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A Europa industrial e os trabalhadores Em boa parte da Europa do século XIX, a monarquia e os privilégios aristocráticos, que caracterizavam o antigo regime, deram lugar à república e ao liberalismo. A ciência, a indústria, a arte e até mesmo a religião eram influenciadas pelos ideias de liberdade. Com as mudanças sociais e políticas trazidas pelo liberalismo, passou a haver mais debate político e respeito às leis. Ao mesmo tempo, os avanços obtidos pela revolução industrial e pelas ciências eram comemorados como grandes conquistas da humanidade. Porém, essas mudanças eram insuficientes segundo alguns filósofos e pensadores, pois apesar de conduzirem uma igualdade política e jurídica, não promoveram a igualdade social nem a econômica. A economia, a nível mundial, sofreu transformações grandes. O processo de produção de mercadorias acelerou-se bastante, isso se deu pois o trabalho manual, feito por humanos, foi substituído pela utilização de máquinas. O resultado foi o estímulo à exploração dos recursos da natureza de maneira excessiva, uma vez que a capacidade produtiva aumentou. A revolução industrial também impactou as relações de trabalho, gerando uma reação dos trabalhadores, cada vez mais explorados no contexto industrial. ● O que foi a revolução industrial? A revolução industrial foi, não somente um processo tecnológico. Ela marcou, sobretudo, o surgimento de uma nova forma de organização social de trabalho. A expansão da industrialização na Europa Ao longo do século XIX, a revolução industrial se expandiu pelo continente europeu. O processo de urbanização se intensificou e novas fábricas foram instaladas em vários países. O crescimento industrial ocorreu associado à expansão comercial e à livre concorrência, marca típica do liberalismo Com o passar do tempo, as cidades industriais tornaram-se cada vez mais povoadas e marcadas pelo contraste entre o florescimento de uma rica burguesia e a pobreza do operariado. A desigualdade social podia ser percebida no próprio espaço urbano: de um lado, havia escritórios, lojas, habitações e vias embelezadas. De outro, bairros mal iluminados, casebres e cortiços, lixo e esgoto espalhados pelas ruas. Apesar destes contrastes, o progresso técnico-científico e a produção maciça de bens de consumo no período, mesmo que tenham beneficiado uma parte pequena da população, trouxeram mais conforto às pessoas. Com essas conquistas materiais, as elites europeias passaram a valorizar a ciência e a tecnologia. A valorização do mundo técnico-científico O progresso técnico-científico possibilitado pela revolução industrial passou a ser celebrado em grandes eventos conhecidos como exposições universais. Essas feiras, intimamente ligadas à consolidação do capitalismo, foram as grandes vitrines do mundo inventivo e produtivo da burguesia europeia. 2 As exposições universais também serviam para demonstrar a solidez do sistema fabril, o triunfo da "civilização" europeia e o poder de intervenção e de domínio do ser humano sobre a natureza. Entretanto, todavia, esse otimismo em relação ao mundo das inovações e da tecnologia ocultava as péssimas condições de trabalho dos operários e a devastação do ambiente. Algumas teorias científicas do século XIX Desde o renascimento, filósofos e cientistas desenvolveram formas de explicar os fenômenos da natureza sem recorrer a contextos bíblicos. Nesse contexto, o desenvolvimento de uma mentalidade científica levou à perda da influência política das igrejas e à separação entre a Igreja e o estado. As teorias influenciaram as pesquisas do naturalista inglês Charles Darwin sobre a seleção natural. Segundo Darwin, os indivíduos de uma mesma espécie apresentam grande variação entre si. Um grupo com determinadas características pode se adaptar melhor ao ambiente do que outros indivíduos da mesma espécie que apresentam características diferentes. Dessa forma, esse grupo apresenta mais chances de sobreviver e deixar descendentes. Darwinismo social No século XIX, a teoria da seleção natural, elaborada por Darwin, passou a ser aplicada por alguns pensadores para explicar a vida em sociedade, originando o chamado darwinismo social. O darwinismo social considerava os seres humanos desiguais e dotados de capacidades inatas, algumas superiores e outras inferiores. Com base nesses princípios pretensamente científicos, surgiram discursos racistas que justificavam a desigualdade social e a prática imperalista das potências europeias na África, na Ásia e na América. No texto a seguir, a forma como um naturalista francês descreve a "superioridade europeia" e justifica a subjugação de outros povos. "É necessário, pois, aceitar como principio e ponto de partida o fato de que existe uma hierarquia de raças e civilizações, e que nos pertencemos à raça e civilização superior, reconhecendo ainda que a superioridade confere direitos, mas, em contrapartida, impõe obrigações estritas. A legitimação básica da conquista de povos nativos é a convicção de nossa superioridade, não simplesmente nossa superioridade mecânica, econômica e militar, mas nossa superioridade moral. Nossa dignidade se baseia nessa qualidade, e ela funda o nosso direito de dirigir o resto da humanidade." Novas teorias políticas O século XIX estava recheado de novas ideias: novas formas de pensar questões sociais e políticas surgiram ao mesmo tempo em que novas teorias científicas eram desenvolvidas. 3 A expansão do capitalismo e do liberalismo, apesar de possibilitar o progresso das técnicas, não promoveu igualdade social e econômica. Essa situação impulsionou o surgimento de propostas para acabar com as injustiças e as desigualdades, e superar os problemas sociais. ● Saint Simon - foi um teórico francês que dividia a sociedade entre produtores (industriais, operários, artistas, intelectuais e banqueiros) e ociosos (nobres e clérigos). Propunha que o poder político fosse exercido pelos produtores mais eficazes e insistia na solidariedade social. ● Robert Owen - foi um industrial galês que defendia a criação de cooperativas de produtores e consumidores e a educação universal. Em sua fábrica, adotou medidas que melhoraram as condições de trabalho, como a redução da jornada, a assistência aos operários e seus filhos e a criação de cooperativas. ● Charles Fourier - foi um crítico social francês que propôs a criação dos falanstérios, comunidades autônomas e autossuficientes onde as pessoas viveriam de forma cooperativa e cada uma trabalharia de acordo com sua capacidade.