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SISTEMA IMUNITÁRIO SISTEMA IMUNITÁRIO É um conjunto de diversos tipos de células e órgãos que protegem o organismo dos animais de potenciais agentes agres- sores biológicos (microrganismos) ou químicos (toxinas). Este sistema também é responsável pela vigilância e destruição de células envelhecidas e anormais (cancerosas), do próprio organismo. ORGANISMOS PATOGÉNICOS São agentes biológicos capazes de causar doenças aos animais – bactérias, vírus, fungos, protozoários ou animais para- sitas. Os organismos patogénicos podem entrar no corpo dos animais através do ar, da água, dos alimentos ou através de lesões da pele ou das mucosas. Os vírus e as bactérias são os organismos patogénicos que mais frequentemente causam doenças infeciosas. Ambos possuem um património genético, constituição molecular orgânica e capacidade reprodutora. Os vírus e as bactérias têm uma estrutura diferente, atacam e infetam de modo diferente. VÍRUS São seres acelulares. Não são considerados verdadeiros seres vivos sobretudo porque não se conseguem reproduzir nem desenvolver metabolismo de forma independente. Existem diferentes tipos de vírus. Genericamente, são constituídos por um invólucro protetor de natureza proteica (cápside) e por material genético (DNA ou RNA). Alguns vírus são rodeados por uma membrana de natureza lipídica. Os vírus são parasitas intracelulares obri- gatórios – só manifestam características vitais no interior de células vivas por eles invadidas. Para se multiplicarem, os vírus têm de introduzir o seu material genético numa célula e assumir o co- mando do seu metabolismo. O DNA do vírus é replicado e a transcrição e tradução de genes vi- rais permite a formação de novas cápsulas pro- tetoras. Podem abandonar a célula hospedeira por um processo semelhante à exocitose, mas frequentemente, multiplicam.se de tal forma que provocam o seu rebentamento. BACTÉRIAS As bactérias são células procarióticas. O DNA forma uma molécula principal, geralmente circu- lar, sem invólucro nuclear (nucleóide). Podem exis- tir pequenos anéis de DNA com genes acessórios (plasmídeos). Reproduzem-se autonomamente, geralmente por divisão binária. Muitas bactérias coabitam em verdadeira cooperação com o orga- nismo humano (como a flora bacteriana do intestino); outras vivem como parasitas, provocando doenças. Algumas bactérias produzem toxinas poten- tes e outras multiplicam-se no interior das células, destruindo-as. DEFESA DO ORGANISMO O conjunto de processos fisiológicos que permite ao organismo reconhecer corpos estranhos ou anormais, com conse- quente neutralização ou eliminação, designa-se imunidade. Nas superfícies das membranas celulares existem glicoproteínas que, por serem únicas em cada indivíduo, funcionam como um sistema de identificação para o sistema imunitário. São os marcadores celulares. Os leucócitos, produzidos na medula vermelha dos ossos e no tecido linfático, são libertados no sangue e transportados pelo corpo. A partir do sangue passam para os tecidos onde levam a cabo funções de reconhecimento e de defesa. ELEMENTOS CELULARES DO SANGUE Hemácias ou glóbulos verme- lhos: células em forma de discos bicônca- vos, o que lhes proporciona uma grande área. Não possuem núcleo nem organelos citoplasmáticos. Contêm hemoglobina. Têm a função de transporte do oxigénio e de dióxido de carbono. Plaquetas: são corpúsculos celu- lares muito pequenas resultantes da frag- mentação de grandes células da medula óssea chamadas megacariócitos. Têm a função de coagulação do sangue. Os leucócitos ou glóbulos brancos têm em comum certas características que explicam as suas potencialidades em intervir em respostas imunitárias: -todos os leucócitos são células que circulam no sangue; adicionalmente, os linfócitos existem na linfa intersticial ou na linfa circulante; -têm a capacidade de se deformar e penetrar entre as células da parede dos vasos capilares, atravessando essa parede; -apresentam à superfície da membrana glicoproteínas específicas que funcionam como recetores. LEUCÓCITOS GRANULARES Neutrófilos: realizam a fagocitose e são os primeiros a chegar aos tecidos infetados, atraídos por quimiotaxia. Basófilos: quando ativados libertam substâncias, como a hista- mina, que produzem uma resposta inflamatória. Eosinófilos: têm a atividade fagocítica limitada, particularmente dirigida a parasitas. Reduzem a reação inflamatória, pela produção de enzimas que degradam as substâncias químicas produzidas pe- los basófilos. LEUCÓCITOS AGRANULARES OU HIALINOS Monócitos: são de pequenas dimensões com núcleo em forma de ferradura. Circulam no sangue durante poucas horas e depois migram para os tecidos, aumentam de tamanho e transformam-se em macrófagos. Os macrófagos são células de grandes dimen- sões, que vivem muito tempo e são muito eficientes na fagocitose. Linfócitos: são células fundamentais na resposta imunitária e são de dois tipos: B e T. Os linfócitos B, quando ativados diferenciam- se em plasmócitos, que produzem anticorpos, e em células de memória. Os linfócitos T contribuem para a ativação dos linfócitos B e destroem células infetadas por vírus e células cancerosas. DEFESA NÃO ESPECÍFICA: IMUNIDADE INATA A defesa não específica, ou imunidade inata, inclui o conjunto de processos através dos quais o organismo previne a entrada de agentes estranhos e os reconhece e destrói, quando essa entrada acontece. A resposta do organismo é sempre a mesma, qualquer que seja o agente invasor e qualquer que seja o número de vezes que este contacta com o organismo. Não se verifica especificidade, nem memória. PRIMEIRA LINHA DE DEFESA: barreiras físicas e químicas que impedem a entrada de seres estranhos. BARREIRAS ANATÓMICAS E SECREÇÕES: →Previnem a entrada de agentes estranhos no organismo. ➢ A pele e as mucosas, quando intactas, não permitem a entrada de agentes patogénicos. ➢ As secreções das glândulas sebáceas e sudoríparas inibem o desenvolvimento da maior parte das bactérias. ➢ A lisozima (enzima), presente nas lágrimas e na saliva, o ácido clorídrico produzido no estômago e o muco do revesti- mento ciliado das vias respiratórias destroem os microrganismos e/ou expulsam-nos do organismo. REAÇÕES INFLAMATÓRIA: A reação inflamatória é uma sequência complexa de acontecimentos que ocorre quando agentes patogénicos conseguem ultrapassar as barreiras físicas de defesa do organismo. Envolve químicos e fagócitos. ➢ Libertação de histaminas e outros mediadores químicos, por células lesio- nadas, mastócitos e basófilos, no tecido contaminado por agentes patogé- nicos. ➢ Vasodilatação e aumento da permeabilidade dos capilares sanguíneos da zona atingida. Como consequência, aumenta o fluxo sanguíneo no local e uma maior quantidade de fluido intersticial passa para os tecidos envolven- tes. A zona atingida manifesta rubor, calor e edema. ➢ A dor que acompanha a reação inflamatória é causada pela ação de subs- tâncias químicas nas terminações nervosas locais e pela distensão dos teci- dos. ➢ Os neutrófilos e os monócitos são atraídos por quimiotaxia, deixam os va- sos sanguíneos por diapedese e dirigem-se aos tecidos infetados. Os neu- trófilos são os primeiros a chegar e começam a realizar a fagocitose dos agentes patogénicos. Chegam a seguir os monócitos, que se diferenciam em macrófagos. ➢ Os macrófagos fagocitam os agentes patogénicos e os seus produtos, os neutrófilos destruídos no processo e as células danificadas. ➢ O pus que se acumula no local da infeção é formado por microrganismos e fagócitos mortos e por proteínas e fluido que saíram dos vasos sanguíneos. O pus é absorvido e, ao fim de alguns dias, verifica-se a cicatrização dos te- cidos. Notas: Quimiotaxia: migração de células imunitárias (como os neutrófilos) atraídas por sinais químicos libertados por cé- lulas lesionadas.Diapedese: migração de leucócitos dos capilares sanguí- neos para os tecidos, através dos poros existentes entre as células das paredes dos capilares. Fagocitose: Captura, por endocitose, de células ou restos de células que são destruídas em vesículas digestivas. As células que realizam fagocitose são os fagócitos (sobretudo neutrófilos e macrófagos). RESPOSTA SISTÉMICA: Quando os agentes patogénicos são particularmente agressivos, é acionada uma reação inflamatória sistémica, que ocorre em várias partes do organismo: ➢ Aumento do número de leucócitos em circulação; ➢ Febre. O aumento do número de leucócitos em circulação resulta da estimulação da medula óssea por substâncias químicas produzidas pelas células lesadas. A febre pode ser desencadeada por toxinas produzidas pelos agentes patogénicos ou por pirogénios produzidos por leucócitos. Estas substâncias atuam sobre o hipotálamo e regulam a temperatura do corpo para um valor mais alto. A febre mo- derada é benéfica dado que acelera as reações do organismo, estimulando a fagocitose e a reparação dos tecidos lesados. Inibe, igualmente, a multiplicação de alguns microrganismos. INTERFERÃO: São proteínas produzidas por certas células atacadas por vírus que se difundem para as células vizinhas, induzindo-as a produzir proteínas antivirais. Estas proteínas bloqueiam a replicação do vírus, limitando o seu alastramento. Sistema de complemento: conjunto de cerca de 20 proteínas que circulam no plasma, na sua forma inativa. Quando a primeira é ati- vada, produz-se uma reação em cadeia em que cada proteína ativa outra numa sequência predeterminada. Os efeitos deste sistema são amplos. Traduzem-se na lise de bactérias, na limitação da mobilidade de agentes patogéni- cos, facilitando a fagocitose, na atração de leucócitos ao local da infeção (quimiotaxia), no estímulo de células do sistema imunitário, etc. SISTEMA IMUNITÁRIO → Diferentes tipos de leucócitos e macrófagos (células efetoras); → A medula vermelha dos ossos e o timo, onde se formam e diferenciam os leucócitos (órgãos linfóides primários); → O baço, os gânglios linfáticos, o apêndice, as amígdalas e as adenóides onde se concentram os leucócitos (órgãos linfóides secundários). DEFESA ESPECÍFICA: IMUNIDADE ADQUIRIDA A defesa específica, ou imunidade adquirida, inclui o conjunto de processos através dos quais o organismo reconhece os agentes invasores e os destrói de uma forma dirigida e eficaz. Ao contrário do que acontece com a defesa não específica, a res- posta do organismo ao agente invasor melhora a cada novo contacto. Verifica-se especificidade e memória. ANTIGÉNIOS: Todos os componentes moleculares que desen- cadeiam uma resposta específica são antigénios ou an- tigenes. Podem ser moléculas superficiais de bactérias, vírus ou outros microrganismos, toxinas produzidas por bactérias ou mesmo moléculas presentes no pólen, pêlo de animais e células de outras pessoas. Um antigénio possui várias regiões capazes de serem reconhecidas pe- las células do sistema imunitário. Cada uma dessas regi- ões é um determinante antigénico ou epítopo. LINFÓCITOS B E LINFÓCITOS T: As principais células que intervêm na defesa es- pecífica do organismo são os linfócitos B e os linfócitos T. Ambos se formam a partir de células estaminais da medula vermelha dos ossos. As células precursoras dos linfócitos T migram para o timo, onde completam a sua maturação. As células precursoras dos linfócitos B so- frem todas as transformações na medula óssea. IMUNOCOMPETÊNCIA: Durante a maturação dos linfócitos B e T, estes adquirem recetores superficiais para numerosos e variados antigénios, passando a reconhecê-los e tornando-se células imunocompetentes. O conjunto de linfócitos com recetores para um determi- nante antigénico constitui um clone. Seguidamente, passam para a circulação sanguínea e linfática e encontram-se em grande quantidade em órgãos do sistema linfático, como o baço ou os gânglios linfáticos. Cada pessoa possui uma enorme variedade de linfócitos B e T, com diferentes recetores, capazes de reconhecer um número quase infinito de moléculas estranhas. RESPOSTA IMUNITÁRIA: → Identificação/ Reconhecimento: as moléculas estranhas são identificadas pelos linfócitos que têm na sua superfície re- cetores capazes de interatuar com essas moléculas. → Reação: o sistema imunitário reage, preparando os agentes específicos que vão intervir no processo. → Ação: os agentes do sistema imunitário neutralizam ou destroem as células ou moléculas estranhas. Tradicionalmente, os mecanismos de defesa específica do organismo são divididos em imunidade humoral e imunidade celular. IMUNIDADE HUMORAL A imunidade humoral é mediada por anticorpos que circulam no sangue e na linfa e que são produzidos após o reconhe- cimento do antigénio por linfócitos B. Um anticorpo é uma proteína específica produzida por plasmócitos em resposta à presença de um antigénio, com o qual reage especificamente. Os anticorpos são uma forma solúvel dos recetores existentes na superfície dos linfócitos. A defesa do organismo, através da imunidade humoral, en- volve os seguintes acontecimentos: 1. Reconhecimento de determinantes antigénicos por linfócitos B com recetores específicos. 2. Ativação do clone de linfócitos B, que entra em divisão celular. 3. Diferenciação, em plasmócitos, de parte das células do clone de linfócitos B ativado; diferenciação de outra parte linfócitos B de memória. Os plasmócitos são células produtoras de anti- corpos, que são libertados no sangue e na linfa. Os linfócitos B de memória são células que ficam no sangue por longos perí- odos de tempo e que respondem rapidamente num segundo contacto com o mesmo antigénio. 4. Interação dos anticorpos com o antigénio e a sua destruição. 5. Morte dos plasmócitos e degradação dos anticorpos, após a destruição do antigénio, diminuindo a sua concentração no sangue. ANTICORPOS: Os anticorpos pertencem a um grupo de proteínas globula- res designadas imunoglobulinas. Apresentam estrutura em forma de “Y”, constituída por quatro cadeias polipeptídicas, duas cadeias pe- sadas e duas cadeias leves. As cadeias polipeptídicas possuem uma região constante, muito semelhante em todas as imunoglobulinas, e uma região variável. Na região variável das imunoglobulinas existem sequências de aminoácidos que lhe conferem uma conformação tridimensional particular e que permitem interações eletrostáticas. É nesta região que se estabelece a ligação com o antigénio, formando o complexo antigénio-anticorpo. Como um antigénio pode possuir vários deter- minantes antigénicos e os anticorpos são específicos para esses de- terminantes, um mesmo antigénio pode ligar-se a vários anticorpos. MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTICORPOS Precipitação: ligação de moléculas solúveis do antigénio, formando complexos insolúveis que precipitam. Aglutinação: os anticorpos agregam os agentes patogénicos, neutralizando-os e tornando-os acessíveis aos macrófagos. A aglutinação é possível porque cada anticorpo tem pelo menos dois locais de ligação ao antigénio. Intensificação da fagocitose: a ligação anticorpo-antigénio estimula a aderência dos macrófagos e a fagocitose, dada a ligação entre as regiões constantes dos anticorpos e os recetores das membranas dos fagócitos. Neutralização: a fixação dos anticorpos sobre vírus ou toxinas bacterianas impede a sua entrada nas células. Ativação do sistema de complemento: o complexo anti- corpo-antigénio ativa uma das proteínas do sistema e desenca- deia a reação em cascata que ativa todo o sistema. A presença do complexo antigénio-anticorpo amplifica a resposta inflamatória e a eliminação celular já iniciada de uma forma não específica. CLASSE DE IMUNOGLOBULINAS: A região constante das imunoglobulinas interagecom outros elementos do sistema imunitário e possui características que permitem distinguir cinco classes. Diferentes classes de imunoglobulinas predominam em diferentes fases de infeção e em diferentes fluidos do organismo. As análises clínicas ao sangue são um excelente auxiliar de diagnóstico sobre o estado de saúde das pessoas. Através delas, o médico pode identificar perturbações e prescrever o tratamento adequado. Imunoglobulina Características e funções É o mais abundante dos anticorpos em circulação no sangue e na linfa. Atravessa a placenta e con- fere imunidade passiva ao feto. Protege contra bactérias, vírus e toxinas. É o primeiro anticorpo a surgir em resposta à exposição inicial a um antigénio. A sua presença indica uma infeção a decorrer. Como tem vários locais de ligação aos antigénios, é muito eficiente na sua aglutinação. É produzido pelas células das membranas mucosas e existe na saliva, suor, lágrimas e leite (protege os recém-nascidos de infeções). Previne a entrada de agentes patogénicos no organismo. Encontra-se na superfície dos linfócitos B onde funciona como recetor de antigénios e contribui para iniciar a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos e células de memória. Existe no sangue em pequena quantidade. Liga-se aos basófilos e mastócitos e estimula a libertação de histamina que pode desencadear reações alérgicas. INCOMPATIBILIDADES SANGUÍNEAS Existem incompatibilidades sanguíneas entre sangues do sistema ABO que condicionam as transfusões. Uma transfusão em que o recetor possui anticorpos que aglutinam as hemácias do dador desencadeia uma reação transfusional. O sangue cujas hemácias possuem determinado aglutinogénio não pode possuir aglutininas correspondentes no plasma. IMUNIDADE CELULAR A imunidade celular é mediada pelos linfócitos T e é particularmente efetiva na defesa do organismo contra agentes patogénicos intracelulares, pela destruição de células infetadas, e contra células cancerosas (vigilância imunitária). É, também, responsável pela rejeição de enxertos e de transplantes. 1- O processo tem início com a apresentação do antigénio aos linfócitos T auxi- liares (Th). As células apresentadoras podem ser macrófagos, que fagocitaram e proces- saram agentes patogénicos, podem ser linfócitos B, células infetadas, células cancerosas ou células de outro organismo. Após fagocitar e digerir agentes patogénicos, formam-se fragmentos de moléculas com poder antigénico que são inseridas na membrana do ma- crófago. Assim, os macrófagos exibem na sua superfície o antigénio, apresentando-o aos linfócitos Th que o reconhecem devido aos recetores específicos que possuem, ficando ativados. 2- O clone de linfócitos T auxiliares di- vide-se e diferencia-se em linfócitos citotóxicos (Tc) e linfócitos T de memória. Os linfócitos T auxiliares também libertam mediadores quími- cos (citoquinas) que estimulam a fagocitose, a produção de interferão e a produção de anti- corpos pelos linfócitos B. 3- Os linfócitos T citotóxicos ligam-se às células estranhas ou infetadas e libertam perforina, uma proteína que forma poros na membrana citoplasmática, provocando a lise celular. 4- Os linfócitos T de memória desenca- deiam uma resposta mais rápida e vigorosa num segundo contacto com o mesmo antigé- nio. MEMÓRIA IMNUITÁRIA E VACINAÇÃO O primeiro contacto do organismo com um antigénio origina uma resposta imunitária primária, durante a qual são ati- vados linfócitos B e T que se diferenciam em células efetoras e células de memória. Eliminado o antigénio, as células efetoras desaparecem. As células de memória permanecem no organismo e dão origem a uma resposta imunitária secundária, mais rápida, intensa e prolongada, num segundo contacto com o mesmo antigénio. Esta propriedade designa-se memória imunitária. IMUNIZAÇÃO: A memória imunitária está na base da imunização artifi- cial através da vacinação. Uma va- cina é uma solução preparada com antigénios tornados inofensivos, como, por exemplo, microrganis- mos mortos ou atenuados ou toxi- nas inativas. A vacina desencadeia no organismo uma resposta imuni- tária primária e formam-se células de memória. DOENÇAS E DESEQUILÍBRIOS O sistema imunitário pode revelar várias deficiências no seu funcionamento dando origem a desequilíbrios e doenças. Algumas doenças resultam da incapacidade do sistema imunitário responder com eficácia aos agentes que ameaçam o organismo e designam-se, genericamente, imunodeficiências. Outras doenças resultam de uma reação excessiva do sistema imunitário, ou hipersensibilidade, em relação a agentes estranhos inócuos ou aos próprios constituintes do organismo. ALERGIA: As alergias são reações de hipersensibilidade a certos antigénios ambientais, os alergénios. Pólen, ácaros, pó, esporos, pêlo de animais, certos produtos químicos e alimentares, por regra inofensivos, são alergénios comuns para algumas pessoas, desencadeando uma resposta aberrante do sistema imunitário. Podem conduzir a consequências graves com lesões de tecidos e órgãos. HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA: Num primeiro contacto com o alergénio, os linfócitos B são estimulados e diferenciam-se em plasmócitos que produzem anticorpos específicos da classe IgE. Esses anticorpos ligam-se a mastócitos e a basófilos. Num segundo contacto, o antigénio liga-se aos anticorpos IgE presentes na superfície dos mastócitos e basófilos e esti- mula estas células a libertar grandes quantidades de histamina. A histamina desencadeia uma reação inflamatória intensa que é responsável pelos sintomas da alergia, como, por exemplo, espirros, erupções cutâneas e contração dos músculos das vias respi- ratórias. HIPERSENSIBILIDADE TARDIA: Não se inicia nas horas seguintes à exposição ao antigénio. Está associada a reações imunitárias mediadas por células (imunidade celular) com respostas muito intensas dos linfócitos T e macrófagos que podem provocar lesões nos tecidos. Os eczemas de contacto, por exposição repetida a lixívia, cosméticos, cimento, tintas, metais, etc., enquadram-se nestas alergias. CHOQUE ANAFILÁTICO: Algumas reações alérgicas podem conduzir a um choque anafilático, que é provocado pela diminuição brusca da pressão arterial em consequência do aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos. Os sintomas das alergias podem ser tratados com medicamentos anti-histamínicos. DOENÇAS AUTOIMUNES As doenças autoimunes resultam de uma reação de hipersensibilidade do sistema imunitário contra antigénios próprios. Existem vários tipos de doenças autoimunes, cujos sintomas se relacionam com o tipo de tecido que é atacado e destruído pelo sistema imunitário do próprio organismo. Esclerose múltipla: linfócitos T destroem a mielina dos neurónios. Os sintomas incluem várias alterações neurológicas. Artrite reumatóide: inflamação dolorosa das cartilagens articulares, que são destruídas. Lúpus: o sistema imunitário produz anticorpos contra vários tipos de moléculas próprias, incluindo histonas e DNA. Ca- racteriza-se por erupções da pele, febre, artrite e disfunção renal. Diabetes insulinodependente: são destruídas as células do pâncreas que produzem insulina. IMUNODEFICIÊNCIA CONGÉNITA OU INATA A falta de linfócitos T traduz-se numa maior sensibilidade a agentes infeciosos intracelulares, vírus e cancros e a falta de linfócitos B traduz-se numa maior sensibilidade a infeções extracelulares. A imunodeficiência grave combinada (SCID) caracte- riza-se pela ausência de linfócitos B e T. Os doentes são extremamente vulneráveis e apenas sobrevivem em ambientes comple- tamente estéreis. Tratamento por transplante de medula óssea ou terapia génica. A SIDA é causada pelo vírus da imuno- deficiência humana, HIV. O HIV é um vírus de RNA (retrovírus) que infeta principalmente os linfócitos Th, mas também outros linfócitos, macrófagos ecélulas do sistema nervoso. No interior da célula hospedeira, o RNA viral é transcrito para DNA pela transcriptase reversa e o DNA é integrado no genoma. Quando ativo, o DNA viral dirige a produção de novos vírus que causam a destruição da célula hospedeira e infetam novas células. A diminui- ção progressiva do número de linfócitos T deixa o organismo muito suscetível a doenças oportu- nistas e a cancros. Um indivíduo infetado pelo HIV reage à sua presença produzindo anticorpos – diz-se seropositivo. Os vírus que se encontrem no in- terior de células infetadas escampam à ação dos anticorpos. Um indivíduo seropositivo, mesmo sem sintomas clínicos, pode transmitir o HIV. Não há cura nem vacina para a doença, mas a sua progressão pode ser retardada por drogas inibidoras da transcriptase reversa (AZT) e das protéases e inibidores da ligação do vírus às células hospedeiras. BIOTECNOLOGIA A biotecnologia ocupa-se da manipulação de organismos, células ou moléculas biológicas com aplicações específicas. O diagnóstico e a terapêutica de doenças constituem campos de aplicação da Biotecnologia, nomeadamente através da imunote- rapia, que permite amplificar ou dirigir a resposta imunitária, e da produção de substâncias, como antibióticos, esteróides, vita- minas e vacinas. ANTICORPOS E BIOMÉDICA: Os anticorpos, dada a sua elevada especificidade, podem ser biomedicamente utilizados: → na identificação de antigénios específicos, mesmo quando presentes em quantidades muito pequenas; → no ataque “cirúrgico” a células que apresentam antigénios específicos. ANTICORPOS POLICLONAIS: Os anticorpos policlonais são produzidos como resultado da estimulação de vários clones de linfócitos B, em resposta a um determinado antigénio. Apresentam especificidade para cada um dos diferentes determinantes antigénicos. A contaminação do organismo por um agente patogénico conduz, naturalmente, à produção de anticorpos policlonais. Os anticorpos extraídos do soro de animais inoculados com antigénios são policlonais. Dada a diversidade molecular do seu conteúdo, este soro, tradicio- nalmente utilizado em processos de imunização passiva, envolve ris- cos de rejeição e ataque imunitário por parte do recetor. ANTICORPOS MONOCLONAIS: Os anticorpos monoclo- nais são obtidos, laboratorial- mente e em grandes quantidades, a partir da estimulação de um único clone de linfócitos B. São to- dos iguais e específicos para um só determinante antigénico. HIBRIDOMAS: Os hibridomas conjugam características das células parentais: → produção de grandes quantidades de anticorpos específicos para um único determinante antigénico; → divisão celular contínua, dano origem a um grande número de células. APLICAÇÕES BIOMÉDICAS DOS ANTICORPOS MONOCLONAIS: → Diagnóstico de doenças ou condições clínicas: como testes de gravidez, diagnóstico da gonorreia, sífilis, hepatite, raiva, etc. → Imunização passiva: preparação de soroscomo o antitetânico. → Tratamento do cancro: associação a substâncias tóxicas ou radioativas, com destruição “cirúrgica” das células cancero- sas. → Enxertos e transplantes: testes de compatibilidade. → Antídotos para venenos e drogas. BIOCONVERSÃO OU BIOTRANSFORMAÇÃO Biotecnologia que recorre a microrganismos capazes de realizar certas reações químicas de transformação de compostos estruturalmente semelhantes, com aplicação terapêutica, produzidos em quantidades industriais e em condições mais favoráveis que a síntese química. VANTAGENS DA BIOCONVERSÃO: → Obtenção de produtos que resultam de vias metabólicas complexas e cuja síntese in vitro é difícil, se não mesmo impos- sível. → Diminuição do número de etapas necessárias para a obtenção do produto o que torna a sua produção mais rápida e económica. → Maior grau de pureza dos produtos obtidos, diminuindo o risco de reações alérgicas. ANITBIÓTICOS: Cerca de 170 antibióticos produzidos industrialmente para tratamento de infeções bacterianas. Produzidos por fungos dos géneros Penicillium e a Aspergillus ou bactérias dos géneros Streptomyces e Bacillus. A biotecnologia tem permitido desen- volver antibióticos com maior espetro de ação, diferentes vias de administração e menor risco de provocar reações alérgicas. ESTERÓIDES: Contracetivos (estrogénios e progesterona), anti-inflamató- rios (cortisona e hidrocortisona) e anabolizantes são produzidos por certos géneros de fungos e bactérias. VITAMINAS: Suplementos nutricionais são produzidos por certos géneros de bactérias e fungos. Como exemplo, o fabrico anual de várias tone- ladas de vitamina B12 a integrar em medicamentos e alimentação de animais. VACINAS: Prevenção de doenças infeciosas como hepatite B, malária, herpes, etc. PROTEÍNAS HUMANAS: Controlo da diabetes (insulina), tratamento da hemofilia (fa- tores de coagulação), estimulação da resposta imunitária (interfe- rão), tratamento de atrasos de crescimento infantil (hormona do crescimento), etc. São obtidas por microrganismo recombinantes.
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