Prévia do material em texto
Teoria Geral do Negócio Jurídico 1. Conceitos básicos a) Fato jurídico – ocorrência que interessa ao Direito, possuidor de relevância jurídica. · latu sensu – pode ser natural, sendo classificado como fato jurídico stricto sensu; · Pode ser ordinário – comum – ou extraordinário; · Fato humano – fato jurígeno Fórmula: Fato jurídico = Fato + Direito b) Ato jurídico – fato jurídico possuidor de elemento volitivo e conteúdo lícito · A doutrina não possui consenso em dizer que ato jurídico possuidor de conteúdo ilícito é antijurídico ou não; Fórmula: Ato jurídico = Fato + Direito + Vontade + Licitude c) Negócio jurídico – é um ato jurídico em que existe composição de interesses das partes com uma finalidade específica. · Principal forma de exercício da autonomia privada; · Declaração de vontade; Fórmula: Negócio jurídico = Fato + Direito + Vontade + Licitude + Composição de interesses das partes com finalidade específica. d) Ato jurídico stricto sensu – configura-se quando há objetivo de mera realização da vontade do titular de um dado direito, não existindo a criação de instituto jurídico próprio para regulamentação. · Efeitos da vontade estão predeterminados em lei; Ex. ocupação de imóvel, pagamento de uma obrigação e reconhecimento de paternidade. · Art. 185 do CC – aplicação das mesmas regras do negócio jurídico, no que couber; · Regras sobre nulidade e defeitos, subsumam-se ao stricto sensu. e) Ato-fato jurídico – classificação que nem sempre é adotada por qualquer doutrinador. · É um fato jurídico qualificado por uma vontade irrelevante juridicamente, mas que revela relevante por meio de seus efeitos. Ex. criança que compra um doce na venda ou tesouro. 2. Classificações do negócio jurídico – de acordo com o disposto no art. 185 do CC, as classificações servem tanto para os negócios jurídicos, quanto para os atos jurídicos em sentido estrito. I) Quanto à manifestação da vontade dos envolvidos: i. Unilaterais – emana a vontade de somente um único indivíduo, com um objetivo específico. Ex. Promessa de recompensa (receptício); testamento (não-receptício, ou seja, o conhecimento do destinatário é irrelevante) ii. Bilaterais – duas manifestações de vontades coincidentes sobre o objeto ou bem jurídico tutelado. Ex. contrato e casamento iii. Plurilaterais – envolvimento de mais de duas partes, com interesses coincidentes no plano jurídico. Ex. contrato de consórcio e de sociedade com várias pessoas. II) Quanto às vontades patrimoniais para os envolvidos i. Gratuitos – atos de liberalidade que outorgam vantagens sem impor ao beneficiado a obrigação de uma contraprestação. Ex. doação pura. ii. Onerosos – envolvem sacrifícios e vantagens patrimoniais para todas as partes do negócio (prestação + contraprestação) Ex. compra e venda e locação iii. Neutros – aqueles em que inexiste uma atribuição patrimonial determinada, não podendo ser enquadrados como gratuitos ou onerosos. Ex. instituição de um bem de família voluntário ou convencional iv. Bifrontes – aqueles que tanto podem ser gratuitos, como onerosos, a depender da intenção das partes. Ex. depósito e mandato III) Quanto aos efeitos, no aspecto temporal i. Inter vivos – produz efeitos de modo imediato, durante a vida dos negociantes ou interessados; ii. Mortis causa – os efeitos só ocorrem depois da morte de determinada pessoa; IV) Quanto à necessidade ou não de solenidades e formalidades i. Formais ou solenes – obedecem a uma forma ou solenidade prevista em lei para fins de validade e aperfeiçoamento, como casamento e testamento ii. Informais ou não solenes – admitem forma livre, seno regra geral, o previsto pelo art. 107 do CC, consonante ao princípio da operabilidade ou simplicidade, como é o caso da locação e prestação de serviços. V) Quanto à independência ou autonomia i. Principais ou independentes – possuem vida própria e não dependem de qualquer outro negócio jurídico para possuírem validade e existência; ii. Acessórios ou dependentes – a sua existência está subordinada a um outro negócio jurídico, denominado principal. VI) Quanto às condições pessoais especiais dos negociantes i. Impessoais – não dependem de qualquer condição especial dos envolvidos, podendo a prestação ser cumprida tanto pelo obrigado, quanto por um terceiro. ii. Personalíssimos ou intuiu personae – depende-se de uma condição especial de um dos negociantes, existindo uma obrigação infungível. VII) Quanto à sua causa determinante i. Causais ou materiais – o motivo é constado de modo expresso em seu conteúdo, a exemplo do termo de divórcio; ii. Abstratos ou formais – a razão não está inserida no conteúdo, mas decorre de modo natural, como é o caso do termo de transmissão de propriedade. VIII) Quanto ao momento de aperfeiçoamento i. Consensuais – os efeitos são gerados no momento em que há acordo entre as partes, a exemplo do contrato de compra e venda. ii. Reais – geram efeitos a partir da entrega do objeto, do bem jurídico tutelado. IX) Quanto à extensão dos efeitos i. Constitutivos – geram efeitos ex nunc, ou seja, a partir da sua conclusão, uma vez que constituem positiva ou negativa dados direitos. ii. Declarativos – geram efeitos ex tunc a partir do momento que constitui o seu objeto. 3. Elementos estruturais. A Escada Ponteana · Estudo dos elementos essenciais, naturais e acidentais do negócio jurídico; · O negócio jurídico tem três planos; a) Plano da existência – elementos mínimos e essenciais para a existência de um negócio jurídico. · Surge-se apenas substantivos, quais sejam: - Partes ou agentes; - Vontade; - Objeto; - Forma. · Se inexiste tais elementos, tal negócio não existe para o direito; · A maioria da doutrina afirma que o plano de existência está embutido no da validade. b) Plano da validade – elementos de verificação da validade · Os substantivos aludidos a priori, recebem adjetivos, a saber: - Partes ou agentes capazes; - Vontade livre, sem vícios; - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; - Forma prescrita ou não defesa em lei. · Disposições previstas no art. 104 do CC; · Se não se enquadrar em tais objetos, o negócio será nulo de pleno direito; · Hipóteses gerais de nulidade – 166 e 167 do CC/2002 · Invalidade – pode ser absoluta ou nulidade (negócio jurídico nulo) ou nulidade relativa ou anulabilidade (negócio jurídico anulável) · Poder-se-á ser total – quando se atinge o todo – ou parcial – quando atinge uma parte específica. Art. 184 – a invalidade parcial não prejudicará a parte válida, se esta for separável (utile per inutile non vitiatur) i. Partes capazes ou capacidade do agente · Declaração de vontade do negócio jurídico; · Elemento volitivo – caracteriza o ato jurígeno; · Indispensável para a validade · Absolutamente incapazes – representados por pais ou tutores, sendo que todo ato que for celebrado sem representação, é nulo por regra (Art.166, I, CC) · Relativamente incapaz – será representado por quem a lei determinar, seus atos sem assistência serão anuláveis (Art.171, I) · Acerca da incapacidade relativa de uma da parte, não poderá essa ser invocada pela outra em benefício próprio; salvo se foi indivisível o direito ou obrigação. · Capacidade especial – ou chamada legitimação, ocorre quando a pessoa possui capacidade plena, mas ainda há amarras que podem vir anular o negócio. Ex. pessoa que é casada por comunhão total ou parcial e intenta vender um imóvel. ii. Vontade ou consentimento livre · A manifestação da vontade exerce um papel importante, sendo elemento basilar e orientar do negócio jurídico; · Consentimento pode ser expresso – escrito ou verbal – ou tácito – resulta de um comportamento implícito do negociante. · Primeiro comando legal – art. 112 Se atenderá mais à intenção das partes do que ao sentido literal da linguagem. · É dever do aplicador do direito buscar o que as partes queriam de fato; · Relativiza a obrigatoriedade dos contratos – ou pacta sunt servanda. · Negócios jurídicos devem ser interpretados com uso da boa-fé objetiva; iii. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável· O objeto não poderá ser contrário aos costumes, à ordem pública, à boa-fé e à sua função social ou econômica de um instituto iv. Forma prescrita ou não defesa em lei (não proibida) · Revestimento jurídico, a exteriorizar a declaração da vontade; · Não depende de forma especial, salvo previsão em lei; · Princípio da liberdade das formas – negócios jurídicos são informais. · Negócio formal – quando não se admite essa liberdade nas formas c) Plano da eficácia · Elementos relacionados à suspensão e resolução de direitos e deveres das partes; · Efeitos gerados pelo negócio em relação às partes; · São os seguintes: - Condição: evento futuro e incerto; - Termo: evento futuro e certo; - Encargo ou modo: ônus introduzido em ato de liberalidade; - Regras relativas ao inadimplemento do negócio jurídico (resolução), juros cláusulas penais – multas – perdas e danos. - Direito à extinção do negócio jurídico (resilição) - Regime de bens do negócio jurídico casamento; - Registro imobiliário. · Um negócio pode existe e não valer, tal como valer e não existir; · Existe uma relação de dependência entre esses planos, logo se um não puder ser verificado o outro também não será. · Um negócio pode ser existente, inválido e eficaz, caso de um negócio jurídico anulável que esteja gerando efeitos. Ex. casamento putativo · Convalidado – negócio que era inválido passa a ser válido · um negócio ainda pode ser existente, válido e ineficaz, a exemplo de contrato celebrado sob condição suspensiva e que não esteja ainda gerando efeitos jurídicos e práticos.