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Olson - grifado

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Clässicos 16
CSP
Reiter
Presidente
Eiditora-assistenie
Comissäu Eilltorial
Diretora Editartal
Diretara Conercial
Jacques Marcovitch
Adotpho Jose Melfi
EDHQRA BA UNEVERSIDADEDE SÄO PAULO
Plinio Martins Filhe (Pro-tempare)
Cristina Fino
Plinio Martins Filho (Presidente pro-tempore)
Jost Mindlin
Oswaldo Paulo Porattini
Tupä Gomes Corrda
Sävana Biral
Eltana Urabayashi
D © HRDiretor
A LÖGICA DA ACAO COLETIVA
OS BENEFICJOS PÜBLICOS E UMA TEORFA DOS GRUPOS SOCIAIS
MANCUR OLSON
Vice-reitor
Trad1räo
Fabio Fernandez
A LÖGICA DA ACÄQ COLETIVA
po de membros e o pader dos grandes grupos de pressäo organizades näo deri-
vam1 de seus &xitos lobfsticos, sendo na verdade um subproduto de outras ativi-
dades do grupo.
En1bosa eu seja um economista e as ferramentas de anälise utilizadas neste
livro sejam extrafdas da teoria econömica, as conclusöes do estudo säo täo relevan-
tes para 0 sociölogo e para o cientista polftico quanto para o economista. Evitei,
portanto, usar a linguagem diagramätico-matemätica da economia sempre que pos-
sfvel. Infelizmente, muitos näo-economistas acharäo uma ou duas breves passagens
do primeiro capftulo algo obscuras e adversas, mas todo o resto do Hivro deverä
parecer perfeitamente claro ao leitor, seja qual for seu background disciplinar.
16
UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS
E DAS ORGANIZACÖES
a. O Objetivo da Organizagäo
Visto que a maioria das agöes (mas de forma alguma todas) praticadas por
um grupo de individuos ou em nome dele se däo atrav&s de uma organizagäo,
serä proveitoso analisar as organizagdes de uma maneira generica ou teörica".
© ponto lögico para iniciar qualquer estudo sistemätico sobre organizagöes € o
seu propösito. Mas existem organizagöes de t0dos os tipos, formas e tamanhos,
mesmo em se tratando de organizagöes econdmicas, e hä ainda a düvida sobre
se haveria algum propösito simples que poderia ser considerado caracteristico
de todas as organizagdes em geral. Näo obstante, um propösito que de fato € ca-
1. Os economistas 1&m em sua maior parte negligenciado a efaboragäa de teorias das erganizagöes, mas
hä algumas obras que abordam © assunto sob uma ötica econömica. Ver, por exemplo, tr&s ensatos de
Jacob Marschak, "Rlements for a Theory of Teams", Management Science, I, jan. 1955, pp. 127-137;
"Towards an Economic Theory of Organization and Information", em R. M. Thrall, C. H. Combs & Rt.
L. Davis, Deeision Provesses, New York, John Wiley, 1954, pp. 187-220, c "Efficient and Viable
Organization Forms", em Mason Haire, Modern Organization Theory, New York, John Wiley, 1959, Pp-
307-320. Dois ensaios de R. Radner, "Application of Linear Programming toTeam Decision Problenis",
Management Seience, V, jan. 1959, pp. 143-150, e "Team Decision Problems", Annals afMathematical
Statistics, XXXHT, set. 1962, pp. 857-881. De C. B. McGuire, "Some Team Models of a Sales
Organization", Management Science, VH,jan. 1961, pp. 101-130. De OskarMorgenstern, Prolegamenataa TheoryafOrganization, Santa Monica, Calif., RAND Research Me1ngrandum 734, 1951. De James
G. March & Herbert A. Simon, Organizations, New York, John Wiley, 1958; e de Kenneth Boulding,
The Organizational Revolution, New York, Harper, 1953.
17
ALÖGICA DA AGCAO COLETINA
racterfstico da maloria das organizagöes, £6 com certeza de praficamente todas
as organizagdes com um impostante aspecio econÖmico, & a promogäo dos inte-
resses de seus membros. Isso deve parecer öbvio, ao menos da perspectiva da
economista. Sem düvida, alg1mas organizagöes podem, por ignoräncia, fracas-
sar na promocäo dos interesses de seus membros, e outras podem ser tentadas a
servir somente aos interesses de sua lideranga'. Mas as organizagöes fregüente-
mente perecem quando näo fazem nada para promover 05 Interesses de seus
membros, e esse fator pode reduzir severamente o nümero de organizagöes que
näo servem aos seus membros.
A ideia de que as organizacdes ou assaciagöes existern para promover 05 in-
teresses de seus membros estä longe de ser uma novidade ou de ser uma nogäo
peculiar da teoria econömica. Remete aos tempos de Aristöteles, que esereveu:
"Os homens cumprem sua jornada unidos tendo em vista uma vanlagem particular
e como meio de prover alguma coisa particular necessäria aos propösitos da vida;
de maneira semelhante, a associagäo polftica parece ter-se constitufdo original-
mente, e continuado a existir, pelas vantagens gerais que traz"®, Mais recentemen-
te 0 professor Leon Festinger, psicölogo social, assinalou que "a atragäo que exer-
ce a afiliagäo a um grupo näo € tanto pela sensagäo de pertencer, mas mais pela
possibilidade de conseguir alga atrave&s desse pertencer"". No final de sua carrei-
ra, Harold Laski, cientista politico, censiderava ponlo pacffico que as "associa-
gäes existem para realizar propösitos que um grupo de pessoas töm em comum"".
O tipo de organizagöes focalizado neste estudo & aquele que supostamen-
te promove os Interesses de seus membros". Dos sindieatos se espera que Iutem
2. Max Weber chamou a atengäo para 0 cas0 am que uma organizagäo eontinua a existir durante algum
tempo apös ter perdido sun razäo de ser apenas porque algum funcionärio estä vivendo As custas dela.
Ver asua Theory ofSocial and Eronomie Organization, \rad. de Talcott Parsons & A. M. Henderson,
New Vork, Oxford University Press, 1947, p. 318.
3. Etiea viii.9.1 1601.
4. Leon Festinger, "Greup Attraction and Membership", em Dorwin Cartwright & Alvin Zander, Group
Dynasmntes, Evanston, Hl., Row, Peterson, 1953, p. 93.
5. A Grammar of Politics, 4. ed., London, George Allen & Unwin, 1939, p. 67.
6. De organizagöes filantröpicas e religiosas näo se espera necessariamente que sirvan1 somente aos inte-
resses de seus membtos: tais organizagöes tm outros prop6sitos considerados mais importantes, inde-
pendente do quanto seus membros "precisem" pertencer ou se sintam melhorados out auxibiados pelo
fato de pertencer. Mas a complexidade de tais organizagöes näo precisa ser debatida extensamente aqui,
porque este estudo se concentrarä em organizagdes com um significalivo componente econömico. o
foco deste trabalh1o recairi sobre algo parecido ao que Max Weber chamava de "grupo associativo",
Weber classifica um grupo de "associativo" se "a orientagäo de sua agäo social funda-se sobre um acor-
do sacionalmente mötivado'. Ele contrastou seu "grupo associaliva" con1 0 "grupo comunal", fundado
sobre afetos pessoäis, relacionamentos eröticos ete., como a familia. (er Max Weber, pp. 136-139, e
Grace Coyle, Social Process in Örganized Groups, New York, Richard Smith, Inc., 1930, pp. 7-9). A
lögica da teoria aqui desenvolvida pode ser estendida a organizagöes comunais, religiosas e Ailantröpi-
18
UMA TEORIA DOS GRUPOS SOGIAIS E DAS ORGANIZAGÖES
por salärios mais altos e melhores condigöes de trabalho para seus afiliados; das
organizagdes rurais espera-se que Jutem por uma legisiagäo favorävel a seus
membros; dos cart&is espera-se que Item por precos mais altos para as empre-
sas integrantes; das companhias espera-se que defendam os interesses de seus
acionistas'; & do Estado espera-se que promava os Interesses comuns de seus
cidadäos (embora nesta nossa era nacionalista o Estado fregüientemente tenha
interesses e ambigdes distanciadas das de seus cidadäos).
FE importante notar que os interesses que todos esses tipos de organizagöes
supostamente devem promover säo em sua maioria Interesses conuns: o interesse
comum dos membros de um sindicato por salärios mais altos, 0 interesse comum
dos produtores rurais por legisiagdes mais favoräveis, o interesse comum dos
membros de um cartel por precos mais altos, o interesse comum dos acionistas
por dividendos mais altos e agöes valorizadas, o interesse comum dos cidadäos
por um bom governo. Näo € uma casualidade que de (odos os tipos de organiza-
cöes listadas acima espere-se que trabalh1em pelo interesse comum1 de seus mem-
bvos. Interesses puramente pessoais ou individuais podem ser defendidos, e em
geral com muita efici@ncia, por agöesindividuais independentes. Näo hä obvia-
mente nenhum sentido em formar'uma organizagäo quando uma agäo individual
independente pode servir aos interesses do individuo täo bem ot1 melhor do que
uma organizagäo. NäAo teria nenhum cabimento, por exemplo, constituir uma
organizacäo simplesmente para jogar paciöneia. Mas quando um cerio nümero
de indivfduos tem um interesse comum ou coletivo - quando eles compartilham
um simples propösito ou objetivo - a agfo individual independente (como logo
veremos) ou näo terä condigödes de promover esse interesse comum de forma
alguma, ou näo serä capaz de promav&-lo adequadamente. As organizagöes po-
dem portanto desempenhar uma fungäo importante quando hä Interesses comuns
ou grupais a serem defendidos e, embora elas fregüientemente tambem sirvam a
Interesses puramente pessoais e individuais, sua fungäo e caracteristica bäsica €
sua faculdade de promover interesses comuns de grupos de indivfduos.
A premissa de que as organizagöes existem tipieamente para promover 05
interesses comuns de grupos de indivfduos estä implfeita na maior parte da lite-
cas, mas ela nic € particularmente ütil na estudo de grupos desse tipo. Ver p. 73, nota 17 e pp. 174-176
do presente livro.
7. 1sto €, seus membros. Este estudo näo segue 0 usa terminolögico dos tedrieos que descrevem emprega-
dos como "membros" dla companhia para a qual 1rabalham. Aqui € mais conveniente adotar, em vez
daquela,4, a Enguagem coidianaana e disunguir os membros de um sindicato, por exemplo, dos en1prega-
dos desse sindicato. Similar1nente, os membros de um sindicato seräo considerados empregados da
companhia para a qual trabalham, 30 pass0 que os membros dessa companhia säo seus acionistas.
79
EstudosPos004
Nota
cada grupo específico vai buscar coisas que os beneficiem, e nesse parágrafo vamos ter exemplos disso, como sindicatos buscando salários mais altos
EstudosPos004
Realce
ALÖGICA DA AGÄO COLETIVA
ratura sobre organizagöes, e dois dos autores jä citados fazem essa pressuposi-
gRo explicitamente: Harold Laski enfatizou que as organizagöes existem para
atingir propösitos au Interesses que "um grupo de homens tem em comum", e
ao que tude indica Aristöteles tinha uma ideia similar em mente gquande af1rmou
que as associagdes politicas säo criadas e mantidas por causa das "vantagens ge-
rais" que trazem. R. M. Maciver tamb&m asseverou essa idleia explicitamente ao
dizer que *toda organizagäo pressupöc um interesse que todos es seus membros
partilham"®.
Mesmo quando grupos näo constitufdos em organizagäo säo dischtidos, ao
menos em tratados sobre "grupos de pressäo" e "teoria dos grupos sociais", a
palavra "grupo" € usada de uma maneira que denota "um nümero de individuos
com um interesse comum". Obviamente seria razoävel rotular como "grupo" ale
mesmo um grupo de pessoas selecionadas aleatoriamente (&, portanto, sem ne-
nhum Interesse comam nem nenhuma caracteristica unificadora), mas a maio-
ria das discussöes a respeito de comportamento grupal parece lidar prineipalmen-
te com grupos que täm Interesses comuns. Como diz Arthur Bentley, o fundador
da "teoria dos grupos sociais" da ciäncia polflica moderna, "näo existe grupo sem
seu interesse". O psicölogo social Raymond Cattell foi tgualmente explicito &
prociamou que "todo grupa tem seu interesse". E tamb&m nessa acepgäo que
a palav1a grupo serä usada aqui.
Assim como se pode supor que os individuos que pertencem & uma orga-
nizacäo ou grupo t&m um interesse comum!!, eles tamb&m t&m Interesses pura-
mente individuais, diferentes dos interesses dos outros membros do mesmo grupo
ou organizagäo. Todos os membros de um sindicato, por exemplo, täm um inte-
8 R.M. Macher, "Interests", Eneyelapaedia Sorial Sciences, VVU, New York, Macmiltan, 1932, p. 147.
9. Arthur Bentley, Tite Process af Government, Evanston, HL, Priacipia Press, 1949, p. 211. David B.
Truman adota uma abordagem semelhante: ver seu The Governmental Pravess, New York, Alfred A.
Knopf, 1958, pp. 33-35. Ver tamb£1n Sidney Verba, Small Groups and Palitival Behavior, Princeton,
N.J., Princeton University Press, 1961, pp. 12-13.
10. Raymond Cattell, "Concepts and Methods in the Measurement of Group Syntality", em A. Paul Hase,
Edgard F Borgatta & Robert Bales, Groups, New York, Alfred A. Kuopf, 1955, p. 115.
. E cfaro que qualquer grupo ot organizagäo estard usualmente dividido em subgrupos ou facgöes an-
tagönicas. Bsse fato näo debilita a pressuposigäo feita aqui de que as organizagöes existem para servir
a0s Interesses comuns de seus membros, porque essa pressuposigäo näo implica que os conflitos in-
ternos da grupo estejam sendo desprezados. Os subgrupos antagönicos dentro de uma organizagäo
usualmente partilham algum interesse comum (senfo, por que manteriarm a organizagäo?), ao mesmo
tempo que cada subgrupo ou facgäo tambem tem um interesse comun independente e sö seu. Alids,
esses subgrupos com freqüencla teräo 0 interesse comum de demotar algum outro subgrupo. Portan-
to, a abordagem utilizada aqui näc Jespreza o conflito dentro de grupos € organizagöes porque consi-
dera cada organizagäo como uma unidade somente atd 0 ponto em1 que ela de fato tenta servir a um
interesse comum, € considera as värias facgöes oponentes para analisar 0 vigoroso antagonismo entre
elas, come unidades.
20
UM4A TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS 0RGANZAG0ES
resse comum em salärios mais altos, mas, ao mesmo tempo, cada trabalhador tem
um interesse Üünico em seus ganhos pessoais, que dependem näo somente dos
indices salariais como tamb&m da quantidade de tempo que ele trabalha.
b. Beneffcios Püblicos e Grandes Grupos
A combinagäo de interesses individuals e comuns em uma organizacäo su-
gere uma analopia com o mercado compelitivo. As empresas de um determinado
setor industrial perfeitamente competitivo, por exemplo, t&m um interesse comum
em pregos mais altos para 0 produto do setor. Dado que um preco uniforme tende
a prevalecer em um mercado desse tipo, uma empresa näo pode esperar um preco
mais alto para si sem que tadas as outras empresas do setor tamb&m obtenham
esse prego mais alto. Mas uma empresa em um mercado competitivo tamb&m tem
interesse em vender o mäximo possfvel, tendo como teto 0 ponte em que 0 custo
de produgäo de uma nova unidade do produto excede o preco dessa unidade.
Nisso n&o hä nenhum interesse comum. O interesse de cada empresa € diametral-
mente oposto ao de todas as outras, porque quanto mais as outras venderem,
menor 0 preco e menores 05 ganhos de cada empresa. Em sintese, ao mesmo tem-
po que todas as empresas län interesse em pregos mais altos, elas t&m interesses
antagönicos no que se refere A produgäo. Isso pode ser ilustrado com um simples
modelo de oferta-e-procura. Como exemplo,uponha-se que um setor industrial
perfeitamente competitivo esteja vivendo uma situagäo momentänca de desegni-
Iibrio, com os precos excedendo os custos marginais de producäo para todas as
empresas em sua atual fase de produgäo. Suponha-se tamb&m que todos os ajus-
tes necessärios seräo feitos mais pelas empresas jä no setor do que pelas rec&m-
chegadas, e que esse selor industrial se veja no momento em uma segäo pouco
elästica de sua curva de demanda. Com 0 prego excedendo os custos marginais
de produgäo para iodas as empresas, a produgäo cresce. Mas, quando todas as em-
presas aumentam sua producäo, o prego cai. E como a curva de dernanda do setor
industrial em questäo estä, como supusemos, inflexfvel, a receita total desse setor
industrial declina. Aparentemente toda a empresa acha que com 0 prego exceden-
do os custos marginais de producäo vale a pena aumentar sua producäo, mas 0
resultado € que cada empresa acaba obtendo um lucro menor/Alguns economis-
tas de tempos passados devem ter questionado esse resultado'?, mas o fato de que
12. Ver].M. Clark, The EcononticyofOverheadCosts, Chicago, University ofChicago Press, 1923, p. 417;
& Frank H. Knight, Risk, Uncertainuy and Profis. Boston, Houghton Mifflin, 1921, p. 193.
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Realce
A LÖGICA DA ACÄO COLETIVA
a maximizagäo dos lucros das empresas em um setor industrial perfeitamente
competitivo pode agir contrariamente aos Interesses delas come grupo & hoje
perfeitamente compreendido & aceito". Um grupo de empresas ansiosas por uma
maximizagäo de seus lucros pode acabar agindo para reduzir seus Iucros globais
porque em um quadro de competigäo perfeita cada empresa &, por definicäo, täo
pequena que pode ignorar 0 efeito de sua producäo sobre o prego. Cada empresa
considerarä vantajoso para si aumentar sua produgäo at€ 0 ponio em que os cus-
tos minimos de produgäo igualem 0 prego, ignorando os efeitos de sua produgäo
excedente sobre a posigäo de seu setor industrial como um todo. E verdade que o
resultado final & que todas as empresas ficam em pior situagäo, mas isso näo sig-
nifica que elas näo tenham maximizado seus lucros. Se uma empresa, antevendo
a queda de precos resultante do aumento da prodagäo de seu setor industrial, res-
tringisse sua pröpria produgäo, ela perderia mais dö que nunca, porque seu preco
cairia de qualquer maneira & ainda por cima ela teria uma produgäo menor para
vender, Em um mercado perfeitamente competitivo essa empresa ficaria apenas
com uma pequena parte dos beneficios (ou da receita extra) obtidos pelo setor
industrial gragas A sua atitude individual de conter a producäo.
Por essas razöes € hoje de compreensäao peral que, se as empresas de um
determinado setor industrial estäo maximizando lucros, os Jucros desse setor
como um todo seräo menores do que serjam sem essa maximizagäo". E quase
todo mundo concordarä em que essa conclusäo teörica bate com os fatos em mer-
cados caracterizados por competigäo pura. O ponto Importante aqui & que isso
& verdade porque, embora todas as empresas tenham um interesse comum em
precos mais altos para o produto do seu setor industrial, & do interesse indivi-
dual de cada uma delas que as outras paguem 0 Custo (a indispensävel redugäo
da produgäo) necessärio para obter pregos mais altos.
Praticamente a ünica coisa que pode impedir os pregos de cafre1m de acor-
do com 0 processo acima descrito em mercados perfeitamente competitivos se-
ria a intervengäo externa. Pregos subsidiados pelo governo, tarifas, acordos de
cartel e coisas semelhantes podsm proteger as empresas em um mercade eom-
petitivo de agirem contra seus pröprios Interesses. Tal ajuda ou intervencäo €
bastante comum. E, portanto, importante perguntar como ela se dä. Como um
13. Bdward H. Chamberlin, Afonopolistie Competition, 6. ed., Cambridge, Harvard University Press, 1950,
p- 4.
14. Para uma discussäo mais completa sobre essa questäo, ver Mancur Olson Jr. & David MeFarland, "The
Restoration of Pure Monopoly and the Concept of the Industey", Oxarterty Journal af Eronomies,
LXXVI, nov. 1962, pp. 613-631.
22
UA1A TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS B DAS ORGANTZACÖES
setor industrial competitivo obtdm assistäncta do governo para
manter o prego de
seu produto?
Considere-se um setor industrial hipotetico, competitivo, e suponha-se que
a maioria dos produtores desse setor industrial deseje uma
tarifa especial, um
programa de protegäo de pregos ou alguma outra intervengäo governamental para
aumentar o preco de seu produto. Para obter essa assistencia
do governo, OS prO-
dutores desse setor industrial presumivelmente teräo de constituir um lobby:
te-
räo de se tornar um grupo de pressäo ativo". Esse lobby poderä ter de
Ievar a
cabo uma considerävel campanha. Se for encontrada uma resistöncia significa-
fiva, grandes quantidades de dinheiro seräo necessärias'®, Os especialistas
em re-
lagdes püblicas teräo de influenciar os jornais, e pode
ser preciso fazer alguma
propaganda. Provavelmente serä necessärio contratar organizadores profissionais
para armar "manifestagdes populares espontäneas" envolvendo
os angustiados
produtores do setor industrial em questäo e fazer esses produtores
escreverem
cartas a seus congressistas"". Essa campanha pela assistencia governamental
fo-
marä tempo de alguns produtores do setor industrial
- & dinheiro.
Hä um natävel paralelo entre o problema que o setor industrial perfeitamen-
te competitivo enfrenta quando luta para obter assistäncia
do governo e 0 pro-
blema que ele enfrenta no mercado quando as empresas
incrementam sun pFO-
ducäo e ocasionam quedas de pregos.fAssim como ndo pareceria
racional para
um determinado produtor restringir sua produgdo a fin de talvez obter um pre-
go mais alto para e produto de seu setor industrial, näo I
he parecerta racional
sacrificar seu tempo e dinheiro para dar suporte a um lobby que
luta pela as-
sistöncia do governo a esse mesmo setor industral, Em nenhum
dos dois casos
seria do interesse do produtar assumir individualmente nenhum do
s custost Um
lobby, ou mesmo uma organizagäo sindical ou qualquer outra que
twabalhe pe-
los interesses de um grande grupo de empresas ou trabalhadores
de um deter-
15. Robert Michels sustenta em scu clässico estudo que "a democracia € inconcebfvel
sem orgauizagöes",
e que "o principio de organizagäo & uma condigäo absolutamente
essencial para a luta polftica das
massas". Ver o seu Political Parties, trad. ing}. Eden & Cedar Paul, New York, Dover Public
ations, 1959,
pp. 21-22. Ver ta1nbem Robert A. Brady, Business as a System afPower,
New York, Columbia Univer-
sity Press, 1943, p. 193.
16. Alexander Heard, The Casts ofDentocracy, Chapel Hill, University of North Carolina Press, 1960, espe-
cialmente a nota t, pp. 95-96. Por exemplo, em 1947 a National As
sociation afManufacrers gastou
mais de U$4,6 milhiöes, & por um perfodo algo maior a American Medical
Assoriarton gaston a mesma
importäncia em ma camcamphau contra 0 seguro de saäde compulsörio.
17. "Se tada a verdade viesse um dia A tona [...10 lobismo, com todas as suas ramificagdes,
mostraria ser
una indüstria bilionäda" U. S, Congress, House, Select Committee on Lobbying Activities, Report,
8ist Congress, Znd Session, 1950, conforme citagio no Congressional Quarterly
Almanac, Sisl
Congress, 2nd Session, VI, pp. 764-765.
sezuro
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ALÖGICA DA ACÄO COLETIVA
ntinado setor industrial, näo receberd nenhum amparo dos individuos centrados
nos pröprios Interesses e racionais desse setor. Isso seria verdadeiro mesmo que
nesse setor industrial t0do mundo estivesse absolutamente convencido de que o
projeto proposto pela organizagäo € de seu interesse (embora na realidade sem-
pre haverä quem pense de outra forma, tornando a tarefa da organizagäo ainda
mais difieil)".
Embora a organizacko lobistica seja apenas um exemplo da analogia Jögi-
ca entre organizacäo e mercado, € um exemplo de considerävel importäncia prä-
tica. Hä atualmente em atividade mwuitos /obbies poderosos, bem financiados ©
com vasto apoio, mas esses lobbies näo conseguem seu apoio por causa dos seus
logros legislativos. Os mais poderosos lobbies da atualidade conseguem seus fun-
dos e seus seguidores por outras razöes, como este estudo mostrarä no final.
Alguns criticos poderäo argumentar que, na verdade, uma pessoa racional
apoiard, sim, uma grande organizagäo - como um lobby - que trabalhe pelos seus
interesses, porque sabe que se näo o fizer os outros tampouco 0 faräo, e entäo a
organizagäo fracassarä e ela ficarä sem o beneffcio que a organizagäo poderia
ter-Ihe proporcionado. Essa argumentagäo evidencia a necessidade da analogia
com o mercado perfeitamente competitivo: seria igualmente razoävel argumen-
tar que os pregos nunca caliriam abaixo dos nfveis que um monopölio cobraria
em um mercado perfeitamente competitivo, jä que cada enmipresa poderia antever
que se incrementasse sua produgäfo outras tamb&m o fariam e 0 preco cairiae,
portanto, nenhuma empresa iniciaria uma cadeia de destruigäo de pregos aumen-
tando sua produgäo. Mas, na verdade, as coisas näo funcionam dessa maneira
em um mercado compelitivo. Nem em uma grande organizagäo. Quando o nü-
inero de empresas envolvidas € grande, ninguem notarä o efeito sobre 0 preco
se uma empresa aumentar sua produgäo e, portanto, ninguem alterarä seus pla-
nos por causa disso. Similarmente, em uma grande organizacäo a perda de um
afiliado contribuinte näo incrementarä de maneira perceptfvel a carga para qual-
quer outro contribuinte e, portanto, uma pessoa racional näo acreditaria que ao
se relirar da organizacäo estaria levando outros membros a fazerent 0 mesmo.
Bsse raciecinio deve ter ao menos alguma pertin&ncia no caso de organi-
zayöes econömieas que säo acima de tude meios atravds dos quais os indivfduos
tentam obter as mesmas coisas que obt&m atrav&s de suas atividades no merca-
do. Os sindicatos, por exemplo, säo organizagöes atrav&s das quais os traba-
Ihadores Iutam para obter as mesmas coisas que procuram obter com seus esfor-
18. Para uma excegäo logicamente possfvel A conclusäoo deste parägrafo, mas insignificante na prätica, vernota 68 deste capftulo,
24
UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCAAJS EDAS ORGANIZAGOES
gos individuais no mercado: salärios mais altos, melhores condigöes de trabalho
etc. Seria de fato estranho que os trabalhadores näo se confrontassem no sindi-
cato com alguns dos mesmos problemas que ercontram no mercado, jä que seus
esforgos em ambas as esferas f&m alguns propösitos em comum.
Por mais semelhantes que sejam esses objetivos, os criticos poderäo obje-
tar que as atitudes e disposigtes dos membros nas organizagdes näo säo em ab-
soluto iguais As suas atitudes e disposigöes no mercado. Nas orpanizagöes, fre-
qüentemente, hä tamb&m um elemento emocional ou ideolögico em jogo. Mas
serä que isso toma a argumentagäo acima inadequada do ponto de vista prätico?
Um tipo de organizacäo mais importante - o Estado -- servirä para testar
essa objecäo. Nos tempos modernos, o patriotismo € provavelmente a mais for-
te miotivagäo näo-econömica para a lealdade organizacional. Esta nossa &poca
€, algumas vezes, chamada de era do nacionalismo. Muitas nacdes obt&m sua
unidade e forgas extras gragas a alguma poderosa ideologia, como a democra-
cia ou 0 comunismo, bem como atrav&s de uma religiäo, Iinguagem ou heranga
cultural comuns a seus cidadäos. Mas o Estado näo dispöe somente dessas po-
derosas armas para angariar apoio. Ele tambem € muito importante economicn-
mente. Quase todo governo & economicamente benäfico para seus cidadäos, no
sentido de que a lei e a ordem que ele proporciona säo um pre&-requisito essen-
cial para toda e qualquer atividade econömica civilizada. Mas apesar da forga
do patriotismo, do apelo da ideologta nacional, dos lagos de uma cultura comum
& da indispensabilidade da lei e da ordem, nenhum Estade importante na histö-
ria moderna foi capaz de se sustentar atrav&s de cotas ou contribuigöes voluntä-
rias. Contribuigöes filantröpicas näo säo nem mesmo uma fonte de receita sig-
nificativa para a maloria dos pafses. Fazem-se necessärios os impostos -- por
definigäo, pagamentos comp1udsörios. De fato, como diz o velho proverbio, a ne-
cessidade de impastos € täo cerfa quanto a morte.
Se o Estado, com todos esses recursos emocionais ao seu dispor, näo 6 ca-
paz de financiar suas atividades mais bäsicas e vitais sem recorrer A contribuicäo
compulsöria, & natural que as grandes organizagöes privadas tamb&m tenham di-
ficuldades para conseguir que os individuos dos grupos cujos interesses elas ten-
tam defender e promover fagam voluntariamente as contribuigdes necessärlas"".
19. Tanto 05 söei6logos quanta os economistas am observado que apenas mativos ideolögicos näo sicsuficientes para propulsar o esforgo continuo de grandes massas de gente. Max Weber farnece um
notävel exemplo: "Toda alividade econömica em uma economin de mercado € sustentada e guiada porindivfduos centradas em seus pröprios interesses maleriais ou ideais. Isso, claro, & igualmmente verda-deiro quando a atividade econd1nica urienta-se pelos padröes de ordem de grupos corparativos ]...]"."Mesmo que um sistema econ6mMico estivesse organizads sobre bases socialistas, näo haveria nenhu-
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Nota
ideia geral defendida aqui é de que 
uma ação X vai impactar negativamente nos preços ou qlqr outra coisa q seria benefica pra vc (indivíduo) afetando o grupo como um todo

Mas esse impacto não é tão simples assim

X faz com que o grupo faça Y (pq Y vai dar bons frutos), mas se eles pensassem um pouco e antevissem que agir Y geraria um impacto negativo no nível macro eles n agiriam assim

agir Y vai ser prejudicial no todo, se todos o fizerem; se só vc n fizer vai ser ainda pior; se ngm fizer e só vc fizer vc pode lucrar muito; de todas as formas é melhor agir em Y pq as perdas serão menosres e distribuídas pelo grupo como um todo
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ALÖGICA DA ACAÄ0 COLETIVA
A razäo pela qual o Estado näo pode sobreviver de cotas au pagamentos
voluntärios e preeisa recorrer aos impostos £ que os servigos mais fundamentais
que ele fornece säo, sob um importante aspecto"®, equivalentes a
o prego mais alto
em um mereado competitivo: esses servigos t&m de estar disponfveis para todos
se estiverem disponiveis para alguem. Os beneffcios ou servigos mais elemen-
tares proporcionados por um governo, como defesa militar, protecäo policial e
o sistema de lei e ordem em geral, säo beneffcios ou servigos que alcangam a
todos ou praticamente a tados na nagäo. Seria obviamente inviävel, casa fosse
possivel, negar a protegäo das forgas armadas, da policia e dos tribunai
s Aque-
les que nAo pagassem voluntariamente sua parte dos custos governamentais com
esses servigos, © OS IMPOStos säo, portanto, necessärios. Os beneffcios comuns
ou coletivos proporcionados pelo governo säo usualmente chamados de "bene-
ffeios püblicos" pelos economistas, & o conceito de beneficio piblico & uma das
ideias mais antigas e mais importantes no estude das finangas püblicas. Um be-
neficio püblico, coletivo ou comtm € aqui definido como qualquer beneficio que,
se for consumido por qualquer pessoa X, em um grupo X, X X, NäO pode
viavelmente ser negado aos outros membros desse grupo?'. Em outras palavras,
1na diferenga fundamental nasse aspecto [...] A estrutura de interesses e a conj
a seriam distintas
e os meios de lular por Interesses seriam outros, mas esse fator fundamental permancceria täo perli-
nente quanto antes. E claro que € verdade que a allvidade econömica fundada em bases puramente
idealögicas visando o interesse de terceiros existe. Mas € alnda mais verdadeiro que a grande
matorta
dos hamens näo age dessa maneira, € & uma indugäo da experiöncia a certeza de que eles näo podem
fazer isso e m1mca 0 faräo [...]". "Em uma economia de mercado, o interesse pela maximizaräo das
ganhos & necessaramente a forga meinz de tada a atividade econömica." (Weber, pp. 319-320.) Talco
1t
Parsons e Neil Smelser väo ainda mais longe ao postular que na sociedade humana a perfonnanee €
proporeional As "recompensas" © "sangöes" envolvidas. Yer, desses autores, Economy
and Sorety.
Glencoe, Il, Free Press, 1954, pp. 50-69.
20. Ver, contudo, neste capftulo. "Grupos Exclusivos € Inclusivos".
2}. Esta simples definigio focaliza dois pontos importantes no presente contexto. O primeiro € que a
maioria dos beneffeivs coletivos s6 pode ser definida com relagäo a algum grupo especifico. Um be-
neffcio coletivo dieige-se a um determinado grupo de pessoas, autro beneficio colelivo dirige-se a outro
grupo; um pode favorecer o mundo inteiro, outro sö a duas pessoas. Aldm do mais, alguns beneficios
säo beneficios coletivos para os membros de um determinado geupo € ao mosmo tempo beneficios
privadospara os membros de outro grupo, porque alguns individuos podem ser impedidos de desfru-
tar daquele beneffcio e outros näo podem. Tome-se como exeinplo uma parada, que & um beneffcio
coletivo para todos aqueles que vivem em ediffcios altos com total visibilidade sobre a sota do desfile
mas que parecerä um beneffcio privado para aqueles que s6 poderäo ver o desfile se comprarem en-
tradas para h1n lugar nas arquibancadas. O segundo ponto £ que, uma vez definido o grupo nertinen-
te, estä iniplicada na definigäo de beneficio coletivo usada aqui, como na de Musgrave, a invinbilidade
de excluir desse beneffcio os consumidores em potencial. Essa abordagern € usada porque os beneft-
<ios colelivos obtidos por organizagdes de todos os fipos parece1n ser de 121 natureza que a exclusäo
normalmente näo € viävel. Sem düvida, no caso de alguns beneffeios coletivos € fisicamente possivel
pralicar a exelusäo. Mas, como Head jä mostron, näo d necessärio que a exelusäo seja tecnicamente
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UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCAAIS E DAS ORGANIZAGÖES
aqueles que näo pagam por nenhum dos beneffeios püblicos ou coletivos de que
desfrutam näo podem ser excluidos ou impedidos de participar do consumo des-
ses beneffeios, como podem quando se trata de beneffcios näo-coletivas.
Os estudiosos das finangas püblicas 1&m, contudo, negligenciado o fato de
que a consecugäo de qualguer objetivo comum ou a satisfagäo de qualquer in-
teresse conm significa que um beneflcio püblico ou caletivo foi proporeiona-
do ao grupo". O simples fato de uma meta ou propösito ser comum a um grupo
significa que ninguem no grupa ficarä exclufdo do proveito ou satisfacäo pro-
porcionada por sua consecugäo. Como os parägrafos inieiais deste capitulo ex-
plicaram, quase todos os grupos & organizacdes tEm o prapösito de servir aos in-
teresses comuns de seus membros. Como diz R. M. Maclver: "As pessoas [...]
tern Interesses comuns n0 mesmo grau em que participam de uma causa 1...] que
abraga a todos de maneira una e indivistve?"". H da pröpria ess@ncia da organi-
zagäo que ela fornega um beneffcio indivisfvel e generalizado. Segue-se que o
provimento de bencficios püblicos ou coletivos € a fungäo fundamental das or-
impossivei: basta que seja inviävel ou antieconömica. Head samb&m mostron muito claramente que a
impossibilidade de exclusäs € somente um dos dois elemientos bäsicos na nogäo tradicional de bene-
ffeto püblico. O outro, assinala ele, € a "partilhabilidade dos ganhos proporcionados pelo bencficio".
Unt beneffcio tem "partithabilidade" se o toraä-lo disponfvel para um indivlduo significa que ele pode
ser facil ou livremente saprido para autros tamb&m. O caso extremno de parlilhabilidade sena o bene-
firio piblico puco de Samwelson, um beueficio de tal natureza que consumo adicional por um indi-
viduo näo diminti a quantidade disponfvel para os autros. Pela definigäo usada aqui, a partifhabilida-
de n&o & um atributo necessärio do beneffcia püblico. Como este wieso capitulo mostrarg mais adi-
ante, pelo menos um lipo de beneffcig coletivo considerado aqui näo exibe partilhabilidade alguma,
e poucos deles, se houver algum, tEm 0 grau de partilhabilidade necessärio para se qualificarem como
beneffcio püblico puro. Näo obstante, a maioria dos beneficios coletivos a serem estudados neste 1ra-
balho exibem uma grande dose de partilhahilidade. Para uma discuss&o sobre a definigäo e a impor-
täncia dos beneficios püblicos, ver: John G. Head, "Public Goods and Public Policy", Prrblie Finanee,
vol. XV, 3, 1962, pp. 197-219; Richard Musgrave, The Theory of Public Finance, New York,
McGraw-Hill, 1959; Paul A. Samuelson, "The Pure Theory of Publie Expenditure", "Diagrammalic
Exposition of a Theory of Pablie Expenditure"; e "Aspecis of Public Expenditure Theories", Review
ofEronamics and Statisties, XXXVI, nov. 1954, pp. 387-300; XXXVIR, nov. 1955, pp. 350-356. e XL,
1958, pp. 332-338. Para opinides diferentes sobre a utilidade do conceite de beneffcio püblico,
ver Julius Margolis, "A Camntent on the Pure Theory of Public Expenditure", Review af Eronomies
and Statisties, XXXVIL, nov. 1955, pp. 347-349, e Gerhard Colm, "Theory of Public Expenditures",
Annals American Academy afPolitical aud Sacial Seience, CLXXXIUN, jan. 1936, pp. 1-11.
22. Näo hi nenhuma necessidade de que um benefleio pühlico para um determinado grupo seja necessa-
siamente do interesse da sociedade camo um todo. Assim como uma tarifa poderia ser um beneffcio
püblico para 0 setor industrial que Tuton por ela, a remagäo da tarifa poderia ser um beneffcio püblico
para aqueles que consomem 0 produto daquele setar. Isso € igualmente verdadeiro quando
o conceito
de beneficio püblico € aplicado a governos, jä que um gasto militar, ou uma larifa, ou uma restricäo &
imigragäo que seriam beneficios pöblicos para um pafs poderiam ser "malefteios püblicos" para
ou-
tro pafs © prejudiciais A sociedade mundtal como um todo.
23. R. M. Maclver, em Eneyrlapaedia afthe Sorial Sciences, op. eit., VII, p. 147.
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ALÖGICA DAACÄO COLEFINA
ganizagöes em geral. Um Estado € antes de mais nada uma organizagäo que pro-
v& beneffeios püiblicos para seus membros, os cidadäos. Similarmente, outros
tipos de organizagöes prov&em beneficios püblicos para seus membros.
E assim como um Estado näo pode se sustentar com contribuicöes voluntä-
rias, ou vendendo seus servicos bäsicos no mercado, tampouco nenhuma outra
grande organizagäo pode se sustentar sem oferecer algum tipo de apoio ou atra-
tivo distinto do beneffcio püblico em si, que Incentive os indivfduos a ajudarem
aarcar com 0 Önus de manter a organizacäo. O individuo membro da grande or-
ganizagäo tipica estä em uma posigäio anäloga A da empresa em um mercado per-
feitamente competitivo, ou A do contribuinte em um Estado: seus esforgos indi-
viduais näo teräo um efeito sensivel sobre a situagäo de sua organizagäo, e ele
poderä desfrutar de quaisquer vantagens obtidas pelos outros quer tenha ou näo
colaborado com o grupo,
Näo hä aqui nenhuma insinuagäo de que os estados ou outras organizacdes
proporeionem somente beneficios püblicos ou coletivos. Com fregüencia os go-
vernos fornecem beneffcios näo-coletivos, como, por exemplo, a energia eletri-
ca, e usualmente vendem esses beneficios na mercado da mesma maneira que
as empresas privadas o fariam. Al&m do mais, como este estndo lentarä mostrar,
as grandes organizagdes que näo liverem como tornar a af1liagäo compulsöria de-
vem proporeionar tamb&m alguns beneffcios näo-coletivos a fim de incentivar
seus membros em potencial a se afiliarem a elas. Os beneffcios coletivos säo be-
neficios caracteristicamente organizacionais, jä que os beneffeios näo-coletivos
comuns sermpre podem ser alcangados atrav&s da acäo individual, e somente
quando hä propösitos comuns ou beneficios coletivos em jogo a organizacäo ou
a acäo grupal se faz indispensävel".
c. A Teoria Tradicional dos Grupos Sociais
Existe uma teoria tradicional do comportamento grupal que parte implici-
tamente da premissa de que os grupos privados e as associagdes operam de acor-
do com princfpios completamente diferentes daqueles que governam os relacio-
hamenios entre as empresas no mercado ou entre contribuintes e Estado, Essa
"teoria dos grupos sociais" parece ser uma das maiores preocupagöes de muitos
24. Isso näo significa, contudo, que a agäo grupal organizada ou coordenada seja sempre necessäria para
se obter um beneficio colelivo, Ver neste capf1ulo "Grupos Peyuenos".
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UA1A TEORIA DOS GRUPOS SOCIAJS E DAS ORGANIZAGOES
cientistas polfticos nos Estados Unidos, bem como uma preocupagäo de primei-
ra grandeza de muitos sociölogos e psicölogos sociais". A teoria tradicional dos
grupos sociais, camo fantas outras teorias, foi desenvolvida por diferentes auto-
res com pontos de vista variäveis, e hä portanto uma inevitävel injustica em qual-
quer tentativa de dar um tratamento comum a essas diferentes visdes.Contudo,
09 värios expoentes do entendimento tradicional da questäo dos grupos tem de
fato uma conexäo comum com a argumentagäo desenvolvida no presente estu-
do. E portanto apropriado falar aqui de uma maneira vaga e algo licenciosa de
uma ünica teoria tradieional, desde que seja tragada uma distingäo entre as duas
variantes bäsicas dessa teoria: a variante informal e a variante formal.
Na sua variante informal, a visäo tradicional acredita que as organizacdes
privadas e 08 grupos säo fenömenos onipresentes na sociedade humana e que
essa onipresenga se deve a uma fundamental propensäo da especie a formar as-
sociagöes ou se unir a elas. Como diz o famoso filösofo polftico italiano Gaetano
Mosca, as homens töm um "instinto" para "se unir em rebanho e lutar com ou-
tros rebanhos", Esse "instinto" tamb&m "estä na raiz da formagäo de todas as
divisöes e subdivisöes [...] que se erguem dentro de uma determinada sociedade
e ocasionam conflitos morais e algumas vezes ffsicos", Aristöteles pode ter tido
algum instinto gregärio similar em mente quandeo disse que o homem & por na-
tureza um animal polftico"", O caräter onipresente e inevitävel da af1liagäo grupal
foi ressaltado na Alemanha por Georg Simmel em um dos clässicos da literatu-
ra sociolögica?®, e nos Estados Unidos por Arthur Bentley em um dos trabalhos
mais conhecidos da ciöncia polftica®. Com freqüencia se considera que essa ten-
dencia ou propensäo universal A uniäo em grupos atingiu seu mais alto grau de
intensidade justamente nos Estados Unidos".
25. Para uma discussäo sobre a imporläncia de "grupos" de värlos tipos e lamanh1os na teoria polflica, ver
Verba, Small Groups and Political Behavior, op. eit.; Truman, The Governmental Proress, op. cülse
Bentley, The Process af Government, op. ci Para exemplos do tipo de pesquisas & teorias sobre 05
grupos sociais nas dreas da psicologia social e da sociologfa, ver Cartwrighr & Zander, Group Dynamies,
e Hare, Borgatta & Bales, Small Gmups.
26. The Ruling Class, New York, McGraw-HiHl, 1939, p. 163.
27. Polttica 1.2.9.1253a. Muitos @utros tambem enfalizaram a Ppropensdo humana a formar grupos; ver
Coyle, Social Process in Organized Groups; Robert Lowie, Social Organization, New York, Rinchart& Co., 1948; e Truman, especialmente pp. 14-43.
8 . Georg Simmel, Conflict and the Web afGroup Afftliations, trad. am. Kurt Wolff & Reinhard Bendix,
Glencoe, Il., Free Press, 1950.
Bentley, The Proress ofGovernment..., op. ci.
0. Alexis de Tocquerille, Democracy inAuerica, New York, New American Library, 1956, p. 198; James
Bryce, The American Conunonwealth, 4. ed., New York, Macmiltan, 1910, pp. 281-282; Charles A.
Beard & Mary R. Beard, The Rise ofAmerican Civilization, New York, Macmillan, 1949, pp. 761-762;e Daniel Bell, The End afIdeology, Glencoe, Il, Free Press, 1960, espechalmente p. 30.
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ALÖGICA DAACÄO COLETIVA
A variante formal da visfo tradicional tamb&m enfatiza a universalidade
dos grupos, mas näo toma como ponto de partida nenhum "instinto" ou "tendEn-
cia" & uniäo grupal. Ao inves disso, tenta explicar as associagöes e afiliagöcs a
grupos na atualidade como um aspecto da evolugfo das sociedades industriais
modernas de hoje a partir das sociedades "priimitivas" precedentes. Ela parte do
fato de que os "grupos primärios""' (grupos to pequenos que cada membro tem
uma relagäo face-a-face com os demais), como a familia e grupos de parentes-
co em geral, predaminam nas sociedades primitivas. Como af1rma Talcott Par-
sons, bem sabido que em muitas sociedades primitivas hä uma nogäo de que
o parentesco *domina' a estrutura social; hä poucas estruturas concretas em que
a participagäo seja independente do starts de parentesco""?, Assim, nessas socie-
dades, somente a famflia ou os grupos de parentesco representam os Interesses
do indivfduo. R. M. Maclver descreve esse fenömeno desta maneira na Encyclo-
peedia of the Social Seiences: "Sob condigöes mais simples de estrutura social,
a expressäo social dos Interesses se dava sobretudo atrav&s de grupos de casta
ou classe, grupos de idade, de parentesco, de vizinhanga e outras solidariedades
näo constituidas em organizagäo ou livremente organizadas"". Sob condigöes
"primitivas" de organizagäo social as pequenas unidades, de tipo familiar, res-
pondem por toda ou quase toda a "interagäo" humana.
Mas - afirmam esses teöricos sociais - A medida que a sociedade se de-
senvolve ocorre uma diferenciagäo estrutural: novas associagdes emergem para
assumir algamas das fungdes que anteriormente ficavam a cargo da familia. "A
medida que as fungdes sociais desempenhadas pela instituigäo familiar em nos-
sa sociedade declinavam, alguns desses grupos secundärios, como os sindicatos,
alcancaram um nfvel de interagfo que iguala ou ultrapassa o de alguns grupos
primärios"', Diz Parsons:
E evidente que nas sociedades mais "avangadas" um papel muite maior € desempe-
nhado por estruturas näo-familiares, como Estados, igrefas, grandes empresas, universida-
31, Charles H, Cooley, Social Organization, New York, Charles Scribner's Sons, 1909, p. 23; George C.
Homans, The Hiunan Group, New York, Harcourt, Brace, 1950, p. 1; Verba, S1nall Gmups aud Political
Behavionr, op. et. pp. 11-16.
32. Tatcolt Parsons & Robert F. Bales, Fauniy, Glencoe, IE, Pree Press, 1955, p. 9 ver Talcot1
Parsons, Robert Bales & EdwardA. Shils, Working Papers in the Theary ofAction, Glencoe, Il, Free
Press, 1953,
33. Maclver, Eneyelopadia of the Socfal Sciences, op. cit, VII, pp. 144-148, espeeialmente p. 147. Ver
tamberm Truman, p. 25.
34. Truman, op. cit.; pp. 35-36, ver tambem Eliot Chapple & Carlton Coon, Principles ofAnthrapelogy,
New York, Henry Holt, 1942, pp. 443-462.
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UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAJS E DAS ORGANIZAGÖES
des e associncöes profissionais [...1 O processo pelo qual unidades näo-familiares assumem
um posto de primeira importäncia na estrutura social envolve inevitavelmente uma "perda
de fungäo" da parte de algumas ou mesmo de todas as unidades fundadas em lacas de pa-
rentesco®".
Se isso € verdade, e se, como diz Maclver, "a mais marcada distingäo es-
trutural entre uma sociedade primitiva e uma sociedade civilizada € a escassez
de associacöes especfficas na primeira e sa multiplicidade na segunda""®, en-
täo se poderta deduzir que a grande associacko na sociedade moderna &, em certo
sentido, um equivalente do pequeno grupo na sociedade primitiva e que a pran-
de associagäo moderna e 0 pequeno grupo primitivo devem ser explicados A luz
de uma mesma origem ou causa fundamental".
Qual seria entfo a origem ou causa fundamental comum dos pequenos gru-
pos primärios das sociedades primitivas e das grandes associagöes voluntärias
dos tempos modernos? Isso € algo que os defensores da variante formal da teo-
ria tradicional dos grupos sociais deixaram Implicito, mas näo claro. Poderfa-
mos supor que a resposta seria o "instinto" ou "tend&ncia" para formar asso-
ciagöes e se unir a elas, nocäo que € a marca registrada da variante informal da
teoria. Essa disposicäo para formar e se mir a grupos se manilestaria, portan-
to, nos pequenos grupos familiares e de parentesco das sociedades primitivas e
nas grandes associagöes voluntärias das sociedades modernas. No entanto, essa
interprelacäo seria provavelmente injusta para com muitos dos teöricos que as-
sinam a variante formal da teoria tradicional, posto que muitos deles, sem dü-
vida, näo endossariam nenhuma teoria baseada em "instintos" ou "propensöes".
Eles t&m conseiencia de que na verdade nenhum esclarecimento estä sendo pro-
poreionado quando se af1rma que a formagäo de associagdes ou a af1liagfo a
35. Parsons & Bales, p. 9, Ver tamb&m Beraard Barber, "Participation and Mass Apathy in Associations",
em Alvin W. Goufdner {org.), Studies in Leadership, New York, Harper, 1950, pp. 477-505, eNeil].
Smelser, Social Change it the Industrial Revolution, London, Routledge& Kegan Paul, 1959.
36. Maclver, Eneyelopedia afhe Social Sriences, op. rät, VIE pp. 144-148, especialmente p. 147. Ver
tamben1 Lonis Wirth, 'Urbanism as a Way of Life", American Journal ofSociology, XLIV,jul. 1938,
p- 20; Walter Firey, "Toatition and Schism in a Regional Conservation Program", Human Organization,
XV, inverno de 1957, pp. 17-20; Herbert Goldhamer, "Social Clubs", cm Seba Eldridge (org.),
Development af Collective Enterprise, Lawrence, University of Kansas Press, 1943, p. 163.
7. Para uma interpretagäo diferente do fenötneno da associagdo voluatäria, ver Oliver Garceau, The
Political Life af the American Medical Association, Cambridge, Harvard University Press, 1941,p.3:
"Com o advento da intervengäo e do controle politicos, particularmente sobre a economia, Iornau-se
evidente que a elaboragäo de polfticas governamentais nio poderia ficar confinada As umas ou &
legislatura, Para preencher a lacuna, o geupo valuntärio fol reseat:
do näo sc te pelo individuo, que
se sentia sozinho, como tamb&m pelo govemo, que se sentia ignorante".
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vontade de cunho evolutivo 

-> socialização e agregação 

com o desenvolvimento da sociedade desenvolve-se tb a forma de agregação, ou seja, tornam-se mais complexos os níveis e modelos de interação
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ALÖGICA DA ACÄO COLETIVA
elas se deve a um "instinto" de pertencer, pois isso oferece apenas uma pala-
vra, e uma explicacäo. Qualquer agäo humana pode ser imputada a um ins-
tinto ou propensäo, mas isso näo acrescenta nada ao nasso eonhecimento. Se a
tese dos instintos ou propensöes para formar grupos e se umir a eles for descar-
tada, entäo qual poderia ser a causa original dos onipresentes grupos e associa-
göes, grandes & pequenos, segundo a teoria tradicional? Provavelmente alguns
teöricos tradicionais raciocinaram em termos "funcionais" - ou seja, do ponto
de vista das fungöes que os grupos ou associagöes de diferentes fipos e tam1a-
nhos podem desempenhar. Nas sociedades primitivas, os pequenos grupos pri-
märios prevaleceram porque eram mais adequados (ou pelo menos suficientes)
para desempenhar certas fungöes para 0 povo dessas sociedades. Nas socieda-
des modernas, em contraste, presume-se que predominem as grandes associa-
<öes porque na conjuntura moderna sö elas säo capazes de desempenhar (ou säo
mais aptas a desempenhar) certas fungdes üteis ao povo dessas sociedades. A
existencia da grande associagäo voluntäria, por exemplo, poderia entäo ser
explicada pelo fato de que ela desempenha uma determinada fangäo - isto &,
satisfaz a uma demanda, alcanga um objetivo ou vai ao encontro de uma neces-
sidade - para um grande nümero de pessoas que os pequenos grupos näo pode-
riam desempenhar (ou näo poderiam desempenhar täo bem) nessa eonjuntura
moderna. Essa necessidade ou objetivo € um incentivo A Tormacäo e manuten-
go da associagäo voluntäria.
E caracterfstico da teoria tradieional, em todas as suas formas, que ela pre-
suma que a participagäo nas associagöes voluntärias € virtualmente universal ©
que 08 pequenos grupos € as grandes organizagöes iendem a atrair membros pe-
las mesmas razöes. A variante informal da teoria tradicional pressupunha uma
propensäo a pertencer a grupos sem tragar nenhuma distingäo entre grupos de
diferentes tamanhos. Embora a variante mais sofisticada da teoria tenha o m£ri-
to de tragar uma distingäo entre as fungöes que podem ser mais bem cumpridas
por pequenos grupos c as que podem ser mais bem cumpridas por grandes asso-
ciagöes, ela pressupde Contudo que, quando houver necessidade de uma grande
associngäo, uma grande associagäo provavelmente emergirä e atrairä membros,
€, da mesma forma, um pequeno grupo emergirä quando houver necessidade de
um pequeno grupo. Portanto, ainda que a teoria tradicional trace alguma distin-
cäo entre grupos pequenos € grandes, aparentemente ela o faz tendo em vista a
escala das fungdes que eles desempenham, e näo a extensäo do &xito que eles
teriam ao desempenhar essas fungöes ou sua capacidade de attair membros. Ela
parte do prinefpio de que os grupos pegttenos e grandes diferem em grau, mas
ndo em tipo.
32
UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAJS E DAS ORGANIZAGÖES
Mas serä isso verdadeiro? Serä que grupos pequenos, primärios, € grandes
associacöes atraem membros da mesma forma, serä que t&m praticamente o mes-
mo nfvel de efici&ncia no desempenho de suas fungöes e diferem somente em
tamanho, mas näc em sua natureza essencial? Essa teoria tradicional & colaca-
da e1n düvida pela pesquisa empfrica, que mostra que, tipicamente, o homem me&-
dio na verdade näo pertence a grandes associagöes voluntärias e que a alegagäo
de que o norte-americano tipico € um "grupista" € em grande parte um mito".
Portanto, pode valer a pena perguntar se € realmente certo que nao hä nenhuma
relacäo entre o tamanho de um grupo e sua congrueneia, ou sua eficiöncia, ou
seu apelo para potenciais membros, e se näo haveria alguma relacäo entre o ta-
manho do grupo e os Incentivos individuais para contribuir na consecucäo de
metas grupais. Para que a teoria dos grupos sociais tradicional possa ser adequa-
damente avaliada, hä algumas questöes que t&m de ser respondidas. E preciso
saber, nas palavras do sociölogo alemäo Georg Simmel, "qual © comportämen-
to que o conjunto dos afiliados tem sob a forma de vida social".
Um obstäculo evidente a qualquer argumentagäo que sustente que grupos
grandes e pequtenos operam com base em principios fundamentalmente diferen-
tes & o fato, j& enfatizado antes, de que qualquer grupo ou organizagäo, grande
ou pequeno, trabalha por algum beneffcio coletivo que por sua pröpria natureza
favorecerä a todos os membros do grupo em questäo. Embora todos os mem-
bros do grupo tenham consegüentemente um interesse comum em alcangar esse
beneficio coletivo, eles näo t&m nenhum interesse comum no que loca a pagar o
custo do provimenio desse beneffcio coletivo. Cada membro preferiria que os
outros pagassem todo o custo sozinhos, e por via de regra desfrutariam de qual-
quer vanlagem provida quer tivessem ou näo arcado com uma parte do custo.
Se essa € uma caracteristica fundamental de todos os grupos ou organizagdes
com objetivos econömicos, pareceria Improvävel que as grandes organizagöes
fossem muito diferentes das pequenas e que houvesse alguma razäo para que
um servico coletivo fosse proporeionado mais faciimente a um grupo pequeno
do que a um grande. Mesmo assim, näo hä como evitar a sensagäo intuitiva de
38. Murray Hauskaccht, The Jainers -A Description ofVoluntary Assoriatten Membership is
the United States, New York, Bedminster Press, 1962, Mirra Komaravsky, "The Voluntary Associations
ofUrban Dwelters", American Sociologieal Review, X}, dez. 1946, pp. 686-698; Floyd Dotson, "Patterns
of Yoluntary Membership Among Working Class Families", American Soriologiral Review, XVI, out
1951, p. 687; John C. Scott Ir., "Membership and Partieipation in Voluntary Assoctations", American
Soriological Revieiw, XXI, jun. 1957, p. 315.
39, Georg Simmel, The Sorivlagy ofGeorg Simmel, irad. am. Kurt H.Wolff, Glencge, II, Free Press. 1950,
p- 87.
33
EstudosPos004
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A KÖGICA DAAGAO COLETIVA
que algumas vezes grupos adequadamente pequenos se prov&em de beneficios
püblicos.
Essa questäo näo pode ser respondida satisfatoriamente sem um estudo dos
custos e beneffcios dos cursos de agäo alternativos disponfveis para os membros
de grupos de diferentes tamanhos. A pröxima parte deste capftulo, "Grupos Pe-
quenos", desenveolve esse estudo. Par sua natureza, essa questäo exige a utiliza-
cäo de algumas ferramentas da anälise econömica. A pröxima parte contem uma
pequena dose de matemätica que, embora extremamente radimentar, naturalmen-
te poderä parecer obscura a leitores que nunca estudaram o assunto. Al&m dis-
so, alguns pontos referem-se a grupos de mercado oligepolistas, e essas referEn-cias a oligop6lios provavelmente sö Interessaräo aos economistas. Portanto, para
proveito daqueles que quiserem pular o grosso da pröxima parte, 05 pontos mais
importantes da mesma seräo explicados de maneira plausfvel e compreensivel
intuitivamente, embora algo vaga e imprecisa, no "Sumärio Näv-tEcnico".
d. Grupos Pequenos
A dificuldade de analisar a relacäo entre 0 tamanho do grupo e o compor-
tamento do individuo no grupo se deve em parte ao fato de que cada individuo
em um determinado grupo pode conferir um valor diferente ao beneffcio pübli-
co almejado por seu grupo. Al&m disso, cada grupo interessado em um beneff-
cio püblico enfrenta uma fungäo-custeo distinta. Um ponto que permanecerä vä-
lido em todos os casos, contudo, € que a f1ngäo custe total serä ascendente, pois
os beneffcios coletivos sig com cerieza parecidos com os beneficios näo-eoleti-
vos na peculiaridade de que quanto mais se obtiver do beneffeio, mais altos se-
05 custos totais. Sem düvida serä tamb&m verdadeiro em virtualmente todos
05 casos que haverä custos iniciais ou fixos significativos. Algumas vezes, um
grupo tem de constituir uma organizagfo formal para poder Iutar pela obtengäo
de um beneffcio coletivo, € o custo de montar uma organizagdo implica que a
primeira unidade do beneffcio coletivo obtido serä relativamente alto. Mesmo
quando nenhuma organizagäo ou coordenacäo € necessäria, a morosidade ou
outras caracterfsticas t&enicas dos beneffcios püblicos em si garantiräo que a
primeira unidade de um beneficio coletivo seja desproporcionalmente cara. Qual-
quer organizagäo logo descobrirä tamb&m que, A medida que sun demanda pelo
beneffcio cresce al&1m de um certo ponto e comega a ser considerada "excessi-
va", a resistäncia & conseqlientemente o custo de unidades adicionais do beneff-
cio coletivo sobem desproporeionalmente. Em poucas palayras, o custo (C} serä
34
UMA TEORJA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACÖES
uma fungäo da taxa ou nfvel (7) de obtengäo do beneffcio coletivo (C = IT), e
as curvas de custo m&dio teräo a forma convencional de U.
Um ponto fica imediatamente 6bvio. Se uma determinada quantidade de um
beneffcio coletivo puder ser obtida a um custo suficientemente baixo com rela-
gäo As vantagens que trarä, a ponto de uma pessoa sozinha do grupo em ques-
täo sair ganhande, mesmo que tenha de arcar sozinha com esse custo, entäo hä
uma boa probabilidade de que o beneffcio coletivo seja proporcionado. Isso sig-
nificaria que 0 ganho total seria täo grande com relagäo ao custo total que a fra-
gäo de um ünico individuo na partilhajo beneficio coletivo jä superaria o custo
total de sua obtencäo.
Cada indivfduo obterä uma determinada fragäo do gauho total do grupo,
parte essa que dependerä de nämero de integrantes do grupo e do quanto o in-
dividuo serä favorecido com esse beneficio em relagäo aos outros membros do
grupo. O ganho total do grupo dependerä da taxa ou nivel de abtengäo do bene-
ficio eoletivo (7) e do "tamanho" do grupo (S,), sendo queb "tamanho" depen-
de näo somente do nfümero de indivfduos do grupo mas tambe&m do valor que uma
unidade do beneffcio coletivo tem para cada individuo no grupd, Isso poderia ser
ilustrado com muita simplicidade tomando-se como exemplo hipotetico um grupo
de proprietärios de imöveis fazendo lobby para conseguir uma redugäo nos im-
postos imobiliärios. O ganhe total do grupo dependeria do "tamanho" (5,} do
grupo, isto €, do valor total estimado de todas as propriedades dos membros do
grupo juntas, e da taxa ou nfvel (7) de redugäo do imposto obtida para cada d6-
far da quantia total definida na estimativa do valor total das propriedades. O
ganho individual para cada membro do grupo dependeria da "Tragäo" (7,) que
Ihe caberia do ganho total do grupo.
O ganho do grupo ($,T) tambem pode ser chamado de Y, - valor para o
grupo - e o ganho para o indivfduo de V, - valor para o individuo. A "fragäo"
(F,) seria entäo igual a V,/V,, e o ganho para 0 individuo seria FS,T. A vanta-
gem (A,) que qualquer indivfduo i teria obtendo qualquer quantidade do benefi-
cio coletivo ou grupal seria o ganho do indivfduo menos o custo (9).
O que o grupo farä dependerä do que os individuos desse grupo fizereim, ©
o que os indivfduos faräo dependerä das vantagens relativas que Ihes oferece-
räo 05 cursos de agao alternativos. Portanto, 0 primeiro passo, agora que as va-
riantes pertinentes foram isoladas, 6 considerar o ganho ou a perda individual
com a aquisigäo de quantidades diferentes do beneffcio coletivo. Isso depende-
rä da maneira como a vantagem de indivfduo (A, = Y,- C) mudarä conforme as
mudangas em isto €, em:
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ALÖGICA DA ACÄO COLETIVA
dA,FdT = dV,/AT - ACHT.
Para um mäximo, dA/dT = Jä que V, = FS\T,e F,e $,säo, de momento,
constantes pressupostas"",
AFS,TYAT - dC/dT = 0
PS, - dC/dT = 0.
Isso mostra a quantidade do beneffcio coletivo que um indivfduo, agindo
independentemente, adquiriria, se conseguisse adquirir alguma quantidade. Esse
resultado pode ter um significado geral, de senso comum. Desde que o nivel öti-
mo de obtengäo do beneficio seja atingido quan1do
dA,SdT = - dC/dT = 0
e desde que dV,/dT = F{dVAT)
Fidv /dT} - dC/dT = 0
F{dY /AT) = dC/AT.
Isso significa que a quantidade Stima de um beneficio coletivo a ser obtida por
um individuo, se ele conseguir obter alguma quantidade, € atingida quando a taxa
de ganho de grupo multiplicada pela frag&o do ganho grupal que o indivfduo
obt&m iguala a taxa de crescimento do custo total do beneffeio calelivo. Em ou-
tras palavras, a taxa de ganho grupal {dV /dT) deve exceder a taxa de erescimen-
to do custo (dC/dT) pelo mesmo mältiplo que o ganho do grupo excede o ganho
do indivfduo envolvido (J/F,= vgti
Mas o que mais importa aqui näo € que quantidade do beneffecio coletivo
serä proporeionada, se € que alguma quantidade serä proporeionada, e sim se al-
guma quantidade do beneficio coletivo serä proporcionada. E estä claro que no
40. As condigöes de segunda ordem para um mäximo tamb&m devem ser preenchidas, isto &, < 0,
41. Em casos em que F,e $, näo säo constantes, 0 mÄximo se dä quando:
- dC/dT = 0
FS, + FT{dS,/dT) + - dC/AT= 0.
42. A mesma conclusäe poderia ser deduzida enfocando-se a atengäo nas fungöes de custo © beneficio do
iadivfduo isolado, desprezando os ganhas tatais do grupo. Mas isso desviaria a atengäo do objetivo
principal da anälise, que & estudar a relagäo entre o tamanho do grupo € a probabilidade que ele terä
de obter o beneficio coletivo.
36
UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGDES
n{vel ötimo para o indivfduo que age independentemente o beneficio coletivo ou
grupal serä presumivelmente provido se F,> C/V,.
Porque se
F,> CN,
VAD>CH,
entäo
Portanto, se F,> C/V,, o ganho para o individuo que se empenhar para que seja
provido o beneffcio coletivo excederä o custo. Isso significa que hä uma presun-
gäo de que o beneffcio eolelivo serä provido se seu custo for, no ponto Ötimo de
obtengäo do beneffeio para qualquer indivfduo do grupo, täo pequeno em rela-
gäo ao ganho do grupo como um todo com esse mesmo beneficio coletivo que o
ganho total exceda o custo total por tanto ou mais do que o ganho grupal exce-
de o ganho individual.
Em sintese, portanto, a regra € que hä uma presungäo de que o benefieio
coletivo serä provido se, quando os ganhos do grupo com esse beneficio coleti-
vo estiverem crescendo a I//F, vezes a taxa de crescimento do custo total do pro-
vimento desse beneficio (isto €, quando dY,/dT = I/F(dC/dT)), o beneffcio to-
tal para 0 grupo for um mültiplo maior do custo desse beneficio do que os ganhos
do grupo säo dos ganhos do individuo em questäo (isto €, V/C > WAY).
O grau de generalidade da id&ia bäsica do modelo acima pode ser ilustra-
do aplicando-o a um grupo de empresas de um determinado mercado. Tome-se
um setor industrial com um produto homogöneo e suponha-se que as empresas
desse setor almejem independentemenfeaumentar seus lucros. Para maior sim-
plicidade, suponha-se tamb&m que o custo marginal de produgäo seja zero. A fim
de evitar a introdugäo de novos simbolos gräficos ce de evidenciar a aplicabilidade
da anälise acima, estabelegamos que T agora se refere a preco, S, ao volume
sico das vendas dö grupo ou setor industrial e $, ao tamanho ou volume fisico
das vendas de uma determinada empresa i. F, ainda indica a "fragäo" de total
correspondente a determinada empresa ou membro do grupo (indica agora a fra-
gäo das vendas totais do setor ou grupo que cabem A empresa iem um determi-
nado momento: F, = S,/8,). O prego, T, afetarä a quantidade vendida pelo setor
industrial em uma extensäo dada pela elasticidade da demands, E. A elasticida-
de E = -T/S {dS,/dT), e disso se segue uma ütil equagäo para a inclinacäo da
x
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ALÖGICA DA AGÄO COLETIVA
curva de demanda (dS,/dT): dS,/dT = -ES,/f. Sem custos de produgäo, 0 ponto
ötimo de produgfo para uma empresa se darä quando
dA,fdT = d{STYdT = 0
S,+ MdS,/dT) = 0
PS, + Tds/dT) = 0.
Aqui, presumindo-se que a empresa age independentemente, ou seja, näo espe-
ra nenhuma reagäo da parte das outras cmpresas, dS, = dS,, portanto
FS, + T(dS,/dT) = 0
e desde que AS /dl =
FS,- TEST) = 05
S{F-E) = 0.
Isso s6 pode acontecer quando F, = E. Somente quando a elasticidade da
demanda para o setor industrial for menor ou igual A fragäo da produgäo total
do setor correspondente a uma emmpresa em particutar, essa mesma empresa terä
algum incentivo para restringir sua producäo. Uma empresa que estiver lentan-
do decidir se restringirä ou näo sus producäo a fim de obter um preco mais alto
irä comparar 0 custo, ou perda da produgäo, previsto ante os ganhos que poderä
obter com o "beneffeio coletivo": 0 preco mais alto. A elasticidade da demanda
serä a medida. Se F,for igual a E, isso significa que a elasticidade da demanda
do setor industrial € igual A parcela da produgäo do setor correspondente A em-
presa em questäo. Se a elastieidade da demanda for, digamos, 1/4, isso significa
que uma redugäo de 1% na produgäo trarä 4% de aumento de prego, 0 que torna
evidente que, se determinada empresa tem um quarto da produgäo total do setor
industrial, ela deveria parar de aumentar sua producäo ou restringi-la. Se hou-
vesse, digamos, mil empresas do mesmo tamanho operando em um determinado
setor industrial, a elasticidade da demanda para o produto desse setor teria de
ser 1/1000, ou menos, para que se tornasse necessäria qualquer contengäo de
produgäo. Portanto, näo hä equilfbrio de Iucros em qualquer setor industrial que
cönte com un nümero muito grande de empresas. Quando, Amedida que mais T
(0 pregomais alto) € provido, a taxa de crescimento dos ganhos do &rupo forem
M/F, vezes täo grande quanto a taxa a que os custos tolais de restrigäo de produ-
yäo aumentam, uma empresa que almeje um aumento de lucros comegarä por
38
UMA TEORJA DOS GRUPOS SOCAALS E DAS 0RGANZAG0ES
restringir sua produgäo, isto €, comegarä agindo de maneira coerente com 05
interesses do setor industrial como um todo. E o mesmo criterio de comporta-
mento grupal usado no caso mais generico explicado anteriormente.
Essa anälise de um determinado mercado & id@ntica ä de Cournor". O que
näo € surpreendente, visto que a teoria de Cournot & em essencia um caso espe-
cial de uma teoria mais geral sobre a relagäo enire os Interesses de um membro
de determinado grupo e 08 Interesses do grupo como um todo. A teoria de
Cournot pode ser encarada como um caso especial da anälise aqui desenvolvi-
da. A solucäo de Cournot leva portanto A conelusäo de senso comum de que ma
empresa agirä para manter alto o prego do produto que seu setor industrial ven-
de somente quando o custo total de manter esse prego alto näo for maior do que
sua parte do ganho que o selor obterä com esse preco alto. A teoria de Cournot
€, assim como a anälise da agüo grupal fora de um contexta de mercado, uma
teoria que questiona quando serfa do interesse de uma unidade individual de um
grupo agir pelo interesse do grupo como um todo.
Hä um ponto em que o caso de Cournot € mais simples do que a situagäo
do grupo fora do contexto de mercado, principal objeto deste estudo. Quando um
grupo visa a um beneficio coletivo corriqueiro, ao inves de um prego mais alto
atravds de uma contengäo de producho, ele logo descobre, como se mostrou no
parägrafo inicial desta parte, que a primeira unidade do beneffcio coletivo obti-
da serä mais cara em si do que algumas unidades subsegiientes do mesmo bene-
ficio. Isso se deve A morosidade e autras caracterfsticas tecnicas dos beneffeios
coletivos e tamb&m ao fato de que algumas vezes pode ser necessärio montar
uma organizacäo para obter o beneficio coletivo. Isso chama a atengäo para o
fato de que hä duas questöes distintas que um indivfduo em um grupo fora do
contexto de mercado deve considerar. Uma & se o ganho total que ele obterä com
0 provimento de determinada quantidade do beneffcio coletivo excederä o cus-
to total dessa quantidade de beneffcio coletivo. A autra questäo & a de saber que
quantidade do beneficio coletivo ele deverä prover, se alguma quantidade for pro-
vida, e a resposla depende, claro, da relacäo entre custos e ganhos marginais,
mais do que totais.
Similarmente, hä tamb&m duas questöes distintas sobre 0 grupo como um
todo que precisam ser respondidas. Näo € suficiente saber se um grupo pequeno
conseguirä prover-se de um beneffcio coletivo ou näo. E tambem necessärio de-
terminar se a quantidade do beneficio coletivo que 0 grupo irä obter, se obtiver
43. Augustin Coumot, Kesearches inte the Mathematical Prineples of the Theory of Wealth, trad. am.
Nathaniel T. Bacon, New York, Macmittan, 1897, especialmente o Cap. vii, pp. 79-90.
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Débora
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A LÖGICA DA ACÄO COLETIVA
algum, tenderä a ser um "ötimo de Pareto" para o grupo como um todo. Ou seja:
serä 6timo o nivel de ganho total com relacäo As necessidades do grupo como
um todo? A quantidade dtima de um beneficio coletivo para um grupa como um
todo, se ele obtiver alguma quantidade, seria dada quando o ganho do grupo es-
tivesse crescendo na mesma taxa que o custo do beneffeio colefivo, isto &, quan-
do a/dT = dC/AT. Dado que, como foi demonstrado acima, cada individuo do
grupo lerja um incentivo para se prover mais do beneffcio coletivo ae
= dC/dT, e dado que IF, = I, poderia parecer A primeira vista que a soma do que
os individuos, agindo independentemente, proveriam iria bater com o ponte 6ti-
mo para 0 grupo. Pareceria tambe&m que, assim, cada indivfduo da grupo estaria
arcando com uma fragäo, F,, do Önus lotal, de maneira que o custo do provimen-
to do beneffeio coletivo estaria sendo compartilhado de maneira "correta", no
sentido de que seria compartido na mesma proporgäo que os beneficios.
Mas näo € 0 que acontece. Geralmente, a quantidade de beneffeio coletivo
provida serä surpreendentemente subölima, e a partilha do Önus serä surpreen-
dentemente arbiträria. Isso ocorre porque a quantidade x de beneffcio coletivo
que cada individuo obtm para si irä tamb&m automaticamente para os Outros.
Faz parte da mesma definigäo de beneficio coletlivo que um membro näo pode
excluir 05 outros membros do grupo das vantagens trazidas pela quantidade x de
beneffcio püblico de que ele se proveu", Isso significa que ninguem no grupo
terä um incentivo independente para prover qualquer quantidade do beneffeio co-
letivo uma vez que a quantidade que seria adquirida pelo individuo com o mai-
or F, do grupo j& estivesse disponivel. Isso sugere que, assim como hä uma ten-
dencia a que 05 grupos grandes näo consigam prover-se de quantidade alguma
de beneficio coletivo, hä nos grupos pequenos uma tendEncia a um provimento
do beneficio coletivo abaixo do nivel ötimo para o grupe como um todo. Essa
subotimidade serä tanto mais grave quanto menor for o 7, do "maior" individuo
do grupo. Jä que quanto maior o nämero de membros do grupo, nomais näo ha-
vendo diferengas, menores seräo as F,, segue-se que quanto mais individuos
houver no grupo, mais grave serd a subotimidade. Fica claro, portanto, que os
44. No resto destä parte ser& conveniente e ütif supor que 10dos os menibros do grupo reeebem a mesma
quantidade do beneficio püblico. Na verdade, € isso que ocone sempre que o beneficio caletivo € um
"beneffcio püblico puro", no sentido da definigäo de Samuelson. Essa su suposigäo €, contudo, mais ri-
501052 do que a usualmente necessästo. Um beneficia püblico pade ser consumido em quantidades
desiguais por individuos distintos e, ainda assim, ser totalmente um beneffcio püblico, no sentido de
que seu consumo por um indivfduo de forma alguma diminni a quantidade disponfvel para os outros.
E, miesmog quando 0 consumo extra por um indivfduo acarreia redugdes marginais na quantidade dis-
ponfvel para os outros, as conchusöes qualitativas de que haverä subotimidade & partilha despropor-
cional de önus continuan1 välidas.
do
grupos com mais mem
UAA TEORIA DOS GRUPOS SOCAAJS
E DAS ORGANIZAGÖES
bros geralmente desempenharäo
com menos eficiöncia do
que os grupos com
MENOS membros.
dades de um grupo, pois a
membros hä no grupo CO
da individualmente, ou seja.
terminado nivel de pro
fazendas pouparä mais co
priedades rurais do que
©
&, no mais näo havendo
membros de 5; desigual e, P
subotimidade (e terä mais probabilid
determinado beneffeio colet
idEntico por&m composto pP
quantidade do beneffcio
coletivo uma vez que {0 meM
obtido a quantidade que desejavi
partilha do önusen
nal aos ganhos indi
grupo. Ö membro com o
malor #,
45. s
46.
-&m, considerar apenas 0 nümero de indivfduos
ou uni-
F,de qualquer membro dependerä
näo apenas de quanto
mo tamb&m do *tamanho" (5,) de cada membro
toma-
a medida em que ele serä beneficiado por um
de-
vimento do beneffcio coletivo. Um proprietärio
de vastas
m uma determinada redugäo de impostos
sobre pro-
proprietärio de apenas uma
modesta casa de campo,
diferengas, terä um F; maior®. Um gruüpo gomposto por
ortanto, desigual exibträ uma tendäneia
menor A
ade de prover-se de alguma quantidade
de
jvo) do que um grupo, A parte essa
caracteristica,
r membros de tamanho igual.
gudm tem incentivo para prover
mais nenhuma
bro com o maior F, tenha
Näo € suficiente, por
Considerando-se que nn
1, & tambem exato que em um grUpO pequeno
a
volvido no provimento do beneficio
coletivo ndo serä proporeio-
viduais trazidos pelo benefteio coletivo para
cada membro
do
arcarä com uma parte desproporeional do önus".
do. Uma
As diferengas de tamanl1o tanLem pPodem
ter alg:uma importäncte em contextos
de merca
determinado mercado obterä uma fragäo
malor do ganha total para sector com
to do que uma empresa pequena € terä, porlanto,
maior incentivo para restrin-
gere one a competigäo
de algumas poucas grandes e1npresas
No meiO de mai-
asp produgäo a su
a algumas opinides, pode conduzir
a uma mä alocagAo de recursos. pPPara
um
nferente desta questäo, ver Willard D. Arant,
"The Sonpeiden of the Few among the
uma visäo
fazer total justiga ale mesmo a algamas das
a discussio isn 1exto €
Naquefe que € talvez ocaso mais
comum, onde o beneffcio coletivo näo
em dinheiro a cada membro de determinado grupo
& näo € algo que cada indivi-a ratificagäo
venderppo dinheiro, os indivkduos
do grupo devem comparar a custo adieional
do ann p055%
do beneffcio coletivo com a "vaniagem"
adicionat que Ihes proporcionaria a
Bi sign unidade
Eles uäo poderiam, camo a argumentagäo
do texto pressupde, meramente
em dinheiro com um retorno em dinheiro,
© puttanto as Curvas de indiferenga tam-
somparar un custo
na anälise. A taxa marginal de substitwigäo seria afetada
näo somente pelo
pelos "efeitos da renda".
Os efeitos da renda levariam um membro
uantidade desproporcionat da sua renda para
obter 0 beneffeio pöblica a
sacrifica M
na dogve daria se tivesse obtido o beneflcio coletivo gratwitamente
de outros
dar mais valora 9010 sc
sentido inverso, aqueles que »do houvessem
arcado com nenhuma parte dos
membros pn rupd. Em
beneficio coletivo de que estivessem desfrutande
achariam suas rendas efe-ma
menos que u beneficio coletivo
fosse um beneffeio inferior, esse ganho em renda
tivas mailores, &, a
aran
qualquer prego
pequeuas,
Mau Quarterly Juurnal a
LXX, ago. 1956, pp- 327-345.
demasiado breve € simples parta
sitwagdes rexis mals comur
duo
aquisigäo dess: unidade
b&m teriam de ser usadas
fato de que unidades
adicionais do beneffeio coletivo diminuina quant6
mais se constt
ma:
que livesse
da
41
Débora
Realce
Débora
Sublinhado
Débora
Realce
Débora
Realce
Débora
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Débora
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Débora
Realce
Débora
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Realce
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A LÖGICA DA AGCÄO COLETHNA
Portanto, no que concerne a pe<juenos grupos com Interesses comuns, Jhd ume ten-
dencia sistemätica ä "exploragäo"" do grande pelo pequeno!
O comportamento dos pequenos grupos interessados em beneffeios coleti-
vos pode algumas vezes ser bastante complexe - muito mais complexo do que os
parägrafos precedentes poderiam sugeris". HA alguns acertos institucionais e hi-
pöteses comportamentais que nem sempre conduzern & subotimidade e despro-
porcionalidade que os parägrafos acima descreveram. Qualquer anälise adequa-
da da tend@ncia a um provimento subötimo de beneffcios coletivos e a uma
partilha desproporcional dos Önus para consegui-los seria muito longa para caber
confortavelmente neste estudo, que estä preocupado acima de tudo com os gran-
des grupos e traz A baila os pequenos principälmente para fins de comparagäo e
contraste. A questäo dos grupos pequenos que almejam beneficios coletivos & de
considerävel importäncia tanto teörica quanto prätica®", e näo foi adequadamente
efetiva reforgaria s11a demanda pelo beneficio coletivo. Esses efeitos da renda tenderiam a impedir que
u maior meinbro do grupa arcasse com fndo o Önus da obtencäo do beneficio coletivo (como arcaria
no caso excessivamente siinpfes considerado no texto). Sau grato a Riehard Zeckhauser por ter cha-
mado a minha atengäo para a impontäncia dos efeltos da renda nesse contexto.
47. As conolagöes morais da palavra ex1plaragäo sio infelizes neste caso. Nenluma conclusio moral ge-
neriea pode se seguir de una anälise puramente Iögica. Contudo, dade que u palavra exploragän &
habitualmente usada para descrever situagdes onde hi uma despronargäo entre os ganhos € os sacrifi-
cios de diferentes pessaas, seria pedante usar out1a palayra aqui.
48. Para comegar, 0 rmciocinio do lexto piessupöe um comporiamento independente e, porlanto, despreza
a interagäo estrat@gica ou barganha possivelem grupos pequenos. Como o final dese capitulo mosisa-
rd, a interagäo estrategica € usualmente muito menos importante cm grupos fora do contexto de mer-
cado visando a um beneffcio coletivo do que entre grupos de empresas no 1mercado. E mesmo quando
hä barganha, freqtientemente haverä uma disparidade de poder de barganha que conduzirs mais ou
menos a0s Mesmos resultados descritos no texto, Qnando um membro com um grande F, barganha com
um membro com um pequeno F,, tudo o que ele pode fszer € ameagar o memhro menor dizendo algo
como "se voc& näo prover mais desse beneficio coletivo, eu tambem proverei menos menos, e vac&
fieasg em uma situagfo pior do que aquela ein que estä agora". Mas, quando 0 membro grande resuin-
ge a sun aquisicäo do beneffeio püblico, ele sofre mais do que o meinbro menor, simplesmente porque
seu F,& maior. A ameaga do membro grande näo tem, portanto, muilas condigäes de ser convincente.
Outro fator que opera na mesma diregäo € que a quantidade mäxi1na de obtengio de um beneflcio
coletivo que uma barganha bem-sucedida pode extrair do Pequeno membro € menor que a quantidade
que uma barganha bem-sucedida pode extrair do grande membro. Isso signiftca que mesmo com uma
barganf1r bem-sucedida o grande membro pode näo ganhar o suficiente para justificar os eiscos ou Outros
custos da barganha, enguanto 0 pequieno membro, em contraste,

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