Buscar

Biomed - Bioética e Pesquisa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DEONTOLOGIA 
E ÉTICA 
PROFISSIONAL
Débora Czarnabay
 
Bioética e pesquisa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir os conceitos da Bioética.
  Aplicar a Bioética no desenvolvimento da pesquisa científica.
  Reconhecer a atuação do biomédico na pesquisa.
Introdução
A Bioética surgiu no século XX como uma proposta de integração entre 
o ser humano e a natureza. Devido ao aumento da complexidade das 
intervenções científicas, principalmente na área da saúde, houve a ne-
cessidade de uma reflexão sobre tais questões. A Bioética é o estudo, sob 
uma ótica reflexiva, de questões éticas na assistência à saúde, na ciência 
da saúde, na política de saúde e na pesquisa científica.
Neste texto, você vai conhecer a história da Bioética, quais são seus 
conceitos fundamentais e qual a sua relação com os aspectos práticos 
da profissão de biomédico na pesquisa científica.
Breve história da Bioética
O surgimento da ética na história da humanidade ocorreu como uma estratégia 
de organização do pensamento sobre a adequação do viver humano, já que 
os seres humanos são dotados de competência para questionar sua própria 
existência. A ética refl ete sobre intuições morais por meio da busca por fun-
damentos que servem de base para as escolhas morais dos indivíduos. Essas 
refl exões possibilitaram ao homem a avaliação dos motivos da sua presença 
no mundo, do universo, da relação entre as pessoas, das suas preocupações 
e dos seus objetivos. 
Esses questionamentos estavam presentes desde o período da Filosofi a Clássica 
(séculos V e IV a.C.), no entanto, com o avanço da ciência e da tecnologia, 
novos desafi os foram introduzidos. Indagações sobre o que é estar vivo — sobre 
a vida em si — foram adicionadas nas discussões sobre o bem-viver. O ser 
humano passou a identifi car que é parte da natureza, interagindo ativamente 
com o seu meio e tendo a possibilidade (ou o poder) de alterá-lo. O início e 
o fi m da vida passaram a ser repensados, bem como a produção e o congela-
mento de embriões, dando um novo signifi cado para os conceitos e critérios de 
vida e morte. Além disso, o reconhecimento dos limites da pesquisa e de sua 
compatibilidade ético-metodológica também foi um fator determinante para 
a proposição da ampliação da discussão ética, que acabou sendo denominada 
de bioética (GOLDIM, 2006). 
Ao procurarmos o verbete bioética no dicionário, iremos encontrar várias 
defi nições, como, por exemplo:
Estudo sistemático da conduta humana na esfera das ciências da vida e da 
saúde, considerando-se tal conduta à luz de valores e princípios morais, ainda 
que os temas bioéticos sejam, por definição, irredutíveis a um consenso mo-
ral, como o demonstram, por exemplo, as questões do aborto e da eutanásia” 
(BIOÉTICA, 2018, documento on-line).
Ou ainda “[...] o estudo do que é certo ou errado em novas descobertas e 
técnicas em biologia, como a engenharia genética e o transplante de órgãos” 
(em inglês: the study of what is right and wrong in new discoveries and te-
chniques in biology, such as genetic engineering and the transplantation of 
organs) (BIOETHICS, 2018, documento on-line). 
De certa maneira, o termo bioética é novo e seu conceito já foi modifi-
cado diversas vezes desde o momento de sua primeira aparição. Em 1927, o 
pastor luterano Fritz Jahr utilizou pela primeira vez a palavra bioética (bio 
+ ethik) em um artigo publicado no periódico alemão Kosmos. Para o autor, 
a Bioética era caracterizada como sendo o reconhecimento de obrigações 
éticas, não apenas para com os seres humanos, mas também para com todos 
os seres vivos (animais e plantas). O texto foi encontrado em Berlim, por Rolf 
Löther, da Universidade de Humboldt, e divulgado por Eve Marie Engel, da 
Universidade de Tübingen, da Alemanha, antecipando o surgimento do termo 
bioética em 47 anos. Para finalizar seu artigo, Fritz Jahr propôs um imperativo 
bioético, ou seja, um axioma ou princípio bioético: respeita-se todo ser vivo, 
essencialmente, como um fim em si mesmo e trata-o, se possível, como tal. 
Em 1964, a Associação Médica Mundial propôs a Declaração de Helsinque 
(última atualização realizada em 2013 e complementada com a publicação da 
 Bioética e pesquisa 2
Declaração de Taipei, em 2016) com o intuito de provocar uma reflexão sobre 
os aspectos éticos envolvidos na pesquisa com seres humanos. Tal Declaração 
reforçou o conteúdo do Código de Nuremberg, de 1947, e deu início à discussão 
mundial sobre o uso de seres humanos nas pesquisas. 
No ano de 1969, o filósofo Daniel Callahan e o psiquiatra Willard Gayling 
fundaram o primeiro centro de pesquisa sobre aspectos éticos e sociais rela-
cionados com as ciências da vida, chamado de Institute of Society, Ethics and 
the Life Sciences, que mais tarde e com reconhecimento internacional passou 
a ser chamado de Hastings Center. O químico e farmacologista Van Rensse-
laer Potter, no início da década de 1970, conjecturou sobre a abrangência das 
relações entre os seres vivos e sobre a necessidade de ampliar essa reflexão 
ao longo do tempo, o que o fez se questionar se a chance de sobrevivência da 
própria humanidade estaria relacionada com uma reflexão ética interdisciplinar, 
denominada por ele de bioética, a qual serviria de ponte para o futuro. Logo, 
para Potter, a Bioética seria uma ponte que estabelecia uma interface entre 
as ciências e as humanidades, garantindo assim a possibilidade do futuro. 
Juntamente com Potter, a Bioética teve outra origem paralela, quando o 
médico ginecologista André Hellegers utilizou o termo ao denominar os novos 
estudos propostos na área de reprodução humana. Hellegers propôs uma redis-
cussão do foco da ética médica, que tradicionalmente se baseava na atuação do 
médico e, segundo ele, deveria incluir a reflexão sobre outros temas da área 
da saúde e sobre aspectos sociais. O responsável pela Fundação Kennedy (R. 
Sargent Shriver) — financiadora das pesquisas de Hellegers — sugeriu que a 
denominação bioética fosse incorporada ao nome da nova instituição Joseph 
and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics 
(Instituto Joseph e Rose Kennedy para o Estudo da Reprodução Humana e 
Bioética), por sumarizar a junção de temas biológicos e éticos. Anos mais tarde, o 
nome foi alterado para Kennedy Institute of Ethics (Instituto Kennedy de Ética), 
transmitindo sua posição de compreender a Bioética como uma ética aplicada.
A publicação do Belmont Report (Relatório Belmont), em 1978, estabeleceu 
o alicerce da utilização de princípios na reflexão bioética. Esse documento 
consolidou a proposta teórica do Instituto Kennedy de Ética ao utilizar a 
beneficência e o respeito para com as pessoas e a justiça como parâmetros das 
diretrizes para as pesquisas em seres humanos. Os filósofos Tom L. Beauchamp 
e James F. Childress publicaram a obra clássica Princípios de ética biomédica, 
em 1979, lançando a estrutura básica para a Corrente Principialista de Bioética. 
Outros autores que publicaram nessa época também foram importantes para 
dar início às primeiras discussões e reflexões bioéticas na sociedade, abrindo 
as portas para a temática. 
3Bioética e pesquisa
Já na década de 1980, Van Potter salientou a característica ampla e interdis-
ciplinar da Bioética, denominando-a de Bioética Global. Essa Bioética Global 
reestabelecia o foco original da Bioética, ampliando as discussões e reflexões 
sobre questões de medicina e saúde frente aos novos desafios ambientais. O 
pensamento de Potter teve como inspiração a obra de Aldo Leopold, que criou 
a ética da terra (land ethics), na década de 1930, ampliando a discussão feita 
por Jahr ao incluir o solo e outros recursos naturais na reflexão ética. Anos 
mais tarde, Potter redefiniu o termo bioética como Bioética profunda (Deep 
Bioethics) devido à influência da ecologia profunda de Ame Ness. Com uma 
combinação de humildade, responsabilidade e uma competência interdisciplinar 
e interculturalque fortifica a percepção de humanidade, a Bioética profunda 
é chamada de nova ciência ética. 
No Brasil, o impacto da Bioética e a necessidade de normatizar as pesqui-
sas envolvendo seres humanos só ganhou força no final da década de 1980, 
a partir da homologação, em julho de 1988, da Resolução 1/88 do Conselho 
Nacional de Saúde (CNS). Tal resolução teve pouco impacto e, somente após 
7 anos, a resolução foi revisada, o que resultou na elaboração e na publicação 
da Resolução CNS nº. 196/96. 
Marcos históricos para a Bioética
19 de agosto de 1947: início dos julgamentos de Nuremberg de médicos nazistas que 
conduziram experimentos médicos hediondos durante a Segunda Guerra Mundial.
25 de abril de 1953: Watson e Crick publicaram um artigo de uma página sobre o DNA.
23 de dezembro de 1954: o primeiro transplante renal foi realizado.
9 de março de 1960: a hemodiálise crônica foi usada pela primeira vez.
3 de dezembro de 1967: o primeiro transplante de coração foi feito pelo Dr. Christiaan 
Barnard.
5 de agosto de 1968: a definição de morte cerebral foi desenvolvida por um Comitê 
Ad Hoc da Harvard Medical School.
26 de julho de 1972: o caso da sífilis não Tratada de Tuskegee veio à tona com 
revelações sobre pesquisas antiéticas realizadas com seres humanos.
22 de janeiro de 1973: o caso Roe versus Wade foi decidido. A Suprema Corte dos 
Estados Unidos reconheceu o direito ao aborto ou à interrupção voluntária da gestação. 
14 de abril de 1975: uma paciente em coma, Karen Ann Quinlan, foi levada ao hospital 
Newton Memorial. Ela se tornou a base de um caso histórico sobre o direito à eutanásia. 
25 de julho de 1978: o bebê Louise Brown nasceu. Ela foi o primeiro bebê de proveta.
 Bioética e pesquisa 4
Conceitos fundamentais da Bioética
Após o surgimento de informações chocantes sobre sérios deslizes éticos, como 
os hediondos experimentos médicos nazistas da Segunda Guerra Mundial, na 
Europa, e a pesquisa antiética de Tuskegee, nos Estados Unidos, sociedades 
em todo o mundo se tornaram particularmente conscientes sobre os dilemas 
éticos na condução de pesquisas biomédicas e comportamentais. 
Nos Estados Unidos, a Lei de Pesquisa Nacional entrou em vigor em 
1974, e uma comissão foi criada para delinear os princípios que deveriam 
ser usados durante pesquisas que envolvessem seres humanos (NATIONAL 
INSTITUTES OF HEALTH, 1979). Em 1976, para cumprir sua missão, a 
comissão realizou uma reunião intensiva de quatro dias no Centro de Confe-
rências de Belmont, no Instituto Smithsonian. Posteriormente, as discussões 
continuaram até 1978, quando a comissão divulgou seu relatório, o qual foi 
chamado de Relatório Belmont. 
O relatório delineou três princípios básicos para todas as pesquisas com 
seres humanos: respeito às pessoas, beneficência e justiça (NATIONAL 
INSTITUTES OF HEALTH, 1979). O princípio da beneficência, conforme 
estabelecido no Relatório Belmont, é a regra para fazer o bem. No entanto, a 
descrição da beneficência também incluía a regra agora comumente conhecida 
como princípio da não maleficência, isto é, não causar/provocar danos. O 
relatório continha diretrizes sobre como aplicar os princípios da pesquisa por 
meio do consentimento informado, a avaliação de riscos e benefícios para os 
participantes da pesquisa e a seleção dos participantes desta.
Em 1979, como resultado do Relatório Belmont, Beauchamp e Childress 
publicaram a primeira edição de seu livro Principles of Biomedical Ethics 
(Princípios da ética biomédica), já comentado anteriormente, o qual apresen-
tava quatro princípios bioéticos: autonomia, não maleficência, beneficência 
e justiça. Fazer ética com base no uso de princípios — isto é, principialismo 
ético — não envolve o uso de uma teoria ou um modelo formal de tomada de 
Primavera de 1982: o bebê Doe se tornou a base de um caso histórico que resultou 
em diretrizes legais e éticas sobre o tratamento de recém-nascidos debilitados.
Dezembro de 1982: o primeiro coração artificial foi implantado no corpo de Barney 
Clark, que viveu 112 dias após o implante.
11 de abril de 1983: a revista Newsweek publicou uma reportagem sobre uma doença 
misteriosa, chamada AIDS, que estava em níveis epidêmicos. 
Fonte: Jonsen (2000).
5Bioética e pesquisa
decisão. Em vez disso, os princípios éticos fornecem diretrizes para tomar 
decisões morais justificadas e avaliar a moralidade das ações. Idealmente, ao 
usar a abordagem do principialismo, nenhum princípio deve ser automatica-
mente considerado superior aos outros (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2013). 
Cada princípio é considerado como sendo prima facie.
Algumas pessoas criticaram o uso do principialismo ético porque acreditam 
ser uma abordagem de cima para baixo, ou seja, que não há subsídios para o 
contexto de casos e histórias individuais. Os críticos afirmam que simples-
mente aplicar princípios, ao fazer determinações éticas, resulta em um modo 
linear de se fazer ética, ou seja, as sutis nuances presentes em situações que 
se baseiam em relacionamentos não são consideradas adequadamente. No 
entanto, a abordagem do principialismo ético, que usa os quatro princípios 
delineados por Beauchamp e Childress (2013), tornou-se uma das ferramentas 
mais populares usadas atualmente para analisar e resolver problemas bioéticos.
A autonomia é a liberdade e a capacidade de agir de maneira autode-
terminada. Representa o direito de uma pessoa racional expressar decisões 
pessoais, independentemente de interferências externas, e ter essas decisões 
honradas. Pode-se argumentar que a autonomia ocupa um lugar central na 
ética da saúde ocidental devido à popularidade da Filosofia da era iluminista 
de Immanuel Kant. Entretanto, vale ressaltar que a autonomia não é enfatizada 
em uma ética de cuidado e ética de virtude, e estas também são abordagens 
populares para a ética atual. 
O princípio da autonomia é, por vezes, descrito como o respeito pela autono-
mia (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2013). No domínio dos cuidados de saúde, 
respeitar a autonomia do paciente inclui obter o consentimento informado 
para o tratamento, facilitar e apoiar as escolhas dos pacientes em relação às 
opções de tratamento, permitir que os pacientes recusem tratamentos, divulgar 
informações abrangentes e verdadeiras, diagnósticos e opções de tratamento 
aos pacientes e manter a privacidade e a confidencialidade. Respeitar a auto-
nomia também é importante em situações menos óbvias, como permitir que 
os pacientes que estiverem recebendo cuidados domiciliares escolham o banho 
de banheira em vez do de chuveiro, quando for seguro fazê-lo, e permitir que 
um idoso residente de cuidados prolongados escolha seus alimentos favoritos 
quando forem medicamente prescritos. 
As restrições à autonomia de um indivíduo podem ocorrer nos casos em que 
uma pessoa apresenta uma potencial ameaça para prejudicar outras pessoas, 
como expor outras a doenças transmissíveis ou cometer atos de violência. 
Em geral, as pessoas perdem o direito de exercer autonomia ou o direito à 
autodeterminação em tais instâncias. 
 Bioética e pesquisa 6
Não maleficência é o princípio usado para comunicar a obrigação de não 
causar dano. Enfatizar a importância desse princípio é tão antigo quanto a 
prática médica organizada. Profissionais de saúde têm sido historicamente 
encorajados a fazer o bem (beneficência), mas, se por algum motivo, eles 
não podem fazer o bem, eles são obrigados a, pelo menos, não fazer o mal. 
Devido à equivalência complementar entre esses dois princípios (beneficência 
e não maleficência), algumas pessoas os consideram essencialmente a mesma 
coisa. No entanto, muitos eticistas, incluindo Beauchamp e Childress (2013), 
fazem uma distinção. 
A não maleficência é a máxima ou a norma de que “[...] não se deve infli-
gir mal ou dano” (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2013, p. 152), enquanto a 
beneficência inclui as três normas seguintes: “deve-se prevenir o mal ou dano, 
deve-se remover o mal ou dano, [e] alguém deve fazer ou promover o bem”. 
Como evidenciadopor essas máximas, a beneficência envolve a ação para 
ajudar alguém e a não maleficência requer “evitar intencionalmente as ações 
que causam danos”. Além de não violar a máxima de não prejudicar inten-
cionalmente outra pessoa, algumas questões são levantadas por Beauchamp 
e Childress (2013), como a ideia de negligência, que é a ausência do devido 
cuidado e, consequentemente, imposição de risco ao dano.
A não maleficência tem um amplo escopo de implicações nos cuidados de 
saúde, incluindo a necessidade de evitar cuidados negligentes, a necessidade 
de evitar danos ao decidir se deve fornecer tratamento ou retirá-lo e as con-
siderações sobre como prestar tratamento extraordinário. 
 O princípio da beneficência consiste em realizar atos de “[...] misericórdia, 
bondade, amizade, caridade e afins” (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2013, 
p. 202). Beneficência significa que as pessoas realizam ações para beneficiar 
e promover o bem-estar de outras pessoas. Exemplos de regras morais e 
obrigações subjacentes ao princípio da beneficência incluem prevenir o dano 
às outras pessoas, proteger e defender os direitos de outros indivíduos, etc. 
Enquanto as pessoas são obrigadas a agir de maneira não maleável em 
relação a todas as pessoas — isto é, não prejudicar ninguém —, há limites 
para a beneficência ou para os benefícios que devem ser concedidos às outras 
pessoas. Em geral, age-se com mais beneficência em relação às pessoas que são 
conhecidas ou amadas em comparação com as desconhecidas, embora isso nem 
sempre seja o caso. Devido aos padrões profissionais e a contratos sociais, os 
biomédicos, bem como outros profissionais da saúde, têm a responsabilidade 
de ser beneficentes em seu trabalho, tal como consta no Código de Ética do 
profissional biomédico. Fazer o bem e facilitar o bem-estar de pacientes e 
clientes é parte integrante de ser um biomédico que age moral e eticamente.
7Bioética e pesquisa
A justiça, como princípio na ética da saúde, refere-se à equidade, ou seja, 
tratar as pessoas com igualdade e sem preconceitos, bem como fazer a distri-
buição equitativa de benefícios e encargos, incluindo a garantia de justiça na 
pesquisa biomédica. Na maioria das vezes, decisões difíceis sobre alocação 
de recursos de saúde se baseiam em tentativas de responder perguntas sobre 
quem tem direito aos cuidados de saúde, a que nível de saúde uma pessoa 
tem direito e quem pagará os custos de saúde. Lembre-se, no entanto, que 
a justiça é uma das virtudes cardeais de Platão. Isso significa que a justiça 
é um conceito amplo no campo da ética e esta é considerada um princípio e 
uma virtude. 
Elementos de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para pesquisa 
em seres humanos:
I. Elementos limiares (pré-condições):
 ■ competência (para entender e decidir);
 ■ voluntariedade (na decisão).
II. Elementos de informação:
 ■ divulgação (da informação do material);
 ■ recomendação (de um plano);
 ■ compreensão (dos números 3 e 4).
III. Elementos de consentimento:
 ■ decisão (em favor do plano);
 ■ autorização (do plano escolhido).
Fonte: Beauchamp e Childress (2013, p. 124).
A Biomedicina e a pesquisa científica
O campo da Biomedicina está repleto de oportunidades para os profi ssionais 
formados. Um biomédico pode atuar em laboratórios, hospitais, centros clíni-
cos, clínicas particulares, indústrias, universidades e centros de pesquisa. Em 
meio a tantas opções, você se questiona sobre o quê, exatamente, você pode 
pesquisar. O profi ssional biomédico pode pesquisar a efi ciência de uma nova 
vacina, as consequências do uso crônico de algum medicamento, as novas 
terapias para o câncer (de pulmão, pele, rins, cérebro, estômago, mama, etc.), 
 Bioética e pesquisa 8
uma nova composição para cremes anti-idade, as novas formas de liberação de 
fármacos no organismo, os efeitos do exercício físico em pacientes diabéticos, 
a análise da qualidade da água, as bactérias multirresistentes, a avaliação de 
risco de biossegurança em ambientes da saúde, etc. 
A pesquisa científi ca é um dos carros chefe da carreira biomédica, tendo em 
vista o grande crescimento de posições de trabalho em diferentes regiões do 
mundo. Para tanto, o biomédico que escolher seguir a carreira na pesquisa 
deve optar por dois principais caminhos: carreira acadêmica ou pesquisa em 
setores das grandes indústrias. Os principais objetivos da carreira acadêmica 
são formar pesquisadores e professores universitários. 
Você terminou a graduação e decidiu seguir a carreira acadêmica. O 
que deve fazer? Após finalizar a graduação, você deve ingressar em um 
curso de pós-graduação stricto sensu em uma instituição de ensino superior 
reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação) e que tenha cursos de 
mestrado e doutorado. Ao iniciar o curso de mestrado ou doutorado, o aluno 
propõe uma questão relevante para o conhecimento e o avanço científico na 
sua área de estudo, ou seja, propõe uma pergunta que deve ser respondida 
ao longo do curso. No transcorrer desse curso, o aluno deve provar, ou não, 
sua hipótese. Para isso, desenvolve uma pesquisa apoiada na metodologia 
científica e orientada por um professor/pesquisador da universidade em que 
esteja vinculado. 
O curso de mestrado acadêmico é finalizado após a redação e a entrega de 
uma dissertação que contenha a hipótese e os resultados da pesquisa realizada. 
A dissertação será avaliada por uma banca julgadora, a qual delibera o conceito 
de aprovação para a obtenção do título de Mestre. O doutorado acadêmico 
funciona da mesma forma, porém, o aluno deve realizar redação e entregar 
uma tese e, depois desta ser julgada e aprovada, o aluno obtém então o título 
de Doutor (em inglês o título é chamado de Doctor of Philosophy, termo que 
é abreviado como PhD). Os títulos de Mestre e Doutor são específicos para a 
área em que o aluno desenvolveu a pesquisa científica, sendo assim, se você 
está cursando o mestrado em Anatomia Humana, irá obter o título de Mestre 
apenas em Anatomia Humana. 
No universo acadêmico, a pesquisa científica pode ser realizada por 
técnicos, alunos de graduação, mestrado ou doutorado e pelos professores 
vinculados a um centro de pesquisa ou a uma universidade, seja ela pública 
ou privada. Em relação ao biomédico que realiza pesquisas trabalhando em 
indústrias, as mais comuns são as indústrias farmacêuticas e as de cosméti-
cos. Essas duas áreas, em particular, compreendem uma grande parcela do 
9Bioética e pesquisa
mercado de trabalho da pesquisa científica de ponta, na qual há um volumoso 
investimento financeiro. 
Algumas empresas exigem do profissional uma especialização na área 
de atuação, chamada de pós-graduação latu sensu, porém, na pesquisa cien-
tífica, é mais comum a exigência de pós-graduação stricto sensu (mestrado 
e doutorado). A carreira acadêmica e a pesquisa científica requerem muita 
dedicação e estudo, geralmente tendo um perfil de profissionais de alto padrão 
que ingressam nesse caminho. O biomédico já vem de uma formação rigorosa 
durante a graduação, contendo uma grade curricular densa e uma intensa ex-
periência em bancada. Dessa forma, investir na carreira da pesquisa científica 
acaba não sendo tarefa tão árdua para esses profissionais. 
A Bioética e a pesquisa estão diretamente relacionadas. Por esse motivo, 
o profissional que atuar na área deve estar ciente dos principais conceitos 
bioéticos. O biomédico deve ter total conhecimento sobre o sujeito de sua 
pesquisa, ou seja, ela será realizada em seres humanos, animais ou amostras 
ambientais (solo, plantas, água, ar). A ética em pesquisa com seres humanos 
é um campo amplo do conhecimento na interface de diferentes saberes, apro-
ximando ética e ciência e permitindo que “velhos equívocos na pesquisa não 
se repitam”. Além de todo o repertório de investigações que, comumente, 
envolvem seres humanos — estudos epidemiológicos, ensaios clínicos, relatos 
de caso, entre outros —, temos o desenvolvimento da Biotecnologia e de áreas 
como a Engenharia Genética,as técnicas de clonagem, a reprodução humana 
assistida e a utilização de células-tronco, a nanotecnologia e neurociências, 
as quais interferem diretamente sobre os sistemas vivos e são componentes 
reforçadores da importância de uma visão crítica bioética sobre as práticas 
científicas. 
No Brasil, O Conselho Nacional de Saúde (CNS — órgão governamental 
responsável por deliberar, fiscalizar, acompanhar e monitorar políticas públi-
cas de saúde) instituiu a Resolução CNS nº. 196/96, que serviu como marco 
transformador na ética em pesquisa, implicando seres humanos. Tal pesquisa 
foi definida como qualquer pesquisa que envolve, direta ou indiretamente, 
indivíduos ou grupos de indivíduos, podendo ser em sua totalidade ou em 
partes, incluindo o manejo de informações e materiais. A resolução retomou 
diretrizes, documentos e recomendações internacionais publicadas até a data 
da sua criação, estipulando a proteção dos sujeitos participantes de pesquisas 
(BRASIL, 1996). 
Essa resolução foi substituída pela Resolução CNS n°. 466, de 12 de de-
zembro de 2012, a qual também propõe a garantia de sigilo, privacidade e 
confidencialidade de todos os dados obtidos ao longo da pesquisa, salientando 
 Bioética e pesquisa 10
o princípio da dignidade humana e do respeito à autonomia da pessoa, ofi-
cializados pela assinatura do TCLE — documento necessário para qualquer 
pesquisa envolvendo seres humanos, tendo por objetivo o esclarecimento e o 
consentimento por parte do indivíduo participante (BRASIL, 2012). 
A despeito do irrefutável progresso obtido a partir da publicação dos do-
cumentos nacionais e internacionais que regulamentam a ética em pesquisa, 
há ainda aspectos importantes que precisam ser discutidos a seguir, como, por 
exemplo, as pesquisas realizadas com animais, devido ao seu grande impacto 
na pesquisa biomédica.
Para saber mais sobre a Declaração de Helsinki, acesse o link a seguir.
https://goo.gl/nRW5uk
Durante muito tempo, o bem-estar animal era restringido à redução do 
estresse, enquanto o sofrimento era negligenciado. A utilização de modelos 
animais não humanos (ANH) em laboratórios e centros de pesquisa tem sido 
considerada um aspecto decisivo para o desenvolvimento da ciência. Entre-
tanto, seu emprego tem despertado debates de diferentes naturezas. Após a 
década de 1990, a comunidade científica iniciou uma abordagem diferente 
em relação às pesquisas com animais. A ética envolvendo a experimentação 
animal (animal ethics) aborda a crítica ao antropocentrismo e a proposição 
dos limites para a utilização de animais em pesquisas. Algumas correntes 
de estudiosos e pesquisadores consideram as pesquisas com animais como 
práticas injustificáveis, principalmente aquelas que provocam sofrimento 
(FRANCO et al., 2014). 
No Brasil, a Lei nº. 11.794, aprovada em outubro de 2008, regulamenta que 
as pesquisas com animais não são proibidas no território brasileiro, desde que 
as condições éticas e legais sejam respeitadas para sua realização. Além disso, 
a referida lei permitiu a criação da Comissão de Ética para Uso de Animais 
(CEUA) nas instituições de pesquisa e do Conselho Nacional de Controle de 
Experimentação Animal (CONCEA) (BRASIL, 2008). O uso de animais em 
experimentos científicos e em atividades didáticas requer, dos profissionais 
11Bioética e pesquisa
https://goo.gl/nRW5uk
envolvidos, a consciência de que esses animais são seres que apresentam 
sensibilidade à dor — e que têm instinto de sobrevivência. Sendo assim, os 
animais devem ser manejados com respeito e de forma adequada à espécie, 
tendo as suas necessidades de transporte, alojamento, condições ambientais, 
nutrição e cuidados veterinários preservadas.
Temas para discussão na Bioética:
  uso de células-tronco embrionárias na pesquisa científica;
  eutanásia;
  aborto;
  uso de embriões para pesquisa científica;
  reprodução assistida e técnicas de seleção de embriões;
  clonagem humana;
  limite da edição genética;
  autonomia de pacientes terminais; 
  autonomia da criança e do adolescente. 
BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Princípios da ética biomédica. 7. ed. Nova Iorque: 
Oxford University Press, 2013.
BIOETHICS. In: CAMBRIDGE: Cambridge Advanced Learner’s Dictionary and Thesau-
rus. 2018. Disponível em: <https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/
bioethics>. Acesso em: 25 abr. 2018.
BIOÉTICA. In: MICHAELIS: Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa. 2018. Disponível 
em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=bio%C3%A9tica>. 
Acesso em: 25 abr. 2018. 
BRASIL. Lei n° 11.794, de 8 outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1o do art. 
225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de 
animais; revoga a Lei no 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Brasília, 
DF, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/
lei/l11794.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018.
 Bioética e pesquisa 12
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/
http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=bio%C3%A9tica
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196, 1996. 
Brasília, DF, 1996. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm>. 
Acesso em: 25 abr. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de 
dezembro de 2012. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html>. Acesso em: 25 abr. 2018.
FRANCO, A. L. et al. Pesquisas em animais: uma reflexão bioética. Acta Bioethica, v. 
20, n. 2, p. 247-253, 2014. 
GOLDIM, J. R. Bioética: origens e complexidade. Seção de Bioética. Revista do HCPA, 
v. 26, n. 2, p. 86-92, 2006. 
JONSEN, A. R. A short history of medical ethics. New York: Oxford University Press, 2000.
NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH (NIH). The Belmont report, 1979. Disponível em: 
<http://www.hhs.gov/ohrp/humansubjects/guidance/belmont.html>. Acesso em: 
25 abr. 2018. 
Leitura recomendada
GOLDIM, J. R. Bioética complexa: uma abordagem abrangente para o processo de 
tomada de decisão. Revista AMRIGS, v. 53, n. 1, p. 58-63, 2009. 
13Bioética e pesquisa
https://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
http://www.hhs.gov/ohrp/humansubjects/guidance/belmont.html
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Mais conteúdos dessa disciplina