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CONTABILIDADE AMBIENTAL AULA 6 Profª Ana Lizete Farias 2 CONVERSA INICIAL Vamos começar nossa aula conhecendo sobre indicadores ambientais e socioeconômicos do desenvolvimento sustentável e para isso vamos examinar o que é a Agenda 2030. Depois iremos aprender sobre os indicadores de ecoeficiência, conceito que foi delineado antes de 1970, diante da necessidade de as empresas caminharem no sentido da eficiência ambiental. Também iremos ver sobre a Avaliação de Impacto Ambiental, ou seja, como medimos o ônus e os benefícios de empreendimentos que são implantados para o desenvolvimento. Para isso, vamos compreender o que é Impacto Ambiental. Na sequência veremos o que são os créditos de carbono e a auditoria ambiental: afinal, o que esses temas distintos têm a ver com a Contabilidade Ambiental? Em nossa prática vamos nos deparar com alguns elementos iniciais sobre a tragédia devido ao rompimento da Barragem de Brumadinho em janeiro de 2019. Para iniciar as nossas discussões apresentaremos a Agenda 2030 e seus ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). CONTEXTUALIZANDO Agenda 2030 Esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade. Reconhecemos que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. (...). Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas que estamos anunciando hoje demonstram a escala e a ambição desta nova Agenda universal, eles se constroem sobre o legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e concluirão o que estes não conseguiram alcançar. Eles buscam concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas. Eles são integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Os Objetivos e metas estimularão a ação para os próximos 15 anos em áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta: 3 Fonte: ONU, 2019. (...). Encontramo-nos num momento de enormes desafios para o desenvolvimento sustentável. Bilhões de cidadãos continuam a viver na pobreza e a eles é negada uma vida digna. Há crescentes desigualdades dentro dos e entre os países. Há enormes disparidades de oportunidades, riqueza e poder. A desigualdade de gênero continua a ser um desafio fundamental. O desemprego, particularmente entre os jovens, é uma grande preocupação. Ameaças globais de saúde, desastres naturais mais frequentes e intensos, conflitos em ascensão, o extremismo violento, o terrorismo e as crises humanitárias relacionadas e o deslocamento forçado de pessoas ameaçam reverter grande parte do progresso do desenvolvimento feito nas últimas décadas. O esgotamento dos recursos naturais e os impactos negativos da degradação ambiental, incluindo a desertificação, secas, a degradação dos solos, a escassez de água doce e a perda de biodiversidade acrescentam e exacerbam a lista de desafios que a humanidade enfrenta. A mudança climática é um dos maiores desafios do nosso tempo e seus efeitos negativos minam a capacidade de todos os países de alcançar o desenvolvimento sustentável. Os aumentos na temperatura global, o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e outros impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente as zonas costeiras e os países costeiros de baixa altitude, incluindo muitos países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. A sobrevivência de muitas sociedades, bem como dos sistemas biológicos do planeta, está em risco. (...) A nova Agenda define um vasto leque de objetivos econômicos, sociais e ambientais. Ela também promete sociedades mais pacíficas e 4 inclusivas. E define também, fundamentalmente, meios de implementação. Refletindo a abordagem integrada pela qual optamos, existem interconexões profundas e muitos elementos transversais através dos novos Objetivos e metas. Fonte: adaptado de <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 27 ago. 2019) TEMA 1 – INDICADORES AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS DO DESEMPENHO SUSTENTÁVEL O texto acima refere-se à introdução dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODSs), acordados em assembleia geral das nações unidas, em setembro de 2015. Este novo formato de agenda de desenvolvimento da ONU, e é agora denominada Agenda 2030. Compreende um conjunto de 17 Objetivos e 169 metas construídos sobre o escopo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). Os ODS, como são chamados, se constituem em uma “nova agenda universal” (UN, 2015), definindo as prioridades e aspirações de desenvolvimento sustentável global para 2030 e buscando mobilizar os esforços globais ao redor de uma série comum de objetivos e metas. A grande discussão em torno da Agenda 2030 é como mensurar a sustentabilidade para que não se torne um conceito subjetivo, temática que traz à tona o tema da construção de indicadores: instrumentos que permitem mensurar as modificações nas características de um sistema – e que permitem avaliar a sustentabilidade de diferentes sistemas. Nesse contexto, desde que a sociedade reconheceu a importância de planejar o crescimento econômico, social e ambiental de forma sustentável, tem- se discutido quais os métodos eficazes de monitoramento e avaliação desses pontos. Os indicadores de desenvolvimento sustentável, portanto, permitem mensurar quantitativamente e qualitativamente um objeto de estudo, sendo passíveis de padronização, comparação com regiões, áreas ou países. Surgiram na Conferência Mundial de Meio Ambiente (Rio-92), com o objetivo de definir padrões que considerassem aspectos ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais. 5 Desde aquela época tinham como objetivo tornarem-se ferramenta de transmissão de informações, de modo a contribuir para a identificação do progresso de pontos em análise e traçar medidas futuras, auxiliando na tomada de decisão para formação de políticas públicas, bem como em estratégias de ação na gestão de governos. A definição de indicadores não é uma tarefa fácil, eles precisam ter determinadas características, como: relevância social, validade, confiabilidade, cobertura, sensibilidade, especificidade, inteligibilidade de sua construção e comunicabilidade, factibilidade para obtenção e periodicidade na atualização, entre outros aspectos. De acordo com IBGE (2015), no Brasil, o trabalho de construção dos indicadores foi inspirado no movimento internacional liderado pela Comissão para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) das Nações Unidas (Commission on Sustainable Development), que reuniu governos nacionais, instituições acadêmicas, organizações não governamentais e especialistas que aplicaram dimensões na questão da sustentabilidade como forma de auxiliar sua análise, sendo elas: Dimensão ambiental: aborda a inclusão do capital natural no sistema capitalista, isto é, a melhoria da qualidade ambiental que deve ser buscada incessantemente pela sociedade para que as novas gerações possam usufrui-las de forma satisfatória. Exemplo de indicadores ambientais utilizados pelo IBGE: uso de fertilizante, desflorestamento na Amazônia Legal, áreas protegidas, qualidade das águas interiores, balneabilidade etc. Dimensão institucional: está referida à orientação políticapara que as mudanças sejam implementadas na sociedade em forma de ciência, tecnologia de processo e produtos, e a forma atuante do poder público quanto à fiscalização e proteção do meio ambiente. Exemplos: Ratificação de acordos globais, legislação ambiental, acesso à internet; patrimônio cultural etc. Dimensão social: relacionada à satisfação das necessidades humanas quanto à melhoria da qualidade de vida e justiça social. Os objetivos aqui se constituem à redução das desigualdades sociais, como a criação de postos de trabalho que possibilitem condição de sobrevivência humana dentro dos padrões mínimos de atendimento às necessidades básicas. 6 Exemplo dos indicadores IBGE: taxa de crescimento da população, taxa de frequência escolar, taxa de alfabetização, coeficiente de mortalidade etc. Dimensão econômica: os indicadores da dimensão econômica analisam o desempenho econômico e sua influência dos aspectos de sustentabilidade, buscando uma mudança gradativa em busca da almejada sustentabilidade. Exemplos: participação de fontes renováveis na oferta de energia, reciclagem, vida útil das reservas de petróleo e gás etc. Saiba mais Você pode se aprofundar sobre os indicadores de Desenvolvimento Sustentável conhecendo inclusive a sua evolução desde o lançamento a partir do site:<https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ids/tabelas#1>. Acesso em: 27 ago.2019. De forma sintética, pode-se entender os indicadores de desenvolvimento sustentável como instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável. Eles têm grande importância, mais pelo que apontam do que pelo seu valor absoluto, e são mais úteis quando analisados em conjunto, além disso, viabilizam o acesso integrado à informação já disponível sobre os temas relevantes para o desenvolvimento sustentável e apontam a necessidade de geração de novas informações. TEMA 2 – INDICADORES DE ECOEFICIÊNCIA Como vimos no tema anterior o conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável norteiam a construção de políticas públicas para que sociedade brasileira alcance um desenvolvimento mais justo do ponto vista ambiental, social e econômico. Nessa direção surge o conceito de ecoeficiência, delineado antes de 1970, por meio do surgimento da compreensão da eficiência ambiental (Freeman et al., 1973). A consolidação e efetiva definição da nomenclatura ecoeficiência ocorreu em 1990, por Schaltegger e Sturm (Cunha, 2016), que trouxeram a referida definição e realizaram a conexão do tema do desenvolvimento sustentável e os 7 negócios empresariais, voltada para a utilização mais eficiente dos recursos naturais. De acordo com Li et al. (2012), a ecoeficiência é uma ferramenta que viabiliza a criação de mais valor com menos impacto ambiental, por isso é utilizada nas organizações como instrumento de apoio de decisões de investimento alternativo e estratégias de produção, conectando-se à melhoria da competitividade e melhor ambiente desempenho (Cunha, Op. Cit). Em outras palavras, ecoeficiência é o “aspecto da sustentabilidade que relaciona o desempenho ambiental de um sistema de produto ao valor do sistema de produto” (ISO, 2012). Nessa definição, o sistema de produto representa o escopo da avaliação de ecoeficiência, definindo quais etapas da produção deste produto serão avaliadas. Nesse sentido, portanto, a dimensão ambiental é representada pelo “desempenho ambiental de um sistema de produto” e a dimensão econômica pelo “valor do sistema de produto”. Ainda de acordo com as diretrizes da WBCSD – Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (2000), uma organização se torna ecoeficiente por meio de sete práticas: 1. Na redução da intensidade de materiais nos produtos e serviços; 2. Na minimização do grau de energia nos produtos e serviços; 3. Na redução da dispersão de qualquer tipo de material tóxico; 4. Na promoção da reciclagem; 5. Na maximização do uso sustentável dos recursos renováveis; 6. No acréscimo a durabilidade dos produtos da empresa; 7. Na ampliação da intensidade de uso nos produtos e serviços. Estas práticas se configuram em um modelo de produção sustentável, com menos pressão ao meio ambiente. Os indicadores de ecoeficiência são elementos importantíssimos na medida em que permitem o rastreamento do progresso alcançado em atingir as metas de desempenho ambiental estabelecida por uma organização e permitem a comparação do desempenho ambiental entre duas organizações ou entre dois setores de uma mesma organização. O WBSCD aponta que a definição para utilização de indicadores deve incluir o fato de que os mesmos devem ser relevantes e significativos na proteção do meio ambiente e da saúde humana e/ou na melhoria da qualidade de vida; 8 fornecer informação aos tomadores de decisão, com o objetivo de melhorar o desempenho da organização; reconhecer a diversidade inerente a cada negócio; apoiar o benchmarking e monitorar a evolução do desempenho bem como ser, por fim, claramente definidos, mensuráveis, transparentes e verificáveis. Alguns exemplos de indicadores de ecoeficiência que podem ser utilizados pelas organizações de uma forma geral são: o consumo de energia, o consumo água, potencial de risco, toxicidade potencial das substâncias utilizadas e emissões, quantidade efluentes e resíduos gerados. Ecoeficiência é uma estratégia importante dentro das empresas, pois a tendência é que os recursos naturais sejam, cada vez mais, protagonistas dos custos elevados. Evidentemente que quaisquer estratégias de ecoeficiência nos processos industriais podem demandar investimentos, mas o desafio das empresas é encarar esse “custo” como um investimento necessário, não só para o futuro, mas para o presente. Ressalta-se que há uma forte demanda da sociedade para que as empresas rumem nesse mesmo sentido para reduzir o impacto das atividades empresariais no meio ambiente. TEMA 3 – AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL Os temas anteriores nos mostram a importância da mensuração do desenvolvimento sustentável por meio de indicadores nos diferentes âmbitos da vida em sociedade, ou seja: tanto em relação à gestão pública, quanto na gestão empresarial. Esse debate inclui o ônus e os benefícios de projetos de desenvolvimento, por isso é atravessado pela avaliação de impacto ambiental, que passou a desempenhar o papel de instrumento de negociação entre atores sociais e de indicador dos processos de degradação. A história ambiental recente brasileira tem mostrado que muitos dos projetos submetidos ao processo de AIA (Avaliação de Impacto Ambiental) são polêmicos e, muitas vezes, têm consequências desastrosas, não somente para os ecossistemas, mas para a vida das comunidades. Desta forma, mensurar de forma mais adequada possível esses impactos é uma tarefa que cabe aos profissionais que compõem a equipe contratada para desenvolver a avaliação, que como vimos anteriormente, também está submetida aos rigores das leis. 9 Para entendermos essa dificuldade, devemos compreender o que é um Impacto Ambiental, segundo a Resolução CONAMA n. 001/86: uma alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. Para dar início ao levantamentodos impactos são estabelecidas as áreas de abrangência e influência em que deverá ser realizado o diagnóstico dos meios atingidos. De posse desses elementos, que incluem visitas em campo, é que acontecerá a definição e análise de impactos para todas as fases do empreendimento e a qualificação em função de seus principais atributos, como veremos na sequência. Os impactos são definidos, portanto, a partir dos seguintes aspectos (Kapusta, 2009, Surehma/Gtz, 1992; Sánchez, 2013): a. Quanto à natureza: impactos podem ser positivos, quando acarretam melhorias em termos de qualidade ambiental preexistente, ou negativos, quando comprometem essa qualidade; b. Forma de incidência: indica se o impacto afeta de forma direta ou indireta o meio ambiente; c. Área de abrangência: impactos locais, quando ocorre no próprio local do empreendimento, ou ainda na ADA (Área Diretamente Afetada); regional (R), quando se propaga para fora desse local, na AID (Área de Influência Direta); ou, estratégicos (E), quando se interligam com estratégias de desenvolvimento local e/ou regional, podendo atingir a AII (Área de Influência Indireta); d. Duração ou temporalidade: tempo de duração do impacto na área em que se manifesta, podendo ser temporário quando o impacto cessa a manifestação de seus efeitos em um horizonte temporal definido, ou permanente, quando apresenta seus efeitos estendendo-se além de um horizonte temporal definido ou conhecido. e. Reversibilidade: O impacto passível de ser revertido na sua tendência ou os efeitos decorrentes das atividades do empreendimento, levando-se em conta a aplicação de medidas para sua reparação (no caso de impacto negativo) ou com a suspensão da atividade geradora do impacto. Os 10 impactos irreversíveis estão relacionados ao fato de que, mesmo com a suspensão da atividade geradora do impacto, não é possível reverter a sua tendência. f. Cumulatividade e sinergia: a classificação de um impacto em relação a este atributo considera a possibilidade de ocorrência de interação cumulativa e/ou sinérgica com outros impactos, considerando as atividades previstas para o empreendimento em questão. Nesse sentido, uma vez identificada a possibilidade de interação cumulativa e/ou sinérgica, é conferida ao impacto a qualificação presente. Por outro lado, quando não é prevista a ocorrência destas interações o impacto recebe a qualificação ausente. A avaliação ainda compreende uma análise em função da magnitude, ou seja, aquilo que define a grandeza de um impacto em termos absolutos, ou ainda, a medida de alteração de um atributo ambiental, em termos quantitativos ou qualitativos, adotando-se uma escala nominal de fraco, médio, forte ou variável. A terminologia que vimos acima é usualmente utilizada em todos os Estudos de Impacto Ambiental no Brasil, com pequenas adaptações em função do perfil e experiência profissional da equipe. Uma observação importante que merece registro acerca do atual contexto sobre a realização das avaliações de impacto ambiental é que muitos estudos se tornaram alvo de grandes controvérsias perante a sociedade civil, pois foi subestimados grande parte dos impactos potenciais, dificultando a realização de comparações e, portanto, sem valoração objetiva com relação à magnitude dos impactos. Esses estudos subdimensionados trazem uma série de consequências para as empresas que pretendem instalar novos empreendimentos, dentre elas, perdas financeiras e de imagem. O caso mais recente é a tragédia de Brumadinho, como veremos em nossa prática. TEMA 4 – CERTIFICADOS NEGOCIÁVEIS: CRÉDITOS DE CARBONO Após compreendermos a complexidade da avaliação dos impactos ambientais decorrentes da implantação de empreendimentos, é necessário mencionar que existem oportunidades de mitigação e de compensação. 11 Os créditos de carbono são uma oportunidade relacionada ao maior impacto ambiental na história da nossa civilização: as mudanças climáticas. Nesse contexto, que interfere cada vez mais na nossa vida, que o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) tem trazido um amplo repertório de evidências que aponta a relação entre atividades antrópicas e o aumento da concentração de Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera – e, consequentemente, o aquecimento global. Há um consenso na comunidade científica de que deve prevalecer, o “princípio da precaução”, ou seja: o fato de não existir uma ausência de certeza absoluta em relação a determinado fenômeno não deve ser um impeditivo para a adoção de medidas de proteção contra possíveis problemas no futuro. De toda forma, uma maior conscientização sobre os efeitos da concentração de GEEs na atmosfera tem incentivado políticas públicas e privadas com o objetivo de reduzir as emissões de gases-estufa. A criação dos mercados de carbono tem esse papel, ou melhor, é um dos mecanismos que busca resolver problemas ambientais por meio de ferramentas econômicas sem que, para isso, sejam adotadas medidas fiscais. Pode-se afirmar que os créditos de carbono são uma espécie de mercadoria ambiental de empresas que reduzem suas emissões de gases, atenuando o efeito estufa e podendo vender no mercado financeiro, em que para cada tonelada de CO² deixado de ser “enviado” para atmosfera, é feito um “crédito de carbono”. No caso dos outros gases, usualmente é realizada uma equivalência de carbono para quantificação dos créditos (Brasil, 2012). Os créditos de carbono se tornam commodities negociados com preços estabelecidos pelo mercado internacional, o que de certa forma faz com tenham grande variação de preço. O mercado de créditos de carbono possui dois sistemas: o Mercado Regulado e o Mercado Voluntário. O Mercado Regulado está baseado sistema denominado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criado pelo Protocolo de Kyoto (realizado em 1997 e que implantou, entre outras coisas, metas de redução de carbono para os países). O MDL, que ficou limitado aos setores de transportes, florestal e energético, determina a criação de procedimentos rigorosos de registro público para a qualificação de projetos de redução de carbono, ou seja, é uma regulamentação do processo de obtenção dos créditos de CO2. 12 Essas iniciativas ganham um título chamado de Redução Certificada de Emissão (CER) para cada tonelada de CO2 reduzida, que podem ser negociados. No ambiente externo, as transações são feitas entre países, com o objetivo de alcançarem suas metas, já no ambiente interno, em leilões da BM&FBovespa (IPAM, 2017). O Mercado Voluntário é menos burocrático. As organizações da sociedade civil, empresas, governos ou cidadãos podem, voluntariamente, tomar a iniciativa de reduzir as emissões. Nesse caso, os créditos gerados são auditados por entidades independentes. A compra e a venda podem ser feitas diretamente pelos atores citados acima ou em mercados internacionais, como o Chicago Climate Exchange. A situação do mercado brasileiro até janeiro de 2019 se mantém indefinida, uma vez que o governo de Jair Bolsonaro manifestou inicialmente a decisão de sair do Acordo de Paris (COP-21), realizado em 2015. Esse acordo aumentou as metas de redução de emissão de todos os países, com o objetivo de acelerar a mudança global para uma economia de baixo carbono. Para concretizar essas metas, a principal ferramenta utilizada deve ser a substituição de energia fóssil por energia limpa e, nesse cenário, o Brasil ganharia terreno, literalmente. TEMA 5 – AUDITORIA AMBIENTAL Chegamos ao fim das nossas aulas. Vimos a complexidade que envolve as questões ambientais,um ambiente em que existe um limite tênue, inexorável a todos os campos da nossa vida em sociedade, e por isso, há a relevância da Contabilidade Ambiental. Nesse cenário, a auditoria ambiental se soma à ferramentas que o contador utiliza, à medida em que se constitui um processo sistemático e documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências de auditoria para determinar se as atividades, eventos, sistemas de gestão e condições ambientais específicos ou as informações relacionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria para comunicar os resultados deste processo ao cliente (ABNT, 2015). 13 É pela auditoria que não somente identificamos situações de risco e infrações que desviam o cumprimento das normas, mas também, os pontos fortes do sistema operacional. Se constitui então, em uma ferramenta de gestão ambiental e não de controle. A auditoria ambiental não estabelece as normas e padrões a serem seguidos e a tecnologia necessária para tal, mas sim, avalia se as normas existentes estão sendo observadas pela operação, se a empresa possui uma política ambiental e se é capaz de melhorar o seu desempenho ambiental constantemente (melhoria contínua). Conforme aprendemos anteriormente, quando estudamos os aspectos históricos, foi o aumento da gravidade e das consequências dos acidentes ambientais que fizeram com que as empresas realizassem processos de verificação, ou seja, de auditorias ambientais com mais frequência. Historicamente, as auditorias iniciaram nos Estados Unidos, primeiramente com a efetivação de auditorias voluntárias na década de 1970, que consistiam em análises críticas do desempenho ambiental ou verificação de conformidades para que os riscos dos investidores frente à possíveis ações legais fossem minimizadas. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) apresentou, em dezembro de 1996, as normas NBR ISO 14010, 14011 e 14012, relacionadas à auditoria ambiental, que em 2002 foram substituídas pela norma ABNT NBR ISO 19011: 2002, atualizada em 2012. Saiba mais É interessante navegar pelo site da ABNT para compreender a variedade de possibilidades acerca do mundo da normatização. Fonte: ABNT, 2019. As principais características da Auditoria Ambiental são: feitas por profissionais que conhecem o assunto a ser auditado; realizadas por pessoas que não estão envolvidas na atividade auditada; 14 podem ter escopo variado, havendo necessidade de definição de sua abrangência; dela participam três personagens bem definidos: o cliente, o auditado e o auditor. A Tabela 1 apresenta um resumo dessas principais características: Termos Def inições Critério de auditoria conjunto de pol í t icas, procedimentos ou requis itos ao qual é comparada a evidência de audi tor ia; Evidência de auditoria regis tros, apresentação de fatos ou outras informações ver i f icáveis, per t inentes aos cr i tér ios de auditor ia; Constatação de auditoria resul tados da aval iação comparat iva entre a evidênc ia de audi tor ia coletada e os cr i tér ios de audi tor ia; Conclusão de auditoria resul tado de uma audi tor ia, apresentado pela equipe de auditor ia após levarem cons ideração os objet ivos da audi tor ia e todas as constatações de audi tor ia; Cliente da auditoria organização ou pessoa que sol ic i tou uma auditor ia; Auditado organização que está sendo audi tada; Auditor pessoa com a competênc ia para real izar uma auditor ia; Equipe de auditoria um ou mais audi tores que real izam uma auditor ia, apoiados, se necessár io, por espec ia l is tas; Especialista pessoa que fornece conhec imento ou exper iênc ia específ icos para a equipe de auditor ia, mas não atua como um auditor ; Programa de auditoria conjunto de uma ou mais auditorias planejado para um período de tempo específico e direcionado a um propósito específico; Plano de auditoria descrição das atividades e arranjos para uma auditoria; Escopo de auditoria abrangência e limites de uma auditoria; Competência Atributos pessoais e capacidade demonstrados para aplicar conhecimentos e habilidades. Fonte: ABNT, 2015 Pode-se afirmar que a Auditoria Ambiental, além de ser um instrumento técnico, busca melhorar as relações de parceria, envolvimento e confiança da organização com os seus públicos envolvidos e o comprometimento com o desenvolvimento sustentável, a submissão à legislação e a melhoria nas relações de trabalho. 15 TROCANDO IDEIAS Em nossa aula vimos sobre os indicadores e ferramentas, como a Auditoria Ambiental, que servem para dar rumo ao Desenvolvimento Sustentável. No entanto, na prática não parece que é isso o que acontece. Em 2015 houve a tragédia ambiental que afetou a cidade de Mariana, em Minas Gerais, e que era para ter servido de exemplo para evitar tragédias como a de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019. No caso de Mariana, o Ministério Público apontou falhas e omissões no processo de licenciamento ambiental para as operações da Samarco, que não teriam considerado riscos potenciais de rompimento e impacto ambiental. Na perspectiva desta aula, responda: Que ensinamentos essas tragédias nos trazem? NA PRÁTICA “A VALE FOI ALERTADA sobre falhas nos procedimentos de controle e manutenção da barragem que se rompeu em Brumadinho, mas omitiu as informações para a população. Em seu Relatório de Impacto Ambiental, apresentado em 2017, a empresa cortou uma tabela importante que alertava para os riscos, produzida para um relatório de 2015. O documento de 2015 é o mesmo que serviu de base para a versão mais recente, de 2017, apresentado sem as informações sobre os riscos da barragem. Os problemas na barragem foram identificados por uma consultoria contratada pela mineradora, a empresa Nicho Engenheiros Consultores Ltda., uma firma de Belo Horizonte com atuação nesse mercado desde 1990. O Intercept conversou com o dono da Nicho, o engenheiro Sérgio Augusto da Silva Roman, que assinou o estudo de impacto de Brumadinho como responsável técnico. A Vale precisava dos laudos para expandir a mineração em Brumadinho. Questionado sobre a ausência das informações na versão divulgada ao público geral em 2017, Sérgio Roman diz que “não foi por omissão, mas porque não cabia mesmo”. Perguntado por que não cabia esse tipo de informação mesmo depois da tragédia ocorrida em Mariana, em 2015, o engenheiro justificou assim: “A população não ia entender porcaria nenhuma”. O documento é o 16 Estudo de Impacto Ambiental (EIA), exigido de qualquer empreendimento que afete o meio ambiente. A papelada é a base dos processos de licenciamento. É a partir do documento e de vistorias próprias e eventuais pedidos de esclarecimentos que os órgãos de controle ambiental autorizam obras ou, se for o caso, determinam o cumprimento de “condicionantes” – medidas práticas que devem ser tomadas para que, aí sim, as licenças necessárias sejam dadas pelo governo. É um processo lento, geralmente proporcional ao tamanho do empreendimento. Entre as mais de duas mil páginas redigidas a partir do trabalho de uma equipe de 27 profissionais, a Nicho listou falhas de segurança nas barragens da Vale em Brumadinho. Os problemas afetavam diretamente a Barragem I, a maior do complexo do Córrego do Feijão, justamente a que estourou no dia 25 despejando uma quantidade equivalente a 4.800 piscinas olímpicas lotadas de lama tóxica sobre funcionários da própria Vale e residências espalhadas na zona de mineração daempresa (...). Dois anos depois do primeiro estudo, em maio de 2017, a Vale e a Nicho apresentaram aos órgãos ambientais uma nova versão do documento, agora já batizado como Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Não era de fato um novo relatório. Era apenas uma versão resumida do estudo feito anteriormente, com as mesmas conclusões e uma capa mais bonita. Em vez de 2.114 páginas, eram 238. Como a Vale explica, esse novo relatório “trata das principais conclusões sobre a região e o empreendimento, sendo apresentadas de forma resumida e clara para que a população entenda o projeto, bem como as consequências ambientais de sua implementação”. E sugere que as pessoas interessadas leiam o Estudo de Impacto Ambiental, com suas mais de duas mil páginas cheias de jargões do mundo da mineração – mas que só ficaria disponível para consulta pública, segundo a própria Vale, depois da aprovação do empreendimento pelos órgãos competentes. A divulgação de estudos de impacto ambiental antes da aprovação do empreendimento é vetada por uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente, de 1986. Faria falta a leitura completa, porque, no resumo, a Vale e a Nicho esqueceram de informar à população sobre as observações críticas feitas pela equipe de especialistas aos procedimentos de controle e manutenção das barragens. Fonte: adaptado de <https://theintercept.com/2019/01/28/vale-sabia-problemas-barragem- brumadinho/>). Acesso em: 27 ago.2019. 17 Comentário: O texto mostra uma parte importante do que vimos em aula sobre estudos de Impacto Ambiental e permite uma reflexão sobre como as ações de fiscalização, monitoramento e o fornecimento de informações relativos aos riscos da Barragem de Brumadinho foram subestimadas pelo poder público e como isso foi um dos fatores que contribuíram para a tragédia. Nesse sentido, pode-se refletir se os projetos de desenvolvimento que temos no país realmente estão conduzindo para a sustentabilidade social e ambiental, e ainda, de quem e para quem são os ganhos desse projeto. FINALIZANDO Começamos nossa aula a partir da apresentação dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e dessa ambiciosa agenda. Pudemos entender o contexto de criação e a importância dos indicadores ambientais e socioeconômicos do desenvolvimento sustentável. Na sequência, aprendemos sobre o que são os indicadores de ecoeficiência, elementos importantíssimos, à medida em que permitem o rastreamento do progresso alcançado em atingir as metas de desempenho ambiental estabelecidas por uma organização. Após esses temas, vimos sobre um ponto delicado que atravessa as discussões do meio ambiental, principalmente devido às tragédias que o nosso país tem sofrido nos últimos anos, que esse refere à Avaliação de Impacto Ambiental. Após compreendermos sobre o que são impactos ambientais, pudemos olhar que também existem oportunidades, e por isso, nos dedicamos a discutir o que são os créditos negociáveis. Ao final, discutimos sobre a Auditoria Ambiental, ferramenta útil para a Contabilidade Ambiental. Na prática, apresentamos uma reportagem que traz elementos para refletirmos sobre os EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a partir da tragédia do rompimento da Barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019. 18 REFERÊNCIAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 14001: 2015. Sistema de Gestão ambiental – Requisitos com Orientações para uso. Rio de Janeiro, 2015. BRASIL, Governo Federal. Entenda como funciona o mercado de crédito de carbono. 2012. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio- ambiente/2012/04/entenda-como-funciona-o-mercado-de-credito-de-carbono>. Acesso em: 27 ago.2019. CUNHA, J. G. M. C.; TORATO, U. Proeminências da ecoeficiência: uma revisão sistemática das produções internacionais de alto impacto. Revista Livre de Sustentabilidade e Empreendedorismo, v. 1, p. 3-27, 2016. FREEMAN, M.A., R.H., H., & A.V., K. 1973. The Economics of Environmental Policy. John Wiley & Sons, New York. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil: 2015.: Rio de Janeiro. Editora: IBGE. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/pt/biblioteca- catalogo?view=detalhes&id=294254>. Acesso em: 27 ago.2019. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANTARDIZATION. ISO 14045: 2012 - Environmental management - Eco-efficiency assessment of product systems - Principles, requirements and guidelines. Genebra, 2012. 38 p. IPAM, Amazônia. O que é e como funciona o Mercado de Carbono? 2017. Contribuição de conteúdo por Ricardo Rettmann. Disponível em: <http://ipam.org.br/cartilhas-ipam/o-que-e-e-como-funciona-o-mercado-de- carbono/>. Acesso em: 27 ago.2019. KAPUSTA, S; RODRIGUEZ, M. Análise de Impacto Ambiental. Porto Alegre: Instituto Federal De Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 2009. LI, W., WINTER, M., KARA, S., HERRMANN, C. 2012. Eco-efficiency of manufacturing processes: a grinding case. 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