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tema 3 - fundamentos metodologicos

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DEFINIÇÃO
Abordaremos a construção social do conceito de infância por meio de uma contextualização histórica. Para isso, destacaremos as suas especificidades no Brasil, país permeado por desigualdades sociais que influenciam na caracterização dela em suas diferentes nuances. Por fim, discutiremos os marcos legais para a constituição da infância no país.
PROPÓSITO
Conhecer a história da infância significa apontar questões que definem a construção da nossa sociedade. Isso favorece um entendimento das modificações ocorridas ao longo do tempo sobre esse tópico, além de ampliar a visão da criança em seu papel social. Esse conhecimento também favorece a compreensão dos avanços na legislação e a problematização de possíveis afastamentos e aproximações entre diferentes períodos históricos, destacando as diferenças que ainda permeiam a diversidade de infâncias no contexto brasileiro.
 OBJETIVOS
· MÓDULO 1
Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo no Brasil
· MÓDULO 2
Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil
· MÓDULO 3
Reconhecer marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância no Brasil
 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE INFÂNCIA
Quando pensamos na palavra história, comumente a atrelamos à ideia de um passado distante. Rememoramos, portanto, momentos que marcaram nossa jornada ou que nos impactaram de alguma maneira, concorda?
Em alguns casos, recordamos situações que aconteceram: sentindo cheiros e sabores, fazemos comparações entre a ideia de uma “era que já se foi” e “tempo de hoje”.
Quando entramos em contato com a palavra infância, esmiuçamos um pouco mais as lembranças de nossas histórias, aludindo a um período específico de nossas vidas delimitado pela idade (desde o nascimento até o que chamamos de adolescência).
Esse movimento de refazer caminhos da memória, estabelecendo conexões entre passado e presente (ou da infância à vida adulta), nem sempre foi tão simples assim. A infância, da maneira que a idealizamos ou discutimos hoje em dia, nem sempre existiu.
Nesse ínterim, destaca-se o trabalho e o papel da História: ao recuperar imagens e informações, você poderá perceber que o entendimento e a vivência sobre o que é chamado de infância foi, ao longo do tempo, constituído de elementos bem diversos.
MAS VOCÊ SABIA QUE A IDEIA DE INFÂNCIA MUDA COM O TEMPO, O ESPAÇO E AS TRADIÇÕES FAMILIARES?
Vamos fazer um exercício de reconhecimento.
Busque registros fotográficos de seus antepassados (pais, avós ou bisavós) quando eram mais novos. Repare em suas vestimentas, procurando saber sobre suas vivências na infância e como era a relação deles com os adultos. Reuna as informações coletadas, comparando-as com o presente.
VOCÊ DEVE SABER!
As diferenças não se limitam às mudanças nos costumes e nas roupas: antigamente, a própria visão sobre a criança também era diferente. Em determinados contextos, ela aparecia como um "miniadulto". Essa visão permeava os contextos sociais da época, forjando uma noção de infância modificada ao longo dos anos. Você, por exemplo, pode ter ouvido histórias de algumas cujo passado foi maravilhoso, sendo protegido e vivenciado de uma forma especial. Crianças que tinham uma verdadeira rede de proteção social e um quadro de projeção de futuro e investimento familiar. No entanto, também irá conhecer histórias tristes sobre outras que trabalhavam efetivamente ou viviam processos migratórios, sofrendo com isso. Ainda há aquelas cuja infância foi negada ou destruída pelos motivos mais diversos. O que você vai descobrir, a partir de agora, é que o estudo sobre a infância é algo muito mais complexo.
· Miniadulto - De caráter histórico, esta imagem do miniadulto ainda está muito presente no chamado senso comum. Em sociedades tradicionais, as crianças comumente não eram vistas de maneira específica; afinal, um infante precisava ser preparado para a sua inserção no mundo adulto. Dessa forma, nos antigos e primeiros manuais de educação, havia constantemente a seguinte apresentação: até os oito anos, a criança estava sob a responsabilidade da mãe – especialmente em sociedades ocidentais –, momento em que deveria aprender os “modos”, ou seja, como comer, obedecer, se vestir e se alimentar. Depois disso, meninos passavam a sofrer uma influência masculina: vestidos como o pai, tinham de reproduzir o que ele fazia até aprender isso. Se não estivessem com ele, ficavam com os outros meninos para crescer e se desenvolver. Já as meninas estavam restritas aos afazeres domésticos: preparadas para o casamento, elas, futuras esposas, deviam cuidar das crianças mais novas.
Os estudos desenvolvidos a partir do século XX articulavam campos, como, por exemplo, a Sociologia, a Filosofia, a História, a Antropologia e a Psicologia.
O QUE ISSO SIGNIFICA?
Tais estudos ajudaram a desenvolver uma noção de infância que não se limita apenas à idade, mas também a um contexto histórico e social que circunda a vida das crianças menores. Eles defendem, enfim, que esses contextos constituem e forjam uma identidade para elas. Contudo, tal conquista ainda é recente. O aprofundamento desses estudos permitiu que a visão da criança como um sujeito de direitos fosse discutida e cada vez mais corroborada.
Na década de 1970, os estudos de Philippe Ariès embasaram, na América e na Europa, as discussões sobre a infância a partir de seu contexto social e histórico.
MAS, AFINAL, O QUE ISSO QUERIA DIZER?
Especialmente na obra História social da infância e da família, de 1981, Ariès evidenciou a importância de observarmos as necessidades específicas referentes à idade das crianças, um dos fatos mais importantes para consolidar ideia de infância.
· História social da criança e da família - Em História social da criança e da família, Ariès mostra como a sociedade muda quando as atitudes daqueles que a compõem se modificam. Seu argumento baseia-se na ideia de que, a partir do século XVIII, o compromisso dos pais com seus filhos, antes que a criança se tornasse adulta, nasceu com o controle da natalidade e o declínio da fecundidade. A alta mortalidade incentivava uma excessiva atenção materna e paterna.
Na sociedade medieval, destaca Philippe Áries, o conceito de infância sequer existia, porém isso não significa que suas crianças eram negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. Esse conceito não deve ser confundido com a atenção aos filhos; na verdade, ele corresponde a uma tomada de consciência – até então inexistente – da criança em particular. O autor aborda a importância das brincadeiras, as pequenas escolas, o ensino diferenciado e a "invenção" da infância a partir do momento em que as mulheres passam a ter menos filhos, tendo eles uma sobrevida maior em relação a épocas anteriores. A criança, portanto, é primordialmente um ser distinto do adulto, possuindo valores próprios, como fantasia, ingenuidade e ludicidade.
Relacionar algumas especificidades a um determinado momento da vida não era algo tão natural naquela época; por isso, o autor foi considerado um dos precursores da discussão.
Ariès ainda analisou algumas imagens de famílias europeias na Idade Média, destacando modificações evidenciadas ao longo do tempo. Afinal, como podemos ver nas duas imagens a seguir, a passagem dele demonstra como a relação com a criança se modificou.
 Fonte: EscolaDeFilosofia.org.
ATENÇÃO!
Estudos como o de Ariès ajudaram a criar uma nova dinâmica de entendimento sobre o conceito de criança. Nota-se que a passagem dos anos cristalizou tais mudanças na própria percepção dos pais, da sociedade e do sistema educacional sobre o que é uma criança. Por isso, seus estudos foram tão importantes para essa abordagem.
Com isso, começam a ser debatidos números:
ATÉ QUE IDADE DURA A INFÂNCIA E QUANDO COMEÇA A ADOLESCÊNCIA? QUANDO UM ADULTO SE TORNA SENHOR DE SI?
Atualmente, isso pode parecer natural para você; afinal, todos sabemos a idade necessária para abrir uma conta, atingir a maioridade penal ou poder participar de cada série escolar. Isso definitivamente está cristalizadoem nossa mente, mas tais visões surgiram apenas nas décadas de 1960 e 1970.
Vamos percorrer os caminhos delineados por Ariès:
Seus estudos sobre a infância buscavam perceber, pela análise de determinadas imagens, alguns elementos específicos, como o fato de as crianças estarem vestidas como adultos.
O AUTOR COMPREENDIA QUE ISSO, ALÉM DE OUTROS FATORES, SIMBOLIZAVA UMA AUSÊNCIA DO “SENTIMENTO DE INFÂNCIA”.
A partir de seus estudos, podemos conceber um contexto histórico em que diferentes conceitos de infância foram desenvolvidos. Mesmo sendo modificados pelo tempo, eles são vitais para a concepção de uma sociedade.
 CONTEXTO HISTÓRICO
O conceito de infância pode ser considerado historicamente recente. Os estudos sobre a sua história podem abarcar três concepções:
Criança Adulto
 Criança Institucional
Criança Social
Vamos entender cada uma delas de forma mais detalhada.
CRIANÇA ADULTO
Nesta concepção, que tem origem na Idade Média, a criança era vista como um “miniadulto”. As necessidades específicas da faixa etária sequer eram pensadas.
Ela era tratada somente como um pequeno ser que logo se desenvolveria para exercer suas funções na sociedade.
O sentimento de infância, como conhecemos atualmente, não existia naquele momento. Às crianças, eram ensinados saberes necessários para que elas se tornassem adultos civilizados.
Ser considerado um “miniadulto” significa não receber nenhum tipo específico de atenção. As crianças, portanto, tinham o mesmo tratamento conferido aos adultos, participando da vida social ao lado deles. Elas só exigiam alguns cuidados até o momento em que conseguissem realizar suas atividades por conta própria.
· Tratamento conferido aos adultos - À exceção dos recém-nascidos, que eram responsabilidade absoluta da mãe e cuja morte normalmente lhe gerava uma penalidade, as crianças que superavam a chamada primeira infância (até os três anos de idade) não recebiam nenhum favor em termos de cuidado e educação; logo, elas não estavam poupadas de castigos físicos, assim como não eram incomuns iniciações sexuais e abusos tremendamente precoces. Normalmente criticados pela Igreja, eles eram considerados uma manifestação de práticas rústicas.
O reflexo disso pode ser percebido nas histórias de muitos idosos; segundo seus relatos, desde muito pequenos eles eram responsáveis por cuidar da casa e de seus irmãos mais novos, assim como iniciavam no mercado de trabalho ainda crianças.
Na Idade Média, era muito comum o infanticídio; desse modo, a alta taxa de mortalidade de crianças era uma questão marcante. As famílias encaravam a perda dos filhos como algo natural, pois logo eles poderiam ser substituídos por outros.
· Infanticídio - O termo refere-se à morte de crianças – em geral, as recém-nascidas. São entendidas como formas de infanticídio as mortes daquelas que nasciam com defeitos, fracas ou com marcas, cujas mães reagiam com depressão ou tinham dificuldade de fornecer leite, além de outras ações que poderiam ser evitadas. Ainda havia situações mais corriqueiras que podiam ser fatais, como baixa de temperatura, falta de higiene, intoxicação, pequenos ferimentos etc.
CRIANÇA INSTITUCIONAL
Na segunda concepção, a criança passa a ser compreendida como um indivíduo institucional que necessita de cuidados específicos para cada faixa etária que são essenciais para seu desenvolvimento.
· Segunda Concepção - Temporalmente percebida na pesquisa de Philippe Ariès sobre a segunda metade do século XVI, esta concepção perpetuou-se ao longo dos séculos seguintes. Muitos autores posteriores chamam este período de momento da formação da família moderna, cujos núcleos menores e segmentados em casas diversas justificam a adoção de cômodos específicos para adultos e crianças. Ariès também destaca que este modelo não invalida a existência do anterior, constituindo um fenômeno de tentativa de transposição das famílias burguesas para modelos e costumes da corte.
Neste período, ela passa a ser concebida como filho(a) e aluno(a), passando a ser tratada como criança de fato.
Regressemos um pouco mais na história para compreendermos como tal sentimento foi se desenvolvendo. Na França do século XVII, a inocência e a fragilidade são adjetivos que passam a acompanhar essa ideia, forjando, desse modo, o que viria a ser entendido como “sentimento de infância”. No período, por exemplo, passam a ser produzidas vestimentas específicas para o público infantil.
A ideia de amor materno e da importância dos sujeitos por si só – e não por suas funções sociais desempenhadas – é uma questão cujo desenvolvimento foi operado na sociedade ao longo do tempo. No final do século XVIII, por exemplo, o cuidado com os filhos já é uma realidade em muitos lares. A partir de sua ligação com a mulher, a maternidade coloca as crianças em evidência. O ato de cuidar, até então função das “amas de leite”, agora constitui uma tarefa pertinente às mães de cada criança.
A dependência dos adultos surge aí como mote para a construção da criança como centro de atenção das famílias. Ela é entendida como um sujeito que requer esforços de terceiros para poder se tornar um adulto considerado civilizado.
Embora reconhecida institucionalmente em suas especificidades, a criança ainda é considerada o sujeito da “falta”; afinal, para ela se tornar um cidadão, falta-lhe conhecimento sobre o mundo e as suas regras. Por isso, a escolarização é valorizada.
Nesta concepção, a família moderna, núcleo institucional que acolhe essas crianças, evoca questões sobre o controle da população e as relações de poder que reverberam um ideal de criança – e, desse modo, as relações estabelecidas para e com elas. Entendidos como seres irracionais que precisavam ser “preenchidos” e moldados de acordo com as exigências da sociedade, os infantes passaram a desenvolver um papel que constituía um ideal de futuro; por isso, sua vida precisava ser preservada, acentuando um olhar agora mais atento para as questões ligadas à saúde e à educação.
SAIBA MAIS
Para aprofundar seus conhecimentos, leia a resenha “Família na contemporaneidade: mudanças e permanências”, de Carolina M. B. de Souza (2008).
AQUI TEM A APOSTILA 2!
O estudo específico desta etapa trouxe à tona a preocupação com a escolarização dos menores. Um ideal de universalização do ensino começava a ser traçado em consonância com a (já citada) construção de um cidadão. Consequentemente, as crianças foram se afastando cada vez mais de seus papéis ocupados nos postos de trabalho, embora saibamos que infelizmente o trabalho infantil ainda é uma realidade em nosso país.
O sentimento de infância então passou a ser compreendido como uma característica específica que envolvia tanto as relações entre família e criança quanto a visão dela como alguém que difere dos adultos, exigindo, portanto, cuidados específicos e atenção para determinados aspectos em detrimento de outros.
CRIANÇA SOCIAL
A partir do século XIX, surge uma terceira maneira de conceber a criança: percebida como um sujeito de direitos, ela se torna um ser social.
Para isso, é preciso garantir seu desenvolvimento integral por intermédio de legislações que conferem ao Estado a responsabilidade de oferecer a escolarização. Passam a ser consideradas as potencialidades das crianças, que devem ser ativas, participativas e comunicativas, se desenvolvendo em sua relação com o mundo.
Traçaremos um pequeno histórico sobre essa transformação para ilustrar o aparecimento da criança social. Nota-se que, no século XIX, havia múltiplas visões sobre ela.
Destaca-se a criança:
TRABALHADORA REPRESENTADA NAS CIDADES NO DIA A DIA
DOS SEIOS DAS FAMÍLIAS DE CLASSE MÉDIA
QUE SE TORNA OBJETO DA PSICOLOGIA
CUJA EDUCAÇÃO É VISTA COMO UMA CIÊNCIA QUE TENTA PERCEBER A FORMA COMO ELA APRENDE
DA ELITE, PREPARADA E DIRECIONADA PARA SE TORNAR UM GRANDE LÍDER
Diante desses casos, ela deixa de ser um elemento auxiliar e passa a figurar nas discussões da ordem do dia, justificando, pouco a pouco, estudos, percepções, direitos e proposições na construção desses “seres”.
É POR ISSO QUE PASSAMOSA ENTENDER A EXISTÊNCIA DE UM UNIVERSO INFANTIL PRÓPRIO, AINDA QUE NÃO SISTEMATIZADO. A PERCEPÇÃO SOBRE ESSAS PESQUISAS E AS TRANSFORMAÇÕES VIVIDAS É UM DOS MÉRITOS DA PESQUISA DE ARIÈS.
A criança social é fruto de uma percepção importante de mundo. O século XX é denominado século da infância pela maneira como ela passa a ser trabalhada e vivenciada. A criança (ou infância) social indica a visão sobre esse período da vida como um meio próprio para ela estar no mundo.
 TENDÊNCIA
Exercitemos um pouco nosso pensamento:
VOCÊ CONSEGUE PERCEBER RESQUÍCIOS E ELEMENTOS DESSAS FORMAS DE TRATAR A INFÂNCIA NO SEU DIA A DIA?
Vamos pensar na educação dos meninos e na maneira como, via de regra, suas querelas devem ser solucionadas.
Quem já viu ou ouviu alguém reproduzir diante de uma criança a expressão: Homem não chora? Ou ainda algo mais grosseiro e violento, como se você apanhar na rua, vai apanhar novamente quando chegar a casa.
Para muitos, isso pode parecer uma realidade distante; no entanto, ainda é muito recorrente, evidenciando um traço de nossa sociedade.
Você consegue fazer um link dessa forma de “educarmos” nossos meninos com a história da infância?
O processo de “adultização” tão discutido e presente – ainda que detentor de uma concepção bastante tóxica sobre o que é ser homem – é a chave desta resposta.
Você entende os debates sobre a condenação de uma criança por seus crimes? Conhece a crítica que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) recebe por não permitir que os pais tomem determinados comportamentos?
Estes são alguns exemplos pertinentes para perceber que estudar história é notar o quanto suas camadas não jazem em um passado longínquo; em vez disso, elas dialogam com o nosso cotidiano.
No próximo módulo, vamos entender um pouco sobre essa realidade no Brasil.
 VERIFICANDO O APRENDIZADO
 AS CRIANÇAS DO BRASIL
Ao estudar o desenvolvimento da ideia de criança e infância no Brasil, precisamos estar atentos a algumas especificidades ocorridas em nosso país. Há diferentes maneiras de vivenciar as infâncias. Realidade em vários países, no Brasil ela não se justifica apenas por questões históricas e culturais. Em nosso território, ela opera de acordo com a classe social e etnia, dado o grande número de crianças negras e indígenas cujos antepassados foram escravizados.
Uma parte de nossa sociedade é composta por classes menos privilegiadas que frequentam meios urbanos. Estudando em escolas públicas ou particulares de baixo custo, seus filhos acabam tendo acesso limitado aos bens de consumo por condições financeiras.
Mesmo influenciados por elementos da cultura popular, outros segmentos sociais vivem em uma realidade absolutamente inimaginável para a maior parte da população.
A gama de marginalização brasileira constitui um traço fundamental de nossa sociedade. Nossas crianças são impactadas pela completa falta de suporte e saneamento, além de um campo marcado por conflitos e desigualdades sociais.
As escolhas para nossa exposição são teórico-metodológicas. Para isso, nos basearemos na perspectiva da educação decolonial, já que ela busca lidar com as nossas mazelas. Nosso objetivo é indicar maneiras de se reconhecer as características desse passado colonial, observando como elas nos marcam e reestruturam a nossa formação.
A concepção sobre a criança no Brasil é muito influenciada por tais perspectivas; afinal, fomos colonizados política, social e economicamente pelos europeus.
Vista como adulto, o infante inserido no mercado de trabalho é o centro de atenção das famílias. Negros e indígenas compõem as múltiplas facetas dessa noção de criança que ainda carrega as marcas das diferenças que sempre permearam a história da infância. Embora devamos levar em consideração o fato de que, no Brasil, tal história se assemelha muito à da Europa em termos teóricos e conceituais, a perspectiva de desnaturalização do sujeito e a exploração escravista acabam por merecer alguns destaques e um olhar mais atento.
UM DOS ASPECTOS IMPORTANTES NESSA DISCUSSÃO É A DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS TERMOS “INFÂNCIA” E “CRIANÇA”.
Segundo Sarmento (2005):
"Apesar de, na maioria das vezes, serem apresentadas como sinônimos, a sociologia da infância compreende a infância como categoria social e criança, como o sujeito pertencente a ela."
· Categoria Social - Trata-se de um conjunto de agentes que, a despeito das diferentes origens de classe, é capaz de atuar politicamente como uma unidade e de maneira relativamente autônoma, respeitando os interesses das classes das eles quais se originam.
Desse modo, podemos destacar as múltiplas infâncias que constituíram a história no Brasil, salientando as especificidades que abarcavam (e ainda abarcam) as inúmeras que faziam parte daqueles grupos.
No Brasil, não existe um modelo de criança, e sim dezenas de modelagens estruturais de crianças. Podemos, contudo, identificar um traço comum segundo o entendimento das propostas que aproximam a história desse conjunto.
Se, no entanto, tendo em vista uma perspectiva decolonial, desejarmos refletir sobre uma história da criança no Brasil, deveremos trilhar o caminho oposto, nos concentrando em uma concepção genérica. A música infantil, aliás, lida com essa mazela.
· Música infantil - O cunho educativo da música voltada para o público infantil tem reforçado essa visão. O grupo Palavra Encantada, por exemplo, expressa tal viés em músicas como Criança não trabalha (PauloTatit / Arnaldo Antunes).
 EXPLORAÇÃO E TRABALHO INFANTIL
Discutir sobre a criança no Brasil é falar sobre a naturalização do trabalho infantil. No período de colonização, a exploração de crianças negras e indígenas era comum.
A QUESTÃO RELIGIOSA TRAZIDA PARA O PAÍS IMPACTOU NÃO SÓ A VIDA DOS ADULTOS, MAS A DOS INFANTES TAMBÉM.
É possível que você esteja se perguntando: de que maneira isso ocorreu?
Entre 1500 e 1800, as crianças passaram pelo processo de catequização realizado pelos jesuítas por serem consideradas mais acessíveis que os adultos, especialmente em termos de doutrinação religiosa.
Atividades que envolviam o trabalho com as crianças eram predominantemente comandadas pela Companhia de Jesus. No intuito de preservar a vida dos filhos, alguns pais aceitavam a relação estabelecida entre eles e os jesuítas, o que, no caso, não impedia a sua escravização.
· Companhia de Jesus - Espécie de organização que apresentava um discurso de “salvação da alma” das crianças por meio da catequese.
SAIBA MAIS
Para adensar a discussão, apresentando um contraponto a esse conteúdo, indicamos a leitura da dissertação intitulada “O olhar dos jesuítas sobre a cultura indígena no Brasil – Século XVI”, de Flávia Emília Zanini (2014).
Ignorando aspectos culturais das crianças indígenas, os colonizadores consideravam atrasados todos os outros povos que habitavam o país, não demonstrando interesse em preservar suas tradições culturais ou lhes oferecer educação e assistência. Desse modo, a ausência de escolas e o trabalho escravo eram justificados por um discurso que colocava essas pessoas à margem da sociedade estabelecida na época.
Dentro dela, a exploração infantil ocorria da seguinte forma:
CRIANÇAS NATIVAS
Novamente compreendidas sob uma visão servil, as crianças nativas tinham sua força de trabalho utilizada por senhores de escravos (órfãos ou não).
CRIANÇAS DO CONTINENTE AFRICANO
Juntamente com os indígenas, as crianças vindas do continente africano eram comercializadas e, na maioria das vezes, separadas de seus familiares. A relação entre infância, adolescência e vida adulta era subvertida pela lógica da utilidade de sua força de trabalho.
CRIANÇAS DE FAMÍLIAS MAIS ABASTADAS
Estas crianças vivenciavam outra realidade. Para as meninas, predominava a preocupação com o ensino de tarefas domésticas. Já para os meninos, prevalecia o trato com escravos – assunto “de homem”, que envolvia gerenciamento das questões do engenho. A adultização era um mecanismo evidente em ambos os gêneros.
Nesse contexto, com a necessidade de estabelecer vínculos na tentativa de proteger tais sujeitos, a ideia de “apadrinhamento”surgiu a fim de manter a relação e garantir a permanência entre aqueles pares, ainda que isso não implicasse o impedimento do trabalho escravo.
CRIANÇAS NASCIDAS EM CLASSES MENOS FAVORECIDAS NO PAÍS
Estas crianças, que não eram denominadas indígenas ou africanas, também não recebiam tratamento diferenciado. Assim, reiterava-se nos diferentes contextos a ausência do sentimento de infância sobre o qual se havia discutido em séculos anteriores. Quanto às diferenças de gênero estabelecidas na época, aos meninos majoritariamente era atribuída a carreira militar, bem como o trabalho em fábricas ou oficinas. Já para as meninas, predominavam as tarefas domésticas.
A questão da violência também era um aspecto importante no período. Os altos índices de criminalidade serviam de justificativa para a ideia de que o combate às “sementes do mal” desde a infância os reduziriam significativamente (PRIORE, 2004, p. 215). A disciplina de menores envolvidos em crimes era uma preocupação que foi sendo acentuada ao longo do século XX. Para combater uma população infantil considerada perigosa, os jovens acusados de crimes e delitos, ao se tornarem maiores de 14 anos, eram presos ou recebiam como punição determinado trabalho a ser realizado.
 TENDÊNCIA
Como vimos, existe um componente histórico e sociológico na relação das crianças com a própria infância. Realidades sociais como pobreza e escravidão são componentes que exercem influência na questão, não podendo ser ignorados. Observar o paradigma da criança no Brasil é definitivamente uma tarefa difícil.
Você reconhece este discurso recorrente?
Ouve-se constantemente:
- A marginalidade aumentou porque as crianças não podem trabalhar;
- A maioridade tinha de diminuir;
- Esta criança faz assim por falta de castigo físico (tradição que herdamos de nossa história).
Ou ainda:
- Está assim porque as crianças não têm a mãe em casa, é a ausência do modelo tradicional que leva a esse quadro confuso em que nós vivemos.
Recente em nossa história, a análise sobre a forma de se lidar com a criança e o adolescente será objeto do próximo módulo, mas a conexão entre os problemas deste e do próximo pode ser sistematizada e provocada a partir das ações políticas pensadas.
Você já ouviu falar do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil (ECA)?
Vamos ver o que um especialista tem a nos dizer sobre a sua história nas terras do Brasil.
“Constitui-se no país uma noção particular de infância e adolescência que protela políticas sociais de atendimento à criança e ao adolescente como direitos de cidadania até a década de 1980. A proclamação da Constituição Cidadã (Brasil, 1988) e da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Brasil, 1990a), um conjunto de direitos civis, sociais, econômicos e culturais de promoção e proteção – alteraram esse paradigma. Atualmente, o ECA demanda do Estado brasileiro e da sociedade política e civil esforços e continuidade nas ações, visando, por um lado, à formulação, implementação, monitoramento e controle social de políticas constitucionais e estatutárias, e, por outro, a ações mobilizadoras e societais capazes de ressignificar a concepção arcaica de infância e juventude presente no imaginário social da população ”.
(PEREZ; PASSONE, 2010).
 AS PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA NO BRASIL
Uma das primeiras leis que visava a garantir o direito das crianças, a Lei nº 2040, conhecida como “Lei do Ventre Livre”, foi promulgada em 1871 para garantir que as crianças nascessem livres, além de vetar a compra e venda daquelas menores de 12 anos.
Esta lei constitui um dos grandes avanços do período escravocrata; embora não impedisse o trabalho infantil, ela foi um marco precursor para a produção de outras leis e políticas que tratavam da proteção das crianças.
 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A INFÂNCIA NO BRASIL
A educação passa a ser reconhecida como direito social somente a partir da Constituição Federal de 1988, quando o Estado assume a obrigação legal de oferecer para todos uma que seja de qualidade.
Antes disso, a educação pública já existia, mas era compreendida como uma assistência aos que não podiam pagar, enquanto o ingresso nas escolas não era facilitado para as classes mais populares, havendo pouca oferta de vagas e acesso limitado à informação.
A Constituição Federal também prevê:
A obrigatoriedade do Estado na oferta de vagas em creches e pré-escolas ao declarar como direito dos trabalhadores a assistência gratuita de seus filhos e dependentes até os cinco anos de idade. No entanto, seu caráter assistencialista ainda persiste, sendo uma das questões mais discutidas no campo da educação infantil.
O ECA, de 1990, é considerado um marco para os direitos das crianças e dos adolescentes. Os direitos fundamentais enunciados pelo ECA têm como objetivo assegurar o desenvolvimento:
O documento não se limita a anunciar direitos, representando um grande avanço ao nomear os responsáveis por seu cumprimento.
A família, o poder público e a sociedade, em geral, possuem deveres com as crianças e os adolescentes do país. Portanto, mais que o direito à educação, esse público deve estar matriculado na escola – e isso se trata de uma obrigação legal.
ATENÇÃO!
O poder público não pode se negar à oferta de educação, assim como os familiares e a comunidade não podem deixar de cumprir tal obrigação.
A Lei nº 9.394/1996 – denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – amplia a discussão sobre a educação infantil para além de um caráter assistencialista até então apresentado nas políticas púbicas. Para isso, a LDB a reafirma como primeira etapa da educação básica, cuja finalidade é o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Ela constitui, portanto, um complemento da ação da família e da comunidade.
A LDB ainda regulamenta as seguintes questões de acesso. Vejamos:
No ano de 2013, foi promulgada a Lei nº 12.796/2013, que altera a LDB para incluir a obrigatoriedade de matrícula das crianças de quatro anos na educação infantil.
A frequência passa então a ser exigida em consonância com a carga horária estabelecida de 200 dias letivos. O que antes era facultativo aos pais, passa agora a ser um dever.
De acordo com a Unicef, o Brasil é um dos países com legislação mais avançada no mundo no que diz respeito à infância e à adolescência. Entretanto, a legislação ainda não conseguiu superar suas desigualdades sociais, geográficas e étnicas.
SAIBA MAIS
Veja a contextualização histórica do atendimento à infância no Brasil (1889-1985).
A história da infância é construída, ao longo do tempo, de acordo com seu contexto social e sua época. A concepção de infância, entre outras diferenças registradas, é por vezes modificada, suscitando tanto concepções de um sujeito com características próprias, segundo as quais se constroem possibilidades de um futuro, quanto a noção de criança como um miniadulto.
Conforme os estudos na área foram se aprofundando, houve a modificação desses conceitos e foi dado um destaque às diferentes infâncias vivenciadas no Brasil. A diferença entre negros, indígenas, meninos e meninas traçava a visão de um sujeito à margem da sociedade em que o único tipo educação acessível era a cristã (por parte dos jesuítas). Entretanto, o trato com crianças brancas e provenientes de famílias mais abastadas já oferecia um olhar diferenciado em relação à educação, ainda que a adultização das crianças ainda fosse um fator presente em suas diferentes formas.
Com o avanço dos estudos na área e a necessidade de garantir direitos para esses sujeitos, surgia uma série de políticas públicas construídas em prol dos pequenos: a Lei do Ventre Livre, que garantia, desde o nascimento, a não escravização das crianças de outra etnia ou as menos favorecidas; a Constituição Federal de 1988, que tornava obrigação legal do Estado o amparo à educação delas; o ECA, que se apresentava como mecanismo de garantia da proteção e dos direitos das crianças e dos adolescentes; e, por fim, a LDB, que impõe a obrigatoriedade dematrícula delas em creches e escolas. Elas constituem, nesse âmbito, os principais marcos alcançados.
Pudemos então perceber os avanços e as modificações que circundam a história da infância e das crianças, identificando os principais pontos que a compõem. Consideramos que este assunto continua produzindo sentidos constantemente, além de abarcar questões de diferença, conquista de espaço e legitimação de um período marcado por suas especificidades.
PODCAST
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 CONQUISTAS OBTIDAS
· Assimilou a construção social do conceito de infância ao longo do tempo.
· Identificou as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil.
· Reconheceu marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância.
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
BARBOSA, A. A.; MAGALHÃES, M.G.D. A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e sua relação com as políticas públicas para a infância. In: Revista eletrônica de Ciências Sociais, História e Relações Internacionais, v. 1, n.1, 2008.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
BRASIL. Lei nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. altera a Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dá outras providências. Brasília, 2013.
BRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
PEREZ, J. R. R.; PASSONE, E. F. Políticas Sociais de Atendimento às Crianças e aos Adolescentes no Brasil. In: Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, maio/ago. 2010
PRIORE, M. (Org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
SARMENTO, M. J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. In: Revista Educação e Sociedade. v. 26. n. 91. Campinas, 2005. p. 361-378.
 EXPLORE +
· Assista ao vídeo: Concepções de infância na história.
https://www.youtube.com/watch?v=fRSUV7nUvNM
· Leia o texto “Situação das crianças e dos adolescentes no Brasil” para se aprofundar no assunto.
Situação das crianças e dos adolescentes no Brasil
Mesmo com o envelhecimento da população, crianças e adolescentes ainda representam um percentual grande dos brasileiros. São 57,6 milhões de meninos e meninas que precisam ter seus direitos garantidos.
UNICEF/BRZ/Giacomo Pirozzi
O Brasil possui uma população de 206,1 milhões de pessoas, dos quais 57,6 milhões têm menos de 18 anos de idade (Estimativa IBGE para 2016). Mais da metade de todas as crianças e adolescentes brasileiros são afrodescendentes e um terço dos cerca de 820 mil indígenas do País é criança. São dezenas de milhões de pessoas que possuem direitos e deveres e necessitam de condições para desenvolver com plenitude todo o seu potencial.
Embora o País tenha feito grandes progressos em relação à sua população mais jovem, esses avanços não atingiram todas as crianças e todos os adolescentes brasileiros da mesma forma.
O Brasil é ainda um dos países mais desiguais do mundo. Por exemplo, entre 1996 e 2006, a desnutrição crônica (medida pela baixa estatura da criança para a idade) caiu 50% no Brasil, passando de 13,4% para 6,7% das crianças menores de 5 anos. Esses bons resultados, no entanto, não alcançam toda a população. Cerca de 30% das crianças indígenas são afetadas por desnutrição crônica no País. Entre os ianomâmis, o percentual supera 80%. Meninas e meninos indígenas também têm mais de duas vezes mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças brasileiras.
Entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade infantil caiu de 47,1 para 13,3 mortes para cada 1.000 nascidos vivos, de acordo com o Ministério da Saúde. Os avanços fizeram com que o País superasse a meta de redução da mortalidade infantil prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) antes mesmo do prazo estabelecido. Contudo, desde 2015, em meio à crise econômica, o País entrou em um estado de alerta. Em 2016, pela primeira vez em 26 anos, as taxas de mortalidade infantil e na infância cresceram. De 2015 a 2016, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil cresceu 5,3% (MS/SVS/CGIAE – SIM/Sinasc e Busca Ativa). E, desde 2015, as coberturas vacinais – que vinham se mantendo em patamares de excelência – entraram em uma tendência de queda. De 2015 a 2017, a cobertura vacinal da poliomielite caiu de 95% para 78,5%, e a da tríplice viral, de 96% para 85% (PNI).
De 1990 a 2015, o percentual de crianças com idade escolar obrigatória fora da escola caiu de 19,6% para 6,5% (Pnad). No entanto, mesmo com tantos avanços, em 2015 , 2,8 milhões de meninos e meninas ainda estavam fora da escola (Pnad, 2015). E essa exclusão escolar tem rosto e endereço: quem está fora da escola são os pobres, negros, indígenas e quilombolas. Uma parcela tem algum tipo de deficiência. E grande parte vive nas periferias dos grandes centros urbanos, no Semiárido, na Amazônia e na zona rural. Muitos deixam a escola para trabalhar e contribuir com a renda familiar.
O Brasil avançou no controle da transmissão do HIV de mães para bebês. A chamada transmissão vertical do vírus da aids caiu pela metade entre 1995 e 2015. No entanto, de 2004 a 2015, o número de novos casos entre meninos e meninas de 15 a 19 anos aumentou 53% (Datasus).
UNICEF/BRZ/Fred Borba
Para o UNICEF, a face mais trágica das violações de direitos que afetam meninos e meninas no Brasil são os homicídios de adolescentes: a cada dia, 31 crianças e adolescentes são assassinados no País [estimativa do UNICEF baseada em dados do Datasus (2016)] — quase todos meninos, negros, moradores de favelas.
O Brasil é o país com o maior número absoluto de adolescentes assassinados no mundo. Em 2015, foram 11.403 meninos e meninas de 10 a 19 anos vítimas de homicídios. Desses, 10.480 eram meninos — número maior do que o total de mortes violentas de meninos em países afetados por conflitos, como Síria e Iraque.
O Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo no que diz respeito à proteção da infância e da adolescência. No entanto, é necessário adotar políticas públicas capazes de combater e superar as desigualdades geográficas, sociais e étnicas do País e celebrar a riqueza de sua diversidade.
O UNICEF reitera, mais uma vez, seu compromisso de atuar, lado a lado, com Brasil pela garantia dos direitos de cada criança e adolescente. Sem exceção.
· Leia o texto: A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e sua relação com as políticas públicas para a infância.
AQUI TEM A APOSTILA 1!
 
 
DEFINIÇÃO
 
Abordaremos a construção social do conceito de infância por meio de 
uma contextualização histórica. Para isso, destacaremos as suas 
especificidades no Brasil, país permeado por desigualdades sociais que 
influenciam na 
caracterização dela em suas diferentes nuances. Por fim, 
discutiremos os marcos legais para a constituição da infância no país.
 
PROPÓSITO
 
Conhecer a história da infância significa apontar questões que definem a 
construção da nossa sociedade. Isso favorece 
um entendimento das 
modificações ocorridas ao longo do tempo sobre esse tópico, além de 
ampliar a visão da criança em seu papel social. Esse conhecimento 
também favorece a compreensão dos avanços na legislação e a 
problematização de possíveis afastamentos 
e aproximações entre 
diferentes períodos históricos, destacando as diferenças que ainda 
permeiam a diversidade de infâncias no contexto brasileiro.
 
 
OBJETIVOS
 
·
 
MÓDULO 1
 
Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo 
no Brasil
 
 
·
 
MÓDULO
 
2
 
Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil
 
 
 
 
DEFINIÇÃO 
Abordaremos a construção social do conceito de infância por meio de 
uma contextualização histórica. Para isso, destacaremos as suas 
especificidadesno Brasil, país permeado por desigualdades sociais que 
influenciam na caracterização dela em suas diferentes nuances. Por fim, 
discutiremos os marcos legais para a constituição da infância no país. 
PROPÓSITO 
Conhecer a história da infância significa apontar questões que definem a 
construção da nossa sociedade. Isso favorece um entendimento das 
modificações ocorridas ao longo do tempo sobre esse tópico, além de 
ampliar a visão da criança em seu papel social. Esse conhecimento 
também favorece a compreensão dos avanços na legislação e a 
problematização de possíveis afastamentos e aproximações entre 
diferentes períodos históricos, destacando as diferenças que ainda 
permeiam a diversidade de infâncias no contexto brasileiro. 
 OBJETIVOS 
 MÓDULO 1 
Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo 
no Brasil 
 
 MÓDULO 2 
Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil

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