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Oficina 5 Ferramentas de cuidado em saúde mental no contexto da APS (PmSUS)

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/ Página 1 de 9 
Objetivos: 
1. Conhecer o serviço de reabilitação psicossocial e a sua forma de operacionalização. 
2. Compreender as estratégias de cuidado de saúde mental na unidade básica (Terapia 
interpessoal breve e comunitária). 
3. Elucidar o projeto terapêutico singular (PTS) 
4. Entender o funcionamento do matriciamento em saúde mental (Voltado para a reabilitação 
psicossocial e PTS. 
 
Reabilitação Psicossocial é um processo terapêutico, de tratamento que exige uma série de cuidados, 
especialmente um tipo de relação muito próxima, muito íntima em certo aspecto com as pessoas que estão 
isoladas, que estão sofrendo as conseqüências dos transtornos mentais, conseqüência da própria dificuldade 
da família de compreendê-los, da própria dificuldade da sociedade de aceitá-los, tanto no convívio, como para 
empregos, quanto na imagem que eles tem à sociedade (A1). 
A reabilitação é um processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania e também de plena 
contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social 2. 
[...] é um processo muitas vezes permanente, e de construção, de construção de coisas que a pessoa precisa 
reconquistar, ir reconquistando a cada dia [...] 
Reabilitação, tomada desta maneira, consiste em oferecer todas as possibilidades de tratamento que estejam 
disponíveis, chega-se onde o paciente quer chegar e não onde a equipe de cuidados previamente estabelece6. 
A reabilitação psicossocial pode ser entendida como um tratado ético-estético que anime os projetos 
terapêuticos para buscarmos alcançar a utopia de uma sociedade justa e sem manicômios7. 
Entendemos que a reabilitação psicossocial é um processo de transformação, de reconstrução, de reinserção, 
de mudança, no sentido de criar alternativas que venham transformar a forma de atenção e de cuidado 
destinada ao portador de sofrimento psíquico e que visem à devolução de identidade e cidadania. No entanto, 
para este processo tornar-se concreto e efetivo, faz-se necessária uma contínua avaliação, a fim de não 
incorrermos no erro de reproduzir as mesmas práticas do modelo hospitalocêntrico. 
Ressaltamos que a reabilitação psicossocial traz em sua essência o dinamismo que dá significado a este 
processo e que, portanto, deve ser construído e reconstruído quantas vezes forem necessárias, até que possa 
encontrar-se com o objetivo maior, que é a participação do sujeito no seu tratamento e na sua reabilitação, 
tornando-se desta maneira protagonista da sua própria história. 
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) propõem desenvolver ações de inclusão social para pessoas 
com transtornos mentais. Contudo, constatam-se dificuldades acerca de práticas com este objetivo. 
Neste artigo apresentamos alguns dados de pesquisa realizada, como contribuição para fomentar 
reflexões sobre o tema. O objeto deste estudo são as representações sociais dos profissionais de saúde 
mental sobre práticas de inclusão social e os conceitos norteadores são a reabilitação psicossocial e a 
desinstitucionalização italiana. 
 / Página 2 de 9 
Os dados foram submetidos à análise do discurso, e para analisar a categoria empírica resultante – 
concepções sobre inclusão e exclusão social -, utilizamos a representação social, segundo Minayo. Os 
discursos revelaram concepções concordantes com preceitos da reabilitação psicossocial, como o 
exercício da cidadania e a inserção no trabalho, e outras em desacordo com tais princípios, como 
considerar o CAPS espaço em si de inclusão social, o que limita desenvolver práticas que tenham essa 
finalidade. 
Nos quadros psicóticos estáveis, mesmo em regiões com recursos suficientes, os generalistas podem 
compartilhar o cuidado do transtorno mental com o psiquiatra, diminuindo o número necessário de visitas ao 
psiquiatra. Na realidade atual do SUS, é grande o número de pacientes portadores de psicoses crônicas que 
são acompanhados quase que exclusivamente por generalistas. 
O problema é que muitos se limitam ao fornecimento de medicação. Para ir, além disso, também é necessário 
apoio próximo de profissionais de Saúde Mental. Um pacote mínimo de cuidado na Atenção Básica deve 
incluir intervenções psicoeducacionais simples e, principalmente, a intermediação de ações intersetoriais. 
Essas visam aumentar a capacidade das pessoas que sofrem com transtornos mentais graves e persistentes de 
exercitarem sua cidadania. Ou seja, estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, fazer amigos, namorar, frequentar 
espaços públicos, participar das decisões que influenciam em sua vida. Essas são ações que dependem de 
inserção no território, e é por isso que a Atenção Básica tem tanto a contribuir e aprender com o trabalho dos 
Caps. 
Além disso, há que prover cuidado para as comorbidades clínicas frequentes nessa população, um aspecto 
frequentemente negligenciado. Por sofrer em razão da esquizofrenia e da reação de exclusão social em sua 
comunidade, muitas pessoas parecem que perdem o direito aos cuidados de saúde integral. Hipertensão e 
diabetes, por exemplo, podem inclusive ser agravados por algumas das medicações mais usadas no tratamento 
das psicoses 
A Atenção Básica tem como um de seus princípios possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao sistema de 
Saúde, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde mental. Neste ponto de atenção, as ações são 
desenvolvidas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de Saúde uma 
proximidade para conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde 
moram, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida. 
Podemos dizer que o cuidado em saúde mental na Atenção Básica é bastante estratégico pela facilidade de 
acesso das equipes aos usuários e vice-versa. Por estas características, é comum que os profissionais de Saúde 
se encontrem a todo o momento com pacientes em situação de sofrimento psíquico. 
No entanto, apesar de sua importância, a realização de práticas em saúde mental na Atenção Básica suscita 
muitas dúvidas, curiosidades e receios nos profissionais de Saúde. Este caderno, no decorrer dos seus 
capítulos, pretende abordar algumas dessas questões que nos pegam no cuidado em saúde mental. 
Além disso, esperamos que as reflexões propostas neste caderno possam criar no profissional da Atenção 
Básica uma abertura, um posicionamento, uma espécie de respaldo interno ao profissional para se colocar 
disponível como ouvinte e cuidador, no momento que estiver diante de um usuário com algum tipo de 
sofrimento psíquico. 
Entendemos que as práticas em saúde mental na Atenção Básica podem e devem ser realizadas por todos os 
profissionais de Saúde. O que unifica o objetivo dos profissionais para o cuidado em saúde mental devem ser 
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o entendimento do território e a relação de vínculo da equipe de Saúde com os usuários, mais do que a escolha 
entre uma das diferentes compreensões sobre a saúde mental que uma equipe venha a se identificar. 
É preciso cuidado para que as intervenções de saúde não se transformem em regras rígidas, sob a consequência 
de que estas ações estejam apenas baseadas na remissão dos sintomas, descontextualizadas da vida do usuário 
e do território em que ele vive. É preciso que o usuário possa se perguntar sobre a relação do seu sofrimento 
com a manifestação sintomática que está acontecendo. Ainda que necessárias para alguns casos, nem sempre 
intervenções que se orientem diretamente à supressão dos sintomas estarão aliadas a uma intervenção positiva 
na vida do usuário. 
A Intervenção Breve (IB) é uma estratégia terapêutica que vem sendo cada vez mais utilizada na abordagem 
das pessoas que apresentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, especialmente nos 
serviços que compõem a Rede de Atenção Básica à Saúde. Esse crescimento se deve a alguns fatores, como 
o baixo custo para sua implementação emanutenção, pela efetividade constatada por alguns estudos 
(KAARIAINEN et al., 2001) no que se refere à diminuição de problemas associados ao consumo 
especialmente do álcool, por ser utilizada por diferentes categorias profissionais (psicólogos, terapeutas 
ocupacionais, agentes comunitários de saúde, médicos, enfermeiros e outros) e como uma ferramenta 
importante que permeia a prevenção primária e o tratamento em si (BABOR; HIGGINS-BIDDLE, 2001). 
Entende-se a IB como uma técnica de abordagem para a diminuição dos problemas associados ao uso de 
substâncias em que o principal objetivo é identificar o problema e motivar a pessoa a alcançar determinadas 
metas estabelecidas em parceria com o profissional de saúde. Essas metas podem ser iniciar um tratamento, 
rever seu padrão de consumo e planejar uma possível redução ou, ainda, obter mais informações sobre os 
riscos e os problemas que estão associados a esse uso. 
Outra característica da IB é o estímulo à autonomia das pessoas, atribuindo-lhes a capacidade de assumir a 
iniciativa e a responsabilidade por suas escolhas (MARQUES; FURTADO, 2001). As IBs podem durar de 
cinco a 30 minutos, sendo constituídas por uma curta sequência de etapas que inclui: 
 A identificação e dimensionamento dos problemas ou dos riscos, geralmente por meio do uso de um 
instrumento padronizado de rastreamento. 
 O oferecimento de aconselhamento, orientação e, em algumas situações, monitoramento periódico do 
sucesso em atingir as metas assumidas pela pessoa (BABOR; HIGGINS-BIDDLE, 2001). 
As IBs são, geralmente, indicadas para aquelas pessoas que estão em uso abusivo de substância, ou seja, ainda 
não desenvolveram sinais nem sintomas que sejam passíveis de considerá-las dependentes. 
A Terapia Comunitária (TC) caracteriza-se como mais uma ferramenta à disposição dos profissionais da 
Atenção Básica no campo da Saúde Mental a ser utilizada no território de atuação. A atividade organiza-se 
como um espaço comunitário que possibilita a troca de experiências e de sabedorias de vida. 
A TC visa trabalhar de forma horizontal e circular ao propor que cada um que participe da sessão seja 
corresponsável no processo terapêutico que se realiza naquele momento e que produz efeitos tanto grupais 
quanto singulares. Para a realização da TC, um ou dois terapeutas comunitários com formação e um recinto 
que permita a realização da roda de conversa são suficientes. 
Qualquer pessoa que tenha interesse pode participar da TC: usuários portadores ou não de sofrimento e/ou 
patologia psíquica e/ou orgânica. O espaço é aberto e, para cada encontro, forma-se um grupo que dará conta 
da sessão do dia. A partir da apresentação das pessoas, exposição das regras da TC e da escolha do tema do 
dia, as pessoas relatam suas histórias pessoais e o grupo participa da discussão com perguntas e falas que 
objetivem a superação das dificuldades do dia a dia – tudo em um clima acolhedor e de empatia. O 
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compartilhamento de vida produz a relação entre os sujeitos, que podem se reconhecer como uma rede de 
apoio. 
Etapas da Terapia Comunitária 
1. Acolhimento – momento de apresentação individual e das cinco regras. 
2. Escolha do tema – as pessoas apresentam as questões e os temas sobre os quais querem falar. Vota-se 
o tema a ser abordado no dia. 
3. Contextualização – momento em que o participante, com o tema escolhido, conta sua história. O grupo 
faz perguntas. 
4. Problematização – o mote (questão-chave para reflexão) do dia, relacionado ao tema, é jogado para o 
grupo. 
5. Rituais de agregação e conotação positiva – com o grupo unido, cada integrante verbaliza o que mais 
o tocou em relação às histórias contadas. 
6. Avaliação – feita entre os terapeutas comunitários. 
Regras da Terapia Comunitária: 
1. Respeitar quem está falando. Fazer silêncio para escutá-lo. 
2. Falar da própria história, utilizando a 1º pessoa do singular (eu). 
3. Cuidar para não dar aconselhamento, discursar ou dar sermões. 
4. Utilizar músicas que tenham a ver com o tema escolhido, bem como piadas, histórias e provérbios 
relacionados. 
5. Preservar segredo do que é exposto na TC (comum em comunidades violentas). 
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para 
um indivíduo, uma família ou um grupo que resulta da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar com 
Apoio Matricial, se esse for necessário. 
Geralmente, o PTS é dedicado a situações mais complexas, buscando a singularidade como elemento central 
de articulação na tentativa de mudar a tendência de igualar as situações ou os sujeitos a partir dos diagnósticos 
firmados. Ele pode ser uma ferramenta de cogestão e compartilhamento do cuidado, na medida em que 
possibilita a definição de objetivos comuns e o estabelecimento de tarefas correlacionadas e pactuadas em 
equipe. 
Nesse sentido, pode ser utilizado como uma ferramenta do processo de integração entre NASF e equipes 
vinculadas, permitindo que, mesmo em situações em que seja necessária uma intervenção específica do 
profissional do NASF, a equipe de referência possa manter a coordenação do cuidado. 
Para isso, o PTS desenvolve-se em quatro momentos: 
 Avaliação e problematização de aspectos orgânicos, psicológicos e sociais que possibilita 
identificar riscos, vulnerabilidades e potencialidades para a produção de cuidado. Nesta etapa, a equipe 
procura compreender como o sujeito singular, individual ou coletivo, é coproduzido diante de distintas forças, 
corno a doença, os desejos, o trabalho, a cultura e a rede social, e sintetizar um consenso operativo sobre quais 
os problemas relevantes do ponto de vista dos profissionais de saúde e dos usuários em questão. 
É entendido como uma avaliação orgânica, psicológica e social que possibilita uma conclusão a respeito dos 
riscos e da vulnerabilidade do usuário. "Deve tentar captar como o Sujeito singular se produz diante de forças 
como as doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. 
Ou seja, tentar entender o que o Sujeito faz de tudo que fizeram dele" (BRASIL, 2010)* 
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 Propostas construídas para curto, médio e longo prazo que serão negociadas com o sujeito 
doente pelo membro da equipe com quem tiver um vínculo melhor. Devem ser negociadas com o sujeito 
singular em questão, preferencialmente pelo profissional com quem possuir melhor vinculo. 
: As tarefas de cada envolvido, inclusive do sujeito singular em questão, devem ser 
bem definidas. Além disso, deve-se identificar um profissional de referência na Equipe de Saúde da Família 
ou na Equipe de Atenção Básica, independentemente da formação, para exercer esse papel, favorecendo a 
continuidade do andamento das ações acordadas no PTS. Esse será o profissional que o sujeito procurará, caso 
seja necessário, ou que acionará o NASF sempre que preciso. 
 Momento para discussão da evolução e acordo de correções, se necessário. 
O Projeto Terapêutico Singular pode ser proposto também para um território, sendo desenvolvido no mesmo 
momento, tendo como sujeito a comunidade ou parte dela. 
Para iniciar o PTS, a equipe da ESF deve se reunir com os profissionais do 
NASF que mais podem contribuir com o caso. Nessa reunião, todos os aspectos e informações conhecidas 
sobre o usuário, sua vida e sua família devem ser trazidos, além da queixa principal, outras necessidades e o 
que já foi realizado pela equipe ou por outros serviços. 
Em seguida, discutem-se com a equipe os determinantes para o agravo em saúde, em uma perspectiva integral 
e pautada na historicidade e vivência social do usuário. Define-se, então, quais profissionais e áreas do serviço 
de saúde podem atuar no caso. 
Em seguida, é verificado se há necessidade de articulação com outros serviços de saúde e externos à área para 
estabelecer quem será o contato entre o usuário e a equipe. Nesse momento,novas ações são planejadas. 
Por fim, deve-se agendar uma nova ou novas reuniões para discussão do caso e sua evolução. 
Visando ampliar, qualificar e complementar o trabalho das ESFs, em 24 de janeiro de 2008, o Ministério da 
Saúde (MS) promulgou a Portaria 154/GM, instituindo os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os 
núcleos de apoio foram criados com objetivo de ampliar o escopo de ações na APS, seguindo suas diretrizes 
de interdisciplinaridade e intersetorialidade, integralidade, territorialidade, equidade, controle social, educação 
em saúde, humanização e promoção da saúde. 
A proposta de trabalho do NASF não deve se reduzir a oferta de serviço especializado, mas atuar oferecendo 
apoio matricial as equipes de saúde em temas específicos de sua abrangência territorial, tendo em vista a 
integralidade do cuidado e a clínica ampliada, ou seja, considerando os fatores que envolvem o processo saúde-
doença para além do biológico, que por sua vez embasaria o Projeto Terapêutico Singular (PTS). 
O PTS é um dispositivo de cuidado que envolve o desenvolvimento de ações terapêuticas para pessoas e 
coletividades a partir de uma reflexão sistematizada de uma equipe multiprofissional, visando a resolutividade 
de casos complexos por meio da corresponsabilização e utilização dos recursos de todos os envolvidos. 
Estudo aponta que o conceito de PTS está relacionado a um dispositivo que favorece a discussão do caso 
clínico, visando ir além do diagnóstico e da medicalização. Para os autores, o PTS está no campo da clínica 
ampliada, buscando a educação permanente, e por isto transcende a tradicional discussão de caso. Eles ainda 
abordam o conceito de PTS a partir de duas perspectivas: 
A primeira, conceitua o PTS como um dispositivo que descreve uma estratégica de intervenção, 
considerando os recursos de todos os envolvidos: equipes de saúde, território, família e o próprio sujeito. Pois 
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uma nova clínica, articulada e ampliada, se faz considerando as variáveis familiar, socioeconômica, relações 
sociais, relações afetivas, entre outras. 
A segunda, que em sua concepção, o PTS objetiva auxiliar o indivíduo a reconstituir relações afetivas e 
sociais, recuperar direitos e poder, “buscar a autonomia afetiva-material-social e o incremento da 
incorporação desses na vida de relação social e política”. 
As definições complementam-se ao mesmo tempo que ampliam suas características. O PTS surge no Brasil 
no início da década de 1990, quando o modelo de atenção à saúde sofreu modificações a partir de movimentos 
como: a luta antimanicomial, reforma psiquiátrica, reforma sanitária e instituição do SUS, quando a adoção 
dos conceitos de integralidade, universalidade passaram a influenciar a organização de ações e serviços em 
saúde. 
Atualmente, o dispositivo PTS tem ultrapassado seu uso na saúde mental e sendo possível adaptá-lo às 
diferentes realidades como da atenção básica12 (BRASIL, 2010). Isso se deve a necessidade de práticas 
inovadoras, seja na saúde mental ou na atenção primaria a saúde. A verdade é que ainda nos deparamos com 
profissionais enraizados ao fazer da clínica tradicional, prescritiva, de valorização de um saber em detrimento 
de outros, apresentado dificuldades no trabalho em equipe e em lidar com a coletividade e, assim, afetando 
consideravelmente a qualidade de cuidado. 
 
O PTS é entendido como “um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito 
individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar” 
 
O Apoio Matricial é a principal ferramenta tecnológica no trabalho do NASF por apresentar tanto ações 
assistenciais diretas quanto ações técnico-pedagógicas, como a elaboração de materiais de apoio, a discussão 
de casos, os atendimentos conjuntos, dentre outros. Ao realizar matriciamento, a equipe do NASF utiliza as 
informações da equipe da ESF, buscando sua qualificação para a oferta de apoio às equipes vinculadas. 
De maneira simples, o matriciamento pode ser definido como um modo de produzir saúde em que equipes 
complementam suas atividades, num processo de construção compartilhada, com o fim último de tratar das 
dificuldades de uma pessoa por meio de uma proposta de intervenção pedagógica e terapêutica conjunta. 
A utilização da matriz no campo da saúde já havia sido sugerida por alguns autores da administração, em 
especial ligados à teoria contigencial e ao estruturalismo, para assegurar integração entre as distintas profissões 
no trabalho em saúde. No entanto, esse uso caracterizava-se por encontros episódicos entre as distintas 
profissões para a realização de reuniões, programas, projetos, sem necessariamente alterar o desenho 
tradicional dos departamentos estanque. 
A matriz, sugerida pela administração, de modo geral intentava opor-se à estrutura burocrática das 
organizações. Mas, com ela, de fato "[...] os departamentos convencionais continuam a existir, servindo 
inclusive de estoque de especialistas para diversos projetos, [...]. Terminando o projeto, o pessoal retorna aos 
 / Página 7 de 9 
seus departamentos, onde desempenha atividades preestabelecidas, participa de programas de treinamentos e 
espera novas designações”. 
Em suma, equipes de referência e de apoio matricial nasceram, portanto, ao mesmo tempo como um arranjo 
de organização e como uma metodologia de gestão dos serviços de saúde para transpor a “racionalidade 
gerencial tradicionalmente verticalizada, compartimentalizada e produtora de processo de trabalho 
fragmentado e alienante para o trabalhador” (BRASIL, 2010). Em geral, essa lógica verticalizada é imposta 
por sistemas de poder que tendem a determinar um processo de trabalho focado em procedimentos nos quais 
não há espaço para o comprometimento dos trabalhadores com os usuários no que se refere à produção de 
saúde. 
É necessário lembrarmos que a proposta de organização dos serviços por meio das equipes de referência e 
de apoio matricial é extensiva aos diversos serviços e níveis de assistência, ou seja, é extensiva aos hospitais, 
aos centros de referência, aos prontos-atendimentos e à Atenção Básica. 
Para aqueles defensores do SUS é exatamente toda essa complexidade da Atenção Básica de Saúde que 
permite que ela seja um campo fecundo para a criação e a experimentação de novas estratégias que permitam 
a produção de saúde, pois a Atenção Básica “apresenta a possibilidade de menor aprisionamento de suas 
práticas a um processo de trabalho médico restrito, ou mesmo circunscrito no tempo e no evento”. 
Para uma melhor compreensão, a equipe de referência, como o próprio nome já diz, deve ser referência para 
determinada população, ampliando, assim, o vínculo com essa. Ela deve ser constituída por um conjunto de 
trabalhadores de distintas áreas, considerados essenciais para a condução dos problemas de saúde apresentados 
por essa população. 
Em resumo, a equipe de referência é um modo de organização do trabalho em saúde que busca redefinir o 
poder de gestão e de condução de casos, geralmente fragmentado entre especialidades e profissões de saúde, 
concentrando-o em uma equipe interdisciplinar. 
O Apoio Matricial em saúde, por sua vez, trata-se de uma metodologia de gestão de trabalho complementar 
à definição de equipes de referência, inscrita na lógica das unidades de produção, como “coletivos 
organizados em torno de um objeto comum de trabalho”. 
Portanto, o Apoio Matricial deve ser acionado de acordo com as necessidades de cada indivíduo, família ou 
grupo. O conjunto de profissionais responsável por prestar tal apoio não necessariamente tem uma relação 
direta com esses atores, mas deve oferecer suporte às Equipes de Saúde da Família ou às Equipes de Atenção 
Básica através de diferentes estratégias interdisciplinares, considerando-se as duas dimensões do Apoio 
Matricial: técnico-pedagógica e assistencial. 
Dimensão técnico-pedagógico: Engloba ações dedesenvolvimento de competência e Educação Permanente 
junto as equipes vinculadas, com e para ela, podendo se materializar através de discussões de caso ou de tema, 
ações coletivas conjuntas, atendimentos conjuntos e outros arranjos possíveis. Tais ações visam ampliar a 
autonomia da equipe para a produção do cuidado, em que o compartilhamento do núcleo de saber específico 
do profissional do NASF com a equipe de referência possibilita criar condições para a constituição de um 
campo de conhecimento, comum e compartilhável, para a atuação na saúde, buscando a integralidade e o 
aumento da resolubilidade na Atenção Básica. 
Portanto, tendo como foco a área de abrangência sob sua responsabilidade, os temas ou as situações que devem 
ser trabalhados nessas ações devem ser mapeados juntamente às Equipes de Saúde da Família ou às Equipes 
de Atenção Básica. Além disso, esses assuntos podem ainda ser identificados de diversos modos, como através 
de estudos de demanda ou a partir de discussões de caso realizadas com as equipes. Nessas ocasiões poderão 
ser detectadas as maiores ou as mais frequentes dificuldades para a prática de saúde na Atenção Básica. 
 / Página 8 de 9 
Dimensão assistencial: Ações clínicas diretas do profissional do NASF também podem ser efetuadas para a 
produção do cuidado, conformando-se à dimensão assistencial do Apoio Matricial. Entretanto, para a sua 
realização, é importante ressaltar que o NASF não é porta de entrada, ou seja, suas ações não são de livre 
acesso na Atenção Básica. 
Apesar de ser parte integrante desse nível de atenção, devem ser evitadas as demandas individuais. Por 
conseguinte, quando necessárias, as intervenções diretas do profissional do NASF - individuais ou coletivas - 
devem ser previamente acordadas e reguladas pelas Equipes de Saúde da Família ou pelas Equipes de Atenção 
Básica. 
Portanto, a equipe de referência deve compreender as propostas, as implicações e as interações que essas ações 
irão produzir, procurando remodelar o cuidado oferecido de maneira a integrar suas ações com aquelas 
desenvolvidas pelo profissional do NASF, sem transferir a ele toda a responsabilidade pelo cuidado. 
Os limites entre o que seria conhecimento nuclear e conhecimento comum são bastante tênues e variáveis de 
acordo com as necessidades de cada equipe vinculada (BRASIL, 2010). Por exemplo, uma equipe que lidasse 
com grande número de idosos portadores de doenças crônicas não transmissíveis possivelmente necessitaria 
de maior suporte de um nutricionista para o cuidado direcionado ao manejo dietético nessas condições; por 
outro lado, ao realizar apoio a outra equipe inserida em um contexto importante de vulnerabilidade social com 
violação do direito humano à alimentação adequada, esse mesmo nutricionista precisaria oferecer 
conhecimentos diferentes para serem utilizados por essa equipe. 
Portanto, baseando-se na priorização de ações compartilhadas e interdisciplinares, com trocas de saberes, 
corresponsabilização e responsabilidades mútuas mediante a utilização de amplas tecnologias, o Apoio 
Matricial à Equipe de Saúde da Família ou à Equipe de Atenção Básica deve possibilitar que essa equipe se 
mantenha responsável pelo cuidado, qualificando-o. 
Pode-se, ainda, discutir sobre os diferentes entendimentos sobre os modos de cuidar que podem influenciar na 
maneira como são operacionalizados os processos de trabalho dos profissionais do NASF. Parece ser comum 
que os profissionais que o compõem sofram pressão por parte da gestão de saúde, dos usuários e até mesmo 
dos profissionais das equipes de saúde vinculadas por produção numérica de atendimentos individuais. 
Essa é uma lógica de atuação divergente daquela que 
vimos colocando até então, caracterizando o NASF 
como um serviço ambulatorial de especialistas e 
generalistas inseridos na Atenção Básica, mas não 
incluídos na Equipe mínima de Saúde da Família. 
 
A composição dos sentidos de matriz e de apoio no 
termo “Apoio Matricial” indica-nos uma 
possibilidade de se alterarem a forma vertical de 
relação entre os trabalhadores nas organizações de 
saúde e a diferença entre os que pensam e os que 
executam, admitindo, assim, que todos são capazes. 
Um dos intuitos do Apoio Matricial é romper a lógica tradicional dos encaminhamentos. É importante ressaltar 
que no trabalho organizado, a partir das equipes de referência e de apoio matricial, a posição do especialista 
em relação ao trabalhador que demanda seu apoio se altera. Em sistemas hierarquizados de saúde em que os 
trabalhadores da Atenção Básica encaminham os casos para o nível secundário e assim sucessivamente, os 
especialistas ocupam lugar de destaque na famosa pirâmide dos níveis de assistência, estabelecendo, assim, 
uma diferença de poder entre quem referência um caso e quem o recebe. Nessa circunstância, ou seja, ao 
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encaminhar um caso, a responsabilidade pela sua condução também é transferida (CAMPOS; DOMITTI, 
2007). 
Com o trabalho organizado com a lógica do Apoio Matricial, não há transferência, ao contrário, o usuário não 
é mais referenciado ou encaminhado para um serviço especializado, mas sim compartilhado, sendo a 
responsabilidade pela condução do caso da equipe de referência (CAMPOS, 1999). 
Campos e Domitti (2007) ressaltam que o trabalhador que realiza o Apoio Matricial possui um núcleo de 
conhecimento distinto daqueles que recebem o apoio. Núcleo de conhecimento e de responsabilidade refere-
se ao “conjunto de saberes e responsabilidades específicos a cada profissão ou especialidade” (CAMPOS, 
1997, p. 248-249). Para esses autores, a diferença entre o núcleo de conhecimento dos trabalhadores que 
realizam o Apoio Matricial e dos que compõem a equipe de referência tem potência para agregar saberes e 
contribuir para o aumento da resolubilidade dos problemas de saúde.

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