características de transmissão de luz em função da incidência solar e em função da oscilação da temperatura interna do ambiente. Não são fabricados em escala industrial para uso em edificações. Os vidros fotocrômicos mudam suas propriedades óticas tornando-se escuros quando expostos à radiação ultravioleta e aos comprimentos de onda mais curtos do visível, mas revertem à sua cor original na ausência da luz. A transmissão ótica pode variar de 5 a 90%, dependendo da composição do vidro. Os materiais termocrômicos, quando submetidos à uma temperatura maior que a do ambiente, tornam-se opacos, através de reações químicas termicamente induzidas ou por mudanças de fases. Este processo é reversível à medida que a temperatura abaixa. Na ocorrência de alterações de fases, o material muda sua distribuição atômica podendo causar espalhamento ou absorções múltiplas de luz. 6.12.2 Materiais Cromogênicos Ativos: Cristais Líquidos e Eletrocrômicos Os materiais cromogênicos ativos são representados pelos vidros eletrocrômicos e cristais líquidos, que constituem as chamadas “janelas inteligentes” ou smart windows. O princípio de funcionamento dos cristais líquidos baseia-se na influência que o campo elétrico tem nas cadeias moleculares, conforme Figura 8. Quando não há aplicação de voltagem, as moléculas encontram-se desalinhadas e provocam o espalhamento da luz, resultando então, num vidro com uma coloração branca translúcida. Com a aplicação de voltagem ocorre o alinhamento das moléculas, permitindo Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 15 a transmissão da luz, que se mantém enquanto o campo elétrico for aplicado. Desta forma o vidro mantém-se incolor e transparente. Figura 8: Influência elétrica no alinhamento molecular em cristais líquidos. Fonte: CARAM (1998). Não são indicados para uso em fachadas, pois não podem ser submetidos à temperatura superior a 40oC. No interior das edificações são muito utilizados para recintos que exigem privacidade como unidades de terapia intensiva de hospitais, escritórios, consultórios médicos. Já os eletrocrômicos, são considerados os mais promissores em termos de aplicação para grandes áreas envidraçadas na construção civil. As janelas eletrocrômicas são sistemas constituídos de camadas de filmes finos que mudam sua coloração conforme a aplicação de potencial elétrico nos seus condutores eletrônicos. São formadas por cinco filmes finos prensados entre dois substratos de vidro, conforme mostra a Figura 9. Figura 9 : Esquema de Janela Eletrocrômica: 1 e 7 Vidro; 2 e 6 Condutor transparente; 3 Reservatório de Íons; 4 Eletrólito; 5 Filme eletrocrômico. Fonte: SICHIERI (2001). O fenômeno de mudança de coloração está ligado à inserção de íons de Lítio (Li+) ou Hidrogênio (H+) que vêm da camada de eletrólito para a camada de filme eletrocrômico, geralmente formado por óxidos de tungstênio, nióbio ou vanádio. No caso, por exemplo, de óxidos de tungstênio e nióbio ocorre brusca mudança de coloração, passando de quase transparentes (transmissão de 80%) para azul escuro (transmissão de 10%). Os vidros eletrocrômicos possuem memória; isto significa que com a aplicação de um a cinco volts obtém-se a mudança de coloração do vidro e esta pode permanecer de 12 a 24 horas, sendo que para descolorí-lo, basta mudar a polaridade dos eletrodos. A durabilidade estimada deste sistema é de 5 a 15 anos. 6.12.3 Vidros Com Camadas Dicróicas Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 16 Filtros dicróicos podem ser aplicados a vidros, com resultados plasticamente interessantes. A camada dicróica, aplicada a vácuo, tem a propriedade de transmitir certos comprimentos de onda (certas cores) e refletir outros, dependendo do ângulo de incidência da radiação incidente. 6. 13 Vitrocerâmicos São materiais obtidos normalmente a partir de silicatos de alumínio, lítio e magnésio. Os sistemas Li2O - Al2O3 - SiO2, CaO - MgO - SiO2 e MgO - Al2O3 - SiO2 também são tradicionalmente utilizados na produção de esmaltes para revestimentos cerâmicos. Quimicamente são semelhantes aos vidros comuns, mas apresentam maior complexidade devido ao surgimento de micro-cristais que conferem alta resistência mecânica e baixa dilatação térmica. Os vitrocerâmicos tradicionalmente são obtidos submetendo as peças de vidro a um tratamento térmico de nucleação e cristalização. No entanto, o futuro promissor da produção dos vitrocerâmicos está associado à reciclagem de resíduos. As cinzas volantes e as escórias possuem em sua composição química altos teores de sílica (SiO2), óxido formador da rede vítrea 13. Estes resíduos podem também apresentar teores significativos de Al2O3, CaO, Na2O, Fe2O3, e outros óxidos de metais e ligas em menores teores. Possuem, portanto, composição química complexa onde prevalece o alto teor de sílica. A vitrificação destes tipos de resíduos, seguidas por tratamentos térmicos adequados, semelhantes aos processos de sinterização das massas cerâmicas, promove uma cristalização controlada obtendo-se, então, os materiais vitrocerâmicos que, apresentam propriedades superiores ao vidro produzido pela fusão destes resíduos. Outro processo usual para a produção dos vitrocerâmicos consiste em submeter pó de vidro obtido através da reciclagem e submetê-lo a compactação e, posteriormente, a altas temperaturas para promover a sinterização e a cristalização controlada, sem fusão da massa. Este processo é especialmente utilizado quando se pretende obter peças de formas complexas, que não podem ser produzidas pelos processos tradicionais de conformação do vidro como o sopro, laminação e prensagem. Vidros especialmente formulados para a produção de vitrocerâmicos podem também ser utilizados para se obter texturas e cores especiais, além de ser possível obter alta resistência mecânica, alta resistência ao risco e ao ataque químico. Produtos vitrocerâmicos são produzidos para revestir edifícios, pisos, bancadas de laboratórios, para a produção de esmaltes vitrocerâmicos(que proporcionam a queima rápida de revestimentos cerâmicos e louças sanitárias), e para a produção de peças que serão submetidas a altas temperaturas em fornos domésticos. 7 Apresentação Comercial dos Vidros Os vidros float (incolor ou coloridos) e os vidros refletivos encontrados no mercado sob duas diferentes marcas, Santa Marina e Blindex, possuem, na verdade, as mesmas características espectrofotométricas, uma vez que são produzidos no Brasil por uma mesma indústria, a Companhia Brasileira de Cristais (Cebrace), que é uma joint venture da francesa Saint-Gobain e da britânica Pillkington. A americana Guardian fabrica no Brasil também esses tipos de vidro, com características diferentes. 7.1 Dimensões De Fabricação 13 Ver item 2 deste Capítulo. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 17 A NBR 11706/1992 – Vidros na construção civil, fixa as condições exigíveis para vidros planos aplicados na construção civil. A unidade de compra é o metro quadrado. As dimensões das chapas correntes no mercado (comprimento e largura) são em múltiplos de 5 cm, dentro das dimensões de fabricação. Formas especiais sofrem um acréscimo de preço, correspondentes às perdas e mão-de-obra para recortes. As espessuras nominais das chapas de vidro, produzidas no mercado brasileiro, são indicadas no Quadro 5. As tolerâncias e defeitos admissíveis são indicados na NBR 11706/1992. Quadro 5: Espessuras nominais das chapas referentes ao tipo de vidro, segundo NBR 11706/1992. Os vidros laminados são compostos com as dimensões deste quadro. Espessuras Nominais, em mm Tipo de Vidro 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 10,0 12,0 15,0 19,0 Vidro recozido estirado incolor X X X X X X x Vidro recozido “float” incolor X X X X X X X X X X Vidro recozido impresso, incolor ou colorido. X X X X X Vidro termoabsorvente, recozido ou temperado, estirado ou “float”. X X X X X Vidro temperado ou “float” incolor X X X X X X Vidro fosco X X X X X X X X X X Vidro termorrefletor X X X X X X Vidros impressos e vidros de segurança aramados14 X X X X X 8 Cálculos de Espessura dos Vidros Os cálculos das espessuras do vidro têm por finalidade determinar a espessura correta para cada emprego, levando em conta a ação do vento, choques mecânicos normais durante a limpeza e outros de ordem acidental, que ocorrem freqüentemente. Para tal fim, os cálculos incluem um coeficiente de segurança da ordem de 2.33, isto nos casos dos vidros correntes existentes no mercado. Evidentemente, para cada condição há uma espessura correspondente, conforme NBR 6123, porém nem sempre devemos utilizar as espessuras resultantes dos cálculos, já que os vidros mais finos, sendo mais frágeis, oferecem um perigo maior aos operários no manuseio e durante a colocação, e por isso mesmo, tem suas dimensões máximas limitadas. Os consumidores, portanto, encontrarão maior garantia e menos prejuízos por quebra, utilizando vidro mais espesso nos casos de necessidade de larguras superiores. Assim, beneficiar-se-á o consumidor com um conforto maior, melhor isolação e mais segurança. 8.1 Pré-Dimensionamento Se tivermos um vão de 2,50m de comprimento por 1,25m de largura para envidraçar, situado no décimo pavimento de um edifício (aproximadamente 34m de 14 Como as espessuras reais das chapas destes vidros variam em cada ponto característico do desenho, não se especificam as tolerâncias de espessuras, mas as das massas médias por metro quadrado da chapa de vidro, conforme NBR 11706/1992. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 18 altura), determinamos a espessura exata do vidro da seguinte maneira: Primeiramente calculamos a relação comprimento/largura que é 2: (a/b = 2,50/1,25 = 2). No diagrama da Figura 10, localizamos o valor 2 no eixo a/b e deste ponto partimos verticalmente até a curva 100Kgm² (correspondente à pressão do vento de 20 a 60m). Ao atingirmos a referida curva, partimos para a esquerda e achamos no eixo e/b o valor 5,15 que representa a relação entre a espessura e a largura (e/b = 5,15). Tirando-se o valor de “e” (5,15 X 1,25), temos a espessura desejada, ou seja, 6,44 que, comercialmente, representa o vidro de 7mm ou 8mm de espessura, conforme o vidro desejado. Obs: O diagrama a seguir é válido apenas para pré-dimensionamento e para peças simplesmente apoiadas em seus quatro lados. 60 – até 6m de altura 76 – de 6 a 20m 100 – de 20 a 60m 126 – de 60 a 100m 160 – Acima de 100m Pressão do vento em Kg/m2 a / b e / b 60 – até 6m de altura 76 – de 6 a 20m 100 – de 20 a 60m 126 – de 60 a 100m 160 – Acima de 100m Pressão do vento em Kg/m2 60 – até 6m de altura 76 – de 6 a 20m 100 – de 20 a 60m 126 – de 60 a 100m 160 – Acima de 100m 60 – até 6m de altura 76 – de 6 a 20m 100 – de 20 a 60m 126 – de 60 a 100m 160 – Acima de 100m Pressão do vento em Kg/m2 a / b e / b Figura 10: Diagrama para cálculo preliminar da espessura de uma chapa de vidro segundo a pressão do vento. 9 Cuidados na Colocação dos Vidros Segundo as NBR 7199, 10820, 10821, 10830, 10831 e NBR NM 293 : 2004 da ABNT, os vidros devem ser aplicados e mantidos de forma que, por ocasião da colocação ou após a mesma, não sofram danos ou tensões capazes de alterá-los ou quebrá-los, independente da causa. Os caixilhos onde os vidros serão colocados deverão permanecer planos e resistir às ações combinadas dos agentes exteriores, do movimento dos edifícios e do peso do envidraçamento. Os itens a, b, c, d abaixo indicam os cuidados mínimos necessários para a colocação dos vidros em caixilhos: a. Rebaixos: os caixilhos devem ter seus rebaixos com as seguintes dimensões mínimas: • altura: 10 a 15mm • base (colocação com massa): 15 mm (com baguete ou cordão): 10 a 15 mm • As folgas são da ordem de 3mm a 4.5mm • As esquadrias deverão ser previamente pintadas com tintas adequadas b. Calços: recomenda-se a utilização de calços de neoprene, borracha natural ou facultativamente, outro plástico rígido, cedro ou madeira imunizada. Não devem ser usados calços de madeira comum, por apodrecerem, nem de chumbo, for formarem pólos Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 19 elétricos. Devem ser suficientemente rígidos, para que não se deformem de maneira apreciável pelo peso do vidro. c. Colocação dos calços: os calços têm por finalidade a melhor distribuição das forças provocadas pelo peso do vidro em relação ao movimento do caixilho e os calços laterais têm por principal finalidade assegurar aos vidros uma dilatação bem distribuída. Terão dimensões pequenas, aproximadamente 3 cm de comprimento por largura e altura suficientes para o apoio de chapa e alojamento no interior do caixilho. Deve-se usar, obrigatoriamente, 2 calços para cada lateral de apoio. Em casos excepcionais, quando se tratar de vidros de maiores espessuras, deve-se utilizar calços em ambas as folgas, espaçadas cada 50 cm aproximadamente. No caso das chapas de vidro finas, quando aplicadas em esquadrias de madeira, os calços podem ser dispensados. A utilização de calços não dispensa absolutamente o emprego das massas de vedação. d. Emassamento: nunca se devem aplicar dois ou mais tipos de massas de qualidades químicas diferentes, ou seja, uma à base de óleo de linhaça e outra de origem betuminosa. No caso de aplicação em esquadrias que apresentam um elevado coeficiente de dilatação (ex: alumínio),é importante que se use uma massa que apresente boa qualidade de aderência e de plasticidade em relação ao tempo (massas sintéticas, que, além das qualidades citadas, apresentam ótima aderência entre vidro e caixilho). As massas tradicionais devem normalmente, depois de secas, serem cobertas com tinta ou verniz, cujo recobrimento deve chegar até o vidro. A massa deverá ser colocada sem que haja vácuo algum, devendo ostentar no fim da operação um aspecto uniforme. Nas esquadrias abertas (sem baguete ou cordões), em caso algum as massas devem por si só manter a chapa. A fixação terá de ser feita com pregos de pequeno porte nas esquadrias de madeira, ou com presilhas, pinos, grampos, etc., para as esquadrias metálicas,artefatos estes sempre de aço inoxidável para impedir a ferrugem. 10 Características Físicas dos Vidros As propriedades físicas dos vidros planos aplicados na construção civil, segundo NBR 11706/1992, são apresentadas a seguir. O Quadro 6 mostra as propriedades mecânicas e o Quadro 7 as propriedades térmicas. As propriedades acústicas serão tratadas no item 9.1 deste capítulo, e as propriedades óticas no item 9.2. Quadro 6: Propriedades mecânicas dos vidros comuns, segundo NBR 11706/1992. Massa específica Ρ = 2500 ± 50 kg/m3 Dureza ± 6,5 Mohs Módulo de elasticidade E = (75000 ± 5000) MPa Tensão de ruptura à flexão - Para o vidro recozido: σ = (40 ± 5) MPa - Para o vidro de segurança temperado: σ = (180 ± 20)Mpa Tensão admissível de flexão - Para o vidro recozido: σ = (13 ± 2) Mpa - Para o vidro temperado : σ = (60 ± 4) Mpa Coeficiente de Poisson: 0,22 Quadro 7: Propriedades térmicas dos vidros comuns, segundo NBR 11706/1992. Calor específico entre 20ºc e 100ºc C = 0,19 Kcal/KgºC Coeficiente de condutibilidade térmica a 20ºc λ = (0,8 a 1) Kcal/mhºC Condutibilidade térmica da lã de vidro λ = 0,045 Kcal/mhºC Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 20 Resistência ao choque térmico Depende do módulo de elasticidade, resistência à tração e do coeficiente de dilatação. É da ordem de 60oC (resiste mais ao choque calor-frio que ao contrário) Coeficiente de dilatação linear entre 20ºc e 220 ºc Α = 9 x 10 -6 ºC-1 10.1 Propriedades Acústicas O comportamento do vidro quanto ao isolamento a ruídos varia de acordo com sua espessura e composição, sendo que cada um possui uma determinada freqüência crítica, para a qual o material vibra mais facilmente e há uma queda de isolamento. Essa freqüência crítica situa-se nas mais altas freqüências quanto menor for a espessura do vidro. Para que se obtenha um comportamento mais homogêneo em todas as freqüências, a freqüência crítica do vidro é um ponto importante a ser considerado. Cuidados a este respeito podem ser tomados com o aumento da espessura do vidro ou com a composição de vidros duplos ou triplos com diferentes tipos ou espessuras de vidros, de forma que as freqüências críticas dos componentes não sejam coincidentes. A espessura da camada de ar entre os vidros é também uma variável importante no isolamento do conjunto. O quadro 8 apresenta o Índice de Redução Acústica (Rw) em relação à espessura e ao peso do vidro planos comuns. Quadro 8: Índice de Redução Acústica (Rw) de vidros planos comuns. Fonte: SAINT-GOBAIN GLASS, 2000, p.538. Espessura (mm) Massa Superficial (kg/m 2) Rw (dB) 3 7,5 29 4 10 30 5 12,5 30 6 15 31 8 20 32 10 25 33 12 30 34 15 37,5 36 19 47,5 37 Observa-se um acréscimo no isolamento à medida que a espessura e a massa da amostra aumenta, o que está relacionado à Lei da Massa. Os vidros laminados têm um ganho significativo de isolamento devido ao uso do filme de polivinil butiral (PVB), que suaviza o efeito da freqüência crítica e homogeneíza o valor do isolamento em todas as freqüências. Os vidros laminados apresentam um ganho geral de performance de 2 dB em relação aos outros tipos de vidro com mesma espessura, conforme SCHERER (2005). No caso de vidros duplos, o mesmo autor constatou que vidros com espaçamentos pequenos (20 mm) de ar entre as lâminas têm desempenho de isolamento nitidamente inferior a um vidro simples de massa equivalente à soma das duas lâminas, sobretudo nas baixas e médias freqüências, devido ao fenômeno da ressonância do sistema massa- mola-massa. A diferença de isolamento global, nesses casos, fica próxima de 3 dB, o que, na escala decibel, equivale ao dobro de isolamento. No espaçamento até 50 mm há um ganho significativo de isolamento. A partir deste espaçamento a redução é menos sensível até 100 e 150 mm. O Quadro 9 apresenta resultados do índice de redução acústica (Rw) de vidros duplos com espaço de ar entre eles, obtidos por SCHERER (2005). Este valor está Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 21 relacionado unicamente à espessura total das lâminas de vidro, sem alterações sensíveis devido à espessura individual das lâminas e nem se as mesmas eram de vidros comuns, laminados ou temperados, os quais apresentaram comportamentos muito semelhantes quando em vitragem dupla. Quadro 9: Índice de redução acústica de vidros duplos com câmara de ar (Rw). Fonte: SCHERER (2005). Espaçamento entre vidros (mm) 20 50 100 150 Espessura Total de lâminas de vidro (mm) Índice de Redução Acústica Rw (Db) 12 31 33 33 33 14 32 33 33 34 16 33 34 34 34 10.2 Propriedades Óticas O conhecimento das propriedades óticas é fundamental para que o projetista especifique corretamente os vidros, proporcionando um ganho apropriado de calor e de iluminação natural e, ainda, evitando em certos ambientes as ações indesejadas da radiação ultravioleta. A correta especificação poderá, portanto, minimizar o consumo de energia do edifício e evitar prejuízos pela danificação de bens. Neste item, trataremos dos efeitos da radiação solar nos ambientes construídos. Do ponto de vista do aproveitamento da energia solar, é necessário considerar somente as radiações cujos comprimentos de onda se encontrem entre 290 e 1500 nm, pois acima de 1500nm chega muito pouco energia na superfície da Terra, pois é absorvida pelas moléculas de dióxido de carbono (CO2) e vapor de água, que absorvem a radiação com esses comprimentos de ondas maiores. Quando observamos o espectro solar (energia incidente), sabemos que: a) O fluxo de energia solar incidente compreende o ultravioleta (com comprimentos de ondas de 290 a 380 nm); a região do visível (de 380 a 780 nm) e o infravermelho próximo (780 a 2500 nm). b) As proporções aproximadas que atravessam a atmosfera terrestre e atingem a superfície terrestre são: ultravioleta de 1 a 5%; visível de 41 a 45%; e infravermelho de 52 a 60%. O que isto significa? Devemos lembrar que a incidência da radiação solar não produz apenas efeitos visuais. Causa também efeitos biológicos e físicos distintos: 10.2.1 Ultravioleta O ultravioleta é dividido em três espectros distintos, conforme figura 11. O ultravioleta C, praticamente não chega à superfície da terra. O ultravioleta B tem efeito bactericida, causa eritremas (queimaduras) e sintetiza a vitamina D através da pele. O ultravioleta A causa bronzeamento e o desbotamento ou descoloração de carpetes, tintas, roupas, quadros, etc.. A colocação de um vidro comum entre o usuário e a radiação solar, conforme figura 11, diminui a transmissão do ultravioleta C e B. Desta forma, minimizará o efeito bactericida, evitará eritremas, prejudicará a síntese de vitamina D, mas não impede o bronzeamento e a ação deterioradora do ultravioleta A pois transmitem neste intervalo do espectro. Sendo assim, sob esse ponto de vista, em ambientes como Museus ou vitrines de lojas, é desejável que os vidrosque recebem diretamente a radiação solar não apresentem transmissão para essa região do espectro, isto é, devem ser opacos ao ultravioleta. Isso poderá ajudar a proteger roupas, tapetes, pinturas e outros componentes interiores da descoloração provocada por essa radiação. Os vidros laminados e os vidros Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 22 que recebem a aplicação de películas para proteção solar, apresentam essa característica: impedem as ações do ultravioleta. Por outro lado, em locais onde se deseja a penetração do UV devido a seus efeitos bactericidas e de sintetização de vitamina D (hospitais, creches, etc.) as janelas devem ser projetadas de tal forma que possam permitir que os vidros não se interponham entre a radiação solar e o interior, quando necessário. Figura 11: Efeitos físicos e biológicos da radiação ultravioleta. Fonte: CARAM (1998). 10.2.2 Visível Está associada à intensidade de luz natural transmitida, influindo diretamente no grau de iluminação de um ambiente. A região chamada visível do espectro solar é aquela para a qual o olho humano é sensível, resultando numa sensação de visão e de cores. A luz é, portanto, o instrumento através do qual se estabelece a visão, provavelmente o mais importante meio de comunicação do homem com seu entorno. Do ponto de vista do conforto ambiental, é desejável nos ambientes a penetração dessa radiação, não só para o bom aproveitamento da iluminação natural, como para suprir as necessidades humanas de contato visual com o exterior. Do ponto de vista do consumo de energia seu aproveitamento limita o uso de iluminação artificial, proporcionando economia de energia. 10.2.3 Infravermelho Interfere diretamente nas condições internas de conforto ambiental, através do ganho de calor, pois representa praticamente metade do espectro solar. O infravermelho somente se transforma em calor e, do ponto de vista do conforto ambiental e do consumo de energia com ar-condicionado, deve ser evitada a entrada dessa radiação no interior das edificações em climas quentes. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 23 Os resultados obtidos do ensaio em espectrofotômetro para os diferentes comprimentos de onda dentro de um intervalo espectral desejado resultam em um gráfico de variação das propriedades óticas do vidro em função do comprimento de onda da radiação, o qual expressa o comportamento espectrofotométrico do mesmo. Este gráfico tem grande importância no processo de especificação de fechamentos transparentes, pois expressa a capacidade do material em ter uma atuação seletiva em relação aos diferentes comprimentos de onda que compõem o feixe de luz incidente. Esta seletividade está associada à composição química do material, à sua cor, a absorção ótica dentro do material, e às características superficiais do vidro causando uma grande diversificação nos tipos de elementos e seus tratamentos. A ASHRAE (1993) cita que, embora a luz visível esteja distribuída entre 380 e 780 nm, os valores entre 430 e 690 nm contribuem com aproximadamente 99,4% da iluminação. Por outro lado, a radiação solar neste intervalo é 34% do total, ou seja, se utilizarmos um elemento transparente que seja um filtro perfeitamente seletivo, deixando passar apenas a radiação entre 430 e 690 nm, teremos 99,4 % da luz visível passando com apenas 34% da energia total solar. Figura 12: Curva de transmissão esperada para um vidro ideal, em regiões com clima quente, como redutor da radiação solar. Fonte: CARAM (1998). O gráfico de transmissão espectrofotométrica nas regiões do visível e do infravermelho próximo para um vidro ideal em climas quentes, portanto, seria algo parecido com o da Figura 12. Neste caso, o que se procura habitualmente com relação ao conforto ambiental e ao consumo de energia é uma boa transmissão da luz visível mas também considerável atenuação na região do infravermelho. Estudos do comportamento espectrofotométrico da maioria dos vidros produzidos no Brasil foram efetuados por SANTOS (2002), SICHIERI (2001) e CARAM (2002). 10.2.4 Reflexão, Refração, Absorção e Transmissão Entretanto, quando a radiação incide sobre um material transparente ou translúcido ocorrem basicamente os seguintes processos: - Reflexão nas interfaces entre os meios. - Refração nas mesmas interfaces, devido à diferença de velocidade de propagação da radiação nos dois meios. - Absorção de uma parcela da radiação pelo material, reduzindo sua intensidade e mudando sua distribuição espectral. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 24 - Transmissão da parcela restante para o meio além do material, após reflexões e absorções internas. A Figura 13 ilustra esses processos. η 1 η 1 η 2 Figura 13 – Propriedades óticas da luz quando incidindo sobre um material transparente. Fonte: FANDERLIK, (1983) p.61. 10.2.4.1 Refração A velocidade com que a onda eletromagnética se propaga em um material transparente é menor que a sua velocidade no vácuo, sendo que ela depende da concentração de átomos, íons e moléculas do material. O índice de refração a uma determinada freqüência é então dado pela equação 1, onde ni é o índice de refração do meio i , c a velocidade da radiação no vácuo, e v a velocidade no material considerado: vcni = Equação (1) Deve-se notar que o índice de refração é função do comprimento de onda e da freqüência da radiação incidente, sendo que, quando é adotado um valor único para o material, ele é uma média dos valores encontrados para os diversos comprimentos de onda da radiação incidente. Quando a luz passa de um meio com índice de refração n1 para outro com índice de refração diferente n2, ela sofre uma brusca mudança de direção, em conseqüência da mudança de velocidade do feixe. O valor dessa alteração na direção é dada pela fórmula de Snell (equação 2) abaixo, sendo θ1 e θ2 os ângulos de incidência e de refração, respectivamente; n1 o índice de refração do meio 1, e n2 o índice de refração do meio 2 conforme observa-se na Figura 13. 2211 sen.sen. θθ nn = Equação (2) O fenômeno da refração, ou retardamento da onda, está relacionado à polarização eletrônica, logo o tamanho do átomo ou íon constituinte tem grande influência na magnitude desse fenômeno. Quanto maior o átomo ou íon maior a polarização, menor a velocidade e maior o índice de refração. 10.2.4.2 Reflexão, Absorção e Transmissão A intensidade Io do feixe incidente à superfície de determinado elemento transparente deve ser igual à soma das intensidades das parcelas refletida (Ir), absorvida (Ia) e transmitida (It) através do mesmo. Dessa maneira temos que a soma dessas três parcelas resulta: tar IIII ++= Equação (3) Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 25 Se adotarmos os percentuais em relação à luz incidente, teremos a refletância∗ dada por IIR r /.100= , a absortância como sendo IIA a /.100= e a transmitância IIT t /.100= , e podemos escrever que R+A+T=100. A transmitância pode se dar de forma direta ou difusa, sendo que o termo transparente está associado ao material que tem a propriedade de transmitir a radiação visível de forma direta, enquanto os translúcidos a transmitem de forma difusa e os opacos impedem totalmente a sua transmissão. A magnitude da parcela refletida vai depender da qualidade da interface,do ângulo de incidência, da diferença entre os índices de refração do meio do qual a radiação é proveniente e do material sobre o qual ela incide, e do comprimento de onda. O coeficiente de reflexão ou refletividade de uma superfície (ρ), para ângulo de incidência até aproximadamente 20o, pode ser obtido pela fórmula de Fresnell (equação 4) onde: ρ é a refletividade da superfície do material e n1 o índice de refração do meio 1e n2 o índice de refração do meio 2: 2 21 21 + −= nn nnρ Equação (4) Esse coeficiente pode ser calculado para outros ângulos de incidência (θ1), segundo a teoria de Maxwell, pela equação (5): ( ) ( ) ( ) ( ) − ++ + −= 21 2 21 2 21 2 21 2 cos cos 1. sen sen . 2 1 θθ θθ θθ θθρ Equação (5) Após ter uma parcela refletida na primeira interface, o feixe passa a ter uma atenuação ao longo da espessura, devido à absorção, que está relacionada ao coeficiente de absorção característico de cada material e para cada comprimento de onda. A transmissividade (τ) está relacionada a esse coeficiente pela lei de BEER ou de BOUGUER (equação 6), onde ττττ é a transmissividade, αααα a absortividade, a o coeficiente de absorção do material (m-1), L a espessura da chapa (m), e 2cos/ θL a distância real percorrida pelo raio. 2 cos/ θ τ aL e − = e α = 1 - τ Equação (6) A repetição desses processos nas diferentes interfaces e ao longo do material resulta nas diversas parcelas de reflexão, absorção e transmissão, numa série sucessiva que pode ser resumida numericamente, segundo NICOLAU, (1995) pelas equações 7,8 e 9, onde R é a refletância, T a transmitância e A é a absortância: ( ) − −+= 22 22 .1 .1 1. τρ τρρR Equação (7); ( ) 22 2 .1 1. τρ ρτ − −=T Equação (8); e ( )( ) τρ τρ .1 11 − −−=A Equação (9) Para o caso de duas lâminas sucessivas aplicam-se as equações anteriores (7 e 8) para o cálculo de R e T das lâminas 1 e 2, e após, para o cálculo do conjunto, utiliza-se as ∗ A terminação “ância” indica uma característica associada a uma determinada amostra enquanto a terminação “idade” indica uma característica física associada aos materiais que a compõem. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 26 equações 10, 11 e 12 onde: R(1+2) = Refletância do conjunto; R1= Refletãncia da lâmina 1; R2 = Refletância da lâmina 2; T1 = Transmitância da lâmina 1; (T1+T2) =Transmitância do conjunto; T2 =Transmitância da lâmina 2; e A (1+2) = Absortância do conjunto. ( ) 2.11 1.2 121 2 RR TR RR − +=+ Equação (10); ( ) 2.11 2.1 21 RR TT T − =+ Equação (11) ( ) ( ) ( )2121121 +−+−=+ TRA Equação (12) O Quadro 10 apresenta valores de índice de refração e coeficiente de absorção para diferentes cores de vidros planos. Estes valores foram obtidos através de resultados de refletância e transmitância calculados a partir de ensaios em espectrofotômetro. Neste cálculo foi realizada a ponderação dos valores encontrados de acordo com a intensidade da radiação solar incidente nos diversos comprimentos de onda, considerando o espectro solar dado por ASTM-E892-87 (1987). Quadro 10: Índice de refração e coeficiente de absorção para diferentes cores de vidros frente à radiação solar. Fonte: SANTOS (2002). Cor do vidro base Índice de refração (n) Coef. de absorção Total ( at = m -1) Coef. de absorção Visível ( avis = m -1) Incolor 1,62 19,8 7,6 Verde 1,62 100,0 48,0 Bronze 1,62 102,0 95,3 Cinza-fumê 1,62 124,0 114,3 Azul 1,62 154,0 98,0 10.3 Influência Do Ângulo De Incidência Nas Características Óticas Dos Vidros Embora o ângulo de incidência da radiação solar tenha grande influência sobre o comportamento ótico dos materiais transparente, este fato é normalmente negligenciado pelos projetistas nos procedimentos usuais de cálculo de luz natural e carga térmica. Isto ocorre, principalmente, devido aos dados fornecidos pelos fabricantes estarem relacionados apenas à incidência normal da radiação. O uso desses valores no cálculo de ganhos de calor ou luz, para ângulos de incidência acima de 50o, resultam valores equivocados, pois a partir deste ângulo ocorre um aumento mais acentuado da reflexão, o que acarreta uma diminuição progressiva da transmissão na mesma proporção. A absorção mantém-se quase inalterada, devido ao maior trajeto dentro do material ser compensado pela diminuição da intensidade da radiação que entra no material, causado pelo aumento no valor da primeira reflexão. Em relação à absorção, observa-se que a mesma está associada à extensão do caminho ótico do raio e, portanto, conforme Figura 13, ao ângulo de refração dentro do material (θ2), pois Lótico= L/cosθ2. No entanto, a variação de θ2 é menor que a do ângulo de incidência (θ1), devido à relação n2=senθ1/senθ2. Adotando-se n2 = 1,5, para os vidros incolores mais comuns, podemos observar que enquanto θ1 varia de 0o a 90o, θ2 varia de 0o a 41,8o. O fato anterior tem uma grande influência na reflexão que ocorre na segunda interface, no lado oposto ao da incidência, que, por depender de θ2 varia menos acentuadamente que a primeira reflexão, no caso de vidros que possuem a camada refletiva na face interna. A consideração da influência do ângulo de incidência no valor das características óticas de diferentes tipos vidros é bastante necessária na análise do comportamento do mesmo, pois o vidro raramente recebe a radiação solar a uma incidência normal. Instituto Brasileiro do Concreto . Livro Materiais de Construção Civil 27 A figura 14 apresenta a variação de T, R e A com o ângulo de incidência para diferentes espessuras de vidro plano comum incolor. Dados sobre outros tipos de vidros podem ser encontrados no trabalho de Santos (2002). Figura 14 : Variação das características óticas do vidro plano comum incolor com o ângulo de incidência. Fonte: SANTOS (2002), p 162. 11 Relação do Conforto Visual e Térmico com as Cara cterísticas Óticas dos Vidros Dentro do conjunto do envelope da edificação, as superfícies transparentes como o vidro são as que maiores cuidados necessitam. Os avanços na tecnologia de produção dos vidros float e seus tratamentos ocorrem devido à demanda cada vez maior, por parte dos projetistas, de produtos que satisfaçam às diversas exigências humanas, dentre elas principalmente a necessidade de comunicação com o mundo externo, a iluminação natural, minimizar os ganhos de calor no período quente, permitir a entrada do calor no período frio, a renovação de ar para respiração e ventilação e o cuidado na aparência externa e interna do edifício. Algumas dessas funções são antagônicas entre si, como quando, em alguns casos, deseja-se um baixo ganho de calor solar juntamente com uma grande disponibilidade de luz natural. Assim, encontrar o balanço ótimo na escolha de uma superfície transparente é uma tarefa que, juntamente com a grande variedade de tipos de materiais transparentes disponíveis aos projetistas, aumentou muito a complexidade da especificação dos mesmos. 11.1 Mecanismos de Transferência de Calor e Luz através dos Vidros Quando temos a incidência da radiação direta e difusa sobre a vedação transparente, conforme Figura 15, a quantidade total de calor ganho pelo ambiente através dessa superfície inclui: a parcela da radiação solar transmitida diretamente através do elemento; as parcelas dessas radiações que são absorvidas e re-irradiadas para o interior e uma parcela que é transferida por condução através do anteparo devido à diferença de temperatura entre o meio externo e o interno.
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