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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia As células tumorais possuem de forma geral as mesmas características de uma célula comum. Por conta disso, a terapia antineoplásica possui um grande desafio, tendo em vista a questão da seletividade desses fármacos. Os alvos exclusivos são aqueles que estão associados aos mecanismos genéticos ou bioquímicos exclusivos dos patógenos, como o inibidor da síntese da parede celular bacteriana. Já os alvos seletivos atuam em mecanismos de isoformas de determinada proteína exclusiva do patógeno, como o inibidor da dihidrofolato redutase (DHFR), presente em grande parte dos organismos. Por fim, os alvos comuns atuam em mecanismos que possuem necessidade metabólica específica do patógeno, como 5-fluorouracila, usado no tratamento do câncer. OBS: a seletividade dos fármacos antineoplásicos é baseada em quimioterápicos que impedem a alta taxa proliferativa das células tumorais. Inibidores de síntese e integridade do DNA: Antimetabólitos e inibidores da via do folato; Inibidores da topoisomerase. Agentes que causam lesão no DNA: Agentes alquilantes; Antibióticos antitumorais; Complexos de platina. Inibidores da função dos microtúbulos: Alcaloides da vinca; Taxanos. Todos os fármacos dessas classes têm por objetivo, bloquear o ciclo celular e levam as células tumorais para a morte celular, no caso, para a apoptose. Nesse sentido, esses fármacos não atuam de forma significativa nas células comuns do organismo, tendo em vista que a proteína p53, responsável pela reparação do material genético, ao identificar lesão no DNA, impede o avanço do ciclo celular. Isso não acontece nas células cancerígenas, pois possuem uma deficiência na regulação do ciclo, levando a célula para a apoptose caso haja lesões em seu material genético. Além disso, alguns antineoplásicos atuam de forma mais específica dentro do ciclo celular. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia OBS: mutações que envolvem a reparação das células tumorais podem torna-las resistentes aos antineoplásicos, assim como a mutação na proteína p53, que podem deixar de impedir o ciclo celular e não causar a apoptose. Quando um câncer é diagnosticado, possui bilhões de células que se multiplicam de forma exponencial. Nesse sentido, a quimioterapia consiste num conjunto de fármacos que levam as células em proliferação para a apoptose. Tem-se um intervalo entre as sessões, uma vez que as células saudáveis devem se recuperar. Os ciclos são repetidos usando vários fármacos, até a morte completa das células neoplásicas. Mecanismos de farmacorresistência: Inativação do fármaco; Redução da captação do fármaco; Aumento do efluxo do fármaco; Reprogramação de estrutura ou via do alvo; Reparo de lesões induzidas por fármacos; Insensibilidade á apoptose. Com destaque para a insensibilidade a apoptose, uma vez que mutações na p53 levam a incapacidade de indução de apoptose após lesão de DNA. Os fármacos alquilantes afetam de forma direta o DNA, ou seja, não possui fases específica dentro do ciclo. Esses agentes ligam o grupo alquil diretamente no DNA (alquilação), prejudicando a clivagem, o emparelhamento das bases, provocando uma lesão no material genético com o intuito de levar essa célula para a apoptose. A maioria dos fármacos alquilantes são bifuncionais, ou seja, possui dois grupos alquilantes que se ligam em dois locais distintos do DNA (ligação cruzada), provocando um dano mais extenso, o que leva a apoptose de forma mais rápida. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia Já os fármacos alquilantes monofuncionais não são tão efetivos para levar a morte celular, além de induzir novas mutações genéticas. Os agentes alquilantes podem causar: Mielotoxicidade: mielosupressão aguda, com redução da contagem de granulócitos e imunossupressão. Toxicidade da mucosa: toxicidade para células da mucosa em divisão e folículos pilosos, provocando ulceração da mucosa oral, desnudação intestinal e alopecia. Neurotoxicidade: náuseas e vômito, alteração do estado mental, coma, convulsões generalizadas e ataxia cerebelar. Outras toxicidades: nefrotoxicidades e leucemogênese. Alguns fármacos antineoplásicos atuam sobre o mecanismo dos fatores de crescimento e dos receptores para esses fatores de crescimento, impedindo a progressão pelo ciclo celular ou a proliferação das células. A família HER, receptores para fatores de crescimento epitelial, pode encontrar-se expressa de forma exacerbada durante alguns tipos de câncer, como o HER2 no câncer de mama. Dessa forma, tem-se fármacos que são antagonistas do receptor de EGF (fator de crescimento epitelial). Esses receptores, EGFR, encontram-se amplificados ou ativados em canceres pulmonares de células não pequenas. Esses fármacos promovem a inibição do receptor de tirosinaquinase, impedindo dessa forma a sinalização intracelular que favorece o crescimento e a proliferação. São eles: Gefitinibe: inibidor reversível da atividade tirosinaquinase do EGFR; Erlotinibe: inibidor da fosforilação do EGFR. OBS: mutações no EGFR pode afetar a sensibilidade aos fármacos. Outros fármacos antagonistas do receptor de EGF atuam se ligando ao domínio extracelular de ligação ao ligante do receptor, como: Cetuximabe: cânceres colorretais que expressam EGFR. Intensifica eficácia da radioterapia no câncer de cabeça e pescoço. Efeitos adversos: exantema cutâneo e diarreia; Trastuzumabe: dirigido contra HER2 (câncer de mama). Efeitos adversos: cardiotoxicidade; Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia Lapatinibe: dirigido contra HER2 (câncer de mama). Nessa categoria, tem-se os inibidores de BCR-ABL/C-KIT/RFCPD como o imatinibe, que é um inibidor de tirosinaquinase e de proteína de fusão, no caso da BCR-ABL (presente na leucemia mieloide crônica). Além disso, o imatinibe atuam reduzindo de forma significativa a atividade dos tumores estromiais gastrointestinais, ao inibir o C-KIT, uma proteína tirosinaquinase transmembranas que possui um importante papel na tumorogênese. O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) é uma proteína sinal produzida por muitas células que estimula a formação de vasos sanguíneos, ou seja, regula a angiogênese. Dessa forma, é um alvo terapêutico dos fármacos antineoplásicos, uma vez que seu bloqueio leva ao rompimento da vasculatura tumoral. Tem-se então: Anticorpos neutralizantes contra VEGF; Anticorpos neutralizantes contra receptor de VEGF; Inibidores do domínio de tirosinaquinase do receptor de VEGF. ANTICORPOS ANTI-VEGF O bevacizumabe é um IgG1 monoclonal dirigido contra VEGF-A, promovendo a inibição da angiogênese e crescimento. É adicionado à quimioterapia de câncer de cólon metastático, do câncer pulmonar de células não pequenas. Seus efeitos adversos são: proteinúria, hipertensão, risco de trombose e sangramento, risco de perfuração no TGI e comprometimento da cicatrização de feridas. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia INIBIDORES DO RECEPTOR DE VEGF O vendetanibe é um inibidor de receptor de VEGF-1, 2 e 3. Possui atividade contra câncer pulmonar de células não pequenas. Já o sunitinibe e o sorafenibe possuem atividade contra carcinoma renal de células claras. São fármacos antineoplásicos que inibem a biossíntese de nucleotídeos (púricos e pirimídicos), unidades formadas de DNA/RNA. Além disso, esses fármacos podem ser incorporados ao material genético no lugar dos nucleotídeos, que enganam a polimerase. OBS: esses fármacos são tóxicos, no entanto, as células neoplásicasabsorvem mais essas substancias, uma vez que estão a todo momento sintetizando material genético para a multiplicação celular. Alguns fármacos antimetabólitos são análogas as bases nitrogenadas, ou sejam, são muito parecidos com A e G (purinas) e C, T e U (pirimidinas). A síntese de nucleotídeos, tanto púricas quanto pirimídicas, culminam na síntese de ribonucleotídeos que por sua vez são reduzidas a desoxiribonucleotídeos e por fim convertidos em DNA. Esses são os principais alvos dos fármacos antimetabólitos. O inositol monofostafo ou monofosfato de inosina (IMP) é um precursor chave que dará início a síntese de adenina e de guanina e, com isso, torna-se um alvo terapêutico. O folato é importante para a síntese de IMP, então fármacos antagonistas de folato são importantes antineoplásicos metabólitos. A fludarabina e a cladribina são fármacos antineoplásicos antimetabólitos análogos da adenosina, inibindo a síntese de DNA. A cladribina incorpora ao DNA e no fim quebra as fitas do material genético. Já a fludarabina incorpora ao DNA e RNA, causando a inibição da DNA polimerase e ribonucleotídeo redutase. A tioguanina é um fármaco análogo a guanina, ou seja, ao ser absorvida, passa por todas as conversões e reduções, interferindo na transcrição do RNA e na replicação do DNA, causando a morte celular. A azatioprina (profármaco) e a 6- mercaptopurina são análogos de inosina, Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia ou seja, é parecida com o IMP. Ao ser convertida em monofostato (T-IMP) inibe a síntese de nucleotídeos de purina por tem enxofre em sua estrutura. OBS: o alupurinol (usado no tratamento da gota) aumenta a toxicidade e eficiência da mercaptopurina, uma vez que impede a oxidação da 6-MP. O monofostato de uridina (UMP) é o precursor que formará, através de conversões e reduções, a timina e citosina. Além disso, o folato também é importante para a síntese de timidilato com a doação do grupo metil. A citarabina, um análogo da citidina, interfere na síntese de citosina por ter um açúcar arabinose em sua composição. Assim como a citidina, é incorporada ao DNA no lugar da CTP, provocando a morte celular. A 5-azacitidina também é um análogo da citidina que, quando incorporado ao DNA e RNA, interferem na metilação da citosina, alterando a expressão genica e promovendo a diferenciação celular. Com isso, esse fármaco está envolvido na silenciamento gênico, inibindo a transcrição genica. A 5-fluorouracila (capecitabina é profármaco) é um análogo da uracila, ou seja, forma um complexo com a enzima no lugar do dUMP. Essa ligação é estável e se dá de forma covalente. Dessa forma, as células são privadas de timina e morrem pela ausência dessa base nitrogenada. Esse fármaco, juntamente com ácido folínico (folato) é aprovada no tratamento do câncer colorretal metastático e tarapia de segunda linha para câncer de mama metastático. OBS: a capecitabina é convertida em fluorouracila pelas próprias células cancerígenas e com isso, preserva as células normais pela ausência da enzima que faz essa conversão. Ou seja, a capecitabina/flourouracila é seletiva. Outro inibidor da timidilado sintase é o penetrexede, um análogo ao folato, que se liga a enzima no lugar do desse substrato e causa a morte celular também pela ausência de timina, ocasionada pela diminuição da timidilato sintase. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia A hidroxiureia é um fármaco que inibe a ribonucleotídeo redutase, inibindo dessa forma a síntese de DNA. Também é usada na anemia falciforme e tem risco de leucemogênico. OBS: fármacos que são inibidores da enzima ribonucleotídeo redutase são usados tanto para o bloqueio da síntese de purinas, quanto de pirimidinas. O metotrexato é um inibidor da di- hidrofolato redutase (DHRF), importante para a conversão de di-hidrofolato em tetraidrofolato. Ao inibir a enzima, ocorre a interrupção da síntese de DNA/RNA. Possuem uma seletividade relativa, atingindo células em rápido crescimento, além de ser mais sensíveis a indução de apoptose. Entre os efeitos colaterais, destacam-se anemia, leucopenia, alopecia, ulceras nas mucosas e náuseas. Além disso, é contra- indicado na gestação. Os alcaloides da vinca e os texanos se ligam a beta-tubulina. Ambos são inibidores da mitose, impedindo a formação dos microtúbulos, induzindo a morte celular por apoptose. Os alcaloides da vinca (vincristina e vimblastina) impedem a formação, polimerização, dos microtúbulos, enquanto os texanos (paclitaxel) impedem a despolimerização dessas estruturas. Dessa forma, esses fármacos causam neurotoxicidade, pois impedem o transporte de substancias dentro dos neurônios. As topoisomerases são enzimas que aliviam a tensão de torção durante a replicação do DNA, que é clivado e depois religado. O iriotecano é usado para tratamento de câncer colorretal metastático (2ª linha), enquanto o topotecano, no tratamento de câncer pulmão, cervical e ovário. Ambos atuam inibindo a topoisomerase I. O etoposido inibe a ação da topoisomerase II, e é usado no tratamento de carcinomas de pequenas células, linfomas e câncer testicular. São antraciclinas, como doxorrubicina e epirrubicina, e outros, como bleomicina, etc. Esses fármacos fazem uma intercalação ao DNA, bloqueando a replicação e transcrição, além de alterar a capacidade de reparo do DNA.
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