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APOSTILA HISTÓRIA DA INFÂNCIA E MULTICULTURALISMO (UNIFATECIE)

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Prévia do material em texto

História da Infância e 
Multiculturalismo
Professora Mestra Maria Helena Azevedo
Professora Mestra Laís Azevedo Fialho
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Dudatt
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.fatecie.edu.br
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
FACULDADE DE TECNOLOGIA E 
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. 
Núcleo de Educação a Distância;
FIALHO, L. A.
AZEVEDO, Maria Helena.
História da Infância e Multiculturalismo.
Maria Helena Azevedo Ferreira
Laís Azevedo Fialho.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 102 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORES
Professora Ma. Maria Helena Azevedo Ferreira
● Mestra em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
● Licenciada em História pela Universidade Estadual de Maringá.
Desenvolveu pesquisa em História das Ideias e Crenças. Já atuou na área da 
educação como professora orientadora em cursos lato-sensu da Unicesumar. Possui expe-
riência em faculdades públicas e privadas no âmbito da educação a distância.
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
● Mestra em História, Cultura e Narrativas (PPH-Universidade Estadual de
● Maringá).
● Especialista em História da África e Cultura Afro-brasileira (DCS-
Universidade
● Estadual de Maringá).
● Licenciada em História (DHI-Universidade Estadual de Maringá).
● Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV).
● Professora Conteudista na UniFatecie.
● Experiência como professora de História da Rede básica de Educação
● em 2016.
● Atuou como Pesquisadora Bolsista Capes em 2018 e 2019.
● Coordenou e organizou diversos Projetos de Extensão abordando as
● Religiões e Religiosidades Afro-brasileiras, na Universidade Estadual de
● Maringá, entre 2015 e 2019.
● É integrante do Laboratório de Religiões e Religiosidades da
● Universidade Estadual de Maringá (LERR/UEM).
● É integrante do Coletivo Yalodê-badá.
Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase
nas Práticas Afro-brasileira; História Cultural, Epistemologias decoloniais.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8724898233397030
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Caros (as) alunos (as), esta é uma oportunidade para que você descubra um pouco 
mais sobre as vicissitudes do ser criança. Tudo o que conhecemos hoje nossa hábitos, 
nossa forma de nos relacionarmos, como olhamos para as crianças, enfim, tudo é histórico! 
Relacionar temas como infância, educação e multiculturalismo, nos permite um olhar mais 
abrangente de um tema que foi por muito tempo esquecido.
Para começar, iniciamos nossa discussão com a seguinte questão: como foi cons-
truída a imagem de infância que temos hoje? Nem sempre prevaleceu a ideia de que as 
crianças precisavam ser amadas e cuidadas, eram tratadas como um ser substituível em 
períodos de alta mortalidade infantil. Alinhado à isso, discutiremos o próprio conceito de 
infância, o que caracteriza esta fase tão especial da vida humana? Tudo isso, sem perder 
o foco da inserção das crianças na família e na sociedade. 
A unidade II será dedicada exclusivamente em pensar as políticas públicas para as 
crianças e adolescentes. Diante de um cenário de diversos abusos e violências contra o 
infante, qual o papel do Estado? Veremos que o Estado e sociedade civil se comportaram 
de diferentes formas no decorrer do tempo para sanar a problemática da criança carente. 
Após isso, já em nossa terceira unidade estudaremos algumas das normativas le-
gais na educação infantil, compreendendo as principais legislações para esta estruturação. 
Abarcaremos o papel do educador enquanto um dos responsáveis para a formação plural 
da criança, bem como salientaremos o importante papel da escola, principalmente diante 
de questões que ameacem o bem-estar do infante. 
Por fim, na unidade IV você verá alguns saberes e fazeres da educação multicul-
tural, de forma que o docente possa lançar de metodologias e teorias que o possibilitem 
trabalhar com pluralidade, tendo em vista a complexa realidade brasileira. Esperamos que 
você possa aproveitar as discussões aqui iniciadas!
Bons Estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 6
Conceito de Infância, Família e Suas Historicidades
UNIDADE II ................................................................................................... 36
Atendimento às Crianças: Papel do Estado e as Políticas Sociais
UNIDADE III .................................................................................................. 55
Organização do Espaço Infantil
UNIDADE IV .................................................................................................. 73
O Multiculturalismo
6
Plano de Estudo:
● Introdução e conceitos 
● O conceito de infância
● História da infância
● Infância, família e categoria social: discutindo o conceito
Objetivos da Aprendizagem:
● Introduzir noções básicas acerca da infância e abordagem histórica
● Discutir o conceito de infância e suas implicações
● Apresentar a história da infância
● Refletir acerca do papel da família e sociedade 
UNIDADE I
Conceito de Infância, Família e Suas 
Historicidades
Professora Mestra Maria Helena Azevedo
Professora Mestra Laís Azevedo Fialho
7
INTRODUÇÃO
UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
Atualmente é consenso de que as crianças devem ser protegidas, amadas e cui-
dadas, mas você sabia que nem sempre foi assim? O olhar histórico sobre a infância nos 
permite ver como através dos tempos os olhares do adulto sobre o infante se modificou 
radicalmente. Você saberia dizer como a criança passou de um ser substituível e ignorado 
a praticamente o “rei” da casa em nossos tempos modernos? Pois então, a investigação 
histórica nos dá pistas de como este processo pode ter acontecido. 
Para começarmos, vamos nos permear pela abordagem histórica sobre a infância, 
compreendendo que é um campo de estudo relativamente recente aqui no Brasil. Iremos 
entender também que a visão que conservamos sobre infância é construída e que é 
necessário desnaturalizar. Parte desta visão foi elaborada com base no olhar do adulto 
sobre criança, com pouco ou nenhum espaço para que houvesse uma representação mais 
próxima de fato do mundo infantil. 
Em seguida, vamos nos adentrar no conceito de infância articulado com suas 
complexidades. Além da definição legal do que se compreende infância, levantamos ques-
tionamentos sobre as linguagens próprias deste universo. Veremos que entender as com-
preensões que se faz sobre a infância diz respeito a refletir em quais condições contextuais 
esta infância ressurge e quais são as suas conexões com o mundo social. 
No terceiro tópico, o mais denso de todos, apresentamos um breve histórico da 
infância, focando principalmente na realidade brasileira. Entretanto, traçaremos um cenário 
referente a infância na antiguidade, na Idade Média e na Modernidade, para depois falarmos 
da particularidade do ser criança no Brasil no decorrer do tempo e em diferentes classes 
sociais. 
Por fim, nos dedicaremos a pensar o papel da família e sociedade na constituição 
da criança. Mostraremos a multiplicidade de famílias, que fogem da definição de família 
nuclear ou tradicional,mas que além de estarem amparadas pela legislação como tais, 
também exercem influência significativa na construção do sujeito. 
Bons estudos!
8UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
1. INTRODUÇÃO E CONCEITOS
Quando falamos em infância nos dias atuais, evoca-se a noção de direitos, proteção 
e cuidado, principalmente no que se refere ao papel da família e sociedade na educação 
das crianças. É bem verdade que nem sempre foi assim, esta fase da vida humana não 
era tratada de forma especial e mesmo as investigações científicas não tomavam a in-
fância como objeto de estudo. Esse movimento de transformação no olhar para a criança 
obedece, sobretudo, ao desenvolvimento histórico que permitiu que hoje várias instâncias 
da sociedade estejam comprometidas com a proteção, educação e investigação acerca da 
infância. 
Falar em história da infância e suas diversas manifestações no seio cultural, exige 
que entendamos a operação histórica. Poderíamos fazer uma longa discussão sobre quais 
elementos recaem na construção do conhecimento histórico, no entanto, este não é nosso 
objetivo central. Cabe dizer, em primeiro lugar, o que não é da alçada da história. O senso 
comum insiste em apresentar a História como uma narrativa cronológica de eventos históri-
cos considerados importantes, normalmente encabeçados por grandes personagens. 
Certamente, essa visão acerca da história predominou por muito tempo no horizon-
te da disciplina. Porém, a história não se trata apenas de narrar as informações de grandes 
personagens e eventos. A própria possibilidade do estudo histórico da infância nos revela 
isso. Burke (1992, p. 11) salienta que tudo passou a ser objeto da história: “a infância, a 
morte, a loucura, o clima, os odores, a sujeira e a limpeza, os gestos e o corpo”. A amplia-
9UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
ção do campo de estudos da história acontece por volta de 1970 e reafirma a perspectiva 
não estudar apenas os eventos políticos, diplomáticos ou religiosos, mas também de olhar 
para o cotidiano e para os marginalizados, ou seja, investigar as mentalidades em um olhar 
histórico.
É neste sentido que o historiador francês Philippe Ariès publica, ainda na década 
de 1960, a obra “História social da infância e da família”, que é uma das referências no 
estudo da história da infância. Em um recorte que passa pelo período medieval até a época 
Moderna, Ariès (1978), procurou demonstrar na sua obra como a concepção de infância foi 
construída e ela não existia no período medieval vindo a existir apenas no período moderno. 
Del Priore (2013) chama atenção que antes de publicar uma obra voltada exclusivamente à 
história da infância, Ariès já começava a esboçar suas ideia acerca da abordagem histórica 
da criança em 1948, no capítulo dedicado à história da criança e da família, em seu livro 
“História das populações francesas e de suas atitudes face à vida desde o século XVII”. 
No Brasil, a história da infância ainda tem sido pouco estudada, ainda que haja um 
crescimento nas últimas décadas. Podemos aqui pontuar trabalhos importantes tais como 
de Mary Del Priore, organizadora e escritora da obra “História da criança no Brasil”, com 
a primeira publicação em 1991, bem como o livro “História social da infância no Brasil” de 
1996, organizado por Marcos Cezar de Freitas e que faz parte de uma trilogia de outras 
obras dedicadas a pensar o tema. No caso de Freitas (2016), o interesse surgiu ainda em 
1990 quando o Instituto Franciscano de Antropologia – IFAN buscou estimular o debate em 
torno da questão social da criança, do “ser criança” no Brasil.
Coube a história, como demonstrou Ariès (1978), desnaturalizar a visão que a 
sociedade contemporânea possui sobre a infância. Isso começa pela própria importância 
que damos em registrar uma criança, contabilizar sua idade e imputar um registro de nas-
cimento, representado por números. Não era comum que uma pessoa da Idade Média, ou 
mesmo do início da Idade Moderna lembrasse de sua idade corretamente. Já indicando 
que a nossa facilidade e esforços para deixar claro a idade da criança, seja no seio familiar 
e comunitário, como para questões legais, era radicalmente diferente do que em épocas 
antecessoras.
Além de desnaturalizar a visão de infância que carregamos, abordagem histórica 
ainda cumpre uma função de desnudar a realidade, como nos chama atenção Del Priore 
(2010):
Para começar, a história sobre a criança feita no Brasil, assim como no resto 
do mundo, vem mostrando que existe uma enorme distância entre o mundo 
infantil descrito pelas organizações internacionais, pelas não governamentais 
e pelas autoridades, daquele no qual a criança encontra-se cotidianamente 
imersa. O mundo que a “criança deveria ser” ou “ter” é diferente daquele onde 
ela vive, ou no mais das vezes, sobrevive. (DEL PRIORE, 2010, p. 8).
10UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
A vertente histórica, portanto, versa pelo estudo das práticas infantis, para além das 
designações ideais da infância. Além disso, existem diferenças entre falar de uma história 
da infância europeia e uma história da infância brasileira. Se na tese de Ariès (1978) encon-
tramos a ausência de um sentido da infância que vai se transfigurar na época moderna, no 
Brasil a realidade é outra. Del Priore (2010), sustenta que no Brasil a marcas da escravidão 
e maciça falta de escolarização, colocou a criança seja em um processo de normatização 
dos corpos ou largados à violência e desamparados pelo Estado. 
No entanto, na concepção de Del Priore (2013) entender historicamente a infância 
não consiste apenas em olhar para o passado como abusivo em direção às crianças, como 
sustentou Demause (1989). O autor, se valendo dos métodos da psico-história, compreen-
de que “quanto mais se retrocede ao passado mais baixo é o nível de puericultura e mais 
expostos estão à morte violenta, ao abandono, aos golpes, ao terror e aos abusos sexuais” 
(DEMAUSE, 1989, p. 15). Contextualizando a história da infância em uma perspectiva 
brasileira, Del Priore (2013) leva em consideração os episódios de terríveis sofrimentos das 
crianças, mas relata que não se pode resumir a história da infância a isso. A autora, através 
de sólida documentação, encontra relatos de afeto materno no século XVII, tanto entre as 
mães livres quanto entre as escravizadas. Por isso, Del Priore (2010) tem como objetivo:
[...] resgatar a história da criança brasileira não apenas enfrentando um pas-
sado e um presente cheio de tragédias anônimas – como a venda de crianças 
escravas, a sobrevida nas instituições, as violências sexuais, a exploração de 
sua mão de obra –, mas tentando também perceber para além do lado escu-
ro. A história da criança simplesmente criança, suas formas de existência co-
tidiana, as mutações de seus vínculos sociais e afetivos, sua aprendizagem 
da vida através de uma história que, no mais das vezes, não nos é contada 
diretamente por ela. (DEL PRIORE, 2010, p. 16).
Conceber historicamente a infância perpassa, portanto, em colher testemunhos 
que não são necessariamente os das crianças, mas analisa-se os relatos de viajantes, 
de médicos sanitaristas, de cartas jesuíticas, enfim tudo que possa revelar um pouco do 
cotidiano e sobre as relações sociais. Para isso, a história adota uma perspectiva social, 
que busca entender como a criança foi representada em cada época. Essa situação implica 
na própria construção que fazemos sobre infância:
Podemos compreender a infância como a concepção ou a representação 
que os adultos fazem sobre o período inicial da vida, ou como o próprio pe-
ríodo vivido pela criança, o sujeito real que vive essa fase da vida. A história 
da infância seria então a história da relação da sociedade, da cultura, dos 
adultos, com essa classe de idade e a história da criança seria a história da 
relação das crianças entre si e com os adultos,com a cultura e a sociedade. 
Mas a opção por uma ou outra perspectiva é algo circunscrito ao mundo dos 
adultos, os que escrevem as histórias, os responsáveis pela formulação dos 
problemas e pela definição das fontes a investigar. (FREITAS; KUHLMANN 
JR; 2002, p. 7 apud FREITAS, 2016, p. 9-10).
11UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
O que a citação acima indica é que falar sobre a história das crianças incide em 
buscar as representações que os adultos fazem desta fase, ainda que haja o esforço ge-
nuíno para compreender o mundo infantil. Inclusive, a imputação de adjetivos em torno 
das crianças em uma dada época indica o posicionamento daquela sociedade em torno do 
infante, permitindo traçar imagens acerca das práticas desta: 
Os adjetivos que acompanham a palavra criança são indícios da construção 
da “autoridade” de quem se pronuncia. A criança tem sido acompanhada de 
palavras como “normal” ou “anormal”, “saudável”, “deficiente”, “hiperativa”, 
“agressiva”, “inteligente” etc., e essa adjetivação faz parte, como diria Ray-
mond Williams, do repertório de palavras-chave com o qual também pode-
mos ler a ação dos homens no tempo e no espaço. (FREITAS, 2016, p. 11) 
Assim, as palavras são apenas um dos indicativos que mostram como cada época 
representa a infância, seja por fontes médicas, jurídicas, governamentais, dentre outras, ou 
mesmo de relatos que evidenciem o caráter cotidiano da vida das crianças. É importante 
salientar, como lembra Dourado (2009), que o conceito histórico de infância, deixa de ser 
um dado meramente biológico, de estágio da vida humana, e passa a ser objeto de preocu-
pação de vários âmbitos sociais que projetam sobre o futuro, isto é, busca potencializar-se 
o presente, focando na vivência das crianças, para a perpetuação de determinados valores. 
Com isso, podemos perceber algumas diretrizes que guiam o estudo da criança 
por viés histórico. O primeiro deles é que a visão de criança que temos hoje, como sujeito 
de direitos, com necessidade de uma formação institucionalizada por meio de escola, e 
sujeito digno de proteção, não é algo naturalmente dado, mas é produto de uma construção 
histórica. Em segundo lugar, é possível notar que as vozes das crianças por meio da docu-
mentação histórica muitas vezes é difícil de ser ouvida, por isso, como defende Del Priore 
(2010), são necessários esforços para que estas vozes sejam ouvidas e possamos tirá-las 
do anonimato histórico.
 
12UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
2. O CONCEITO DE INFÂNCIA 
Para compreender o conceito de infância, que é múltiplo e complexo, é necessá-
rio que compreendamos que existem diferenças entre infância e criança. De acordo com 
Heywood (2004), infância designa uma categoria abstrata referente a um estágio da vida, 
enquanto que crianças se refere ao grupo de indivíduos. Por isso, a seguir vamos discutir 
acerca desta primeira etapa da vida humana.
O interesse científico pela infância não ficou apenas no campo da história, mas a 
sociologia, a psicologia, a psicanálise e outros âmbitos do conhecimento procuraram definir 
esta etapa da vida. O que é esta fase tão particular de nosso desenvolvimento e por quê 
hoje ela nos parece tão distante e incompreensível? A compreensão sobre a infância está 
sujeita a modificações de acordo com tempo e espaço em que são enunciadas, porém, a 
palavra infância em sentido etimológico vem do latim infantia, como explicam Ferreira e 
Sarat (2013):
Um exemplo concreto acerca da dimensão de tais representações pode ser 
aferido na etimologia da palavra infância, que vem do verbo fari e que sig-
nifica falar, ter a faculdade e o uso da fala; infans, antis (que não fala, que 
tem pouca idade, infantil, criança). Infantia, portanto, significa dificuldade ou 
incapacidade de falar, mudez. (FERREIRA; SARAT, 2013, p. 237)
A definição desta fase da vida ainda encontra subsídios legais. Diante do processo 
de redemocratização do cenário político brasileiro, nasce a Constituição Federal em 1988, 
em linhas gerais, o documento retrata a criança e o adolescente como sujeitos de direito, 
especialmente nos artigos 227, 228 e 229. Já com o Estatuto da Criança e do Adolescente 
13UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
de 1990, de acordo com Freitas (2016) materializa o conteúdo da Constituição. O ECA 
considera criança todo e qualquer indivíduo até os doze anos de idade. Já nesta definição 
jurídica vemos a intenção em definir a criança como ser que necessita de proteção não 
apenas da família, mas do Estado e da sociedade em geral. Esboça-se, portanto, a infância 
como fase onde se tem pleno direito à vida e saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, 
à convivência familiar e social, à educação, ao esporte, à cultura, ao lazer, à proteção no 
trabalho, dentre outros. A questão da proteção à infância colocada pelo ECA esteve sujeita 
aos movimentos que advogavam pela causa, que estiveram subsidiados, para além da 
observação empírica da realidade, pelo amplo suporte teórico que buscou definir o que é 
infância.
Já vimos que a partir do viés histórico, que a infância pode ser entendida como 
“a concepção ou a representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida, 
ou como o próprio período vivido pela criança, o sujeito real que vive essa fase da vida” 
(KUHLMANN; FERNANDES, 2004, p. 15). Como lembram Ferreira e Sarat (2013, p. 238) 
as representações históricas da infância incorrem o risco de se pautar em uma perspectiva 
“adultocêntrica”, assim “prevalece a visão do adulto como responsável pela criança que não 
sabe se defender e não pensa adequadamente.” Isso não quer dizer que a relação entre 
infância e vida adulta não é legítima, mas sim perpassa em entender as linguagens infantis:
Os seres humanos não só podem, mas também devem aprender com ou-
tras formas preexistentes de linguagens de uma sociedade específica. Eles 
devem aprendê-las não só para se comunicar com os outros, mas também 
para se tornarem indivíduos totalmente funcionais (ELIAS, 2009, p. 27 apud 
FERREIRA; SARAT, 2013, p. 238-239).
Inferimos, portanto, que compreender o mundo infantil diz respeito a conhecer uma 
linguagem que lhe é própria, mas também reside em compreender a infância como cate-
goria social, isto é, reconhecer os aspectos particulares que designam infância e também 
perceber as interações sociais destes indivíduos com relação a outras categorias sociais. 
Kramer (2006) esclarece que a ideia de infância, enquanto categoria social, nasce 
com base na percepção da classe média e no tratamento direcionado às crianças. Neste 
sentido, a autora concorda com Ariès (1978), para quem a infância, retratada no sentido 
de cuidado e proteção, seria um produto da sociedade burguesa moderna. Porém, dada a 
diversidade de contextos, a infância é representada de formas diferentes, de acordo com 
os recortes de classe, econômicos, dentre outros.
Por muito tempo ainda, os pobres vão encarar a mortalidade infantil como 
fatalidade a ser aceita na ordem natural das coisas. Para os ricos, no entanto, 
esse fenômeno torna-se um inimigo a ser combatido, a fim de preservar os 
futuros cidadãos que deverão ocupar-se dos rumos da sociedade. (DOURA-
DO, 2009, p. 3) 
14UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
Perceba que, as ideias que são construídas sobre a infância são múltiplas e se 
inserem não apenas nas diferenciações impostas pelo tempo e espaço, mas também crité-
rios socioculturais devem ser levados em consideração. Isso leva, de acordo com Kramer 
(2006) a seguinte questão: de qual infância estamos falando? Para além da sua diversidade 
de representações, especialistas discutem se a infância estaria desaparecendo. Não es-
tamos a falar aqui sobre a infância como fase biológica da vida, a qual todos temos que 
passar, mas sim a ideia de pureza, ingenuidade e proteção que sofre constantes abalos no 
mundocontemporâneo. 
Vemos com frequência crianças vivendo na extrema pobreza, vítimas de trabalho 
infantil e diversos abusos. Isso seria suficiente para afirmar que a ideia idílica com sorrisos, 
brincadeiras e cuidados de infância teria desaparecido? Na concepção de Postman, citado 
por Kramer (2006), com a era pós-industrial essa concepção, como criação humanitária da 
modernidade, de criança teria desaparecido. Com o advento da mídia e internet e o acesso 
irrestrito das crianças ao mundo adulto, essa ideia de pureza infantil teria sumido. 
Entender que dentro da categoria social da infância, existem crianças que são 
sujeitos históricos e sociais, e que, por isso, compartilham das questões sociais do seu 
tempo é importante neste quesito. Entretanto, é importante pontuar o que é específico 
desta fase da vida, que são as brincadeiras. As brincadeiras, neste sentido, não são apenas 
um modo de distração infantil, são formas que os indivíduos nesta fase produzem cultura e 
são produzidos por ela. (KRAMER, 2006).
A infância, mais que estágio, é uma categoria da história: existe uma história 
humana porque o homem tem infância. As crianças brincam, isso é o que 
as caracteriza. Construindo com pedaços, refazendo a partir de resíduos ou 
sobras [...], na brincadeira, elas estabelecem novas relações e combinações. 
(KRAMER, 2006, p.15, grifo nosso). 
No âmbito das brincadeiras e dos jogos, Benjamin (2017) nos alerta para o fator 
geracional envolvido, ou seja, da relação entre mundo infantil e mundo dos adultos. Os 
brinquedos são sempre uma imposição do mundo adulto, ainda que não sejam imitações de 
instrumentos deste mundo, “pois, quem senão o adulto oferece primeiramente às crianças 
os seus brinquedos?” (BENJAMIN, 2017, p. 96). No entanto, é graças a imaginação infantil 
que estes objetos impostos se tornam, de fato, brinquedos. 
Kramer (2006) retifica a propensão lúdica própria da infância para as brincadeiras 
ao dizer que as crianças se utilizam de “restos da história”, isto é, podem manipular e criar 
narrativas através daquilo que não há muito valor para a sociedade em geral, criando uma 
cultura:
15UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
Elas reconstroem das ruínas; refazem dos pedaços. Interessadas em brin-
quedos e bonecas, atraídas por contos de fadas, mitos, lendas, querendo 
aprender e criar, as crianças estão mais próximas do artista, do colecionador 
e do mágico, do que de pedagogos bem intencionados. A cultura infantil é, 
pois, produção e criação. (KRAMER, 2006, p. 16) 
A constituição da infância e a sua cultura está ligada ao seio social da qual as 
crianças fazem parte. É preciso entender, que estes indivíduos são sujeitos sociais, que 
são produzidos pelo seu contexto, mas também agem sobre ele. Toda carga de tradições 
e valores, as práticas sociais e as experiências que essas crianças passarão durante essa 
fase vida, influenciam as suas ações e na gama de significados que dão às coisas, às 
pessoas e também às relações sociais. (KRAMER, 2006).
As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres 
que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações 
que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o 
meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o 
mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio 
das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e 
seus anseios e desejos. (BRASIL, 1998, p. 21) 
É necessário entender, portanto, que o conceito de infância é amplo e dinâmico e 
não está submetido a explicações simplistas. O caráter de infância que possuímos hoje é 
construído e essa construção obedece a nossas próprias configurações sociais. Assim, se 
quisermos compreender de forma mais apurada o conceito de infância é sempre necessário 
entender o contexto em que suas práticas sociais estão colocadas. 
16UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
3. HISTÓRIA DA INFÂNCIA
Atualmente, compartilhamos da visão de que a infância é uma fase especial, de-
dicada às brincadeiras e aos primeiros anos de formação, porém, nem sempre foi assim. 
Veremos a seguir que as concepções acerca da infância se modificaram muito no decorrer 
da história. Começaremos na Antiguidade greco-romana, perpassando pela Idade Média, 
pela Modernidade, até a contemporaneidade focando na realidade brasileira.
Na Roma Antiga, podemos perceber que a criança desde seu nascimento precisava 
ser aceita pelo pai, assim o nascimento não era apenas um fator biológico. Segundo Veyne 
(1989) quando o pai erguia a criança do chão indicava que este ente paterno estava acei-
tando criá-la. Assim, era comum que o pai não aceitasse a criança, simplesmente porque 
não havia interesse ou mesmo porque a criança era considerada “defeituosa”. Com isso, 
abundam testemunhos de aborto, de morte de crianças e abandono, que eram considera-
das aceitáveis:
A criança que o pai não levantar será exposta diante da casa ou num monturo 
público; quem quiser que a recolha. Igualmente será enjeitada se o pai estiver 
ausente, o tive ordenado à mulher grávida [...] Enjeitavam ou afogavam crian-
ças malformadas (nisso não havia raiva, e sim razão, diz Sêneca: É preciso 
separar o que é bom do que não pode servir para nada), ou ainda os filhos 
de sua filha que “cometeu uma falta”. Entretanto, o abandono dos filhos legí-
timos tinha como causa principal a miséria de uns e a política patrimonial de 
outros. [...] Contudo mesmo os mais ricos podiam enjeitar um filho indesejado 
cujo nascimento pudesse perturbar disposições testamentárias já estabeleci-
das (VEYNE, 1989, p. 24).
17UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
A citação acima aponta que a nível de costumes, na Roma Antiga, a criança tinha 
pouco valor, mas a tradição helênica (grega) tem a dizer sobre o infante? Platão (IV a.C.) 
foi um filósofo, que dentre uma vasta obra, versou sobre a criança e o que acreditava ser 
seu papel na sociedade. Platão tinha em mente um problema primordial: como “entender, 
enfrentar e reverter a degradação da Atenas de seu tempo.”? (KOHAN, 2003, p. 13). Esta 
pergunta se ligava ao fato de que para o filósofo existiria uma conexão entre as virtudes 
da polis e as virtudes dos indivíduos, por isso, era necessário e urgente discutir sobre a 
formação do cidadão desde o seu berço. (KOHAN, 2003).
A corrupção dos jovens, para Platão, se explicaria pela falta de instrução na in-
fância, por isso, seria necessário pensar em novo modelo de criança e de educação, que 
agiriam em favor do bem comum. A partir disso, podemos perceber que a infância em si 
não era um problema filosófico, mas sim a questão da conservação do bem estar da polis. 
(KOHAN, 2003).
Kohan (2003) sustenta que nos escritos de Platão é possível enxergar algumas 
marcas centrais:
a) a primeira marca que distinguimos no conceito platônico de infância é a 
possibilidade quase total e, enquanto tal, a ausência de uma marca específi-
ca; a infância pode ser quase tudo; essa é a marca do sem marca, a presença 
de uma ausência; b) a segunda marca é a inferioridade em face do homem 
adulto, do cidadão, e sua conseqüente equiparação com outros grupos so-
ciais, como as mulheres, os ébrios, os anciãos, os animais; essa é a marca 
do ser menos, do ser desvalorizado, hierarquicamente inferior;4 c) em uma 
terceira marca, ligada à anterior, a infância é a marca do não importante, o 
acessório, o supérfluo e do que se pode prescindir, portanto, o que merece 
ser excluído da pólis, o que não tem nela lugar, o outro depreciado; d) final-
mente, a infância tem a marca instaurada pelo poder: ela é o material de so-
nhos políticos; sobre a infância recai um discurso de necessidade e o sentido 
de uma política que necessita da infância para erigir-se em perspectiva de um 
futuro melhor. (KOHAN, 2003, p. 16).
Para Platão, é na educação que se construiriao caráter de um indivíduo. Primeiro 
as crianças deveriam ser iniciadas na música, logo em seguida na ginástica, mas também 
havia o conhecimento das fábulas, que era ensinado desde a mais tenra idade. Contudo, o 
que as crianças poderiam ou não ouvir também era objeto de preocupação do filósofo, por 
isso, a intenção era que se evitassem histórias cujo teor viesse de encontro com os valores 
da nova polis, ou mesmo que contenha mentiras, que poderiam comprometer sua formação 
no futuro. Este posicionamento se dava pelo fato de que Platão acreditava que tudo o que 
acontecia na vida adulta seria resultado direto de uma semente plantada na infância, na 
medida que depois do caráter formado, este era incorrigível. (KOHAN, 2003).
Kohan (2003) nos chama atenção ao dizer que em um primeiro momento esta visão 
parece extremamente positiva, mas:
18UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
[…] essa potencialidade, esse ser potencial, esconde, como contrapartida, 
uma negatividade em ato, uma visão não afirmativa da infância. Ela poderá 
ser qualquer coisa. O futuro esconde um não ser nada no presente. Não se 
trata de que as crianças já são, em estado de latência ou virtualidade, o que 
irá devir; na verdade, elas não têm forma alguma, são completamente sem 
forma, maleáveis e, enquanto tais, podemos fazer delas o que quisermos. 
(KOHAN, 2003, p.18) 
Platão coloca as crianças em posição de inferioridade com relação aos homens 
adultos no aspecto espiritual e físico. Em seu texto “As Leis”, o filósofo retrata as crianças 
como impulsivas, inaptas para quietude corporal e da voz, propensas à desordem e sem 
harmonia, características que seriam próprias do homem adulto. Com isso, as crianças 
eram igualadas às mulheres e aos escravos, que eram igualmente vistas como inferiores e 
incapazes de versar opiniões. (KOHAN, 2003).
O sentimento de desprezo com relação à infância perdurou durante a Idade Média. 
Heywood (2004) aponta que havia um sentimento de insensibilidade na criação dos filhos, 
assim considerava-se que não valia a pena despender tamanha energia para um ser tão 
pequeno que tinha poucas chances de sobrevivência. Essa visão também foi percebida 
por Ariès (1978, p.10), que observou que, ao longos dos séculos XII ao XVII, enquanto a 
criança ainda era pequena era vista como uma “coisinha engraçadinha” ou mesmo como 
“um animalzinho, um macaquinho impudico”, mas sua morte não causava comoção, porque 
logo viria outra criança que a substituiria.
A visão sobre a criança obedecia a um critério utilitarista, ou seja, o infante quando 
bem pequeno poderia ser facilmente substituído e ao chegar aos sete anos poderia exercer 
funções semelhantes ao adulto. Assim, a criança após esta idade era vista como útil à 
economia familiar, partilhando dos ofícios exercidos pelos pais. Isso quando a criança não 
era enviada para que outra família a criasse e era devolvida ao seio familiar aos sete anos 
para ajudar nos afazeres de sua família e comunidade. (ARIÈS, 1978).
Cabe lembrar também que eram diferentes os tratamentos para com os meninos 
e as meninas. As meninas “costumavam ser consideradas como o produto de relações 
sexuais corrompidas pela enfermidade, libertinagem ou a desobediência a uma proibição”. 
(HEYWOOD, 2004, p. 76). Mas de maneira geral, a criança era invisibilizada na Idade 
Média, chegando ao ponto de sequer ser retratada nas artes, sendo retratada como um 
adulto de porte menor. O que fica claro para Ariès (1978) é que neste período havia uma 
ausência de sentimento de infância. Contudo, esta posição tem sido confrontada por outros 
estudiosos do tema.
Desta forma, os sentimentos de afeição e cuidado raramente eram percebidos, 
estes ficam, sobretudo, nas mãos das mulheres ou mesmo das amas. A visão acerca dos 
19UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
cuidados para com a infância começou a mudar sensivelmente graças ao papel da Igreja 
Católica. A valorização da família e dos laços de sangue, baseadas nas narrativas bíblicas, 
foram força motriz para que a Igreja no século XVIII considerasse ato de bruxaria quem 
tentasse matar crianças. Dada a larga influência da Igreja Católica durante a Idade Média, 
percebemos que a narrativa bíblica do culto ao menino Jesus, juntamente com a história do 
massacre de crianças por Herodes, reforçaram a ideia de que a criança era uma mediadora 
da terra com o céu. (ARIÈS, 1978); (HEYWOOD, 2004). 
Ariès (1978) destaca que durante a Idade Média não haviam festas religiosas di-
recionadas para as crianças, a não ser as de caráter pagão. Apenas a partir do século XVI 
que foi criada a primeira comunhão, que progressivamente foi se tornando a maior festa 
religiosa infantil e continua a ser até os dias atuais. A importância da primeira comunhão 
enquanto evento histórico, reside no fato que pela primeira vez a vida da criança passou a 
ser registrada e observada, na medida em que não se permitia a utilização deste rito para 
crianças muito pequenas e “especialmente [para] aquelas que forem travessas, levianas a 
algum defeito considerável.” (ARIÈS, 1978, p. 97)
É no alvorecer da Idade Moderna, quando as condições de higiene foram melhora-
das e a burguesia começou a se formar, que a preservação da infância começa ser objeto 
de preocupação não apenas da Igreja. Isso perdurou durante os séculos XV, XVI e XVII, 
quando foi reconhecida a importância da formação para a vida adulta. A partir disso, os pais 
passaram a se interessar pela vida dos filhos. Dourado (2009) acrescenta que esta preo-
cupação com a formação e preservação da vida das crianças, veio acompanhada de um 
próprio sentido de preservação dos bens da família. Neste sentido, sob a ótica burguesa, 
formara-se a ideia de que era na criança que se deveria depositar a ideia de um futuro.
Instaurou-se, portanto, o sentimento de afeto e de apego entre os séculos XVII 
e XVIII, período no qual a infância passou a ser entendida como momento de fragilidade 
e ingenuidade. Com isso, Ariès (1978) observa que dá-se início a um comportamento de 
“paparicação”, especialmente nas classes mais abastadas, que diz respeito a mimar os 
infantes e tratá-los como um meio de entretenimento dos adultos. A partir disso, a morte 
prematura da criança começa a ser acompanhada de dor e sofrimento. 
Ainda neste período, sob influência da Igreja e do Estado, a perspectiva educacio-
nal ganha terreno, ainda que seja no sentido disciplinador. Trata-se de um movimento que 
buscava colocar a criança no que se acreditava ser seu devido lugar, assim como se fazia 
com outros segmentos marginalizados da sociedade, tais como os loucos, os pobres, as 
prostitutas, dentre outros. (ARIÈS, 1978). Para a nossa sociedade contemporânea pode 
20UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
soar estranho criar um paralelo entre as crianças e os grupos citados, contudo, é necessá-
rio entender, como já pontuamos, que a sociedade medieval e em transição para a época 
moderna, entendia a criança como ser pertencente a uma camada inferior da sociedade. 
E é neste ínterim que as instituições educacionais infantis nascem, com uma proposta 
moralizadora, disciplinadora e de controle. 
As escolas não eram propriamente direcionadas às crianças, na verdade estas 
instituições estavam vinculadas à Igreja e buscavam formar clérigos, portanto, acolhia não 
apenas crianças, como também jovens e adultos. Com a criação de escolas voltadas para 
crianças na Idade Moderna, o que vemos é a introdução da disciplina, inspirada nos mo-
delos eclesiásticos: “A disciplina escolar teve origem na disciplina eclesiástica ou religiosa; 
ela era menos um instrumento de coerção do que de aperfeiçoamento moral e espiritual.” 
(ARIÈS, 1978, p. 126). Vale ressaltar também que este tipo de educação não era destinada 
às meninas, enquanto os meninos de uma família poderiam frequentar a escola, às meninas 
cabia pouca ou nenhumainstrução formal. 
Heywood (2004), considera que a criação paulatina de instituições formais de ensino 
para crianças, representou a “descoberta” da infância na Idade Moderna. Tratou-se de um 
movimento de diferenciação entre o mundo infantil e o mundo adulto, no qual as crianças 
deveriam passar por uma espécie de quarentena, a escola, para que assim pudessem 
ingressar no mundo adulto. 
A história da infância a qual nos dedicamos até agora versa sobre uma condição 
europeia, porém, esta história é sensivelmente diferente em terras brasileiras. Del Priore 
(2010) explica a distância em falar de uma história da infância europeia e uma história da 
infância no Brasil:
Em primeiro lugar, entre nós, tanto a escolarização quanto a emergência da 
vida privada chegaram com grande atraso. Comparado aos países ocidentais 
onde o capitalismo instalou-se no alvorecer da Idade Moderna, o Brasil, país 
pobre, apoiado inicialmente no antigo sistema colonial e, posteriormente, 
numa tardia industrialização, não deixou muito espaço para que tais ques-
tões florescessem. Sem a presença de um sistema econômico que exigisse 
a adequação física e mental dos indivíduos a esta nova realidade, não foram 
implementados os instrumentos que permitiria a adaptação a este novo cená-
rio. (DEL PRIORE, 2010, p. 10-11) 
Enquanto a Europa vivia o início da Idade Moderna, nós éramos colônia e os valo-
res burgueses de cuidado e proteção para com o infante não haviam chegado. A educação 
era realizada de forma esparsa, por meio das escolas jesuíticas e não eram acessíveis aos 
pobres e muito menos às crianças escravizadas. Até o século XIX, no Brasil, o trabalho 
ainda era visto pelas famílias menos abastadas como a “melhor escola”. (DEL PRIORE, 
2010). Aqui, não se trata de fazer um paralelo como se a realidade europeia fosse a ideal 
21UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
e o Brasil mais atrasado. Pelo contrário, devemos entender que a situação das crianças 
brasileiras está intimamente ligada com o modelo econômico colonial, aqui imposto após a 
invasão de Portugal em 1500, que gerou novas realidades e consequência para todos os 
âmbitos da vida social. Assim, a condição de pobreza e escravidão nos primeiros séculos 
do Brasil, pesaram de maneira significativa nos ombros dos pequenos. 
Há um consenso entre historiadores que apesar do Brasil ter sido “descoberto” em 
1500, sua colonização foi de fato empreendida após 15301. Nas embarcações lusitanas 
não vinham apenas os homens, mas também mulheres – em menor número – e crianças 
que muitas vezes serviam de grumetes e pajens. Os grumetes eram meninos entre nove 
e dezesseis anos responsáveis pela limpeza das embarcações e auxílio dos marinheiros 
e normalmente estes eram recrutados entre órfãos ou famílias de pedintes em Portugal. 
Entregar o filho para desempenhar esta função era na maioria das vezes vista com bons 
olhos por estas famílias, já que poderiam aproveitar-se do soldo recebido pelo trabalho dos 
meninos, ou, pelo menos, livrar-se de uma boca a mais para alimentar. (RAMOS, 2010).
O recrutamento de meninos para trabalhar nas embarcações era comum e em 
alguns casos o número de crianças era igual ao número de adultos, já que as condições 
sanitárias da Europa levavam a uma alta mortalidade e, consequentemente, a uma baixa 
disponibilidade de mão de obra adulta. Mas os grumetes desempenhavam funções tão ou 
mais perigosas que os marujos, como demonstra o relato de uma viagem de 1560
[...] aos dezenove de julho, que foi um sábado sobre a noite, [...] fazendo com 
o vento muito, por serem de través, estando o gajeiro da gávea em pé em 
cima para descer, bem descuidado, deu a nau um balanço grande, com que 
meteu, e lançou o pobre grumete por cima da gávea, que veio pelo ar cair ao 
mar, dando com as pernas e partes do corpo em os pés de um homem que 
a bordo estava pegado, o qual consigo houvera de levar ao mar, deixando-o 
aleijado da grande pancada que lhe deu de um deles, e desfazendo a cabeça 
em pedaços, com os miolos fora dela, nas vergas, que todas ficaram tinta do 
seu sangue. (BRITO, 1971 [1735] apud RAMOS, 2010, p. 26) 
Não apenas isso, aos grumetes eram impostas as piores condições de acomoda-
ção e alimentação. Acomodados perto dos doentes e expostos as condições climáticas, as 
crianças também viviam com menos comidas do que os demais tripulantes, sobrevivendo 
com bolachas apodrecidas, ratos, baratas e água, que também não se encontrava no me-
lhor estado. Essa situação fazia com que os infantes fossem sistematicamente sucumbidos 
pela inanição e pelo escorbuto, causado pela falta de vitamina C. (RAMOS, 2010).
1 Os anos entre 1500 e 1530 são considerados “anos perdidos” e a historiografia (a escrita da história) 
tem dificuldades em narrar os fatos que antecederam 1530 pela falta de documentação relativa ao período. 
Contudo, sabe-se que o Brasil foi rota para diversos marginalizados pela história, que são ignorados pela 
narrativa oficial. São viajantes, náufragos e pessoas deixadas para trás ou enviadas para cumprir pena em 
terras brasileiras, que podem também ser considerados os primeiros brasileiros. (BUENO, 1998) 
22UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
Já para os pajens, designados a servir um membro da nobreza, o cotidiano era 
um pouco menos difícil. A estas crianças era imputada a tarefa de servir mesas, arrumar 
os aposentos e proporcionar todo o conforto para o seu oficial. Os pajens, ao contrário 
dos grumetes, não sofriam castigos severos e também eram considerados superiores aos 
grumetes. Eles também tinham uma alimentação melhor, já que seus oficiais eram autoriza-
dos a trazerem alimentos mais diversificados, aumentando a chance de sobrevivência dos 
pajens em caso de doenças. (RAMOS, 2010).
Além dos grumetes e pajens, haviam as “órfãs” menores de dezesseis anos, as 
quais, na verdade, eram sequestradas de famílias mais pobres. Essas meninas eram ex-
postas a situações de assédio e abuso sexual de forma constante:
Como o estupro de meninas pobres, maiores de 14 anos, dificilmente era 
punido – o que estava bem de acordo com a tradição medieval que só punia 
o estupro se “as vítimas tivessem de 12 a 14 anos” – as meninas embarcadas 
como órfãs poderiam ser violadas por grupos de marinheiros mal-intenciona-
dos que ficavam dias à espreita em busca dessa oportunidade. Por medo de 
serem depreciadas no mercado matrimonial para o qual estavam direciona-
das, ou por vergonha, terminavam ocultando o fato, de modo que os relatos a 
respeito são praticamente inexistentes. (RAMOS, 2010, p. 37) 
Enfim, o cotidiano das crianças que embarcavam para as terras brasileiras era 
extremamente penoso. Neste cenário, o universo infantil e o ser criança não tinham espaço, 
já que a utilização da mão de obra e do corpo das crianças era regra. Assim, estas crianças 
forçosamente eram integradas ao mundo adulto. Por isso, raramente chegavam ilesas ao 
local de destino, seja fisicamente ou emocionalmente. (RAMOS, 2010).
Nas primeiras décadas de colonização portuguesa no Brasil, uma das ordens que 
teve maior influência foi a Companhia de Jesus. A ordem jesuítica era missionária e visava 
converter o gentil para a fé cristã e aqui no Brasil isso se cristalizou através do ensino. 
Acreditava que juntamente com o ensino moralizante, disciplinador e inspirado pela palavra 
de Deus, todo o povo poderia se converter. Cabe lembrar que para os jesuítas o principal 
alvo de conversão eram os índios, considerados como um “papel em branco”, sob o qual 
poderia imprimir-se qualquer doutrina. (CHAMBOULEYRON, 2010).
A Companhia de Jesus no Brasil escolheu o caminho do ensino das crianças, mas 
existia uma preocupação docente no cerne da ordem, pois havia uma preocupação em 
formar não apenas seus membros, mas também a juventude para que estes pudessem 
propagar os valores de cristandade. Com este intuito e observando que os índios adultos, 
em geral,eram arredios aos ensinamentos dos padres, os jesuítas focavam o ensino para 
as crianças, consideradas mais maleáveis. (CHAMBOULEYRON, 2010).
23UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
As crianças indígenas eram consideradas o meio pelo qual o cristianismo chegaria 
até ao restante da população. Com isso, a intenção dos jesuítas era que essa geração, 
formada sob o embasamento cristão, substituiria a geração dos seus pais, cujos compor-
tamentos eram considerados inapropriados, tais como nudez, poligamia e antropofagia. 
(CHAMBOULEYRON, 2010).
Os jesuítas se dedicavam a ensinar o português, a leitura, a escrita, músicas, 
além de prezar pela disciplina. Neste sentido, os castigos físicos eram comuns, ainda que 
os padres propriamente ditos fossem impedidos de aplicá-los e tivessem que designar a 
outrem. A persistência dos castigos físicos na educação vinha da convicção por parte dos 
jesuítas de que as crianças aprenderiam mais facilmente pelo temor do que pelo amor. 
(CHAMBOULEYRON, 2010).
Um receio comum era de que estas crianças ao entrarem na puberdade esqueces-
sem do aprendizado durante o período de catequização, ou mesmo, depois que casassem 
mudassem da aldeia onde cresceram – o que era uma tradição indígena – e voltassem 
para o que os padres entendiam como degradação dos costumes. Essa situação apenas 
fortalecia a ideia de que os índios deveriam ser submetidos à autoridade para se converter 
realmente, calcados na ideia de vigilância constante e de castigos físicos. (CHAMBOU-
LEYRON, 2010).
Além dessa tentativa de catequização por meio do ensino, a opção de educação 
formal para as crianças ficava restrita às crianças da elite e isso ficou mais claro durante 
o período imperial, por volta do século XIX. A maioria dos relatos deste período são de 
professores e professoras que chegaram ao Brasil, após a abertura dos portos em 1808, 
que chegavam para lecionar em escolas particulares. 
Era muito comum que reclamassem não apenas do clima tropical, mas também do 
comportamento das crianças brasileiras, bem diferentes do que presenciavam na Europa. 
Um dos professores estrangeiros chegou a dizer que “uma criança brasileira é pior que 
mosquito hostil [...] crianças no sentido inglês não existem no Brasil” (EDGECUMBE, 1886 
apud MAUAD, 2010, p. 168).
Os registros históricos das crianças no Brasil imperial podem ser vistos por meio 
das fotografias. É claro que este recurso era limitado à elite e as fotografias, portanto, 
revelam como as classes mais endinheiradas olhavam para o infante . As crianças eram 
vestidas com seus melhores trajes, normalmente inspirados em modelos franceses, muitas 
vezes inadequados ao clima brasileiro. (MAUAD, 2010). 
24UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
 FIGURA 1: MENINAS COM INDUMENTÁRIAS 
 INSPIRADAS EM MODELOS FRANCESES
 Fonte: MAUAD (2010)
No que se refere ao ensino, as escolas formais se orgulhavam em fornecer uma 
aprendizagem enciclopédica, ou seja, pautada na memorização. A educação também ficava 
a cargo da família, que deveria ser o eixo moralizador da criança. Neste sentido, havia diferen-
ciações bem claras entre o ensino de meninos e de meninas, enquanto os primeiros deveriam 
desenvolver atributos intelectuais, as meninas ficariam a par das habilidade manuais:
Os meninos da elite iam para a escola aos sete anos e só terminavam sua 
instrução, dentro ou fora do Brasil, com um diploma de doutor, geralmente de 
advogado. Num colégio conceituado como o Externato Pedro II, frequentado 
por quase todos os filhos da aristocracia cafeicultora imperial e pela elite ur-
bana, havia um rol exaustivo de disciplinas que englobava: filosofia, retórica, 
poética, religião, matemática, geografia, astrologia, cronologia, história natu-
ral, geologia, ciências físicas, história, geografia descritiva, latinidade, língua 
alemã, língua inglesa, língua francesa, gramática geral e nacional, latim, de-
senho caligráfico, linear e figurado e música vocal, distribuídas ao longo de 
sete anos. (MAUAD, 2010, p. 184-185) 
À revelia da educação fornecida aos meninos, a educação feminina era articulada 
em outros moldes:
25UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
O mesmo observador apontava para o fato de que a educação feminina, inicia-
da aos sete anos e terminada na porta da igreja, aos 14 anos, supervalorizava 
o desempenho feminino na vida social. Na Corte imperial, das meninas da alta 
sociedade, exigia-se perfeição no piano, destreza em língua inglesa e france-
sa, e habilidade no desenho, além de bordar e tricotar. (MAUAD, 2010, p.187) 
A preocupação dos pais da elite com a educação dos filhos revela um aspecto 
importante que marca nossa sociedade até os dias atuais, que é a preocupação com a vida 
futura dos filhos. Assim, a morte prematura passa a ser motivo de tristeza em um contexto 
em que não haviam vacinas, doenças contagiosas eram pouco conhecidas e as condições 
de higiene eram precárias. É a partir disso que nascem os mecanismos de cuidados na 
primeira infância para evitar a mortalidade infantil, que ficou a cargo das mulheres. As mães 
tinham uma árdua tarefa na criação dos filhos, especialmente porque os nascimentos eram 
consecutivos. As mulheres da elite, visando atenuar-se do fardo da amamentação, designa-
vam amas de leite, normalmente escravas, para cumprir tal função. (MAUAD, 2010).
A situação das crianças escravizadas, caso chegassem com vida na travessia do 
Atlântico, era completamente oposta das crianças da elite. A morte de crianças escravas 
com menos de dez anos chegou a representar até um terço das mortes entre os escravos, 
dentre estes dois terços morriam antes dos dois anos e 80% antes de completar cinco anos 
de idade. Além disso, muitas destas crianças perdiam os pais muito cedo. Estima-se que na 
capital fluminense no século XIX, metade das crianças até cinco anos eram órfãs. (GOÉS; 
FLORENTINO, 2010)
Em determinadas situações a criança órfã ficava ligada à sua rede parental, irmãos, 
tias, tios, avós ou mesmo padrinhos e madrinhas sem ligação de sangue. Como estratégia 
de sobrevivência em comunidade, os escravizados utilizavam-se de um sacramento da 
Igreja para fortalecer seus vínculos sociais e proteger seus filhos:
Os escravos puseram o catolicismo a seu serviço para fazer parentes e fa-
mílias. O batismo e a irmandade, mais do que incorporá-los ao rebanho de 
um Deus-Pai de filho branco, possibilitava refazer a vida pela criação de uma 
comunidade africana como não havia na própria África. (GOÉS; FLORENTI-
NO, 2010, p. 222) 
Apesar disso, as crianças escravizadas passavam pelo o que se chamava “ades-
tramento” que ia até os doze anos de idade. Eram introduzidas em diversos serviços como 
pastoreio, remendos de roupas, trabalho com marcenaria, nas lavouras e em afazeres do-
mésticos e o tipo de especialidade indicava seu preço no mercado de escravos. À medida 
que se aprendia um ofício também assimilavam o ser escravo pela ótica senhorial. Diferente 
dos homens e mulheres escravizados, para os quais eram dirigidos suplícios públicos, às 
26UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
rianças eram destinadas pequenas humilhações com grandes consequências, tanto pelos 
senhores como pelos seus filhos. (GOÉS; FLORENTINO, 2010).
Com a abolição da escravidão e a instauração da República no final do século XIX, 
uma nova realidade se tornou presente na vida do pequenos brasileiros: a criminalidade. 
Com a falta de políticas públicas para a população escrava recém-liberta e a falta de opor-
tunidade para ingressar no novo modelo de trabalho assalariado, as crianças sofriam com 
o estigma da marginalização. Essa associação entre malandragem e a criança pobre foi 
recorrente no século XX – e continua a povoar o imaginário social até os dias atuais.
A modificação paulatina da estrutura econômica da sociedade brasileira, com novos 
padrões de consumoe outra dinâmica do trabalho, fez inchar as cidades e as contradições 
sociais ficaram mais evidentes. Nesta nova configuração, o mundo do trabalho e “vadiagem” 
eram colocadas em dicotomia. Enquanto o mundo do trabalho era vinculado ao imigrante 
estrangeiro, a alcunha da vagabundagem era inferido aos brasileiros, principalmente à 
população ex-escrava. (SANTOS, 2010)
A infância era vista como a “semente do futuro” e a delinquência era vista como um 
problema sério a ser combatido. De acordo com o Código Penal de 1890, os maiores de 14 
já poderiam ser criminalmente imputáveis, os mais novos até os nove anos de idade, pode-
riam ser enquadrados como criminosos desde que tivessem discernimento dos seus atos, 
ainda que fosse questionável o que enquadraria como discernimento. A grande maioria dos 
“crimes” eram relativos a vadiagem e baderna e as crianças e adolescentes poderiam ficar 
reclusos, sob um regime pautado no trabalho como disciplinador. (SANTOS, 2010). 
Nas primeiras décadas do século XX houve o processo de industrialização do 
Brasil, que até então era predominantemente agrário, este cenário tornou-se mais evidente 
em São Paulo. As crianças neste contexto, assim como os adultos, eram utilizadas como 
mão-de-obra barata e acidentes de trabalho e mortes prematuras eram comuns nas fábri-
cas. É claro que a situação das crianças no ambiente de trabalho causava revolta entre os 
membros da classe operária:
A implantação da indústria e sua consequente expansão norteou o destino 
de parcela significativa de crianças e também de adolescentes das camadas 
economicamente oprimidas em São Paulo, como havia norteado em outras 
partes do mundo. E, como em outras partes do mundo, o trabalho infantoju-
venil em São Paulo imprimiria, talvez mais do que qualquer outra questão, 
legitimidade ao movimento operário. Nos pequenos trabalhadores, as lide-
ranças saberiam identificar a causa preciosa, capaz de revelar aos olhos dos 
contemporâneos e também da posteridade, a condição da classe operária no 
que esta tinha de mais miserável. (MOURA, 2010, p.315)
Essa classe operária era sobretudo estrangeira, normalmente vinda da Itália, fugin-
do da fome e do frio. Desde o fim do século XIX até as primeiras décadas do séculos XX 
27UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
abundavam anúncios procurando crianças e adolescentes para trabalhar na indústria têxtil. 
Era de interesse do empresariado que as crianças fossem inseridas precocemente nas 
atividades laborais, pois o salário pago era menor em comparação aos homens adultos. 
Além disso, as cargas horárias eram extremamente exaustivas, variando entre 12 e 14 
horas diárias, impossibilitando ou criando dificuldades para a frequência escolar. (MOURA, 
2010).
As legislações vigentes até procuravam limitar o trabalho até os doze anos de idade, 
ou mesmo proibir a jornada noturna ou funções insalubres. Contudo, na prática, com a falta 
de fiscalização, o trabalho infantil foi utilizado largamente no processo de industrialização 
brasileiro, gerando marcas que vemos até os dias atuais. 
A partir dos anos 1920, mediante a este cenário, surgem as primeiras políticas pú-
blicas. Diante de um grande número de crianças desamparadas, marcadas pela violência, 
negligenciadas pela família e exploradas no trabalho, o Estado procurou assumir posição 
com relação aos infantes:
A partir dos anos 20, a caridade misericordiosa e privada praticada priorita-
riamente por instituições religiosas tanto nas capitais como nas pequenas 
cidades cede lugar às ações governamentais como políticas sociais. A sua 
expansão ocorrerá entre as duas ditaduras (Estado Novo, de 1937 a 1945 
e a Ditadura Militar, de 1964 a 1984), quando aparecem os dois primeiros 
códigos de menores: o de 1927 e o de 1979. Todavia, com a restauração das 
eleições presidenciais e a retomada do regime político democrático – mes-
mo com as limitações impostas pelo voto obrigatório –, surge o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), em 13 de julho de 1990, pela lei no 8.069. 
Uma nova dimensão da caridade será concretizada combinando, com espe-
cial equilíbrio, ações privadas e governamentais. (PASSETTI, 2010, p. 424). 
Um exemplo de política pública voltada para infância nas primeiras décadas do 
século XX, foi o Código dos Menores de 1927, que articula o caráter assistencial público e 
privado em direção às crianças. Esse Código denota uma crescente preocupação com os 
chamados delinquentes e se volta para a devida punição, de forma que se regenerem a 
integrem a sociedade regida pela nova ótica capitalista brasileira, se tornando assim, bons 
trabalhadores. (LONGO, 2007).
Mais tarde, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, o ideário de adequação das 
crianças e adolescentes no projeto capitalista se torna mais evidente, apostando sobretudo, 
no caráter pedagógico do trabalho. Os ditos menores improdutivos – nesta categoria estão 
dos chamados vadios, delinquentes ou mendigos – eram direcionados para instituições 
correcionais, sob a égide do judiciário e com o braço do executivo. (LONGO, 2007).
Depois de um breve período de democracia, entre a ditadura de Vargas e a ditadura 
militar, em 1964 a criança e o adolescente marginalizado é enquadrado como “menor em 
28UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
situação irregular”, em condições como “I - privado de condições sócio econômicas; II - 
vítimas de maus-tratos; III- perigo moral; IV - privado dos pais ou responsáveis; V - desvio 
de conduta; VI - autor de infração penal.” (LONGO, 2007, p. 5). Dentre os aspectos citados, 
qualquer um poderia tornar a criança/adolescente passível de institucionalização, ou seja, 
de confinamento em instituições estatais. 
Isso só vai mudar com o ECA, do qual falaremos em mais detalhes na próxima 
unidade. Com o exposto acima acerca da história da infância, pudemos perceber que é 
uma história de sujeitos marginalizados do seio da sociedade e que a preocupação com 
o cuidado e proteção da infância é recente. A discussão em torno da infância engloba 
diferentes instâncias da sociedade, mas principalmente debate-se sobre o papel da família 
na construção da infância, tópico que explanaremos a seguir. 
29UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
4. INFÂNCIA, FAMÍLIA E CATEGORIA SOCIAL: DISCUTINDO O CONCEITO
Como salientou Ariès (1978), o sentimento de cuidado e atenção à criança é relati-
vamente novo, faz parte da cultura moderna a preocupação hodierna que a família tem com 
os pequenos. A família hoje se organiza em torno da vida da criança, dos seus estudos, 
ensinamentos morais e bem-estar físico e mental. É verdade que esta configuração de 
família “estruturada” não corresponde à realidade em muitos lares, onde a crianças, seja 
por questões estruturalmente construídas ou situações particulares, continua sendo negli-
genciada. 
Ariès (1978) destaca que é a partir da passagem da época medieval para o período 
moderno que a responsabilidade sobre a formação do sujeito recai sobre a família e essa 
formação estava também sobre o resguardo da religião, provedora de instruções morais 
para a família, que deveria transmitir à criança. É claro que os contornos da família se mo-
dificam durante o tempo, assim pode-se dizer que família é uma construção social, assim 
como a infância – que está correlacionada com a família – também o é. 
Cabe dizer que as definições acerca da família são múltiplas e não dizem respeito 
apenas ao recorte do que se diz “tradicional”, ou seja, homem, mulher e filhos. A concepção 
de multiplicidade do que se considera família encontra respaldo, em primeiro lugar, na 
Constituição Federal de 1988, conforme dispõem Paschoal e Marta (2012):
O § 4º do Art. 226 da Constituição de 1988 dispõe que “[...] entende-se, tam-
bém, como entidade familiar à comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes”, estamos nos referindo à família monoparental, queé o 
30UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
campo, por excelência, da mãe solteira, das mães ou, excepcionalmente dos 
pais, que pretendem assumir sozinhos, sua maternidade ou paternidade, dos 
divorciados, dos separados, dos viúvos, dos filhos sem pai, enfim, de tudo 
aquilo que nega as situações de normalidade previstas pelo antigo Código Ci-
vil, quando se referia à família legítima. (PASCHOAL; MARTA, 2012, p. 232) 
A citação deixa claro que o conceito que família estende-se desde as relações 
parentais, isto é, pai e mãe criando o (a) filho (a), até a as relações monoparentais, que 
dizem respeito ao pai ou a mãe sozinhos criando a criança. Não apenas isso, a Constituição 
define família também as relações anaparentais, na qual não há a presença dos genitores, 
mas pode se constituir na criação pelos irmãos ou mesmo “por famílias distintas que se 
unem formando uma família comum; a família homoafetiva, se forma em torno da união 
conjugal entre pessoas do mesmo sexo [...]”. (PASCHOAL; MARTA, 2012, p. 232).
Contudo, o reconhecimento jurídico de famílias monoparentais e anaparentais é 
fenômeno recente na história do Brasil:
A história da proteção à infância no Brasil é marcada pela emergência do mo-
delo de família nuclear, baseada nos moldes burgueses e ditada pelo saber 
especialista que logo ganha espaço no meio jurídico, justificando a interven-
ção do Estado junto àqueles considerados desviantes. (SILVA Jr; ANDRADE, 
2007, 426).
Em virtude disso, muitos comportamentos infantis considerados problemáticos eram 
justificados na origem de uma família “desestruturada”, ou seja, que não correspondiam ao 
modelo parental. Desde a história recente do Brasil vê-se por parte de organizações, com 
a tutela do Estado, a insistência em proteger a infância, baseada na defesa dita família 
tradicional brasileira. (SILVA Jr; ANDRADE, 2007).
Como dissemos, família, enquanto categoria social, é construída e essa construção 
depende da comunidade na qual está inserida. Sendo assim, a família tem importância 
máxima no que diz respeito a formação da criança, é nela que o infante tem seu primeiro 
contato com o seio social. Não é por acaso, portanto, que a Constituição dirija também à 
família a responsabilidade da proteção e cuidado da criança. 
31UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
SAIBA MAIS
Os meninos e as guerras
Durante esta unidade você viu que a noção de infância, enquanto fase especial da vida 
humana é recente na história da humanidade. A separação entre mundo adulto e mundo 
infantil veio apenas no século XIX na Europa e foi marcada por estudos no âmbito da 
pedagogia, psicologia e pediatria, que ajudaram a demarcar este estágio da vida en-
quanto particular. Mas antes disso, os meninos entre 14 anos engrossavam as frentes 
de batalha nas guerras, lado a lado com os homens. No Brasil não foi diferente, as crian-
ças eram recrutadas pela Marinha e também foram chamadas a combater na Guerra do 
Paraguai, um dos mais sangrentos conflitos na história brasileira. 
Fonte: VENANCIO, 2010
REFLITA 
“[...] querer conhecer mais sobre a trajetória histórica dos comportamentos, das formas 
de ser e de pensar das nossas crianças, é também uma forma de amá-las todas, indis-
tintamente melhor.” 
(DEL PRIORE, p. 19, 2010).
32UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você acabou de ver que nem sempre a vida das crianças foi muito fácil e pode ser 
que tenha percebido o contraste com as crianças da atualidade. Mesmo assim, é importante 
compreender que mesmo nos tempos contemporâneos existem crianças desprovidas do 
mínimo para sobrevivência. Este olhar, de reconhecimento de multiplicidades – sejam dife-
renças entre passado e presente ou dentro do presente – é graças a percepção histórica, 
que nos ajuda e muito a compreender a quantas anda a situação da criança no presente. 
Neste sentido, no primeiro tópico você reconheceu como opera a abordagem histó-
rica acerca do tema infância, entendendo que este tipo de estudo ainda é recente no Brasil. 
Viu também sobre a necessidade de nos destituir de pré-concepções sobre a infância, pois 
entendemos que tais noções foram sendo construídas ao longo do tempo. Além disso, 
pudemos averiguar que boa parte do que se diz sobre a criança está baseado apenas na 
concepção do adulto, dando pouco ou nenhum valor na representação que a criança faz 
de si mesma.
No tópico seguinte, falamos sobre o conceito de infância e suas facetas. Primeiro 
começamos pelas definições legais do que se compreende infância e também adentramos 
em discussões sobre a relevância da compreensão das linguagens infantis na definição 
deste conceito. Pudemos compreender também como são importantes as diferenças con-
textuais ao falarmos de infância a fim de que possamos enquadrá-la em um cenário amplo 
e diverso.
No terceiro tópico, fizemos uma considerável apresentação da história da infância, 
que não pretendeu esgotar a discussão, que introduziu alguns panoramas centrais. Co-
meçamos pela Antiguidade, pela Idade Média e pela Idade Moderna, mas nosso foco foi 
a história da infância no Brasil, compreender sua extensão e multiplicidades de contextos. 
Por fim, nos dedicamos a pensar a constituição da família no seio social e sua cor-
relação com a infância. Abordamos a diversidade de famílias, que não atendem ao modelo 
construído de família tradicional, mas isso não retira seu caráter de família, inclusive no 
âmbito legal. 
33UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
LEITURA COMPLEMENTAR
BREVE HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTO-JUVENIL
Gilmar de Jesus Pereira
Ao tratar da questão histórica do trabalho infantil, pretende-se de maneira geral 
apresentar alguns registros do emprego da mão-de-obra do grupo, para uma compreensão 
geral da evolução cultural, social e legislativa.
Primeiros registros históricos
Desde os tempos antigos da humanidade, é possível verificar o trabalho das crian-
ças junto às famílias e tribos. Oliva (2006, p. 29) afirma que “é quase certo que o emprego 
de crianças e jovens no trabalho existe desde que o mundo é mundo”.
Encontra-se também na antiguidade sementes legislativas de proteção aos meno-
res trabalhadores. O código de Hamurábi previa que, se um artesão adotasse um menor, 
deveria ensinar-lhe seu ofício.
Oliveira, ao comentar a forma de trabalho na fase arqueológica, esclarece:
O trabalho humano era desenvolvido de forma primitiva, com a utilização de instru-
mentos rudimentares, destinando-se apenas à subsistência do homem. Não se encontra 
referências expressas ao labor de crianças, sendo possível, porém, a exemplo de mulheres, 
ficassem com a tarefa de colher frutos espontâneos da natureza, enquanto os homens se 
ocupavam com os trabalhos de maior risco (caça por exemplo) (OLIVEIRA, 1997, apud 
OLIVA, 2006, p.30).
Já entre os egípcios, registros históricos mostram que os filhos aprendiam o ofício 
com os pais.
No período Romano, o contrato de aprendizagem era firmado de três modos: o 
mestre obtinha a remuneração pelo ensino ministrado, poderia pagar os serviços do menor 
ou ser compensado pelo ensino com os serviços.
Ensina Oliva (2006, p. 31) que para os Gregos e os Romanos, os escravos, que 
não eram reconhecidos como pessoas e sim como coisas, eram de propriedade dos seus 
senhores. Todos os filhos nascidos dos escravos passavam a ser propriedade dos possui-
34UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
dores de seus pais e eram obrigados a trabalharem para os seus donos ou para terceiros 
em benefícios de seus dominadores.
O período do século XI ao século XV é marcado pelas corporações de ofício e pela 
aprendizagem no período medieval. As Corporações de Ofício marcaram o denominado 
corporativismo, já que era caracterizado por trabalho livre e artesanal urbano.
Em virtude do êxodo dos trabalhadores da zona rural,provocado pela exploração 
dos antigos senhores feudais, bem como da ativação do movimento comercial nas cidades, 
artesãos (não exclusivamente, mas de forma predominante) se agrupavam, jungidos pela 
identidade de profissão e como o fito de defender seus interesses, concentrando-se na 
zona urbana. (OLIVA, 2006, p. 37).
A contribuição de Montoya Melgar (1997, p. 112) é relevante: “o aprendiz celebrava 
o contrato por volta dos doze anos de idade e a aprendizagem tinha duração variável, que 
podia oscilar entre dois e dez anos, de acordo com a dificuldade do ofício”.
As jornadas de trabalho eram longas e o regime era autoritário, o que se estendia 
aos aprendizes. Oliva comenta sobre alguns motivos que levaram à decadência das corpo-
rações de ofício, destacando o descontentamento dos aprendizes em relação aos mestres.
A demorada aprendizagem, a dificuldade cada vez maior de acesso à condição 
de mestre, o despotismo e uma série de outros problemas, dentre os quais o início da 
formação de novas corporações por companheiros rebelados (as companhias), com o fito 
de combater entrasse definitivamente em declínio. (2003, p. 39).
Com efeito, as corporações de ofício entram em declínio, oportunizando outras 
formas de trabalho dos menores. [...]
Fonte: PEREIRA, 2017.
35UNIDADE I Conceito de Infância, Família e suas Historicidades
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
Título: Pensando a família no Brasil: da colônia à modernidade.
Autora: Angela Mendes de Almeida (organizadora)
Editora: da UFRRJ 
Sinopse: O livro é composto de três partes, sendo que na primeira 
parte discute-se a construção do modelo patriarcal de família du-
rante o período colonial brasileiro, este modelo foi sedimentado na 
obra do intelectual Gilberto Freyre e até os dias atuais possui força 
ideológica. Na segunda parte, o livro retoma o papel da família 
frente a construção da subjetividade do indivíduo, tomando como 
pressuposto também um olhar psicanalítico. Por fim, “Pensando a 
Família no Brasil” se desdobra em pensar uma possível crise na 
família brasileira e como isto pode significar uma mudança signifi-
cativa do que até então tem-se identificado como família. 
FILME/VÍDEO
Título: A vida é bela.
Ano: 1998
Sinopse: O filme começa na Itália contexto da Segunda Guerra 
Mundial. Um pai o judeu Guido e seu filho Giosué são capturados e 
levados para um campo de concentração nazista. Em meio a tanto 
caos e violência, o pai resolve preservar a infância do seu filho, 
fazendo parecer que tudo aquilo não passa de uma brincadeira. 
36
Plano de Estudo:
● Análise histórica das políticas sociais voltadas à criança suas raízes históricas 
● Estatuto da Criança e do Adolescente: avanços e desafios 
● A política social contemporânea, o neoliberalismo, a Reforma do Estado, 
 o repasse das responsabilidades para a sociedade civil
Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar as premissas das políticas públicas voltadas à criança
● Compreender os antecedentes históricos e impacto do ECA
● Analisar os preceitos neoliberais frente às políticas públicas
UNIDADE II
Atendimento às Crianças: Papel do 
Estado e as Políticas Sociais
Professora Mestra Maria Helena Azevedo
Professora Mestra Laís Azevedo Fialho
37UNIDADE II Atendimento às Crianças : Papel do Estado e Políticas Sociais
INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo muitas foram as abordagens frente ao atendimento às crianças. 
Reconhecia-se o papel fundamental que o Estado e sociedade teriam à frente se quisessem 
romper com o longo histórico de abusos e violências, por isso a importância das políticas 
sociais dirigidas especificamente para este público, para que crianças e adolescentes tives-
sem o direito não apenas de viver, mas viver com dignidade. 
Para que você compreenda como se deu este processo, apresentaremos no pri-
meiro tópico desta unidade uma discussão que versa sobre as premissas históricas do 
atendimento à crianças e adolescentes. Você verá que a primeira preocupação do Estado 
era com a delinquência e é com base nisso que são desenhadas as primeiras ações para 
combater a família desestruturada – considerada o motivo da criminalidade. É neste con-
texto que surge o Código dos Menores de 1927, cujo teor você verá que estava voltado 
muito mais pelo caráter punitivo, do que necessariamente de integração. Durante a Dita-
dura Militar outras providências neste sentido serão tomadas, o que mudará apenas com o 
Estatuto da Criança e do Adolescente.
O ECA ou Estatuto da Criança e do Adolescente, uma das mais importantes legis-
lações sobre a temática, será assunto do nosso próximo tópico. Primeiro, você verá alguns 
antecedentes históricos do Estatuto e como este estava alinhava a instâncias mundiais, 
que preconizavam o direito universal da criança a vida, saúde, educação, dentre outros. A 
discussão sobre o ECA se funde com as reivindicações no contexto da Constituinte e por 
isso apresenta premissas altamente democráticas. Sua estruturação e difusão por todo o 
território brasileiro foi fundamental para promover mudanças em âmbitos institucionais, a 
fim de proteger a criança e o adolescente. 
Por fim, no último tópico falaremos de maneira breve sobre a intersecção entre 
as necessárias políticas públicas, as quais discutimos durante a unidade e as ações de 
governos pautados pela ideologia neoliberal, que imperou no Brasil nas últimas décadas 
do século XX e parece querer emergir novamente. Estas políticas, pautadas no ideário de 
austeridade fiscal, desconsideram a responsabilidade do Estado em fornecer os instru-
mentos necessários para a efetivação das políticas públicas, causando graves ameaças 
conquistadas a duras penas.
38UNIDADE II Atendimento às Crianças : Papel do Estado e Políticas Sociais
1. ANÁLISE HISTÓRICA DAS POLÍTICAS SOCIAIS VOLTADAS À CRIANÇA E 
SUAS RAÍZES HISTÓRICAS
Como vimos na unidade anterior, nem sempre o sentimento de cuidado e proteção 
para com as crianças foram presentes na história. Com o avanço do braço do Estado nos 
problemas sociais, podemos ver breves avanços no que diz respeito às políticas sociais. 
Ainda que nos dias de hoje muitas destas políticas sejam deficitárias, elas são importantes 
como garantias legais para a proteção do infante.
A nova realidade que despontou no Brasil República, com a vinda de imigrantes e a 
situação dos escravos libertos, gerou um problema social sem precedentes. A pobreza e a 
fome levaram muitos pais a abandonarem seus filhos e desde então o que ficava a cargo da 
filantropia de entes privados passou a ser visto como um problema do Estado. (PASSETTI, 
2010).
A preocupação central do Estado era a delinquência, vista como proveniente de 
famílias desestruturadas. Diante de um cenário no qual agitadores políticos cobravam do 
Estado melhores condições de trabalho, saúde e educação, o Estado passou a chamar 
para si esta responsabilidade. Com isso, havia a intenção de integrar as crianças destas 
famílias à sociedade, para que no futuro não caíssem na criminalidade. (PASSETTI, 2010).
Alguns fatos, como o abandono crescente de crianças à santas casas a fim de 
que estas pudessem ter um futuro melhor, bem como as intensas greves do proletariado 
39UNIDADE II Atendimento às Crianças : Papel do Estado e Políticas Sociais
cobrando melhores condições para as crianças; tornaram evidente a demanda por políticas 
sociais voltadas aos menores. (PASSETTI, 2010).
Com a greve de 1917, as autoridades governamentais são despertadas para 
a situação social dos operários e de suas famílias e tanto a plataforma de Rui 
Barbosa à presidência, em 1919, quanto a de Washington Luis candidatando-
-se ao governo de São Paulo, em 1920, passaram a tratar o problema não mais 
como caso de polícia mas como questão social. (PASSETTI, 2010, p. 426)
Pode-se dizer que o século XX trouxe à tona inúmeras contradições sociais e o 
Estado logo nas primeiras décadas começa a esboçar algumas políticas públicas. Primeiro, 
por meio do decreto de 20 de dezembro de 1923, que

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