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Prof. José Carlos de Souza Examinar o contexto vigente no século 2, sobretudo no que se refere à relação entre fé cristã e cultura pagã. Avaliar a literatura apologética, em especial a obra de Justino Mártir. A hostilidade contra as comunidades cristãs nos primeiros séculos. Boatos populares distorcem as práticas cristãs. As críticas dos intelectuais desqualificam a fé. Ambos dão fundamentos para a perseguição. Como defender e comunicar a fé em contextos culturais tão complexos? O exemplo de Paulo (At 17.16-31) O corpo de um Deus não poderia ser feito como o teu; o corpo de um Deus não seria formado e procriado como o teu foi; o corpo de um Deus não se alimenta como te alimentaste; o corpo de um Deus não se serve de uma voz como a tua, ... Que Deus, que filho de Deus, aquele que seu pai não pôde salvar do mais infame suplício e que não pôde ele próprio preservar-se? (Celso, 13) Que bela é a alma preparada para uma imediata separação do corpo, seja para se extinguir, seja para se dispersar ou sobreviver! Que essa preparação, provenha de um juízo próprio e não dum simples sectarismo, como o dos cristãos; uma preparação raciocinada, grave, e, para ser convincente, nada teatral” (Marco Aurélio, 11,3) É autor da mais antiga apologia conservada, dirigida ao imperador Adriano (antes de 138). Há fragmentos gregos e uma versão em siríaco. PRINCIPAIS IDEIAS Deus é o primeiro motor do mundo e fez todas as coisas por causa do ser humano. Quem teme a Deus deve, portanto, respeitar os semelhantes. Predomina uma teologia apofática (refere-se a Deus em termos negativos): sem princípio, sem fim, sem ordem, sem composição, sem gênero, etc. A humanidade se divide em quatro grupos, mas apenas um encontrou a verdade: os cristãos. Os deuses dos bárbaros precisam ser vigiados para que não sejam roubados; os deuses gregos são moralmente piores do que os humanos; os judeus caíram em idolatria, pois adoraram aos anjos e suas leis. Os cristãos, o novo povo no qual há “uma mescla divina”, se distinguem por suas práticas mais elevadas e pelo amor que os une. Há poucas as afirmações sobre a doutrina cristã. É intensa a expectativa escatológica (XVII,7) Sugere que as crianças não têm pecado (XV,9) O mais importante apologista do 2º século é natural de Flávia Neápolis, a antiga Siquém, na Samaria. Percorre várias escolas filosóficas – foi estoico, aristotélico, pitagórico e platônico – quando se interessou pelos profetas. Em Éfeso, se converte à fé cristã, mas não abandona a condição de filósofo, considerando o cristianismo a mais antiga e verdadeira filosofia. Após debate com Crescêncio, sofre o martírio em Roma (c. 165) Duas Apologias que discorrem sobre as relações entre a fé cristã e a filosofia grega. Diálogo com Trifão dirigida ao judaísmo. Obras perdidas (HE, IV, 18): Discurso aos gregos, Refutação; Da Monarquia Divina; Saltério; A Alma; Contra as heresias; Contra Marcião. “Para afastar as pessoas de nossos ensinos, outros brandirão contra nós o argumento desarrazoado de que afirmamos que Cristo nasceu há 150 anos, em tempos de Quirino; que ensinou, em tempos de Pôncio Pilatos, a doutrina que lhe atribuímos; e criticar-nos-ão, pois, dizendo que não levamos em consideração todos os que nasceram antes de Cristo. Convém que desfaçamos essa dificuldade. Temos aprendido que Cristo é o primogênito do Pai, e acabamos de explicar que ele é a razão (o Verbo), da qual participa toda razão humana, [...] e aqueles, que vivem de conformidade com a razão são cristãos, muito embora sejam reputados como ateus. Assim Sócrates e Heráclito entre os gregos e, como eles, muitos outros... (1ª Apologia, XLVI.1-4) “Tudo quanto, por algum homem, em algum lugar, foi opinado acertadamente, pertence a nós, cristãos, porquanto nós, em presença de Deus, adoramos e amamos a razão (o Verbo) que procede do Deus encarnado e inefável. Visto que essa razão, por nossa causa, se fez homem e compartilhou de nossos sofrimentos, ela pode igualmente trazer-nos a salvação. Ora, a todos os autores foi dada a capacidade de discernir obscuramente a verdade, em virtude da semente inata da razão que havia neles. Uma coisa é a semente e a reprodução de uma realidade concedida segundo a capacidade natural do homem; outra coisa bem diferente é a realidade em si, cuja participação e reprodução são concedidas segundo a graça (2ª Apo XIII). Sua argumentação retoma Fílon de Alexandria, o estoicismo e o Evangelho de João, construindo uma ponte de diálogo com a cultura “pagã”. Procura também estabelecer vínculos com o judaísmo mediante a interpretação tipológica e o uso de profecias que se realizariam no NT (Testimonia). Há importantes informações sobre a liturgia cristã (cf. 1 Apol. LXI, LXV- LXVII). Mantém a especificidade cristã é preservada (noções de encarnação e ressurreição). Tanto o judaísmo como o helenismo têm lugar no plano divino, mas a fé cristã goza de um ponto de vista privilegiado para julgá-los. Nascido no Oriente, converte- se em Roma, mas após a morte de Justino, funda sua própria escola. De volta à Síria, diz-se que fundou uma seita herética. Discurso aos gregos religião bárbara é superior à grega. Moisés foi plagiado! Diatessaron harmonia dos Evangelhos O centro da doutrina cristã é Deus e o Verbo. Poucas informações biográficas foram preservadas. Sabe-se que era de Atenas e filósofo. Escreveu Petição a favor dos cristãos (c. 177) & Sobre a Ressurreição dos Mortos Refuta as acusações de ateísmo, incesto e canibalismo. Reafirmação da fé monoteísta e trinitária (10-11) Procura provar a possibilidade da ressurreição do corpo. Relação entre fé e cultura – posição semelhante à de Justino. Bispo de Antioquia (c. 180) Escreve Três Livros a Autólico, nos quais trata respectivamente (1) de Deus, (2) da interpretação do AT; (3) da excelência moral da fé cristã. “Mostra-me o teu homem e eu te mostrarei o meu Deus” É o primeiro autor a empregar a palavra “Trindade” para se referir a Deus Distingue entre o Logos imanente e o Logos expressado. Nada se sabe sobre ele, exceto que escreveu o Escárnio dos Filósofos Pagãos. “É uma obra carente tanto de elegância literária como de interesse teológico, na qual se manifesta um desprezo total pela filosofia pagã” (GONZÁLEZ). Para FRANGIOTTI, sua crítica é superficial: “Sua obra é [...] interessante, mas sem grande valor, quanto ao fundo da questão”. Fascinado pela fé em Cristo, o autor menospreza o valor da reflexão filosófica. Carta a Diogneto: a alma do mundo Autor desconhecido Diogneto é, possivelmente, parente do imperador Marco Aurélio Contém 14 capítulos (os 2 últimos são considerados inautênticos). É uma das mais belas apologias. Sem vulgaridade ou rudeza, revela a insensatez dos deuses pagãos e das práticas judaicas e expõe o caráter da fé cristã que, provindo de Deus, e não do ser humano, se manifesta na ética elevada dos seus seguidores. A “poesia” do capítulo 5, que descreve a dimensão paradoxal da vida cristã, é esplendida! Não se distinguem os cristãos dos demais, nem pela região, nem pela língua, nem pelos costumes. Não habitam cidades à parte, não empregam idioma diverso dos outros, não levam gênero de vida extraordinário... Moram alguns em cidades gregas, outros em bárbaras, conforme a sorte de cada um; seguem os costumes locais relativamente ao vestuário, à alimentação e ao restante estilo de viver, apresentando um estado de vida político admirável e sem dúvida paradoxal. Moram na própria pátria, mas como peregrinos. Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém tudo suportam como estrangeiros. Toda terra estranha é pátria para eles e toda pátria, terra estranha... Estão de carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidadania está no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam asleis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância. São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória; são caluniados, mas transparece o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras. Praticam o bem e são castigados como malfeitores; ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida. Os judeus fazem-lhes guerra como a estrangeiros e os pagãos os perseguem; mas nenhum daqueles que os odeiam sabe dizer a causa do seu ódio. Para simplificar, o que a alma é no corpo são no mundo os cristãos...Deus os colocou em tão elevado posto, que não lhes é lícito recusar (capítulos 5 e 6: trechos selecionados). Quadrato seria a mais antiga no gênero (HE, IV, 3) Aristão de Pela (contra os judeus) [HE, IV, 6) Milcíades (HE, V, 17) Apolinário de Hierápolis (HE, IV, 27) Melitão de Sardes (bispo) de sua autoria, preservou-se um sermão sobre a paixão Orígenes Contra Celso (século 3) APOLOGIAS EM LATIM: Octávio, de Minúcio Felix Apologético ou Defesa dos cristãos contra os gentios, de Tertuliano Os apologistas não conseguiram mudar a opinião pública, porém reforçaram a convicção dos cristãos acerca da nobreza da sua causa. Seu empenho em dialogar com a cultura grega e apresentar a fé para os “pagãos”, fazendo uso de conceitos filosóficos, favoreceu o desenvolvimento da teologia, embora discordassem quanto à posição a ser adotada frente à cultura clássica. Um desdobramento significativo com importantes consequências para o futuro foi a doutrina do Logos. CELSO. Contra os Cristãos. Lisboa: Editorial Estampa, 1971. GONZÁLEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, vol. I. Justino de Roma. São Paulo: Paulus, 1995, Col. Patrística 3. Padres Apologetas Griegos: edición bilingüe completa. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1979 . Padres Apologistas. São Paulo: Paulus, 1995, Col. Patrística 2. Os Apologistas: �a complexa, mas inevitável, relação entre fé e cultura Objetivos: A obra dos Apologistas Como responder a críticas como essas? Apologistas do 2º Século Aristides de Atenas: um novo povo Aristides de Atenas Justino Mártir: a verdade é cristã Justino Mártir: obras Justino Mártir: o Verbo e suas sementes Justino Mártir: o Verbo e suas sementes Fé e cultura Taciano, o Sírio: a religião bárbara é superior Atenágoras de Atenas: a favor dos cristãos Teófilo: só uma alma pura vê a Deus Hérmias: a nulidade da filosofia Carta a Diogneto: a alma do mundo Carta a Diogneto: vida dos cristãos Carta a Diogneto: vida dos cristãos Apologias perdidas Outras Apologias Balanço geral Bibliografia Básica
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